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Abstract
The paper presents partial results of research in doctoral course on the historical process
of inclusion of a gender perspective, focused on fighting domestic violence against women in
public policies in Rio de Janeiro, from the deployment of the first DEAM in the State until the
promulgation of Law Maria da Penha (1986-2006).
It was assumed that the inclusion of this perspective in public policies at state level was
the result of the action of the feminist movement. Therefore, established public policies
consisted of public power state responses to the pressures of the feminist movement. From
this perspective, species regulations dealing with the subject in focus, in particular the
Common Law will be emphasized.
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Doutoranda do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
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Keywords: Public Policy, domestic violence against women, feminist movement.
Introdução
A Constituição Federal Brasileira, promulgada em 1988, nos arts. 5.º e 226, §§ 5.º e 8.º,
estabeleceu a igualdade entre homens e mulheres, em direitos e obrigações. Atribuiu ao
Estado o dever de criar mecanismos para coibir a violência na esfera familiar e proteger cada
um de seus membros. A referida Constituição transformou-se num marco jurídico-político da
institucionalização dos direitos humanos no país, assim como rompeu com a
institucionalização do poder patriarcal.
Esse marco é fruto do processo de articulação e mobilização do movimento feminista e
de mulheres no contexto brasileiro, desde a década de 1970. Tratando, especificamente, da
violência contra a mulher, o movimento feminista colocou essa questão em destaque, em
1980, no II Congresso da Mulher Paulista.
Nesses últimos trinta anos, tanto no contexto internacional, quanto brasileiro, no âmbito
acadêmico e na esfera das políticas públicas, um intenso debate tem sido realizado com o
intuito de estabelecer políticas públicas com recorte de gênero. Nesse debate, um dos temas
centrais diz respeito à violência doméstica contra a mulher.
Em 1986, ocorreu o VIII Encontro Nacional Feminista, realizado no Rio de Janeiro, com
a participação de mais de 530 mulheres inscritas de todos os estados com exceção do Mato
Grosso do Sul e Piauí, ao longo dos quatro dias do evento. Nesse Encontro, vale destaque
para a realização de um levantamento, segundo a ordem de preferência pelas participantes,
sobre o que as preocupavam em relação à situação da mulher no Brasil. Nesse levantamento, a
temática da violência contra a mulher foi eleita a primeira preocupação das participantes sobre
a situação da mulher no Brasil, seguida de temas historicamente incorporados na agenda de
lutas do movimento feminista, dentre os quais: a discriminação do trabalho; a reprodução e
planejamento familiar; e, aborto que obteve a quarta preocupação.
Além desse processo, dois atos de violência cometidos contra a mulher por seus
parceiros íntimos, que tiveram repercussão nacional, constituíram papel importante para que a
temática da violência doméstica contra a mulher, no conjunto da sociedade brasileira e, em
especial, no movimento feminista, ganhasse visibilidade e rompesse com o estigma de que a
violência é um fenômeno social que acontece, somente, com mulheres pobres, negras e com
baixa escolaridade e, praticada, também, por homens pobres, negros, com baixa escolaridade
e que reside na periferia dos centros urbanos.
O primeiro ocorreu em São Paulo, quando um professor universitário, de classe média
alta, branco, com prestígio no âmbito acadêmico espancou sua mulher. Essa mulher rompeu a
barreira do silêncio e, através de carta, denunciou a agressão sofrida por seu marido. Já a
segunda violência aconteceu em Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro quando o milionário,
Doca Street assassinou sua companheira, Ângela Diniz, em 30 de dezembro de 1976. O
empenho das feministas cariocas, pressionando a justiça e mobilizando a sociedade resultou
na condenação do assassino. Esse fato representou um novo passo na luta contra a violência.
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Nessas eleições de 1982, para governadores, o movimento feminista e de mulheres
apresentaram reivindicações aos programas dos candidatos, dentre as quais, reivindicações
relativas à temática da violência contra a mulher, como por exemplo, a criação das Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher – DEAM’s. Em São Paulo, o então governador
Franco Montoro criou, por decreto, o primeiro serviço especializado no atendimento à mulher,
qual seja: a Delegacia Policial de Defesa da Mulher, em 1985. No ano seguinte, o governador
do estado do Rio de Janeiro, Moreira Franco, cria a primeira Delegacia Especializada no
Atendimento à Mulher (DEAM) do Estado, porém somente em 1988 foi sancionada a Lei que
dispõe sobre a criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher no Estado.
Tomando a formulação das políticas públicas com recorte de gênero com foco na
violência contra a mulher, como objetivo, torna-se importante colocar em primeiro plano a
legislação estadual concernente a essa temática. O artigo 59 da Constituição Federal de 1988
conceitua o processo legislativo1 como sendo o concernente à elaboração das espécies
normativas, dentre outras: leis complementares, leis ordinárias, decretos legislativos e
resoluções.
Realizamos um primeiro levantamento das espécies normativas na Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) que tratam diretamente da temática da
violência contra a mulher e que tiveram desdobramentos, através da criação de serviços
especializados no atendimento à mulher2 e, as leis que dizem respeito aos organismos
institucionais, de âmbito governamental, que executam, monitoram e/ou fiscalizam as
políticas públicas de enfrentamento da violência contra a mulher no Estado, assim sendo,
identificamos: 12 leis ordinárias, uma lei complementar, oito decretos e três resoluções a
partir de 1986 até 2006.
Para fins do presente artigo, abordaremos as Leis Ordinárias do Estado do Rio de
Janeiro que tratam da criação de serviços especializados no atendimento à mulher em situação
1
Sobre o processo legislativo cf.: AVELAR, Matheus Rocha. Manual de Direito Constitucional. Curitiba: Juruá,
2004, ou SOUZA, Nelson Oscar de. Manual de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
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São considerados Serviços Especializados de Atendimento à Mulher: Centros de Referência, Casas Abrigo,
DEAMs, Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Varas Adaptadas e Defensorias Públicas,
segundo o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.
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de violência doméstica, quais sejam: a lei 1340/88 que dispõe sobre a criação das DEAMs, de
autoria do Poder Executivo, do então governador W. Moreira Franco; a lei 2449/95, de autoria
da deputada Rose Souza (PT), que trata da criação e manutenção de abrigos para acolhimento
provisório de mulheres de violência específica e seus dependentes; e, a lei 2899/98, de autoria
da deputada Alice Tamborindeguy (PSDB), que cria Centros de Referências da Mulher, visto
que, se de um lado, a criação das DEAMs constituiu-se marco para a visibilidade da violência
contra a mulher, de outro, com o surgimento das Casas Abrigo e dos Centros de Referência
ampliou-se as possibilidades de intervenção.
A Lei 1340/88, foi a primeira que abordou de forma específica sobre a temática da
violência doméstica contra a mulher. Além disso, cabe ressaltar que, ao apresentar o projeto
de Lei à ALERJ, o governador Moreira Franco, na justificativa enfatizou que as DEAMs eram
reivindicação antiga de importantes setores da sociedade, assim como destacou a participação
de várias instituições ligadas organicamente ao movimento feminista e de mulheres no estado
do Rio de Janeiro.
As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) constituem antiga
reivindicação de importantes setores da sociedade, que tiveram participação efetiva
na elaboração do projeto, através de uma Comissão constituída por representantes
do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher, Ministério Públco,
Defensoria Pública, Departamento Feminino da OAB/RJ, Gabinete da Deputada
Lúcia Arruda e da Secretaria de Estado de Polícia Civil. (FRANCO, 1988.
Mensagem n.º 49)
Além disso, determina as linhas mestras de uma política de prevenção e atenção para o
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher; define as formas de
violência; assim como, prevê a criação dos serviços especializados de atendimento à mulher
em situação de violência doméstica.
Considerações Finais
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALMEIDA, Suely S. (Org.) Violência de gênero e políticas públicas. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ, 2007.
AVELAR, Matheus Rocha. Manual de Direito Constitucional. Curitiba: Juruá, 2004.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. II
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília. 2008.
CONFERÊNCIA MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS. Viena. Junho de 1993.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988.
CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher. 1994.
FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e políticas públicas. Rev. Estud. Fem., jan/abr. 2004,
vol. 12, n.º 1 p. 47 – 71.
FRANCO, W. Moreira. Mensagem do Executivo n.º 49 de 11 de agosto de 1988. Arquivo da
Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
_____. Lei Maria da Penha. Lei n.º 11.340 – Coíbe a violência doméstica e familiar contra a
mulher. Brasília. 2006
TELES, M.ª Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. Coleção Tudo é
História. S.P.: Ed. Brasiliense, 1993.