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Universidade Federal de Santa Maria

Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial

PROCESSOS
INVESTIGATIVOS
EM EDUCAÇÃO II
2º Semestre

1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Prof. Maria Medianeira Padoin (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Professora Pesquisadora (Conteudista) Transferência Técnológica | UFSM)

João Julio Gomes dos Santos Junior Projeto de Ilustração


Acadêmico Colaborador (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)

Desenvolvimento Prof. André Krusser Dalmazzo


das Normas de Redação Coordenação
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Paulo César Cipolatt de Oliveira
Profa. Luciana Pellin Mielniczuk (Curso Técnico
de Comunicação Social | Jornalismo) Lucas Franco Colusso
Coordenação Rodrigo Oliveira de Oliveira
Profa. Maria Medianeira Padoin André Schmitt da Silva Mello
Professora Pesquisadora Colaboradora Acadêmicos Colaboradores
Danúbia Matos
Iuri Lammel Marques Fotografia da Capa
Acadêmicos Colaboradores (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Prof. Paulo Eugenio Kuhlmann
Revisão Pedagógica e de Estilo Coordenação
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk
Profa. Eunice Maria Mussoi Projeto Gráfico, Diagramação
Profa. Eliana da Costa Pereira de Menezes e Produção Gráfica
Profa. Cleidi Lovatto Pires (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Profa. Maria Medianeira Padoin Prof. Volnei Antonio Matté
Comissão Coordenação
Clarissa Felkl Prevedello
Revisão Textual Técnica
(Curso de Letras | Português)
Bruna Lora
Profa. Ceres Helena Ziegler Bevilaqua Filipe Borin da Silva
Coordenação Acadêmcos Colaboradores
Angelise Fagundes da Silva
Marta Azzolin Impressão
Acadêmicas Colaboradoras Gráfica e Editora Pallotti

* o texto produzido é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

P124 Padoin, Maria Medianeira


Processos investigativos em educação II : 2º semestre / [elaboração do conteúdo
Prof. Maria Medianeira Padoin, João Julio Gomes dos Santos Junior ; revisão pedagógica
e de estilo Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk... [et al.]].- 1. ed. - Santa Maria, Universidade
Federal de Santa Maria, Pró-Reitoria de Graduação, Centro de Educação, Curso de
Graduação a Distância de Educação Especial, 2006.
64 p. : il. ; 30 cm.

1. Educação 2. Ensino 3. Pesquisa educacional I. Padoin, Maria Medianeira II. Santos


Junior, João Julio Gomes III. Siluk, Ana Cláudia Pavão III. Universidade Federal de Santa
Maria. Pró-Reitoria de Graduação. Centro de Educação. Curso de Graduação a Distância
de Educação Especial. IV. Título.

CDU: 37.012
37:001.8

Ficha catalográfica elaborada por


Maristela Eckhardt CRB-10/737
Biblioteca Central - UFSM
Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministério da Educação
Tarso Genro
Ministro da Educação

Prof. Ronaldo Mota


Secretário de Educação a Distância

Profa. Cláudia Pereira Dutra


Secretária de Educação Especial

Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Paulo Jorge Sarkis Coordenação da Graduação


Reitor a Distância em Educação Especial

Prof. Clóvis Silva Lima Prof. José Luiz Padilha Damilano


Vice-Reitor Coordenador Geral

Prof. Roberto da Luz Júnior Profa. Vera Lúcia Marostega


Pró-Reitor de Planejamento Coordenadora Pedagógica e de Oferta

Prof. Hugo Tubal Schmitz Braibante Profa. Andréa Tonini


Pró-Reitor de Graduação Coordenadora de Tutorias e dos Pólos

Profa. Maria Medianeira Padoin Profa. Vera Lúcia Marostega


Coordenadora de Planejamento Acadêmico Coordenadora da Produção do Material do Curso
e de Educação a Distância

Prof. Alberi Vargas Coordenação Acadêmica do Projeto de


Pró-Reitor de Administração Produção do Material Didático - Edital MEC/
SEED 001/2004
Sr. Sérgio Limberger
Diretor do CPD Profa. Maria Medianeira Padoin
Coordenadora
Prof. Jorge Luiz da Cunha
Diretor do Centro de Educação Odone Denardin
Coordenador/Gestor Financeiro do Projeto
Prof. João Manoel Espinã Rossés
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Humanas Lígia Motta Reis
Assessora Técnica
Prof. Edemur Casanova
Diretor do Centro de Artes e Letras Genivaldo Gonçalves Pinto
Apoio Técnico

Prof. Luiz Antônio dos Santos Neto


Coordenador da Equipe Multidisciplinar de Apoio
Sumário
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 05

UNIDADE A
INTRODUÇÃO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO 07
1. Conhecimento científico e acientífico 09
2. A relação ciência, pesquisa e sociedade: aspectos históricos e culturais 11
3. A pesquisa nas ciências sociais e suas interfaces com a educação 13

UNIDADE B
A PESQUISA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS 17
1. A estrutura da Ciência 19
2. As ciências formais e factuais 24
3. As ciências factuais e a educação 30
4. Pesquisa científica e educação 32

UNIDADE C
O PAPEL DAS TEORIAS EDUCACIONAIS PRESCRITIVAS
NA PESQUISA EDUCACIONAL 39
1. A pesquisa educacional transformadora: ciência militante? 41
2. A pesquisa educacional convencional: ciência neutra e/ou objetiva? 44

REFERÊNCIAS
Bibliografia 48

4
Apresentação
da Disciplina
PROCESSOS
INVESTIGATIVOS EM
EDUCAÇÃO II
2º Semestre

Os estudos se realizarão a partir da leitura dos textos


apresentados nesse livro didático e nos indicados para
complementação e\ou aprofundamento. As unidades
serão desenvolvidas a partir das temáticas apresentadas
nas subunidades do Programa, porém serão tratadas de
forma integrada e inter-relacionadas. Serão promovidas, a
partir da orientação, atividades práticas de pesquisa, tanto
através da internet quanto de pesquisa de campo.
Também serão desenvolvidos trabalhos em grupo com
discussões, por meio das ferramentas do ambiente virtual,
relatório das atividades e prova presencial. Durante as
aulas serão explicadas as atividades a serem
desenvolvidas.

Esta disciplina será desenvolvida com uma carga horária


de trinta (30) horas/aula.
5
6
UNIDADE

INTRODUÇÃO À
PESQUISA EM
EDUCAÇÃO

Objetivos da Unidade
Esperamos que, após essa Unidade, o cursista esteja
apto a:
-distinguir o conhecimento científico das outras formas
de conhecimento;
-ter clareza e domínio de que, para produzir o
conhecimento acadêmico-científico, são necessários
procedimentos de pesquisa correspondentes ao caráter
científico, à área de estudo e sua aplicabilidade.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
A proposta deste trabalho é propiciar um diálogo estivessem de acordo com o programa e sua
com a teoria básica do conhecimento científico necessidade, você realizou uma pesquisa.
e sua construção através da pesquisa. Por isso, Da mesma forma que a pesquisa está
perguntamos: você sabia que a pesquisa possui presente em nosso cotidiano, ela também é
vários âmbitos, inclusive faz parte do seu dia-a- elemento fundamental para a produção do
dia? Já percebeu isso? Quando você faz um conhecimento científico. Evidentemente que,
levantamento de preços de produtos entre os nesse sentido, a pesquisa tem mais regras,
supermercados ou lojas, quando você, após a métodos, técnicas e exigências.
leitura de alguns textos sobre um determinado Assim, convido você, juntamente com seus
assunto, teve que produzir um resumo, uma colegas, a continuarmos o desafio de desvendar
aula ou um "trabalho" acadêmico, ou ainda, ao e conhecer esse campo instrumental que é o
se preparar para o vestibular, procurou e de Processos Investigativos em Educação II.
selecionou materiais para estudar que Bem vindos!

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UNIDADE A

1 Conhecimento científico
e acientífico
O homem em sua história sempre procurou
explicar e compreender a sua vida, a vida dos
outros e, assim, a história do Mundo, da COMO FAZER UM RESUMO

Humanidade. Ler e reler o texto, procurando destacar as IDÉIAS-chave. Após,

Para tanto, surgiram formas de explicações produza o seu texto a partir dessas idéias principais. Não

de conhecimentos diferenciados, que se esqueça que é um texto escrito com as SUAS palavras e não

vinculam às diferentes épocas históricas e a uma cópia das palavras do texto. Caso use ou copie parte do

posicionamentos teórico, filosófico, religioso ou texto (uma frase, parágrafo ou alguns termos) coloque entre

político de entender o Mundo e a realidade. aspas e indique a página, conforme informações contidas nas

Por isso, é muito importante sempre normativas de trabalhos científicos da UFSM, ou seja, na MDT, 6ª

contextualizarmos o que estudamos ou edição, de 2005. O resumo é a síntese das idéias do texto

investigamos, bem como saber quem produziu que possui uma autoria própria. O resumo solicitado na

e em que condições produziram tal Atividade A-1, não é um Resumo Crítico.

conhecimento. No Resumo crítico, você emite o seu parecer, que poderá

aparecer dentro do texto ou no final dele, porém sempre

deixando claro quais são as idéias do autor e a sua opinião.

Em Processos Investigativos em Educa-


ção I, você estudou o processo histórico Após ter retomado e lido o texto da
desses conhecimentos relacionados com a Atividade A-1, você pôde perceber que as
história das sociedades. Vá resgatá-los ! concepções de Mundo que temos hoje, bem
Encontrou o livro didático de Processos como a "liberdade" de optarmos, têm uma longa
Investigativos em Educação I e o item caminhada e são conquistas do próprio homem.
com esse tema? Muito bem! Agora leia e Assim, a Ciência passou a ser um instrumento
produza um Resumo desse assunto que para conhecer e dominar a realidade.
deverá ser enviado, em até sete (7) dias, É necessário recordarmos que, além do
por e-mail ao seu tutor, conforme conhecimento científico, há o conhecimento
orientações do professor da disciplina, que resulta da intuição, do gosto pessoal, da
disponibilizadas no ambiente virtual. tradição cultural e do senso comum, que podem
ser também conhecimentos válidos e
verdadeiros.
O conhecimento científico é produzido a
partir de um planejamento (projeto), de uma
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

pesquisa que se utiliza de uma metodologia e Para tanto, a produção do conhecimento


fundamentação teórica, procurando dar científico foi permeada por rígidos e metódicos
resposta(s) a um problema previamente procedimentos e normas, que é o chamado
levantado, utilizando e procurando provas e MÉTODO CIENTÍFICO.
comprovações. Denomina-se de Método Científico "ao
Assim, a ciência ou o conhecimento conjunto de concepções sobre a natureza, o
científico possui diferenciação, na "natureza de homem e sobre o próprio conhecimento que
sua aplicação" e não na sua essência, pois é sustentam um conjunto de regras, de ações e
de procedimentos prescritos para se construir
[...] uma atividade que propõe a aquisição
conhecimento científico" (MOTA et al, 2003,
sistemática de conhecimentos sobre a
natureza social, biológica ou tecnológica, com p.9).
o propósito de melhoria da qualidade de vida, A escolha do Método Científico dependerá,
é de pensar que a probabilidade de aquisição
de conhecimentos está presente em todo e entre outros, da escolha tanto do objeto (tema)
qualquer processo realizado pelo homem. de estudo quanto do tipo de pesquisa a ser
Assim, toda atividade humana que gerar um
novo conhecimento, tendo por pressuposto realizada, bem como das condições em realizá-
básico a utilização do método científico, la, pertencem ao campo ou área de estudo do
através da aplicação de uma pesquisa deve
ser caracterizada como atividade pesquisador\investigador.
científica.[destaque feito por nós](JUNG,
2004, p.143).

10
UNIDADE A

2 A relação ciência,
pesquisa e sociedade:
aspectos históricos e culturais
Vamos observar e analisar algumas definições domínio.
que nos ajudam a compreender o que é a Assim, é necessário valorizarmos e
PESQUISA CIENTÍFICA: entendermos o processo de construção do
-"Pesquisa científica é a realização concreta conhecimento científico, refletirmos sobre ele,
de uma investigação planejada, desenvolvida e aplicando essa análise e percepção a nossa área
realizada de acordo com as normas da de conhecimento.
metodologia consagrada pela ciência" (RUIZ O conhecimento científico, primeiramente,
apud ANDRADE, 2002, p.16). era concebido como absoluto, pois além de
-"A pesquisa é uma atividade voltada para a defender a possibilidade da total não
solução de problemas através do emprego de interferência do sujeito em seu objeto de
processos científicos" (CERVO, BERVIAN apud estudo, ou seja, a imparcialidade do pesquisador,
ANDRADE, 2002, p.16). acreditava que o resultado da pesquisa consistia
-"Toda pesquisa em que se utilizar o método na obtenção de verdades absolutas e,
científico é científica, não importando se o praticamente, inquestionáveis. Com isso, era
objeto é somente de ordem intelectual ou de mais propício de ser identificado e obtido na
ordem aplicada ou tecnológica" (JUNG,2004, área das ciências exatas.
p.143). A discussão acerca do conhecimento
A pesquisa científica pode ser classificada, científico possui um caráter de verdade
segundo Andrade (2002, p.17), em dois absoluta, ou se essa verdade é relativa, perpassa
grupos: as pesquisas puras, que têm por o processo de construção do que se entende
objetivo a aquisição e a produção de por Ciência, influenciando na forma de
conhecimento, ou seja, "descobrir a teoria dos classificação e valorização das áreas de
fatos"; e as pesquisas aplicadas, que têm por conhecimento. Primeiramente, a designação de
fim a aplicação prática dos conhecimentos conhecimento científico referia-se à produção
adquiridos, procurando dar uma resposta para oriunda da área das ciências exatas; mais tarde,
os problemas tidos como concretos. Devemos também passou a atender à área de abrangência
considerar que a pesquisa pura e a pesquisa das ciências biológicas e, mais
aplicada estão relacionadas e constituem um contemporaneamente (e ainda com algumas
conjunto de conhecimentos complementares, restrições por alguns) aplicada à área das
bem como estão intimamente vinculadas à ciências humanas.
classificação das ciências e às suas áreas de Atualmente, percebemos que há uma
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

interferência de métodos e de técnicas entre sentido, a própria classificação das ciências passa
essas áreas, tanto no processo de pesquisa por mudanças, complementações e adequações,
quanto na concepção dos resultados, levando de acordo com a evolução da humanidade e
a inter ou multidisciplinaridade também na do próprio conhecimento científico.
forma de conceber o objeto de estudo. Nesse

12
UNIDADE A

3 A pesquisa nas
Ciências Sociais e suas
interfaces com a educação
As diferenças existentes entre as sociedades concepção religiosa, científica e cultural está
chamam a atenção dos cientistas sociais. intrínseca na forma em que ele conduzirá a
Algumas questões como as diversidades pesquisa. A neutralidade do pesquisador é,
culturais, as especificidades do desenvolvimento portanto, impossível(SEABRA, 2001). Já a
dos meios de produção, a organização e as suas seriedade, a objetividade e a responsabilidade
relações com a natureza, são algumas das várias estão presentes em um cientista social.
problemáticas que esses cientistas levantam, A pesquisa, quando é realizada por alguém
tornando a sociedade e suas (inter)relações os estranho à cultura que está sendo observada,
seus objetos de estudo. ou seja, uma sociedade diferente daquela que
Quando falamos de pesquisa em Ciências o pesquisador vive, faz com que o pesquisador
Sociais, encontramos uma peculiaridade. O tenha uma visão parcial em relação ao seu
pesquisador - o sujeito, mistura-se, de certa objeto de estudo. E se for da mesma cultura,
forma, com o objeto em uma dialogia vai ter dificuldades em desprender-se dos
constante. O sujeito pesquisador (ser social), preconceitos já enraizados na sua subjetividade.
ao debruçar-se sobre seu objeto de estudo (a Essa dialogicidade é a marca das pesquisas em
sociedade), compreende os fenômenos Ciências Sociais.
observados com olhos tendenciosos. Toda a sua

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Lucas Franco Colusso

Figura A.1: O etnólogo fazendo pesquisa no meio de uma tribo indígena.

Dessa forma, a Educação foi e é tratada sua aplicabilidade na resolução de problemas.


como um objeto de estudo. A Educação tem Esse período de predominância quantitativa
um lugar de destaque em pesquisas. A partir vai ao encontro das perspectivas positivistas,
dela, é possível analisarmos a estrutura social em que se entendia que as Ciências Sociais
de um país, o nível educacional, levando-se em deveriam alcançar os padrões pré-estabelecidos,
conta a formação dos docentes, o nível assim como as demais ciências naturais. Essa
socioeconômico da população, a maturidade idéia não levava em conta as particularidades
política, enfim, a educação é um objeto de das Ciências Sociais já mencionadas
estudo inesgotável. anteriormente.
Durante muito tempo, os métodos de As pesquisas em Educação, nessa
pesquisas nas Ciências Sociais e, época,foram marcadas por dados sobre o
conseqüentemente, na Educação, foram número de alunos, dados sobre rendas
predominantemente quantitativos. Tudo era familiares, número de professores, etc. As
abordado visando-se aos números, porcentagens pesquisas limitavam-se em levantar os dados,
e estatísticas, com uma finalidade de quantificar não chegavam a analisá-los criticamente.
sem se preocupar com a análise dos dados e\ou Paravam, portanto, justamente onde deveriam
14
UNIDADE A

começar (SEABRA, 2001). Essa tentativa de distribuição de renda, e outros mais, procurou-
mecanizar as pesquisas nas Ciências Sociais é se um modelo de pesquisa que possibilitasse
bem expressa por Richardson, citado por Seabra alternativas de desenvolvimento e que, se
(2001, p. 33): possível, transformasse a realidade. A pesquisa
qualitativa ressurge dentro desse contexto de
Em termos gerais, as ciências naturais vêem reação ao modelo positivista quantitativo.
o mundo físico como um objeto que deve
ser controlado tecnologicamente pelo ser
humano. Esse modelo, contudo, não pode
ser usado pelas Ciências Sociais, pois as
pessoas e as relações efetuadas na
sociedade não podem ser consideradas Na Atividade A-1 você produziu um
como um problema de engenharia para ser
solucionado pelos cientistas (RICHARDSON, Resumo. Agora você produzirá um Resumo
1985). Mesmo assim, o método próprio das Crítico, e enviará por e-mail, conforme
ciências naturais foi amplamente utilizado
orientações do professor da disciplina,
pelas ciências sociais para que essas últimas
pudessem ser reconhecidas como ciência. disponibilizadas no ambiente virtual. O texto
indicado para realizar essa Atividade é o
Esse tipo de pesquisa quantitativa pode conteúdo da Unidade A desse livro.
ser explicado dentro de um contexto histórico
em que existiam governos, que estavam
preocupados em exaltar seus modelos de
desenvolvimento e não estavam dispostos a
receber críticas. Nesse sentido, uma abordagem COMO FAZER UM RESUMO CRÍTICO

de pesquisa que privilegiasse o caráter crítico- O resumo crítico é um trabalho acadêmico que exercita a

social, tal como é a pesquisa qualitativa, era prática da crítica sobre um texto definido.Ou seja, o resumo

visto como inadequado ao modelo político de crítico é a síntese das idéias de um texto, incluindo a opinião

desenvolvimento em construção. ou parecer de quem o produz (você), isto é, além da síntese,

Com o aparecimento das contradições de você, durante o decorrer da redação do resumo, dentro do

modelos de desenvolvimento, capitalista ou texto ou no final dele, deverá emitir sua opinião, deixando

não, tais como o aparecimento de injustiças claro qual é a idéia do autor do texto e qual a sua opinião

sociais, segregações raciais, disparidade na como autor do resumo crítico.

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16
UNIDADE

A PESQUISA NAS
CIÊNCIAS SOCIAIS
E HUMANAS

Objetivos da Unidade
Esperamos que, após essa Unidade, o cursista esteja
apto a:
-conhecer a estruturação do conhecimento
científico, sua classificação e relação com as
Ciências Sociais e Humanas;
-reconhecer os tipos de pesquisa mais usuais nas
Ciências Sociais e Humanas e sua aproximação e
aplicação à Educação.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
O desenvolvimento de pesquisas em Ciências tratada como uma fonte para pesquisadores das
Sociais com enfoque educacional mostra o Ciências Sociais e Humanas que pretendem
reflexo da sociedade em que está sendo feita estudar uma determinada sociedade. Nesse
a pesquisa. Toda a estrutura social se reflete na sentido, pretende-se relacionar os
organização da Educação. Podemos dizer, conhecimentos prévios, as teorias da Educação
portanto, que a Educação é considerada uma com a prática na pesquisa e sua aplicação na
expressão social. Assim, ela pode, e deve, ser área da Educação.

18
UNIDADE B

1 A estrutura da Ciência
A classificação das Ciências sofreu variações de estudo das teorias;
acordo com as concepções dos autores e com a.2) pesquisa metodológica: preocupa-se
o processo histórico, da mesma forma que a com as formas, os métodos e maneiras de
discussão em torno do que seja Ciência. Assim, produzir o conhecimento científico;
vamos expor algumas classificações. a .3) pesquisa empírica: procura "decodificar
Uma das classificações da Ciência em a face mensurável da
função do seu objeto é a que define a Ciência realidade" da sociedade;
Pura e a Ciência Aplicada. a.4) pesquisa prática: conhecida também
A Ciência Pura é aquela que tem no como pesquisa-ação,
conhecimento filosófico e no matemático seus voltada para intervir diretamente na
fundamentos, em que o método utilizado é o realidade social.
dedutivo, e o critério para a veracidade é a b) Pesquisa quanto a sua natureza:
consistência dos pressupostos e enunciados As pesquisas científicas, segundo Jung
analíticos propostos. Pressupostos esses que (2004), quanto à natureza, classificam-se de
devem ter aplicabilidade aos fenômenos acordo com o seu objeto, ou seja, em Pesquisa
naturais de forma universal. Básica ou Fundamental e Pesquisa Aplicada ou
A Ciência Aplicada tem na observação e Tecnológica.
na experimentação seus métodos fundamentais b.1) Pesquisa Básica: gera conhecimentos
para a construção do conhecimento. Ela possui sem uma finalidade prática imediata,
duas divisões, as ciências naturais e as ciências procurando entender, explicar ou descobrir
sociais. novos fenômenos e fatos; isto é, gera
conhecimentos básicos ou fundamentais a partir
Tipologia da Pesquisa do estudo de fenômenos. Tais resultados
A pesquisa pode ser classificada, de acordo poderão ser utilizados e impulsionadores de
com seu objeto de estudo, quanto ao seu pesquisas aplicadas, mas para isso é importante
procedimento, quanto ao seu objetivo ou ainda a divulgação dos resultados através da
quanto a sua forma de apresentação. Assim publicação, especialmente de artigos científicos.
temos: b.2) Pesquisa Aplicada: objetiva a aplicação
a) Quanto à forma, exemplificamos com dos conhecimentos básicos com o fim de
a classificação dada por Demo (apud ANDRADE, produzir soluções concretas a problemas, ou
2002,p.18-19): produzir produtos, processos, patentes. Gera
a.1) pesquisa teórica: preocupa-se com o novas tecnologias e conhecimentos.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Paulo César Cipolatt de Oliveira

Figura B.1: A A capacidade de matar a caça, observar a natureza ( origem do fogo) e utilizar-se desse conhecimento
para assar uma carne, são exemplos práticos de pesquisa aplicada exercida pelos homens das cavernas.
20
UNIDADE B

Segundo Andrade (2002), as pesquisas, são muito usadas a entrevista, a observação, a


quanto à natureza, podem classificar-se em aplicação de questionários, a história de vida, o
pesquisa científica original e em pesquisa não estudo de caso.
original. d) Pesquisa quanto aos objetivos:
-Pesquisa original: é a pesquisa realizada d.1) Pesquisa exploratória: é a fase inicial
pela primeira vez, através de trabalhos mais de uma pesquisa, em que se preocupam com
avançados, que venha contribuir diretamente as definições, com os caminhos a serem
para o aprofundamento e inovação do seguidos, os critérios, os métodos e as técnicas.
conhecimento naquela determinada área da Geralmente essa pesquisa valoriza mais a
ciência; ou seja, apresenta um resultado sob experimentação para coleta dos dados, que
um enfoque original. serão fundamentais na formulação de
-Pesquisa não original ou resumo de alternativas ao conhecimento, visando a
assunto: é um tipo de pesquisa que não inovações teóricas e\ou práticas, formulação de
objetiva a originalidade ou descoberta, mas não modelos explicativos ou inovadores e
dispensa o rigor científico. Visa a uma " síntese" descobertas;
do conhecimento já produzido. d.2) Pesquisa descritiva: é um estudo em
c) Pesquisa quanto ao seu objeto de que os fatos são observados, analisados,
estudo e as suas fontes de informação : classificados e interpretados sem que o
c.1) Pesquisa bibliográfica: pesquisa realizada pesquisador interfira ou os manipule. Segundo
em "fontes de papel", especialmente em Jung ( 2004, p.153),
bibliografia (livros, revistas, jornais). Junto a essa
[...] descrever significa dizer como foi feito
podemos incluir a pesquisa documental (em
ou está sendo feito, como detalhadamente
fonte primária). A pesquisa bibliográfica poderá está se comportando o sistema. A descrição
científica exige uma imparcialidade na coleta
ser uma pesquisa em si mesma ou ser o
dos dados e uma análise criteriosa com base
referencial ou procedimento básico na na bibliografia e documentos preexistentes,
realização de outra modalidade de pesquisa, além de um embasamento estatístico a partir
do levantamento efetuado após aplicação
como por exemplo, a de campo e a laboratorial. de um instrumento de coleta de dados.
c.2) Pesquisa de laboratório: objetiva
produzir e reproduzir fenômenos para chegar a d.3) Pesquisa explicativa: essa pesquisa vai
conclusões ou teorias. Essa pesquisa se além da pesquisa descritiva, pois procura
diferencia das pesquisas de campo e aprofundar o conhecimento da realidade,
bibliográfica, porque é permitido ao pesquisador visando identificar os "fatores que contribuem
manipular as suas variáveis. para a ocorrência dos fenômenos ou variáveis
c.3) Pesquisa de campo: fundamenta-se na que afetam o processo" (JUNG, 2004, p.153),
observação direta dos fatos. Nela o pesquisador valorizando a teorização e a maior reflexão
busca suas fontes no local onde se realizaram sobre o objeto que está sendo investigado.
ou ocorreram tais fatos. Nesse tipo de pesquisa,

21
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

e) Pesquisa quanto aos procedimentos: comparação de valores, de eficiência e de


Para a realização de uma pesquisa, é custos" implicando a utilização de técnicas
necessário a definição das técnicas e quantitativas;
procedimentos que serão adotados para a e.3) Pesquisa de estudo de casos: é um
coleta e análise dos dados. Assim, com a procedimento que investiga, no âmbito
definição do objeto de estudo e com a clareza particular ou coletivo, um fenômeno dentro de
da natureza e forma da pesquisa que vai um contexto local, ou regional, onde há uma
realizar, bem como do objetivo básico identificação entre o específico (fenômeno
(descritiva, exploratória ou explicativa), é escolhido) e o contexto geral;
necessário determinar a pesquisa quanto aos e.4) Pesquisa de campo: baseia-se na
seus procedimentos, para, posteriormente, observação direta dos fatos; o pesquisador
especificar a metodologia (que está vinculada realiza a coleta de dados no local da ocorrência
ao tipo de pesquisa quanto ao seu objeto). desses fatos. Podem ser usados na coleta de
Assim, a pesquisa quanto aos seus dados: a observação, o questionário, o
procedimentos está classificada: formulário, as entrevistas, os procedimentos e
e.1) Pesquisa experimental: é utilizada para as análises estatísticas, entre outros;
a descoberta de novos métodos, técnicas, e.5) Pesquisa bibliográfica: pesquisa realizada
produtos, etc. O procedimento experimental em "fontes de papel", especialmente em
exige do pesquisador uma detalhada, sistemática bibliografia (ver maiores explicações no item
e imparcial utilização e análise de suas variáveis 2.1,2.2,2.3, letra C,subitem C.1);
e dos dados coletados(que são passíveis de e.6) Pesquisa documental: é a pesquisa
manipulação). Ela é conhecida também como realizada em documentos, escritos ou não, ou
pesquisa empírica, pois a prática do empirismo seja, em fontes primárias como: tabelas
é fundamental. Segundo Jung (2004, p. 155), estatísticas, cartas, pareceres, fotografias, atas,
"o empirismo significa experiência, e o relatórios, obras originais de qualquer natureza
pesquisador experimental é aquele que adquire (ex: pintura, escultura, desenho, etc), notas,
conhecimentos por práticas empíricas [...] diários, projetos de lei, ofícios, discursos, mapas,
Assim, a pesquisa experimental é o principal testamentos, inventários, informativos,
meio para materializarem-se as idéias". Essa depoimentos orais e escritos, certidões,
pesquisa é muito utilizada nas áreas correspondência pessoal ou comercial, filmes,
tecnológicas, na produção de novas tecnologias autobiografia, fitas de áudio e vídeo, etc. Tais
elaboradas principalmente em laboratórios; fontes e sua coleta poderão se dar em: arquivos
e.2) Pesquisa operacional: está intimamente públicos ou privados, museus, cartórios,
vinculada à atividade produtiva e ao mercado, associações, escolas, bibliotecas, bancos,
para a tomada de decisões. Segundo Loesch e sindicatos, empresas, igrejas, cartórios, etc;
Hein (apud JUNG, 2004, p.155), essa pesquisa e.7) Pesquisa participante: (ou ciência
"estrutura processos, propondo um conjunto de popular) é uma pesquisa da ação voltada para
alternativas de ação, fazendo a previsão e as necessidades básicas do indivíduo; esses
22
UNIDADE B

indivíduos são a base da pirâmide social. Essa participativo (agir para mudar). É um tipo de
pesquisa objetiva trabalhar com eles e não sobre pesquisa social com base empírica; concebida
eles. Nessa pesquisa, os pesquisadores e realizada em estreita associação com uma
procuram ser aceitos pelas unidades de ação ou com a resolução de um problema
observação, ou então, pelas pessoas ou grupos coletivo, no qual os pesquisadores e os
da situação investigada. A pesquisa participante participantes representativos da situação, ou do
é considerada por alguns como uma problema, estão envolvidos de modo
possibilidade ou alternativa dentro da Pesquisa cooperativo ou participativo. Realiza a descrição
de Campo; de situações concretas e com o interesse`de
e.8) Pesquisa ação: exige uma estrutura de resolver os problemas que atingem a
relação entre pesquisadores e pessoas da coletividade, sendo o conhecimento resultante
situação investigada que seja do tipo elaborado pela ação conjunta do pesquisador.

Para facilitar o entendimento da tipologia da pesquisa, apresentamos o seguinte esquema que permitirá a você organizar um

projeto de pesquisa.

23
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 As ciências formais e factuais


Outra classificação é feita por Borges (apud necessitam de estudos tanto analíticos como
JUNG, 2004, p.12), na atualidade, "a factuais."
diferenciação entre ciências puras e aplicadas Bunge (1976, p.41) classifica em Ciência
já não encontra nenhuma sustentação Formal e Ciência Factual, assim subdivididas:
compatível. As ciências, de uma forma ampla,

Classificação da Ciência segundo Bunge

Fonte: BUNGE, Mário. La investigación cientifica. 5.ed. Barcelona: Ariel, 1976,p.41. [tradução nossa]

Para ele (1976, p.41), a Ciência Factual dividida em Natural e Cultural apresenta subdivisões,
quais sejam:

Classificação da Ciência Factual Classificação da Ciência Cultural

Fonte: BUNGE, Mário. La investigación cientifica. Fonte: BUNGE, Mário. La investigación cientifica.

5.ed. Barcelona :Ariel, 1976,p.41. [tradução nossa] 5.ed. Barcelona :Ariel, 1976,p.41. [tradução nossa]

24
UNIDADE B

Complementando e revendo a classificação -Ciências Exatas: Física, Meteorologia,


feita por Bunge (1976), temos Mattar Neto Engenharias, Estatística, Computação, etc.
(2002) que afirma a existência de três
eixos: as ciências biológicas, as exatas e as -Ciências Humanas: Psicologia, Pedagogia,
humanas. As ciências exatas possuem História, Geografia, Sociologia, Direito,
origem na matemática; as biológicas têm Letras, Comunicação Social, Administração,
como objeto de estudo o ser humano e os Economia, Contábeis, Filosofia, Turismo,
fenômenos da natureza; enquanto que as etc.
ciências humanas centram-se no estudo do
homem como ser social. Nesse sentido, -Ciências Biológicas: Biologia, Medicina,
exemplificamos: Agronomia, Odontologia, Fisioterapia,
Nutrição, Farmácia, etc.

VOCÊ SABIA QUE Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, vinculada ao

Há, no Brasil, órgãos e instituições de fomento à pesquisa que Ministério de Educação), da FAPERGS (Fundação de Amparo à

apresentam uma classificação geral das áreas do conhecimento Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul), da FAPESP

com subdivisões. Assim, ao organizarmos um projeto de (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo),

pesquisa, seja de pequeno ou grande porte, seja para entre outros órgãos ou instituições financiadoras, é exigido, para

concorrer a uma bolsa de Iniciação Científica, tanto interna da o preenchimento dos formulários, a classificação de seu objeto

Universidade quanto do CNPq (Conselho Nacional de de estudo de acordo com a classificação da área de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico - vinculado ao conhecimento científico.

Ministério da Ciência e Tecnologia), da CAPES (Coordenação de

25
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Figura B.2: Página do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - vinculado ao
Ministério da Ciência e Tecnologia) - http://lattes.cnpq.br/pl
26
UNIDADE B

Figura B.3: Página da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, vinculada ao
Ministério de Educação) - http://www.capes.gov.br/capes/portal/

27
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Figura B.4: Página da FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul)
http://www.fapergs.tche.br/

28
UNIDADE B

Consulte a página do CNPQ, que apresenta A sua Universidade possui, junto a cada
uma listagem mais detalhada das áreas de Centro de Ensino, um Gabinete de
conhecimento: www.cnpq.br/areas/ Projetos, que concentra o registro dos
tabconhecimento ou www.cnpq.br e acesse projetos de pesquisa, ensino e extensão ali
Formulários, no item Áreas e Programas - desenvolvidos, bem como informações das
tabela de áreas de conhecimento. Para possibilidades de conseguir auxílio para tais
conhecer as definições e especificações, atividades. Nesse sentido, através da
você deverá clicar em cada área. Na página internet e da página da UFSM (www.ufsm.
da FAPERGS, no endereço www.fapergs. br) busque informações sobre que tipo de
tche.br ou www.fapergs.rs. gov.br , acessar bolsa e\ou auxílio financeiro você poderá
em Manuais & Formulários e depois em pleitear como aluno(a) da graduação nas
Manuais e Anexos, no item Códigos das três áreas : pesquisa, ensino e extensão.
Áreas de Conhecimento CNPq e FAPERGS, Responda, de acordo com as orienta-
e procure a listagem da classificação das ções do professor disponíveis na
áreas de conhecimento. Após ter agenda da disciplina, as Atividades B-1
encontrado a tabela, em um desses e B-2, identificando-as.
endereços, identifique a área em que o
curso que você está fazendo se
classifica. Transcreva abaixo os dados
relativos a ela :

Pergunta: por quê o seu curso se


encontra classificado em tal área e
subárea? Após essa resposta, realize a
atividade B-2.

29
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

3 As ciências factuais e a educação


Os tipos de pesquisa mais usados em objetivos o conhecimento profundo do objeto
Educação, dentro da ótica quantitativa, são que está sendo estudado, e o conhecimento
todos aqueles que visam a porcentagens, das estruturas sociais envolvidas no processo.
estatísticas, número de alunos, número de Trata-se de conhecer para, a partir desse
professores, renda média das famílias, conhecimento, pensar os problemas que
escolarização dos pais, gastos adicionais em existem nesse caso, e tentar solucioná-los.
educação, horas de participação familiar na Outros tipos de estudos, segundo a
educação dos filhos, horas de sono, para citar classificação de Triviños (1992), são:
apenas alguns. - O exploratório: apresenta uma etapa
Na pesquisa qualitativa, o fenômeno importante para conhecer melhor a realidade
observado passa por uma análise que visa a do objeto de estudo, além de ser possível
descobrir sua origem, o seu reflexo e formas levantar problemas de pesquisa após esse
de transformar essa prática. Para tanto, a primeiro contato com a realidade da população
teorização é indispensável. A teoria é em questão.
indissociável da prática, ou, parafraseando Pedro - Os estudos descritivos: que englobam a
Demo, "O que significa também que é vital maior parte dos estudos na área educacional.
voltar sempre à teoria, por amor à prática" Esses são alguns exemplos que o autor
(1989, p. 240). levanta, uma vez que ainda lembra da
possibilidade de "estabelecerem-se relações
[...] O foco essencial destes estudos reside
entre variáveis". Seguindo a classificação de
no desejo de conhecer a comunidade, seus
traços característicos, suas gentes, seus Triviños (1992), encontramos dentro da análise
problemas, suas escolas, seus professores, denominada descritiva, subdivisões. Uma das
sua educação, sua preparação para o trabalho,
seus valores, os problemas do analfabetismo, subdivisões estabelecida pelo autor é o Estudo
a desnutrição, as reformas curriculares, os de Caso, já mencionado anteriormente sob a
métodos de ensino, o mercado ocupacional,
os problemas do adolescente etc. visão de Becker. Outra subdivisão seria a análise
(TRIVIÑOS. 1992 p.110). documental, que possibilitaria ao pesquisador
um contato com a imensidão de leis, processos,
Um tipo de pesquisa muito usado nas planos de estudos, livros-textos, etc.
Ciências Sociais é o estudo de caso. Segundo Ainda existem outros tipos de pesquisa muito
Becker (1997, p.117) o estudo de caso não usados, tais como:
trata, normalmente, de um indivíduo, mas -Estudos Causais Comparativos: não se
principalmente de "organização ou restringem a descrever os fenômenos
comunidade". Os seus objetivos não são de, a observados, mas a correlacioná-los aos seus
partir de um estudo específico, fazer motivos de origem. Essa tipologia de pesquisa
generalizações. O estudo de caso tem como pode pecar ao não relacionar uma variável que
30
UNIDADE B

seja, talvez, essencial para a compreensão do ou de indivíduos que pertencem a um grupo,


fenômeno em questão, por isso o domínio do sociedade, etc, com o fim de elucidar e auxiliar
método e a clareza de objetivos devem estar no estudo. É importante que o pesquisador se
bem presentes. preocupe em obter, por escrito, a autorização
-Pesquisa experimental: é mais ligada aos do entrevistado para a utilização das
fundamentos positivistas de empirismo, informações, especificando a forma de registrá-
colocando a análise dos dados obtidos em um las, utilizá-las e divulgá-las, bem como a
segundo plano, priorizando os resultados em autorização do uso (ou a forma de uso) do nome
déficit da interpretação dos fenômenos. Sua desse indivíduo. A história de vida se assemelha
validez para as Ciências Sociais é amplamente ao estudo de caso, porém com uma técnica
contestada. básica bem definida, que se identifica com o
-História de vida: tem por objetivo coletar tipo de pesquisa.
dados sobre a vida de um determinado indivíduo

31
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

4 Pesquisa científica e educação


Em um curso de Graduação, realizamos vários
tipos de trabalhos acadêmicos, visando tanto
ao aprendizado do conhecimento científico Trataremos da elaboração do nosso próximo
quanto aos caminhos de sua produção e a sua trabalho acadêmico, que também será o
própria construção. Nesse sentido, um Resumo, trabalho que avaliará essa unidade: a
um Resumo Crítico, uma Resenha Crítica, uma realização, em uma primeira fase, de uma
Monografia, um Artigo Científico, um Ensaio, experiência de pesquisa básica, descritiva
entre outros são formas de apresentação, mais e de campo, utilizando-se das técnicas
rígidas ou não, mais adequadas à forma de do questionário e da entrevista. Porém,
apresentação dos resultados de um estudo e/ nesse primeiro momento, apresente apenas
ou de uma pesquisa científica. Nesse sentido, os resultados da coleta de dados de forma
se você observar, você já realizou nesta quantitativa. Para esse trabalho, é
disciplina um trabalho acadêmico mais simples necessário preliminarmente:
- o Resumo, mas que possui regras que devem a) conhecer e definir de forma bem clara
ser observadas e seguidas. Também realizou o objeto de estudo e de pesquisa (tema),
uma pequena pesquisa na internet sobre a área que, de forma geral, está especificado
e subárea de conhecimento em que seu curso acima;
está classificado. Perguntamos para você, o b) localizar o espaço (local, instituição ou
porquê dessa classificação, além de colher órgão) e universo de realização da pesquisa;
informações junto à UFSM das possibilidades c) fazer um plano ou projeto básico de
de auxílio e\ou bolsa para o desenvolvimento pesquisa;
de projetos. A partir disso, façamos uma d) ter claro o que são métodos e técnicas
reflexão: a população em geral, na cidade em de pesquisa, para montar os instrumentos
que você vive, sabe o que é conhecimento de pesquisa (questionário e entrevista);
científico e qual sua função? Conhece as outras e) aplicar o plano básico da coleta de dados;
formas de conhecimento? E mais, conhece o f) organizar, classificar e descrever os dados.
que significa a Educação Especial, o curso e A partir disso, realize uma pesquisa de
sua área de atuação? Qual é a política campo, através de um levantamento de
educacional municipal e estadual? Como estão dados que responda ao questionamento:
estruturadas as escolas? Como os meios de Como a população de sua cidade
comunicação do município tratam e trabalham conhece, trata e avalia o campo de
esse assunto? conhecimento e de atuação da
Educação Especial?

32
UNIDADE B

Métodos e Técnicas de Pesquisa


Para tanto, propomos que realize a pesquisa O Método é a linha, o traçado, a forma pela
em grupo, de 3 alunos, divididos por local qual se executam as etapas da pesquisa.
de pesquisa, que poderá ser: a escola da Técnicas são os procedimentos, os instrumentos
rede estadual, a escola da rede municipal, ou recursos para a execução de cada etapa ou
a Secretaria Municipal de Educação, a fase da pesquisa, ou seja, os meios de como
Coordenadoria Regional de Educação, obter e trabalhar os dados e informações.
veículos da imprensa local (jornal e/ou TV), Para Andrade (2002, p.22), método "é um
a Câmara de Vereadores,etc. A escolha da conjunto de processos, ou de procedimentos
instituição ou órgão implicará a formulação gerais, baseados em princípios lógicos e
da delimitação do seu objeto ou tema da racionais, que permitem o seu emprego em
pesquisa, com os objetivos específicos a várias ciências. Técnicas são conjuntos de
serem alcançados. normas usadas especificamente em cada área
É importante ficar claro que pretendemos do conhecimento".
fazer um levantamento de dados, nesse
momento, com o fim de descrever e Os Métodos
mapear a realidade da Educação Especial Para facilitar o trabalho do pesquisador, os
em seu município e, para isso, você autores dividem os métodos em dois grupos:
deverá elaborar um PLANO ou PROJETO em métodos de abordagem e em métodos
e encaminhar ao seu professor. Para de procedimentos.
tanto, o prazo e as demais orientações sobre Os MÉTODOS DE ABOR DAGEM são
o envio do projeto serão disponibilizados constituídos de procedimentos gerais que
no ambiente virtual, bem como as demais norteiam toda a pesquisa e que podem ser
informações sobre a entrega do resultado utilizados pelas mais diversas ciências.
da pesquisa. Classificam-se em:
a)Dedutivo: parte de leis e teorias gerais
para definir e chegar a explicações de
fenômenos ou fatos específicos e particulares.
O caminho do raciocínio parte da causa para o
efeito.

33
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

André Schmitt da Silva Mello

Figura B.5: Assim como um detetive, o processo dedutivo parte das causas para os efeitos.

b)Indutivo: parte dos dados e das conclu- (classifica, analisa e critica os dados); a abstração
sões particulares ou conhecidas para chegar aos (análise a reflexão dos dados coletados e
fenômenos ou fatos gerais e desconhecidos. É classificados); a generalização (aplicar a outros
um método de raciocínio inverso do dedutivo. casos semelhantes os resultados alcançados
O Método indutivo, segundo Andrade sobre os fenômenos observados).
(2002), parte das seguintes etapas: observação c) Hipotético-dedutivo: se diferencia do
científica; a hipótese (é uma provável resposta método indutivo, pois não se limita à
a um problema\tema que vai ser investigado generalização empírica das observações feitas,
através da pesquisa e é passível de verificação); podendo, através dele, chegar à criação de
a experimentação (permiti ao observador repetir teorias e leis. Está vinculado especialmente com
os fenômenos, ou seja, controla, comprova ou a experimentação e a pesquisa na área das
não a hipótese); a comparação dos dados ciências naturais.
34
UNIDADE B
Rodrigo Oliveira de Oliveira

Figura B.6: A Lei da Gravitação Universal de Isaac Newton foi elabora através do método hipotético-dedutivo.
35
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

d) Dialético: é o estudo da realidade e dos um modelo explicativo que poderá ser aplicado
fenômenos a partir de suas contradições ou comparado a outras realidades ou
internas, da ação recíproca, das relações de sociedades. Esse método foi desenvolvido por
poder e da transformação dialética que ocorre Lévi-Strauss.
na sociedade e na natureza. Prioriza a visão que
todo o conhecimento sobre a realidade não é As Técnicas
absoluto ou rígido, mas se processa em As técnicas são a instrumentação da coleta de
mudanças constantes. Toda a tese possui uma dados ou a parte prática do processo da
antítese. Esta leva à criação de uma síntese, pesquisa. Elas são agrupadas em dois grupos: a
que gera uma nova tese, e assim se constitui o documentação indireta e a documentação
processo. direta (ANDRADE, 2002).
Os MÉTODOS DE PROCEDIMENTOS A DOCUMENTAÇÃO INDIRETA inclui a
devem ser escolhidos de acordo com a área da pesquisa documental e a pesquisa
pesquisa. Dependendo do objeto de pesquisa, bibliográfica.
do objetivo e do tipo de pesquisa, podemos A DOCUMENTAÇÃO DIRETA inclui a
utilizar concomitantemente métodos de observação direta intensiva e a observação
procedimentos diferentes, pois os métodos de direta extensiva.
procedimento se relacionam a cada etapa da a) OBSERVAÇÃO DIR ETA INTENSIVA
pesquisa. Classificam-se, entre outros, em: apresenta as modalidades variadas da
a) histórico: busca fundamentos na história observação e as entrevistas.
passada para compreender e explicar a - As modalidades da observação
sociedade e fatos atuais. compreendem: a sistemática (a estruturada);
b)comparativo: realiza comparações e participante (quando o pesquisador\observador
relações, para averiguar as semelhanças e participa dos fatos observados); não
explicar as diferenças entre fenômenos, entre participante; individual (quando realizada por
sociedades,etc. apenas uma pessoa); em laboratório; em
c) monográfico: ou estudo de caso. equipe.
d) estatístico: utiliza-se da teoria estatística - As entrevistas devem ser bem planejadas,
das probabilidades. de acordo com o objetivo que se propõe a
e) funcionalista: estuda as sociedades a pesquisa e estar de acordo com o público alvo.
partir das funções de suas unidades. Exemplo: O pesquisador deverá ter profissionalismo e
"averiguação da função dos usos e costumes, ética, além de aguçar sua observação e procurar
no sentido de assegurar e explicar a identidade ser imparcial e não influenciar o entrevistado.
cultural do grupo" (ANDRADE, 2002, p.28). Este Deverá o pesquisador deixar claro ao
método, defendido por Bronislaw Malinowski, entrevistado a finalidade da entrevista, a forma
é muito utilizado pela Antropologia. da utilização das informações e da identificação
f) estruturalista: explica a realidade ou a ou não do nome do entrevistado (deverá
sociedade a partir da noção de estrutura, criando possuir essa autorização por escrito).
36
UNIDADE B

Segundo Lakatos e Marconi (1990), as b) OBSERVAÇÃO DIRETA EXTENSIVA é


entrevistas poderão ser organizadas de três utilizada nas pesquisas de campo, através de:
formas: - formulários: consistem em uma série de
- entrevista estruturada ou padronizada: perguntas elaboradas previamente que são
aplicação de perguntas, seguindo um roteiro formuladas oralmente e anotadas as respostas
pré-formulado e que será aplicado a todos os (ou gravadas e transcritas);
entrevistados com o fim de coletar dados e\ou - questionários: conjunto de perguntas
de compará-los; (objetivas ou subjetivas) que são respondidas
- entrevista não estruturada ou pelo entrevistado\informante, sem a presença
despadronizada: um diálogo mais aberto, com do pesquisador;
perguntas também abertas que podem sofrer - testes: instrumento que tem por objetivo
modificações, complementações ou acréscimos, coletar dados de forma quantitativa para
proporcionando mais liberdade ao entrevistado. constatar uma dada realidade ou situação;
MAIORES
Assim, o roteiro pré-elaborado poderá sofrer - história de vida: tem por objetivo coletar INFORMAÇÕES SOBRE
COMO PLANEJAR,
alterações de acordo com o conteúdo do diálogo dados sobre a vida de um determinado APLICAR E UTILIZAR A
e com as informações obtidas. indivíduo, ou de indivíduos que pertencem a ENTREVISTA:

- painel: a partir de um roteiro pré-elaborado um grupo, sociedade, etc., com o fim elucidar, -ANDRADE, Maria
Margarida. Como
pelo pesquisador, aplicar-se-á a entrevista a auxiliar no estudo e na pesquisa que vem sendo Preparar Trabalhos
várias pessoas, em um mesmo local, procurando realizada. É importante que o pesquisador se para Cursos de Pós-
Graduação:noções
fazer com que os informantes exponham suas preocupe em obter, por escrito, a autorização práticas. 5.ed.São
Paulo: Atlas, 2002.
opiniões ou relatos de fatos sobre o mesmo do entrevistado para a utilização das (p.34-37).

tema. informações, especificando a forma de


registrás-la, utilizás-la e divulgás-la, bem como
a autorização do uso (ou a forma de uso) do
nome desse indivíduo.

37
Rodrigo Oliveira de Oliveira

Figura B.7: A História de vida colabora para elucidar um determinado assunto. O entrevistador deve estar preparado
para realizar os questionamentos certos, direcionando a conversa para chegar onde deseja. O uso de perguntas

escritas pode ser uma ferramenta fundamental em uma entrevista.

38
UNIDADE

O PAPEL DAS
TEORIAS EDUCACIONAIS
PRESCRITIVAS NA
PESQUISA
EDUCACIONAL

Objetivos da Unidade
Esperamos que, após essa Unidade, o aluno esteja
apto a:
- identificar a pesquisa enquanto projeto de
emancipação do sujeito;
- perceber a Educação enquanto objeto de
pesquisa, compreendendo a importância dessa
disciplina e de sua aplicabilidade, especialmente na
vida acadêmica;
- possibilitar uma experiência na produção de um
relatório científico de uma pesquisa de campo, em
uma perspectiva qualitativa e transformadora de
Educação.
39
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
A prática na iniciação científica em Educação multidisciplinar. Exige também o gosto pela
e em Educação Especial exige o conhecimento investigação e pelo estudo , bem como o
teórico-técnico da metodologia da pesquisa, e comprometimento ético e social com a
o conhecimento da área em questão, comunidade envolvida.
especialmente com uma perspectiva

40
UNIDADE C

1 A pesquisa educacional
transformadora: ciência
militante?
Diferentemente da pesquisa educacional da pesquisa qualitativa" (1992, p.120).
tradicional, a transformadora, como o próprio A grande citação que segue, de Triviños
nome já diz, tem como objetivo a transforma- (1992), tem por objetivo uma atividade (C-1).
ção social. Esse tipo de pesquisa está inserida Trata-se de assistir ao filme Dança com Lobos
no contexto "pesquisa qualitativa". A pesquisa, no horário determinado no pólo e, a partir dele,
dita qualitativa, desdobra-se em diversos nomes fazer uma análise sobre o personagem e sua
e definições. Variantes como "pesquisa aproximação com a cultura envolvida. Situação
participante", "pesquisa-ação", são algumas das típica de uma investigação etnográfica, na qual
possibilidades de nomenclatura, além de se busca perceber o método de pesquisa, etc.,
investigação etnográfica, termo usado por e trazer elementos para discussão, conforme
Triviños para explicar "A tradição antropológica orientação que você receberá do professor.

A participação do investigador como porém, dependerá, fundamentalmente, do


etnógrafo envolve-o na vida própria da modo como faz a descrição da cultura que
comunidade com todas suas coisas observa e que está tratando de viver em
essenciais e acidentais. Mas sua ação é seus significados. Os atos, as atividades,
disciplinada, orientada por princípios e cerimônias etc., que realizam os sujeitos
estratégias gerais. De todas as maneiras, sua que formam parte do âmbito cultural que
atividade, sem dúvida alguma, está marcada se pretende mostrar, estão relacionados em
por seus traços culturais peculiares, e sua quadros gerais de significados, válidos para
interpretação e busca de significados da todas as pessoas. A função do etnógrafo,
realidade que investiga não podem fugir às assim, "não é tanto estudar a pessoa, e sim
suas próprias concepções de homem e aprender das pessoas" (TRIVIÑOS,1992,
mundo. O valor científico de seus achados, p.121).

Seguindo a idéia de Maria Ozanira da Silva pela metodologia de trabalho nessa perspectiva
e Silva, apresentamos a pesquisa "participante", qualitativa, em que, além da coleta dos dados,
que é uma maneira de "transformar a realidade" realiza-se uma intensa interpretação das
(1991, p. 70). Essa forma de pensar explica-se informações obtidas, objetivando descobrir as
41
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

origens dos fenômenos em questão, e propor "A pesquisa qualitativa é descritiva" (TRIVINÕS,
Rodrigo Oliveira de Oliveira alternativas para transformação dessa realidade. 1992, p. 128).

Figura C.1: A adaptação das escolas à realidade dos portadores de necessidades especiais é um exemplo de

transformações que essas pesquisas podem oferecer à sociedade.

Seguindo nessa linha, Pedro Demo (1989) que originaram tal fenômeno e formas de
aponta para a realização da pesquisa transformá-la.
participante. Seria um autodiagnóstico, em que Thiollent (1992, p.75) segue essa
a conscientização política tem um papel perspectiva de pesquisa dialética histórica-
fundamental: unir a teoria à pratica a partir da estrutural para explicar a pesquisa ação:
realidade social, fazendo da pesquisa um ato
[...] os pesquisadores em educação estariam
político-conscientizador, e não político-
em condição de produzir informações e
manipulador. conhecimentos de uso mais efetivo,
inclusive ao nível pedagógico. Tal orientação
Assim como todo tipo de pesquisa, a
contribuiria para o esclarecimento das
pesquisa qualitativa está intrinsecamente microssituações escolares e para a definição
relacionada à teoria e à metodologia. As duas de objetivos de ação pedagógica e de
transformações mais abrangentes .
vertentes que exploram esse caráter qualitativo
da pesquisa são a dialética histórico-estrutural A fenomenologia trata os fenômenos
e a fenomenológica. educacionais como sendo também fenômenos
A dialética histórico-estrutural tem uma sociais. Segundo Triviños (1992), ela pertence
aproximação de análise dos fenômenos com o ao idealismo filosófico e, mais especificamente,
materialismo dialético do marxismo. Ele não o subjetivo. Um de seus grandes mentores foi
exclui a quantificação do processo de Edmund Husserl. Para ele (apud TRIVIÑOS,
construção do conhecimento, mas prioriza a 1992, p.42-43), a ciência deverá ser rigorosa,
teorização em cima das estruturas existentes para alcançar o objetivo da redução
42
UNIDADE C

fenomenológica. Ou seja, a fenomenologia é o O conhecimento construído a partir do


estudo das essências e de todos os problemas. estudo qualitativo da pesquisa educacional,
Nesse sentido, são importantes as noções retorna para sociedade na forma de sugestões
de intencionalidade e de questionabilidade do de transformação da lógica educacional. Seja
conhecimento, pensando a intencionalidade sugestão de interação entre alunos e
como idéia básica. A fenomenologia prima por professores, por exemplo, seja sugestão de
trazer a consciência da realidade, do sujeito reorganização espacial da sala de aula.
enquanto ser social-cultural, priorizando a Um exemplo bem prático de pesquisa
intenção desses atores enquanto seres culturais. educacional transformadora é o Curso de
Ao reconhecer a atenção dada a um Educação a Distância que você está
determinado objeto, cria-se um novo objeto de participando. Para realização desse projeto, foi
estudo, a intencionalidade do sujeito no necessário um levantamento das regiões mais
momento da escolha desse objeto. Essa escolha carentes do Rio Grande do Sul, dos profissionais
é permeada de influências culturais e sociais, e que atuam na área de Educação Especial. Após
a consciência dessa escolha é primordial. A tal levantamento dos dados, foi constatado que
busca pela essência dos fenômenos, faz com as regiões Sul e Oeste do Estado deveriam ser
que não se leve em conta a historicidade dos o foco do projeto. Nesse sentido, o projeto se
mesmos, fazendo com que a fenomenologia encaminhou para a mudança social. Esse
sofra algumas críticas, sendo considerada sistema de ensino a distância visa qualificar os
conservadora (TRIVIÑOS, 1992). futuros professores, para que esses, pelo
conhecimento adquirido, repassem suas
habilidades para a sociedade. É a transformação
social.

43
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 A pesquisa educacional
convencional: ciência
neutra e/ou objetiva?
Seguindo a definição de Demo (1989), a uma comunidade, faz questionários, entrevistas,
pesquisa educacional convencional (tradicional), e não há reciprocidade na interação de sujeito
é feita através do tradicionalismo empirista e e objeto. O objeto acaba sendo um "campo de
positivista, que seleciona na realidade o que se observação" para manipulação científica. Não
encaixa ao método. Essa metodologia de existe um retorno para a comunidade, o
pesquisa, como já foi dito, possui diversas falhas. benefício, neste caso, é unilateral com apenas
Ao priorizar uma suposta neutralidade científica, o registro dos dados sem a teorização destes.
coloca a prática em um segundo plano, trazendo O empirismo dessa metodologia de
à tona discussões que não visam a pesquisa acaba tratando a Educação de uma
transformações sociais. forma bem simplista. Trata-se de dizer que as
As necessidades de transformações sociais estatísticas servem como um meio de
ou da análise crítico-científica não são as comprovar as hipóteses. Para esclarecer um
preocupações dessa metodologia de pesquisa. pouco o perigo que decorre dessa abordagem
Todos os significados políticos e sociais dos em torno da Educação, Thiollent (1985, p.33),
fenômenos estudados são postos de lado, discorrendo sobre hipóteses e comprovações,
fazendo com que esse tipo de pesquisa sirva assinala sua opinião sobre o contexto social, e
como legitimadora do conservadorismo. Esse que pode ser aplicado ao educacional,
aspecto da pesquisa educacional convencional conforme pode-se observar no trecho que
reflete-se nos procedimentos metodológicos segue:
que acabam tratando o seu "objeto de estudo" O padrão convencional de pesquisa social
como uma simples "cobaia", sem muito empírica adota, em geral, um esquema
hipotético baseado em comprovação
colaborar com soluções e alternativas. estatística freqüentemente associado ao
A preocupação com o levantamento de experimentalismo. Esta concepção tem seus
méritos e seus defeitos. Mas o que importa
dados, uma abordagem de pesquisa é salientarmos que este esquema não é o
quantitativa, que prioriza e se satisfaz apenas único possível, sobretudo no contexto
impreciso da pesquisa social. Sem
com os dados estatísticos em detrimento da abandonarmos o raciocínio hipotético,
análise das subjetividades dessas informações, parece-nos perfeitamente cabível a
formulação de quase-hipóteses dentro de
é o procedimento mais usual desse tipo de
um quadro de referência diferente e,
pesquisa. Diversas vezes um pesquisador vai até principalmente, qualitativo e argumentativo.

44
UNIDADE C

Convidamos você para uma discussão Com as informações necessárias para diferenciação entre

sobre o assunto tratado até aqui nesta pesquisa educacional convencional e transformadora, e com a

Unidade, de acordo com o método e noção das vantagens sociais que envolvem uma abordagem

recurso que o seu professor orientará e qualitativa de pesquisa, torna-se possível a realização de uma

disponibilizará no ambiente virtual de outra atividade que ponha em prática esses conhecimentos,

aprendizagem. Porém, antes disso, você levando-se em conta o compromisso social que envolve sua

deverá assistir ao filme Dança com Lobos, futura profissão. Mas antes de dar prosseguimento para a

preferencialmente na sede de seu pólo. realização da Atividade C-2, torna-se necessário uma pequena

Para tanto, releia com atenção também as explicação sobre relatórios de pesquisa, uma vez que, na

explicações e orientações apresentadas próxima atividade, essa estrutura também será necessária.

anteriormente sobre a pesquisa educacional


transformadora.

RELATÓRIO DE PESQUISA
Existem várias formas de se organizar e você, além de ter uma orientação teórica
produzir um relatório, dependendo apenas sobre a produção do conhecimento
de se sua finalidade, como por exemplo: científico na área educacional, tenha uma
relatório de viagens, relatório de eventos, experiência na iniciação científica. Para
relatório de estágio, relatórios tanto, você realizará a prática de como
administrativos, relatórios técnico- fazer um relatório técnico-científico.
científicos, entre outros. O relatório técnico-científico é um
Nessa disciplina e respectiva Unidade, documento original pelo qual se fazem o
trataremos de uma forma básica do Relatório registro e a divulgação das informações
Técnico-Científico, porque objetivamos que obtidas na pesquisada realizada.

45
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

ESTRUTURA DO RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO


Capa preferencialmente, na mesma página do
Folha de Rosto texto, o nome do autor, do professor/orien-
Prefácio ou apresentação(opcional) tador, nome da Instituição e centro de ensi-
Agradecimentos(opcional) no, nome do curso, local e data da entrega.
Resumo
Listas (quando houver) b) Introdução: deverá apresentar, em
Sumário forma de texto, a delimitação do tema, a
Introdução problemática, os objetivos, a justificativa, o
Metodologia referencial teórico(com revisão da literatu-
Resultados e discussão ra), e os principais temas ou subte-mas que
Conclusões e/ou recomendações serão desenvolvidos. A Introdução não apre-
Referências senta as conclusões e nem resultados finais.
Glossário (opcional)
Anexos e/ou Apêndices (quando houver) c) Metodologia: descrevem-se o objeto de
estudo, os métodos e técnicas utilizadas,
A Capa, Folha de Rosto, Prefácio, Agra- definindo o tipo de pesquisa, destacando
decimentos, Sumário, Listas, Referências, que tipo de fontes foram utilizadas, como
Glossário, Apêndice e Anexos seguem as foi feito o levantamento de dados, sua
orientações e modelo da MDT- estrutura e classificação e análise, os fundamentos da
apresentação de monografias, disserta- abordagem e os procedimentos seguidos.
ções e teses, editado pela UFSM (6.
edição), em 2005, que você encontrará d) Resultados e Discussão: apresentam-
na Biblioteca do Pólo e na página da UFSM se os resultados obtidos bem como sua
(www.ufsm. br) publicação da Pró-Reitoria análise, parecer e discussão (interpretação
de Pós-Graduação e Pesquisa. Quanto as crítica e analítica dos resultados e
demais partes : metodologia adotada).

a) Resumo: "É a recapitulação concisa do e) Conclusão: relatam-se as conclusões


texto do trabalho, no qual são destacados obtidas com o final do trabalho, procurando
os elementos significativos e as novidades. demonstrar em que medida os objetivos
É uma condensação do conteúdo desenvol- propostos foram alcançados. Poderá
vido e deve expor as finalidades, a metodo- apresentar sugestões e fazer recomenda-
logia, os resultados e as conclusões (MDT- ções. Na conclusão, não são apresentados
UFSM, 2005, p.19) da pesquisa em pará- novos dados ou informações, mas uma sín-
grafo único. O Resumo deverá ter no tese da experiência pessoal e das devidas
máximo 250 palavras, e deverá constar, conclusões chegadas com a pesquisa.

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UNIDADE C

Avaliação Presencial da Disciplina O que é uma Comunicação Científica?

Partindo dos dados levantados na atividade É uma das formas de apresentação oral dos resultados finais ou

B-3: parciais de uma pesquisa. Deverá ser apresentada de forma

a) transforme o projeto ou plano de clara, objetiva e bem estruturada(organizada), destacando os

pesquisa, feito anteriormente(unidade B) principais tópicos: anunciar o tema e sua delimitação, os

em um plano de uma pesquisa qualitativa. objetivos, a metodologia utilizada (com as fontes, etc.), expor e

A entrega será junto ao relatório; analisar o problema e apresentar os resultados e conclusões

b) apresente um Relatório Técnico- obtidas. Lembrar que, de acordo com o tempo (hora, minutos)

Científico, de forma sintética, dos dados e disponível para expor o trabalho, calcule de 40 a 50% deste

da análise crítica deles, visando a construir tempo, para ser dedicado a apresentação dos resultados e

uma pesquisa educacional transformadora. conclusões.

Com essa atividade, você estará Poderão ser utilizados recursos audiovisuais para agilizar e dar

manipulando os dados levantados em uma mais clareza à exposição. O tempo deverá ser seriamente

pesquisa quantitativa, e partirá para uma respeitado, podendo, após a conclusão da apresentação,

elaboração de uma pesquisa qualitativa. serem feitas perguntas ao(s) pesquisador(es).

Manter os mesmo grupos da atividade B-3;


c) os trabalhos serão entregues de forma
escrita à Coordenação do Pólo, para serem
remetidos para Santa Maria (até uma
semana anterior à aula da avaliação
presencial). Posteriormente, deverão
apresentar o Relatório de forma oral, em
aula presencial, cada grupo terá o tempo
máximo de 20 minutos para relatar sua
experiência e conclusão, em forma de uma
comunicação científica. Os trabalhos
acadêmicos deverão ser entregues
seguindo as normas da UFSM, que constam
na MDT 2005;
d) a data da entrega será informada por
seu professor, bem como o agendamento
da aula presencial em seu pólo.

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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Referências
Referências bibliográficas BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques; SHOUTHEETE,

utilizadas na elaboração da Marc de. Dinâmica da Pesquisa em Ciências


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ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar Barcelona: Ariel, 1976.
Trabalhos para Cursos de Pós-Graduação. 5 ed.

São Paulo: Atlas, 2002. CONTANDRIOPOULOS, André-Pierre. et al. Saber


Preparar uma Pesquisa. Definição, Estrutura e
DEMO, Pedro.Pesquisa. Princípio Científico e Financiamento. 3 ed. São Paulo: Hucitec; Rio de

Educativo. São Paulo: Cortez, 1990. Janeiro: Abrasco, 1999.

PADOIN, Maria Medianeira. et al. MDT - Manual de CRUZ, Carla; RIBEIRO, Uirá. Metodologia Científica.

Estrutura de Monografias, Dissertações e Teses. 6 Teoria e Prática. 2 ed. Rio de Janeiro: Axcel Boocks do
ed. Santa Maria: UFSM, 2005. Brasil Editora, 2004.

SEVERINO, Joaquim Severino. Metodologia do DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências

Trabalho Científico. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2002. Sociais. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1989.

TRIVINOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 3

Ciências Sociais. A Pesquisa Qualitativa em Educação. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
O Positivismo; A Fenomenologia; O Marxismo. São
Paulo: Atlas, 1992. FAZENDA, Ivani. (Coord.). Novos Enfoques da

Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 1992.

_____. (Coord). Metodologia da Pesquisa

Bibliografia Geral Educacional. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2004.


AZEVEDO, Israel Belo. O Prazer da Produção
Científica. 2 ed. Piracicaba: UNIMEP, 1993. JUNG, Carlos Fernando. Metodologia Para Pesquisa

& Desenvolvimento. Aplicada a Novas Tecnologias,


BECKER, Howard S. Métodos de Pesquisa em Produtos e Processos. Rio de Janeiro: Axcel Boocks do
Ciências Sociais. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 1997. Brasil Editora, 2004.

LAKATOS ; MARCONI . Fundamentos de


Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1990.
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REFERÊNCIAS

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Fronteiras do Conhecimento. Santa Maria: CESMA, participante. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1991.
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Janeiro: edUERJ, 1998.

SEABRA, Giovanni de Farias. Pesquisa Científica: O


método em questão. Brasília: Editora Universidade de

Brasília, 2001.

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