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A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

DE PROTEÇÃO ÀS MULHERES

Djessica Cardoso1, Katiussa Richter1, Giovana Regina Gubiani1,


Caroline de Souza1, Tiago Anderson Brutti2

Palavras-chave: Legislação. Mulheres. Violência Doméstica.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com a Constituição Federal de 1988 e a Lei Maria da Penha, os direitos das mulheres
foram resguardados e protegidos, mas nem sempre foi assim. A evolução destes direitos ocorreu
de forma extremamente lenta. A sociedade, machista, patriarcal e acostumada a normalizar a
violência contra as mulheres, relutou em reconhecer os direitos das mulheres. Com o presente
trabalho, busca-se fazer uma análise da evolução desses direitos no Brasil, desde tempos antigos,
até os dias atuais.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho se fundamenta em pesquisas bibliográficas e documentais. A investigação se
insere no âmbito da área do conhecimento “Ciências Sociais e Humanidades”, do curso de Direito
da Universidade de Cruz Alta, uma vez que aborda a evolução do direito das mulheres no Brasil.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
É inegável que a legislação brasileira evoluiu drasticamente com relação à proteção dos
direitos das mulheres. Toda essa evolução é fruto de muita luta para quebrar barreiras e
paradigmas criados há muito tempo e que, além de impor limites à mulher, também a ofendia,
feria e matava.
As legislações antigas demonstram nitidamente a desigualdade entre homens e mulheres.
Na Constituição de 1824, de acordo com Marinela (2016, n.p.), nem se cogitava a participação da
mulher na sociedade. Na Constituição da República de 1889, a mulher só foi lembrada quanto à
filiação ilegítima, demonstrando total desprezo com relação ao sexo feminino.

1 Discente do curso de Direito da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil.
2 Docente da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: tbrutti@unicruz.edu.br

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Em 1890 foi promulgada a lei sobre o casamento civil, estabelecendo que os efeitos do
casamento fossem investir o marido do direito de fixar o domicílio da família, de autorizar a
profissão da mulher e dirigir a educação dos filhos.
Entretanto, no século XX, as mulheres despertaram e constataram o modo desumano em
que viviam e, a partir disso, começaram a lutaram para ter voz e tomar espaço na sociedade. A
caminhada foi árdua, pois, mesmo com muita luta, o Código Civil de 1916 estabeleceu ao marido
a função de chefe da sociedade conjugal. Estabeleceu também que a mulher casada era
relativamente incapaz aos atos da vida civil, sendo permitido ao marido anular as ações da esposa
quando não estivessem de acordo com sua vontade. Ou seja, conquistas seguidas de derrotas.
No ano de 1932, finalmente, as mulheres obtiveram direito ao voto. Após, na Constituição
Federal de 1934, segundo Marinela (2016, n.p.), “[...] após mais de cem anos de
constitucionalismo homem e mulher são colocados em pé de igualdade na definição de cidadania
no texto constitucional de 1934.”
Em 1940, o Código Penal tipificou o crime de estupro, entretanto, este só se caracterizava
quando praticado contra “mulher honesta”. Ocorre que o estuprador poderia solicitar a extinção
da sua punibilidade caso se casasse com a mulher estuprada. Portanto, o bem protegido não era a
mulher, e sim os costumes e a moral da época.
De acordo com Bezerra (2016, n.p.), na década de 1950, a Organização das Nações
Unidas (ONU), sensibilizou-se com a violência doméstica sofrida pelas mulheres e criou a
Comissão de Status da Mulher que, entre os anos de 1949 e 1962, formulou uma série de tratados
baseados em provisões da Carta das Nações Unidas. Nesses tratados, foram afirmados
expressamente os direitos igualitários entre homens e mulheres.
Na década de 1960, o livro “O segundo sexo”, de Beauvoir, influenciou muitos
movimentos feministas, uma vez que evidenciou que a sobreposição do homem com relação à
mulher era uma construção social e não uma questão biológica. Segundo Pinafi (2007, n.p.),
questionando a construção social da diferença entre os sexos, as feministas criaram o conceito de
gênero, questionando o binômio dominação-exploração construído ao longo dos anos.
Em 1979, foi criado um dos principais documentos internacionais que visam a proteção
dos direitos das mulheres: a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. No Brasil,
foi incorporada pelo Decreto Legislativo nº 93, de 14 de novembro de 1983 e promulgada pelo
decreto n.º 89.406, de 1º de fevereiro de 1984, apresentando uma série de dispositivos tutelares
das mulheres à participação na vítima pública e política do país.

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Ademais, os movimentos feministas eram vistos como responsáveis pela destruição do
conceito de família tradicional. No entanto, com seu crescimento no Brasil, surgiu, em 1981, no
Rio de Janeiro, o “SOS Mulher”. Segundo Pinafi (2007, n.p.), o objetivo era construir um espaço
de atendimento às mulheres vítimas de violência, além de ser um espaço de reflexão e promoção
de mudanças nas condições de vida das mulheres atendidas. Esse movimento foi adotado também
por outras capitais, como São Paulo e Porto Alegre.
Segundo Santos (2011, n.p.), a intensa e exitosa politização da temática da violência
contra a mulher, promovida pelo SOS Mulher e, também, pelo movimento de mulheres em geral,
fez com que fosse criado o Conselho Estadual da Condição Feminina, em São Paulo. Este
Conselho propunha a formulação de políticas públicas que promovessem o atendimento integral
às vítimas de violência, abrangendo as áreas de segurança pública e assistências social e
psicológica.
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a Constituição Federal, inaugurando um novo
capítulo na luta das mulheres. Nas palavras do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (2006,
p. 14), “[...] a Constituição acolheu a ampla maioria das demandas dos movimentos de mulheres e
é uma das mais avançadas no mundo”. Ela prevê a igualdade e a justiça como valores principais,
assim como a igualdade jurídica entre homens e mulheres.
Por fim, na data de 07 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha), entrando em vigor em 22 de setembro de 2006. Essa lei foi um marco e um grande
avanço na legislação de proteção às mulheres.
Embora a Constituição Federal e a Lei Maria da Penha sejam muito importantes para a
luta das mulheres, a mera positivação não é suficiente para a erradicação da discriminação e
violência contra as mulheres. O Centro Feminista de Estudos e Assessoria (2006, n.p.) refere:

Entretanto, é sabido que o texto da lei não é suficiente para a garantia do exercício
da cidadania, principalmente para os segmentos mais discriminados da população.
Em alguns casos, os conflitos decorrentes das disparidades de interesses e
necessidades que permeiam as relações sociais impedem, de diferentes maneiras, a
efetivação do acesso aos direitos universais. Assim, o conhecimento da legislação
vigente constitui um primeiro passo para a definição de estratégias políticas
orientadas para o enfrentamento e superação das desigualdades que marcam as
relações de gênero.

Dessa forma, apesar da positivação dos direitos das mulheres e da proteção às mesmas, e
da grandiosidade das leis brasileiras, se faz necessária a criação de estratégias para a
aplicabilidade destas leis, fazendo com que as mesmas sejam aplicadas da forma em que foram
previstas.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho, estudou-se que a legislação brasileira de proteção às mulheres
caminhou a passos lentos, permeando caminhos sinuosos até as legislações atuais: a Constituição
Federal e a Lei Maria da Penha. Enquanto a primeira estabelece e determina uma relação de
igualdade entre homens e mulheres, a segunda disciplina uma série de condutas tipificadas como
crimes e passíveis de punição penal. Também analisou-se que é inegável que o patriarcado e o
machismo estão enraizados na sociedade como um fato “normal”, cabendo à sociedade como um
todo lute para combater esse fenômeno social para que, um dia, seja erradicado da sociedade,
exigindo a total aplicabilidade prática dos tipos penais criados para a proteção das mulheres.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Virgínia de Fátima Marques. O olhar jurídico feminino sobre a violência de


gênero. Revista dos Tribunais [recurso eletrônico], São Paulo, n. 971, set. 2016. Disponível
em:<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli
_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RTrib_n.971.02.PDF>. Acesso em: 08 set.
2022.

CENTRO FEMINISTA DE ESTUDOS E ASSESSORIA (Cfemea). Os direitos das mulheres na


legislação brasileira pósconstituinte / Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea),
Almira Rodrigues (Org.), Iáris Cortês (Org.). Brasília: Letras Livres, 2006.

MARINELA, Fernanda. A evolução dos direitos das mulheres. 2016. LFG. Disponível em:
https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/a-evolucao-dos-direitos-das-
mulheres#:~:text=Em%201894%20foi%20promulgado%20em,torna%20direito%20nacional%20
em%201932. Acesso em: 08 set. 2022

PINAFI, Tania. Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na


contemporaneidade. 2007. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Disponível em:
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia03/. Acesso
em: 08 set. 2022.
SANTOS, C. M. Delegacias da Mulher em São Paulo: percursos e percalços. Disponível
em: https://www.social.org.br/relatorio2001/relatorio023.htm. Acesso em: 08 set. 2022.

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