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Copyright © Rafaela Perver, 2021

Todos os direitos reservados a Rafaela Perver. É proibida a


reprodução de parte ou totalidade da obra sem a autorização prévia
da autora. A violação dos direitos autorais é crime, estabelecido na
lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código penal.
Todos os personagens desta obra são fictícios e qualquer
semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência.
Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa. (Decreto Legislativo nº 54, de 1995).
Esta história é um spin-off do passado da
Kiara e do Anton, do livro "Homem De Verdade."
E é contada em contos.
NÃO É NECESSÁRIO LER OS LIVROS
ANTERIORES PARA ENTENDER ESSE.
Kiara Lemos

— Mamãe, eu estou com medo... — Eu choro, enquanto a


mamãe faz mais cachos no meu cabelo.
— Não tenha, querida.
— E se for um velho, um homem fedido, feio? Eu não quero, eu
não quero me casar! Não deixa o papai fazer isso, mamãe, não
deixa!
— Kia, você não é mais uma criança, já conversamos, sabe o
que o Padilho pode fazer depois conosco. Não envergonhe o seu
pai, não seja malcriada com o homem que pode ser o seu marido.
Ele é rico, fazendeiro. Agora limpe essas lágrimas e vista os sapatos
que eu costurei ontem à noite. Precisamos descer.
Ela termina o meu cabelo, vira as costas e tenta esconder a voz
embargada e os olhos marejados. Triste, eu me levanto, visto os
sapatos, passo a mão para desamassar o vestido lilás, e antes de
eu ir sem vontade própria, mamãe me abraça perto da porta, dando-
me um beijo terno na testa.
— Eu estou do seu lado, minha menininha. Não tenha medo,
você fez dezessete anos, já é uma mulher para se casar. Seja
obediente, entendeu?
Emburrada, triste, desesperada, entre tudo o que eu sinto de
horrível, eu não respondo a mamãe. Minhas mãos soam, minha
garganta fica seca. A gente então desce como que se indo a um
velório. E ao pisar na última tábua que range dos degraus, eu
consigo ver os ombros de um homem sentado perto do papai. Por
baixo do chapéu negro, perto da nuca, eu percebo que seus cabelos
são castanhos. Ele não é velho.
— Padilho, a Kia está pronta.
Papai finalmente nos vê, após a mamãe murmurar infeliz. Ele
abre um pequeno sorriso ao se levantar do sofá.
— Por favor, Dexter. A conheça.
Meu peito se aperta, a saliva é engolida com dificuldade, como
que se tivesse espinhos. O homem se põe de pé devagar, virando-
se e fazendo-me tremer mais as pernas fracas. Mamãe parece ter a
mesma reação.
— Essa é a nossa filha. Ela fez dezessete anos há um mês.
Ele me fita com o seu olhar acinzentado, com a sua altura
grande, o rosto bonito por baixo do chapéu. Eu coro as bochechas,
com vergonha. E pressiono a mão da mamãe, querendo correr, ao
mesmo tempo ficar e admirá-lo por ser diferente de todos os peões
que eu já vi. Ele é lindo, bem cuidado, é igual aos homens daquela
revista que eu achei no lixo.
— Como eu lhe disse, ela será uma dona de casa aos seus
serviços. Sabe fazer de tudo, inclusive ficar quieta e obedecer
quando se manda. Vem, Judite, traga a Kiara para o Dexter analisá-
la de perto.
Mamãe me puxa, arrastando-me a força, sem eu querer ir. E
obrigada, eu paro no meio da sala, com a cabeça baixa, com medo,
pavor de olhá-lo.
— Ela sabe ler e escrever, mas acho que não deve ser um
probl...
— Eu não estou atrás de uma empregada ou escrava, Padilho —
o homem de repente interrompe o meu pai, estremecendo a todos
nós com a sua voz grossa, poderosa. — Até o momento não me
apresentou corretamente a ela. Nem vice-versa.
Eu ergo o rosto, com a aparência deprimida, marejada. Ele me
encara, desfazendo a sua face séria. Papai está enfurecido com o
jeito brusco do homem.
— Kiara, esse é o Anton, o herdeiro poderoso do recém falecido
Rangel Dexter.
Sem entender a importância de quem ele é, contínuo quieta,
observando constrangida/humilhada.
— Diga algo, menina!
O homem suspira, demonstrando estar nervoso com o meu pai.
— Kia, querida, o cumprimente — e antes de ele dizer algo,
mamãe intervém paciente.
Porém, o fazendeiro bonito dá um passo, dilatando as minhas
pupilas em temor.
— Olá, Kiara.
— Oi... — Enfim, eu respondo.
— É um prazer conhecê-la. Gostaria de dizer que você só tem
mais duas semanas nesta prisão.
Olho assustada para os meus pais, que estão boquiabertos.
— Você vai comprá-la, Dexter? — Papai não esconde o
deslumbre de alegria ao esbravejar a pergunta.
O homem apenas me analisa.
— Vou visitá-la mais algumas vezes antes de trazer os papéis do
cartório e o seu cheque, Padilho. E espero que durante nessas duas
semanas, não apareça mais manchas roxas, nem vermelhas nos
braços, ou corpo da minha noiva. Vou tirá-la daqui casada, como no
nosso combinado.
Meu coração acelera as batidas. Parece que tudo a minha volta
está desmoronando. Abraço-me, escondendo os hematomas do
cinto do papai, e fermento a esperança em meio ao medo, de ontem
ser a última surra dele. O fazendeiro poderoso deve ser bom... ele
não machuca.
Eu estava ajudando a mamãe na cozinha quando o meu pai
entrou e me mandou ir imediatamente trocar de roupa, pois o meu
noivo viria me ver esta tarde, tive que ir me banhar correndo. Fiquei
limpa, vestida, penteada e calçada para esperá-lo. Coloquei o meu
único vestido bom, o mesmo que ele me viu domingo. Só tenho ele,
que não é encardido e que a mamãe ganhou da doação.
Sr. Anton chegou às 16h19 da tarde.
— Boa tarde, Dexter.
— Boa tarde, Padilho.
Eu não o encaro, estou nervosa e muito, muito envergonhada.
Minha vontade era de voltar para o meu quarto e me esconder
debaixo dos lençóis. Só está eu, o papai e o Sr. Anton na sala.
Mamãe foi proibida de se envolver com os negócios. Lugar de mulher
é na cozinha, não em assunto de homens.
— Boa tarde, senhorita Kiara.
Não respondo.
— Kiara, seu noivo está falando com você!
Então ergo a cabeça, ruborescida e tremendo. Seus olhos são
frios, estranhos. Não sei. Ele causa medo.
— B-boa tarde, Sr. Anton.
Ele assente, encarando-me.
— Por favor, Padilho, poderia me deixar a sós com a sua filha no
jardim?
— Sim, mas meus homens estarão os vigiando. Vá, Kiara. O
acompanhe.
Papai abre espaço para que possamos passar entre os sofás e,
obrigada, eu vou caminhando ao lado do fazendeiro bonito, até o
nosso jardim feio, malcuidado.
— Nosso casamento está marcado para o sábado.
— D-daqui três dias? — Gaguejo assustada.
Ele para no meio da grama e observa-me sério. Fico mais
vermelha ainda, sem saber onde enfiar os meus dedos suados.
— Espero que esteja feliz por estar saindo das garras do seu pai
bêbado e decrépito.
— É a minha família. E eu não conheço o senhor.
— Nunca ouviu falar do meu sobrenome?
— Não, papai só disse que era importante. E rico — dou de
ombros. — Estou sendo vendida para pagar as dívidas de casa. Mas
não queria.
— Eu sei, você é muito nova, fez dezessete anos há um mês.
Devia estar estudando, não sendo escravizada. Nem um saco de
pancadas de um velho idiota.
Encolho-me, com medo dele, da sua altura gigante e da forma
que usa a sua voz poderosa.
— É uma menina — ele passa a mão na barba, parece inquieto.
— Eu sou Anton Dexter, herdeiro do império Dexter. Mas não vai
fazer diferença se eu disser a minha importância ou não. Quero que
me fale sobre você.
— Sobre mim? — Arregalo os olhos, corada. — Não tenho o que
dizer.
— Você fala muito bem para uma moça nova, sem estudo, que é
presa noite e dia num hectare limitado.
— É que leio muitos livros. Gosto de romances. Mas papai de
jeito nenhum pode saber disso. Escondo eles no forro do quarto.
— Tenho uma biblioteca em casa. Tem mais de cinco mil livros.
— O senhor tem? — Meus olhos brilham. — E quando nos
casarmos, o senhor vai deixar eu ler eles?
— Não sou como o seu pai, Kiara. Terá toda a liberdade que desejar.
Sorrio sem acreditar.
Liberdade! Eu vou ter liberdade!
— E como é a sua casa? — Empolgo-me.
— Você conhecerá no sábado — ele olha as horas no seu relógio
de rico.
Eu fico o admirando sem parar, fascinada por ele ser um homem
tão arrumado, cheiroso e ao mesmo tempo aterrorizante com esse
chapéu negro sobre a cabeça. Nunca conheci alguém assim. Ele
veste jaqueta de penugem animal.
— Preciso ir. Amanhã volto para visitá-la.
Aceno com a cabeça, sem coragem de olhá-lo mais um pouco.
Ele, então, aguarda-me virar para retornarmos para dentro.
E após se despedir e ir embora, eu volto ao quarto para vestir as
minhas roupas velhas/remendadas, para sorrir, pular e cantar, grata
por Deus ter ouvido as minhas orações.
Chorei tanto depois de saber pelo meu pai que eu seria vendida
para ele não perder a fazenda e nem ir morar na rua devido às
dívidas, contestá-lo só me fez receber duas surras de cinta – a qual
tenho marcas roxas que ainda doem. Fiquei calada, sofrendo e
imaginando maridos velhos, nojentos e – fecho os olhos – fedidos,
porcos. Mas Deus ouviu as minhas orações. No primeiro dia do
anúncio da venda, o Sr. Anton Dexter apareceu; lindo, cheiroso e
tratou-me com respeito. Igual as mocinhas dos livros que leio
escondido. Ainda enfrentou o meu pai e disse que eu já era a sua
noiva.
Estou sorrindo sem parar!
Ele é o príncipe que sonho, aparecendo num cavalo esbelto, da
cor dourada, tirando-me desse sofrimento para me dar amor,
felicidade e uma vida sem surras. Como em Rapunzel e Cinderela.
Vou ser livre! Sr. Dexter disse!
Eu estava sentada na cama, pronta para dormir, era só desligar a luz.
Mas a minha mãe resolveu aparecer para conversar comigo.
— Ansiosa, querida?
Após fechar a porta, ela vem se sentar ao meu lado, pega na
minha mão e a apalpa com ternura.
— Sim… e nervosa.
— Amanhã será uma mulher casada. Graças a Deus, teve
sorte do seu futuro marido ser tão bonito e bem de condições. Espero
que ele te faça muito feliz.
— Sem amor?
— Amor se constrói como uma casa, Kiara. De tijolinho em
tijolinho. E vocês terão tempo para aperfeiçoar as estruturas —
mamãe me olha um pouco constrangida. — Amanhã também
acontece a sua lua de mel, sabe o que é isso, né, querida? Tem
alguma ideia?
Eu fico corada, mas sou sincera e assinto.
Devido aos livros de época que leio, eu sei o significado de lua
de mel. É o ato de consumir o casamento. Da mulher e do homem se
pertencerem a um só. Porém, não entendo nada de como acontece.
— Você está com medo?
Confirmo, envergonhada, com a cabeça.
— Eu não sei como vai ser…
— Não se preocupe, o seu marido saberá como prosseguir. Só
que se não estiver confortável, peça para ele ser delicado com você.
Fico quieta pensando, aterrorizada, nesse momento. Mas
confio nele.
— Ele é um bom homem, mamãe. Esses três dias de visitas
para me ver foi tão maravilhoso.
— Você gostou do Sr. Dexter?
— Sim, eu gostei.
— Fico contente por saber disso. Já deixou o meu coração de
mãe mais tranquilo.
Ela beija a minha testa.
— Seu vestido está passado no cabide. Precisamos acordar
bem cedo para você estar pronta às 07h30 e para irmos no cartório...
Então partirá com o Sr. Dexter para a sua nova casa.
Percebo a mamãe desviar com o olhar longínquo. Eu chego
perto dela e a abraço.
— Não queria me separar da senhora. Não queria te deixar
sozinha com o papai. Eu te amo, mamãe.
Ela chora, abraçando-me mais forte. Acabo me rendendo às
lágrimas também.
— Eu também te amo, meu amor. E vai dar tudo certo. Será
feliz como a Sra. Dexter.
Mamãe fica mais um pouco entrelaçada em mim até se afastar
e dizer para eu me deitar no seu colo, pois quer desembaraçar os
meus cachos. Acabo pegando no sono com a sua delicadeza em
fazer isso e não a vejo saindo do quarto.

Pela manhã, eu acordo mais cedo do que o combinado com a


minha mãe e arrumo-me ansiosa, querendo ficar bonita. Depois
mamãe aparece surpresa por eu já estar praticamente pronta dos
pés ao pescoço, pois só preciso da sua ajuda para deixar os cachos
mais definidos.
Mais tarde, já pronta, eu e a minha família partimos para o
cartório da vila. São um hora e meia de estrada de chão. Ao chegar,
Sr. Anton nos esperava sentado na cadeira estofada. Assim que me
viu, ele se levantou e esperou que eu chegasse mais perto.
Sem saber como reagir diante da sua beleza, fiquei nervosa,
com as pernas tremendo, caminhei sem saber andar direito. Acho
que se não fosse pela minha mãe apoiando o meu braço no seu
cotovelo, eu teria caído de cara no chão, porque tropecei duas vezes
no tapete com as minhas sapatilhas brancas – o que me deixou mais
constrangida.
— Olá, Dexter — papai o cumprimenta junto da mamãe. — Ela
está aqui. Agora só aguardo o meu cheque.
Triste por me sentir igual uma porca vendida, abaixo a cabeça.
— Em respeito à sua filha, vou resolver esse assunto depois
com o senhor. E, por favor, Srta. Kiara.
Ele me chama e eu ergo os olhos, com as minhas bochechas
ardendo feito fogo. Sr. Dexter espera que eu pegue na sua mão.
Tremendo, eu pego, sentindo o calor dos seus dedos grossos. E ele
me leva até o Juiz de Paz, que se apresenta educado a nós, para
começa a cerimônia íntima, onde se finaliza com a minha assinatura
e a do Sr. Dexter. No entanto, antes de firmar a caneta no papel, ele
me fitou obscuro, misterioso e estranho. Não consegui decifrar as
suas íris acinzentadas, só sei que arrepios de assombro me
tomaram. Mas para o meu alívio ele logo desfez esse olhar terrível e
se inclinou para assinar o seu nome no documento.
Em meia hora saímos do cartório. E do lado de fora o Sr.
Dexter tirou um pequeno papel e passou para o meu pai.
— O restante. Espero que faça bom proveito — o tom de voz
dele sai rouca e poderosa.
— Farei. Obrigado e felicidades aos noivos.
Meu pai sorri com os seus dentes amarelos. Eu olho para a
minha mãe e sinto vontade de chorar. Ela então vem me abraçar,
sussurrando que me ama e que é para eu sempre visitá-la. Já o meu
pai só entrega a minha pequena mala para o Sr. Dexter e não fala
nada reconfortante... que me deseja bem e que... me ama. Isso é
como levar um soco no estomago.
— Vamos, Kiara.
Emocionada, eu largo devagar a mão da mamãe, virando-
me.
— Até mais, mamãe.
— Até mais, minha bonequinha. Que Deus te proteja. Vá em
paz.
Ansiosa, eu fui a viagem toda roendo as unhas. Não sei nem
mais o que é ter o coração batendo regular. Estou nervosa, suando
frio. Já o Sr. Anton dirige a sua bonita caminhonete muito
concentrado. Ele também está quieto, pensativo. Até que se vira
para mim e pega os meus olhos assustados nele. Eu engulo em
seco pelo seu olhar de mau.
— Está proibida de contar a qualquer um que te comprei dos
seus pais. Entendeu, Kiara? Isso é apenas entre nós dois.
Eu assinto com a cabeça e sem dizer mais nada, ele entra
numa fachada de fazenda luxuosa, com dois vigias na porteira e
segue numa estrada de pedras cercadas por árvores lindas. Acho
que já estamos em sua propriedade.
Vinte minutos depois, ao parar na frente de uma mansão
gigantesca, bem pintada e cheia de detalhes grã-finos, eu engulo
em seco e arregalo os olhos, sem crer no que estou vendo.
— É-é a sua casa? Eu… eu nunca vi nada tão lindo —
sussurro deslumbrada, com a mão no vidro do carro.
— Sim… — Ele tira o cinto, abre a porta e sai da
caminhonete para me ajudar a descer.
Eu desço bamba das pernas, sem conseguir parar os meus
olhos que olham para tudo o que está ao seu alcance.
— Vem, acho que você não tomou o café.
— Eu tomei…
— Mas quero que tome de novo! — sua voz sai rígida.
Eu não tenho coragem de contrariá-lo, apenas o assisto
pegar a minha bolsa pequena e me chamar para segui-lo. Eu o
acompanho nos degraus da entrada, sentindo que vou tropeçar
por não controlar onde olho.
Mas... céus!
Dentro da casa, é tudo mais lindo, incrível e mais chique do
que por fora.
Estou num castelo, num conto de fadas. Os sofá são brancos,
tem quadros, cortinas, vasos, estantes e uma escada de princesa.
Não sei para onde olho. Não sei nem como estou conseguindo
manter o queixo na boca.
— Bom dia, Sr. Dexter — uma senhora de cabelos amarrados
num coque bem penteado aparece na sala de teto enorme.
Ela é elegante, veste uma blusa florida e uma saia preta até
os joelhos.
— Bom dia, Felícia. A mesa do café já está pronta?
— Sim, Sr. Dexter.
A senhora olha curiosa para mim. Envergonhada, abraço os
meus braços, desviando os olhos para o chão de madeira polida.
— Essa é Kiara — Sr. Dexter me apresenta a ela, e sem
deixar que diga algo, ele continua: — Por favor, Felícia, a partir de
hoje, quero que você cuide da minha esposa. Tome — ele a estende
a mala.
— E-esposa? — Ela coloca a mão no peito e arregala suas
pálpebras. — O senhor se casou? C-como assim? Desculpa, eu…
meu Deus, o senhor saiu e voltou casado?
— Não exatamente, mais tarde eu te explico no escritório. No
momento, cuide da nossa Sra. Dexter. A ajude com o que precisar.
— Sra. Dexter? — Felícia parece tonta e perdida em sua fala
e pensamentos. — É-é claro, patrão. — Ela, então, vem devagar
pegar a minha bolsa, sem parar de me olhar. Está abismada,
chocada. — Por favor, Sra. Dexter, me acompanhe ao seu… — ela
olha para o Sr. Anton.
— Ao meu quarto, Felícia. E peça para alguma empregada
para levar o café da manhã.
— Sim, patrão.
Antes de ir com a Felícia, Sr. Dexter segura a minha mão,
fazendo-me fitá-lo surpreendida, e dá um beijo nos nós dos meus
dedos. Eu perco as forças, fico trêmula, sem ar.
— Vou estar com você daqui a pouco, prometo — sussurra.
Assinto nervosa.
Ele me larga.
Eu recupero os movimentos das pernas e vou rápida com a
senhora Felícia, subir os bonitos degraus da escada ornamentada.
É tudo muito lindo, chique e luxuoso. Nunca vi essas coisas
de perto. Minha vontade é de tocar e olhar bem de pertinho.
— Você está bem? — Ela pergunta no enorme espaço que
liga quatro corredores.
Eu ruboresço pelo seu olhar de indagação.
— Sim… só estou sem palavras para essa casa.
— É linda, né?
— Muito.
Ela me faz ir ao seu lado até o último corredor, então, quando
abre a porta, eu perco o queixo, por pouco não babando
— Bem-vinda a sua suíte, Sra. Dexter.
Eu ando em tropeços para o interior. Não tenho palavras para
descrever tanta coisa linda de gente rica.
— Você só tem isso de roupa? — Assim que entramos, ela
pergunta após colocar a minha malinha sobre um estofado
cumprido, que fica nos pés da gigantesca cama de forros cinzas e
travesseiros pretos. Também há almofadas cinzas.
— Sim… são as minhas melhores roupas.
— Melhores? Você não tem outra mala? É só isso que é teu?
— Suas perguntas saíram assombradas. — Desculpe-me a
pergunta, você veio de onde?
— E-eu sou a filha de Padilho Lemos. A gente é vizinho de
terra do Sr. Dexter.
— Deus… estou ainda sem entender. Tem quantos ano,
Kiara? Desculpa, se assim posso chamá-la.
— Que isso, pode me chamar de Kia. Todos me chamam
assim.
— Está bem, Kia. Você tem quantos anos, minha querida?
— Fiz dezessete há um mês.
De repente, Felícia dá um passo para trás e caí de bunda na
cama.
— Dezessete? Você disse dezessete anos? — Ela me encara
apavorada. — O que o Sr. Dexter está pensando? Seu rostinho é de
adolescente, uma menina!
Eu fico vermelha.
— Está tudo bem, a gente se casou.
— Não está tudo bem. Realmente não está. — Felícia se
levanta com a mão na testa. — Sr. Dexter namorou com você antes
de te pedir em casamento?
— Sinto muito, não posso te falar nada sobre isso.
Ela respira fundo e, apreensiva, vem até mim.
— Tem certeza desse casamento?
— Sim, assinamos agora pouco o papel, diante do juiz. Sou
Sra…
— Sra. Dexter — ela completa triste. — Eu sei. Só não sei se
você sabe onde se meteu, minha querida. Mas vou deixar que fique
à vontade no seu quarto e do seu… isso é estranho… marido… —
ela fala com o cenho franzido. — De um dia para outro, o Sr. Dexter
casado e com uma adol... Bom — ela balança a cabeça —, já volto
com o seu café. Pedirei para uma das empregadas te trazerem.
Com licença.
Assim que a Felícia fecha a porta, eu sorrio sozinha, correndo
para explorar o quarto e os outros cômodos enormes do interior.
Eu estou num conto de fadas… não posso acreditar...
Uma empregada me trouxe a bandeja do café da manhã –
que mais parecia um banquete – e me deixou sozinha de novo. Sem
fome, apenas belisquei do bolo e bebi um pouco do suco.
Estou sentada na cama, já com os nós dos dedos brancos de
tanto que os aperto nervosa. Explorei todo o quarto, desde o teto ao
chão. Até o quartinho onde fica um monte de roupas do Sr. Dexter.
E quando eu digo um monte, é um montão. Perto dele, eu nem me
comparo. Só tenho nove peças de roupas boas, ganhadas da feira
de doações da vila, e são todos vestidos.
Suspiro, levantando-me ansiosa do colchão e tremendo de
medo ao pensar em como vai ser quando o Sr. Dexter me tornar
mulher. Desde que disse que éramos noivos, treinei beijo na mão,
na parede e no espelho. Mas acho que não é igual, né?
Mordo o dedo, assustada com todo o luxo a minha volta.
Eu estou com medo… muito medo. Sinto vontade de chorar,
de voltar para casa e correr para os braços da mamãe.
Não, Kia… lembre-se do que mamãe disse, você se casou. É
quase uma mulher já...
Eu caminho até a varanda bonita, de vista mais linda ainda.
Então engulo a vontade de chorar e assisto o horizonte de floresta
verde bem alinhada, o campo de grama bem aparada, também um
jardim enorme de rosas vermelhas ao norte. Ele é um labirinto. Já
não vejo a hora de correr até lá e cheirar aquelas flores. Quero
explorar cada pedacinho de terra, cada árvore de frutos...
De repente, ouço passos a minha esquerda. Inclino rápida o
pescoço e arregalo os olhos ao me deparar com o Sr. Dexter.
Ele para no portal da porta, observando-me enigmático.
Envergonhada, eu retorno para frente, para notar a dor na
minha mão devido à eu estar agarrando na cerca de madeira da
varanda com muita força.
— Gostou da vista?
— S-sim — respondo gaga, sem olhá-lo.
Meu coração parece querer escapulir pela boca.
— Tomou o seu café da manhã?
— S-sim…
— Hum. Acho que não. Sua comida me parece bem intacta
em cima da bandeja da cama.
— Eu…eu estou sem fome… desculpe-me, Sr. Dexter.
Aperto os olhos, ouvindo-o se aproximar lentamente de mim.
A vontade de chorar retorna e o medo também.
— Você quer dar um passeio no jardim?
— P-passeio? — Surpresa, abro as pálpebras e finalmente o
encaro face a face, pegando o impulso de afastar um passo para
trás, quase tropeçando nos calcanhares.
Estávamos muito perto. Ele é bonito, tão bonito que me deixa
amedrontada devido ao seu tamanho forte, seu peitoral largo e seus
músculos do pescoço e dos braços meio grandes. Sem contar das
suas íris cinzas, elas são aterrorizantes. De gente mau.
— Está bem, Kiara?
Eu minto com a cabeça, ruborescida.
— Não quer dar um passeio?
— Sim, eu quero muito, Sr. Dexter.
O alívio me toma dos pés à cabeça, pois estou tão aflita, tão
apavorada que quero sair correndo desse quarto. Seria capaz de
pular da varanda.
— Então venha, eu vou te mostrar o jardim.
Ele pega na minha mão gelada e me faz acompanhá-lo até o
incrível jardim perfeito. Fico perdida com tantas coisas para analisar.
É desde a mansão chique a área exterior bem cuidada, igual nos
livros de princesa.
— Seus olhos são muito curiosos — ele diz, atraindo a minha
atenção para o seu rosto poderoso, de barba castanha, bem rente.
— E de azuis bonitos.
Minhas bochechas se esquentam. Eu chego a molhar a
garganta.
— Obrigada… não sei de quem os herdei.
— Hum. Com certeza não foi do seu pai — ele resmunga e
muda de assunto ao me encarar. — O que disse para a Felícia,
Kiara?
— Nada… não sobre o senhor ter me comprado do meu pai.
— Assim espero. Não tolero que me desobedeçam.
Eu balanço o cenho em confirmação, abraçando os meus
braços. Só que quando íamos virar no segundo corredor do labirinto,
ele segura na minha cintura e puxa-me arrastada para ele.
Fiquei tonta e assombrada. Nenhum homem nunca me tocou,
nem me puxou assim.
— O que foi? Está assustada? — Sua pergunta parece me
dar mais terror.
Minhas mãos pequenas ficam contra o seu peitoral gigante e
o seu aperto forte, que ele nem nota estar me tirando o ar.
Sr. Dexter não está sendo doce, nem delicado.
— Não, senhor… — minto, tremendo os cílios sem parar.
— É tão menina — Sr. Anton segura o meu queixo,
acariciando o meu maxilar. Eu tento afastar o rosto, e não consigo.
— Me sinto cometendo um pecado contra uma criatura tão pura e
casta. Mas foda-se o errado.
Seu xingamento me sobressalta. Quero fugir dele.
— Não fique assustada, menina — ele me puxa mais rígido,
fazendo-me quase erguer os pés do chão, ao mesmo tempo quase
cair com eles, bamba. — Não vou te machucar.
— Estou com medo… — então confesso baixinho, já com os
olhos marejados. — O senhor parece querer me machucar.
— Mas não quero! — Ele esbraveja duro. — Sabe o que
acontece entre um homem e uma mulher na cama? Não é possível
que seja tão inocente.
Eu assinto envergonhada.
— Eu sei… — sussurro.
— Ótimo — ele agora toca na minha bochecha, pega uma
mecha do meu cacho loiro e cheira profundo.
Engulo em seco, sufocada pelo seu perfume amadeirado e o
seu toque áspero na minha pele.
— Tem cheiro de flores.
— E-eu tenho? — fico sem crer.
— É linda, parece uma boneca. E estou mais curioso ainda
para sentir o seu gosto. Deve ser doce.
Estreito as íris, sem entendê-lo. Mas antes de eu poder
buscar entender algo, ele apoia o meu rosto e chega muito perto da
minha boca com o seu hálito quente.
— Senhor… — fico sem fôlego
Ele acaricia a minha bochecha com o seu nariz, se não
estivesse me sustentando pela cintura, eu já estaria derretida no
chão.
Não compreendo as reações do meu corpo. Nem o motivo de
eu não parar de olhar para a sua boca e desejar beijá-la. Minha
barriga parece se embrulhar dolorida. Há algo se mexendo sem
para dentro dela, e tem a ver com o Sr. Dexter e a sua barba
raspando espinhenta no meu pescoço.
— Sua pele branquinha deve ficar muito marcada — ele
aperta a minha cintura com mais força.
Ofego dolorida contra o seu abdômen, presa com os meus
seios no vestido de gola comportada.
— É… não tenho dúvidas de que me dará uma maravilhosa
esposa — após dizer isso, Sr. Dexter ergue o cenho de mau, segura
por completo o meu queixo, afunda seus dedos no meu cabelo e
gira-me de forma bruta contra a parede de arbustos... para me dar
um último olhar antes de me beijar pela primeira vez.
Sem ter o que pensar, ou onde colocar as mãos, apenas as
deixei de lado e fechei os olhos, tentando acompanhar os
movimentos ligeiros de lábios e de cabeça. É como se ele… se ele
me devorasse – então inesperadamente ele coloca a língua dentro
da minha boca e me faz sentir dor na raiz dos cabelo ao puxá-los.
Eu entro em choque, eletrizada pelas sensações.
O beijo não é como imaginava, não é igual fazer na mão ou
no espelho. É tudo tão… molhado… estranho… Sua língua brinca
com a minha, enquanto explora o meu interior. E a dor nos meus
cabelos e na cintura pelos seus dedos grossos me apertando,
puxando... são… bons. É uma dor que que não remete as surras
ardidas do papai, mas há algo que não compreendo sentir.
Isso me arrepia o corpo.
“Após me beijar, o Sr. Dexter afasta a sua cabeça e deixa-me
sem fôlego. Noto que estava me segurando nos seus braços rígidos,
para não cair com as minhas pernas moles. Recuperada, tento me
afastar pelo choque. Só que ele continua em posse de mim, tocando
nas minhas costas...”
Agora essas lembranças, do seu toque doloroso, do seu beijo
violento, do seu perfume marcante… eu estou eletrizada, acaricio os
meus lábios a cada instante, sem crer que fui beijada pela primeira
vez na vida e daquele jeito.
Ainda passei o restante da tarde no quarto, esperando por
ele, que precisou me deixar só para resolver algo importante na sua
fazenda poderosa. Porém, perto do anoitecer, o Sr. Dexter retornou
– também retornou duas vezes pior o meu desespero e o medo.
Não terei para onde fugir, nem como adiar mais. Só que,
mesmo assim, eu estou grata pelo Sr. Anton ter esperado durante o
dia. Ou não… isso me corroeu a alma a cada instante. Fiquei
imaginando como seria.
— Comeu algo?
— S-sim… — Confirmo, sem olhá-lo.
Estou sentada na cama dele, que é gigantesca e tem o
melhor colchão que já me deitei. É como se estivesse nas nuvens.
Não que eu já tenha ido até as nuvens, mas acho que a sensação
deve ser essa.
Fazendo-me suar frio, Sr. Dexter se aproxima devagar, sendo
refletido pela meia luz do pôr do sol, que começa a escurecer o
quarto. Ele, então, para com o seu tamanho grande e estende a sua
mão.
Tremendo, eu ergo a cabeça e toco nos seus dedos grossos,
para engolir em seco e me levantar com os pés descalços e os
joelhos fracos.
Noto que os seus olhos parecem piorar o meu desespero.
Não gosto do modo gelado e estranho que são. Parecem querer me
machucar, me fazer coisas ruins.
— Não vou te machucar — ele parece ler os meus
pensamentos ao preencher o silêncio, onde eu apenas podia
escutar os meus batimentos e a minha respiração.
— E-eu confio no senhor…
Após a minha resposta, ele não fala mais nada, inclina o
braço para percorrer as costas do meu vestido branco de núpcias.
Fico tão amedrontada que aperto os olhos, sentindo cada um
dos dez botões serem desabotoados. Quando chega no último, ele
sobe a mão masculina pela minha pele nua.
Arrepio-me sem parar, quase tendo um colapso de temor.
— Abra os olhos, Kiara.
Obedeço a sua voz oponente e abro muito trêmula, fitando-o
sem controlar os cílios.
Ele afasta o meu corpo, abaixa os meus ombros e tenta
descer o vestido. No entanto, o seguro rápida no alto dos seios,
vermelha das bochechas.
Sr. Dexter não parece se importar com a minha vergonha,
nem com os meus temores, porque ele tira indelicado as minhas
mãos do bojo e puxa o tecido com força, para que ele caia em volta
das minhas pernas desnudas.
Desesperada, eu tapa o busto e abaixo a cabeça.
Isso não está sendo bom... é tudo assustador...
— Quero ver os seus cabelos soltos — ele declara, erguendo
o braço e soltando a minha presilha do coque.
Os cachos loiros caem até a minha lombar e finalmente, me
dou conta de estar praticamente sem nada diante dele. Só penso
em querer me cobrir, depois entrar embaixo da cama e nunca mais
olhá-lo.
— Não desvie os seus olhos. Quero que me fite, Kiara.
Não faço.
— Olhe para mim.
Não consigo encarar as suas íris, isso parece irritá-lo, pois o
Sr. Dexter me agarra pela cintura e toma os meus cabelos com
muita violência, desde a raiz.
Gemo baixinho, encarando-o e por pouco, não chorando
entre o seu aperto e a sensação da sua outra mão na minha bunda.
Sinto dor.
— Não quero me arrepender de ter te comprado, Kiara... —
Sr. Dexter se aproxima da minha boca. — Ou quer que eu me
arrependa e te devolva para a sua família? — Murmura.
— N-não, por favor.
— Não?
Nego de novo, quase em lágrimas.
— Não, senhor… mas estou com muito medo.
— Não me diga que está com medo — fala nervoso. — Se
não relaxar, as coisas não vão dar certo. E se não der certo,
amanhã mesmo anulo o casamento e a devolvo ao infeliz do
Padilho. Entendeu?
Assinto sem parar com a cabeça.
— Agora eu vou te deitar nessa cama e não quero que lute
contra as sensações do seu corpo, pois se eu notar que está
fazendo isso, não vou em frente!
Ele solta o meu cabelo dos nós dos seus dedos e toca na
lateral nua do meu seio.
— Tire as mãos.
Eu respiro ofegante pelo choro e tiro, morrendo de vergonha.
Sr. Dexter então acaricia o meu pequeno bico, que se
endurece e cresce à medida que me arrepio nervosa. Ao parar de
me acariciar, ele pega na minha cintura e me empurra para me
sentar na beirada da cama.
— Não os tampe! — ordena assim que eu quase colocava o
antebraço de novo na frente dos seios.
Luto para não os esconder, entretanto, me encolho
acanhada, olhando de canto o Sr. Dexter tirar a camisa.
Ele é tão bonito e forte. Fico pequenininha diante da sua
pessoa grande.
Após deixar o seu peitoral sem veste, eu não evito olhar
curiosa para os pelos na sua barriga de ondas impressionantes,
perto do umbigo e do cinto da calça.
— Parece uma boneca curiosa — ele, de repente, avança em
mim, me pega pelos quadris, me joga para trás e deita-se em cima
do meu tronco para lamber o meu peito.
Fico agitada pelo contato da minha pele exposta no corpo
dele e pelo que acabou de fazer com a sua língua. Ele nota a minha
inquietação e ergue os seus olhos frios… só para percorrer os
dedos até a alça da minha calcinha.
— S-senhor...
Choramingo angustiada, querendo que ele pare para eu
entender o que está acontecendo comigo.
— Shhh — sussurra, subindo o pescoço para me acalmar
com um beijo molhado.
Não é como o beijo feroz de hoje de manhã, é lento.
Eu vejo que não sei beijar como ele. Ainda é tudo estranho,
molhado e novo.
— Senhor Dexter… — aperto o travesseiro, enquanto ele
mergulha a mão na testa da minha feminilidade.
Meus músculos se endurecem. Cada região dos ossos
parecem doer. Eu me contorço.
Sr. Dexter volta a me beijar molhado de língua e seus dedos
chegam aos meus pelos e a carne sensível do meu sexo.
Isso me faz arquear a coluna e os seios. Meus mamilos se
endurecem de uma forma que eu nunca imaginei que pudessem
ficar, nem que um homem pudesse ver essa região para lamber. E
lá embaixo… seu toque… contrai o meu estômago, gelando-me.
Não quero que ele pare. Nem que deixe de lamber os meus
mamilos, como está fazendo agora, e de acariciar a intimidade que
me faz mulher.
Só é tudo novo… sinto-me incomodada por estar com tão
pouca roupa embaixo de um homem, sendo vista, tocada e beijada.
Sr. Anton, para de me beijar. Ele me larga sozinha e levanta-
se para começar a abrir a fivela do cinto.
Eu ergo a cabeça e arregalo os olhos, puxando o forro da
cama para cobrir a minha nudez. Ele não desvia de mim, até que
desce a calça, fazendo-me soltar um pequeno grito e esconder o
rosto embaixo do lençol.
Ouço-o suspirar e inesperadamente o lençol é arrancado a
força de mim. Fecho as coxas com rapidez, só que ele as abre
bruto, avançando para subir no meu corpo. Minhas bochechas
queimam. O Sr. Dexter vem arrastando a sua parte íntima na minha
pele, até parar.
Ficamos face a face, comigo ofegante.
— O que eu disse, Kiara?
Meus lábios tremem, retraídos de medo. Eu molho a
garganta, sem fala.
— Não é possível ser tão inocente desse jeito. Mas é
excitante.
— D-desculpa, Sr. Anton… — choramingo sem segurar duas
pequenas lágrimas.
— Fique quieta e não tente pressionar as coxas — ele ergue
a minha perna na lateral do seu quadril, acomodando-se no meu
meio aberto e exposto.
Pisco sem cessar.
— Feche os olhos — Sr. Dexter manda e eu fecho na mesma
hora.
Então arqueio-me, sentindo os dedos dele me penetrarem.
— Senhor… — aperto o lençol.
— Não abra os olhos — ele sussurra, esfregando a sua mão
dentro e fora de mim. — Seu clitóris está se lubrificando conforme a
masturbo.
Percebo estar me contraindo e liberando algo que faz pulsar
e umedecer o que ele disse… o meu clitóris. Também latejo como
se estivesse segurando xixi e ele fosse se liberar à medida que os
movimentos de esfregar para trás e para frente ficam rápidos.
Fico eletrizada por ser bom o que faz...
Só que o Sr. Dexter logo para, eleva o tronco dos ombros e
me faz rapidamente abrir os olhos ao sentir apavorada outra coisa
parar bem na entrada da minha intimidade. Ele começa a se mover
de baixo para cima nos meu lábios que latejam.
Gemo de novo, espremendo as pernas no seu quadril,
enquanto seguro com as unhas o travesseiro.
Assim que ele parou de se mover e vestiu algo de uma
cartelinha preta, o senti se encaixar em mim. Desesperada, comecei
a me mexer. Mas o Sr. Dexter pediu bem baixinho para que eu não
fizesse isso, ou poderia entrar de uma vez e me machucar. Fiquei
quieta, amedrontada com as sensações entranhas.
Até ele me beijar na boca e iniciar a penetração lenta e…
horrível, como se estivesse me rasgando.
Isso dói, machuca.
Seguro-me nos seus braços, deixando uma lágrima escapar
na hora que ele força e algo se rompe no interior da minha
intimidade.
— Senhor… pare — choro em meio aos seus lábios,
chamando-o para que pare. — P-por favor, pare.
Mas o Sr. Dexter continua indo... forçando o seu órgão até
chegar no fundo, onde enfim para.
Assustada, respiro ofegante, apertando as minhas coxas no
seu quadril. Ele me olha. Tento o mesmo, só que meus olhos estão
arregalados e marejados. Encontro-me tremendo.
— Eu sei que dói. Mas não podia parar. Faz parte da sua
primeira vez — então ele volta a se mover sobre mim, raspando a
sua pele quente nos meus seios. — Prometo que ficará melhor.
Eu fecho os olhos, com uma dor igual cólica no ventre. Ele se
mexe cada vez mais lento. Chamo-o, sem entender que agora a dor
é mínima e que as minhas lágrimas pararam.
— Continua com dor?
Confirmo confusa, pois sinto-me melada e mais fácil para os
movimentos que faz; entrando e saindo
— Está é excitada… — Sr. Dexter resmunga entre os dentes,
focado em me observar e controlar a sua respiração. — Porra, é
muito apertada… demais... — resmunga de novo, quase inaudível.
Eu o ouço, mas não compreendo se é ruim. Na verdade, eu
não compreendo coisa nenhuma, nem o porquê da minha dor ter
ficado boa e suportável – mesmo assim ainda dói.
De repente, ele se inclina, chupando o meu pescoço
conforme balança e range a cama. Eu arquejo, notando que algo
está surgindo forte no meu ventre, perto do estômago. Minha
respiração fica mais acelerada e ofegante. Choques me tomam dos
pés à cabeça. Meus bicos dos seios ficam mais duros, arqueio a
coluna e então, algo se explode em mim, suplicando para que ele
pare e para que eu feche imediatamente as pernas.
Sr. Dexter segura os meus braços. Eu não vejo, nem ouço o
meu redor. Só arfo, tentando controlar o meu coração que quer
saltar pela boca.
Quando o Sr. Dexter me solta, eu abro os olhos, sentindo-o
se retirar de cima. Fico vazia e um pouco dolorida das coxas e na
minha intimidade.
Ele não fala nada. Apenas se deita ao meu lado, coloca o
braço sobre as têmporas e… nada mais.
Com a sensação estranha de nudez, eu puxo os lençóis e
cubro-me com muita vergonha. Tento não olhar para ele, que está
com as suas partes masculinas descobertas, e deito-me afastada,
tão cansada e dolorida que não consigo pensar.
E eu que nunca fui de dormir fácil, pela primeira vez,
adormeço em poucos minutos.

Pela manhã, acordo em meio ao escuro das cortinas, ouvindo


os passarinhos cantando na janela da varanda. Abro as pálpebras e
sinto o meu corpo mais dolorido do que ontem. Principalmente na
minha parte intima, que está ardendo.
Respiro fundo, aperto o lençol no corpo e concentro-me nas
dores das costas e das coxas ao me erguer e me sentar
devagarinho na beirada da cama.
Percebo também o lado do Sr. Dexter vazio e do fundo do
meu coração, eu agradeço a Deus por ele não estar aqui deitado,
pois não aguentaria a vergonha de olhá-lo.
Eu me tornei mulher… sua mulher. Agora ele não vai poder
me devolver para o meu pai, nem anular o nosso casamento.
Afasto o lençol da cama e sem esperar, solto um pequeno
grito de espanto ao ver uma mancha muito grande de sangue no
forro do colchão.
Eu estou sangrando? Por que estou sangrando tanto?
Assustada, coloco-me de pé com a minha nudez e vou ligeira
até um dos dois banheiros chiques. Mas, ao entrar e passar o papel
higiénico, vejo que não é a minha menstruação. Resolvo fazer xixi…
e foi a pior coisas que eu resolvi fazer, porque ardeu mais do que já
estava sentindo.
Eu me ergo, puxo a porta de vidro que divide a ducha e ligo o
registro do chuveiro bonito, para me enfiar embaixo dele e abraçar
os meus braços, enquanto tremo os dentes devido a água
imensamente gelada.
— K-Kiara… — Dona Felícia arregala os olhos ao me ver
saindo lenta do hall, enrolada numa toalha branca.
Eu paro, coro as bochechas e encolho os ombros, com muito,
muito frio.
— Meu Deus, você está ensopando o assoalho. Por favor,
seque os seus cabelos, eu vou pegar uma peça de roupa no seu
closet. Está meio frio hoje.
Espero-a parada no mesmo lugar e ao voltar, ela vem com
um dos meus poucos vestidos, olhando-me advertida.
— Querida, você precisa se secar. Seu cabelo está
escorrendo pelo seu rosto, costas e braços. Se encontra já numa
poça.
— Desculpa… é-é que me sinto… perdida — sussurro
baixinho.
Felícia sorri compadecida e triste.
— Vou ajudá-la. Vem, vamos secar os seus bonitos cachos e
vestir o seu vestido. Depois peço para alguma das meninas cuidar
do chão e dos forros da cam... — Ela pausa, corada. — Venha.
Imagino igualmente que esteja faminta.
Após me vestir e pentear os cabelos, eu desço bem
devagarinho as escadas, ao lado da Felícia, sendo levada para a
mesa do café, onde arregalei os olhos e lambi os beiços, faminta.
Minha barriga chegou a roncar alto. Felícia ouviu, o que me deixou
vermelha.
— Não prefere usar os talheres? — De braços cruzados para
trás, Felícia me assiste comer um pedaço de bolo e um pedaço de
pão doce que seguro em cada uma das mãos. Intercalando; oras
mordo o pão e oras mordo o bolo.
— Não precisa, obrigada — falo de boca cheia, varrida de
fome.
— Bom… tudo bem — ela sorri fraco. — Eu vou deixar que
aproveite do seu delicioso café. Qualquer coisa, é só me chamar.
— Hunrum — confirmo, virando sedenta o copo de suco de
laranja.
O bebi numa única golada.
Meu Deus, estou no paraíso. Nunca senti tanta fome assim.
Quero provar de tudo na mesa e eu faço. No final, não consigo nem
me levantar da cadeira direito, de tão cheia do bucho.
— Eu comi igual quando se joga ração misturada com comida
no curral — falo para a Felícia, rindo ao imaginar os porcos
comendo e fazendo oinc.
Ela segura a risada.
— Imagino, Kiara. E, por favor, não precisa se preocupar com
a louça. Temos empregadas para esse serviço — Felícia adverte ao
me ver juntando os copos chiques num canto.
Ela volta depois que eu terminei o café.
— Ah, tudo bem. Desculpa. E o que eu posso fazer? Sou a
Sra. Dexter.
— Não se desculpe. E é... você pode me acompanhar para
conhecer cada cômodo da mansão.
Lembro-me das minhas dores pelo corpo, principalmente nas
pernas e nego delicada com a cabeça.
— Podemos deixar para outra hora? Eu… eu acho melhor.
— Claro, minha querida. Fique à vontade.
— Cadê o Sr. Dexter? — Pergunto, assistindo-a parada, com
a sua coluna reta e dentro de roupas certinhas.
— Ele saiu bem cedo com a caminhonete para averiguar um
dos armazéns de madeira.
— E ele volta que horas?
— Não sei com exatidão. Mas ele sempre volta para o
almoço.
— Tá… — mordo o lábio. — Vou ir ao jardim. Posso?
— Sinto muito, mas o patrão ordenou que você não saísse da
mansão hoje.
Assinto cabisbaixa. Jamais vou desobedecer a uma ordem
dele.
— Só que em compensação, também me ordenou que a
levasse para conhecer a biblioteca. Gostaria?
Meus olhos brilham na mesma hora e balanço a cabeça em
sim, sem parar. Ela ri.
— Então vamos. Prevejo que passará horas naquela
imensidão de livros.
Acho que a Felícia estava certa, pois assim que me levou
para o andar de cima e puxou a porta chique da biblioteca, eu fiquei
boquiaberta e zonza diante do incrível lugar. Nem nos meus sonhos
eu esperava por isso. Tem livros para se perder de vista. E é tudo
tão bonito, de luxo. Parece que vou destruir apenas com o toque.

Passo algumas horas na biblioteca, procurando livros e


achando milhares, mas só encontro um romance de época. Quando
estou na página sessenta dele, eu levo um susto ao escutar a porta
sendo aberta de forma brusca.
— Senhora, por favor, o Sr. Dexter não vai gostar…
— Ele não tem o que gostar! Ele está louco!
Ergo-me devagar da poltrona, assistindo uma mulher muito
bonita caminhar brava para o centro. Ela tem cabelos pretos e
curtos. Usa um vestido azul de revista de madame. Nunca vi mulher
tão bonita. Ela parece ser uma rosa.
A mulher me encontra e assustada, com o seu olhar
acinzentado, eu dou um passo para trás.
— Ah, oras. Parece ser verdade mesmo!
— Senhora, foi uma viagem longa, estamos preparando a
mesa do seu café. Melhor esperar o Sr. Dexter voltar e…
— Cala essa matraca, empregadinha! Não é a governanta e
nunca saberá ser uma!
A mulher chique me analisa de baixo em cima. Fico encolhida
com meus braços, cheia de vergonha por usar um vestido bege que
mamãe costurou, pois há duas semanas estava nadando com ele
no rio perto de casa e ele rasgou na margem, ao enganchar num
galho seco.
— Como é o seu nome, garota?
Engulo em seco.
— K-Kiara. E o da senhora?
— Eu sou Lorenza Dexter!
A mulher range os dentes e olha para a Felícia.
— Anton fez isso só para me atacar e humilhar o nosso
sobrenome. Ele está louco, doente da cabeça!
— Não diga isso, Sra. Lorenza… não sabemos os motivos.
— Motivos? De um dia para a noite, seu patrão aparece
casado com uma adolescente selvagem e não sabe os motivos?
Larga de ser burra! Não tem nem três meses da morte do Rangel.
Anton está agindo como um doente! Quando o luto passar, verá a
merda que cometeu! Mas vou tentar consertar essa dessa vez! —
Ela me fuzila com feição de nojo. — Antes que saia nos jornais e em
qualquer buraco de fofocas, as fotos dessa aí.
Então a mulher ergue a cabeça, vira as costas e retira-se
rápida, fazendo barulho com os seus saltos altos e preocupantes,
pois parece que vai cair com esse negócio. Felícia fica e me dá um
sorriso de linha.
— A Sra. Lorenza é mãe do Sr. Dexter.
— Ela é muito brava... o que vai fazer comigo? — Pergunto
com medo e com os olhos quase marejados.
— Lorenza não tem poder nenhum nessa casa. Ela chegou
da cidade às 06h da manhã. E não sei como descobriu tão rápido
que o Sr. Dexter apareceu com… com — Felícia para — apareceu
casado e com uma moça tão nova. Não sinta medo. E peço que
espere aqui, volto daqui a pouco para buscá-la, caso seja ordenado.
Balanço a cabeça e sento-me, mordendo os lábios.
Talvez seja só um mal-entendido. A mãe do Sr. Dexter verá
que sou boa. Não sou uma pessoa ruim.
Eu fiquei um tempão na biblioteca, quando a Felícia voltou,
foi para me buscar e me levar até o escritório do Sr. Dexter.
Eu fui um passo atrás dela, tremendo e suando frio por ter
que revê-lo tão cedo. Sinto muita vergonha do meu marido. Ele
causa a sensação de quando estava com o meu pai. Não é o de
medo de levar uma surra, pois o Sr. Dexter não bate e ele disse que
eu tenho livre-arbítrio… é outra coisa, é algo que dá um medo
diferente. Estranho...
— Obrigado, Felícia. Pode se retirar.
— Sim, senhor. Com licença.
Felícia fecha a porta e eu fico em pé, parada bem longe da
mesa do Sr. Anton. Eu olho para todos os detalhes bonitos da sala
escura, de madeira maciça e feita com acabamentos detalhados.
— Sente-se, Kiara. Não devia nem estar fora do quarto hoje.
Eu molho os lábios secos e sem encará-lo, eu vou me sentar
num dos dois assentos confortáveis.
— Desculpa…
Ele encosta na cadeira, com o cotovelo no apoio e a mão
alisando a barba.
— Conheceu a minha mãe hoje?
Eu assinto, mexendo com os dedos nervosos.
— Sim. Mas parece que ela não gostou de mim. Acho que foi
mal impressão, eu não sou ruim. Eu sou uma boa pessoa.
— O problema é ao contrário. Por isso, se ela for rude ou te
maltratar, me avise.
— Ela não vai ser, tenho certeza.
Eu o fito nos olhos e ele faz o mesmo, arrepiando-me e
constrangendo. Por isso, volto a desviar.
— Essa semana virá uma loja na fazenda. Felícia vai te
ajudar a escolher roupas bonitas. O que usa nem as piores
domésticas vestem. Quero a sua mala toda no lixo.
— São as minhas melhores roupas...
— Saberá o que é o melhor.
Engulo em seco, confirmando com o semblante encolhido.
— Devagar será o que eu espero da minha esposa, Dexter.
— Eu serei.
Ele se cala de novo, até que se levanta e vira para a sua
prateleira de garrafas com álcool, para escolher uma que tem um
liquido amarelo.
— Agora volte para o quarto e se deite na cama. Sei que está
com dores. O que desejar, as empregadas acataram.
— Sim, senhor.
Eu me levanto, abraçando os meus braços, e saio rápida da
sua sala fria. É um lugar infeliz, que me deixou estranha. Não quero
voltar lá de novo.
— Espere, menina.
Na sala, assim que eu caminhava bem devagar para os
degraus, eu vi de novo a mãe do Sr. Dexter sentada no sofá.
Ela me faz parar.
— Oi?
— Onde vai?
— Para o quarto…
A senhora bem arrumada e de saltos, ergue-se rígida. Parece
querer me machucar. Eu engulo em seco, dando um passo para
trás.
— A gente pode ser amigas, eu sou boa pessoa.
— Amigas? — Ela ri. — Olhe para você, garota, para a sua
postura torta, as suas roupas encardidas e esses sapatos
remendados.
Eu abaixo a cabeça, vendo e tocando nas minhas vestes com
vergonha. Uso um vestido que vai até os joelhos. Ele só está
manchado de café.
— Onde o Anton pode ver uma Sra. Dexter nisso! Eu vejo
uma selvagem!
— Ele… ele disse que vai vir uma loja para eu comprar
roupas, vou ficar igual a senhora, bonita. Vai ver.
— Ele está louco! Quer me desafiar, humilhar o nosso
sobrenome de renome! Sua sorte, menina, é de eu não poder
contrariá-lo e nem conseguir o obrigar a nada, senão estaria na
sarjeta!
— Perdão, senhora, eu vou me esforçar para ser uma mulher
como...
— Você não é uma mulher, é uma adolescente! — Ela quase
berra. — E nunca será uma Sra. Dexter como eu! Não tem um pingo
de elegância, inteligência e bons costumes! Nem berço! Jamais
será!
— Lorenza! — Uma voz grossa e muito alta brada do outro
lado da sala chique.
Viro a cabeça e o Sr. Dexter caminha furioso até nós, com o
seu chapéu negro sombreando o seu olhar árduo.
— Eu já disse para deixá-la em paz! Não se dirija a Kiara!
— Cometeu um erro, Anton! Olhe para essa garota, é uma
selvagem que você achou no meio do mato e adotou como
estimação!
— Cala a boca! Não devia estar na fazenda! Antecipe a sua
volta para a capital amanhã mesmo!
— O quê? Mas eu vim para passar o feriado com o meu filho!
— Seu cheque de dez mil cruzados está em cima da mesa do
escritório, pegue ele e pode ir embora. Sei que não veio por mim.
Como sempre, veio atrás de dinheiro para gastar com os seus luxos.
E você, Kiara. Volte para o quarto, eu já mandei!
Assustada pelo seu tom furioso, eu viro as costas e quase
corro para a escada.
Eu fiquei o dia todo no quarto. Só desci quando a Felícia veio
me chamar para o jantar.
À mesa, me sentei de frente para a Sra. Lorenza, e bem
distante do Sr. Dexter. Fiquei de cabeça baixa, em meio ao silêncio,
observando sorrateira eles comerem facilmente com o garfo e a
faca. Tento fazer igual, mas só consigo segurar a faca com a mão
direita. Mesmo assim, quando sempre vou cortar a carne –que
costumo pegar com a mão para comer–, ela sempre escorrega do
prato, espalhando o arroz pela mesa e pelo meu colo.
— Nem etiqueta essa selvagem tem… — ouço a Sra.
Lorenza resmungar.
Então ergo a cabeça e ela e o Sr. Dexter estão dando
atenção aos seus pratos perfeitos. Felícia está do outro lado, com
os braços para frente, em postura. Ela sorri fraca para mim. Eu
retribuo com vergonha e volto a tentar comer a carne. Só que eu só
continuo a fazer bagunça, por isso, morta de fome, eu desisto de
comer toda frufruzinha e pego com a mão mesmo. E meu Deus,
assim tem até mais gosto, mais sabor. Eu posso encher bem a
boca.
— Espero que esteja vendo o erro que cometeu, meu filho.
Sei que está fazendo isso para manchar o sobrenome do seu pai
que batalhou tanto pra…
— Não toque nele! — Sr. Dexter inesperadamente declara,
fazendo-a ficar quieta.
Eu abandono o meu terceiro osso de coxa de galinha e limpo
o queixo sujo, igualmente as mãos meladas pelo caldo da carne.
Sra. Lorenza me analisa com nojo.
— Já terminei o meu jantar, não tenho estômago para
continuar aqui. Com licença.
Ela se ergue muito chique e sai da mesa fazendo som com
os seus saltos grã-finos. Sigo-a com os olhos até sumir de vista na
sala e volto ao Sr. Dexter. Ele parece nervoso, muito nervoso. Fico
amedrontada por me olhar tão assustador.
— Por favor, Felícia. Acompanhe a Kiara para o quarto.
Felícia assente e vem me ajudar a sair em meio a minha
bagunça de arroz. Eu abraço os meus braços e retiro-me. Mas
tarde, eu vou me deitar sem a presença do Sr. Dexter. Ele não
dormiu no seu aposento comigo. Será que se arrependeu de mim?
Ele não me quer mais como a sua esposa?

No dia seguinte, eu fico presa dentro de casa de novo, mas,


em compensação, eu vou para a biblioteca mergulhar em milhares
de livros. Descubro também que a Sra. Lorenza foi embora para a
cidade. Felícia que me contou. Já o Sr. Dexter não apareceu na
mansão durante o dia todo. E novamente, ao cair da noite, eu vou
me deitar sozinha, e triste por causa disso. Os casamentos não são
assim nos livros. Os personagens se amam. Eles ficam sempre
juntos, conhecendo um ao outro. Já o Sr. Anton não é desse jeito
comigo. Ele é aterrorizante.
— Bom dia, Kiara. Faminta?
Eu apareço na sala e Felícia vem sorridente até mim. Tento
retribuir a sua alegria genuína.
— Bom dia… estou sim.
— Hum, que carinha é essa, querida?
— Nada. Onde está o Sr. Dexter? — Pergunto, mordendo o
dedo e olhando curiosa para todos os cantos.
— É segunda-feira, ele já tomou o café e está no seu
escritório fazendo as contabilidades do começo da semana. Por
favor, vem tomar o seu café.
Assinto e vou com a barriga roncando de fome. Depois de
comer, eu volto para a biblioteca igual ontem, para ficar presa dentro
dela, devorando os meus romances de época. No entanto, durante
essa minha leitura, eu levo um susto ao ouvir um barulho estranho
do outro lado da aconchegante sala de sofás e poltronas azuis. Ao
desviar os olhos do livro, eu fico ainda mais assustada.
— S-senhor! — Arregalo os olhos.
— Deveria ir tomar um ar. Ontem já ficou presa nesta
biblioteca.
Ele está parado, com o seu chapéu preto sobre a cabeça, o
seu olhar é de arrepiar, me deixa embaraçada.
— Des... desculpa, é que o senhor disse para eu não sair da
mansão. Então não sai.
— Hum. Mas está liberada para passear no jardim.
— Obrigada, eu fico muito feliz. Era tudo o que queria.
Ele, de repente, caminha até mim.
Eu coro as bochechas, engulo em seco e desvio dos seus
olhos rudes. Até ele parar na minha frente e tocar no meu queixo
como os seus dedos grossos, fazendo-me fitá-lo.
— Levante-se, Kiara.
Respiro fundo, levantando-me gelada da poltrona e notando
que nem se eu ficasse nas pontas dos dedos, eu alcançaria o seu
tamanho gigante.
— O que está fazendo, Sr. Dexter? — Pergunto trêmula por
ele estar tirando o laço do meio da minha cintura.
— Esses acessórios só te deixam mais infantil. Jogue tudo no
lixo.
Balanço a cabeça, perdendo o ar com as suas mãos
apertando o meu quadril. Estou fervendo das bochechas.
— Senhor!
Ele escorrega para a minha bunda direita e ofego nervosa,
com vergonha.
— Está melhor, Kiara? Preciso de você.
— P-precisa de mim? — Questiono sem entender. — No que
o senhor precisa de mim?
— Em algo que só você pode me dar neste momento.
Ele aperta bem forte a poupa da minha bunda.
Arregalo os olhos, colocando o braço contra o seu aperto.
— O senhor está me… me apertando.
— Não gosta que a aperte? — Pergunta baixinho e bem
próximo da minha boca.
Sinto o seu hálito quente sobre os meus lábios.
— Nã-não sei… — fico tonta.
— Hum. Vamos descobrir.
Ele aperta de novo, agora a minha cintura, subindo a mão
para os cincos botões nas costas do meu vestido lilás, eu volto a
arregalar os olhos, compreendendo.
— Entendeu o que eu quero?
Instantaneamente, fico apavorada.
— Quer a mim?
— Você é uma seda, branquinha, pequena. É tudo muito
angelical. — Sr. Dexter pega os meus cachos desde a raiz, joga a
minha cabeça para trás e roça a sua barba no meu pescoço. —
Loira, cabelos cacheados e olhos azuis. Um anjo para me trazer
mais o inferno.
Sem força nas pernas, eu quase caio mole na poltrona. Só
que antes, ele me agarra, erguendo todo o meu vestido na parte de
trás, para expor o meu bumbum.
— N-não...
— Não? — Ele acaricia a minha bochecha com o seu nariz.
— Dessa vez, sentirá mais prazer e menos dor. Prometo.
— Não é assim que eu imaginei… o senhor não… — eu me
calo com medo de dizer.
— As coisas não são como imaginamos.
Ele começa a abrir os botões do meu vestido.
Eu fico trêmula, com mais medo.
— O senhor quer a mim, aqui? Não podemos.
Sufocada pelo poder do seu corpo, tento me afastar. Só que
isso o faz levar a mão no meu bumbum nu e me fitar com os seus
olhos acinzentados, maldosos. Noto estar mais sufocada por ser tão
bonito e assustador.
— É a minha esposa, não é?
Assinto, piscando rápida.
— Sim...
— Pois eu estou querendo você neste exato momento... —
Sr. Dexter sussurra de forma doce e arrasta-me para mais perto do
seu rosto... para me beijar como na primeira vez; faminto, feroz e
com os dedos mergulhados no meu cabelo.
Estática e fraca, apenas acompanho os seus lábios, entregue
a ele.
O Sr. Dexter abraça o meu corpo e deita-me de costas no
sofazinho, vindo por cima com o seu peso, as suas mãos nas
minhas coxas e os seus lábios beijando o meu pescoço.
Fecho os olhos, trêmula pelo seu toque áspero na minha pele
quente.
Ele me quer, me quer agora. E se doer como foi naquela
noite? E-E se eu sangrar? Estou com vergonha, medo. Ainda é de
dia.
— Senhor…
Ele ergue a cabeça, mas para encarar-me enquanto acaricia
a minha intimidade por cima da calcinha. Abro a boca, mexendo os
quadris. É satisfatório… bom. Quero que ele continue.
— Diga, Kiara?
Ele afasta o elástico da calcinha e esfrega-se nos meus
lábios pulsantes, que se umedecem sem eu controlar isso. Não
consigo respondê-lo. Estou gemendo baixinho… gostando do seu
toque.
Sr. Dexter, então, me penetra os dedos.
Eu vou aos céus e volto sem fôlego.
Ele continua no vai e vem até eu não aguentar mais. Até algo
se liberar muito forte dentro de mim. É algo prazeroso. Chego a
perder as forças e repousar no estofado do sofá. Fico inerte. Não
consigo ver nada abaixo da cintura, no entanto, noto o Sr. Anton
abrir a calça perto das minhas coxas, tirar o seu membro,
massageá-lo e vestir uma cartelinha preta. Ele também ergue o meu
vestido até na barriga.
— Sen... sentirei dor? — Minha pergunta saiu embargada.
Estou com a boca seca e os cílios piscando sem parar.
— Não sei dizer. Mas conforme relaxar, isso pode ser ameno.
O prazer ficará maior.
Assinto nervosa.
Ele se abaixa para me beijar e escorregar o seu órgão duro
na minha intimidade.
Suspiro nos seus lábios, passando a mão trêmula no seu
cabelo. Minhas pernas estão abertas, impossíveis de serem
fechadas devido ao seu corpo gigante entre elas. Ele mal cabe no
pequeno sofá.
Sr. Anton aperta os meus seios, agarra a minha cabeça e me
faz arquejar rápido… igualmente chorar pela dor do seu órgão
penetrando-me. Não é como na primeira vez, insuportável. É um
incômodo desconfortável que arde e queima, porém eu...
Inesperado, ele não me dá um tempo para compreender
completamente as sensações de tê-lo no meu corpo e mexe-se,
beijando-me e investindo. Aperto o estofado, acompanhando
automaticamente os seus movimentos dolorosos. Alcanço um ponto
de querer que ele não pare de se mexer mais. Preciso alcançar o
meu “limite” de novo. Quero que ele se movimente até eu conseguir
isso.
E consigo… Sr. Dexter me faz explodir extasiada.

— Como pode ser tão macia… — Sr. Dexter resmunga


ofegante, logo após me soltar e passar a mão nos meus seios
vazados pela gola do vestido, enquanto levanta o seu corpo quase
desnudo.
Eu me encolho com as coxas em ardência e tudo melado.
Nunca imaginei que fazer amor fosse assim prazeroso.
— Não quero que fique enfiada nesta biblioteca. Entendeu,
Kiara?
Assinto ruborizada, arrumando os meus seios dentro do
vestido. Mas, de canto, também o vendo fechar a calça, o cinto e
colocar o seu chapéu preto.
Após se organizar, ele dá um passo e pega no meu queixo,
erguendo a minha cabeça para encarar os seus olhos frios,
acinzentados. Meu coração quase abre um buraco no peito pelos
batimentos.
— Eu poderia ficar o dia todo com você embaixo de mim. Te
fodendo sem descanso.
Minhas bochechas esquentam. Perco o ar e as forças.
— Sabe do que eu estou dizendo? Ou ainda continua
inocente demais?
Balanço o cenho, em sim.
— Hum, ótimo. Logo realizarei isso. Estou me controlando
bem.
Ele me solta e eu repouso no encosto do sofá, tremendo.
— P-por que o senhor tem esse olhar? — Pergunto
amedrontada, porém, sem evitar.
— Eu te dou medo?
— Sim… o senhor é frio. Não tem amor nos olhos.
Minha declaração o deixa mais sério.
— Amor é conto de fadas. Precisa viver a realidade, Kiara. E
ela é assim. Alguns não tem essa merda.
— O senhor pode ter, é só querer e tent…
— Isso não existe! É uma menina, não uma mulher com
experiências para compreender o mundo com os pés no chão. Logo
compreenderá isso.
— Eu sou uma mulher, o senhor me tornou uma, casando-se
comigo e me desposando. Eu sou.
Vejo-o respirar fundo, sem paciência.
— Você se casou comigo após eu querer isso. A comprei e
ponto final. E não é mulher, está longe de ser o que espero!
Engulo em seco, triste pelo que disse num tom grosso, e
abaixo o cenho, mexendo com um cachinho do meu cabelo
dourado. Sinto os meus olhos umedecerem.
— Eu serei o que o senhor quer…
— É claro que será, por isso é a minha esposa Dexter. Agora
sai daqui e troque esse vestido rasgado. Não quero que as
empregadas a vejam inferior a elas. Até amanhã, eu posso suportar
você nessas drogas infantis.
Olho-o e levanto-me bamba, sem força nos músculos.
Quero chorar por ele estar sendo mal. Por dizer suas
verdades das minhas vestes. Sem contestá-lo, eu saio rápida da
biblioteca, quase correndo para as escadas e o quarto, mesmo que
eu esteja com dor nas pernas.
Eu só quero ficar sem ver ninguém. Nem ele.
Eu estava sentada na segunda sala da mansão. É uma sala
de chás, com enormes janelas compridas e uma sacada com vista
para a serra de eucaliptos. Felícia e mais duas mulheres estão na
minha frente, escolhendo roupas elegantes para mim. É a loja da
cidade que chegou uma hora atrás. Estou já com alguns vestidos
nos braços. Eles são decentes, nada decotado, nem que mostre
muito as coxas.
No fim, eu fico praticamente com todas as peças que elas
trouxeram e me couberam; calças, blusas, saias, shorts, vestidos.
Incluindo casacos de frio, camisolas, roupas íntimas, sapatos e
alguns acessórios femininos. Felícia disse que o Sr. Dexter a
mandou escolher tudo o que me servisse que ele compraria.
— Meu Deus, é muita coisa. Olha para tudo isso, Felícia!
Todos os sofás estão com montanhas de roupas!
Ela sorri.
— Vou precisar unir as empregadas da casa para organizar
tudo no seu closet. Ah, e não troque esse vestido. Ficou muito
elegante em você.
— Verdade? — Sorrio feliz, girando o meu vestido longo e
azul. Resolvi prová-lo só para ver como eu ficava e amei. — Ele é
tão confortável e chique. Nunca estive dentro de nada assim, de tão
boa qualidade e novo. Estou bonita? Me sinto uma princesa.
— Está linda. Sr. Dexter vai gostar desse seu estilo mais
mulher.
— Acha que eu estou igual uma mulher?
— Um pouco mais madura apenas nas roupas. E eu vou
consumir com as suas antigas. O patrão quer que eu as deixe em
mil pedaços. Desculpa.
— Tudo bem. Ele disse que, com elas, eu sou infantil. E que
eram encardidas.
Felícia se cala diante do meu comentário. Dou de ombros,
corada.
— Ele está sendo mal com você?
— Não, de forma alguma. Ele é só bravo, sério. Não é gentil,
nem carinhoso.
Lembro-me dos seus olhos acinzentados, do seu toque bruto
e suspiro, amedrontada.
— Não sei se pode esperar isso dele. Mas tudo pode
acontecer. Talvez ele melhore e queira... construir uma família.
— Ele não está bem? — Fito a Felícia, preocupada.
— Sr. Dexter perdeu o pai há uns três meses. É recente o
luto. Entende?
— Sim… — assinto triste ao pensar nele. — Eu não sabia…
— Sra. Felícia? — interrompendo-nos, uma moça de
uniforme surge entre as duas portas gigantescas da sala. — Precisa
de mim?
— Você apareceu numa boa hora, minha querida. Chame
todas as outras empregadas para nos ajudar a arrumar essas
roupas no closet feminino da suíte principal. E diga também que as
apresentarei oficialmente a nossa Sra. Dexter.
A moça me olha surpresa e sem dizer nada, assente e se
retirando logo em seguida.
Eu fico parada, sorrindo nervosa. Felícia pisca, encorajando-
me. Alguns minutos depois, as quatro meninas aparecem lado a
lado e sou apresentada a elas e elas a mim. Em especial a Ester,
filha da cozinheira da mansão.
Logo mais, ajudo-as com as minhas pilhas de roupas – o que
me faz conhecer melhor as meninas. Só que sou instruída pela
Felícia a não dar tanta intimidade. “Eu sou a patroa, esposa do Sr.
Dexter”. Devo sempre me lembrar da minha posição.
— Felícia, não precisava me trazer o jantar, eu… — assim
que eu viro, terminando de dobrar duas blusas, em vez da
governanta, é o Sr. Anton que eu vejo entrar no quarto.
Eu arregalo os olhos e desvio no mesmo instante,
envergonhada. Achei que fosse a Felícia. Ficamos a tarde toda
arrumando o closet. Após terminar, ela disse que me traria comida.
— Vire-se para mim, Kiara.
Engulo em seco, abandonando as blusas na cama e retorno
ereta, para fitá-lo.
Ele começa a abrir os botões da camisa, analisando-me.
— Hum… um pouco melhor do que antes.
Tento não seguir os seus movimentos.
— O-o senhor comprou tudo.
— O básico. Quando formos para a capital, você comprará
mais roupas de festa e joias, para me acompanhar nos eventos.
— Eventos? O que é isso?
Sem evitar, abaixo os olhos e noto os seus dedos já perto da
fivela do cinto. Minhas bochechas coram.
Não devia olhar… não devia olhar...
— Festas, as milhares, as quais eu sou convidado todos os
finais de semana na cidade. Mas compareço duas ou três vezes no
mês. E só nas que mais me interessam e me trazem benefícios.
Olho para ele de novo, vendo-o fixo a mim, com seu chapéu
negro o dando um aspecto sombrio. Na verdade, é esse o seu
aspecto.
— Você só vai nesses eventos comigo quando estiver uma
mulher de verdade. Seus maus costumes e as suas origens podem
virar capa de jornal e revistas em Montes do Sol na primeira
semana. E não quero nenhuma nota sobre a minha esposa e o meu
casamento. Gastarei o que for necessário para calar os jornalistas.
Fico calada, apertando os meus dedos.
— Vamos na semana que vem. E só retornaremos para a
fazenda quando estiver do jeito que eu quero.
Ele tira a camisa.
Constrangida, eu abaixo a cabeça para fitar as minhas
sapatilhas novas. Só retorno para cima quando o ouço se retirar
com os seus passos duros e sento-me na cama, respirando tremula.
Por que ele é assim?
Gostaria de ter o meu príncipe. Aqueles dos livros, que
demonstram cavalheirismo, elogiam a sua dama e a convidam para
uma dança, para trocarem elogios e passos românticos.
Só que elas são cortejadas, conquistadas e eu… eu fui
comprada sem amor.
Papai me vendeu e eu sei que talvez poderia ter sido pior.
Talvez meu marido tivesse sido um velho feio e nojento. Fico feliz.
Não quero reclamar de barriga cheia. Sr. Dexter não me bate, nem
me maltrata. Por outro lado, eu estou sendo tratada como uma
rainha. Moro numa mansão onde tudo parece ser mais valioso do
que eu. Tenho empregadas ao meu dispor e hoje ganhei milhares de
roupas, sapatos e coisas caras. Meus pais jamais me dariam nada
disso. Devo me alegrar. Ser sempre gata ao Sr. Dexter e obedecê-
lo. É meu marido.
Durante os dias que sucederam a semana antes da viagem
para a cidade, numa terça-feira, enquanto eu caminhava pelo
jardim, eu conheci um homem; alto, forte, cabelos médios e olhos de
um azul escuro. Notei que ele sabia quem eu era. Sua aproximação
foi muito gentil e cavalheira.
— O senhor trabalha aqui?
— Sim. Eu sou gerente do Anton. Somos amigos de infância.
Amigos de infância?
Com a sua revelação, eu penso no Sr. Dexter jovem.
— Ele era assim… bravo e assustador desde criança?
Na mesma hora, eu vejo o Sr. Gael fechar o semblante diante
da minha pergunta.
Eu fico arrependida e engulo em seco, desviando dos seus
olhos.
— Descul…
— Não, ele não era assim.
Eu ergo a cabeça.
— A doença e a morte do pai o mudaram. E eu posso
também te fazer uma pergunta?
— S-sim, claro… — Confirmo.
— O Dexter te comprou?
Arregalo os olhos, quase tropeçando nos meus pés ao dar
um passo surpreso para trás.
— Preciso saber, para o seu bem.
— Eu… eu estou bem. Não posso responder o que o senhor
me perguntou.
— Acabou de me responder — ele inspira nervoso. — Anton
está maluco! Não consigo acreditar na sua falta de escrúpulos. Você
é uma adolescente. Uma menina!
— Eu não sou mais uma menina, nem uma adolescente —
digo parada, apertando os meus dedos. — Sou a Sra. Dexter.
Sr. Gael altera o olhar, relaxando os ombros.
— Desculpe-me, você realmente é a nossa Sra. Dexter e vai
amadurecer cada vez mais. Com um homem marcado, em luto e…
— ele volta a inspirar e suspirar, interrompendo-se. — Eu não devia.
Sinto muito, Sra. Kiara. Sinto muito de verdade. Não sou assim.
— Não se desculpe, por favor. Eu já disse que estou bem. O
Sr. Dexter é bom. Ele me trata igual uma rainha. Não me deixa faltar
nada.
Sr. Gael me observa com os seus cabelos castanhos
avermelhados pelos raios do sol. Parece estar pensando nas
melhores palavras para voltar a falar.
— É tarde para mudarmos o passado e o presente. O seu
presente e o passado do meu melhor amigo. Você entrou na vida
dele, pela decisão sem escrúpulo dele. E ele terá que honrar a
esposa que “escolheu”.
— Eu serei uma boa esposa e uma Sra. Dexter. Já o disse. E
eu não devia estar conversando sobre isso com o senhor.
— Pense sempre em você. Na sua felicidade, no que te faz
bem.
Paro absorta.
— Eu nunca soube pensar nessas coisas. Neste momento,
sinto-me grata pelo meu casamento sem a… — balanço a cabeça
— Pelo meu casamento! O senhor não sabe como era a minha vida
antes daqui. Dos meus pais. Do meu pai. E eu não quero voltar para
aquilo.
— Padilho era o seu pai?
Assinto.
— O conheço de vista por se endividar em jogos e bebidas.
Igualmente pela sua falta de escrúpulos ao vender a filha para não
perder o pequeno sítio. Nunca foi merecedor de uma família.
Afetada pela verdade das suas palavras, eu olho para o
campo verde do outro lado.
Ele bufa inquieto, passando a mão pelos cabelos médios.
— Acho que eu deixei a indignação subir demais a minha
cabeça. Desculpe-me de novo. Anton é como um irmão. Ele me
preocupa. O quero bem. Quero evitar que ele cometa mais erros. É
só isso.
Abaixo o pescoço para ver os meus sapatos confortáveis e
retorno devagar ao Sr. Gael.
— Não tem nem duas semanas que eu cheguei. Não os
conheço para julgá-los. E entendo que o Sr. Dexter está em luto e
triste. Prometo também tentar ajudá-lo para recuperar a sua alegria.
Gael se perde nas minhas palavras calmas. Está meditativo.
Ele não para de me observar. Suas íris são de alguém cansado,
derrotado.
— Alegria… não sei a última vez que essa mansão ouviu ou
viveu isso. Por favor, Sra. Kiara, me procure se precisar de
conselhos e qualquer outra coisa relacionada ao seu bem-estar.
Você não merecia estar aqui, não nesse momento. E perdoe a
minha má impressão e a sinceridade. Apenas desejo o bem de
todos.
Assim que ele termina de falar, ele acena com a cabeça,
pede licença e vira devagar as costas, para se retirar com o seu
corpo alto, forte e dentro de roupas de cowboy.
Noto que estava segurando a muito tempo a respiração e a
solto.
Por que o Sr. Gael disse tudo aquilo?
Não há o que ele se preocupar. Não comigo. Eu sei que o Sr.
Dexter é daquele jeito frio devido a perda do pai, sinto tanto pelo seu
sofrimento. Não gostaria que ele estivesse triste e nem tivesse
aquele olhar terrivelmente assustador. Nunca vivenciei a dor de
perder alguém para a morte. Imagino que seja horrível. Insuportável.
Quero ajudá-lo a superar o luto e a ser feliz. Talvez com a minha
dedicação Sr. Dexter crie amor por mim… e eu por ele.
Meu coração palpita quente com a ideia.
Havíamos chegado na capital para ficarmos só por alguns
meses, mas nos primeiros dias, eu fui completamente deixada
sozinha no quarto de hotel pelo Sr. Dexter. Isso todas as noites
também. Até eu não aguentar mais a tristeza de ele não me dar
atenção, de não conversar direito comigo.
— O senhor vai sair? — Pergunto baixinho, sentada na cama
com o meu livro de romance na mão.
Sr. Dexter está colocando seu relógio.
— Sim. Mas voltarei cedo.
— Eu... eu queria sair também… queria conhecer a cidade.
— Quando estiver pronta para ser apresentada em público,
conhecerá tudo que desejar. Acredito que vai até se cansar dessa
cidade.
— E quando vai começar a minha transformação, a que o
senhor falou?
— Amanhã virá uma professora de boas maneiras. Ela vai te
dar aulas todas as tardes. Até estar como eu desejo.
Assinto, mordendo o lábio.
— O senhor vai ir aonde?
— Vou sair com os meus irmãos.
— Tem mais irmãos? — Questiono surpresa.
— Sim, dois por parte de mãe.
— Eu vou conhecer eles?
— Em breve.
Ele termina de ajeitar o seu relógio e vem até mim,
estremecendo-me ao parar na minha frente, tocar no meu queixo e
erguer o meu rosto.
— Jante e vai descansar, Kia.
Sinto vontade de dizer que o queria aqui comigo, dando-me
atenção. Porém, eu somente confirmo e abaixo a cabeça.
Sr. Dexter, então, solta o meu queixo, pega a sua carteira, a
chave do carro e retira-se do quarto, deixando-me sozinha com o
ambiente luxuoso e solitário.

Nos dias seguintes, nada muda, exceto as minhas aulas de


etiqueta que começaram com a professora Mirian. Mesmo assim,
mesmo com a companhia dela preenchendo as minhas tardes, à
noite, eu me sinto sozinha.
Talvez só hoje esteja sendo diferente.
— Aprendeu muita coisa? — Sr. Dexter pergunta, sentado no
sofá, com alguns papéis na mão e outros pelo estofado.
— Sim, sim. Essa semana eu estou aprendendo regras à
mesa. E acredito que semana que vem é de postura. Ela disse que
vai me ensinar até sobre beleza.
— Hum.
— Acho que já estou pronta para comer em lugares públicos.
O senhor não vai passar vergonha — eu falo, passando a mão no
meu vestido comprido e florido.
Sr. Dexter me olha. Eu desvio, indo até o vidro da saca,
assistir a chuva que cai bem forte lá fora, balançando os coqueiros
perto da piscina.
— Ainda não. Quero te ver andando de saltos e com a
postura certa do seu sobrenome.
— E depois disso, vai me tirar desse quarto? Vai me levar
para ver a cidade?
Ele suspira, impaciente.
— Sim. Já disse que quando estiver pronta.
— Mas eu est…
— Chega de perguntas, Kiara. Eu já tinha o que responder —
ele volta a pegar bruto os papéis e lê-los.
Eu fico o observando, encolhida com os braços.
— O senhor não gosta de mim? — Sem suportar essa
pergunta batendo no meu cérebro, eu a solto em sussurro.
E ele permanece em silêncio. Mesmo assim, o ouço suspirar.
Então para me apavorar, Sr. Dexter abandona os documentos que
lia e levanta-se para vir até mim.
Eu dou um passo para trás, batendo contra o vidro da porta
e, com medo, encolho mais ainda o meu corpo.
— Faça suas obrigações como a minha esposa — ao parar
na minha frente com o seu corpo enorme, ele acaricia o meu rosto
com as duas mãos robusta, erguendo os meus olhos. — Entendeu,
linda?
Meu coração acelera com o seu elogio, e assinto, sem
desviar dos seus olhos e lábios.
Ele me acha linda?
— O-o senhor não respondeu…
— Se eu gosto de você? — Ele questiona perto do meu
ouvido.
— S-sim.
— Eu gosto. E vou gostar mais ainda quando ficar do jeito
que eu quero.
Sr. Dexter desce a outra mão para a minha bunda e aperta-
me dolorido, com toda a sua força.
— Se…. senhor… — arfo ao ser mais imprensada no vidro.
— Você é tão angelical. Faz ideia de como isso me excita?
Nego, sem onde colocar minhas mãos e o toco nos braços de
pelos macios, que esmagam a minha cintura.
— É, eu gosto disso, minha querida. Mas do que poderia
gostar.
Os olhos dele se escurecem.
— E o melhor, é que você é minha.
— Eu, eu sou — gaguejo, tremendo pelo seus lábios na
minha bochecha. — O senhor me comprou…
— Exatamente. Eu comprei para fazer o que eu quiser. —
Após dizer isso, ele me pega no colo e joga-me na cama, subindo
em cima de mim para rasgar o meu vestido e as minhas roupas
íntimas. Agitada pela nudez, eu tento me esconder com os lençóis,
só que ele avança rápido, segurando os meus pulsos no alto da
cabeça. E antes de ele abrir a calça, eu fecho os olhos, pela
vergonha de vê-lo nu, só volto a abri-los ao sentir o Sr. Dexter
inclinando sobre a minha pele, já revestido… então, afundando seu
comprimento até o meu peito saltar sem fôlego.
— Ahh, como é apertada…
Ele desliza as mão pelos meus seios, a clavícula e segura o
meu pescoço, investindo em mim cada vez mais duro.
Eu gemo, gemo como nunca fiz, chamo-o para que nunca
pare.
Sr. Dexter não para. É o que ele nunca faz até me fazer cair
fraca, dolorida e tonta pelas milhares de sensações no meu corpo.
Em duas semanas, eu aprendi tudo sobre etiqueta e já iniciei
ansiosamente as minhas aulas de como andar de saltos. Mesmo
caindo, eu tive muitos progressos. Estou orgulhosa de mim.
Devido a conclusão dessas aulas de etiqueta, no sábado, o
Sr. Dexter me levou para almoçar num restaurante muito chique.
Acho que eu me sai muito bem. Fiz tudo certinho, conforme a minha
professora ensinou.
No decorrer de mais semanas, eu melhoro na postura, no
andar e aprendo regras de como uma mulher chique deve se
comportar. Sr. Anton ficou mais satisfeito pelas minhas excelentes
melhoras. Por isso, hoje ele disse que me levaria num evento para
acompanhá-lo e para me apresentar como a sua esposa para a
sociedade.
No carro, até chegarmos no local, eu não tirava os olhos
encantados da vista dos prédios, das casas e dos comércios. É algo
que eu nunca vi em toda a minha vida. Ao chegarmos no evento, eu
tremi as pernas na porta, apavorada com tantas pessoas diferentes,
música, fotógrafos e coisas elegantes. É como se eu estivesse num
outro mundo.
— Vem, Kiara.
Sr. Dexter quase me arrasta pelo corredor de piso de vidro,
cercado de belas mesas douradas e com gente bonita. Eles nos
olham como se fossemos uns bichos diferentes, nunca vistos na
terra. Minhas bochechas coram, sinto que vou tropeçar nos meus
pequenos saltos.
— Por que estão nos olhando? — Pergunto, abraçada com
força no braço esquerdo dele, só querendo me esconder, fazer com
que não me olhem.
— Eu já lhe disse sobre o meu sobrenome.
— N-não lembro, o que tem o seu sobrenome?
— Tem grande fama e poder no estado. Devido ao meu pai
que enriqueceu Montes do Sol. Por causa dele aqui virou uma
cidade turística.
Então estão olhando para ele?
A gente para numa mesa com um casal de pessoas e três
mulheres. Engulo em seco, olhando para baixo.
— Sr. Dexter! Que honra, que honra! — Um homem se ergue
e vem até ele, cumprimentá-lo animado. — Não posso acreditar que
veio na premiação de cafés. Por isso tantos burburinhos lá atrás,
entre os convidados.
Sr. Dexter apenas assentiu, apertando a mão dele.
— Não teria o porquê de eu não vir, João.
— É claro, o senhor está sempre comparecendo as principais
premiações de agropecuária, pecuária e agricultura do estado.
Mesmo assim, como vice-prefeito e padrinho do evento, digo ser
uma honra. Por favor, junte-se a nós. Não posso deixar que os
deputados o roubem da minha companhia.
As mulheres da mesa olham para mim dos pés à cabeça,
enquanto o Sr. Dexter afasta a cadeira para me ajudar. E é diferente
de como elas olham para ele. Os sorrisos que dão.
— Essa daqui é Tereza, a minha esposa. E essas, Rebeca e
Marcia, são as minhas filhas…
O homem, que disse ser vice-prefeito, começa a apresentar
as mulheres a nossa volta. Só que eu não sou apresentada e nem
recebo nenhuma atenção especial. Fico sozinha, sem ninguém para
falar comigo. Fico assim até o final do evento, ou até uma mulher
morena, de olhos claros e de corpo bonito, me dá um “olá”, após se
sentar à mesa que me encontro solitária.
— Olá…
— É a acompanhante do Sr. Dexter?
Eu aceno em sim com a cabeça, envergonhada pela beleza
dela. Seu vestido é muito escandaloso.
— Ele é o meu marido.
— Marido? — Ela arregala os olhos.
— Sim.
— Uau, então é verdade o que os jornais e revistas de
fofocas andam publicando. Na próxima segunda, com certeza, os
boatos se confirmam.
— Como é o seu nome? Eu sou Marina.
Lembro-me de que o Sr. Dexter me proibiu de dizer. E
amedrontada, eu nego com a cabeça.
— Sinto muito…
— Tudo bem — ela sorri, como que se forçando seus lábios.
— Imagino que o Sr. Dexter tenha vergonha de revelar o seu nome.
— Ve-vergonha?
Eu aperto a minha bolsa.
— Sim. Você é bem feinha para um homem tão… — ela
suspira — nossa, tão quente e perfeito como ele. Tenho ótimas
lembranças da semana passada.
— Eu não sou feinha, eu estou bonita esta noite. E não
entendo. Vocês são amigos?
A moça ri, negando com a cabeça.
— Não, mas não seria uma má ideia eu ser amiga do todo
poderoso Sr. Dexter. Daria um ótimo colinho para os seus desabafos
à noite. Pena eu ter que ficar só no sonho. E faça algo nesse
cabelo, minha querida, alise essa arapuca de cachos — ela se
levanta com o seu vestido apertado e muito escandaloso nos seios.
— E economize no blush também, está parecendo uma palhacinha.
Até mais.
Ela vira as costas, deixando-me com os olhos ardendo.
Eu toco no meu cabelo, no meu rosto e ouço risos de mais
mulheres na segunda mesa a minha lateral. Então vejo a moça que
acabou de sair daqui, entre elas, olhando-me e cochichando.
O Sr. Dexter disse que não poderia me levar de volta para o
hotel. Por isso mandou que um segurança me deixasse na entrada.
Também, ele disse que voltaria tarde.
Eu não pude perguntar o porquê, pois foi o próprio segurança
que me passou o recado e mandou acompanhá-lo.
Quando cheguei no hotel, fechei a porta do quarto, tirei os
saltos, arranquei o penteado preso na presilha e, sozinha no escuro,
eu me sentei perto da janela da sacada, chorando por querer o Sr.
Dexter comigo. Por não querer me sentir de novo solitária nesse
lugar.
Mesmo assim, sem ele, eu fui me deitar na cama fria,
enrolada num monte de cobertores que não me faziam sentir medo.
Na manhã seguinte, acordei como fui dormir, só. E fiquei
preocupada, pensando no que poderia ter acontecido para o Sr.
Anton ainda não ter chegado.
Que não seja nada grave, meu Deus. Por favor, que não seja.
Tomo banho, me arrumo e vou comer do café deixado na
mesa pelo serviço de quarto. E, para o meu alívio, depois que eu
termino a refeição, o Sr. Dexter surge abrindo a porta da suíte.
Então arregalo os olhos e levanto-me descalço, quase
correndo para a sala.
— S-senhor? Eu fiquei a noite toda preocupada. Onde
esteve?
Ele me olha em silêncio, colocando a chave e a carteira em
cima da mesinha de centro. Está com as mesmas roupas de ontem,
amassadas.
— Resolvendo alguns assuntos.
— Graves?
— Não.
— Que bom — suspiro aliviada.
O Sr. Dexter caminha até mim e para muito sério na minha
frente, erguendo a mão e tocando no meu rosto com carinho. Eu
prendo a respiração, sentindo o mesmo cheiro de quando o meu
papai bebia e voltava bravo para casa... para bater em mim e na
mamãe. Mas o Sr. Dexter não é assim, ele não é maldoso igual o
papai. Ele nunca me bateu.
— Não devia ter se preocupado.
— Claro que sim, o senhor é o meu marido. E esposas se
preocupam com os seus maridos.
— Se preocupam? — Ele observa os meus olhos.
Eu desvio corada e com vergonha, apertando os meus dedos
suados.
— Sim. Eu devo lhe obedecer.
— Hum… É claro que deve — ele diz, soltando-me. — E
hoje, eu quero que saia para fazer compras no shopping com a sua
professora de etiquetas. Será como uma aula prática.
— Mas hoje é sábado, a Sra. Mirian não…
— Estou pagando muito bem essa mulher. Por isso, se
arrume que você já vai descer para esperá-la.
— O senhor não vai comigo? — Pergunto em sussurro,
vendo-o abrir os botões da sua camisa.
— Não, Kiara. Eu estou cansado e quero tomar um banho
para dormir.
— Mas eu tenho medo… eu nunca fui nesse negócio que
disse.
Ele respira fundo, impaciente.
— Você terá a sua professora e um segurança. Não há o que
temer. Agora vista-se bonita e vai conhecer a cidade.
Sr. Dexter me dá um último olhar advertido e dá a volta no
sofá, para ir em direção ao enorme banheiro da suíte.
Eu aperto os meus braços e obedeço a sua ordem.
Nas semanas seguintes, tudo se repete. Até chegar o dia da
conclusão do meu curso de boas maneiras. E também o dia de
irmos finalmente embora da capital. Não estava mais aguentando a
vida de acompanhar o Sr. Dexter em eventos chiques. Eu sempre
termino sozinha, ou com um monte de mulheres rindo de mim. Elas
nunca tentam ser as minhas amigas, ou pelo menos agradáveis.
Perto delas, eu me sinto um bicho sujo, feio e que não chega aos
seus pés. São tão bonitas.
— O senhor viu o meu diploma?
— Vi. E quero que pare de me chamar de senhor.
Estamos no carro, seguindo estrada para a fazenda Dexter.
E após as suas palavras duras, eu o abaixo o papel rosa,
desfazendo o sorriso e assentindo com a cabeça.
— Desculpa… é que eu não consigo evitar.
— Pois evite. Já disse que não é para ninguém saber a forma
que você se tornou a minha mulher. Qualquer fala desperta a
curiosidade dos jornalistas.
— Eu obedeço ao senhor, por isso eu… eu chamo você
assim.
— Pelo menos controle isso diante das pessoas. É a minha
esposa, a Sra. Dexter.
Volto a assentir e a descansar a cabeça no banco para ver a
vista dos montes e dos vastos campos verdes pela janela.
— E estou orgulhoso de você.
Depois de dez minutos em meio ao silêncio brusco, ele fala
doce comigo.
Sem acreditar no que disse, eu viro a cabeça, observando
como o Sr. Dexter é lindo com o seu chapéu negro, o seu rosto
sério, de barba meio grande e os seus olhos acinzentados… que
dão medo..
— O senh… você está orgulhoso de mim?
Ele me encara demorado, em seguida, volta a sua atenção
para a estrada.
— Sim, Kia. Você mudou nesses últimos meses, desde que
nos casamos. Quando está no meio da sociedade não é mais
aquela menina do mato, sem etiqueta. Aprendeu a andar de saltos,
e a se vestir melhor.
— Obrigada. Eu ainda não sei usar as roupas curtas que
mandou comprar para mim, mesmo assim eu fico feliz por estar
orgulhoso. Sra. Mirian ficou de prova que eu me esforcei.
— Ela também fez um ótimo trabalho. As duas.
Meus olhos brilham emocionados, e eu sorrio toda boba, sem
parar de observar a sua beleza.
De volta a fazenda e um pouco mais segura da minha nova
pessoa, eu começo a interagir à vontade com a Felícia e a Maria, a
mãe do Gael. E falando nele, também tive o prazer de conhecê-lo
melhor. Vi que é um homem muito educado e respeitoso. É um
verdadeiro cavalheiro. Todas as vezes que nos encontramos, ele
pergunta se eu estou bem, se estou feliz e sendo bem tratada pelo
seu melhor amigo, o Sr. Dexter. Mas por medo de falar sobre mim e
o meu esposo, eu fujo sempre dessa conversa.
Ontem, os irmãos do Sr. Dexter chegaram na fazenda.
Santiago e Gabriel. Eles só me cumprimentaram e não se dirigiram
mais a mim. É como se fingissem que eu fosse invisível. No entanto,
eu não ligo. Eu tenho a Felícia e a Maria, as minhas amigas. Assim
eu não me envolvo nas conversas do meu marido com os seus
irmãos.
— Kia, o que está vestindo? O Sr. Anton não vai gostar disso.
— É que eu estou em casa. Não tem necessidade de eu ficar
com saltos e roupas chiques — digo, olhando para a minha blusona
velha, que é um vestido.
Com certeza, a Sra. Mirian me reprovaria se visse esse look.
— Onde arrumou isso? Eu lembro de ter jogado todas as
suas roupas fora.
— Desculpa… e-eu escondi essa… — coro, envergonhada.
— E não tem problema, Felícia. Eu estou em casa. Ninguém vai me
ver.
— Por favor, minha doce menina. Troque por um vestido
elegante. Os irmãos do Sr. Dexter estão na mansão e ele… ele… —
ela abre um pouco dos olhos. — Ele vai te repreender. Não é assim
que a nossa patroa tem que se portar.
Eu mordo o canto da unha, assentido arrependida. Não quero
que o Sr. Dexter brigue comigo. Ele tem um olhar assustador, que
me deixa com medo. E por isso, após concordar com a Felícia, eu
saio da área da piscina e corro para a sala, até que, perto da
escada, eu sou pega de surpresa por Santiago e Gabriel.
— Bom dia, Sra. Dexter. — Santiago sorri, olhando-me dos
pés à cabeça.
— Sra. Dexter… — Gabriel faz uma careta. — Não chega
aos pés da verdadeira.
Eu encolho os ombros, com vergonha deles serem bonitos e
estarem na minha frente.
— Não queremos atrapalhar a esposa do nosso poderoso
irmão… por favor, madame — assim que eles abrem caminho, eu
arregalo os olhos, dando de cara com o Sr. Dexter vindo até nós.
Ele para de andar em abrupto e olha-me de baixo em cima.
Então aperta a mandíbula e encara-me furioso.
Eu pisco sem parar.
— Suba, Kiara!
Engulo a saliva presa na garganta e quase tropeçando no
tapete, eu começo a andar com as pernas bambas. Subo os
degraus até chegar no topo, onde eu praticamente corro para o
quarto, com medo dele estar bravo comigo.
Eu não devia ter vestido a minha roupa preferida. A Felícia
tinha razão. Agora o senhor…
De repente, interrompendo os meus pensamentos
apavorados, o Sr. Dexter surge batendo a porta e vindo até mim.
— Você só pode estar querendo me tirar do controle, menina!
— Senhor… — eu choro, dando passos para trás.
— O que pensa estar usando?
Eu caio sentada na cama, com ele avançando para rasgar o
meu vestido.
— Vista-se como você foi ensinada!
Após ele me deixar só de sutiã e calcinha, eu abraço o meu
corpo, chorando e soluçando.
— D-desculpa. Eu achei que não tinha problema de ser quem
eu sou pelo menos em casa.
O Sr. Dexter abaixa os punhos e ergue o meu queixo,
percorrendo o seu dedo com força no meu pescoço e no meu
ombro.
— Nunca mais tente ser aquela garota que chegou na
mansão. É outra pessoa agora. Entendeu, Kiara? Use tudo o que te
comprei!
— S-sim.
— Tire as mãos — ele desce o seu toque bruto para o decote
dos meus pequenos seios.
Eu tiro, ainda muito nervosa.
— O senhor está com raiva de mim?
— Não, Kia. Eu não estou com raiva de você — murmura,
descendo as alças do meu sutiã.
— O-o senhor me quer?
Fico sem ar depois dele abrir o fecho da peça íntima e me
fazer tirá-la. Mas não tampo imediatamente os seios pela nudez e
pela vergonha. Sei que isso o deixaria mais bravo comigo. E não
quero ele bravo.
— Não faz ideia de como essa sua pele branquinha é
convidativa, querida… e esses pequenos lábios — ele aperta
doloroso a minha boca, alisando os meus beiços. — Poderiam me
dar muito prazer.
— Em beijo?
Sem responder, o Sr. Dexter coloca o dedão dentro da minha
boca.
— Chupe, Kiara.
Eu fico por um instante muito surpresa, com o seu dedo por
cima da minha língua molhada. E ele manda pela segunda vez eu
chupar. Então passo a ponta da língua, o envolvendo no calor da
minha boca e da saliva.
É estranho. Mas ele geme, deixando-me mais em choque ao
perceber que isso dá prazer a ele. Por quê?
— Ainda é cedo.
O Sr. Dexter retira o dedo e desliza para o meu pescoço, o
braço e por fim, os seios.
— Por que o dedo na minha boca? — Sussurro, arrepiada
pelo seu toque.
— Por quê?
— Sim…
— A resposta te assustaria, minha menina.
— O-o quê? —arqueio as costas, sendo empurrada para trás,
na enorme cama.
— O que poderia estar no lugar do meu dedo…
O Sr. Dexter despedaça a minha calcinha, tenta abrir as
minhas pernas… só que, com toda a força que eu consigo ter, eu
não deixo, morrendo de vergonha de ele me ver assim a luz do dia.
Feia...
— Não, por favor.
Ele não me ouve. E sendo mais forte, o Sr. Dexter inclina a
cabeça, abrindo bruto as minhas pernas e passando a língua onde
eu nunca imaginei que uma boca poderia estar.
E ela não deveria estar nesse lugar íntimo... não, não devia...
contudo... eu quero que continue no mesmo lugar.
Um ano… um ano de casados a gente faz hoje. E estou…
triste.
— Kia, minha doce menina, você não se levantou da cama
ainda? — A Felícia aparece no quarto, indo até as janelas abrir as
cortinas. — Desculpe-me, mas eu estou cansada de te ver
deprimida e presa dentro dessas paredes, lendo livros igual como
arroz e feijão. Levante-se, tome um banho que a senhora vai comer
do café na mesa.
— Com a Sra. Lorenza? — Resmungo, sem querer ver a
minha sogra. — Não, obrigada, Felícia.
— Gael vai te levar para andar a cavalo. Você não gosta?
— Eu amo, mas não sinto vontade no momento. Estou triste,
quero ficar aqui, longe da Sra. Lorenza e dessa enorme mansão.
— Você tem a nós, Kia. Eu, a Maria e o Gael.
— Eu sei, Felícia — ergo as costas da cabeceira, suspirando
cabisbaixa e emocionada. — E já amo muito vocês. Mas não é a
mesma coisa. Eu me sinto sozinha, solitária.
Felícia vem até mim, afagar a minha mão e vejo nos seus
olhos que ela quer me dizer muitas coisas, mas algo a impede.
— Ele está em luto ainda… tente completar esse vazio com
coisas que te façam bem. Como andar a cavalo com o Gael,
passear pelo campo, ajudar a Maria.
— Não… eu quero um filho.
De repente, a Felícia larga a minha mão e arregala os olhos.
— O quê? Um… um filho?
— Sim. Eu quero ser mãe. Quero ter um bebê.
— Kia, você fez 18 anos há dois dias. É nova, está na flor do
amadurecimento. Um filho pode… — Felícia então se afasta,
balançando a cabeça. — Não, eu não posso me meter. É casada,
maior de idade e deve conversar sobre isso com o seu esposo.
— Ele chega hoje. Tenho certeza de que o Sr. Dexter não vai
nos negar um filho. Eu vou cuidar, vou ser uma mãe cheia de amor.
— Você já é cheia de amor, doce Kia. Melhor que converse
com o patrão. E, por favor, levante-se e tome um banho que eu vou
te esperar lá embaixo para servir o café.
Eu assinto, jogando-me no travesseiro logo que ela fecha a
porta.
Um filho… talvez como nos livros, um bebezinho possa fazer
o Sr. Dexter me amar e ficar sempre comigo — eu sorrio,
imaginando como seria um fruto meu e dele.

Às 18h00, o Sr. Dexter volta da capital. Ele ficou três dias na


cidade, junto dos seus irmãos. Eu me arrumei bonita para ele me
querer, mas isso não aconteceu. Quando me viu, ele não disse
nada, não me deu nenhuma atenção. Tentei me controlar para não
chorar, só que depois do jantar, compreendi que ele estava doente.
Gripado.
— A Maria te preparou um chá… — digo baixinho, chegando
perto da poltrona dele, com a bandeja em mãos. — E biscoitos de
chocolate. Estão maravilhosos.
— Deixe aqui, por favor — ele aponta para a mesinha.
Após deixar, eu permaneço em pé, parada, olhando-o.
— O que foi, Kiara?
— O senhor já sentiu amor?
Ele abaixa o caderno que estava escrevendo e encara-me de
forma assustadora, causando-me tremores de medo.
— Isso não existe. Já falei para você parar de comparar a
vida dos seus livros de romance com a nossa.
— Eu não comparo…
— Não minta, é péssima nisso. Olhe para mim.
Eu olho, ruborizada.
— Está muito magra. Felícia me disse que não anda
comendo bem. Por quê?
— Estou triste.
— Não devia. Não lhe falta nada, Kiara. Tem do bom e do
melhor nesta mansão.
— Só que eu queria o meu marido ao meu lado, que não
viajasse tanto, que conversasse… beijasse-me.
Ele se cala e, mesmo envergonhada, eu continuo.
— Um beijo igual àquele que o senhor me deu no jardim, há
um ano. Hoje é o nosso aniversário de casamento.
O Sr. Dexter fecha o caderno e passa a mão no cabelo.
— Vem cá, Kiara — diz, apalpando o seu colo para eu sentar.
E eu vou bamba das pernas, acomodar-me sobre as suas
coxas grossas, sentindo o seu cheiro de perfume forte.
— Olhe para mim.
Eu o fito e ele toca no meu rosto, descendo a mão grossa
pelo meu pescoço, seios, cintura e coxas. Fico sem ar.
— Você é tão macia…
— O senhor não é — sussurro, ao tocar no seu braço forte.
— Tudo no senhor é duro.
Ele sorri, pegando os meus cabelos com força e aproximando
os seus lábios dos meus. Arrepio-me de novo. O Sr. Dexter
demonstra querer rasgar as minhas roupas e jogar-me bruto na
cama.
— Isso me deixou com muito tesão, querida. No entanto,
vamos por partes, darei primeiro o que me pediu.
Ele, então, avança na minha boca; rápido, cruel e faminto. O
mesmo beijo que me deu há um ano no jardim, com mordidas nos
lábios e com a língua se entrelaçando molhada na minha.
À medida que a nossa cabeça se move, o meu corpo treme,
pedindo mais, que ele não pare, que continue percorrendo também
os dedos nas minhas coxas... e entre as paredes dela... explorando-
me.
Após nos dar amor, eu assisto o Sr. Dexter se afastar, tirar o
preservativo e ir até o corredor do banheiro, que liga os closets.
Quando volta só de cueca, ele me encontra na cama, segurando o
lençol nos seios para tapar a nudez.
— O que foi, Kiara?
— Posso te fazer uma pergunta?
Ele assente.
Eu encolho os ombros.
— Se fizer amor comigo sem o preservativo, eu tenho um bebê?
— Vejo-o surpreendido. — Eu quero ter um — sussurro.
— O quê? — O Sr. Dexter me lança um olhar horrível, bárbaro.
— Você não… — ele suspira. — Esqueça isso, Kiara!
— O-o senhor não quer ter um bebê?
— Não, e repito: esqueça isso!
Ele dá as costas, indo bravo até o closet, vestir uma roupa
confortável e adiante, sair batendo a porta do quarto.
— P-por quê? — sussurro, encolhida na cama e triste com o
meu marido.

Nos meses seguintes, eu fico mais triste com a Lorenza e os


olhares esnobes dos irmãos do Sr. Dexter. Algumas vezes na
semana, o Gael me levou para andar a cavalo, outras vezes Maria
me convidou para aprender a cozinhar com ela… mesmo assim,
nada me animou. E hoje, ouvir o que eu ouvi sem querer na sala, do
Gabriel e do Samuel, acabou ainda mais com as minhas estruturas.
— Ela é uma selvagem. Jamais vai ser o que você deseja.
Não chega aos pés da nossa mãe.
— É tarde para eu me arrepender, não acham? — Sr. Dexter
ri, virando uma garrafa pequena de álcool.
— Também não chega aos pés daquelas nossas deusas
peitudas. Já estou ansioso para esse final de semana.
— Acho que não posso ir com vocês.
— Não me diga que a sua esposa te proibiu? — Gabriel
questiona e eles caem na risada.
— Não mesmo.
— Ela parece uma adolescente mirrada. Está puro osso,
deve ver isso, irmão…
Sem acreditar que estão dizendo de mim, eu abraço o meu
corpo pequeno, não querendo mais ficar aqui, ouvindo-os zombando
da minha aparência. E saio para o quarto, correndo e chorando
triste, magoada. Nem para jantar, eu desço mais. Fico encolhida na
poltrona, só com a luz amarela do abajur ligada. Aguardo-o subir,
mas o Sr. Dexter não aparece, ele me deixa sozinha de novo.
Na manhã seguinte de sexta, eu descubro pela Felícia que o
Anton vai viajar pela milésima vez para a capital, e com os seus
irmãos.
— Onde a selvagem vai? — Lorenza me para na sala,
chamando a minha atenção.
— No escritório do meu marido — sussurro, sem encará-la.
— Fazer o quê?
— Perguntar o porquê de ele sempre estar indo para a
capital.
Lorenza se senta no sofá, batendo no assento ao lado.
— Vem cá.
Eu continuo parada, assustada com o pedido dela.
— Eu não vou cortar nem um membro seu, sente-se aqui,
querida.
Respiro fundo e vou bem devagar, acomodar-me ao seu lado.
— Você não faz ideia do que o seu marido pode estar indo
fazer na cidade?
— N-não…
— Por favor, sua inocência me irrita. Você faz ideia sim.
— Ele diz que é para negócios, só que…
— Só quê?
— Quando ele volta na segunda de manhã, está com um
cheiro que não é dele.
Lorenza sorri.
— E? Ainda não desconfiou?
Eu arqueio a sobrancelha, sem compreendê-la.
— Você é uma pata choca mesmo. Não desconfia de que ele
esteja com outras mulheres?
Eu arregalo os olhos.
— Não! O Sr. Dexter não faria isso! — ergo-me do sofá,
acelerada dos batimentos. — Juramos fidelidade diante do juiz.
— Ah, é? — Lorenza continua a sorrir. — Não achou que ele
fosse ficar o resto da vida com uma coisa igual a você, né, minha
querida? Homens gostam de mulher, entende isso?
— Ele não é assim!
— Dexter é um homem bonito, poderoso, rico e que pode ter
quantas desejar. Pense, Kiara. Você já tem uma prova.
— Uma prova?
— O perfume diferente que sente nele todas as segundas,
pós-viagem. Acha que o perfume seria de quem? Óbvio que de
mulheres, não acha?
— Não!
Com o coração acelerado, eu viro as costas, ouvindo-a rir.
— Espere, querida selvagem.
Eu paro, em lágrimas.
— Ah, está chorando? Uma Sra. Dexter não chora, sabia
disso?
Sem desejar ouvir mais a Lorenza, eu saio para o jardim,
desta vez, chorando com dor, sem querer acreditar que o meu
marido não é fiel a esposa.
Deus, eu gosto tanto dele, queria o Sr. Dexter todos os dias
comigo, fazendo-me companhia, carinho e dando amor. M-mas...
mas ele não gosta de mim, porque eu sou uma menina feia e não
uma mulher bonita, como aquelas da capital.
Na volta de mais um final de semana ao lado dos seus
irmãos, e após pensar muito sobre o assunto, eu resolvi tentar tocar
de novo no meu desejo com ele.
— Onde esteve? — O Sr. Dexter chega perto de mim,
tocando nas minhas mãos.
Arrepio-me, trêmula.
— Na biblioteca…
— Capaz de já ter lido todos aqueles livros das prateleiras.
— Ainda não — fito-o nos olhos, corada das bochechas. — O
senhor não melhorou do resfriado?
— Eu estou bem. Não se preocupe.
Ele dá um beijo nas minhas mãos e vai se deitar com cara de
doente na cama. Está chovendo muito forte lá fora, os ventos
açoitam as janelas e os galhos das árvores. Ele chegou bem
molhado da cidade, deve ter pegado outra chuva gelada.
— Não gosta de estar doente… o senhor parece evitar tocar
na conversa.
Mais trêmula do que posso controlar, eu vou sentar na
beirada da cama.
— Não estou doente, Kiara.
Ele tira o relógio do pulso, negando a aceitar que sempre, em
dias frios e chuvosos, ele fica resfriado. Ainda mais quando pega
chuva.
Aproveito o silêncio entre nós para pedir o que tanto desejo.
— Posso ter um bebê?
O Sr. Dexter para bruscamente de tirar o relógio e ergue os
seus olhos rudes, furiosos contra mim. Eu fico encolhida, de cabeça
baixa.
— Não!
— P-por que sempre um não?
— Porque eu não quero! Agora deite nessa cama e durma!
Chega desse assunto!
Renego com a cabeça, triste.
— Por que me trata assim, Sr. Dexter? É mau… o senhor não
gosta de mim. É por que eu sou feia? — Não evito as lágrimas.
— Jamais, Kia, você não é feia — ele suspira, puxando-me
pelo braço e colocando-me entre as suas pernas. — E eu sempre
digo que não há motivos para essa tristeza boba.
— Mas eu fico…
— Pois não fique, sabe que nosso casamento aconteceu
porque eu quis comprar você.
— Não teve amor… — sussurro, olhando-o.
— E o que sabe sobre isso? Pare de viver os contos de fadas
dos seus livros. A vida real é essa que você está vendo e vivendo. E
você devia ficar é feliz com tudo o que tem. Ou preferiria continuar
naquela merda de vida, apanhando do seu pai e sendo escravizada
por ele?
— N-não — gaguejo com a voz embargada. — Estou… feliz.
O senhor não é como ele.
— Ótimo, você é feliz… — Ele alisa o meu braço. — E coma,
alimente-se. Eu te quero saudável, entendeu? Está muito magra.
Assinto.
— Quero ouvir da sua boca. Prometa-me.
— Prometo que vou me alimentar.
— Isso, Kia — Sr. Dexter me dá um beijo na testa, o que me
causa tremores e algo estranho no estômago. — Agora deite e
descanse.
Com o coração aquecido pelo seu carinho, eu o obedeço e
vou me deitar ao seu lado, só que eu fico na cama, acordada com
os meus pensamentos e a pouca luz da lua, que entra no quarto,
permitindo que eu admire os traços do meu marido bonito. Sinto
vontade de tocá-lo, de fazer carinho na sua barba. Mas, em vez
disso, eu só chego mais perto do seu corpo, fecho os olhos e
durmo.
Nas mais semanas que se passam, o Sr. Dexter continua a
viajar. Ele até me leva para a cidade algumas vezes, para
acompanhá-lo nos eventos, mesmo que me deixando de lado. E em
casa, passo os dias fugindo de me esbarrar com a Lorenza, o
Gabriel ou o Santiago. Minhas companhias são apenas a Felícia, a
Maria e o Gael. À noite, o Sr. Dexter conversa um pouquinho comigo
e dorme.
E nada muda… ou eu não estava pronta para aceitar a
mudança numa segunda-feira de manhã, ao abrir a caminhonete e
achar preservativos usados no chão do carro. Isso me feriu, assim
como as lembranças das palavras da Lorenza uma vez na sala,
sobre outras mulheres… sobre traição.
Sem acreditar, eu bato a porta do carro e saio andando pelo
jardim da frente, em lágrimas. Ele não pode ser tão maldoso. É por
isso que também vive saindo para tomar cerveja com os irmãos
depois da madeireira? Será que tem mulheres naquela vila para ele
desejar igual as da capital?
Não, não. Ele não pode fazer isso comigo.
Um trovão surge no céu e eu abraço o meu corpo, em
lágrimas.
Eu o amo, Meu Deus. Eu amo tanto que chega a doer na
alma.
Durante os meus dois anos de casa e como a Sra. Dexter, eu
vi pelo meu marido que os príncipes viram sapos ou, na verdade,
eles sempre foram sapos maquiados de príncipes. Ele não me ama,
não como eu o amo. Se me amasse, não era tão frio, rude e
bárbaro. Sempre que toco no assunto de ser mãe, de ter um bebê,
ele se enfurece, exclamando bruto o seu insistente não. Essa
semana, brigamos feio outra vez, até as empregadas ouviram.
Mas eu quero um filho, eu quero amar algo nosso. Não
aguento mais me sentir sozinha e abandonada. Pelo menos com um
bebê, eu posso ser importante para ele. Vou amá-lo mais do que
tudo nesse mundo. Além de que, o nosso filho preencheria o vazio
dessa mansão triste. Deus, por que o Anton odeia crianças? Por
que ele não se dá uma chance? Principalmente, uma chance de eu
me sentir feliz com algo?
— Que carinha é essa, Kia?
Gael me viu tomando chá sozinha no jardim e veio me fazer
companhia.
— Você sabe, Gael — dou de ombros. — Todos da mansão
sabem.
— Seu marido… — ele aperta a colherzinha ao mexer o
açúcar com rompante. — Também a sua sogra e os seus cunhados
insuportáveis.
— Eu já aceitei tudo isso — observo as íris azuis do Gael,
com tristeza. — Eu fui comprada para ser só a “Sra. Dexter”, esposa
do todo poderoso “Sr.Dexter”. É esse o meu destino.
— Um destino péssimo, viver sofrendo e maltratada.
— Sr. Dexter não me maltrata… ele…
— Ele “apenas” te magoa, te traí e não sente remorso. Ou
sente, eu não sei. Não reconheço mais o meu melhor amigo. Esse
Anton não é o mesmo de dois anos atrás. Não entendo, não
compreendo a sua falta de caráter.
— Um dia, ele pode mudar, não pode?
— Eu não posso te dizer. Só quero que você saiba, que eu
sempre estarei ao seu lado, entendeu, Kia?
— Eu sei. Obrigada, Gael, você é o meu melhor amigo e a
única pessoa que eu converso em segurança sobre o Anton.
— Um dia isso vai mudar, Kiara. Você vai ser feliz.
— E quando? Eu sinto que nunca vai mudar. Ele não me… —
eu suspiro. — Ele não me ama.
Gael acaricia a minha mão, sendo carinhoso e afetivo.
Eu queria que o Anton fosse igual a ele, um homem
engraçado, amigo, carinhoso e que me desse atenção porque
realmente gosta da minha companhia. E não aquele homem frio,
misterioso e que me magoa sem se importar com os meus
sentimentos.
— Está chegando do serviço?
Depois de voltar sozinha do jardim, eu encontro o Anton na
varanda, onde guarda todos os seus carros. Ele está sujo de pó de
serra, além de suado.
— Sim — ele tira o chapéu, sem sequer me olhar. Está
entretido com um caderno preto.
— O que anota nesse caderno?
— É as anotações do Gael, referente aos armazéns e as
distribuições.
— Hum…
Eu molho os lábios, observando-o tão bonito, alto, forte e
atraente.
Por que ele não pode ser um marido perfeito igual os dos
livros? Por que me faz tão infeliz?
— O que foi, Kiara? — Então ele ergue a cabeça, fitando-me
com os seus olhos acinzentados e sérios.
Eu engulo em seco, arrepiada.
— Nada, Anton…
Devagar, eu estou parando naturalmente de chamá-lo de Sr.
Dexter, isso a pedido dele desde que me trouxe para a mansão.
Jamais posso pronunciar o "senhor" perto de outras pessoas. Elas
não podem desconfiar que eu fui comprada.
— E-eu vou pedir para a Felícia mandar a Maria adiantar o
Jantar, deve estar faminto.
— Não, eu vou tomar um café e comer qualquer coisa — noto
pressa na sua fala, ao fechar o caderno, arrumar o chapéu e
caminhar na minha direção, só para passar ao meu lado.
Eu o sigo até entrarmos em casa.
— Vai sair? — O meu coração acelerou tão forte com a
pergunta que chegou a doer.
Imaginá-lo todas as noites com outras mulheres me doí, é
como levar um soco no estômago.
— Sim, eu vou na casa do delegado. Estou devendo essa
visita e não posso mais fugir — ele resmunga nervoso. — Vou tomar
banho.
— Tá… — é só o que eu sussurro, vendo-o subir os degraus
e sumir de vista.
E depois de ver o delegado, ele vai voltar para casa? Para…
mim?
“Não importa a dor que você tenha no coração, siga
acreditando e seu desejo se tornará realidade.”
Ao parar na fala do livro “Cinderela”, eu suspiro, querendo
acreditar que é verdade. Mas já estou cansada de acreditar em
fantasias… simplesmente cansada. Anton tem razão, eu devia parar
de ler esses contos de fadas. A realidade é outra, ela é mais dura,
triste e nada nunca vai se resolver com um “toque de magia”.
Eu levanto da cama, escovo os dentes, troco de roupa e
desço para tomar o café na segunda sala de chá, sem a companhia
dos irmãos do Dexter. Ele, como sempre, saiu cedo, antes da mesa
sequer estar pronta, e eu não ligo mais… sei que vai ser sempre
assim, ele não se importa, ele não me ama.
Anton diz que gosta de mim, porém, não é amor. Falo de
amor com ele, só que é como falar do meu desejo de ter um bebê,
ele detesta. Diz que já somos “felizes”. Mas como somos felizes?
Como, Meus Deus, se ele não quer ter uma família de verdade,
amar a sua esposa e ter um filho? Por mais que não toque mais no
assunto de eu ter sido comprada, isso não prova que ele está
mudando, nem tendo amor. Anton continua me traindo e
machucando-me.
Estou no limite….
Durante o dia, eu não faço nada, a não ser andar pela
fazenda, às vezes, ajudar a Felícia com as empregadas ou ficar na
cozinha, conversando com a nossa querida Maria.
Mas nada muda… é só isso.
Também não sei o que estou sentindo ou o que está
acontecendo, por mais que o sol esteja raiando entre as nuvens,
hoje o dia está nublado, estranho. Sinto-me triste, com o coração
apertado.
Não estou bem...
Ao anoitecer e depois do jantar, eu vou para o quarto ver se o
Anton vai sair. E tenho a confirmação. Hoje é sexta-feira, o seu dia
sagrado de sair com os irmãos. O dia em que eu durmo sozinha, em
meio ao escuro e a minha imaginação horrível, pensando nele com
outras mulheres, sendo tudo o que não é com a sua esposa, que,
por mais que fosse comprada, ele fez um voto ao assinar os papéis
diante do juiz, de cuidar e me respeitar pelo menos. Eu vi nos
nossos documentos de casados.
— Onde vai, Anton? — Pergunto com os olhos marejados.
Ele me encara de longe, enquanto arruma o colarinho da sua
camisa bonita. Desta vez, eu quero enfrentá-lo, falar tudo o que eu
estou sentindo. Quero dizer que estou farta.
— Eu vou sair.
— De novo? Eu já estou cansada disso, você não se importa
comigo? Você não me ama?
— Ei... eu só vou sair para tomar uma cerveja com os meus
irmãos e voltar antes mesmo que você perceba.
Antes mesmo que eu perceba? Eu sempre percebo… eu
sempre sofro.
Anton vem até mim e puxa-me pelo braço, mas eu o empurro.
— Mas eu percebo, eu sinto a sua falta. Você só quer saber
dos seus irmãos. É treino, depois da madeireira. É jogos às quintas,
é chope no sábado. É o que mais? Chifres na minha cabeça? Eu já
estou cansada. Eu vou ficar maluca — eu começo a chorar baixinho.
— Eu só queria ser feliz, casar, ter uma família linda, um marido
presente, amoroso. Ter o que eu não estou tendo!
— Kia... — Ele volta a me puxar e eu não o afasto, deixo que
ele me abrace e acaricie os meus cachos. — Não coloque coisas na
cabeça. Somos felizes.
De novo isso de felizes... nunca fomos ou somos.
— Como somos felizes? Como se não deseja nem ter um
bebê? Nem sequer passar períodos livres comigo, a sua mulher? —
sussurro decepcionada no seu peito.
A sua mulher comprada...
— Eu prometo mudar por você. Só não me cobre filhos outra
vez, estamos bem assim.
Não, é a segunda vez que ele promete isso e nunca muda. Já
estamos há três anos casados, e só nesses últimos meses que ele
começou a ser ao mínimo mais calmo e compreensível comigo.
— Você sabe que não estamos bem. Daqui três semanas,
comemoramos a terceira renovação dos nossos votos e aquelas
mulheres, esposas dos políticos virão e perguntarão as mesmas
coisas; não pensam em crianças? Em filhos lindos, correndo pela
casa?
Ele me solta, nervoso, passando as mãos pelo rosto.
— CHEGA, KIARA! CHEGA DESSA MERDA DE NOVO! EU
NÃO VOU TE DAR FILHOS! EU NÃO QUERO!
— QUER SABER, EU ESTOU CANSADA DE FICAR
SOZINHA, DE SER TRAÍDA POR VOCÊ! DE NÃO TER AMOR E
AFAGO! E SE EU NÃO POSSO SER AMADA, TER MEU MARIDO
COMPLETAMENTE AO MEU LADO, EU QUERO UM FILHO! ME
DEIXE SER MÃE?! ME DEIXE AMAR ALGO NOSSO?!
Ele chuta a escrivaninha e avança sobre mim, pegando-me
com força pelos braços e sacudindo-me.
— VOCÊ QUER A PORRA DESSE FILHO? VOCÊ QUER
UM FILHO PARA ME DEIXAR EM PAZ? — Ele me joga bruto sobre
a cama, subindo em cima do meu corpo. Eu tento me debater em
meio às lágrimas e aos gritos, pedindo que me largue, que não me
toque, mas ele não faz isso. — ENTÃO EU VOU TE DAR ESSA
MERDA DE UMA VEZ!
Ele não faz isso, meu Deus.
Eu choro, eu me esguelho em dor, chorando para que ele
pare, que não me machuque.
Isso não é amor… por favor, isso não é amor...
“Isso não é amor.”
Suas palavras não saem da minha mente.
— Porra, elas não saem!
Eu abandono o quarto e corro para o escritório, pensando
nela, na forma que a deixei jogada na cama. Entro na sala, tranco a
porta e paro por alguns minutos na frente da parede, com a mão
dobrada sobre o rosto, tremendo e suando frio.
As imagens não somem… a sua voz… as suas lágrimas.
Meu Deus, o que eu fiz?
O QUE EU FIZ?!
Eu aperto a gola da camisa, rasgando-a de cima para baixo,
em seguida eu avanço louco, derrubando tudo da mesa, das
estantes, dos aparadores. Soco as paredes, chuto os móveis,
enlouquecido de fúria, raiva e ódio contra mim mesmo.
Só que não passa! Isso não passa!
Então eu paro ofegante, sangrando os punhos e vou até a
outra estante de bebidas, abrir a garrafa mais forte da prateleira,
para sentar no chão e beber até isso no meu peito passar.
Vai passar, tudo vai sumir!

— Kia… — resmungo, abrindo bem devagar os olhos,


incomodado com a claridade das janelas fritando a minha vista.
Eu chuto a garrafa vazia ao meu lado, sentando direito no
chão.
E ela me volta... as imagens, a sua voz, as suas lágrimas.
— Kiara... Eu preciso vê-la, eu preciso ter certeza que… —
coloco a mão na testa. — Eu preciso ver a Kia!
Levanto-me tonto e bambo das pernas, andando com
desespero e o mais rápido que eu consigo. Passo pela sala, subo os
degraus, guiado pela adrenalina de vê-la. Até que eu chego no
nosso quarto, abro a porta e encontro a cama bagunçada, também
vazia.
— Kia? — chamo-a, fechando a porta.
Ela não responde.
Eu vou até o banheiro, os closets, a varanda e não a vejo,
não a encontro.
— KIARA! — Grito no meio do quarto, esperando alguma
resposta. Entretanto, a droga da resposta não vem.
Penso que ela está na biblioteca, o seu lugar preferido. Mas,
ao procurá-la, não estava. Assim como não estava em nenhum
outro quarto, nenhum outro cômodo e em nenhum outro lugar que
eu procurei!
Berrei pela Felícia na ala das empregadas e ela apareceu na
sala, ainda com trajes de dormir. Desesperado, eu ordenei que ela
mandasse todas as funcionárias procurarem a Kiara pela mansão.
— A-a Kia? Sr. Dexter, por quê? Ela...
— ANDA, FELÍCIA! PROCURE PELA KIARA! — Eu berro,
chutando o abajur do canto do sofá e o espatifando em mil pedaços.
Assustada, a Felícia some da minha frente, indo fazer ligeira
o que a ordenei.
Mas se passam minutos e nem ela, ninguém encontra a
minha mulher na mansão.
Não é possível! Ela só pode... não!
Eu fico maluco!
Eu saio correndo pelo jardim e pela estrada da frente,
gritando o seu nome cada vez mais desesperado.
— KIAAARAAA!
A minha ficha não cai, eu não aceito! Ela ainda está pela
fazenda! Ela tem que estar, eu preciso vê-la! Eu preciso ver a minha
mulher!
— KIAAAARAAAA! — A minha voz ecoa em berros pelos
troncos das árvores, enquanto eu corro e tropeço nas pedras
úmidas, com o peito aberto e a camisa rasgada.
Para a minha sorte, um peão aparece na estrada que leva até
a porteira. E eu também ordeno a ele, que avise aos capatazes, que
a minha esposa sumiu e que é para todos colocarem os homens
atrás dela, fora e dentro da fazenda.
— AGORA, IMEDIATAMENTE! ANDA!
— Sim, senhor!
Ele aperta as costelas do cavalo, empinando o animal e
saindo a galopes rápidos.
Eu continuo a andar. Ando, chamando-a em berros pelo
nome e tendo a certeza de que estou caminhando pelo mesmo
caminho que ela, por mais que eu não aceite.
— Kia… — sussurro o seu nome, tonto com as imagens… a
sua voz.
“Isso não é amor…”
— KIAAARAAA! — Eu grito mais alto que a sua voz na minha
mente.
Você tem que estar por perto, você tem que estar...
— O patrão tem visita… — Felícia informa, após bater na
porta da sala e entrar devagar. — É o Sr. Isaque.
— Traga-o no meu escritório.
— Sim, senhor.
Dois minutos depois, quando Isaque aparece para
conversarmos, as notícias que me traz são as mesmas do que há
uma semana. Nem um rastro seu, nada!
— Estamos fazendo o possível, Dexter. Ela pode estar em
qualquer lugar. Ou até fora da cidade.
— Pois faça mais, porra! Não é um dos melhores detetives do
Brasil? Estou te pagando para encontrá-la! Agora some daqui!
Isaque respira fundo, levanta-se da cadeira e retira-se sem
me contestar
Eu bato na mesa, sem parar de pensar nela, na sua
inocência, nos perigos que pode estar enfrentando.
Se a Kia tivesse ido pelo menos para a casa do energúmeno
do seu pai aquela madrugada, mas não. Quando invadi o casarão
com os meus homens, ela não estava lá também. Ela não estava
em lugar nenhum.
Meu peito se aperta, ergo-me da cadeira, angustiado e com
os olhos ardendo.
Eu preciso te achar, Kia, eu preciso saber se está bem… eu
preciso de você…
Minha mente martela todas as noites, não só pelo meu pai,
mas também pela voz, as imagens dela. Estou enlouquecendo,
tenho sonhos com a Kia sozinha numa estrada de chão, com um
homem segurando os seus braços. E Kiara chora, berra, chamando-
me para socorrê-la, para ajudá-la. Eu corro, eu tento ajudá-la, eu
faço de tudo, mas quando eu chego perto deles, vejo-me no
homem, vejo os meus braços sobre a Kia, machucando-a.
Eu fecho os olhos… e deixo um risco de lágrima cortar a
face.
Ela não devia ter feito isso, eu não aceito que tenha fugido e
que esteja se escondendo de mim. Eu não posso ser desse jeito...
não posso.
Que droga, o que está acontecendo? Por que tinha que ser
assim, pai? Eu não sou como o senhor, você não me perdoaria, nem
sentiria orgulho do que me tornei. E eu sei que não devia ter feito o
que fiz aquela menina, a minha mulher, mas eu fiz e não sei como
mudar nada disso.
Eu não sei… eu não faço a mínima ideia!
E é tarde.

— O que está sentindo? — Dona Simone corre para me


socorrer perto do pé de manga. — Minha filha, diga alguma coisa!
— Estou zonza e enjoada.
— Meu Deus, você não vai aguentar os trabalhos brutais da
fazenda, deve voltar para a sua casa.
— Não, eu não posso voltar! — Tento me equilibrar, mas ela
me segura.
— Eu não te conheço, menina, mas conheço os sintomas de
gravidez e você está grávida!
Arregalo os olhos, negando a verdade com a cabeça.
— Não, e-eu não estou!
— Kia, você está sim! Eu tenho quatro filhos para te dar a
certeza disso.
— Não, dona Simone… — eu começo a chorar.
— É por isso que fugiu da sua casa? Seus pais não
aceitaram a gravidez?
Eu nego, em dor.
— Sou casada. Eu fugi do meu marido, ele era um homem
ruim, que só me machucava. E agora, grávida que eu não posso
voltar mesmo. Ele vai querer tirar a criança de mim.
— Ah, meu bem, que horror. Eu sinto muito por tudo isso. —
Ela acaricia o meu rosto. — Só que não pode mais ficar nessa
fazenda, não vai aguentar o trabalho pesado da lavoura, nem da
casa do Sr. Barão.
— E para onde eu vou? Eu tive a sorte de ser acolhida pela
senhora daqui.
— Enquanto não estava grávida. Agora nessa situação, ela
pode te escorraçar.
Eu coloco a mão na barriga, olhando para ela.
— O que farei? Eu quero ter o meu bebê, dona Simone. Eu
quero cuidar dele, ou dela.
— Irei te ajudar. Por isso, vamos segurar as pontas por mais
um mês, até o seu dinheiro comprar uma passagem de ônibus para
a cidade vizinha.
— A cidade vizinha?
— Eu tenho conhecidos por lá que podem te ajudar a ficar em
segurança e também, a te ajudarem durante o crescimento da
barriga. Prometo que não passará fome, nem frio. Além disso, não
se esforçará tanto num trabalho braçal. Mesmo que precise
trabalhar.
— Não sei como agradecê-la, aceito qualquer coisa para eu
conseguir ter o meu bebê — digo emocionada. — e ficar longe
daquele homem.
Qualquer coisa...

Fim...
1 – HOMEM DE VERDADE
2 – AMOR DE VERDADE
3 – COMPRADA SEM AMOR (SPIN-OFF)
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Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
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HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)

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