A Importância Da LP para o DIR.

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Profa. MSc.

Ângela Muniz

A importância da Língua Portuguesa e da redação como fonte de comunicação oral e


escrita

O escrever corretamente assume no campo do Direito valor maior do que em qualquer outro setor. O advogado
que arrazoa ou peticiona ou o juiz que sentencia ou despacha têm de empregar linguagem escorreita e técnica. A boa
linguagem é um dever do advogado para consigo mesmo.
O Direito é a profissão da palavra, e o operador do Direito, mais do que qualquer outro profissional, precisa
saber usá-la com conhecimento, tática e habilidade. Deve-se prestar muita atenção à principal ferramenta de trabalho,
que é a palavra escrita e falada, procurando transmitir melhor o pensamento com elegância, brevidade e clareza.
Nesse contexto surge a redação forense ou português jurídico. Mas o que têm a traduzir tais expressõesʔ
Os operadores do Direito são profissionais da comunicação que se valem, cotidianamente, de enunciados
comunicativos para levarem a cabo a exteriorização das normas jurídicas, como as decisões judiciais, os textos
doutrinários e as petições.
Nascimento (1992:XII) preconiza que “a linguagem é um meio de transmissão de ideias. Quanto melhor for o
meio, melhor será a transmissão. Em Direito, a transmissão terá que ser perfeita, a fim de alcançar seus altos
objetivos”.
Nesse diapasão, descontam as normas gramaticais, que servirão de lastro para a veiculação da mensagem
jurídica no dia a dia do operador do Direito. Portanto, não é inoportuno concluir que, se sobeja o domínio das classes
gramaticais, realça-se a precisão na linguagem jurídica.
Entretanto, tudo se apresentaria simples, se não convivêssemos com um idioma marcadamente complexo, cujo
desconhecimento atinge até aqueles que dele necessitam para exercerem seus misteres.
O operador do Direito vive do Direito e da Língua Portuguesa, primacialmente. Um erro em petição, sentença
ou acórdão tem o condão de retirar-lhe a pujança e a autoridade, além de espelhar a incapacidade do anunciante.
Ademais, há “efeitos colaterais” demasiado incômodo: o cliente, se perceber o erro, pode se questionar: “como é
possível o meu advogado não saber concordância verbal ou ortografia, se vive da arte de convencer outremʔ”. A
situação será, no mínimo, embaraçosa.
Há necessidade de o profissional dominar as questões afetas à Língua pátria, sanando dúvidas do vernáculo em
suas atividades diárias de escrita. Daí se falar no chamado português jurídico – expressão que pode criar uma falsa
ideia acerca de seu significado. É patente que a Língua Portuguesa é uma só: advogados, juízes, médicos, dentistas e
outros profissionais, todos eles falam o mesmo português. O que se denomina “português jurídico” é, então, a
aplicação das regras gramaticais aos recursos expressivos mais usuais no discurso jurídico. È a exteriorização jurídica
do sistema gramatical. Traduz-se no empréstimo das ferramentas gramaticais pelo Direito, que se incumbe de produzir
um objeto final: o português jurídico.
È imperioso que o operador do Direito, que se vale das ferramentas acima mencionadas, mantenha constante
preocupação em expressar as ideias com clareza e precisão, sem sacrificar o estilo solene que deve nortear a
linguagem forense. Para “enrolativa”, que vem de encontro à precisão necessária e à assimilação do argumento
exposto. A linguagem hermética e “centrípeta” só agrada ao remetente, não ao destinatário.
Com efeito, o culto à boa linguagem rareia no dia a dia do operador do Direito, quer se passe nos bancos
acadêmicos, quer se desenrole nos recantos profissionais. Têm-se encontrado, às escâncaras, narrativas pobres ou
rebarbativas em conteúdo.
Nessa esteira, preconiza o eminente gramático Cegalla (1999:12):
A função dos adjetivos é caracterizar os substantivos. Devem ser adequados e usados com
parcimônia. A adjetivação excessiva torna a frase chocha. Além de sóbria e precisa, a
adjetivação há de ser, no mesmo texto, diversificada. Para caracterizar um crime bárbaro,
por exemplo, não falam sinônimos para evitar a repetição do adjetivo : odioso, nefando,
execrável, hediondo, abominável, etc.
Portanto, é questão de urgência: devemos evitar a terminologia pernóstica utilizada em textos jurídicos,
procurando alcançar o conceito de precisão e objetividade na exposição do pensamento, que, necessariamente, passa
pelo paradigma de boa linguagem, cujos pilares conheceremos em breve, na presente obra. Aliás, o dito popular é
claro: “Quem muito fala, muito erra e muito enfada”.
Ademais, não se pode confundir a linguagem polida ou solene com expressões de subserviência, oriundas de
um anacronismo extemporâneo, tais como os termos ”suplicante” e “suplicado”. Tais vocábulos são resquícios de
vassalagem, vindo do tempo da Casa de Suplicação, já ultrapassado pela inexorabilidade dos séculos, mas não por
alguns profissionais menos avisados.
Como enfatiza Cândido Dinamarco, “o juiz é homem de seu tempo”, que exerce uma das mais nobres
atribuições conferidas às pessoas na sociedade organizada. Por seu turno, o advogado exercita nobre mister ao meio
social. Ambos, juiz e advogado – e outros operadores do Direito – não necessitam expressar-se com a utilização de
linguagem esotérica e retórica, quando não servil, sob pena de lhes servir o rótulo de “chatos”. Quem é o chatoʔ
Walter Winchell define com argúcia: “Chato: um sujeito que envolve uma ideia de dois minutos num palavreado de
duas horas”.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (dez. 1999, p.38), o meritíssimo Juiz de Direito José Renato
Nalini, então conselheiro da Escola Paulista da Magistratura, afirmou:
Se o português é essencial para qualquer carreira, em relação ao Direito ele é um
pressuposto. A única arma do bacharel é a linguagem. Do mau conhecimento ou da
inadequada utilização desse instrumento, poderão derivar vulnerações e mesmo o
perecimento de direitos alheios, como a liberdade, a honra e o patrimônio das pessoas.
Nadólskis, Marcondes e Toledo (1997:7) asseveram, no mesmo diapasão:
Todo cidadão deve zelar pelo vernáculo, mas o advogado é o grande profissional da palavra.
É a palavra que dá forma final a seu trabalho. Se ele não sabe usá-la com perícia, os
testemunhos, os documentos, o apoio legal, a bibliografia jurídica, as provas factuais não se
transformam em argumentos e não lhe permitem defender, acusar, contestar, exigir, exortar,
tergiversar, persuadir, convencer com eficiência. Seu sucesso na vida profissional é
diretamente proporcional a seu desempenho linguístico, a sua habilidade em manejar
palavras.
Sabe-se que o advogado despreparado possui vocabulário limitado. Desconhece o sentido das palavras e
raramente consulta o dicionário. Esse distanciamento do vernáculo é maléfico, porque o retira do “mundo das letras”,
alienando-o em um ambiente de “falso conhecimento” do léxico, o que é de todo condenável. É comum encontrar
operadores do Direito que opinam sobre regência de verbos, concordância de nomes, uso de crase e ortografia, sem
que se deem ao trabalho de se dedicar à penosa tarefa de assimilar as bases da gramática do idioma doméstico.
Encaixam-se, portanto, no perfil de ousados corretores que, no afã de corrigirem, extravasam, na verdade, um descaso
com a língua, ao contrário do que pensam exteriorizar: domínio do português. Não é por acaso que, segundo os árabes,
“nascemos com dois olhos, dois ouvidos, duas narinas e...uma boca”. É para ter mais cuidado no falar.
Em entrevista ao Jornal do Advogado (OAB), em 08 de junho de 2001, Miguel Reale, ao ser inquirido sobre
quais eram os pré-requisitos para o exercício da carreira de advogado, respondeu:
Em primeiro lugar, saber dizer o Direito. Nos concursos feitos para a Magistratura, para o
Ministério Público e assim por diante, a maior parte das reprovações são devidas à forma
como se escreve. Há uma falha absoluta na capacidade de expressão. Então, o primeiro
conselho que dou é aprender a Língua Portuguesa. Em segundo lugar, pensar o Direito como
uma ciência que envolve a responsabilidade do advogado por aquilo que diz e defende. Em
terceiro lugar, vem o preparo adequado, o conhecimento técnico da matéria.
Nesse passo, Nascimento (1992:248-249) relembra com precisão que “embasando as qualidade da linguagem
do Direito está a Gramática, lato sensu. Não há advogado sem gramática, visto como a intelecção, ou a interpretação
de leis, sentenças, acórdãos, contratos, escrituras e testamentos se reduz à análise do texto à luz da gramática.”
Como se nota, o desconhecimento do vernáculo torna o advogado um frágil defensor de interesses alheios, não
sendo capaz de convencer sobre o que arrazoa, nem postular adequadamente o que intencionou. Pode até mesmo se
ver privado de prosseguir na lide, caso elabore uma petição inicial ininteligível ou em dissonância das normas cultas
da Língua Portuguesa, uma vez que o Código de Processo Civil, no art. 156, obriga o uso do vernáculo em todos os
atos e termos do processo. Desse modo, o aplicador do Direito deve atrelar à linguagem jurídica um razoável
conhecimento das normas de rigor do nosso léxico, a fim de que logre se destacar na arte de convencer outrem – ofício
primacial do causídico.
Por meio de uma linguagem jurídica breve, clara e precisa, o operador do Direito reúne atributos à formação da
elegantia júris, como denomina Jhering, ou beleza funcional (ou estética funcional). A dificuldade a ser suplantada
pelo causídico em seu eminente trabalho diuturno é conciliar a brevidade com a clareza, alcançando-se o conceito da
elegantia júris.
Sabbag Eduardo.

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