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Os Espaços e a Crítica de Costumes em

Os Maias

Trabalho Realizado por: Matilde Santos, Beatriz Santos e Sara Mascate 11ºLH2
Introdução

O título da obra Os Maias remete para a história da família Maia, a qual conta
a história de três gerações, personificadas por Afonso, Pedro e Carlos da Maia.
Ao apresentar este contexto familiar, o romance oferece também um reflexo de
Portugal, desde as lutas liberais, passando pelo Romantismo, até à época da
regeneração. Neste contexto o subtítulo do romance - Episódios da vida
romântica - sugere uma representação detalhada de uma sociedade do século
XIX, com os seus vícios e aspetos menos exemplares, como o materialismo, o
adultério, a corrupção, além de defeitos de carácter e personalidade,
representação esta que se integra perfeitamente no ideal de romance
naturalista, concebido através da abordagem de certos temas e de episódios
de carácter social.

Espaço físico e social e crítica de costumes


Os episódios de Os Maias têm, sobretudo, lugar em locais da cidade de
Lisboa.
Estes lugares são significativos, pois ganham o significado de espaço social,
logo os acontecimentos que aí se desenrolam proporcionam uma análise de
comportamentos e atitudes de determinadas personagens e grupos sociais,
criticando e denunciando os seus vícios e falhas. Esta análise proporciona um
olhar crítico sobre a sociedade e elite lisboeta do século XIX.

Crítica de costumes
A crítica de costumes feita à elite lisboeta do século XIX, é concebida através
de um conjunto de episódios, maioritariamente relacionados com eventos em
que a alta sociedade frequenta, exibindo o seu estilo de vida, colocando, uma
vez mais, em evidência o modo como se vivia em Portugal e quais os valores
pelos quais se modelavam as classes que constituem a elite social.
Os episódios enquadrados no âmbito da crítica de costumes são, entre outros
de menor relevância, os seguintes:
• “Jantar no Hotel Central” (capítulo VI);
• “Corridas no hipódromo” (capítulo X);
• “Jantar na casa do Conde de Gouvarinho” (capítulo XII);
• “Corneta do Diabo” e a “Tarde” (capítulo XV);
• e “Sarau no Teatro da Trindade” (capítulo XVI).
“Jantar no Hotel Central” - Capítulo VI

O Jantar no Hotel Central foi preparado por Ega com um duplo objetivo:
homenagear o banqueiro Cohen e apresentar Carlos da Maia à elite lisboeta.
Neste jantar, encontramos, assim, Carlos e os seus amigos Ega e Craft, para
além do banqueiro Cohen, Tomás de Alencar, e Dâmaso, sendo estes últimos
apresentados ao Carlos neste jantar. De entre os temas abordados no jantar,
destacam-se o da literatura e o das finanças.
Durante a discussão literária confortam-se ideias do Ultrarromantismo e do
Realismo/Naturalismo, Tomás de Alencar, representante do Ultrarromantismo,
considera a nova literatura repugnante e imunda, imprópria até de ser referida
no meio de homens educados, como os que se encontravam no jantar. Para
ele, o que deveria permanecer era a corrente artística do Ultrarromantismo.
Em contrapartida, o Ega convicto de si, deixou claro que apoiava a nova
corrente artística e que esta, o Realismo/Naturalismo, deveria ser ainda mais
objetiva, rigorosa, descritiva e que fosse totalmente desprovida de fantasias e
artifícios literários.
Porém, Craft e Carlos, adotam uma posição crítica relativamente ao
Naturalismo e ao Realismo, não apoiando, na criação literária, o recurso a uma
descrição tão crua e fiel da realidade, nem a aplicação de princípios científicos
a situações banais do quotidiano.
As personagens durante o desenrolar do jantar refletem também, de forma
trocista, sobre a decadência económica, social e moral de Portugal, revelando
a indiferença das elites perante a situação preocupante que o país se encontra.
Este momento constata de que tal situação não causa qualquer
desassossego ou preocupação a este grupo social, por exemplo, Cohen,
banqueiro e pertencente à alta burguesia que governava Portugal de então,
ressalta o eterno endividamento do país, que apenas sobrevive graças à
cobrança do imposto e ao empréstimo estrangeiro. Di-lo sem inquietação e
sem demonstrar intenção de mudança, o que prova a mentalidade retrógrada e
o conformismo das classes dirigentes, pouco ou nada empenhadas em
reformas sociais, políticas ou económicas.
“Corridas no hipódromo de Belém” - Capítulo X

Este episódio destaca a presunção da elite lisboeta, que se dedica a organizar


e participar num evento de origem estrangeira, que copia as corridas de
cavalos já existentes na cultura inglesa e francesa, sem, na verdade, se
saberem comportar a vários níveis.

É evidente neste episódio tanto a falta de empenho na organização de um


evento visando proporcionar um momento de lazer da alta sociedade lisboeta,
como a sua ausência de compostura. O local onde decorrerão as corridas é
descrito de forma negativa, mencionando as traves mal pregadas, tribunas por
pintar ou mal pintadas, tecidos de segunda categoria a decorar a tribuna real,
sugerindo que nem a decoração, nem a construção do recinto foram
terminadas, o que demonstra não só displicência por parte dos organizadores e
dos operários, mas também falta de recursos financeiros.
Esta falsa presunção também pode ser provada a partir da forma como os
participantes se vestem e se comportam num evento que pretende divertir a
elite. Alguns dos homens vinham vestidos de forma demasiado formal para a
ocasião, o mesmo acontecendo com as mulheres, que, além disso, ainda
tinham um comportamento que não condizia com a situação, da forma que
estavam caladas, como se se encontrassem numa cerimónia religiosa, para
além de que pareciam não prestar atenção ao evento, revelando assim
desinteresse pelo mesmo.
Outro aspeto realçado neste episódio é a representação da falta de educação
demonstrada por alguns espetadores das corridas, que apresentam
comportamentos desordeiros que resultam em insultos e num clima de
violência, demonstrando contraste entre a realidade e as aparências.
“Jantar na casa do Conde de Gouvarinho” - Capítulo XII
Neste episódio, Carlos e Ega jantam em casa do ministro do reino, o Conde
de Gouvarinho, onde se discutem questões relevantes, como a educação das
mulheres e a literatura. A conversa dos dois amigos com o Conde e com Sousa
Neto (alto funcionário de Instrução Pública) expõe a falta de cultura, a
mediocridade das ideias e a falta de visão sobre os problemas do país. O
episódio pretende caricaturar as classes dirigentes, pois tanto o Conde como
Sousa Neto procuram cobiçosa mente a opinião de Carlos e a sua forma de
pensar, demonstrando estar ao serviço da caricatura da alta burguesia.
O Carlos limita-se a responder de forma simples e pouco empenhada às
perguntas que lhe são colocadas. Ega mantém ao longo do jantar um
comportamento provocador e irónico, mas tanto o Conde como Sousa Neto
não se apercebem desta atitude, defende a escravatura e sustenta que a
mulher deve limitar-se e a cozinhar e a “amar bem”.
A Condessa de Gouvarinho demonstra-se tensa e perturbada, raramente
participa nas conversas e procura constantemente estar a sós com Carlos.

“Corneta do Diabo” e a “Tarde” - Capítulo XV


Nestes episódios é evidente a crítica ao jornalismo sensacionalista, estes
momentos expõem os vícios do jornalismo, assim como a falta de ética e
moralismo dos seus profissionais, a fraca qualidade dos textos publicados e
relações condenáveis entre esta atividade e a política.
Crítica essencialmente a publicação de “notícias” que dizem respeito a altos
membros da elite lisboeta, a corrupção e falta de ética, como no exemplo, de
Palma Cavalão, diretor do jornal “Corneta do Diabo” que se deixa subornar por
Dâmaso, por Ega e posteriormente por Carlos.
Já no episódio referente ao jornal “A Tarde” que detinha a fama de ser um
jornal mais sério, no entanto, do mesmo modo do anterior, o seu diretor
também se deixa corromper por vingança, aceitando publicar uma carta que
humilha Dâmaso, pois este já teria prejudicado o seu partido. Neste contexto
também existe aqui uma crítica à intenção de vingança política, pois o diretor
do jornal nunca aceitaria difamar alguém do seu partindo, revelando a sua falta
de ética.
“Sarau no Teatro da Trindade” - Capítulo XVI
Este evento tinha como objetivo ajudas as vítimas das cheias do Ribatejo,
sendo então um espetáculo de beneficência, no qual foi notada a ausência da
família real. Numa noite dedicada à cultura, são realçadas diversas críticas à
sociedade lisboeta.
É possível verificar que a elite lisboeta revela uma grande falta de cultura, ao
não reconhecer a música de Beethoven, e ao preferir a música “Pirolito” à
música clássica, tocada por Cruges, um bom músico. É notória a falta de
sensibilidade estética das altas classes sociais.
Torna-se também evidente a inadequação dos comportamentos das
personagens ao evento, demonstrando a falta de compostura, como se
sugerisse a falta de hábito ao atender eventos deste tipo, as senhoras
demonstravam-se cansadas e saturadas e os homens entretinham-se com
outros afazeres ou estavam completamente alheados da situação em que se
encontravam, não demonstrando sequer importância ao barulho que faziam.

Conclusão
Em conclusão, na obra Os Maias da autoria de Eça de Queirós, o autor faz
diversas críticas à sociedade lisboeta do século XIX. Ele demonstra como a
elite aristocrática lisboeta está cheia de vícios e defeitos, desde decadência,
corrupção, adultério, materialismo até à traição. O autor pinta um retrato vívido
de uma sociedade que está estagnada e cheia de hipocrisia. Ao terminar de
explorar a obra, fica claro como a mesma continua relevante atualmente. Os
Maias” fazem-nos refletir sobre questões de comportamento da sociedade,
incentivando-nos a olhar para o comportamento e atitudes ao nosso redor de
uma forma mais crítica.
Resumo dos Episódios

• Ega organiza um jantar no Hotel Central, durante o qual


irrompe uma acesa discussão literária em que se
confrontam as ideias do Ultrarromantismo e do
Realismo/Naturalismo, servindo o desentendimento de
exame crítico destas correntes artísticas.
“Jantar no Hotel Central”
(capítulo VI) • Os convivas refletem também, de forma trocista, sobre a
decadência económica, social e moral de Portugal,
revelando a indiferença das elites perante a situação
preocupante em que o país se encontra.

• As corridas de cavalos: trata-se de um evento com


pretensões sociais, que copia as corridas de Inglaterra e de
França.

• Censura-se a imitação de comportamentos sociais


estrangeiros e a presunção da sociedade burguesa e fidalga
“Corridas no hipódromo” portuguesa, que cultiva uma aparência altiva de elegância,
(capítulo X) mas que se revela postiça e ridícula.

• Os comportamentos, o vestuário e a decoração são


artificiais, revelando o provincianismo português e a falta de
civismo, quando se desencadeia uma violenta discussão
que chega à agressão física.

• Carlos e Ega jantam em casa do Conde de Gouvarinho,


onde se discutem questões relevantes, como a educação
“Jantar na casa do Conde das mulheres e a literatura.
de Gouvarinho” • A conversa dos dois amigos com o Conde de Gouvarinho
(capítulo XII) (um político) e com Sousa Neto (alto funcionário da
Instrução Pública) expõe a falta de cultura, a mediocridade
das ideias e a falta de visão sobre os problemas do país.
• Os dois episódios que decorrem nas redações dos jornais
A Corneta do Diabo e A Tarde expõem os vícios do
“Corneta do Diabo” e a jornalismo, assim como a falta de ética dos seus
“Tarde” profissionais, a fraca qualidade dos textos publicados e as
(capítulo XV) relações condenáveis entre esta atividade e a política.

• No sarau artístico no Teatro da Trindade, critica-se a


“Sarau no futilidade da alta sociedade lisboeta: a reação do público à
Teatro da Trindade” atuação de (maus) oradores e de um bom músico
(capítulo XVI) (Cruges) expõe a falta de cultura das classes favorecidas.

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