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Pentateuco (Torá) - Estudo de Caso
Pentateuco (Torá) - Estudo de Caso
Caso
Pentateuco (Torá)
estudo de
caso
Culto é uma das principais atividades na vida de uma igreja. A escolha do modelo de culto
e do estilo de liturgia é uma das questões práticas cotidianas do ministério. Neste Estudo de
Caso refletiremos sobre um aspecto pouco levado em consideração na preparação do culto:
a sacralidade do tempo e do espaço litúrgicos a partir do livro do Deuteronômio. Os conceitos
de tempo e espaço sagrados podem ser muito úteis para uma visão renovada da liturgia cristã
e para uma prática cúltica mais relevante e consistente com vistas à edificação da comunida-
de para a espiritualidade e para a missão. Vamos lá, mãos à obra e pensemos sobre este tema.
(1) Tempo e espaço são categorias que devem ser estudadas em conjunto e pertencem
ao campo da cosmovisão cultural, pois exercem função configuradora dos discursos sobre
o mundo (natural, social e pessoal). Tempo e espaço são categorias do sagrado no discurso
deuteronômico e funcionam como delimitadores do mesmo, em uma forma contrastan-
te com as principais alternativas então existentes em sua época. O sagrado é definido pela
presença e energia vivificadoras de Javé, Deus de Israel. O profano é definido pela presença
da energia dos deuses do caos e da morte. No mundo divino, o profano está completamen-
te paralisado, interditado sob a soberania de Javé; dualidade não dualista. No mundo não
divino, entretanto, espelho microcósmico do divino, sagrado e profano se opõem e geram
permanente conflitividade entre vida e morte, demandando dos seres não divinos uma per-
manente decisão no tocante a que Deus seguir e servir. Decorre disto que a transcendência
divina seja articulada como alteridade e futuridade, e que o sagrado seja, simultaneamen-
te, fascinante e terrível.
(2) Tempo e espaço estão sob a soberania de Javé, o originador e sustentador de todas
as coisas. Ao reconhecer a soberania de Javé sobre o tempo e o espaço, o discurso deutero-
nômico apresenta a sua versão da universalidade do senhorio divino, em oposição à versão
predominante no Antigo Oriente, da polemicidade entre os deuses pelo controle e sobera-
nia das nações no tempo e no espaço. Não é uma universalidade de cunho monoteísta, mas
uma que afirma a irredutível superioridade de Javé sobre os demais deuses, retirados, assim,
do sagrado e relegados ao âmbito do profano: promotores do caos e da morte. Porque so-
berano sobre o tempo-espaço, Javé é o deus da futuridade1 e da promessa, presençausente
no mundo não divino. A face de Javé, portanto, é a face da alteridade — que se desdobra
em favor: liberdade e bênção para toda a sua criação.
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Não é à toa que a textualização da eleição divina do lugar seja feita com o verbo no incompleto, bem como a sua
presença no tempo-espaço litúrgico seja textualizada com o auxílio do nome — também textualizado no incompleto.
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estudo de
caso
A maneira como Javé exerce sua soberania é, também, oposta à dos deuses vétero-o-
rientais. Javé é soberano não porque é conquistador dos povos, mas porque é libertador e
abençoador. Soberano que elege seu povo, não de forma excludente, mas de forma a ins-
taurar — no tempo e espaço — a sua aliança de vida, em contraste com a aliança de morte
estabelecida nos tratados de vassalagem. Libertação e bênção são as características deter-
minantes da atividade divina, direcionadas à criação, defesa e preservação da vida de todos
os seres. Focalizadas no povo de Deus, libertação e bênção indicam a conjunção da natu-
reza e da história em um mesmo âmbito da sacralidade temporal-espacial. A bênção é a
energia da vida divina brotando da terra e se difundindo entre a sociedade. A libertação é a
energia da vida divina indo de encontro aos obstáculos que se interpõem contra a bênção
e sua difusão. Libertação e bênção são os eixos qualificantes do tempo e espaço sagrados
— a sacralidade delas deriva, não de características inerentes aos seres não-divinos.
(3) Tempo e espaço sagrados são também delimitados pela liturgicidade e pela cotidiani-
dade. O tempo-espaço cotidiano é marcado pela ambiguidade da caminhada e obstaculização
da bênção divina por meio da atividade das pessoas com a natureza. A bênção de Deus
caminha livremente pelo tempo-espaço cotidiano quando não se interpõem às barreiras
e fronteiras que segmentam irremediavelmente a sociedade de forma injusta, opressora e
excludente. Como a experiência humana na sociedade e natureza mostram, porém, esse
caminhar totalmente livre da bênção divina no espaço cotidiano é presente enquanto pro-
messa e possibilidade, mas não como realidade efetiva — obstaculizado, seja por desgraças
no campo da natureza, seja pelo mal praticado pelos seres humanos uns contra os outros.
Os obstáculos à bênção transformam a comunhão dos eleitos de Deus em uma sociedade
dividida, fragmentada — a serviço de e sob a energização dos múltiplos e igualmente frag-
mentados e frágeis deuses profanos. Quando a ambiguidade caótica e fragmentadora do
profano domina o tempo-espaço do cotidiano, torna impuro o tempo-espaço litúrgico e
demanda sua purificação por Javé.
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estudo de
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Fonte: o autor.