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Demonstração por contradição

Também chamada de demonstração por redução ao absurdo,


Demonstrações matemáticas, parte II consiste da seguinte estratégia:
▶ Queremos mostrar que uma certa afirmação p é verdadeira.
Prof. Rafael Borges de Souza ▶ Assumimos que p é falsa, ou seja, que ¬p é verdadeira.
▶ Juntamente com as outras hipóteses que temos, concluı́mos
UFSC-BNU
uma contradição ou um absurdo.
Aula 10 ▶ Logo, p não pode ser falsa, e então concluı́mos que p é
verdadeira.

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Demonstração por contradição Demonstração por contradição

Proposição. Para todo x ∈ R, se x > 0, então x + x1 ≥ 2.


Demonstração. Seja x ∈ R qualquer e suponha que x > 0.
Queremos mostrar que x + x1 ≥ 2.
Suponha, por absurdo, que Observe que do lado direito da inequação (3) temos um quadrado
perfeito, logo,
1
x+ <2 (1) (x − 1)2 < 0 (4)
x
Note que a inequação (4) é um absurdo, já que o quadrado de um
Como x > 0, podemos multiplicar a inequação (1) por x e manter
número real é sempre não-negativo.
a inequação, ou seja,
Assim, concluı́mos que x + x1 ≥ 2, como querı́amos.
x 2 + 1 < 2x (2)
que pode ser reescrita como

x 2 − 2x + 1 < 0 (3)

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Demonstração por contradição Demonstração por vacuidade


Proposição. Para todo m ∈ Z, se 4m + 10 é ı́mpar, então m é
ı́mpar.
Demonstração. Seja m ∈ Z arbitrário e suponha que 4m + 10 é ▶ Esta estratégia consiste em mostrar implicações do tipo
ı́mpar. Queremos mostrar que m é ı́mpar. Suponha, por
contradição, que m é par. Assim, existe a ∈ Z tal que ∀x ∈ A, (p(x) → (q(x))

m = 2a (5) na qual p(x) é sempre falsa para todo x ∈ A.


▶ Sabemos que uma implicação do tipo p → q é sempre verdade
Assim, da equação (5) segue quando p é falsa.
4m + 10 = 4(2a) + 10 = 8a + 10 = 2(4a + 5) (6) ▶ Com isso nem precisamos analisar a conclusão da implicação
para garantir que ela é verdadeira, pois ela já é verdadeira
Como a ∈ Z, segue que 4a + 5 ∈ Z também. Assim, a equação (6) “automaticamente”.
mostra que 4m + 10 é par. Isso contradiz o fato de 4m + 10 ser
ı́mpar.
Então, concluı́mos que m é ı́mpar.

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Demonstração por vacuidade Demonstração trivial
Definição. Dizemos que um número inteiro a é um cubo perfeito
se existe um número inteiro b tal que a = b 3 .
Proposição. Para todo n ∈ Z, se 10 ≤ n ≤ 15 e n é um quadrado
perfeito, então n é um cubo perfeito. ▶ Esta estratégia consiste em mostrar implicações do tipo
Demonstração. Seja n ∈ N qualquer. Queremos mostrar que se
∀x ∈ A, (p(x) → (q(x))
10 ≤ n ≤ 15 e n é um quadrado perfeito, então n é um cubo
perfeito. na qual q(x) é sempre verdade para todo x ∈ A.
Sabemos que o conjunto dos quadrados perfeitos é
▶ Sabemos que uma implicação do tipo p → q é sempre verdade
{1, 4, 9, 16, 25, 36, . . . } quando q é verdade.
▶ Com isso nem precisamos utilizar a premissa da implicação
Logo, não há nenhum número natural n, entre 10 e 15 que seja um para garantir que ela é verdadeira, pois ela já é verdadeira
quadrado perfeito. “automaticamente”.
Assim, a premissa da implicação que queremos mostrar é sempre
falsa.
Logo, a implicação é verdadeira, ou seja, se 10 ≤ n ≤ 15 e n é um
quadrado perfeito, então n é um cubo perfeito.
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Demonstração trivial Demonstração de equivalências


▶ É comum termos que mostrar que um conjunto de afirmações
são todas equivalentes entre si.
▶ A estratégia para mostrar que p1 ↔ p2 ↔ p2 ↔ · · · ↔ pn é
Proposição. Para todo x ∈ N, se x é par, então 13x é um número mostrar o seguinte ciclo de implicações
inteiro.
Demonstração. Seja x ∈ N qualquer. Queremos mostrar que se x p1 → p2
é par, então 13x é um número inteiro.
Mas note que 13x é inteiro, independente de x ser par ou não. p2 → p3
Assim, a conclusão da implicação que queremos mostrar é sempre ..
verdade, independente da premissa. .
Logo, a implicação é verdadeira, ou seja, se x é par, então 13x é pn−1 → pn
um número inteiro.
pn → p1
▶ A demonstração não está completa se não fechar o ciclo de
implicações, demonstrando que a última proposição implica de
volta na primeira.
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Demonstração de equivalências Demonstração de equivalências


Proposição. Para todo n ∈ Z, mostre que são equivalentes as
afirmações: (2 → 3) Suponha que n − 1 é ı́mpar. Logo, existe b ∈ Z tal que
1. n é par
n − 1 = 2b + 1 (9)
2. n − 1 é ı́mpar
3. n2 é par Da eq. (9) segue que
Demonstração. Tome n ∈ Z arbitrário. Vamos demonstrar as n = 2b + 2 (10)
quatro implicações separadamente. Assim,
(1 → 2) Suponha que n é par. Logo, existe a ∈ Z tal que
n2 = (2b + 2)2 = 4b 2 + 8b + 4 = 2(2b 2 + 4b + 2) (11)
n = 2a (7)
Como b ∈ Z, segue que 2b 2 + 4b + 2. Então, pela eq. (11),
Pela eq. (7), segue que concluı́mos que n2 é par.
(3 → 1) Queremos mostrar que: se n2 é par, então n é par.
n − 1 = 2a − 1 = 2(a − 1) + 1 (8) A contrapositiva desta proposição é: se n é ı́mpar, então n2 é
ı́mpar. Mas já mostramos essa contrapositiva na aula anterior.
Como a ∈ Z, segue que a − 1 ∈ Z também. Logo, da eq. (8)
segue que n − 1 é um número ı́mpar.
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Demonstração por contraexemplo Demonstração por contraexemplo

▶ Demonstrações por contra-exemplos funcionam para mostrar Proposição. Seja p(n) = n2 + n + 41. Mostre que a afirmação
que afirmações são falsas. “para todo n ∈ N, p(n) é primo” é falsa.
▶ Em geral, queremos mostrar que Demonstração. Considere o contraexemplo n = 40. Veja que
n ∈ N, além disso,
∀x ∈ A, p(x) é falsa
p(n) = 402 + 40 + 41 = 1681 = 412
▶ Encontre um x ∈ A tal que p(x) seja falso e então conclua
que a afirmação em questão é falsa. Logo, p(n) não é primo.

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Demonstração por contraexemplo

Proposição. Mostre que a afirmação “para todo n ∈ N existem


a, b ∈ N tais que n = a2 + b 2 ” é falsa.
Demonstração. Considere o contraexemplo n = 3. Suponha, por
contradição, que existem a, b ∈ N tais que

3 = a2 + b 2 (12)

Veja que, como são todos números naturais, só existem duas
possibilidades para a e b: 0 ou 1.
Mas daı́
▶ 02 + 02 ̸= 3
▶ 12 + 02 =
̸ 3
▶ 12 + 12 ≠ 3
Isso contradiz a eq. (12).

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