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Lucio Geller,+AL5
Lucio Geller,+AL5
Resumo
Por meio do estudo realizado sobre a biografia de Ana Braga Machado Gontijo, feita por sua amiga e
conterrânea Irmã Áurea Menezes “A têmpera da mulher tocantinense” de 1991, nossa referência e única
fonte biográfica, tencionamos nos aprofundar na vida da escritora, intelectual, negra e primeira Vereadora
em Goiás nos idos de 1947. Ana Braga é caracterizada como “destemida” e dotada de grande força e
capacidade de oratória. Discursou nos palanques da política quando participou da primeira legislatura de
Goiânia, filiando-se à UDN, na época. Fez parte da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás de 1969
como Co-fundadora ao lado de 40 mulheres intelectuais e artistas. A voz das mulheres, como reforça
Michelle Perrot (2005), foi considerada tagarelice, inútil aos ouvidos mais atentos, e no campo político era
vista como uma intrusão. Por meio desta fonte, a partir das perspectivas de Geovani Levi (2006) e Bourdieu
(2006) acerca da trajetória e usos da biografia, e dos estudos de gênero, lançaremos luz histórica à vida
desta mulher até então apagada.
Palavras-chave: política-mulheres-Goiás.
Abstract
Through the study on the biography of Ana Braga Machado Gontijo, made by her friend and fellow Sister
Áurea Menezes “The temperament of the Tocantins woman” of 1991, our reference and only biographical
source, we intend to delve into the life of the writer, intellectual, black and first councilwoman in Goiás in the
years of 1947. Ana Braga is characterized as “fearless” and endowed with great strength and ability to speak.
She spoke on the political platforms when she participated in the first legislature in Goiânia, joining the UDN
at the time. She was part of the Women's Academy of Letters and Arts of Goiás in 1969 as Co-founder
alongside 40 women intellectuals and artists. The women's voice, as reinforced by Michelle Perrot (2005),
was considered chatter, useless to the most attentive ears, and in the political field it was seen as an
intrusion. Through this source, from the perspectives of Geovani Levi (2006) and Bourdieu (2006) about the
trajectory and uses of biography, and gender studies, we will shed historical light on the life of this woman,
which had been erased until then.
Keywords: Political-Women-Goiás.
1
Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás
(UFG). Contato: debora.maia06@hotmail.com
lacunas e a falta de fontes. A historiadora Marina Maluf em seu livro “Ruídos da Memória”
1990, os diários, especificamente aqueles escritos por mulheres. O uso deles e das cartas
são fontes privilegiadas para a História das Mulheres que se firmou como campo de
estudos nos anos 1970-1980. Ao se tratar de escritos deixados por elas devemos ressaltar
apagamento da existência.
Fazer estas breves considerações são pertinentes para nos aprofundarmos nos
revela um desejo genuíno de coesão, afirma Michael Pollak (1989), e no caso das
narrativas de uma história até então silenciadas. Essas memórias silenciadas são na
concepção de Pollak (1989), “memórias clandestinas”, que emergem fora das narrativas
compreendidas como “oficiais”. Pollak (1989) dialoga com o uso das memórias como
encontrará “zonas de sombras”, silêncios e “não ditos”, ou seja, tanto no testemunho oral
suporte escrito, pois como reforçou Contardo Calligaris (1998), a produção autobiográfica
ocidental. De acordo com Geovanni Levi (2006) junto ao desejo de registrar a própria vida
resposta seria não. O grande desafio dos biógrafos até então era o de “construir uma
indivíduo e das diferentes representações que dele possa ter conforme os pontos de vista
objetos. Sobre a biografia, Vavy Pachedo Borges (2005) aponta que houve um resgate de
seus usos “o chamado retorno talvez em parte tenha-se insinuado mediante o conceito
(vindo do senso comum) de “história de vida”, a partir da década de 1970, utilizado pela
(2006) teceu importantes considerações acerca do uso das biografias. De acordo com o
extrair uma lógica ao mesmo tempo retrospectiva e prospectiva, uma consciência e uma
refletir que o ato de selecionar representa o desejo de construir uma imagem, um projeto
existência. Desta forma Bourdieu chegou à seguinte conclusão de que: ambos os lados,
“ilusão retórica”, ou seja, concluindo que o mais próximo que chegamos ao interpretar a
sucessivamente ocupadas por um mesmo agente, num espaço que é ele próprio um
forma, nos atentarmos que as biografias e as histórias de vida são construídas por ilusões
biografadas. Sobre esta questão Michelle Perrot (2005) reforça que “dizer “eu” não é fácil
desnecessário dar destaque às mulheres, cujas biografias não teriam serventia, mas entre
feita, segundo Michelle Perrot (2005) as mulheres não estão nas narrativas históricas, e
muito menos dignas de um projeto biográfico “elas aparecem menos no espaço público,
objeto maior da observação e da narrativa, fala-se pouco delas” (PERROT, 2005, p. 11).
Por essa razão as historiadoras e historiadores das mulheres se deparam com muitas
Para os homens sempre foi dada a possibilidade de narrar sua própria vida, uma
vida pública dotada de significados e sempre associada a uma memória oficial. A História
das mulheres revelou o grande material até então negligenciado pela tradicional
Margareth Rago (2015) em seu livro “A Aventura de Contar-se” deixa evidente que
formas criativas de resistir ao apagamento, bem como constituírem a sua identidade. Para
esta pesquisa nos debruçamos diante da trajetória de uma mulher até então apagada na
história. O esquecimento, como pontuou Paul Ricoeur (2000) em seu livro “A memória, a
seja, constrói-se uma ausência que por sua vez é naturalizada pela memória, escolhendo
aquilo que deve ou não, ser lembrado. Jacques Le Goff em “História e Memória” reforça
Ana Braga Machado Gontijo (1923-) foi apagada da história de Goiás. Esta foi
de mais 40 mulheres intelectuais. Destacamos aqui sua trajetória enquanto mulher negra,
na política de Goiás nos idos de 1940. Geovanni Levi (2006) nos atenta para observarmos
Sobre estas relações de poder, vale nos lembrar de Michel Foucault para o qual
pontos móveis e transitórios que também se distribuem por toda a estrutura social”.
(FOUCAULT, 2018, p. 18). A biografia utilizada como material de estudo e fonte, a única
que encontramos, foi escrita por Áurea Cordeiro Menezes (1931-2017) 2, mulher branca,
2
Nasceu em Curvelo, Minas Gerais em 1931. Muda-se com a família para Goiás quando tinha 05 anos de idade.
Estudou no Colégio Santa Clara, já em Goiânia, concluindo o curso Normal junto ao curso de contabilidade. É
Menezes deu como titulo à sua obra “Ana Braga: a têmpera da mulher
afirmação de sua existência social era um grande desafio. Ana Braga Gontijo torna-se Ana
optou apenas por “Ana Braga”. Através do nosso material encontramos a intenção de
projetar uma mulher autônoma, forte e destemida, que não se deixou vencer pelas
intemperes da vida, galgando espaços até então conquistados apenas pelos homens.
Vamos nos aprofundar neste breve artigo sobre a vida de Ana Braga Gontijo pelo
olhar de sua biógrafa e amiga, sendo este um material enriquecedor por conter uma
pesquisa nos jornais da capital Goiana. Isso reforça não apenas a intenção de produzir
uma biografia, mas o desejo de registrar na memória a existência desta mulher como
forma de fazer-lhe justiça, bem como fixar um elo de amizade entre que havia entre elas.
Impressionou-me ver aquela moça morena, tão nova e tão vibrátil, falando de
coisas que ainda eram efêmeras, de crenças que permaneciam fugazes e,
mesmo assim, sua voz multiplicava-se nos ecos. Gritava seu desejo de abrir
caminho ao aprimoramento feminino, sua certeza de que a marcha da mulher
buscava a realidade de seu valor. (DAHER, Nice Monteiro. In. MENEZES, 1991, p.
21).
congregada das irmãs Franciscanas, seguindo carreira religiosa. Na Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás
fez o curso de pedagogia, chegando à pós-graduação em História pela Universidade Federal de Goiás ao
defender sua tese em 1981, chamada: “O Colégio Santa Clara e sua influência educacional em Goiás”. Auxiliou
na formação da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (AFLAG) em 1969, vindo a ocupar uma cadeira
apenas em 1986 aos 55 anos. Faleceu em 2017 em Goiânia.
Narrar uma trajetória pressupõem um destino, uma origem que levou aos devidos
fins, muitas vezes, relembra Bourdieu (2006), o projeto narrativo nos faz esquecer que
esta vida está repleta de desvios, incertezas, recuos. Como exemplo de estudo biográfico,
(2001) escreve sobre a trajetória de Consuelo Caiado, uma mulher goiana, importante
Bertha Lutz no Rio de Janeiro. Kofes (2001) traçou um itinerário, perseguindo os rastros e
preenchendo as lacunas de uma vida, e por meio de seu estudo podemos concluir que:
“escrevo sobre o que pode ser construído, tecido através das indagações sobre uma
Neste artigo, por se tratar da biografia de uma mulher escrita por outra, levando
estas mulheres estão se reinventando, reconstruindo espaços aos quais elas possam se
fixar na memória, de forma que, sendo mulheres cuja amizade se reforça no ato da
coragem necessárias para moldá-la na mulher imbatível que é” (MENEZES, 1991, p. 25).
registrar a vida de uma mulher. A biografia é dividida em aspectos da vida de Ana Braga,
iniciando na “Infância”, por meio da qual é retratada a origem de Ana, sendo a cidade de
novembro de 1923, Ana é descrita como moça humilde, cujo futuro promete grande
feitos devido à sua personalidade forte e destemida, própria dos prodígios da história.
próprios das jornadas do herói, presentes em muitas narrativas mitológicas. Aqui se aplica
a reflexão proposta por Bourdieu (2006) acerca das ilusões projetadas pelas biografias.
de oratória, que serão sua principal característica enquanto adulta ao discursar nos
palanques da política.
Ana iniciou seus estudos aos cinco anos de idade, quando passou a frequentar a
única escolinha de sua cidade [...] o Pai de Ana pagou, com muito sacrifício,
algumas aulas particulares para ela. Foi à única aluna da professora Fany [Fany
de Oliveira Macedo], por muito tempo, sentada numa varanda, sozinha. Após
dar aulas para os meninos. (MENEZES, 1991, p. 26).
estudos eram inúmeras. No início do século XX para as meninas era permitido o acesso às
escolas primárias, já o estudo secundário era voltado apenas para os meninos, para os
quais era permitido galgar o ensino superior. As jovens poderiam cursar o colégio normal,
considerada moralmente aceita para as moças. Muitas escolas funcionavam separadas por
gênero, o fato de Ana Braga ter acesso à educação, já faz dela uma privilegiada,
capacitando-a para seguir com seus anseios. Aprendia-se a ler, escrever, contar, e no
(2005) “os planos de educação são geralmente sexistas, ligam as moças ao fuso e à roda,
forma que saber ler o básico, contar para administrar a economia doméstica, e escrever,
proporcionar-lhe leituras variadas que esta não acessava nos bancos escolares.
forma que podemos ascender na memória através das palavras dessa mulher, nas
subjetividades que a História Oral, um recurso muito utilizado para se preencher lacunas,
nos proporciona alcançar. Nas palavras de Ana, atreladas à narrativa biográfica sobre a
região em que nasceu, descreve com muito apego: “Cresci amando aquela natureza
virgem. Lugares lindos, ermos, cheios de matizes e de silencio, só cortados pelo canto dos
menina decorava palavras do dicionário de Jaime Séguier. Ana guarda esse dicionário até
hoje”. (MENEZES, 1991, p. 28). O pai de Ana, Anísio Pereira Braga, muda-se levando toda
a família para a região de Trindade, em Goiás, quando Ana completava seus seis anos de
vida. O pai de Ana é descrito como “um operário”, de origem humilde, sendo importante
figura para que a jovem venha a se tornar o que foi. O apoio deste lhe abriu um leque de
possibilidades, como reforça Menezes: “Preocupado com o futuro da filha, o Sr. Anísio,
para continuar os estudos”. (MENEZES, 1991, p. 33). A figura humilde do avô, Joaquim
Nunes Pinheiro, também participa dessa trajetória, ao recordar Ana de que: “seu avô a
botava para fazer exercícios na lousa, que a punha para decorar palavras do dicionário
Jaime Séguier, que lhe tomava as lições de aritmética, de português [...]” (MENEZES, 1991,
p. 37).
Em 1936, como evidenciado pela biografia, Ana com seus 13 anos de vida muda-
se com a família novamente, desta vez para Goiânia, a Nova Capital recém-fundada em
19333. A vida cercada de dificuldades reforçam sua origem humilde, e a luta do pai em
3
Em 1933, o interventor de Goiás, Pedro Ludovico Teixeira nomeado por Getúlio Vargas promoveu a mudança
da capital, até então Cidade de Goiás, para a região que viria a ser Goiânia. Influenciado pela Revolução de 1930
que depôs da política a oligarquia dos Caiado na antiga Capital e fez ascender a nível nacional o governo de
Getúlio Vargas, o desenvolvimento econômico fortaleceria o projeto da “Marcha para Oeste”. Ares de
modernidade política, segundo Nasr Chaul (2010), emergem influenciando uma mentalidade mais progressista,
mais moderna, no desejo de superar o atraso e a decadência construída em torno da velha capital, no desejo de
proporcionar-lhe o estudo agora é transferida para a figura da mãe, Dona Edetina, que
com muito esforço levou a filha para galgar uma vaga no Colégio Santa Clara: “este era o
melhor colégio de toda a região sul [...] ela e o esposo queriam o melhor para Ana, não
obstante as grandes dificuldades por que passavam”. (MENEZES, 1991, p. 39). Ana Braga
em entrevista descreve que sua mãe foi para ela: “[...] mulher forte. Dela eu herdei essa
Sobre o Colégio, este se chamava “Escola Pública de Campinas”, Campinas era até
então a maior cidade que se formava no entorno da nova capital. De acordo com
dirigiram para o Colégio na intenção de matricular suas filhas. Desta forma o Colégio
necessária, sendo um luxo destinado às moças das camadas mais abastadas da sociedade
goiana.
nesta a biógrafa Áurea Menezes começa a se dirigir à Ana Braga como doutora, fazendo
“povoar” os sertões do Brasil. Esta mentalidade poder ser percebida “nas várias facetas da cidade que se tornou
Goiânia” (CHAUL, 2010, p. 256).
Menezes (1991) reforça no trecho acima que terminar o colégio primário “já era o
bastante para uma mulher, na década de quarenta”, apontando novamente sua posição
de privilégio, demonstrando que a mesma tinha consciência de que as barreiras que Ana
Braga rompia eram estruturais. Sobre a educação das mulheres vale frisarmos que:
Nessa época, já havia sido instituído o ensino superior para a mulher, desde
1879, propiciando a abertura de profissões. Poucas privilegiadas frequentaram
uma faculdade, pois além das pressões, da desaprovação social, a jovem deveria
ter concluído o curso secundário, que era muito caro. Só no século XX aceitaram
a frequência de moças em escola pública. (AIRES, 2006, p. 36).
desta foi co-fundadora da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, em 1969, assim
a descreve: “Ana Braga Machado Gontijo, nome que sustenta grande responsabilidade – a
de ser a inteligência feminina mais vibrante de Goiás. Espírito nobre, forjado na luta, Ana é
bem a força e a capacidade da mulher goiana” (AMEIDA apud. MENEZES, 1991, p. 46).
história das mulheres, pois juntas estão enaltecendo entre si qualidades que a história
relegou apenas aos homens, como frisou Joana Maria Pedro (2005; 1994), por meio de
dedicada exclusivamente para a sua “vida pública”. De acordo com Clarisse Ismério (1995)
sempre destacar o aspecto negativo gerado pela mulher que trocava seus deveres
principais por uma profissão remunerada” (ISMÉRIO, 1995, p. 25). Esses discursos
durante o século XX almejavam seguir com suas carreiras profissionais e exercer direitos
cuidado do lar e da família, compreendidos pela moral cristã e por grande parcela da
sociedade brasileira como a “grande missão da mulher”, justificada “pelo fato de ser
maternidade e dos cuidados do lar, atrelados a ideia de inferioridade física e mental, aos
lúbrica, venal” instituindo vergonha para si e para sua família (PERROT, 1998, p. 07). Os
campos do saber, bem como o acesso ao conhecimento, são símbolos da diferença entre
descreveu Ana Braga em registro para a Biografia estudada “Ana Braga é tudo isso, e é
mais, porque é produto de si mesma” sendo reforçado por Brasigóis Felício, também em
depoimento, “Talvez Ana Braga tenha sido uma das primeiras mulheres goianas a, ainda
Assim escreveu June Habner: “O universo feminino era para ser doméstico. Mesmo
política”. (HABNER, pág. 46). Desta feita, as mulheres ressoam nas feiras, na reclusão do
lar, nas lavanderias, nos salões literários e, no máximo, nas salas de aula, cuja presença
feminina é autorizada por ser esta uma profissão que reproduz suas funções maternas, a
imagem da mãe como educadora era comum desde o final do século XIX.
aconteceu em 1945, quando essa menina voluntariosa, porém dócil, como os dóceis, mal
Sobre a (UDN) a nível local, o historiador Cristiano Arrais (2016) assim apresenta sua
Trouxemos destaque a este partido por ser através dele que Ana Braga, em meio
4
Faz referencia à Revolução de 1930. Esta revolução reverberou em Goiás com a derrocada do governo da
oligarquia dos Caiado, e logo depois a ascensão de Pedro Ludovico Teixeira, nomeado por Getúlio Vargas
como interventor da região na década de 1930. Pedro Ludovico inicia a empreitada da mudança da Capital
da Cidade de Goiás para a nova capital Goiânia, concluindo em 1933. Para mais consultar: CHAUL, Nars
Fayad. Caminhos de Goiás: da construção da decadência aos limites da modernidade. Goiânia: UFG, 2015.
surgiu no cenário do discurso, com a sua oratória. A UDN era contra o Governo de
Vargas e o Estado Novo (1930-1945), considerado por estes uma ditadura, fazendo com
público, pensou: “Chegou a minha vez!”. A jovem moça foi recepcionar o candidato- Dr.
Jerônimo - com a intenção de proferir um discurso para ele. Aqui a biógrafa construiu
no qual Ana, ao contar para os pais o desejo de entrar para a política, recebeu reações
controversas, o pai assim se manifestou: “Ah! Não! Filha minha não vai mexer com isso
não. Onde já se viu uma coisa dessa, moça dessa idade, fazer discurso político, Não! Eu
uma grande ascensão que estará por vir. Ana se dirigiu ao local que recepcionaria o
candidato, mesmo com as controversas dos pais insistiu para discursar. Nesta época com
biógrafa: “o fato é que Jerônimo Coimbra chegou. Um fazia discurso, outro fazia, e lá
estava eu. Chegou a minha vez. Fiz o discurso e deve ter saído direitinho porque, no dia
5
seguinte, “O Popular” estampou meu discurso, quase na íntegra”. (GONTIJO, apud.
1932 quando o Novo Código Eleitoral concedeu-lhes o direito ao voto no Brasil6, após
intensa luta engajada pelo movimento feminista, contudo, só foi possível registrar a
participação feminina pela primeira vez em 1945, após o Estado Novo (1937-1945).
como mulher dócil, apesar de sua força. A feminilidade de Ana Braga é reafirmada ao
desta para com os filhos. Carla Pinsky (2014) em seu estudo sobre mulheres e o mundo
5
Principal jornal da época, fundado em 1938, pelos irmãos Jaime Câmara, em Goiânia. Funciona até hoje.
6
O Brasil foi o segundo país da América Latina (primeiro é o Equador) a conceder o voto feminino.
público assim ressalta que: “perder a feminilidade é, contudo, a ameaça mais comum para
a mulher” devendo a todo instante “manter-se com toda sua delicadeza e ternura” e
“cuidar para que sua integridade feminina não sofra”. (PINSKY, 2014. p. 181), reafirmar a
construção da biografia.
conferiam respeito diante da sociedade machista e misógina que atribuía à mulher pública
(RAGO, 2001). Esses estereótipos foram fortes principalmente após a década de 1960
atrelados às mulheres feministas. Como afirmou Áurea Menezes sobre Ana Braga: “Em
Resguarda, porém, o aspecto feminino da mulher. Quer uma mulher atuante, porém,
respeitosa, para se fazer respeitar, digna, à altura de sua condição de mulher” (MENEZES,
1991, p. 157.grifo nosso). A presente biografia é escrita em 1991, ou seja, essa descrição
moderada de Ana Braga feita por Áurea Menezes é um reflexo do período de inúmeros
Para Ana Braga, ser mãe foi um fato que lhe trouxe muita felicidade. Enaltecer esta
7
“função” social cumprida com louvor, reforçando sua “feminilidade” na figura materna
amorosa é uma estratégia das mulheres que buscavam ascensão entre os homens. Assim
Amor de Mãe
Que diferença existe,
Entre meu materno amor
7
Joan Scott (1991) em Gênero: categoria útil de análise histórica aponta que através das relações entre os
sexos, imersos em estruturas de poder, se produzem as “feminilidades” e “masculinidades”. Esses são
conjuntos de comportamentos reiterados por determinadas sociedades, que devem ser situados e
contextualizados em seu tempo e espaço. A “Feminilidade” ideal expressada por Ana Braga e enaltecida
através do exercício quase que “santificado” de sua maternidade é fruto de uma educação de bases
religiosas direcionado às jovens, ou seja, como elucida Elisabeth Badinter (1980) em Um amor conquistado:
O Mito do amor materno, a maternidade deve ser desvinculada da figura da fêmea, e a sua análise voltada
a uma construção social que reitera o amor maternal e o associa a um ideal de “essência” inerente a toda e
qualquer mulher, sendo que em muitas comunidades e épocas diferentes a figura da “mãe” é revestida de
diversos outros signos e sentidos, para alguns inclusive inexiste.
E o esplendor de tudo
Que a natureza tem?
Que diferença existe
Entre este meu amor
E o rolar das águas puras,
Caindo, constantemente,
Daquela cachoeira?
Não vejo diferença
Entre o meu amor materno
E este impulso febril,
8
Sentimento eterno [...]
9
A maternidade é um escudo mobilizado no viés da tática , a força que provém do
amor de mãe ressoa na força de Ana Braga, como pontua Roger Chartier “uma tática que
mobiliza para seus próprios fins, uma representação imposta - aceita, mas que se volta
contra a ordem que a produziu”. (CHARTIER, 1995, p. 41). Desta forma, a “dócil” Ana
Braga, a exemplo, mesmo não falando diretamente sobre o feminismo, como descreve
corrupção do mundo político. Após discurso em público, Ana Braga foi convidada a fazer
campanha pela UDN, viajando por várias regiões do Estado de Goiás. Convocada pelo
partido para participar das reuniões, Ana lança seu nome como vereadora em 1946,
porém, seus ideais se desvirtuam dos propagados pelo partido, que se viu na necessidade
de filiar membros do Partido Comunista, para que, mediante a esta “coligação” saíssem
vitoriosos. Ana se distancia da UDN por conta dessa coligação e suas convicções pessoais.
De acordo com Áurea Menezes, Ana, contudo, manteve sua candidatura e foi
honestidade, mantendo-se rente aos ideais do povo que lhe conferiu o voto”. (MENEZES,
8
GONTIJO, Ana Braga, apud. MENEZES, Áurea. 1991, p. 76-77.
9
Ver: SOIHET, Raquel. A pedagogia da conquista do espaço público pelas mulheres e a militância feminista
de Bertha Lutz. Revista. Brasileira. Educ. n.15, p.97-117, 2000. Disponível em: https://goo.gl/Ycxogy Acesso
em: ago.2019.
1991, p. 150). Porém, lembra-se do esquecimento que recai em Ana Braga, sentido pela
mesma após a eleição do candidato Jerônimo Coimbra Bueno, pelo qual tanto discursou
e militou. Em entrevista à biógrafa, Ana diz que: “o desprezo pelo trabalho realizado
Ana Braga enquanto vereadora levantou pautas sobre os direitos das crianças, dos
mais pobres, respeitando a dignidade do ser humano, sempre associando sua conduta à
Democrática Nacional) Ana Braga filia-se ao partido do PSD (Partido Social Democrata),
no qual manteve boas relações. Áurea Menezes descreve que: “Ana nunca caminha só.
Está com seu povo. A força de suas raízes a sustenta na batalha”. (MENEZES, 1991, p.
156).
Ana Braga após o exercício da política, como Vereadora, concluindo seu mandato
conciliar os estudos, ainda jovem, aos 29 anos, com filhos pequenos. Ana Braga
10
Apenas em 1879 que a lei Leôncio de Carvalho garantiu às mulheres o direito de estudar em instituições
brasileiras de ensino superior. A primeira mulher a dispor de um diploma superior no Brasil foi uma mulher
branca, graduando-se em Medicina, na Bahia, em 1887. Apenas em 1926 teremos a primeira negra, Maria
Rita de Andrade, bacharelando-se em Direito também pela faculdade da Bahia. (ROSEMBERG, 2015, p.
337).
11
O curso de Normalista tinha a duração de dois anos, mediante a isto, atrelado ao curso complementar de
um ano, as jovens saiam formadas como professoras, podendo lecionar em graus menores. O magistério foi
para muitas a porta de entrada no mundo público e sem dúvida a profissão ideal para alcançar sua
emancipação, tendo sido em Goiás, importante na consolidação de sua formação de mestra, a Escola
Normal Oficial, criada em 1884, o Colégio Santana, para moças, em 1889 e em Campinas o Colégio Santa
Clara, na década de 1930. Dedicaram-se ao máximo como educadoras e foram mestras notáveis: Maria
Romana da Purificação Araújo (1800-1873), Angélica de Souza Lobo, Silvina Ermelinda Xavier de Brito
(Mestra Silvina- 1835-1920), Maria Cyríaca Ferreira, Maria Victória de Moraes Brandão, Pacífica Josefina de
Castro (Mestra Nhola 1845-1933), Anna J. Xavier de Barros Tocantins (Don’Anna 1847-1949), Marianinha
Marimbondo e Maria Henriqueta Peclat (1886-1965). (RODRIGUES, 1986, p. 35)
empecilhos familiares, como as mulheres mais pobres. De acordo com Pinksy (2014), nos
por toda a sua vida, sendo descrita por Áurea Menezes em biografia como uma “mestra-
mãe”, chegando a fundar escolas primárias em Porangatu-Go, onde residiu com seu
Em 1959, vinte e cinco anos depois da criação da USP, em São Paulo, criou-se a
Universidade de Goiás (hoje a PUC-Goiás) mantida pela igreja católica, com a
junção das faculdades de Direito, Filosofia e Serviço Social. Em 1960, fundou-se
a Universidade Federal de Goiás (UFG), agregando cinco faculdades: Direito,
Farmácia e Odontologia, Engenharia, Medicina e Conservatório de Música,
ocasião em que Goiânia se tornou “um centro universitário ativo e o mais
importante, depois de Brasília, da região Centro-Oeste” (ARRAIS, 2016, p. 83).
percentual de 70,6%, logo, atingir o ensino superior como Ana Braga, seria um
fato das mulheres galgarem espaços fora do lar, à mesma defende a realização pessoal
da mulher: “que inclui a satisfação em outros campos de interesse” como “uma condição
mãe”. (PINSKY, 2014, p. 202). Ana Braga atrai para si constantemente esta imagem de
mãe e esposa, chegando a pontuar que: “lutando por empregos, profissões, a mulher não
compromete sua responsabilidade de mãe e esposa (...) Dar ênfase aos seus direitos não
social e na história (TELLES, 1997). Inúmeros discursos que visavam normatizar e submeter
elas a “maternidade ideal e romântica” como medida corretiva e inerente a sua função
promovida pela maternidade, reforçando seus papéis como donas de casa e mães de
família, para ampliar seus espaços de atuação. Rachel Soihet (2000) pontua que este
Em 1959 Ana Braga é eleita Deputada Estadual, com 36 anos. Seu lema era “uma
voz sempre forte em defesa do povo”. Neste período seu primeiro marido faleceu em
trágico acidente. Ana casa-se novamente com o médico Dr. Trajano Machado Gontijo,
matrimônio, junto à vida pública como Deputada e primeira dama. Em 1958, Ana Braga
idealizou o Primeiro Congresso Político de Mulheres, afirmando: “Sou muito goiana, sou
política e gosto de política. Acho-a uma ciência e uma arte”. (MENEZES, 1991, p. 158).
afirma: “Espero que, no pleito que se aproxima, sejam eleitas representantes femininas à
Assembléia” e continua “que a eleitora de Goiás, a mulher entenda que ela, na conjuntura
atual, não pode ser apenas a “ouvinte” [...] Penso, ainda, que os partidos políticos devem
Figura 01
Ana Braga na Assembléia do Estado. 1960. Fonte: MENEZES, Áurea. Ana Braga: A têmpera da
Mulher tocantinense. Fevereiro – 1991, p. 166.
Ana Braga reforça para sua biógrafa que: “ainda nas lides políticas, ia abrindo,
como podia caminho à mulher goiana, para que atingisse, sem complexo, nem
discriminação, um lugar junto aos que governam” (MENEZES, 1991, p. 159). Na foto
acima podemos observar uma maioria de homens, sendo Ana Braga a única mulher ali
presente. Sobre mulheres no campo político tal como Ana Braga, a historiadora Céli
Regina Pinto (2014) fez um estudo sobre Suely Oliveira, primeira mulher eleita a Deputada
moderados por parte da deputada, muitos destes coagidos pelo ambiente opressor em
que essa mulher, a única entre os homens, se encontrava. Observamos uma situação
compartilhada com o contexto de Goiás. Segundo Pierre Bourdieu, citado por Pinto
(2014), podemos identificar que o campo político esta imerso em forças e dinâmicas de
poder.
12
GONTIJO. Ana Braga. “Porangatu tem centro e espera UFG”. Entrevista em O Popular, Goiânia,
04/04/1982. Apud. MENEZES, Áurea Cordeiro. A Têmpera da Mulher Tocantinense. 1991, p. 159.
referência para outras que circulavam nos espaços públicos, tanto que Áurea Menezes
aponta que a mesma já lutava por essas “bandeiras” cujo viés estava na emancipação das
que governam” muito antes do termo “feminismo” surgir. Céli Pinto (2014) considera que
marcam os sujeitos, e naquele contexto da década de 1960, foi possível para mulheres
estrategicamente calculados.
lembremos que até pouco tempo o Brasil se pautava no Código Civil de 1916, que
autorização deste a mulher não poderia exercer qualquer atividade fora do lar. Apenas
Estatuto Civil da Mulher Casada, fruto de muita luta, o que aumentou a flexibilidade e a
mobilidade para constituir a sua autonomia. Aos poucos as mulheres conquistam o
espaço público enquanto sujeito político, com direitos e deveres, sendo esta a tão
almejada cidadania. Mesmo que hoje estas medidas tenham se amenizado, o senso
comum reitera uma imagem pejorativa da mulher que fala em público, impondo estigmas
intelectuais, Ana Braga Machado Gontijo protagoniza uma importante iniciativa literária
feminina chamada Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (AFLAG) 13. Nas palavras
injustiça sentida por muitas mulheres, não só em Goiás, mas pelo Brasil inteiro. Silenciadas
13
Essa instituição se mantém em funcionamento, completando em 2019 seus 50 anos de existência. Ali se
encontram, além das 40 mulheres que organizaram a instituição, dentre elas Ana Braga Machado Gontijo,
outras 84 mulheres, dentre falecidas e titulares das cadeiras ao longo destes anos. São mulheres que
ocuparam diversos cargos e espaços no território goiano, dentre elas escritoras, teatrólogas, professoras,
musicistas, etc. Site da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás- AFLAG:
<https://www.aflag.com.br/academicas>.
da história, das ontologias poéticas, das cátedras, dos espaços do saber, as mulheres
intelecto, que, segundo discursos reiterados por tratados médicos, filosóficos e religiosos,
Letras e Artes de Goiás acima mencionada. Menezes assim termina sua narrativa: “Ana é a
voz que faz estremecer os alicerces dos tronos de homens empossados no poder e que
mostra, à mulher, sua força, seu vigor, não raro, superior aos dons de que é dotado o
sexo masculino”. (MENEZES, 1991, p. 159). Michelle Perrot (2005) em seu estudo sobre
autobiografias e biografias femininas ressalta que estas deixaram o testemunho do que foi
para elas o difícil aprendizado da palavra pública e ao mesmo tempo o prazer que
sentiam, e nisto relaciono o exercício público da voz, o seguir de uma carreira profissional
Figura 02
Ana Braga Machado Gontijo discursando na Assembleia Legislativa de Goiânia por ocasião da
fundação da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, oficialmente em 1970.
Fonte: jornal O Popular, nov.1970. [Arquivo Estadual]
Considerações Finais.
intromissão indesejada” (MÉNDEZ, 2018, p. 231). Assim explanou Natalia Pietra Méndez
de 1960. Ana Braga Gontijo foi tudo isso e muito mais, neste mesmo período, no
longínquo Goiás, distante do eixo Rio São Paulo. Essa mulher, negra, versou nas diversas
a uma mulher. “O saber é contrário à feminilidade” reforça Michelle Perrot (2005) em seus
Vavy Pacheco Borges (2004) aponta que atualmente a biografia “é vista como
parte da história”, tornando-se mais do que uma fonte recorrente, um acesso a novos
saberes sobre o passado. Giovanni Levi (2006) assim reforça os usos da biografia atrelado
à historiografia:
A história das mulheres emerge com força durante os processos de revisão pelos
quais a escrita da história atravessou nas décadas de 1970-1980. De acordo com Rachel
Soihet (1997), o movimento feminista influenciou ainda mais o surgimento deste campo
promovido pela História Cultural, a biografia ressurge entre os pesquisadores. Através dos
olhares.
autobiografia foi uma árdua conquista. A princípio como recurso pedagógico, as mulheres
foram estimuladas a manter diários íntimos, escrever na reclusão do quarto, como forma
terceiros vista com bons olhos, inculcar-lhes “os valores morais de pudor, obediência,
polidez, renúncia, sacrifício... que tecem a coroa das virtudes femininas” (PERROT, 2007, p.
revelam os anseios que tinham diante da vida pública, tanto que o movimento feminista,
logo no final do século XIX, abarcou muitas escritoras e intelectuais que conseguiram
progressivamente romper com essas barreiras, ainda assim, uma parcela muito pequena
divisão sexual dos papéis, reiterando muitas vezes imagens associadas à domesticidade,
como a figura do “anjo tutelar” e “rainha do lar”, mas “a crescente inserção das mulheres
na vida pública e seu engajamento em causas sociais mais amplas podem ser
aponta que as décadas de 1970 e 1980 vivenciaram um crescimento maciço das mulheres
na política, e isso se deu pelas novas formas de sociabilidade e diálogos que surgiram.
nos diversos seguimentos sociais, isso ocorreu devido ao progresso da consciência política
Legislativo, de forma geral, fica em torno dos 10%, sendo nas Câmaras Municipais um
percentual de 11, 6% e na Federal 8%.14 Se formos refletir acerca das mulheres negras esse
14
São dados arrolados pela pesquisadora em 2004.
elas terão. O saber é poder, e este não era permitido às mulheres. Ana Braga Gontijo
lutou para que estas tomassem consciência da sua importância para a “coisa pública” e
figurassem voz nas campanhas políticas. Sua família lhe deu condições de estudar, e o
acesso à educação foi primordial no seu entrosamento político, não podemos deixar de
ressaltar que este era um privilegio de poucas. “O acesso à educação foi importante para
que elas ampliassem seus horizontes, suas referencias” (MÉNDEZ, 2018, p. 103). Somente
Nos depoimentos de Ana, o reforço de sua origem humilde serve para gerir suas
Joan Scott (1991) pontua que o gênero como categoria de análise produziu
Neste caso a diferença sexual como justificativa para que as mulheres seguissem
formação cercada de interditos. Ana Braga Gontijo é uma mulher negra. A sua
caminha a passos largos a estrada da auto realização, servindo a sua terra e a seu povo”
perante os outros, é o processo pelo qual muitas mulheres atravessam. Negar a si mesma
e seus anseios é praxe no seu cotidiano. Simone de Beauvoir (1970) assim refletiu:
Todo indivíduo que se preocupa em justificar sua existência, sente-a como uma
necessidade indefinida de se transcender. Ora, o que define de maneira singular
a situação da mulher é que, sendo, como todo ser humano, uma liberdade
autônoma, descobre-se e escolhe-se num mundo em que os homens lhe
impõem a condição do Outro. (BEAUVOIR, 1970, p. 23).
permitida aos homens, cujas trajetórias forneceram material para longas narrativas
biográficas. Ana Braga foi apagada da história, seu nome não aparece nos salões da
política e seus feitos não são ressaltados, sua trajetória foi biografada apenas por Áurea
cada sociedade, classes, indivíduos e grupos históricos. Menezes (1991) enquanto mulher
branca, fala e constrói a biografia de sua conterrânea a partir do seu olhar e lugar social,
atravessado pelas intervenções diretas de Ana Braga, que usa deste espaço para falar de
si. Áurea Menezes têm a preocupação de entrevistar Ana Braga para relatar as suas
palavras e a partir delas montar a narrativa. Esse registro marca duas trajetórias que se
do século XX sofreram com os estigmas de seu sexo e lutaram pelo seu reconhecimento
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Fig. 01. Ana Braga na Assembléia do Estado. 1960. Fonte: MENEZES, Áurea. Ana Braga: A
Fig. 02. Jornal O POPULAR. Ana Braga Machado Gontijo discursando na Assembleia
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Fonte Biográfica: