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Igreja Presbiteriana do Brasil

Junta de Educação Teológica


Seminário Presbiteriano do Norte
Disciplina: Vocação e Espiritualidade
Professor: Rev. Irineu da Silva Neto
Aluno: Christian Borges Ramos

Resenha crítica:
Vocação Perigosa

RECIFE
2021
Christian Borges Ramos

“Resenha crítica do livro: Vocação Perigosa”

Recife - Pe
Junho– 2021
TRIPP, Paul. Vocação perigosa.Tradução de Meire Portes Santos. São Paulo: Cultura Cristã,
2014

Dr Paul Tripp é formado em Bible and Christian Education pelo Columbia Bible
College (atual Columbia International University), recebeu seu M.Div do Reformed
Episcopal Seminary e seu D.Min em Aconselhamento Bíblico do Westminster Theological
Seminary. Além de pastor, escritor e palestrante, é presidente do Ministério Paul Tripp, em
que dedica seu tempo em projetos voltados para o aconselhamento e promoção da graça de
Deus para o dia-a-dia da vida cristã.
Em Vocação perigosa, Paul Tripp aborda os desafios do ministério sob uma
perspectiva prática e objetiva. O autor aborda o assunto da insalubre cultura pastoral, expondo
as tentações que são singulares do ministério. Com testemunhos da vida real e incisivas
exortações, Tripp traça um diagnóstico de nossa cultura, mostrando os perigos do
isolacionismo, da vaidade, e de pecados escondidos. Na segunda seção do livro trata da falta
de reverência em vários aspectos da vocação pastoral e na última seção o autor aborda a
síndrome de celebridade e seus danos para o ministério.
O capítulo um, inicia com um testemunho do próprio autor. Ele era um homem
iracundo que deixou-se definir pelo ministério e que confundia o seu sucesso com a
aprovação de Deus. Tripp havia se acostumado às incoerências entre o evangelho e a sua
vida. O isolacionismo e a arrogância o colocaram em um sistema de retroalimentação de
deficiências e de nutrição de pecados. O ciclo foi quebrado quando confrontado por seus
pecados. O que o autor levanta é que sua experiência não é singular, mas em suas viagens
pelo mundo, tem visto que esse cenário é frequente no ministério de muitos pastores.
Ao analisar essas circunstâncias ele aponta no capítulo dois vários sinais que indicam
que um pastor está perdendo o rumo. O autoengano e a falta de devoção levam o homem a
perceber cada vez menos o ministério como um privilégio e mais como um peso e a
consequência disso é que cada vez mais o hiato entre o particular e o privado promovem o
temor da exposição e a vocação começa a ser questionada.
Nesse sentido, desde a sua formação, os pastores são levados a definir a maturidade
pelo conhecer e não pelo ser. O grande perigo em que os seminaristas se encontram é o de
amar mais as ideias do que ao Deus que elas representam. O autor argumenta que pensando
assim estamos sujeitos à cegueira espiritual, à justiça própria, ao relacionamento
espiritualizado com a Palavra, à falta de necessidade do evangelho, à impaciência com o
próximo, à perspectiva errada do ministério, e à nenhuma comunhão com Cristo.
No capítulo quatro, Ted Trip ilustra que os seminários não são os únicos que
promovem essa cultura, mas as comissões de exames de candidato focam em conhecimentos,
habilidades e experiências e esquecem a questão do coração do ministro. Somente um homem
maravilhado por seu redentor resistirá aos sedutores ídolos do ministério. O que governa o
coração do homem o dirigirá em seu ministério.
Vemos no capítulo cinco e seis uma noção valiosa: Até o pastor mais influente é um
membro do corpo de Cristo e necessita do que os outros membros necessitam. Ninguém é
fortificado o bastante para viver a vida cristã sozinho, todos precisam do olhar do próximo
para enxergar a si mesmo com exatidão. Nesse sentido, o auto exame é também um projeto
comunitário e todo pastor precisa de pessoas em sua vida para se ver com precisão bíblica.
Nesse sentido, a cultura da igreja local deve ajudar o pastor a ser exemplo do poder
transformador de Cristo em sua vida.
No capítulo sete, Paul Trip demonstra que ao ingressar no ministério não estava
preparado para a batalha relacionada ao seu interior. Essa luta é normalmente negligenciada e
deixada de lado em meio ao ativismo do ministério. Uma Guerra singular ao próprio
ministério e intensificada por ele.
Na próxima seção, que trata a respeito da reverência e da consciência de quem Deus é,
o autor amparado no salmo 145 mostra que todo ser humano recebeu de Deus a condição
inata de viver para reverência, e que sem esta reverência a Igreja está fadada a sair dos trilhos.
Nessa perspectiva, o ministro não deve colocar sua confiança em estratégias, mas a reverência
a Deus coloca os dons ministeriais e a experiência em seu devido lugar.
No capítulo nove, o autor aborda que muitos pastores são motivados pelo medo. O “e
se” dirige o trabalho de muitos e os conduzem a um ministério debilitado por alvos não
realistas, por metas não conquistadas, por um senso de fracasso e por pavor aos resultados.
Desse modo, o ministro precisa reconhecer os seus erros e temores, como também pregar o
evangelho para sí próprio a fim de que a comunhão com Deus o conduza sem medo pelo
ministério.
No capítulo 10, é abordado a reverência aplicada ao padrão de serviço, em especial o
de pregação da Palavra. É preocupante como atualmente a Igreja está acostumada com um
padrão medíocre de pregação e nesse contexto como os ministros são tentados a proclamar
coisas gloriosas em um sermão preparado sábado à noite.
No último capítulo dessa seção sobre reverência, o Reverendo Paul Tripp, reflete sobre
a posição em que ocupa o ministro da Palavra. Muitos têm se deixado definir pelo cargo e
esquecem que se encontram em pleno processo de santificação. Nesse sentido, o sucesso
ministerial, a intelectualidade e até o reconhecimento são espelhos curvos pelos quais o pastor
não pode confiar.
Em contraste com a seção anterior, a partir do capítulo 12 Tripp trata da “síndrome de
celebridade”. A embriaguez com a glória própria é o primeiro desses aspectos. Por outro lado,
no capítulo 13 é abordado o perigo do comprometimento da devoção em função da constante
preparação para a pregação. A síndrome de celebridade sufoca a nossa fome pelo evangelho e
a alimentação desse mal conduz a uma vida dicotômica.
Nas últimas seções do livro o autor traça um perfil realista de si e de todos os
ministros demonstrando que todos vivem uma separação entre as vidas pública e privada.
Essa incoerência não é desclassificatória para o ministério, mas torna-se perigosa quando se
aprende a fazer a divisão funcionar. Por fim, o capítulo quinze conclui com a retomada de
alguns pontos principais e palavras de encorajamento.

Considerações:

O livro alcança o objetivo de traçar um diagnóstico da enferma cultura pastoral. O


autor demonstra com conhecimento de causa os males da solidão e do pecado não confessado.
De modo geral, as ilustrações com casos práticos da vida real e as incisivas exortações
conduzem o leitor a repensar na maneira como lidar com os pecados velados e a repensar o
modo auto exame que praticamos. O livro trata dos problemas da cultura pastoral com muito
tato e permite que o leitor consiga enxergar a consequência última de pecados não
abandonados, por isso é útil para pastores e líderes. Também trás exortações à igreja que por
ignorância, ou omissão rega uma cultura que ora é apática aos problemas do ministério e ora
coloca o ministro em uma posição de perfeição.
O autor é preciso em levantar o problema e em levantar as causas. A primeira causa
reside no esquecimento de quem Deus é. Na prática enxergamos essa conjuntura no abandono
da reverência a Deus. A outra causa que o autor levanta é a síndrome de celebridade que em
essência é o esquecimento de nossa natureza pecadora em detrimento de uma falsa sensação
de autossuficiência.
A obra é eficiente em mostrar as fragilidades do ministro e os perigos de esquecermos
o fato de quem Deus é e de negligenciar a vida devocional de santidade. Contudo, por
tratar-se de uma obra curta, o autor aponta soluções reducionistas para problemas levantados.
Por exemplo, um pastor que se encontra na situação descrita nos três primeiros capítulos deve
além da autoconsciência de seu erro se submeter a disciplina do Senhor para restaurar sua
casa. Nesse sentido, esse não é um problema de cultura simplesmente, mas a omissão da
disciplina e do pastoreio que deve haver entre os membros de um conselho são
preponderantes nessa conjuntura.

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