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Estratégia de UX Jaime Levy
Estratégia de UX Jaime Levy
“Se você quer aprender a criar produtos que as pessoas querem e dos quais
precisam, este livro é uma leitura obrigatória. Estratégia de UX aborda o
que se deve fazer antes do design e do código – pesquisa de mercado,
validação das ideias de negócio, criação de protótipos, pesquisa de usuário e
outras tarefas.”
Steve Blank, um dos criadores da Lean Startup,
pai do empreendedorismo moderno
“A vida é muito curta para fazer o design de uma UX incrível para algo que
ninguém quer. Guarde seu tempo e seus recursos colocando, antes, em
prática as técnicas da estratégia Lean defendidas neste livro.”
Ash Maurya, autor de Running Lean e criador do Lean Canvas
“Jaime criava uma UX inovadora muito antes de ela ser chamada de UX.
Leia este livro, aprenda a não atrapalhar seus clientes e crie valor para todos
que entrarem em contato com seus produtos!”
Douglas Rushko , teorizador de mídias, autor e apresentador
de Team Human, autor de Present Shock e Program to be Programmed
Jaime Levy
Novatec
Authorized Portuguese translation of the English edition of UX Strategy 2E ISBN 9781492052432 ©
2021 Jaime Levy. This translation is published and sold by permission of O'Reilly Media, Inc., the
owner of all rights to publish and sell the same.
Tradução em português autorizada da edição em inglês da obra UX Strategy 2E ISBN
9781492052432 © 2021 Jaime Levy. Esta tradução é publicada e vendida com a permissão da
O'Reilly Media, Inc., detentora de todos os direitos para publicação e venda desta obra.
© Novatec Editora Ltda. [2021].
Editor: Rubens Prates
Tradução: Lúcia A. Kinoshita
Revisão gramatical: Tássia Carvalho
ISBN do ebook: 978-65-86057-66-9
ISBN do impresso: 978-65-86057-65-2
Histórico de impressões:
Setembro/2021 Primeira edição
Novatec Editora Ltda.
Rua Luís Antônio dos Santos 110
02460-000 – São Paulo, SP – Brasil
Tel.: +55 11 2959-6529
Email: novatec@novatec.com.br
Site: https://novatec.com.br
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Sumário
[ Prefácio ]
[ 1 ] O que é estratégia de UX?
Evolução do termo estratégia de UX
[ 5 ] Analisando a concorrência
Proposição de valor de sucesso, parte 2
O que é uma análise?
Os quatro passos para a condução de uma análise competitiva
É hora de se posicionar
Recapitulando
[ 10 ] Desfecho
[ Referências ]
Sobre a autora
Colofão
[ Prefácio ]
Uma estratégia diz respeito a ligar os pontos. Ela exige que você olhe para
o que aconteceu no passado e o que está acontecendo no presente para
dar melhores palpites sobre o futuro. Pessoas que criam estratégias devem
ser bastante curiosas, objetivas e destemidas. Devem estar dispostas a
correr riscos e, falando metaforicamente, devem perseguir e matar suas
presas mirando diretamente a garganta. Como faz o chacal-de-dorso-
negro que está na capa deste livro.
A estratégia de UX (User Experience, ou Experiência de Usuário) está na
intersecção entre o UX design e a estratégia de negócios. É uma prática
que, quando aplicada empiricamente, oferece uma chance muito maior de
ter um produto digital de sucesso, em vez de apenas cruzar os dedos, fazer
o design de alguns wireframes e então escrever um punhado de código.
Este livro apresenta um framework robusto para a prática da estratégia de
UX. É voltado especi camente para a criação de produtos inovadores,
descrevendo diversas técnicas simples que podem ser usadas
independentemente de seu ambiente de trabalho. Os princípios básicos
da estratégia de negócios não precisam ser um mistério que exija alguém
com um MBA para serem entendidos. A estratégia, assim como o design,
é algo que você poderá dominar somente com a prática.
Faça uma cópia dessa pasta de trabalho. Se você prefere o Google Sheets,
certi que-se de que está logado em sua conta Google e clique em
File>Make a copy (Arquivo>Fazer uma cópia). Se prefere o Microsoft
Excel, clique em File>Download>Microsoft Excel (.xlsx) [Arquivo>Fazer
o download>Microsoft Excel (.xlsx)]. Com a sua própria cópia, você terá
privilégios de edição e compartilhamento, portanto, não deixe de
compartilhá-la com a sua equipe. Há abas na parte inferior da planilha,
com as quais é possível alternar entre as diferentes ferramentas.
A estratégia de UX exige colaboração entre os membros da equipe e os
stakeholders. Não importa se você é um aluno em uma sala de aula, uma
startup em ascensão ou uma equipe multifuncional em uma empresa. As
técnicas não funcionarão a menos que todos compartilhem o objetivo
comum de descobrir uma solução por meio de experimentação. A melhor
maneira de promover a colaboração nesta era digital é por meio de
ferramentas de nuvem, e o kit de ferramentas para nuvem deste livro
ajudará você a alinhar suas equipes locais e remotas em torno da mesma
visão do produto. As ferramentas também são ótimas porque vocês
poderão trabalhar juntos de forma síncrona e assíncrona no mesmo
documento.
Para obter mais informações sobre livros da Novatec, acesse nosso site
em:
https://www.novatec.com.br
Agradecimentos
Para escrever a primeira edição de Estratégia de UX, recebi muitas
orientações de Sarah Dzida. Ela fez de tudo: me ajudou a escrever a
proposta para o livro, serviu como coach de escrita do capítulo de
amostra até a versão nal, atuou como editora principal e aplicou seus
talentos geniais para estruturar e entrelaçar todas as loucas narrativas ao
longo dos capítulos, criando uma narrativa uida. Quando o livro estava
pronto, eu disse a ela que jamais escreveria outro. Ela riu, com um ar
sugestivo.
Avancemos cinco anos no tempo. Por causa do sucesso do livro, dei
palestras em várias conferências de estratégia e de design, e conheci
pessoas que criavam produtos no mundo todo. Também tive novos
insights e aperfeiçoei minhas técnicas de estratégia de produto. Decidi
escrever a segunda edição e me vi trabalhando sozinha, em bibliotecas, até
que a pandemia de COVID-19 nos atingiu. Foi então que convenci uma
aluna minha de pós-graduação chamada Jessica Lupanow a ser minha
pesquisadora e inspiradora. Nós nos reunimos durante praticamente todo
o ano de 2020 por meio do Zoom, trabalhando nos documentos de cada
capítulo, compartilhados no Google. Jessica é muito perspicaz,
extremamente sagaz e tem habilidades para pesquisar de forma
incrivelmente rápida. Você pode testemunhar algumas de nossas várias
sessões de escrita divertidas, cheias de sinergia, pesquisando “UX Strategy
(2nd Edition) Book Editing Sessions playlist” no YouTube.1
Também gostaria de estender minha gratidão a estas pessoas:
• Obrigada a Ena De Guzman, Nico Filip-Sanchez, Lane Goldstone,
Je rey Head, Ulrich Höhfeld, Jared Krause, Darren Levy, Sebastian
Philipp, Douglas Rushko , Bita Sheibani, Matt Stein, Eric Swenson,
Svenja von Holt, Indi Young, Marvin Zindler e à minha turma do
verão de 2020 de UX Strategy na University of Southern California.
• Obrigada à O’Reilly Media e à minha equipe de edição, Mary Treseler
e Angela Ru no.
• Obrigada ao meu incrível lho Terry por me dar essa especial razão de
viver. Dedico este livro a ele e à minha querida mãe, Rona.
Obrigada a Los Angeles e Berlim por serem cidades maravilhosas para
morar e escrever.
Jaime Levy
Los Angeles/Berlim
1 Jaime Levy e Jessica Lupanow, “UX Strategy (2nd Edition) Book Editing Sessions”, [(Sessões de
revisão do livro UX Strategy (2ª edição)], YouTube, 2020, https://oreil.ly/Ezd0R.
[1]
O que é estratégia de UX?
Figura 1.1 – Várias telas com o uxo para acionar o seguro da Metromile.
Seis anos se passaram e vemos que Merholz, em sua maior parte, estava
certo. A prática da estratégia de UX que descrevi na primeira edição do
meu livro atualmente é sinônimo de estratégia de produto. Enquanto isso,
o termo estratégia de UX é usado com mais frequência com o sentido de
trabalhar estrategicamente com a UX em uma empresa ou unidade de
negócios em particular: de que maneira o departamento de UX deve ser
administrado, como avaliar e melhorar as habilidades de sua equipe,
como ampliar o alcance e a in uência de sua equipe de UX e como
priorizar os projetos de UX que possam ter o máximo de ROI (Return on
Investment, ou Retorno sobre o Investimento).7 Ela tem um foco maior em
processos.
1 Robert Frost, “The Road Not Taken”, Mountain Interval (Nova York: Henry Holt), 1916.
2 N.T.: Esta e as demais citações no início dos capítulos foram traduzidas livremente com base no
texto original em inglês.
3 Andrew Kucheriavy, “How Customer-Centric Design Is Improving the Insurance Industry”
(Como o design centrado no cliente está melhorando o mercado de seguros), Forbes, 17 de abril
de 2018, https://oreil.ly/8-Ceg.
4 Indi Young, Mental Models (Nova York: Rosenfeld Media, 2008).
5 N.T.: Tradução livre, com base no texto original em inglês.
6 Jaime Levy, UX Strategy, 1ª edição. (Sebastopol, CA: O’Reilly, 2015). (N.T.: Tradução livre da
citação, com base no texto original em inglês.)
7 Jared Spool, “A UX Strategy Workshop Led by Jared Spool” (Um workshop de estratégia de UX
conduzido por Jared Spool), Creating a UX Strategy Playbook, https://playbook.uie.com.
8 “Critical Thinking” (Pensamento crítico), Wikipédia, https://oreil.ly/J34r8.
[2]
Os quatro princípios da estratégia de UX
3. Canais (Channels)
Como alcançamos o nosso segmento de clientes? Quais são todos os
pontos de interação quando os clientes entrarem em contato com o
produto?
Para a Metromile: acessam seus clientes em potencial e os clientes já
conquistados por meio de seu site online, aplicativo móvel, redes sociais
e por meio de sua equipe 24/7 para acionamento do seguro e o serviço
de assistência ao cliente, disponíveis por telefone, email e uma série de
canais digitais como SMS, Facebook, Messenger etc.
4. Relacionamento com os clientes (Customer Relationships)
Descreve o tipo de relacionamento que a empresa terá com o cliente.
Pode variar de um serviço especial personalizado até um serviço self-
service impessoal, no qual o cliente na verdade jamais entrará em
contato com uma pessoa.
Para a Metromile: oferecem um serviço personalizado ou uma
assistência automatizada. Assim como as seguradoras tradicionais, eles
disponibilizam uma equipe especial de vendas por telefone para aqueles
que preferem conversar com alguém quando adquirirem o seguro. No
meu caso, porém, eu adquiri o serviço pelo site da empresa. Só conversei
com uma pessoa depois de ter acionado o meu seguro na ocasião do
acidente.
5. Fluxos de receita (Revenue Streams)
Um uxo de receita é o modo como a empresa ganha dinheiro. Há
várias maneiras de uma empresa ter receita, incluindo publicidade,
assinaturas, vendas diretas, funcionalidades especiais e taxas de
transação.
Para a Metromile: cobram dos clientes uma taxa mensal básica, mais
uma taxa de uso por milha.
6. Recursos principais (Key Resources)
Quais são os recursos estratégicos que a empresa deve ter para que o
produto funcione? Os recursos podem ser humanos, nanceiros,
intelectuais ou físicos. Podem ser algo que precise ser desenvolvido.
Para a Metromile: o primeiro recurso principal, que teve de ser
desenvolvido, foi uma equipe de pessoas para criar seu dispositivo
Metromile Pulse, para capturar e sintetizar os dados de condução dos
veículos de seus clientes com exatidão. Em seguida, tiveram de construir
uma plataforma para processar os pedidos de sinistro de modo mais
e caz, usando inteligência arti cial e aprendizado de máquina (machine
learning). Também precisaram das pessoas que desenvolveram e
projetaram a plataforma, assim como dos membros das equipes que
cuidam dos pedidos de sinistro para garantir que seus clientes sejam
atendidos de modo apropriado.
7. Atividades principais (Key Activities)
Quais são as atividades principais que a empresa deve executar para que
seu modelo de negócios funcione? Isso inclui atividades que permitam à
empresa conquistar clientes e garantir que eles desfrutem a proposição
de valor. As atividades nos bastidores também devem ser identi cadas
para garantir que a empresa seja capaz de cumprir essas promessas.
Para a Metromile: precisam de áreas sólidas de marketing e vendas, de
produto, de design e de engenharia, de um processamento e caz dos
pedidos de sinistro e assim por diante.
8. Parceiros principais (Key Partners)
Quais parceiros e fornecedores são necessários para a empresa entregar
sua proposição de valor?
Para a Metromile: a empresa depende de parceiros para diferentes
aspectos de sua proposição de valor, por exemplo, o cinas, locadoras de
automóveis, serviços de assistência rodoviária, reparo de vidros e
locadoras de veículos por períodos breves.
9. Estrutura de custos (Cost Structure)
Quais são os principais custos envolvidos para fazer o modelo de
negócios funcionar? Há custos xos que nunca deixam de existir?
Estamos tentando cortar custos deixando de lado o que é supér uo?
Para a Metromile: o maior custo da empresa está no conserto dos
veículos quando os clientes acionam o seguro. Custos xos incluem os
salários dos funcionários, aluguel, computadores, serviços de
hospedagem na internet e seguro.
Ao usar o Canvas, os criadores de produtos podem sistematicamente
reunir todas as suas hipóteses sobre o produto em um só lugar. Em
seguida, eles o revisam à medida que passarem pela fase de descoberta, e
é algo que você verá quando zermos a descrição de todas as técnicas
presentes neste livro. Para esse princípio, porém, esse é outro local em que
podemos ver a intersecção entre a estratégia de negócios e a estratégia de
UX. Muitas das preocupações do Business Model Canvas – segmentos de
clientes, canais, proposições de valor, uxos de receita e relacionamento
com os clientes – são elementos essenciais para criar uma experiência
online e o ine de um produto e, conforme vimos, são fatores
fundamentais para a nossa vantagem competitiva.
Isso nos leva a perceber como o Business Model Canvas também destaca a
importância da colaboração entre os stakeholders e os membros da
equipe na fase de descoberta. Categorias como recursos principais,
estrutura de custos e parcerias não são itens sobre os quais um gerente de
produto ou designer devam pensar isoladamente. Na verdade, são
categorias para as quais os stakeholders podem oferecer inúmeros
insights.
Lean Canvas
Outra ferramenta ótima para testar hipóteses sobre modelos de negócio é
o Lean Canvas. O Lean Canvas foi criado por Ash Maurya em 2010 –
cerca de dois anos depois que o Business Model Canvas foi lançado.
Maurya disse o seguinte: “Meu principal objetivo com o Lean Canvas foi
deixá-lo o mais prático possível, ao mesmo tempo que o foco é mantido
no empreendimento”.11 O Lean Canvas também é mais autoexplicativo e
se concentra no problema que precisa ser resolvido. Vamos analisar o
Lean Canvas (veja a Figura 2.3) aplicado à Metromile a m de compará-lo
com o Business Model Canvas. Os números representam a ordem lógica
para atacar cada componente.
O Lean Canvas substitui quatro componentes (atividades principais,
recursos principais, parceiros principais e relacionamento com os clientes)
do Business Model Canvas pelo seguinte:
2. Problema (Problem)
São os três principais problemas enfrentados pelo segmento de clientes.
Para a Metromile, havia três problemas a serem resolvidos:
• O seguro do meu carro é caro demais, considerando que eu dirijo
pouco.
• Sempre que tenho de acionar o seguro, a experiência é horrível.
• Minha seguradora não faz nada além de me deixar esperando por
muito tempo quando faço uma chamada.
Figura 2.3 – Lean Canvas: adaptação do Business Model Canvas, Ash Maurya, 2010.
4. Solução (Solution)
São as três principais possíveis soluções para os problemas.
Para a Metromile, havia três soluções pelas quais deveriam lutar:
• Preço pago por milha.
• Sistema de processamento de pedidos de sinistro sem complicações.
• Serviço com alto nível de interação com os clientes, experiência de
usuário sem complicações (desktop + aplicação nativa), com
funcionalidades convenientes que vão além de simplesmente visualizar
a apólice.
8. Métricas principais (Key Metrics)
Métricas principais são as atividades que determinam a retenção e o
faturamento.
Para a Metromile, são:
• Adesão de novos clientes.
• Satisfação geral com a experiência de acionamento do seguro.
• Pontuações elevadas de NPS e CSAT.
• Engajamento com o aplicativo.
9. Vantagem injusta (Unfair advantage)
Uma vantagem injusta (unfair advantage) é algo que não pode ser
facilmente copiado nem comprado.
Para a Metromile, eles têm as seguintes vantagens injustas:
• ADA Claims Automation System (Sistema de Automação de Pedidos
de Sinistro ADA).
• Líder de mercado no pagamento por milha.
• Dados de telemática para todos os seus segurados, em oposição a tê-
los somente para uma parte deles.
Há outros modelos por aí, mas esses são os dois mais conhecidos. O mais
importante é que você terá documentos exíveis para manter o controle
das suposições em seu modelo de negócios e dos aprendizados, de um
modo que possam ser compartilhados e discutidos com outras pessoas.
Essas ferramentas servem como pontos de partida para discussões
relevantes sobre o modelo de negócios e a estratégia do produto. Elas não
são planos executáveis e infalíveis para a sua estratégia de negócios.
Além disso, quando o produto escalar e o mercado evoluir, a estratégia de
negócios deverá ser ágil. Para um novo produto, uma estratégia
provavelmente estará relacionada a apenas conseguir adequação su ciente
do produto/mercado12 a m de levantar nanciamentos ou conquistar
uma fatia de mercado su ciente para poder tirar proveito da base de
usuários e transformá-la em uma vantagem competitiva. No entanto, para
uma empresa mais madura, a estratégia diz respeito a trabalhar com a
proposição de valor principal da empresa, ao mesmo tempo que se
procura evoluir a infraestrutura e os processos internos da empresa para
dar suporte a esse crescimento, muitas vezes chamado de transformação
digital. A Net ix é um ótimo exemplo de uma empresa que passou por
mais de uma transformação digital. Ela começou enviando DVDs pelo
correio, mas depois se transformou em um grande serviço de streaming
de vídeos. Atualmente, o conteúdo original da Net ix passou a ser uma
parte mais importante ainda de seus negócios. Pense em como a
infraestrutura da empresa, os sistemas e a força de trabalho tiveram de
mudar para fazer tudo isso.
É desse modo que o que pode ter sido o modelo de negócios ou a
vantagem competitiva no início do ciclo de vida de um produto talvez não
sejam mais os mesmos em fases posteriores. No entanto, ao perseguir esse
alvo móvel, as empresas devem continuar a fazer experimentos com
ofertas variadas para que possam escalar, permanecer competitivas e
continuar a proporcionar valor aos usuários em um mercado
constantemente em mudança.
Figura 2.6 – Comentários na página do Airbnb em que anunciei minha quitinete para locação.
Figura 2.7 – Eu consulto minhas Figura 2.8 – Vejo o caminho como um todo e caminho até a
opções de rotas. plataforma do trem elétrico (tram).
Figura 2.9 – Na plataforma, veja uma sinalização Figura 2.10 – Vejo que estou chegando na
que informa que o trem está no horário. segunda parada, de um total de sete.
Figura 2.11 – Meu telefone envia um alerta Figura 2.12 – Na plataforma do metrô, vejo qual
informando que devo descer na próxima é a melhor seção para eu me sentar no trem.
parada.
Figura 2.13 – O metrô chega Figura 2.14 – Meu telefone envia um alerta informando que
na estação no horário devo me preparar para trocar de plataforma na próxima
esperado. parada.
Figura 2.15 – Vejo qual é o melhor ponto para sair da Figura 2.16 – Consulto minha rota a pé e
estação depois que descer do metrô. quanto tempo devo demorar.
Figura 2.17 – Vejo que estou no nal de Figura 2.18 – Encontro meu amigo e a sua lha
minha caminhada e guardo o meu telefone. no mercado de pulgas no horário marcado.
Como você pode ver, a cada passo do caminho, eu sabia onde eu estava, o
que precisava fazer em seguida e, quase com exatidão, quando chegaria ao
meu destino tomando um trem elétrico, dois metrôs e fazendo uma rápida
caminhada. Durante o trajeto, o aplicativo segurou a minha mão, fazendo
sugestões sobre o local em que eu deveria me sentar no metrô e em qual
estação deveria descer para otimizar o meu caminho. Por muitos anos, o
Citymapper tem sido uma parte indispensável de minha vida.
Produtos como o Citymapper chegaram aonde estão, não por causa da
execução de um plano de negócios estático, um sprint de design de uma
semana ou uma fase de descoberta de UX de duas semanas, mas por meio
de experimentos, falhas e iterações ao longo de meses e, às vezes, anos.
Foram os insights nascidos dos meandros estratégicos que oresceram e
se transformaram no design de um produto incrivelmente inspirador. Foi
o modo como os fundadores da empresa e as equipes nos bastidores
assumiram riscos enquanto montavam os blocos de construção dos
modelos de negócio de seus produtos. Eles aprimoraram sua estratégia e
conquistaram clientes fervorosos.
No decorrer deste livro, discutirei outros produtos que têm experiências
de usuário descomplicadas. São designs de UX que não “aconteceram”
apenas por sorte, em sessões de concepção ou porque são um “design de
gênio” São designs sem complicações por causa da manifestação dos
quatro princípios. É somente com a prática e com muita consciência que
passaremos a entender o produto como uma soma de suas partes tanto
tangíveis como intangíveis.
Recapitulando
A estratégia de UX é uma prática empírica. Não é um modo de formular e
executar um plano perfeito, mas diz respeito a ser capaz de pesquisar o
que há lá fora, analisar o panorama das oportunidades, testar hipóteses,
falhar, aprender e iterar, até conceber algo de valor que as pessoas
realmente queiram. Você terá de correr riscos e aceitar os fracassos.
Aprenderá a falhar com inteligência fazendo experimentos rápidos para
validar se a sua estratégia está levando sua equipe para a direção correta.
1 Sun Tzu, Art of War, trad. Lionel Giles (Londres: Luzac and Co., 1910). [N.T.: Edição publicada
no Brasil: A Arte da Guerra (Record, 1983)].
2 Dave Gray, Sunni Brown e James Macanufo, Gamestorming: A Playbook for Innovators,
Rulebreakers, and Changemakers (Sebastopol, CA: O’Reilly, 2010). [N.T.: Edição publicada no
Brasil: Gamestorming: jogos corporativos para mudar, inovar e quebrar regras (Alta Books, 2012).]
3 Michael Porter, Competitive Advantage (Nova York: Free Press, 1985). [N.T.: Edição publicada no
Brasil: Vantagem competitiva (Campus, 1989).]
4 Tyler Sonnemaker, “Amazon Employees Say They’re Scared to Go to Work, but They’re Not
Alone – Here Are 9 Big Companies Facing Worker Criticism Over Their Coronavirus Safety
Response” (Funcionários da Amazon dizem que estão com medo de ir ao trabalho, mas eles não
estão sozinhos – aqui estão nove grandes empresas que enfrentam críticas dos funcionários
pelas suas medidas de segurança contra o Coronavírus ), Business Insider, 1 de maio de 2020,
https://oreil.ly/vfuo9.
5 Emily Guskin, “Hurricane Sandy and Twitter” (O furacão Sandy e o Twitter), Pew Research
Center, 6 de novembro de 2012, https://oreil.ly/IDOtj.
6 “New Features Ahead: Google Maps and Waze Apps Better Than Ever” (Novas funcionalidades
à frente: aplicativos Google Maps e Waze melhores do que nunca), Google Maps Blog, 20 de
agosto de 2013, https://oreil.ly/9-3sx.
7 Douglas Rushko , “Does Facebook Really Care About You?” (O Facebook realmente se importa
com você?), CNN, 23 de setembro de 2011, https://oreil.ly/DSJ-k.
8 Steve Blank e Bob Dorf, The Startup Owner’s Manual (Hoboken, NJ: Wiley, 2012).
9 Alexander Osterwalder e Yves Pigneur, Business Model Generation (Hoboken, NJ: Wiley, 2010).
10 “Metromile and Turo Are Teaming Up to Rede ne Auto Insurance” (Metromile e Turo estão se
unindo para rede nir os seguros de automóveis), Metromile Blog, 20 de maio de 2019,
https://oreil.ly/TfWU_.
11 Ash Maurya, “Why Lean Canvas vs Business Model Canvas?” (Por que Lean Canvas versus
Business Model Canvas?), Leanstack, https://oreil.ly/zJYVu. (N.T.: Citação traduzida
livremente com base no texto original em inglês.)
12 “Product/Market Fit” (Adequação do produto/mercado), Wikipédia, https://oreil.ly/MUHoc.
13 Peter Drucker, Management: Tasks, Responsibilities, Practices (Nova York: Harper Business, 1973).
14 Michael Porter, Competitive Advantage (Nova York: Free Press, 1985). [N.T.: Edição publicada no
Brasil: Vantagem competitiva (Campus, 1989).]
15 Michael J. Lanning e Edward G. Michaels, “A Business Is a Value Delivery System” (Um negócio
é um sistema de entrega de valores), (Chicago: McKinsey and Co., 1988),
https://oreil.ly/3n4nS.
16 W. Chan Kim e Renée Mauborgne, Blue Ocean Strategy (Brighton, MA: Harvard Business
School Press, 2005). [N.T.: Edição publicada no Brasil: A Estratégia do Oceano Azul (Sextante,
2018)]
17 N.T.: Tradução livre com base na citação original em inglês.
18 Lawrence M. Fisher, “Clayton M. Christensen, the Thought Leader Interview” (Clayton M.
Christensen: entrevista com o líder de pensamento), Strategy+Business, 1 de outubro de 2001,
https://oreil.ly/bBpYH.
19 N.T.: Edição publicada no Brasil: O Dilema da Inovação (M. Books, 2011).
20 Clayton Christensen, “Disruptive Innovation” (Inovação disruptiva), Clayton Christensen,
https://oreil.ly/wj8Kz. (N.T.: Tradução livre da citação, com base no texto original em
inglês.)
21 Hemant Taneja, “The Era of ‘Move Fast and Break Things’ Is Over” (A era do ‘Move Fast and
Break Things’ acabou), Harvard Business Review, 22 de janeiro de 2019,
https://oreil.ly/RiK8S.
22 “Seven Steps to Ethical Decision Making” (Sete passos para uma tomada de decisão ética),
Ethics & Compliance Initiative, https://oreil.ly/qCD_p.
23 Mike Monteiro, Ruined by Design: How Designers Destroyed the World, and What We Can Do to
Fix It (Mule Books, 2019).
24 N.T.: Tradução livre com base no texto original em inglês.
25 Eric Ries, Lean Startup (Nova York: Harper Business, 2011) [N.T.: Edição publicada no Brasil: A
Startup Enxuta (Sextante, 2019)].
26 Steve Blank, The Four Steps to the Epiphany (Plano, TX: K&S Ranch Press, 2005) [N.T.: Edição
publicada no Brasil: Do Sonho à Realização em 4 Passos (Évora, 2012)].
27 Eric Ries, The Startup Way (Manhattan: Currency, 2017) [N.T.: Edição publicada no Brasil: O
estilo startup (Sextante, 2019). Tradução livre da citação, com base no texto original em inglês].
[3]
De nindo a proposição de valor inicial
Figura 3.2 – Uma proposição de valor, gerada automaticamente, que diz: “Airbnb for Wedding
Venues”(Airbnb para Casamentos).
Figura 3.3 – Um mock-up de uma primeira página típica para a apresentação de uma ideia, com
o nome do produto e a proposição de valor (Airbnb para Casamentos – Encontre o local perfeito
e que caiba em seu orçamento!).
Se provar ser verdadeiro, isso validaria uma possível necessidade para esta
proposição de valor:
O Airbnb para Casamentos é um serviço online para anunciar e alugar propriedades
privadas para a realização de casamentos.
Pareceria, então, que o próximo passo lógico seria começar a sonhar com
o conjunto completo de funcionalidades para essa solução bastante
necessária, certo? Não. Ainda não.
Não crie a UX de seu produto com base em uma proposição de valor, a menos que
você tenha evidências tangíveis que mostrem que as pessoas vão querer o produto!
Se você é um solucionador de problemas – isso é instintivo para os UX
designers, os criadores de produto e os empreendedores –, esse processo
parecerá invertido à primeira vista. É porque está. Estamos fazendo uma
engenharia reversa do conceito de nossa solução para validar as
suposições sobre os clientes e seus problemas. Essa abordagem é
particularmente importante para aqueles que já criaram dezenas de
produtos, inclusive produtos de muito sucesso. Não acredite em sua
própria empolgação. Em vez disso, aborde cada produto ou projeto novo
como um experimento.
Conforme mencionei no Prefácio, sou professora universitária de meio-
período há mais de vinte e cinco anos. Sempre dei minhas disciplinas da
mesma maneira. Na primeira semana, os alunos devem pensar em
problemas que gostariam de resolver usando a tecnologia. A cada semana,
eles avançam em direção ao projeto nal do curso, que consiste em fazer a
apresentação da ideia de um produto real, que eles tenham testado
usando os métodos discutidos neste livro. Certo semestre, propus o
aprendizado de UX às minhas alunas Bita e Ena com a visão do produto
“Airbnb para Casamentos”. Apresentarei os métodos que elas usaram e os
resultados obtidos para mostrar como é possível testar realmente
qualquer proposição de valor e veri car se ela é viável. A primeira tarefa
das alunas foi criar uma persona provisória.
Ainda que essas personas tenham a mesma proposição de valor, elas são
muito diferentes porque foram criadas por duas pessoas diferentes, com
duas perspectivas distintas. Bita supôs que sua cliente era alguém como
ela: uma mulher, pro ssional, na casa dos trinta anos. Ela é de classe
média e trabalha em tempo integral. Ena, porém, supôs que sua cliente
era uma pessoa mais jovem, na casa dos vinte anos, que não trabalha em
tempo integral porque poderia estar cursando a faculdade ou ser uma
freelancer que acabou de iniciar sua carreira. Essa noiva jovem está mais
interessada em ter uma festa animada na praia, com todos os seus amigos,
em vez de fazer algo mais formal.
Qual persona é a correta? Na verdade, não importa porque Bita e Ena
estão trabalhando com suposições que ainda precisam ser validadas.
Talvez a solução pudesse atender às necessidades das duas personas.
Independentemente de quem acabará sendo a mais “correta”, as personas
provisórias ajudarão Bita e Ena a pintarem um quadro mais claro sobre
seus supostos clientes.
A persona provisória é composta destas quatro seções:
Nome do segmento e fotogra as/esboços
Como a persona provisória representa um grupo de pessoas em vez de
uma só, pense em um nome conciso e descritivo para caracterizar o
segmento, por exemplo, “Pais da geração X em Los Angeles” ou
“Expatriados judeus em Berlim”. Acho conveniente articular
denominadores demográ cos comuns. A localização é útil porque força
sua equipe a de nir com exatidão o lugar em que poderá haver um
mercado para o seu produto, em vez de voltar-se para o mundo todo.
Tome cuidado ao usar certos rótulos porque os grupos representados
podem ser multidimensionais. Por exemplo, “millennials” ou “baby
boomers” ou “com ensino superior” ou “de baixa renda” podem
englobar um amplo espectro de pessoas.
Será conveniente rever ou trabalhar com essa seção por último, pois as
outras seções poderão ajudar sua equipe a estar mais alinhada quanto à
de nição do segmento de clientes. Assim que tiver essa de nição,
procure imagens que sejam representativas. Alguns pro ssionais
advertem contra o uso de fotos porque temem que elas reforçarão os
estereótipos. De acordo com Alan Cooper, “Fotogra as ajudam a dar
uma impressão mais real quando você criar a narrativa e envolver outras
pessoas da equipe”. Por ser um segmento, pre ro usar uma colagem para
representar os diversos aspectos que o representam.
Para a nossa proposição de valor, isso signi ca que minhas alunas
procuraram fotos que representassem locais em que se realizam
casamentos, noivas e diferentes ferramentas de planejamento usadas.
Não gaste mais do que dez minutos com isso porque você usará a
persona provisória como um ponto de partida. Assim que tiver feito as
entrevistas com os clientes, é provável que as fotos sejam atualizadas.
Descrição
Como você descreveria esse grupo de pessoas usando três ou quatro
declarações demográ cas essenciais? Inclua a cidade na qual você
planeja fazer a sua pesquisa e certi que-se de que esse dado crucial seja
validado. Inclua o gênero somente se acredita que o problema que está
resolvendo afeta predominantemente as pessoas de um gênero
especí co. Se o segmento representa pessoas de uma determinada faixa
de renda e você acredita que esse dado seja pertinente, inclua essa
informação. O mesmo vale para a faixa etária e o nível de escolaridade.
Ao fazer suas entrevistas com os clientes, talvez você tenha de fazer
perguntas pessoais para ter certeza de que os participantes apresentam
as características de sua persona. Essa seção deve ter como foco a
descrição do segmento, e não as suas atividades ou necessidades. Deixe
essas declarações para as duas próximas seções.
Ena originalmente colocou “fazendo pós-graduação” na descrição. Essa
especi cidade, porém, é muito excludente e irrelevante para o Airbnb
para Casamentos. Desse modo, z com que ela atualizasse essa
descrição para “não trabalha em tempo integral”, como podemos ver em
sua persona (Figura 3.5). Enquanto isso, o per l de Bina inclui “trabalha
em tempo integral”, que é relevante porque signi ca que o segmento não
tem muito tempo livre para planejar um casamento.
Comportamentos
A motivação e os comportamentos estão no centro da criação de valor.
Em 2016, Clayton Christensen defendeu um framework teórico
chamado JTBD (Jobs to Be Done, ou Trabalhos a serem Feitos), também
conhecido como Jobs Theory (Teoria dos Trabalhos).9 A principal
premissa da teoria é que a necessidade dos clientes é como um trabalho
que precisa ser executado para que eles consigam fazer progressos em
suas vidas. Se não puderem realizar esse trabalho, o cliente terá um
problema. Nesse framework, os comportamentos dos clientes são
chamados de job drivers (determinantes do trabalho), e são fatores
essenciais para a segmentação. Assim, qualquer que seja o produto que
você esteja concebendo, é fundamental entender o que motivará as
pessoas a usá-lo. Leia o excelente livro de Jim Kalbach, The Jobs to Be
Done Playbook, para saber mais sobre como colocar a Jobs Theory
(Teoria dos Trabalhos) em prática.10
O importante nessas declarações de comportamento é o modo como elas descrevem
tanto a ação como a motivação do usuário.
Ao descrever o comportamento de seus usuários, você deve pensar com
a mentalidade e o ambiente desses usuários. Onde e quando eles estão
tentando resolver o problema? Quais ferramentas eles usam atualmente?
Seus comportamentos são afetados em função de algum per l
psicológico? Há soluções de contorno que eles estão usando para ajudá-
los a atingir seus objetivos?
No exemplo anterior (Figura 3.4), Bita supôs que sua noiva está
preocupada com os custos e está interessada em lugares que sejam
diferenciados. Mas como validamos se uma pessoa está ou não
preocupada com os custos ao planejar seu casamento, ou se querem que
o evento ocorra em um local diferenciado? É nesse caso que uma
declaração sobre comportamento pode ser uma orientação mais
conveniente do que um simples adjetivo. Bita descreveu o
comportamento de sua cliente como “aberta a fazer concessões para
economizar” e “já usou o Airbnb para encontrar lugares diferenciados
para se hospedar” porque acredita que isso determinaria a sua tomada
de decisão.
Outros exemplos de declarações sobre comportamentos incluem:
• Vai a shows de punk rock semanalmente para conhecer pessoas
interessantes.
• Evita produtos animais por questões ambientais.
• Assiste a lmes alemães com regularidade para se familiarizar com o
idioma.
Porém, não importa se você vai optar por declarações ou adjetivos,
escolha seus termos com cuidado para que não sejam genéricos demais
nem especí cos demais, ou difíceis de serem validados.
Necessidades e objetivos
Essa categoria explica o que o cliente precisa para resolver seu problema
e alcançar seu objetivo. Para descobrir isso, devemos fazer perguntas
como: Quais são suas esperanças e sonhos, que sejam relevantes para o
produto? Do que eles precisam para resolver seu principal problema?
Quais necessidades ou objetivos especí cos não estão sendo satisfeitos
pelas soluções ou alternativas disponíveis? Quais são as limitações que
enfrentam? Qual é o trabalho que estão tentando fazer?
Um erro comum é fazer com que essa seção soe como uma proposição
de valor ou como uma lista de funcionalidades. Em geral, as pessoas
que não trabalham com tecnologia não dizem algo como: “Preciso de
um aplicativo ou de uma plataforma online para…” ou “Preciso ser
capaz de adicionar colaboradores à minha conta”. O que elas poderiam
dizer é: “Gostaria de compartilhar minhas ideias sobre o casamento
com o meu noivo para que ele possa vê-las em seu próprio computador”.
A última frase tem como foco a real necessidade humana que poderá ser
resolvida de diversas maneiras. Para produtos B2C em particular, será
mais conveniente perguntar como é o processo de planejamento de uma
pessoa com o seu noivo, em vez de perguntar se eles gostariam de uma
funcionalidade para colaboração.
Outro erro é não ser su cientemente especí co. No exemplo de Ena, ela
está supondo que seu segmento de clientes quer fazer um pequeno
casamento na praia. Essa declaração não poderá ser validada, a menos
que pequeno seja mais bem de nido (por exemplo, 50 pessoas ou
menos). O que é pequeno para uma pessoa pode ser um casamento
enorme para outra. Por outro lado, você não deve ser demasiadamente
genérico. A maioria das pessoas concordará com declarações mais
genéricas como “Quer ter um casamento bonito”. Que noiva feliz iria
preferir um casamento horrível? Essa declaração extremamente genérica
não fará você entender melhor o seu cliente em potencial.
É particularmente importante que essa seção esteja correta porque é ela
que mais contribuirá para a base de sua estratégia de produto. Você quer
declarações práticas, que estejam relacionadas com as preocupações
básicas dos clientes.
Outros exemplos de declarações de necessidades e objetivos incluem:
• Precisa de um modo fácil de se manter a par dos próximos shows de
punk rock em Los Angeles.
• Precisa saber quais restaurantes locais servem boas refeições veganas.
• Quer se mudar para a Europa para vivenciar uma cultura diferente.
Lembre-se de que tudo na persona que você acabou de criar continuará
sendo uma suposição até ser provada como verdadeira ou falsa. Agora
você precisa ir lá fora e encontrar esses clientes de verdade para saber o
que eles realmente pensam!
Passo 4: Faça uma descoberta de clientes para validar ou invalidar sua persona
provisória e a declaração do problema.
Em 2005, Steve Blank, um empreendedor de longa data no Vale do Silício,
publicou The Four Steps to the Epiphany: Successful Strategies for Products
That Win.11 Embora sua metodologia esteja associada às quatro fases, vou
ponderar sobre a primeira: a descoberta de clientes e como ela faz parte
de sua estratégia de UX.
A descoberta de clientes é um processo usado para descobrir, testar e
validar se um produto especí co resolve um problema conhecido para um
grupo identi cável de usuários; trata-se, essencialmente, de fazer uma
pesquisa de usuário. No entanto, você não vai querer apenas observar as
pessoas, criar empatia e então fazer julgamentos. Em vez disso, você deve
“sair do prédio e ir lá fora” a m de obter uma validação dos clientes, que
é essencial para a abordagem de negócios Lean Startup (Startup Enxuta)
e para o Princípio 3: Pesquisa de Usuário Validada. Ouça ativamente as
pessoas e se envolva com elas porque seu objetivo é descobrir qual é o
problema especí co que elas precisam que seja resolvido.
Isso pode soar como algo óbvio a ser feito; mas, de forma surpreendente, a
maioria dos stakeholders com quem trabalho nas empresas e startups não
conversa diretamente com os clientes. Com efeito, antes da Lean Startup, a
norma era as empresas simplesmente criarem o produto sem conversar
com os clientes. De modo muito semelhante a Paul, o produtor de
cinema, os stakeholders ou a equipe de produto supõem que têm
conhecimentos su cientes sobre o problema porque o vivenciam
pessoalmente ou conhecem alguém que o vivencia. No nível corporativo,
há várias razões possíveis para isso ocorrer: ignorância, falta de
funcionários, preguiça e assim por diante. Por outro lado, os fundadores
de startups têm uma tendência a ser como os roteiristas que dão duro
para criar um script, mas nunca o mostram para outras pessoas. Eles têm
medo do que o seu público-alvo poderá pensar – ninguém quer ouvir os
outros dizerem que seu bebê é feio.
Em um mundo ideal, a descoberta de clientes é um processo colaborativo
que envolve a ida a campo do máximo possível de membros da equipe de
produto. A colaboração também ajudará a criar um consenso sobre uma
visão compartilhada do produto, de forma orgânica. Se as pessoas com
quem você trabalha não quiserem fazer uma pesquisa de clientes, faça-a
por conta própria. Faça-a de modo sorrateiro, sem esperar pela permissão
de seu chefe, do cliente ou de qualquer pessoa que seja contrária à ideia.
O essencial é que se tente fazê-la. Você pode voltar com a sua pesquisa e
compartilhar suas descobertas com a equipe de modo casual, desde que
tenha os dados para dar sustentação a ela. Se ninguém quiser ouvir, a essa
altura, você deverá decidir se quer continuar a trabalhar nesse projeto, ou
com a sua equipe atual ou com o seu empregador atual. Mas, ao menos,
vá lá fora e colete evidências veri cáveis, que poderão melhorar o seu
produto no tempo que você tiver para trabalhar com ele. Seja o dono de
seu próprio destino. Nos capítulos 8 e 9, compartilharei técnicas rápidas e
de baixo custo para fazer isso.
Mencionamos algumas razões pelas quais os criadores de produto
acabam se tornando superprotetores em relação às suas ideias. Felizmente,
Bita e Ena não estão emocionalmente presas à proposição de valor que eu
gerei na internet. Elas só precisam validar suas suposições iniciais, e é
exatamente isso que farão. Elas irão lá para fora do prédio (do escritório
ou da sala de aula) para fazer entrevistas.
Fase 1: Introdução
Oi, meu nome é Bita. Estou fazendo uma pesquisa sobre a ideia de um produto para uma
startup que atua na internet. Você teria uns minutinhos para responder a algumas
perguntas relacionadas a planejamento de casamentos? Ofereço um vale-presente de
cinco dólares da Amazon pela entrevista.
Fase 2: triagem
Uma triagem (screener) é uma pequena lista de uma a três perguntas
usadas para quali car os possíveis participantes. As perguntas de triagem
são essenciais porque você não pode supor que qualquer pessoa abordada
será apropriada para o seu estudo. O propósito dessas perguntas é ltrar e
excluir as pessoas que não se enquadrem em sua persona provisória.
Por exemplo, se a sua declaração de problema for “Pro ssionais ocupados
em LA têm di culdade para saber qual presente comprar para as pessoas
que amam”, sua pergunta de triagem poderia ser “Você se considera um
pro ssional ocupado?”. Se eles disserem “sim”, você poderia prosseguir
com “Qual foi a última vez que você comprou um presente para alguém
que ama?”. Você decide qual será o ponto de corte no que concerne a
quão recente foi a compra. Essa pergunta avalia se uma pessoa se envolve
com regularidade na tarefa de comprar presentes ou não. É especí ca para
a declaração do problema, mas não é uma pergunta direta do tipo sim ou
não, nem algo para o qual a maioria das pessoas daria a mesma resposta.
Fazer isso contaminaria o seu estudo porque não seria possível calcular a
porcentagem de seus supostos clientes que realmente teria esse problema.
Também signi ca que você não poderia aprender com aqueles que têm
soluções. Por exemplo, se a sua declaração de problema for “Pro ssionais
ocupados em LA têm di culdade para saber qual presente comprar para
as pessoas que amam”, sua pergunta de triagem não deverá ser nenhuma
versão de “Você tem di culdade para saber quais presentes comprar para
as pessoas que ama?”.
As perguntas de triagem não devem parecer invasivas para os
participantes, mas você sabe que elas são perguntas decisivas. Para de ni-
las, trabalhar de trás para a frente pode ajudar. Quais são exatamente as
respostas que você deveria ouvir de alguém para quali cá-la? Às vezes,
serão necessárias algumas iterações em suas perguntas de triagem para
garantir que você conversará com as pessoas corretas.
Eis as perguntas de triagem usadas por Bita:
1. Você é casada e, se sim, quando se casou?
• Casou-se nos últimos dois anos (vá para a pergunta 2).
• Não é casada ou se casou há mais de dois anos (encerre gentilmente
a entrevista).
2. Em que cidade você se casou?
• Em Los Angeles (entreviste a pessoa).
• Em outro lugar que não seja Los Angeles (encerre gentilmente a
entrevista).
Com base na persona de Bita, o objetivo de suas perguntas de triagem é
identi car se a pessoa sendo entrevistada planejou recentemente um
casamento em Los Angeles. Ela precisava de participantes com
recordações recentes do processo de planejamento de um casamento.
Fase 3: a entrevista
Se uma pessoa passasse pelo teste de triagem, Bita podia prosseguir para
as perguntas da entrevista propriamente dita. São as perguntas feitas com
o intuito de validar cada suposição que você fez sobre o seu segmento de
clientes. A persona de Bita (Figura 3.4) tinha um total de onze suposições
entre descrição, comportamentos e necessidades e objetivos. Portanto, ela
precisava fazer perguntas e pedir informações que determinassem se as
suposições estavam corretas. Por exemplo, a declaração de
comportamento “Olha parques e jardins como possíveis lugares para
realizar o casamento” exige uma pergunta sobre os lugares que a pessoa
olhou para realizar o casamento. Se a participante responder com esses
tipos de lugares, sua suposição seria con rmada. Se a maioria das
participantes não mencionar parques nem jardins, a declaração terá de ser
atualizada depois do primeiro conjunto de entrevistas para que se torne
mais precisa.
Vamos observar como Bita lidou com as perguntas de sua entrevista:
1. Você trabalha em tempo integral ou parcial?
2. Como você fez para planejar o seu casamento?
• Pergunte tanto sobre os lugares que elas consideraram como sobre
aquele que escolheram.
• Pergunte como elas descobriram cada lugar e souberam deles.
• Pergunte sobre ferramentas/meios, como internet, boca a boca.
• Pergunte quando elas zeram os planos, por exemplo, no trabalho,
de noite ou nos ns de semana.
3. Você diria que o seu casamento foi mais formal ou casual?
4. Você teve de fazer alguma concessão quando planejou o seu
casamento? Por quê?
5. Você tinha uma provisão para os lugares, e foi possível car dentro do
orçamento? (Se não, qual foi o valor adicional?)
6. Quantas pessoas havia na recepção (por exemplo, de 50 a 200)?
7. Quais foram alguns dos desa os que você enfrentou para encontrar os
lugares (pergunte como foi para encontrar o lugar ideal, por exemplo,
na praia)?
8. Como você superou esses problemas? Você acabou tendo de fazer
alguma concessão em relação ao seu casamento ideal?
Essas perguntas, na verdade, de nem o contexto para a nossa solução.
Agora que a participante tem esse contexto, é hora de Bita fazer a sua
pergunta de ouro.
9. Você já experimentou ou ouviu falar de um site chamado “Airbnb”?
• Sim (vá para a pergunta 7).
• Não (explique rapidamente a proposição de valor do Airbnb no que
concerne à parte sobre locações de curto prazo e vá para a pergunta
7).
10. Se houvesse um site, como o Airbnb, que oferecesse diversas opções
de lindas residências em LA, com quintais enormes, que você pudesse
alugar especi camente para um casamento, o que você acharia disso?
Encerre com suas perguntas de ouro, que são aquelas em que você
realmente vai apresentar sua proposição de valor inicial. Você quer ouvir,
e não vender. Você percebeu como as perguntas de Bita são abertas? Ela
está apenas mostrando uma solução para ver as respostas que terá, sem
tentar conduzir a participante a favor ou contra. Ao fazer a pergunta de
ouro, simplesmente capture a essência da resposta da pessoa e, se for
apropriado, faça quaisquer perguntas subsequentes que forem relevantes.
Agradeça à pessoa, dê a ela o vale-presente caso tenha oferecido algum e
deixe que siga o seu caminho. O ideal é que você faça pelo menos dez
entrevistas completas, incluindo a pergunta de triagem até a pergunta de
ouro, para essa rodada inicial de descoberta de clientes. Isso deverá ser
su ciente para observar padrões em várias dimensões.
Mercados bilaterais
E se você precisar de dois tipos distintos de cliente para que o seu produto
tenha valor? Um mercado bilateral (two-sided marketplace) é uma
plataforma que serve para troca de valores entre dois grupos distintos de
usuários. As plataformas bilaterais afetam drasticamente a estratégia de
produto porque exigem duas experiências de usuário distintas: uma para
cada segmento de clientes. Empresas como eBay têm compradores e
vendedores. O Airbnb tem locatários e locadores. O Eventbrite tem
produtores e participantes de eventos. Essas plataformas são incrivelmente
boas para reunir esses segmentos de clientes sem complicações, por meio
de conjuntos exclusivos de funcionalidades.
O verdadeiro Airbnb é uma plataforma digital que facilita que um
conjunto de clientes (os locadores) aluguem suas propriedades para outro
conjunto de clientes (os locatários). O Airbnb então cobra uma pequena
porcentagem da transação de ambos os “lados”. Essa é a essência do
modelo de negócios ponto a ponto (peer-to-peer) – também conhecido
como consumo colaborativo –, que seria o mesmo para o Airbnb para
Casamentos. Assim, para Bita e Ena ajudarem as noivas a encontrar locais
acessíveis para casamentos, elas devem fazer a ligação entre elas e o outro
lado do mercado: as pessoas que estão dispostas a alugar suas casas para
um casamento.
Ena percebeu isso durante sua descoberta de clientes. Consequentemente,
ela deu um passo para trás e criou uma persona provisória para o seu
outro cliente principal, que podemos ver na Figura 3.6.
Figura 3.6 – Persona provisória de Ena para um possível locador de um espaço para casamentos.
Esse é o segmento de cliente que também deve existir para que sua
proposição de valor funcione. Ena precisa de pessoas que sejam
proprietárias de belas casas em Malibu e que estejam abertas a soluções
criativas para tirar proveito do valor dessas casas. Essas pessoas
provavelmente são mais velhas que nossas noivas e muito preocupadas
com o fato de não terem suas casas vandalizadas, ou pelo menos é isso
que a persona de Ena supõe.
Perguntei a Ena como ela planejava validar essa persona provisória. Onde
ela encontraria pessoas desse tipo? Ela bateria na porta de casas grandes e
elegantes na praia? Boa sorte. Talvez ela pudesse perguntar às pessoas que
estivessem fazendo compras em mercados mais so sticados de Malibu se
elas alugariam suas casas. Eu estava preocupada com o fato de ela estar
indo atrás de uma persona que não seria fácil de veri car. Então pedi a
ela que melhorasse sua descoberta de clientes.
Na semana seguinte, Ena voltou com algumas validações muito
interessantes, que estão exibidas na Figura 3.7. Ela havia desempenhado
um papel de noiva e entrado em contato com alguns anunciantes reais no
Airbnb verdadeiro. Ela perguntou se eles considerariam alugar suas casas
para um casamento. Perguntou até mesmo o valor que cobrariam. O fato é
que as pessoas já estão fazendo isso.
Figura 3.7 – Exemplo de uma resposta positiva de anunciantes no Airbnb para a pergunta de
Ena sobre a locação de suas casas para um casamento.
Passo 5: Reavalie sua proposição de valor inicial com base no que aprendeu!
Como podemos ver, conduzir uma pesquisa de usuário validada não
precisa ser custoso nem consumir muito tempo. Para Bita, o custo foi de
um sábado para validar se suas suposições estavam corretas, e ela
compilou os resultados conforme exibidos na Figura 3.8.
Sim, ela conversou com apenas dez pessoas que passaram pelas suas
perguntas de triagem, mas descobriu que nove delas tiveram um grande
problema para encontrar um local economicamente acessível.
Obviamente, sua suposição foi validada. No entanto, ela também
adquiriu insights adicionais sobre o quanto essas pessoas gastaram com
seus casamentos e quantas pessoas haviam convidado. Ela constatou que
70% de suas participantes tiveram casamentos com 175 convidados. Isso
afetou o modo como ela pensava em sua proposição de valor porque
signi cava que o detalhe sobre o tamanho do local para o evento era, na
verdade, mais importante do que ela havia originalmente suposto. Isso fez
com que ela questionasse se havia casas espaçosas o su ciente em Los
Angeles para atender às necessidades do seu segmento de clientes visado.
Foi um confronto com a realidade.
Por outro lado, a descoberta de clientes de Ena revelou que já havia uma
solução para o Airbnb para Casamentos, e era… o Airbnb!! No entanto,
ela constatou também que o Airbnb não foi projetado para atender a
todas as necessidades logísticas enfrentadas pelo locador ou pela noiva.
Por exemplo, não é possível lidar com outros aspectos do planejamento de
um casamento como comida, estacionamento, ores etc. Apesar disso, as
pessoas (tanto os anunciantes de imóveis como as noivas) estão usando
atualmente o Airbnb como uma solução quebra-galho porque é uma
solução alternativa para alugar um local acessível para casamentos! É
quando você dá de cara com uma evidência como essa que a veia de sua
“inovação de valor” criativa deve começar a pulsar.
Agora que temos um feedback, você e a sua equipe, assim como Bita e
Ena, terão de tomar algumas decisões, pois uma de três possibilidades
deve ter ocorrido:
• Você não validou todas as suposições de sua(s) persona(s)
provisória(s). Portanto, é necessário fazer um redirecionamento acerca
de quem você acha que são realmente os seus clientes. Volte para o
Passo 1.
• Você não validou um ponto problemático comum que seus clientes
têm. Portanto, terá de fazer um redirecionamento do problema. Volte
para o Passo 2.
• Você validou sua declaração de problema e a(s) persona(s)
provisória(s), e está con ante quanto à proposição de valor inicial de
sua solução. Você pode optar por fazer mais entrevistas com clientes,
com mais participantes, para validar melhor a sua persona ou até
mesmo testar com outros segmentos. Quando terminar, vá para o
Capítulo 4.
Recapitulando
Uma boa estratégia de negócios é aquela que está centrada no cliente. É
por isso que você deve validar o seu suposto segmento de clientes e suas
necessidades não atendidas. Ao combinar as técnicas de descoberta de
clientes com as ferramentas tradicionais de pesquisa de usuário, por
exemplo, as personas provisórias, você terá um modo de determinar se
está no caminho certo, com um custo baixo. Mesmo que você se sinta
intimidado em conversar com pessoas desconhecidas, seja novo na área de
pesquisa em campo, esteja preso a um documento de requisitos, esteja
lutando contra um prazo que se aproxima ou tenha diante de si uma
declaração de visão de duas linhas, deve aprender o máximo possível
sobre seus futuros usuários antes de começar a construir um produto.
Fazer isso será sempre muito melhor do que “fazer de você e de mim um
tolo”.
1 Peter Drucker, Management: Tasks, Responsibilities, Practices (Nova York: Harper Business, 1973).
2 N.T.: O termo “discurso de elevador” se refere à ideia de uma fala breve a respeito das vantagens
e dos valores de um produto ou serviço para despertar o interesse de um interlocutor. O tempo
de duração da fala seria de aproximadamente o tempo que uma pessoa gastaria para se deslocar
usando um elevador comum. (Ref.:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Discurso_de_elevador)
3 “Tinder and Bumble Are Throwing Parties at Frat Houses” (Tinder e Bumble estão dando festas
em sedes de fraternidades), Inside Hook, 21 de agosto de 2019, https://oreil.ly/q3VlH.
4 “Alan Cooper”, Wikipédia, https://oreil.ly/5GeHk.
5 Alan Cooper, About Face (Hoboken, NJ: Wiley, 1995).
6 N.T.: Tradução livre com base no texto original em inglês.
7 Alan Cooper, About Face, 3ª edição (Hoboken, NJ: Wiley, 2007).
8 Je Gothelf, com Josh Seiden, Lean UX, 2ª edição (Sebastopol, CA: O’Reilly, 2016).
9 Clayton Christensen, Taddy Hall, Karen Dillon e David S. Duncan “Know Your Customers’ ‘Jobs
to Be Done’” (Saiba quais são os ‘Trabalhos a serem Feitos’ para seus clientes), Harvard Business
Review, setembro de 2019, https://oreil.ly/zW3Xm.
10 Jim Kalbach, The Jobs to Be Done Playbook: Align Your Markets, Organization, and Strategy
Around Customer Need (Nova York: Two Waves Books, 2020).
11 Steve Blank, The Four Steps to the Epiphany (Plano, TX: K&S Ranch Press, 2005) [N.T.: Edição
publicada no Brasil: Do Sonho à Realização em 4 Passos (Évora, 2012)].
[4]
Fazendo uma pesquisa sobre a concorrência
Agora que você já tem um forte sinal positivo dos usuários reais, é preciso
se perguntar o seguinte: “Por que essa solução ainda não foi criada?”. Ou,
como no caso de Bita e Ena após a descoberta de clientes: “Quem mais
está resolvendo esse problema agora, e como?”. Hesito em a rmar que
tudo já tenha sido feito, mas quase tudo já foi tentado. A nal de contas,
indivíduos e empresas vêm criando produtos para distribuição e consumo
na internet há mais de 25 anos! Saber o que funcionou ou o que fracassou
é essencial para identi car uma vantagem competitiva e de nir o seu
modelo de negócios. Assim, neste e no próximo capítulo, veremos com
mais detalhes o Princípio 1: Estratégia de Negócios (Figura 4.1) para que
você possa desenvolver um framework com o intuito de fazer avaliações
sobre a concorrência e tomar decisões estratégicas.
Figura 4.2 – Polaroide de Alan Levy em frente ao seu quiosque de cachorro-quente em 1978.
Em última instância, seu objetivo será conceber uma solução que gere
uma vantagem competitiva. A pesquisa que sua equipe zer na
ferramenta fará com que todos sejam obrigados a olhar para o panorama
da concorrência com vistas à excelência ou à mediocridade das
experiências de usuário proporcionadas pelos concorrentes. O segredo
está nos detalhes, e são nesses detalhes que o Princípio 2: Inovação de
Valor poderá ser criado. (Veja o Capítulo 6 para saber mais sobre esse
assunto.)
Uma análise sólida somente será possível se houver uma pesquisa sólida
como entrada. Isso pode parecer óbvio, mas é incrível a quantidade de
decisões rápidas que são tomadas após uma análise apenas super cial do
mercado. Como estrategistas, devemos ajudar nossos clientes e
stakeholders a ltrar a pesquisa sobre a concorrência, transformando-a
em informações práticas, que possam ser facilmente digeridas, com base
nas quais todos possam tomar decisões inteligentes e ponderadas. Deixe-
me detalhar tudo isso com calma. No nal dessa aventura, você verá que
conhecimento é poder.
Fazendo uma pesquisa sobre a concorrência com foco em UX
Há muitas vantagens em ter sua pesquisa sobre a concorrência conduzida pelo líder de UX
ou por um membro da equipe de UX:
Inovação de UX
Os UX designers pensam instintivamente na facilidade que uma pessoa terá para executar
uma tarefa. Eles podem identi car uma oportunidade de melhoria com a modi cação de
um padrão de design de interação. Pense novamente em nosso exemplo do Tinder e em
como um simples deslizamento para a esquerda ou para a direita para tomar uma decisão
se transformou no coração do produto.
E ciência e expertise no domínio
Será mais rápido se o mesmo UX designer zer a pesquisa e criar o produto. Os designers
verão quais práticas de design para interação (por exemplo, para “adesão”) funcionam
melhor ao analisar a concorrência. Também terão mais familiaridade com o assunto em
questão e com o domínio (por exemplo, saúde ou mobilidade) à medida que explorarem
as taxonomias, os conteúdos e os modelos de negócios.
Equipe que colabora
Líderes de UX podem manter o foco na análise, enquanto delegam a parte braçal da
pesquisa aos membros mais inexperientes da equipe. Os membros menos experientes se
bene ciarão com o trabalho prático e as orientações. De modo geral, toda a equipe de UX
terá familiaridade com o panorama da concorrência.
Tipos de concorrentes
Um concorrente é uma pessoa, equipe ou empresa que compartilha dos
mesmos objetivos e luta pelas mesmas coisas que a sua equipe de produto
deseja. Se você está entrando em um novo mercado, a concorrência talvez
não seja evidente. Apesar disso, há boas chances de que haja um nicho de
mercado sendo de nido pelos gigantes da internet ou por startups recém-
criadas que precisam ser considerados.
Os concorrentes diretos são as empresas que oferecem a mesma proposição
de valor ou uma proposição muito parecida aos seus clientes atuais e
futuros. Por exemplo, um concorrente direto do Uber é o Lyft. Quando as
duas empresas começaram, elas resolviam o mesmo problema para o
mesmo cliente, com uma solução basicamente idêntica. Os serviços de
táxi também são um concorrente direto do Uber, ainda que tenham um
modelo de negócios diferente do transporte de passageiros por aplicativo.
De acordo com a proposição de valor inicial que de nimos no Capítulo 3,
o Airbnb para Casamentos é um serviço online para anunciar e alugar
propriedades privadas como locais para a realização de casamentos. Em
minha pesquisa, descobri que o maior concorrente direto era um site
chamado Wedding Spot, exibido na Figura 4.4.
Figura 4.9 – Tela com um conjunto parcial de resultados com palavras-chave geradas pela
função “Discover new keywords” (Descobrir novas palavras-chave) do Google Ads.
Agora que estou de posse de dezenas de ideias para palavras-chave
(veja a Figura 4.10), posso fazer uma exploração mais ampla e
detalhada com minhas pesquisas no Google.
Figura 4.10 – Termos de pesquisa para o Airbnb para Casamentos, armazenados na ferramenta
Competitive Analysis Matrix (de Matriz de Análise Competitiva).
4. Também posso fazer uso de uma artilharia pesada com o Crunchbase
Pro. O Crunchbase é uma plataforma para encontrar informações de
negócios sobre empresas públicas e privadas, e a versão pro ssional dá
acesso a ferramentas so sticadas e a dados adicionais. Como podemos
ver na Figura 4.11, esta é a lista de concorrentes que identi quei depois
de pesquisar “Wedding Venues” (Espaços para realização de
casamentos).
Figura 4.11 – Tela com o conjunto de resultados do Crunchbase Pro depois de procurar empresas
no mercado de casamentos.
Nem todas as empresas exibidas serão relevantes para a minha
proposição de valor. Portanto, passo os olhos na lista para determinar
quem são meus verdadeiros concorrentes.
5. Não se esqueça de que é provável que seu segmento de clientes esteja
presente em outras partes do mundo, e isso signi ca que seus
concorrentes provavelmente também estarão. É um aspecto
importante a ser considerado caso você esteja entrando em um “novo”
mercado. Ao usar as ferramentas de pesquisa avançadas do Google
com ltros para região e idioma, é provável que você encontre
produtos em outros países e idiomas. Caso não tenha muito sucesso,
experimente a solução alternativa a seguir, que empreguei no Airbnb
para Casamentos. Utilizando o Google Tradutor, traduzi “wedding
venues” (espaços para realização de casamentos) para outros idiomas,
por exemplo, para o alemão (“Veranstaltungsorte für Hochzeiten”). De
posse desse termo de pesquisa, pude então fazer uma pesquisa básica
no Google, ou executar o Passo 1 dessa lista, a m de identi car
outros concorrentes.
Em geral, um bom resultado de pesquisa mostrará também outros dados
além dos sites dos concorrentes em potencial na página da pesquisa. Ele
levará você para plataformas de mídias, por exemplo, postagens no
Medium ou blogs de nichos especí cos, nos quais você poderá encontrar
artigos do tipo “Dez melhores” ou “Os melhores”, escritos por
especialistas. Esses artigos são outro ponto de partida ótimo para
identi car os concorrentes. Além do mais, você não deve se limitar à
primeira página de resultados. Analise no mínimo cinco páginas (os 50
primeiros resultados) em busca dos tesouros que possam estar
escondidos.
O ideal é que você seja o mais rápido e preciso possível quando veri car
seus resultados. O que distingue um pesquisador de internet pro ssional
de um amador é o modo como ele consegue determinar se o produto
corresponde aos seus critérios. Não seja preguiçoso. Seja sistemático e
analise todos os links para garantir que não deixará passar nenhuma
informação.
Figura 4.13 – Horizontal (eixo x): os atributos estão distribuídos nas colunas (mostrados como
uma pilha de quatro linhas para que coubessem na página).
Android
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.waze&hl=en
Proposição de valor
Conforme explicado no Capítulo 3, a proposição de valor (coluna “Value
Proposition” na planilha) é aquilo que a empresa promete entregar ao
cliente; é a descrição geral do produto ou negócio. Portanto, será muito
útil para a sua equipe saber como seus concorrentes podem explicá-la
para um cliente ou um investidor. O ideal é que o(s) principal(is)
segmento(s) de clientes seja(m) incluído(s) nessa descrição.
Value Proposition Value Proposition
A Wedding Spot é um serviço online que permite que as pessoas que O Peerspace é um serviço online que conecta
planejam casamentos pesquisem, façam cotações e reservem espaços para pro ssionais e negócios a espaços criativos.
casamentos. O Peerspace tem uma subcategoria para casamentos
para que os noivos possam encontrar locais não
convencionais.
Figura 4.17 – Descrições das proposições de valor de um concorrente direto e de um concorrente
indireto.
Ano da fundação
Em que ano essa empresa foi fundada ou o produto foi lançado (coluna
“Year Founded” na planilha; veja a Figura 4.18)? Você deve ser capaz de
descobrir esse dado no mesmo lugar em que encontrou a proposição de
valor, por exemplo, na seção About Us (Quem somos), no Crunchbase, e
assim por diante. É uma informação útil ao fazer a análise porque você
poderá ver quais protagonistas (produtos e/ou serviços) são novos no
mercado e quem já está há mais tempo. Nesse exemplo da The Knot,
podemos ver que eles existem desde meados dos anos 1990. Isso indica
que a empresa sobreviveu à tempestade causada pelo estouro da bolha das
“ponto com” e pode ser considerada a “primeira no mercado” com a sua
solução em particular.
Year Founded
1996
Figura 4.18 – Exemplo de ano da fundação para a The Knot.
Rodadas de investimento
Uma rodada de investimento é uma rodada na qual um negócio ou outra
empresa aplica dinheiro para investir em operações, expansão, projetos
estratégicos, aquisições ou outros propósitos da empresa.8 (Coluna
“Funding Rounds” na planilha; veja a Figura 4.19.) Essa informação é
importante porque os concorrentes que receberam investimentos altos
têm uma vantagem competitiva. Empresas de capital aberto podem
levantar capital criando e vendendo ações. As startups podem ter
investimentos próprios de amigos e familiares, e/ou nanciamentos por
meio de cartões de crédito. Se você tiver alguma dúvida ou perceber
alguma discrepância sobre os investimentos e/ou as fusões e aquisições de
um concorrente, pesquise no Google e veja se há algum comunicado
formal recente da empresa. Outros lugares para encontrar essa informação
são no Crunchbase e/ou no site do concorrente.
Funding Rounds
Levantou US$ 3,2M em duas rodadas junto a três grandes investidores
Figura 4.19 – Exemplo de rodadas de investimento e do(s) valor(es) para a Wedding Spot.
Fluxos de receita
Um uxo de receita (coluna “Revenue Streams” na planilha) é o modo
como o produto gera lucro e, como você deve lembrar, é um componente
importante de um modelo de negócios. (Veja o Capítulo 2.) Pode se dar
por meio de uma taxa de transação, publicidade, mensalidades, níveis de
adesão, funcionalidades pagas, SaaS (Software as a Service, ou Software
como Serviço), venda de dados e tendências de usuários para outras
empresas etc. A empresa talvez nem tenha um uxo de receita, contando
com o fato de que uma empresa maior (por exemplo, Facebook, Amazon,
Apple, Net ix ou Google) vai adquiri-la antes que todo o seu
investimento seja usado. Se os uxos de receita não estiverem claros,
sempre haverá pistas. Por exemplo, há alguma publicidade no site? Veja se
você consegue encontrar um link “Advertise with Us” (Anuncie conosco).
Os relatórios anuais também contêm esse tipo de informação.
Como mostra a Figura 4.20, descobri que a The Knot tinha vários uxos
de receita, mas os fornecedores de serviços que pagam uma taxa de
assinatura para aparecer nas listas são a sua fonte principal de receita.
Revenue Streams
Revenue Streams
Publicidade local (assinaturas para aparecer em listas; pagamento dos fornecedores de serviço locais é seu principal uxo de
receita). Publicidade em nível nacional. Comissões por referência. Comércio eletrônico (guardanapos, copos personalizados etc).
Figura 4.20 – Exemplo de uxos de receita da The Knot.
Para uma análise mais precisa e ampla, seria necessário ter acesso a
serviços como Comscore, Alexa Internet, Ahrefs, Semrush ou Quantcast
com acessos pagos.
Quanto aos aplicativos móveis nativos, atualmente você pode obter os
downloads do último mês com o Sensor Tower, sem precisar de uma
conta. Se usar a versão trial do Crunchbase Pro por uma semana, também
será possível encontrar métricas para aplicativos móveis, como os
downloads do mês anterior e o crescimento mensal. Para dados mais
abrangentes, você pode pagar por uma assinatura no App Annie ou no
Sensor Tower, embora sejam um tanto quanto caros. É provável que haja
outras empresas de inteligência de mercado surgindo por aí, que deixarão
esses dados mais acessíveis no futuro.
Categorias principais
Se o site vende produtos como o Etsy ou oferece conteúdo como a Net ix,
será necessário entender como o produto dessas empresas é separado ou
classi cado no nível geral. O site provavelmente já faz isso (ou espera-se
que o faça), portanto consulte o menu de navegação global. Se a lista de
categorias for pequena (ferramentas para planejar casamentos,
fornecedores de serviços locais, conteúdos relacionados a casamentos e
assim por diante), bastará copiá-las para a sua planilha, conforme mostra
a Figura 4.23 (coluna “Primary Categories”, isto é, Categorias Principais).
Primary Categories
Ferramentas para planejar casamentos
Fornecedores de serviços locais
Conteúdos sobre casamentos
Figura 4.23 – Exemplo de categorias principais para a The Knot.
Plataformas sociais
A marca do concorrente está no Twitter, no Facebook, no LinkedIn ou em
outras plataformas? A maioria dos negócios atualmente tem contas, mas
nem sempre as utilizam em seu potencial máximo. Quais contas estão
ativas? Quais estão inativas? A Figura 4.24 (coluna “Social Platforms”, isto
é, Plataformas Sociais, na planilha) mostra os tipos de dados
quanti cáveis que você pode capturar para determinar a estratégia de
redes sociais de cada concorrente – ou a sua ausência.
Social Platforms
Instagram: 16,1k seguidores, 1.511 postagens, diariamente ativo
Pinterest: 7k seguidores, 540,4 visualizações mensais
Facebook: 55.194 seguidores, diariamente ativo
Twitter: 1.266 seguidores, 2 a 4 postagens por semana
Figura 4.24 – Exemplo de plataformas sociais para a Wedding Spot.
Como mostra o exemplo da Wedding Spot na Figura 4.24, podemos ver
quantos seguidores ou visualizações ela tem, e quão ativa é a empresa
para postar conteúdo ou promoções que, em última análise, promovem a
divulgação e a lealdade à marca. Você pode encontrar essas informações
simplesmente buscando o nome do produto no Twitter, no Facebook, no
Instagram, no YouTube, no Pinterest, no LinkedIn e em quaisquer outras
plataformas sociais relevantes e conhecidas. Também pode clicar nos
ícones dessas redes sociais, exibidos nos sites dos concorrentes. A
Figura 4.24 mostra que eles são muito ativos nas plataformas
mencionadas, mas não têm muitos seguidores no Twitter.
Ao veri car as várias contas dos concorrentes nas redes sociais, aproveite
para segui-los também. Monitorar as postagens manterá você a par das
notícias mais recentes sobre os seus concorrentes. Preste atenção nas
hashtags populares usadas pelos concorrentes diretos, pois poderão ser
aquelas que você usará assim que seu produto for lançado.
Tipos de conteúdo
Utilize essa coluna (“Content Types” na planilha) para capturar o tipo de
conteúdo que compõe a maior parte do site do concorrente. No conteúdo,
predominam textos, fotos ou vídeos? Como é a qualidade? Se você já
identi cou listas, per s de usuário e/ou páginas de detalhes ou de itens,
separe o conteúdo especí co relacionado a cada um desses artefatos,
conforme z na Figura 4.25. Além disso, observe se o conteúdo é fácil de
ser consultado e/ou lido. Quão detalhadas e informativas são as
informações exibidas? São consistentes? Há algum blog?
Content Types
Lista de fornecedores de serviços com fotos, descrição, mapa, comentários etc.
Postagens de blog inspiradoras para casamentos, classi cadas de acordo com diversos temas; texto e fotos no site, centenas de
vídeos no YouTube
Figura 4.25 – Exemplo de tipos de conteúdo da The Knot.
É por isso que a The Knot faz tanto sucesso. No momento em que uma
pessoa acaba de criar uma conta, ela é lançada para dentro da experiência
de planejar um casamento, fazendo com que ela que, basicamente, presa
aos serviços da The Knot. A Figura 4.27 mostra um resumo de seus
recursos de personalização.
Personalization Features
Depois de criar um per l, os usuários têm acesso a ferramentas para planejar o casamento, que incluem um painel de controle
personalizado para casamentos, uma ferramenta para orçamentos, lista de presentes, lista de convidados, sites, histórico de
mensagens dos fornecedores etc.
Figura 4.27 – Exemplo de recursos de personalização da The Knot.
Avaliação heurística
Uma avaliação heurística (coluna “Heuristic Evaluation” na planilha) é
um método de inspeção da usabilidade de um software que ajuda a
identi car problemas de usabilidade no design da interface. Você não terá
tempo para uma avaliação minuciosa nesse momento. Em vez disso,
mantenha o foco na di culdade ou facilidade de realizar a tarefa em
particular que seja relevante à proposição de valor que você planeja
oferecer. Inclua quaisquer técnicas que particularmente reduzam as
complicações, nas quais possa valer a pena dar uma espiada (mais sobre
esse assunto no Capítulo 6).
No caso da The Knot, como mostra a Figura 4.30, nosso foco está na
pesquisa e reserva de espaços para a realização de casamentos, que é
apenas um dos aspectos da plataforma.
Heuristic Evaluation
Heuristic Evaluation
NOTA = A
Pesquisar espaços para recepções nesse site é muito intuitivo. Um espaço para recepções é listado em "Local Vendors" (Fornecedores
de Serviços Locais), como um item de navegação no segundo nível. O site detecta automaticamente a geolocalização dos usuários e
exibe itens listados em cidades próximas a m de expô-los a uma gama mais ampla de opções. "Backyard" (Quintais) é uma opção
para ltragem, embora os resultados devolvidos sejam lugares como casas de campo privadas, e tendam a ser mais caros.
Figura 4.30 – Exemplo de uma avaliação heurística da The Knot.
Mas não paremos por aqui. Uma pesquisa na internet sobre a The Knot
resultou em várias reclamações sobre o seu serviço de atendimento aos
clientes. Vale muito a pena dedicar seu tempo para ler o que os usuários
têm dito recentemente – tanto de bom como de ruim – sobre o produto
porque essas reclamações podem servir de semente para uma ideia sobre
uma experiência diferenciada para os clientes.
Há vários sites de avaliações para saber sobre os concorrentes que estão
na internet, incluindo o Sitejabber.com e o Trustpilot.com.
Ocasionalmente, você poderá encontrar avaliações no Quora, no Reddit
ou em outras plataformas de mensagens semelhantes, nas quais os
usuários pedem opiniões ou conselhos ao público em geral sobre como
resolver seus problemas. Você está à procura das últimas reclamações
recorrentes dos clientes sobre um produto, pois esses possíveis pontos
problemáticos são aqueles nos quais a sua equipe poderia fazer melhorias.
Lembre-se, porém, de que os clientes tendem a reclamar de suas
experiências ruins (versus as experiências boas) com mais frequência
porque eles precisam de um meio para descarregar suas frustrações. Além
disso, muitas vezes as avaliações são falsas e foram escritas por
concorrentes ou por haters. Então, a melhor atitude a ser tomada é ler
tudo e extrair as reclamações comuns. Em seguida, veja se é possível
replicar ou validar essa experiência quando estiver veri cando o produto
por conta própria. De qualquer modo, essa é uma ótima maneira de
descobrir oportunidades que não foram aproveitadas pelos concorrentes.
Recapitulando
Várias iterações de produto e entrevistas extensas com os clientes não
garantem um produto que agregará valor. Para criar algo que seja único,
você não pode ignorar seus concorrentes. Neste capítulo, discutimos
como fazer uma pesquisa sobre a concorrência, com o intuito de conhecer
o mercado. Vimos como identi car seus concorrentes diretos e indiretos.
Você pesquisou incansavelmente a internet, apreendendo diversos dados
qualitativos e quantitativos que ajudam a entender o tipo de mercado no
qual seu produto poderia ingressar. Agora é hora de analisar as
informações e extrair dados de inteligência signi cativos que servirão de
base para o UX design e o modelo de negócios. Isso pode soar
complicado, mas não entre em pânico. Basta prosseguir para o Capítulo 5.
1 Sonic Youth, “Death Valley ’69”, Bad Moon Rising (Iridescence, 1984).
2 J. C. Spender, Business Strategy: Managing Uncertainty, Opportunity, and Enterprise (Oxford:
Oxford University Press, 2015). (N.T.: Tradução livre da citação, com base no texto original em
inglês.)
3 Henry Mintzberg, “The Fall and Rise of Strategic Planning” (A ascensão e a queda do
planejamento estratégico). Harvard Business Review, janeiro de 1994, https://oreil.ly/ImcVX.
4 “The SCIP Code of Ethics” (Código de Ética da SCIP), SCIP, https://oreil.ly/QpTa2.
5 James Chen, “Electronic Data Gathering, Analysis and Retrieval (EDGAR)” (Coleta, Análise e
Recuperação de Dados Eletrônicos), Investopedia, 31 de julho de 2020,
https://oreil.ly/rzrHv.
6 “The Ethics of Competitive Intelligence: The Fine Line Between CI and Corporate Espionage”
(Ética na inteligência competitiva: a tênue linha entre inteligência competitiva e espionagem
corporativa), LAC Group, 23 de setembro de 2019, https://oreil.ly/F36KF.
7 Michael Bazzell, Open Source Intelligence Techniques: Resources for Searching and Analyzing
Online Information, 7ª edição (Publicação independente, 2019).
8 “Securities O ering” (Oferta de títulos), Wikipédia, https://oreil.ly/aKEB6.
9 N.T.: Jogo popular do tipo arcade, para crianças, conhecido no Brasil como “Acerte a Toupeira”;
para pontuar, o jogador precisa acertar as toupeiras com um martelo quando elas saem dos
buracos.
[5]
Analisando a concorrência
Figura 5.3 – Uma marca gravada pela Ordnance Survey (Agência Cartográ ca Nacional) do
Reino Unido (“BmEd” tem licença Creative Commons).
Por outro lado, se observarmos a análise SWOT da The Knot (Figura 5.6),
veremos que eles oferecem uma ferramenta completa para planejar
casamentos, mas seria necessário entrar pessoalmente em contato com
cada uma das empresas que alugam os espaços a m de solicitar um
orçamento, fazendo com que o processo seja bastante demorado. Uma
oportunidade tanto para a The Knot como para a Wedding Spot seria
oferecer pacotes especiais; mas, por enquanto, elas não fazem isso. Além
disso, uma ameaça à publicidade online como um uxo de receita
principal é que uma parcela cada vez maior de clientes tende a não clicar
em anúncios online por razões de privacidade. Como podemos ver, os
pontos fortes e as oportunidades para os concorrentes são possíveis
ameaças às nossas proposições de valor. Por outro lado, seus pontos fracos
e as ameaças podem constituir oportunidades para nós.
SWOT Analysis from de Competitor’s Perspective
THE KNOT
SWOT Analysis from de Competitor’s Perspective
Ponto forte:
Recursos do produto: a The Knot disponibiliza uma ferramenta completa para planejar casamentos para ajudar os novos casais,
especialmente as noivas, a percorrer cada passo da preparação do casamento. Essa funcionalidade é o fator determinante para a
retenção dos usuários. Por conveniência, os usuários são incentivados a pesquisar e a alugar os espaços para a realização de
casamentos ou contratar os serviços diretamente; desse modo, as informações são automaticamente reunidas em um só lugar. A
The Knot também permite que os usuários conversem diretamente com as empresas que alugam os espaços, de modo que a
comunicação é otimizada para os usuários com conhecimento de tecnologia.
Modelo de negócios: com o maior tráfego para o site e uma base de clientes pronta para receber propagandas, o modelo de
negócios da The Knot baseado em publicidade oferece uma receita considerável para que ela possa crescer.
Ponto fraco:
Segmento de usuários parcialmente atendido: a The Knot não oferece serviços de atendimento ao cliente abrangentes para as
pessoas que planejam casamentos, e não oferece opção para contratar um organizador de casamentos. Desse modo, optar pelos
serviços da The Knot implica ter de administrar todos os detalhes e coordenar todos os fornecedores de serviços por conta própria.
Isso não é ideal para usuários que queiram uma experiência livre de preocupações. Pior ainda, cada fornecedor de serviço, incluindo
aqueles que alugam espaços para casamentos, precisa ser contatado para solicitar um orçamento.
Oportunidade:
Novo segmento de usuários: a The Knot poderia tirar proveito de seus recursos relacionados a fornecedores de serviços para
casamentos a m de oferecer pacotes especiais para um segmento de clientes que queira serviços pro ssionais para planejar o
casamento.
Ameaça:
Regulamentação: a publicidade online enfrenta ameaças de regulamentações cada vez mais rígidas, e os clientes estão cada vez
mais cientes da distinção entre propaganda e resultados orgânicos de pesquisa, o que desa a a empresa a comprovar a viabilidade
de seu modelo de negócios atual.
Figura 5.6 – Exemplo da análise de um concorrente indireto (The Knot).
Elementos do resumo
Com base no que vi e apresentei ao longo dos anos, constatei que deve
haver alguns elementos principais no resumo da análise. Descreverei um
exemplo de um resumo para que você possa ter uma noção do que ele
contém. Para apresentá-lo em uma reunião, o resumo deve estar dividido
em mais slides com menos texto.
Apresentarei a seguir o esquema. Talvez seja conveniente criar primeiro
alguns slides provisórios para cada uma das seções, para que você tenha
uma estrutura básica na qual inserirá o conteúdo à medida que trabalhar
com o conjunto de slides.
1. Slide com o título (um slide)
2. Introdução (um slide)
3. Concorrentes mais ameaçadores (um slide)
4. Concorrentes diretos (dois a três slides)
5. Concorrentes indiretos (dois a três slides)
6. Mercado atual (um slide)
7. Oportunidades e recomendações (um slide)
Tenha em mente que esse é apenas um modelo para apresentar suas
descobertas. Crie seu conteúdo com base no que for mais relevante para a
sua situação.
Slide 1: Título
Um bom slide de título deve conter um volume mínimo de informações,
de modo semelhante a um conjunto de slides para um pitch, usado por
uma startup para captar investimentos. Como mostra a Figura 5.8, o slide
também pode incluir uma imagem inspiradora. Eis o básico:
1. Nome ou nome provisório do produto
2. Título “Análise Competitiva” ou “Análise Competitiva do Mercado
Online”
Slide 2: Introdução
A introdução apresenta os objetivos do resumo, e procura conquistar o
stakeholder de modo que ele o a) leia e b) analise com a mente aberta.
Talvez você perceba que será necessário reescrever esse slide várias vezes
até que esteja correto. Não tenha medo de criar uma versão preliminar
rápida e resumida com o que você acha que essa página deverá conter e,
então, volte para editá-la depois de ter trabalhado nos demais conteúdos.
Se houver espaço e você quiser deixá-lo mais visual, esse é um bom lugar
para incluir uma foto que seja representativa da persona que foi validada.
Parágrafo 1: Prepare o contexto
Observe a Figura 5.9 como referência e, na sequência, esmiuçarei o
conteúdo desse primeiro parágrafo.
Figura 5.10 – Slide com uma visão geral dos concorrentes ameaçadores.
Figura 5.13 – Slide com detalhes dos concorrentes indiretos (VenueBook, Peerspace e Splacer).
A grande revelação!!!
A conclusão é a seção mais importante do resumo, e todos os slides
anteriores devem contribuir para a sua conclusão, assim como 1 + 1 + 1 =
3. Você deve fazer uma articulação bem fundamentada de sua visão do
panorama de oportunidades, que é o mundo das necessidades não
atendidas, no qual sua equipe de produto poderá criar um valor único,
seja por meio de uma experiência de usuário inovadora, seja com um
modelo de negócios inovador – ou ambos. Isso deve ser expresso de forma
concisa e com autoridade: procure separar essas informações em dois
slides.
É hora de se posicionar
Como estrategista, você deverá se posicionar quanto à viabilidade do
produto. Às vezes, como no caso de Paul, o produtor de cinema, suas
recomendações não serão o que o cliente quer ouvir. É a realidade e,
ocasionalmente, é o que acontece. Apesar disso, você faz a pesquisa e
analisa os dados para conhecer o verdadeiro potencial do produto, de
modo que possa fazer sugestões práticas e bem fundamentadas,
independentemente das reações de seu cliente.
Talvez você que sabendo que a versão inicial do cliente enfrenta muitos
desa os. Também poderá perceber que há melhores alternativas para o
produto. É seu trabalho analisar os dados a apresentar esses insights, com
evidências sólidas para apoiá-los.
Se sua análise dá suporte à proposição de valor, suas recomendações
devem sugerir formas especí cas de aproveitar as oportunidades e lacunas
do mercado por meio da experiência de usuário e do modelo de negócios.
Suas recomendações poderão responder a estas perguntas:
• Uma funcionalidade especí ca poderá ser signi cativamente
melhorada ou uma nova tecnologia poderá ser integrada para ajudar
os clientes a fazerem algo que, atualmente, é muito complicado ou que
consome tempo demais com as alternativas existentes?
• Como você pode deixar a experiência com o produto mais
personalizada ou mais “inteligente” e aumentar sua adoção e o
engajamento?
• Há algum uxo de receita novo ou algum modelo de negócios
inovador que possa ser experimentado?
• Como você poderá conquistar uma vantagem competitiva que seus
concorrentes não possam replicar facilmente?
• Se você recomenda uma aplicação nativa versus um site responsivo,
qual é o seu raciocínio para justi car por que está deixando de lado o
tráfego orgânico e forçando os clientes a fazer o download de mais um
aplicativo?
Se sua análise revelar que a proposição de valor inicial enfrenta
determinados riscos, suas recomendações talvez precisem sugerir um
redirecionamento do segmento de clientes visado ou do problema
especí co. Será necessário recomendar que sua equipe ou o stakeholder se
voltem para uma versão diferente da proposição de valor e/ou do modelo
de negócios. Desse modo, seus comentários podem tentar abordar os
seguintes cenários:
• Esse é um empreendimento caro a ser assumido, ou há formas de
reduzir os riscos da visão por meio de experimentos com MVPs
usando prototipação rápida? (Veja os capítulos 7 e 8.)
• Você vê outros ângulos possíveis que levem em conta alguns aspectos
da visão do stakeholder, ou recomenda que a equipe faça um
redirecionamento do cliente ou do problema? (Veja os capítulos 3 e 8.)
• Será necessário fazer mais pesquisas para saber se a proposição de
valor é realmente viável, por exemplo, fazendo uma pesquisa de
usuário (veja o Capítulo 8) ou usando testes A/B com páginas de
destino (landing pages)? (Veja o Capítulo 9.)
Você está no nal de sua análise competitiva agora, e sabe qual é o tipo de
mercado que está diante do conceito de seu produto:
• Se você estiver em um oceano vermelho, será preciso perguntar: “Por
que estou criando algo em um mercado saturado?”. Talvez tenha de
retornar aos capítulos anteriores e fazer um redirecionamento do
segmento de clientes ou da proposição de valor inicial com base no
que aprendeu.
• Se estiver em um oceano roxo ou azul, vá para o Capítulo 6. Você está
no limiar de, possivelmente, criar um produto inovador! Contudo, será
necessário começar a planejar uma experiência de usuário para tirar
proveito da oportunidade.
Tomar decisões difíceis pode ser estressante, mesmo depois de termos
feito a pesquisa e a análise detalhada. A intuição pode desempenhar um
papel essencial caso haja contradições e ambiguidades nos dados. Como
diz Mintzberg no livro Strategy Safari, “A tomada de decisões, portanto,
passa a ser menos racional, mas um esforço vão para ser racional”.10
Recapitulando
A estratégia de produto deve ter como base não só os objetivos de negócio
da empresa e suas capacidades organizacionais, mas também uma
compreensão sistemática do ambiente do mercado. Neste capítulo, vimos
como fazer uma análise competitiva, sintetizando informações sobre o seu
mercado a m de descobrir padrões de design de produtos e possíveis
modelos de negócios. Uma boa análise expõe lacunas e oportunidades
que permitem que você faça julgamentos sólidos quanto à sua estratégia
de produto. Conhecer o desconhecido ajuda sua equipe a não repetir os
erros e transformar ideias boas em ótimas.
No Capítulo 6, vamos usar o que aprendemos para agregar valor por meio
da diferenciação e da inovação, com foco especi camente na UX e no
modelo de negócios.
1 Babette E. Bensoussan e Craig S. Fleisher, Business and Competitive Analysis (Londres: Pearson
Education, 2007).
2 Steve Blank, “Death by Competitive Analysis” (Morte por análise competitiva), Steve Blank, 1 de
março de 2010, https://oreil.ly/_SuIP.
3 Babette E. Bensoussan e Craig S. Fleisher, Business and Competitive Analysis (Londres: Pearson
Education, 2007). (N.T.: Tradução livre da citação, com base no texto original em inglês.)
4 N.T.: Scanning e skimming são duas técnicas de leitura dinâmica. Veja a explicação de cada
técnica na próxima seção “Faça um scanning e um skimming dos dados”, mais adiante no texto.
5 N.T.: É a situação em que pensar ou analisar demais provoca uma paralisia, ou seja, uma
incapacidade de seguir adiante ou de tomar uma decisão.
6 “Benchmark (surveying)”, Benchmark (topogra a), Wikipédia, https://oreil.ly/dQoDk.
7 Richard Rumelt, Good Strategy Bad Strategy: The Di erence and Why It Matters (Nova York:
Crown Business, 2011). (Tradução livre da citação, com base no texto original em inglês.)
8 W. Chan Kim e Renée Mauborgne, Blue Ocean Strategy (Brighton, MA: Harvard Business School
Press, 2005). [N.T.: Edição publicada no Brasil: A Estratégia do Oceano Azul (Sextante, 2018).]
9 Alejandro Cremades, “How to E ectively Determine Your Market Size” (Como determinar o
tamanho de seu mercado de modo e caz), Forbes, 23 de setembro de 2018,
https://oreil.ly/nm8dF.
10 Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel, Strategy Safari: A Guided Tour Through the
Wilds of Strategic Management (Nova York, Free Press, 1998). [N.T.: Edição publicada no Brasil:
Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico, (Bookman, 2010). Tradução
livre da citação, com base no texto original em inglês.]
[6]
Criando um storyboard da inovação de valor
Se seu objetivo é inventar algo que seja único, você deverá se concentrar
nos benefícios que tornarão o seu produto indispensável aos usuários.
Isso signi ca que você deve aproveitar as oportunidades vislumbradas
nos capítulos anteriores. Para isso, é necessário combinar os princípios 2 e
4: Inovação de Valor e UX sem Complicações, respectivamente (Figura 6.1).
Se você é um pro ssional de design experiente, saiba que este capítulo não
trata da manipulação de pixels nem da produção e entrega de artefatos
com uma aparência bonita. O capítulo diz respeito a usar truques de
design para manter sua equipe extremamente concentrada na
identi cação e maximização da possível inovação de valor de seu produto.
É uma questão de agilizar seu raciocínio para pensar na proposição de
valor de nitiva do seu produto.
Figura 6.7 – O cliente seleciona o tipo do Figura 6.8 – O cliente seleciona detalhes
incidente. importantes.
Figura 6.9 – O cliente aponta exatamente o local Figura 6.10 – O cliente mostra as partes em
do incidente no mapa. que houve danos.
Figura 6.11 – O cliente é solicitado a tirar fotos. Figura 6.12 – O cliente vê uma lista de o cinas.
Figura 6.13 – O cliente seleciona uma opção Figura 6.14 – O cliente é solicitado a selecionar
para locação de um veículo. uma opção para o próximo passo.
Recapitulando
Neste capítulo, abordamos um grande volume de conteúdos e conceitos
relacionados à concepção e à conexão de ideias para o seu objetivo nal:
articular a sua inovação de valor! Expliquei que a inovação de valor para
produtos digitais é alcançada com um foco na utilidade principal de um
produto. Vimos a importância de determinar as funcionalidades
essenciais que materializam a proposição de valor. Além disso,
aprendemos que criar um produto igual ou apenas levemente melhor do
que o produto do concorrente é um desperdício de tempo. Além disso,
mostrei como buscar inspiração nos in uenciadores de UX. Você
conheceu maneiras de selecionar funcionalidades, padrões de interação e
ideias de modelos de negócios de outros produtos e, então, combiná-los a
m de criar algo novo. Por m, vimos como contar histórias usando
storyboards, conectando a jornada de seu cliente à inovação de valor.
Agora é hora de deixar essa terra do faz-de-conta para trás e ver se você
está realmente inovando; isso será feito com a criação de protótipos para
experimentos.
1 W. Chan Kim e Renée Mauborgne, Blue Ocean Strategy (Brighton, MA: Harvard Business School
Press, 2005).
2 “Cyberpunk (álbum)”, Wikipédia, https://oreil.ly/1SSa0.
3 “Poaching” (Caça furtiva), Wikipédia, https://oreil.ly/kWgoS.
4 Andrew Liptak, “Tinder’s Parent Company Is Suing Bumble for Patent Infringement” (Empresa
proprietária do Tinder processa a Bumble por violação de patente), The Verge, 18 de março de
2018, https://oreil.ly/sSTZ0.
5 Dan Sa er, Microinteractions (Sebastopol, CA: O’Reilly, 2013).
6 “The Adventures of Prince Achmed” (As aventuras do príncipe Achmed), Wikipédia,
https://oreil.ly/gaJ8U.
7 Edwina Langley, “Bumble Partners with Spotify” (Bumble faz parceria com o Spotify), Grazia, 16
de junho de 2016, https://oreil.ly/TKAPK.
[7]
Criando protótipos para experimentos
Figura 7.2 – Foto de Rona Levy segurando o seu primeiro troféu de tênis em 1972.
Cada uma delas tinha 500 dólares para investir. Nenhuma tinha qualquer
experiência com vendas no varejo. Lea entendia de contabilidade. Minha
mãe havia trabalhado somente como secretária de uma área jurídica, e
não havia cursado nenhuma faculdade. No entanto, minha mãe era uma
lutadora. Ela sugeriu que zessem um experimento com a sua proposição
de valor. Perguntou a um amigo da família se ele poderia ajudá-las a
adquirir alguns produtos. Esse amigo trabalhava na área de “schmatta”
(retalhos), e conhecia muito bem os fabricantes de vestuários no centro de
Los Angeles. Também conhecia a estrela de cinema Elke Sommer, que
concordou em vender às novas parceiras de negócio algumas peças de sua
nova linha de roupas para tênis a preço de custo. Com quatro vestidos,
dez saias em tom pastel e doze sutiãs, minha mãe e Lea só precisavam
encontrar algumas clientes.
Inicialmente, elas tentaram consegui-las nas quadras de tênis; nesses
locais, elas exibiam seus artigos, que eram levados no porta-malas do
carro da minha mãe. As pessoas, porém, realmente precisavam
experimentar as peças em um local privado. Assim, minha mãe e Lea
conseguiram listas com nomes e os números de telefone das jogadoras
nos clubes locais, a quem podiam ligar para convencê-las a irem até suas
casas. Lembro-me de chegar da escola e encontrar dezenas de mulheres
seminuas perambulando pelo quarto da minha mãe, enquanto ela as
persuadia a experimentar diferentes estilos. Então, minha mãe e Lea
foram convidadas a ir a uma casa em Beverly Hills para participar de um
evento de caridade no qual doariam 10% de suas vendas. Elas levaram
suas roupas a esse segmento de clientes abastadas, vendendo o produto na
garagem da mansão, utilizando um provador que podia ser armado como
uma tenda. Esses experimentos zeram com que elas tivessem muito
sucesso. Seu esquema de empreendimento foi até mesmo mencionado
como um dos “Dez melhores negócios em L.A.” na LA Magazine.2 Em seu
primeiro ano, elas haviam reunido um estoque no valor de 10 mil dólares
e tinham uma base de clientes em todos os bairros de Los Angeles,
incluindo Beverly Hills, Ojai e Paci c Palisades. Era hora de escalar,
saindo dos closets de seus quartos para um estabelecimento de tijolo e
cimento no Ventura Boulevard. A Love Match Tennis Shop nascia
o cialmente! (Veja a Figura 7.3.)
Figura 7.3 – Foto de Lea Kramer (à esquerda) e Rona Levy (à direita) diante da Love Match
Tennis Shop em 1974.
Para que esse processo seja rápido, não queremos perder tempo simulando algo com
pouco valor conceitual.
Conforme representado, o storyboard de Jessica mostra uma pessoa
tentando chegar ao trabalho no horário do rush. Ela então aciona cada
uma das funcionalidades essenciais – fazer reservas em combinações de
aeronaves autônomas e outros meios de transporte, e uso de QR codes
para embarcar com rapidez e facilidade. Desenhar essas interações ajudou
Jessica a entender rapidamente os tipos de tela que serão necessários, sem
nem mesmo ter de ligar um computador. Jessica utilizou esse storyboard
como ponto de partida para criar seu protótipo.
Para isso, ela seguiu os quatro passos a seguir, que descreverei depois em
detalhes:
1. Faça uma descrição do protótipo.
2. Conheça sua ferramenta para criação do protótipo e organize seus
recursos.
3. Crie todas as telas de seu protótipo.
4. Faça tudo uir.
Então, arregace as mangas porque é hora de colocar suas mãos na massa.
Passo 2: Conheça sua ferramenta para criação do protótipo e organize seus recursos
Usando a ferramenta de prototipação escolhida, crie artboards em branco
para cada tela da descrição. Utilize a proporção de tela adequada ao
dispositivo no qual você pretende mostrar o protótipo (desktop, tablet ou
celular). Jessica selecionou a proporção de tela adequada a um telefone
celular para os viajantes que usariam o aplicativo durante o trajeto.
Procure kits de UI gratuitos na internet contendo elementos ou até
mesmo telas inteiras para agilizar a criação de seu protótipo. Encontre
aqueles que utilizam padrões de design de UX e de UI consagrados para
que o seu protótipo pareça mais pro ssional e realista. Com a descrição
de seu protótipo em mente, analise cada kit de UI e observe quaisquer
elementos ou telas que possam ser úteis a você. Faça o download do
máximo possível de itens que forem relevantes. Organize-os para ter fácil
acesso a eles quando estiver no Passo 3.
Jessica encontrou alguns kits de UI interessantes, incluindo alguns que
lidavam especi camente com reservas em transportes (veja a Figura 7.9).
Figura 7.9 – Uma amostra dos kits de UI do Adobe XD usados por Jessica.
Figura 7.11 – Referência ao protótipo de Jessica, com as conexões (acesse o protótipo completo
em https://adobe.ly/2XcL3OR).
Recapitulando
A moral deste capítulo é: não desperdice seu tempo, dinheiro ou esforços
em um produto que ainda não tenha sido testado e validado junto aos
clientes-alvos. Faça algo para testar a experiência, mesmo que seja vender
itens do closet de seu próprio quarto.
No Capítulo 8, você usará seu protótipo para envolver seus usuários-alvos
em um experimento online para pesquisa de usuários e coletará feedbacks
qualitativos. No Capítulo 9, você usará telas de seu protótipo em um
experimento com uma página de destino para coletar dados quantitativos.
Vou agora descrever como escrever um roteiro para uma entrevista com
base nesse uxo, usando Nico como exemplo. Você pode usar o template
chamado “User Research Interviews” (Entrevistas para Pesquisa de
Usuários), que está no kit de ferramentas de UX, quando estiver pronto
para preparar suas próprias entrevistas. É nessa ferramenta que você
também registrará as respostas dos participantes durante a entrevista que
será feita na Fase 2.
Esteja ciente de que as entrevistas poderão variar quanto à duração,
dependendo de seu orçamento e do nível de complexidade do protótipo.
No experimento de Nico, o tempo total de cada entrevista era de 30
minutos.
Quando mostrar a primeira tela aos participantes, você deve lhes dar uma
tarefa para que eles tenham um objetivo inicial em mente - por exemplo,
“Gostaria que você zesse a reserva de um carro” ou “Gostaria que você
reservasse um pacote para casamento”. É preciso deixar esse cenário
genérico para que você tenha a oportunidade de fazer perguntas
especí cas sobre as preferências e as necessidades dos participantes à
medida que utilizarem o protótipo.
Para coletar essas especi cidades, é necessário redigir perguntas que se
correlacionem com cada tela da demo. Algumas telas podem não ter
perguntas associadas por não terem nenhum conteúdo ou funcionalidade
signi cativos, por exemplo, uma splash screen (tela de abertura). Em
geral, porém, você deve ser capaz de pensar em pelo menos uma pergunta
por tela para ter certeza de que o participante compreende o que está
vendo. Por exemplo, uma boa pergunta a ser feita quando mostrar uma
tela pela primeira vez poderia ser: “O que você acha que você pode fazer
nessa tela?”. E sim, embora esse seja um tipo de pergunta sobre
usabilidade, ela mantém o foco dos participantes em sua jornada pessoal
como usuário. Perguntas como essa podem proporcionar insights úteis,
que ajudarão a identi car as partes do design que possam confundir o
participante. Como você estará diante de um verdadeiro cliente em
potencial, não vai querer perder nenhuma informação por causa de um
protótipo imperfeito.
Eis algumas ações que você deve e que não deve colocar em prática:
• Crie perguntas de entrevista que estimulem os participantes a pensar
em sua solução.
• Peça a eles que pensem em voz alta.
• Comece com perguntas que tenham respostas mais abertas e dê dicas
e palpites su cientes apenas para validar ou invalidar as hipóteses.
• Dê incentivos para fazer o usuário compartilhar seu processo de
raciocínio com você. Descubra como, se e por que sua solução
funcionaria ou não para eles por meio de suas perguntas. Apresente
opções de modelos mentais conhecidos dos participantes para dar um
contexto ao protótipo.
• Fique em silêncio e ouça (por exemplo, fale o mínimo necessário).
• Não faça perguntas tendenciosas. Não diga aos participantes o que
eles devem pensar nem distorça o feedback inicial dado por eles de
modo a validar sua hipótese.
• Não pressione os participantes, forçando-os a fazer um brainstorming
de funcionalidades para o seu produto.
• Não que tentado a justi car ou explicar a sua solução.
• Não demonstre emoções fortes e mantenha suas reações não visuais
sob controle.
• Não faça perguntas que testem a inteligência dos participantes – por
exemplo, “O que você acha que os carrinhos azuis no mapa
representam?”. Muitas vezes, a diferença entre uma boa pergunta e
uma pergunta ruim está apenas na forma de fazê-la. Uma maneira
mais apropriada de fazer essa mesma pergunta seria: “O que você está
vendo nessa tela?” Em seguida, veja se eles apontam os carros. Talvez
você tenha também de contextualizar a tela para os usuários antes de
fazer qualquer pergunta: “Agora você acabou de estacionar na frente
da garagem de um host”.
A Figura 8.10 [campo PROTOTYPE DEMO (20 MINS) na planilha]
mostra as perguntas de Nico para as suas primeiras telas. A pergunta
sobre a Tela 2 foi estruturada de forma a não ser tendenciosa, além de
permitir uma avaliação quantitativa. A última pergunta sobre a Tela 3 diz
respeito a preços. É extremamente discutível se você deve perguntar a um
cliente quanto ele pagaria por um produto. Os clientes poderiam
subestimar o preço, ou talvez não tenham a mínima ideia. Apesar disso,
ter uma noção do que os clientes esperam pagar pode ser conveniente para
fundamentar as estratégias de marketing e de preços.
PROTOTYPE DEMO (20 MINS)
Tela 1 – Início/Busca
Gostaria que você reservasse um carro por duas horas. Observe esta primeira tela; diga-me o que você faria para selecionar um
carro.
Que tipo de tarefas você faria com um carro alugado por um curto período?
Tela 2 – Resultados da busca
Observando os ltros, você poderia classi cá-los na ordem de importância para você? (validação da funcionalidade essencial #2)
Tela 3 – Detalhes do item
Há alguma informação faltando nessa tela, que você gostaria de saber antes de alugar esse carro?
Você acha que o preço por hora é caro ou barato para alugar um carro? (validação do modelo de negócios)
Figura 8.10 – Perguntas da entrevista de Nico para as suas primeiras telas.
Agendando as entrevistas
Agora é hora de entrar em contato com essas pessoas para agendar a
entrevista; você pode fazer isso manualmente ou pode utilizar uma
ferramenta de agenda (por exemplo, Calendly, Acuity ou Doodle). Marque
as entrevistas em um período de um a dois dias. Reserve pelo menos 30
minutos de folga entre os participantes caso alguma entrevista demore
mais do que o planejado ou algum participante se atrase. Você também
pode considerar agendar mais participantes do que o necessário para o
caso de as pessoas cancelarem ou não entrarem em contato no horário
que lhes foi reservado. Nico agendou os participantes em blocos de 30
minutos, com intervalos entre eles. Isso deu tempo para que ele pudesse
processar o que havia acabado de ouvir e se preparar para a próxima
entrevista. Quando conversava com os participantes pelo telefone, Nico
também perguntava pela disponibilidade deles. Em seguida, enviava aos
participantes selecionados o horário reservado para eles de acordo com a
disponibilidade informada.
Independentemente da forma como con rmar e agendar seus
participantes, envie-lhes um email contendo instruções e informações
mais detalhadas antes das entrevistas, para que eles estejam tecnicamente
preparados.
Esse email pode incluir as seguintes instruções:
1. Faça o download da ferramenta de videoconferência online (por
exemplo, Zoom, Google Meet ou qualquer que seja a plataforma de
sua preferência) – envie junto o link para o download.
2. Teste sua webcam e o microfone para garantir que estejam
funcionando com o software.
3. Certi que-se de que seu computador esteja em um local silencioso e
tenha uma boa conexão com a internet para a entrevista.
4. Esteja preparado para compartilhar a sua tela enquanto visualiza um
protótipo.
5. A entrevista será gravada (as gravações servirão apenas para tomar
notas, e não serão distribuídas publicamente).
Assim que todos os seus participantes tiverem con rmado, adicione seus
nomes e as informações de contato nas colunas à direita das perguntas no
template “User Research Interviews” (Entrevistas para Pesquisa de
Usuários).
Em muitos países, será necessário obter uma permissão por escrito, seja
por meio de um formulário de consentimento, seja com uma caixa de
seleção em uma enquete online. Consulte o departamento jurídico de sua
empresa antes de fazer as entrevistas.
Agora você está pronto para as entrevistas!
Figura 8.14 – Con guração do desktop de Nico durante suas entrevistas com os usuários.
Conduzindo as entrevistas
Fazer uma boa entrevista para obter insights valiosos é uma espécie de
arte a ser dominada com a prática. Para saber mais, consulte um livro
chamado Interviewing Users de Steve Portigal.2 É um manual básico
incrível, com foco especi camente nas técnicas de entrevistas para fazer
pesquisa de usuários em campo. Se você é tímido, ou falar com clientes for
uma novidade para você, treine antes com os membros da equipe e os
amigos.
Eis as minhas diretrizes básicas para conduzir entrevistas em pesquisas de
usuários online:
• Sempre cumprimente as pessoas com um sorriso simpático e
agradeça-lhes imediatamente por colaborarem com a pesquisa.
• Não comece as entrevistas com conversas adas. Seja pro ssional.
Você pode estabelecer uma conexão com as pessoas simplesmente se
mostrando interessado pelo que elas falarem.
• Leia a introdução que está no roteiro, mas faça com que soe como se
fosse uma conversa. Em seguida, passe para as suas perguntas
preparatórias. Preste atenção no relógio para garantir que haverá
tempo su ciente para a demonstração do protótipo.
• Após as perguntas preparatórias, envie o link do protótipo às pessoas e
peça-lhes que compartilhem suas telas.
• Atenha-se ao roteiro, porém faça outras perguntas complementares
caso sejam necessárias.
• Não há problemas se houver momentos de silêncio durante a
entrevista. Você não vai querer dizer acidentalmente algo que seja
tendencioso. Em vez disso, faça algumas perguntas neutras, por
exemplo, “O que você acha?” ou “O que você esperaria?”.
• Identi que quaisquer opiniões ou ideias particularmente marcantes
quando as ouvir.
• Se um participante parecer distraído durante a entrevista (por
exemplo, está navegando na internet ou olhando para o seu celular),
pergunte educadamente se haveria um melhor horário para fazer a
entrevista.
• No nal, agradeça aos participantes pelo tempo e diga-lhes como seus
insights foram úteis. Pergunte se você poderia entrar em contato com
eles novamente para futuras pesquisas. Encerre no horário, a menos
que o participante continue fornecendo insights úteis depois que você
lhe tiver agradecido por ter colaborado com a sua pesquisa.
• Não há problemas em fazer pequenas mudanças nas perguntas (por
exemplo, refraseá-las) e no protótipo (por exemplo, corrigir um erro de
ortogra a que atrapalhe) no intervalo entre as sessões de entrevistas,
sobretudo se houver muitas pessoas que quem sem saber o que fazer
ou parem exatamente no mesmo ponto. No entanto, não altere muito a
demonstração do protótipo nem as perguntas até ter acabado de
entrevistar esse grupo de participantes. Caso contrário, o experimento
deixará de ser controlado, os resultados não poderão ser comparados
entre os participantes e você não será capaz de quanti car esses
resultados com con ança.
Gravando
Na primeira edição deste livro, recomendei evitar o uso de dispositivos de
gravação durante as entrevistas feitas pessoalmente porque isso deixaria
os participantes ansiosos. Contudo, a beleza das entrevistas online é que
as gravações não dão a impressão de serem tão intrusivas, facilitando
capturar as expressões faciais dos participantes e seu uso do protótipo.
Você pode diminuir a ansiedade dos participantes se informá-los de que
as gravações serão usadas somente para consulta e não serão distribuídas
publicamente.
Não se esqueça de pedir permissão antes de gravar, caso ainda não o
tenha feito. Em muitos países, será necessário obter uma permissão por
escrito, seja por meio de um formulário de consentimento, seja com uma
caixa de seleção em uma enquete online. Se sua empresa tiver um
departamento jurídico, consulte-o. Você também poderá encontrar
modelos de formulários para consentimento online.
A gravação tem muitas utilidades após a entrevista. Você poderá extrair
citações diretas e acrescentar quaisquer anotações que não tenham sido
feitas durante as sessões ao vivo. Também poderá criar um vídeo dos
momentos mais importantes para compartilhar com a sua equipe e o
stakeholder para que eles tenham evidências visuais do estudo. Se a sua
plataforma de videoconferência não tiver a opção de gravação de tela
incluída, utilize uma ferramenta de terceiros.
Anotações
Você usará a planilha para fazer anotações para que as informações
estejam organizadas para a fase de análise, como vimos no Capítulo 5.
Tomar notas durante a entrevista é importante porque rever horas de
gravações ou de transcrições de áudio pode consumir bastante tempo. Se
você não estiver gravando, tomar notas ao vivo será mais importante
ainda. Além disso, se um software de terceiros como o Otter ou o Rev for
usado para transcrever o áudio, será necessário pagar um valor adicional
pelo uso do serviço, de aproximadamente um a dois dólares por minuto.
É possível perceber quão rapidamente esse custo pode aumentar. Lembre-
se de que o nosso objetivo é entrar, obter as respostas que dizem respeito
ao nosso protótipo e sair, gastando o mínimo possível de tempo e
dinheiro. Você pode considerar ter uma segunda pessoa na chamada para
tomar notas, de modo a manter o seu envolvimento com o participante,
porém haverá o risco de o participante car ainda mais nervoso e
paranoico com uma segunda pessoa assistindo à chamada.
Não se preocupe com os erros de ortogra a. Você poderá voltar e corrigi-
los depois. Procure sintetizar as respostas dos participantes em frases
curtas, que apreendam a essência do que estão dizendo. Mantenha o foco
nas respostas às perguntas do roteiro e em quaisquer reações fortes,
verbais ou físicas que os participantes demonstrarem enquanto
observarem as telas. Não se esqueça de acrescentar qualquer ideia ou
insight adicional assim que a chamada terminar, enquanto a entrevista
ainda estiver fresca em sua memória. Na Figura 8.15, podemos ver a
e cácia com que Nico fez essas anotações gerais.
Entrevista 1 às
Entrevista 2 às 10:50 Entrevista 3 às 12:00
9:50
Tela 13 - Resumo da Viagem
Entrevista 1 às
Entrevista 2 às 10:50 Entrevista 3 às 12:00
9:50
Se você tivesse um carro alugado apenas por 60-100 quilômetros 60 quilômetros 15-30 quilômetros na
duas horas, quantos quilômetros você acha cidade
que dirigiria? 120-250 quilômetros
em viagens mais longas
Tela 14 - Portal do host
Você consideraria alugar a entrada de sua Sim, consideraria ser Sim, mas dependeria do quanto Sim, porque quando
garagem para um dos veículos da frota? um host ela receberia tivesse de dirigir, seria
conveniente
Além de ser pago por alugar sua vaga e ter Cláusula de O acesso não é um grande Testemunhos anteriores
acesso pessoal a um carro, há algo mais que segurança para que problema, pois ela poderia andar para incentivar as
poderia convencer você a ser um host? o host saiba o que um pouco para conseguir um carro pessoas a serem um
esperar host
Escute o sinal
Agora temos resultados não ambíguos do experimento de pesquisa com
usuários. No entanto, esse experimento envolveu poucos participantes.
Você deve repetir seu experimento com tamanhos cada vez maiores de
amostras, até ter um sinal que seja su cientemente forte para convencer a
si mesmo, seus stakeholders e/ou possíveis investidores.
Assim que estiver con ante quanto à signi cância de seus resultados, é
hora de tomar algumas decisões importantes. Uma das situações a seguir
poderá ter ocorrido:
• Você invalidou a sua proposição de valor, mas acredita que visou a um
segmento de clientes correto. Eles simplesmente não quiseram sua
solução ou não precisavam dela. Se você fez as perguntas certas, saberá
o porquê. Há algum aspecto de sua proposição de valor ao qual eles
responderam favoravelmente e que possa levar você para uma nova
direção? Em caso a rmativo, volte ao Capítulo 6 e pense em outras
ideias inovadoras. Ou você teme que o problema que está resolvendo
não é tão ruim, a ponto de as pessoas não precisarem de sua solução?
Nesse caso, é hora de reconsiderar seguir adiante com esse conceito de
negócios. Ou você quer investir mais tempo e dinheiro nessa ideia
antes de jogar a toalha? Então vá para o Capítulo 9 e procure testar a
proposição de valor com outro tipo de experimento.
• Você invalidou a sua proposição de valor, mas agora acredita que
tenha visado a um segmento de clientes incorreto. Volte para o
Capítulo 3 (descoberta de clientes), procure identi car o segmento de
clientes correto e execute esse experimento de novo. Pare de mostrar
seu protótipo enquanto faz a descoberta de clientes novamente, até
entender quem são seus clientes de verdade e qual é a tarefa que eles
estão tentando fazer.
• Você validou a sua proposição de valor, mas não o seu modelo de
negócios. Observe as respostas das entrevistas que concernem ao
modelo de negócios e considere se há outros modelos que compensem
explorar. Você também pode observar novamente os seus concorrentes
para ver se algum de seus modelos de negócio poderia funcionar com
a sua proposição de valor. Então você poderá atualizar o seu protótipo
e conduzir outra rodada de entrevistas para pesquisa de usuários.
Também poderá testar a proposição de valor atual com variações do
modelo de negócios, como veremos no Capítulo 9.
• Você validou a sua proposição de valor e o seu modelo de negócios,
mas não validou todas as funcionalidades essenciais. Observe as
respostas das entrevistas que dizem respeito à funcionalidade essencial
que não foi apreciada, e considere como ela poderia ser modi cada.
Você pode atualizar seu protótipo e conduzir outra rodada de
entrevistas para pesquisa de usuários. Também poderá testar a
proposição de valor atual e o modelo de negócios com variações das
funcionalidades essenciais, como veremos no Capítulo 9.
Se você se enquadrar em uma dessas categorias e tiver um cliente ou
stakeholder que não acredita nos resultados de sua pesquisa e quer,
apesar de tudo, desenvolver o produto, você estará diante de um problema
existencial, no qual terá de encontrar um equilíbrio entre os seus
princípios e o seu bolso. Somente você poderá dar uma resposta para isso.
O cenário de melhor caso é aquele em que você obteve apenas feedbacks
positivos. Mazel tov! Execute seu experimento novamente com uma
amostra maior para coletar evidências mais robustas, ou vá para o
Capítulo 9 para testar seu conceito de negócios com um novo tipo de
experimento.
Validar todas as suas hipóteses é um feito raro, sobretudo para ideias
realmente inovadoras. Assim, encerrarei este capítulo com uma citação
apropriada da famosa autora e estudiosa de sistemas Donella H.
Meadows.3 Ela diz o seguinte:
Em vez de se tornar defensor de uma única possível explicação ou hipótese ou modelo,
reúna o máximo possível deles. Considere que todos possam ser plausíveis, até encontrar
alguma evidência que lhe permita excluir um. Desse modo, você conseguirá deixar as
emoções de lado e perceber as evidências que excluam uma suposição que possa estar
entrelaçada com a sua própria identidade.4
Recapitulando
A estratégia deve se basear na realidade. Você pode conduzir pesquisas de
usuários online com rapidez e um baixo orçamento a m de obter
evidências imediatas e apresentá-las aos stakeholders, que precisam tomar
decisões importantes quanto à estratégia do produto. À primeira vista,
fazer a pesquisa pode parecer uma tarefa intimidadora; mas, quanto mais
você praticar, menos intimidadora ela será. Ao fazer uma pesquisa na
forma de um experimento estruturado, você terá um modelo para separar
o que é e o que não é relevante, mantendo o foco na coleta de insights
para a validação das hipóteses. Quanto mais cedo a sua equipe e os
stakeholders souberem diretamente do cliente-alvo se a sua solução é
desejável e viável, melhor será.
A maior parte dos meus avanços ocorreram por erros. Você descobre o que
é quando se livra do que não é.1
—R. BUCKMINSTER FULLER
Você deve ajustar constantemente a sua estratégia para ter resultados mais
bem-sucedidos na aquisição e retenção de clientes. Cometer erros é
inevitável no processo. É necessário de nir uma estratégia e criar funis
e cazes para tudo, desde fazer as pessoas conhecerem a sua proposição de
valor até convertê-las em clientes engajados. Esse processo de testar e
ajustar é conhecido como design para conversão. Ele reúne todos os
princípios, conforme representado na Figura 9.1.
Funil de negócios
Um funil é um utensílio em formato de cone, com um tubo na
extremidade para conduzir líquidos ou outras substâncias através de uma
pequena abertura. Quando coloco óleo no motor do meu carro, utilizo
um funil para aumentar a taxa de sucesso para o óleo chegar diretamente
até o local em que deverá estar. O funil é o sistema que eu uso para evitar
desperdícios.
No mundo da estratégia de UX, o desperdício ocorre quando usuários em
potencial não são conduzidos por um funil até a engine de um produto.
Em algum ponto no caminho, eles não se cadastraram, não ativaram suas
contas, não iniciaram ou concluíram uma transação, ou algo diferente
aconteceu. Em outras palavras, eles não experimentaram totalmente a
proposição de valor, e podem ter clicado para sair, sem que suas
necessidades tenham sido satisfeitas. O design do funil de um produto
digital não os converteu em clientes engajados.
Os funis têm sido usados como metáforas para o engajamento de clientes
desde que o executivo de uma agência de publicidade, Elias St. Elmo
Lewis, utilizou o termo funil de marketing pela primeira vez em 1898.2 Ele
dividiu a jornada do cliente pelo funil em etapas cognitivas distintas:
atenção (awareness), interesse (interest), desejo (desire) e ação (action).
Esse funil é comumente conhecido hoje em dia pelo acrônimo AIDA.
Esse processo em etapas está sintetizado a seguir e na Figura 9.3:
Atenção
É quando o cliente em potencial toma conhecimento da existência de
um produto. Algo chama a sua atenção, sugando-o para o início do funil
de marketing. Por exemplo, o cliente vê um anúncio.
Interesse
É quanto o cliente em potencial conhece as vantagens do produto e
como ele poderia resolver uma necessidade em sua vida; isso o atrai
mais ainda para dentro do funil. Por exemplo, o cliente clica no anúncio
porque leu os detalhes.
Desejo
É quando o cliente em potencial passa da fase de gostar do produto e
passa a querê-lo, e isso o leva mais para dentro do funil. Por exemplo, o
cliente consome, interage ou faz rolagens para ver todas as informações
na página de destino.
Ação
É quando o cliente em potencial toma alguma atitude para adquirir o
produto, levando-o para o fundo do funil de marketing. Por exemplo, o
cliente demonstra seu desejo pelo produto clicando na CTA (Call to
Action, ou Chamada para a Ação) na página de destino.
Figura 9.7 – Sebastian Philipp apontando para um poster do Volkswagen We Share em Berlim na
Alemanha.
Um pouco de história antes: a Volkswagen está fazendo experimentos
com diferentes iniciativas de MaaS (Mobility-as-a-Service, ou Mobilidade
como Serviço). Eles têm todo um ecossistema digital de produtos
chamados We, que permitem que motoristas de um Volkswagen tenham
serviços mais integrados, que estarão incluídos se você for proprietário ou
zer um leasing de um Volkswagen. Um dos conceitos de negócio que eles
queriam validar era saber se os clientes gostariam de fazer reservas em um
lava-rápido por meio de um aplicativo, e se também estariam dispostos a
pagar digitalmente. O propósito dessa campanha em particular era tentar
descobrir a localização geográ ca dos lava-rápidos que atrairia o maior
número de clientes.
De na o experimento
Se você usou a ferramenta User Research Experiment Design (Design de
Experimento para Pesquisa de Usuários) no Capítulo 8 para o design de
seu experimento para pesquisa de usuários online, a maioria dos passos a
seguir será de seu conhecimento. Isso porque a ferramenta Landing Page
Experiment Design (Design de Experimento com Página de Destino) é
uma versão um pouco modi cada daquela:
1. Value Proposition (Proposição de valor): coloque a versão mais
recente e concisa de sua proposição de valor.
2. Experiment Type (Tipo do experimento): insira uma descrição geral
do tipo de experimento que você planejar fazer; nesse caso, é um
experimento com página de destino.
3. Start/End Dates of Experiment (Data de início/ m do experimento):
insira as datas e/ou durações reais do experimento.
4. Experiment Details (Detalhes do experimento): insira os detalhes
importantes, por exemplo, quantos anúncios você espera publicar, o
orçamento para o estudo, as ferramentas que pretende utilizar e qual
prova de conceito você planeja exibir. Se não estiver certo quanto a
alguns desses detalhes, retorne depois de terminar a leitura do
capítulo para preenchê-los.
5. Hypothesis (Hipótese): conforme discutimos nos capítulos 7 e 8, uma
hipótese deve ser mensurável e não deve ser ambígua. Para
experimentos com páginas de destino em que conceitos de negócio são
testados, apenas uma variável deve ser testada a cada vez. Do
contrário, não teremos um experimento controlado. Possíveis variáveis
podem ser o anúncio, a página de destino e o público-alvo. Essa é a
parte mais importante da ferramenta a ser preenchida no momento.
Você sempre poderá completar a parte restante antes de fazer o
experimento.
6. Validation Method (Método de validação): é nesse local que você
descreve como a variável escolhida será usada para testar a hipótese.
7. Minimum Success Criteria (Critérios mínimos de sucesso): insira
uma porcentagem que represente uma validação bem-sucedida de sua
hipótese ou hipóteses. Para o seu experimento com página de destino,
essa porcentagem é chamada de taxa de conversão, que é o número de
vezes que alguém executa a ação desejada (por exemplo, clica no botão
para fazer o download do aplicativo) em relação ao número de
usuários que acessaram a página de destino (em geral, entre 2% a 6%).
Em sua campanha publicitária, essa porcentagem se chama CTR
(Click-Through Rate, ou Taxa de Cliques), que é o número de vezes
que o anúncio é clicado dividido pelo número de vezes que foi exibido
(em geral, entre 1% a 5%).
Como podemos ver, as três primeiras partes são idênticas àquelas
descritas no Capítulo 8, mas a parte restante é especí ca para a execução
de experimentos com página de destino, incluindo o modo de direcionar
o tráfego para essa página. Vou preencher a ferramenta Landing Page
Experiment Design (Design de Experimento com Página de Destino)
utilizando o experimento com página de destino da Volkswagen como
referência. (Veja a Figura 9.8.)
1.Value Proposition: um 4. Experiment Details: publicar um anúncio no Facebook para dois públicos-alvo distintos. Cada
aplicativo para fazer reservas campanha publicitária terá um orçamento de 350 a 400 euros, e terão início na mesma data. Será
em lava-rápidos automáticos e feita uma comparação dos resultados das campanhas publicitárias e das páginas de destino.
personalizados, sem o uso de
dinheiro vivo.
2. Experiment Type:
Experimento com Página de
Destino
3. Start/End date: quarta-feira,
22 de abril de 2020 até quarta-
feira, 29 de abril de 2020.
5. Hypothesis Below 6. Validation Method Below 7. Minimum Success Criteria
É mais provável que motoristas Publicar um anúncio no Facebook para dois segmentos de 1% de CTR nos anúncios do
em centros urbanos na clientes de diferentes áreas geográ cas na Alemanha. O clique Facebook; 5% de conversão
Alemanha queiram esse serviço enviará cada público-alvo para versões idênticas da página de (pessoas clicando no botão de
do que os motoristas de áreas destino, e será feita uma comparação das taxas de conversão e download do aplicativo) na
rurais. do CAC. página de destino.
Figura 9.8 – Ferramenta Landing Page Experiment Design (Design de Experimento com Página
de Destino) do UX Strategy Toolkit (Kit de Ferramentas de Estratégia de UX).
Analise os resultados
Depois de concluída a campanha, é hora de analisar os resultados.
Esperamos que os anúncios tenham sido visualizados e clicados por um
percentual alto do público-alvo que você escolheu. O ideal é que uma
porcentagem alta desse grupo tenha então clicado na CTA na página de
destino. Mesmo que você tenha feito apenas um anúncio de cinco dólares
no Facebook para um experimento com página de destino, há sempre algo
a ser aprendido, ainda que seja o fato de ninguém ter clicado em seu
anúncio. É preciso pôr seu chapéu de detetive para interpretar os dados e
fazer correlações lógicas acerca do que funcionou e do que não
funcionou.
Na Figura 9.14, podemos ver uma imagem de tela da campanha de Jessica
no Facebook. Há alguns pontos a serem observados. Jessica publicou seu
anúncio com o problema e o anúncio com a solução para o mesmo
público-alvo, e os enviou para páginas de destino idênticas. Os dados que
devemos compreender são:
Results (link clicks) [Resultados (cliques no link)]
É o número de vezes que o anúncio foi clicado.
Reach (Alcance)
É uma estimativa do número de pessoas que viram o anúncio pelo
menos uma vez.
Impressions (Impressões)
Informa o número de vezes que o anúncio foi exibido. É diferente do
alcance porque o anúncio pode ter sido mostrado para uma pessoa
várias vezes.
Cost per Result (or click) [Custo por resultado (ou clique)]
É o orçamento dividido pelo número de cliques no link.
Se observarmos a Figura 9.14, podemos ver qual anúncio fez mais sucesso.
O anúncio com o problema teve quase quatro vezes mais cliques no link,
e o custo por clique foi de apenas 12 centavos de dólar –
aproximadamente um quarto do custo por resultado do anúncio com a
solução. Ter um custo por clique menor é importante porque signi ca um
custo menor para adquirir tráfego web para a sua página de destino. Essa
é uma boa informação tática quando você realmente começar a se
concentrar em atingir seus clientes.
Apresente os resultados
Em um ambiente corporativo, será necessário apresentar seus dados para
a equipe e os stakeholders, tomar decisões e então continuar a fazer
experimentos para fundamentar a sua estratégia. Isso nos leva de volta ao
experimento do AutoWaschen do Volkswagen Group Services GmbH.
Depois que a equipe de produto fez o experimento, eles precisavam
apresentar os resultados aos stakeholders, que não eram necessariamente
pessoas da área de marketing nem gênios da matemática.
Na Figura 9.16, podemos ver um slide com a apresentação do experimento.
Ele inclui imagens do anúncio e da página de destino para mostrar aos
stakeholders de que modo os usuários passaram pelo funil de marketing.
À direita das imagens, podemos ver uma tabela que sintetiza os resultados
da campanha publicitária e das páginas de destino. Os números exibidos
na tabela foram alterados por razões de con dencialidade.
Figura 9.16 – Resultados do experimento com página de destino do Volkswagen Group Services
GmbH Einfach AutoWaschen, com um centro urbano à esquerda e uma cidade rural à direita (os
números foram alterados por razões de con dencialidade).
Recapitulando
Neste capítulo, discutimos como uma estratégia de sucesso depende de
suas equipes de marketing e de design trabalharem juntas em harmonia.
Vimos que é necessário fazer ajustes nos nos funis dos produtos para
conquistar usuários e incentivar o crescimento. Aprendemos a usar
páginas de destino e campanhas publicitárias online para fazer
experimentos com conceitos de negócios e identi car possíveis canais
para aquisição de clientes. Além disso, a maior lição a ser aprendida é que
você e a sua equipe podem fazer grandes progressos por meio de
tentativas e erros!
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5 Sean Ellis e Morgan Brown, Hacking Growth (Londres: Virgin Books, 2017).
6 Lex Roman, “Growth Design FAQ” (Perguntas frequentes sobre o growth design), Lex Roman,
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7 Nir Eyal e Ryan Hoover, Hooked: How to Build Habit-Forming Products (Nova York: Portfolio,
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formadores de hábitos (Alfacon, 2021).]
8 N.T.: Tradução livre da citação com base no original em inglês.
9 Nir Eyal, “Nir Eyal on Creating Habit-Forming Products: Closing Remarks” (Nir Eyal fala da
criação de produtos formadores de hábitos: considerações nais), LinkedIn Learning, 23 de
janeiro de 2017.
10 Interactive Advertising Bureau, Internet Advertising Revenue Report (Relatório de faturamento
com publicidade na internet), maio de 2020, https://oreil.ly/m4x2R.
11 “Customer Lifetime Value”, Wikipédia, https://oreil.ly/Pg37h.
12 Roman Pichler, Strategize (Wendover, UK: Pichler Consulting, 2016).
[ 10 ]
Desfecho
Figura 10.1 – Foto de Alex Zindler (à direita) e seu amigo Irving Roth em 1925.
Durante muitos anos, ele treinou boxe, porém um soco em seu rosto
durante uma de suas lutas fez com que uma catarata grave se
desenvolvesse em um de seus olhos. Depois de uma cirurgia malsucedida
para reparação, Alex se viu cego desse olho, restando apenas um olho
ruim com o qual tinha de se virar. Muitas pessoas teriam cado
desanimadas, ou teriam deixado que essa de ciência física limitasse suas
atividades. Mas não Alex. Ele se casou, estabeleceu-se em Winnipeg,
Manitoba, e teve três lhos. Para sustentar a família, trabalhou com
di culdade por mais de 25 anos, passando roupas em uma lavanderia.
Em 1957, aos 50 anos de idade, Alex sofreu um ataque cardíaco grave e
cou totalmente cego. Dois anos depois, sua esposa faleceu, deixando-o
sozinho para criar o lho mais novo.
Contudo, meu avô Alex não deixou que essas novas tragédias o
mantivessem preso a uma vida de desespero ou fracasso. Em vez disso,
enfrentou seus medos e foi à luta. Alex fez treinamentos para mobilidade
para que pudesse viajar de ônibus sozinho. Filiou-se a uma liga de
jogadores de boliche cegos e fazia exercícios em uma academia. Incentivou
o lho a ter a melhor formação educacional possível porque, para o meu
avô, a educação era tudo.
Entretanto, foi a tecnologia que deu a maior liberdade para Alex. Ele era
realmente um amante de áudios e comprava os melhores aparelhos
possíveis para gravá-los e ouvir sua enorme coleção de discos. Tornou-se
um consumidor voraz de livros gravados em ta e devorava os mais
recentes best-sellers do New York Times.
Por volta dos 60 anos, por meio de uma cooperativa sem ns lucrativos de
proprietários de gravadores chamada Voicespondence Club, a rede social
de Alex se expandiu. Os membros do clube em todo o mundo usavam
tas de bobina (e, mais tarde, tas cassete) para trocar histórias sobre suas
vidas cotidianas, divagações políticas e até mesmo gravações de músicas
piratas. O clube era, basicamente, uma versão analógica do Facebook-
com-Napster. A ta cassete era também o modo como ele se correspondia
do Canadá com a minha família em Los Angeles. Meu avô faleceu em
1981, aos 74 anos, mas, graças às suas gravações que eu escutava quando
criança, jamais me esquecerei de seu sotaque polonês e das histórias
edi cantes que ele contava.
Não importa se você é empreendedor, gerente de produto ou designer,
criar um produto digital é um caminho extremamente pessoal, que pode
parecer um evento decisivo em sua vida. Investimos nossas economias,
nossa saúde e as emoções em proposições de valor que esperamos que vá
mudar as vidas dos usuários. Porém, como criadores, devemos aceitar que
o fracasso, embora seja uma barreira intransponível para algumas
pessoas, pode ser uma parte essencial da jornada de nosso produto em
direção ao sucesso. Precisamos ser como o meu avô – um homem que não
permitiu que as di culdades em sua vida de nissem como ela seria. Em
vez disso, ele continuou redirecionando e vivendo a vida de forma
completa, encontrando inclusive uma forma de fazer isso usando a
tecnologia.
Lições aprendidas
• Nem tudo sempre acontece conforme planejado. Precisamos ser ágeis e encontrar novas
maneiras de seguir em frente. Aceite os desa os da vida. Mantenha a sua mente ativa.
• Não ignore as oportunidades para usar as tecnologias do cotidiano de formas novas e
inesperadas, que possibilitem melhorar as vidas dos usuários e ajudá-los a solucionar
problemas reais.
• Em última análise, somos os responsáveis pelas nossas vidas, e somos de nidos pelo
modo como decidimos vivê-la. Nossa existência é o que fazemos dela. Por que a
desperdiçar?
1 Friedrich Nietzsche, Human, All Too Human: A Book for Free Spirits, edição em inglês. (Nova
York: Charles H. Kerr, 1908). [N.T.: Edição publicada no Brasil: Humano, demasiado humano: um
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2 Metromile Inc., https://enterprise.metromile.com.
3 “Say hello to connected car insurance” (Diga olá ao seguro para carros conectados), Metromile,
www.metromile.com/partners-ford.
4 Jaime Levy e Jessica Lupanow, “UX Strategy (2nd Edition) Book Editing Sessions”, [(Sessões de
revisão do livro UX Strategy (2ª edição)], YouTube, 2020, https://oreil.ly/Ezd0R.
5 “Ternopil”, Wikipédia, https://oreil.ly/RnqZT.
6 “Tarnopol”, Jewish Virtual Library, 2008, https://oreil.ly/WqEwb.
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