Você está na página 1de 4

1º Ano | 1º Semestre/ 2024 | TP01– Vocação e Espiritualidade

Profº: Rev. André Viana | Aluno: Silas Stempcoski

VOCAÇÃO PERIGOSA (resenha)


O autor deste livro e de outras obras da literatura cristã é o pastor estadunidense, de 73
anos de idade, Paul D. Tripp; o qual é casado há 53 anos com L. Jackson e vive na Filadélfia.
No primeiro capítulo de seu livro, Tripp enfatiza que, dentre os diversos tipos de livros
que existem, tais como explicativos e encorajadores, denomina a sua obra como um “livro
diagnóstico“, pois seu propósito é gerar uma reflexão sobre a vida cristã do leitor à luz da
Escritura Sagrada; assim como ele mesmo expressou: “[...] considerei este o mais difícil de
escrever, não por causa do processo de escrita em si, mas porque suas páginas expõem a feiura
do meu próprio coração e mostram quão desesperadora a minha necessidade de graça continua
sendo“ (TRIPP, P. 2013, p.9)1.
Pensar sobre o testemunho extraordinário de como Deus quebrantou o coração de um
pastor irado para revitalizar seu casamento e ministério, imediatamente me remeteu a uma cena
específica do filme As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada (Walden Media.
2010)2: a conversão de Eustáquio. Isso porque a alma doente, quando exposta à Verdade pelo
Santo Espírito, sofre profundamente pela vergonha e a dor... mas o processo é gloriosamente
renovador e vivificante, a fim de sensibilizar a nova criatura para a vontade de Deus e a da
realidade do quão amada ela é, a ponto de amar.
Através da sabedoria do alto, o pregador compreende que sua identidade é derivada de
Jesus, não sendo determinada pela “coincidência de circunstâncias". Da mesma forma, sua
maturidade é desenvolvida pela perseverança na fé durante as provações, e não pela sua
qualificação acadêmica em teologia. Sendo assim, o ministro agora pode reconhecer, diariamente,
que o sucesso do seu ministério provém totalmente de sua dependência da Graça de Seu
Resgatador.

1
Tripp, P. Vocação perigosa. São Paulo: Editora Fiel, 2013.¹
2
Walden Media (Produtor). (2010). As Crônicas de Nárnia: O Peregrino da Alvorada [Filme].
Estados Unidos: Fox 2000 Pictures.
No segundo capítulo, o autor procura alinhar as expectativas do leitor sobre a realidade
ministerial, a fim de que esse possa entender um pouco mais sobre os desafios de um pastor.
Tripp se manifesta preocupado com a espiritualidade e a vida particular dos ministros de Deus e
visa ajudá-los, mediante encontros periódicos de aconselhamento no ano, a manterem os seus
olhos fitos em Jesus, para que sejam disciplinados pela Palavra e amadureçam na fé.
Uma qualidade da vocação de Tripp é o anseio de exortar o coração orgulhoso de pastores
que se imaginam auto suficientes, a fim de que tenham entendimento pelo Espírito Santo e
possam viver no poder do Evangelho; pois cansou de ouvir as mesmas declarações sobre
exaustão e problemas familiares de relacionamento.
Após o autor ser surpreendido com a chegada de múltiplos pastores abatidos e
desnorteados clamando por orientação, durante as suas conferências sobre os perigos da vocação
ministerial, ele toma a decisão de ajudá-los a não se perderem da estrada que percorrem.
Segundo as percepções apontadas de Tripp, muitos pastores não estão sensibilizados com
a realidade que os cercam, não procuram a direção do Espírito Santo pela Palavra e afastam a
própria família por frustrações ministeriais; assim, enganam a si mesmos, pervertem o Evangelho
e suas vidas não geram frutos espirituais significativos, resultando apenas em palavras
desprovidas do poder do Alto. Em suma, eles trabalham para serem seus próprios salvadores.
O pecado nunca se revela mostrando a sua verdadeira aparência. Esta foi a reflexão do
autor sobre o quanto os pastores não aceitam críticas sobre os seus ministérios, confiando
somente em seus próprios entendimentos. Por não pregarem o Evangelho para si mesmos e não
receberem em seus corações a exortação de amigos e colegas de ministério, eles estão cegos para
a missão da Igreja e conduzem o povo de Deus às escuras; o que torna o trabalho amargurante,
infrutífero e pesado.
Tripp pontua que a consequência da inconsistência dos pregadores, dentro e fora do
ministério, é uma preocupação exacerbada com a glória dos homens. Em outras palavras, eles
buscam avançar na vocação pela própria força, não pela fé. Logo, fica a pergunta: estão fazendo o
que não foram chamados por Cristo a fazer, ou simplesmente estão tropeçando na corrida que
lhes foi proposta? O problema disso pode estar na cultura da Igreja local.
A respeito do terceiro capítulo, o autor destaca a relação da falta de poder espiritual com o
perigo do compromisso da piedade pessoal do pregador, não com o Reino de Deus e a sua justiça,
mas - somente - com a disciplina intelectual. Porque o obreiro do Senhor é mais do que um
professor de teologia, ele é vocacionado por Cristo a ser um embaixador do Reino dos céus na
terra e ao discipulado do Seu povo. Tais homens precisam analisar a si mesmos com a pergunta:
estou me preparando para ser pastor porque amo a Cristo e aos perdidos, ou conceitos teológicos?
Segundo Tripp, a questão acima é crucial para o obreiro de Deus, pois aborda a raiz de
problemas encontrados em relatos profundamente trágicos de diversos ministros que vivem numa
crise de identidade; como foi citado no capítulo anterior, estes sustentam uma vida pública que é
distinta de sua vida privada, o que faz ruir sua vida ministerial, conjugal e familiar, através de
uma progressão de tentativas frustradas de aliviarem-se das tensões diárias…com pecados ocultos
(majoritariamente na área sexual).
O autor testemunha que, apesar da maioria de seus alunos ter contato diário com a Bíblia,
eles agem de maneira jactanciosa. O pregador precisa não apenas lembrar-se da Palavra de Deus,
mas sim deleitar-se em Sua Presença de amor para aplicar a verdade ali presente. Como o próprio
Tripp disserta, a fé cristã não é uma fé acadêmica. O alvo do seminarista não pode ser confundido
com a perícia do Evangelho, mas sim em desfrutá-lo dia após dia.
Tripp comenta que a teologia não é um fim em si mesma, mas um meio para o fim; a
saber, adorar a Deus em espírito e em verdade. Por exemplo, uma exegese que não ressalta este
fato confunde a compreensão de seu propósito e abre espaço para o inimigo agir, como a
propagação de heresias e o surgimento de seitas. Afinal, o ministério do futuro pastor não será
marcado apenas pelo que sabe e pode fazer, mas sim pelo estado da sua alma.
Para o autor, nos últimos anos e em muitos casos, a classe de teologia passou de uma
escola de pastores experientes em igrejas locais com paixão em discipular novos pastores a fim
de glorificar a Cristo, para um departamento de especialização sem profundidade espiritual
formador de ministros politicamente bem sucedidos. Através do auxílio de professores
envolvidos com a missão de Deus no mundo, o seminário se torna um canal de bênção e
instrução ao vocacionado; a fim de que possa compreender mais do Senhor e de si mesmo.
Sobre o quarto capítulo, Tripp cita a procura de uma igreja específica por um novo pastor
titular, a fim de incentivar o leitor a refletir criticamente sobre os critérios utilizados por ela nesse
processo. O que destaca a importância de perceber que, muitas vezes, as igrejas convidam
homens para serem seus pastores sem antes conhecerem essencialmente os seus corações. Como
resultado - no exemplo do capítulo - aquela igreja acomodou-se com o fato de que ninguém era
convidado a visitá-lo, que os funcionários e líderes estavam cada vez mais sobrecarregados e que
os seminaristas ficaram desamparados, porque, ‘pelo menos’, as reuniões públicas iam bem.
Após 4 anos, numa reunião de conselho emergencial, na qual anunciou a sua saída,
revelou-se a raiz dos incômodos gerados pela administração daquele pastor: ao priorizar o
ministério daquela igreja em detrimento da família, o seu casamento deteriorou-se. Na tentativa
de salvá-lo, ele aceitou o convite da liderá-los. Os presbíteros não se empenharam em saber o que
ele amava ou em compreender melhor a sua situação familiar, tampouco demonstraram
preocupação em ajudá-lo quando os sinais de problemas já eram alarmantes.
Tripp disserta que o maior problema de muitas igrejas é o principal critério de escolha do
seu pastor, a saber, o conhecimento dele e não a sua espiritualidade. A reflexão não pode estar
sujeita ao desempenho, pois o ministério do obreiro deve ser guiado por sua adoração a Ele. Um
exemplo claro disso é o que sustentou Abraão até o cumprimento da promessa de Deus para ele: a
constante meditação no poder e no caráter divino. Como José e Moisés futuramente, Ele não
desanimou, pois lembrava todos os dias de Quem o chamou para a jornada que percorria.
O autor é enfático ao dizer que, para a obra do Senhor, o pregador tem a necessidade
diária de permanecer manso e humilde de coração. Muitos ministros pervertem os seus caminhos
ao relaxarem nas suas posições, exatamente como o sentinela que não vigia a fortaleza das ações
do inimigo. Portanto, o pregador não pode se dar ao luxo de proceder ingenuamente ou
irreverentemente na sua caminhada, porque há um leão que o rodeia e quer destruí-lo.
Pode-se concluir da reflexão dos capítulos citados da obra de Tripp, que a única forma do
pregador não tornar-se iracundo, jactancioso, vivendo uma vida pública distinta da vida privada e
mais preocupado com a teologia do que a comunhão com Deus para desenvolver um ministério
frutífero e fervoroso, é ter a alma refinada e renovada dia após dia pela intimidade com Jesus, o
Autor da fé e o Sustentador de sua vocação, que o ama profundamente.
O autor aborda assuntos de extrema urgência a partir da importância da transparência e a
irrepreensibilidade da vida pública e privada do obreiro de Deus na vocação pastoral, o qual
necessita crescer na Graça e no conhecimento de Cristo, para crescer e avançar no Reino do
Filho. Logo, especialmente pelo impacto da realidade das consequências da negligência da vida
devocional destacados, eu recomendo esta obra literária a todos os meus amigos do seminário.

Você também pode gostar