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ENTREVISTANDO E

"DANDO VOZ" ÀS
MULHERES
Isabela Graton e Joana Nery
https://www.youtube.com/watch?v=Pz7Wvsa8-Ts

... e o que está em jogo quando as mulheres


narram suas próprias histórias?
Joan Scott
Nascida em 1941, em Nova York
Atualmente é professora de história de
Pricenton
Inicialmente estudou a história do
movimento operário e a história
intelectual francesa
A partir de 1980 começou a pesquisar
sobre a história das mulheres
Criticou a história ortodoxa da época e
o "centro" dos historiadores brancos e
ocidentais.
Também criticava historiadores que
focavam apenas na "história das
mulheres", como se fosse um assunto à
parte.
A invisibilidade da experiência
Joan Scott (1998)

RESUMO DO TEXTO CONTEXTO


Publicado originalmente
A autora discute a importância de historicizar a categoria em 1991, pela Univ. de
"experiência" Chicago, como resultado
Ela critica os historiadores que universalizam o sujeito e, de conferências e
consequentemente, suas experiências seminários conduzidos
Argumenta que os sujeitos são construídos discursivamente pela autora entre 1990 e
Critica o essencialismo de certos historiadores 1991, em diferentes univ.
estadunidenses,
PRINCIPAIS PONTOS
LEVANTADOS
A IMPORTÂNCIA DE CRISE NA HISTÓRIA HISTORICIZANDO
ABORDAR EXPERIÊNCIAS ORTODOXA A EXPERIÊNCIA
"DIFERENTES" As novas experiências Os historiadores têm que
Delany - experiência em mostraram que a história compreender as operações
uma sauna gay havia sido escrita por um e as formas pelas quais as
Tornar essas experiências viés (branco, masculino, identidades são afirmadas,
visíveis é muito importante ocidental..) resistidas e acatadas.
para mostrar que elas Essas experiências É útil trabalhar com o
existem mostraram que a história conceito de experiência,
Mas só falar dessas pode ter diferentes mas que é necessário
experiências não é perspectivas redefinir seu significado.
suficiente
REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE
EXPERIÊNCIA:

Como utilizá-lo sem universalizar os sujeitos?


Importância de falar sobre o processo de construção das
identidades
"As identidades não são "inevitáveis" e "determinadas'', mas
sim socialmente construídas."
Para Scott, é mais importante analisar o processo histórico de
construção dessas identidades em vez de falar de apenas dar
visibilidade às experiências marginalizadas
"Tornar visível a experiência de um grupo diferente expõe a existência
de mecanismos repressivos, mas não sua lógica ou seus
funcionamentos internos".

"Cada categoria tomada como fixa trabalha para solidificar o processo


ideológico da construção - do - sujeito, tornando o processo menos e
não mais aparente, naturalizando-o em vez de analisá-lo".

"Experiência não é a origem de nossa explicação, mas sim o que


queremos explicar [...] "O que conta como experiência não é auto-
evidente, nem direto, é sempre contestado e, portanto, sempre
político"
Ana Lau Jainven
Nascida em 1948, México
Historiadora feminista
Inspiração: movimento estudantil de
1968, México
2a onda feminista, México
Pesquisadora do Centro de
Investigaciones y Estudios de
Género, Universidad Autónoma
Metropolitana (UNAM)
Temas de investigação: movimentos
feministas, história do México,
mulheres na Revolução Mexicana,
história oral, cidadania.
Cuando hablan
las mujeres
Ana Lau Jaiven (1998)

CONTEXTO:
no livro Debates em torno a una metodología feminista
Org.: Eli Bartra
Programa Universitário de Estudos de Género da UNAM
GINGA, RASTEIRA E QUESTÕES
FUNDAMENTAIS
RABO DE ARRAIA DISCUTIDAS NA HISTÓRIA
(O TEXTO EM 3 MOVIMENTOS) DAS MULHERES

OUVIR AS MULHERES PRA Busca por saber o que sustenta HISTÓRIA ORAL
QUÊ? o feminino/masculino como
estruturante da ordem social, Pressupostos, Propósitos,
Se não fomos as protagonistas universal e imóvel Possibilidades, Problemas e
da história, nem lideramos Pistas metodológicas
movimentos revolucionários? Dicotomia natureza/cultura:
desvalorização das atividades
O que temos a dizer se somos femininas; essencialização das
somente mães, esposas e irmãs mulheres e perda da dimensão
dos homens importantes? política e histórica
oi?
Revalorização dos conceitos da
jura?
historiografia moderna: poder,
estrutura social, periodização,
etc.
PRESSUPOSTOS
Técnica de recuperação e criação de fontes

História oral
testimoniais
Permite alcançar as dimensões subjetivas e
objetivas dos atores sociais
Técnicas que enfocam experiências subjetivas e
as formas de conhecimento do sujeito
investigado são as mais adequadas para o tipo
PROPÓSITOS de conhecimento que as feministas desejam
recuperar; principalmente entrevistas de história
Dar voz às minorias marginalizadas (!!!) de vida;
Reconhecimento à cultura falada; Relação estreita entre a militância feminista e a
Valorizar a subjetividade e os testemunhos academia > entendimento de que os silêncios da
individuais; história eram uma forma de perda de identidade
> busca por um passado coletivo.
"(...)reconhecer que a palavra é portadora de sua Cada história individual tem a ver com uma
própria história como símbolo e veículo de cultura comum
comunicação, e de uma história mais ampla que Desafia a categorização rígida de público e
responde ao processo histórico de cada sociedade" privado e de memória e realidade;
(Maria Dolores Ramos, 1993)
"La historia oral, en tanto instrumento de recolección de testimonios
orales y de historias de vida, es un medio de autoescucha de la
cotidianidad y del presente y, por tanto, una alternativa a la historia
oficial, en la que lo cotidiano representa el tiempo de vida, la
existencia, em contraposición al tiempo institucional" (p. 193)

"Utilizar la narrativa oral (...) permite recobrar la palabra de las


mujeres, rescatarlas de la invisibilidad y el silencio em que estaban
recluidas, con el objeto de revisar y recibir ese saber, que de otra
manera se hubiera perdido, y así llegar a generar investigación "por,
acerca y para mujeres"." (p. 193)
"Quando uma pessoa narra sua vida e a narração se dirige através da
História oral acumulação de detalhes, as categorias sociais se desmoronam, o/a
sujeito se converte em ator/atriz e atua em múltiplos papéis que não
conformam generalizações fáceis de examinar" (p. 195, trad. livre)
POSSIBILIDADES
Palavra e memória como instrumento
Unir o conhecimento científico com a realidade PROBLEMAS QUE A HISTÓRIA ORAL
cotidiana; experiência individual com realidade TROUXE À TONA
coletiva A afirmação de que gênero unifica a todas as
Não deixa as mulheres de fora da história mulheres, enquanto classe e raça as divide
História POR, SOBRE e PARA mulheres (gênero na frente), e a concepção de que só
Possibilita exame sobre variedade de temas, a estudos de mulheres podem resultar em uma
partir da trajetória de vida de mulheres investigação sobre mulheres; ex.: mulheres da
indústria do aço, EUA

Duas subjetividades: a narradora e a


entrevistadora (nós, interpretando desde uma
posição de poder)
Estar atenta à linguagem não verbal, expressões
PISTAS METODOLÓGICAS
corporais, símbolos; O QUE se fala e COMO se fala:
Evitar que a medida ou a referência continue sendo o ambas são informações;
masculino: partir das diferenças entre as mulheres; Investigar o contexto histórico e social da
Cuidado com a construção de narrativas tão entrevistada;
"escabelladas" (sem noção) que se tornam ilegítimas e Explicar à interlocutora o projeto que pretendemos
indignas de serem investigadas; desenvolver, conversar sobre ele, pedir comentários,
Variedade de formas de usar narrativas orais: material que ela possa ter, possíveis informantes,
histórias de vida trocar pontos de vista;
entrevistas temáticas A memória não é cronológica nem temática > fazer
testemunhos perguntas simples;
Os comentários da narradora e sua interpretação Compartilhar experiências comuns.
devem ser levados em conta; perguntar sobre
sentimentos e atitudes; "No fim das contas somos participantes do processo
Estar aberta ao intercâmbio de ideias e não somente histórico que estamos explicando e escolhemos investigar
preocupada em juntar dados para "preencher nossos sobre mulheres não a partir de uma concepção idealista mas
paradigmas em um cubículo fechado e a salvo de que para entretecer nossa voz na interpretação dessas histórias
alguém interfira nas nossas interpretações". e para explicar nosso presente que já implica uma hipótese
de futuro" (p. 197)
Alba Zaluar
Nascida em 1942, no Rio de Janeiro
Antropóloga brasileira
Se especializou em antropologia
urbana e estudou sobre a
criminalidade e o tráfico de drogas
na Cidade de Deus
Estudou Ciências Sociais na UFRJ,
se formou em 1965
Durante a Ditadura se exilou na
Inglaterra
Temas abordados em sua pesquisa:
criminalidade, tráfico, violência
urbana e construção da
masculinidade nas periferias
Pesquisando no perigo:
etnografias voluntárias e não
acidentais
Alba Zaluar (2009)

RESUMO DO TEXTO CONTEXTO


A autora discute a questão do relativismo cultural na antropologia Seminário
moderna internacional sobre
Novos dilemas dos sujeitos-objetos estudados o crime organizado,
Fala de suas experiências estudando a criminalidade na Cidade de Deus realizado na USP,
Como estudar sociedades complexas e assuntos que envolvem 2007,
criminalidade?
PRINCIPAIS PONTOS
LEVANTADOS

RELATIVISMO CULTURAL COMO ESTUDAR A OS DESAFIOS DAS


NA ANTROPOLOGIA CRIMINALIDADE? ENTREVISTAS
Como respeitar os outros Como o pesquisador A autora fez uma pesquisa
povos ao estudá-los hoje pode estudar esse qualitativa entrevistando
em dia? assunto sem se colocar os moradores da
Novos sujeitos-objetos de em tanto perigo? comunidade envolvidos
estudo Para deixar de ser um com o crime
Cabe às pessoas afetadas outsider ele teria que Desafio: mentiras dos
a última palavra! entrar em uma gangue? entrevistados
ALGUMAS DICAS...
"Arte de se aproximar para
conhecer e se afastar para
entender, dois movimentos coleção de material
imprescindíiveis para secundário > juntada de
garantir um mínimo de fragmentos sem saber conhecer previamente o
objetividade do pesquisador exatamente que uso dar a campo, saber entrar, saber
e acesso à subjetividade dos eles, mas intuindo que um sair, "ser de lá e estar cá",
pesquisados" (p. 560) dia servirão (p. 561) "registrar lá e escrever cá"
(p. 566)
duplo papel do pesquisador observação participante e a versão x verdade,
de campo: ao mesmo tempo armadilha de "virar nativo" "hermenêutica da
ator e autor (p. 561) > problemas práticos e desconfiança" > diversificar
éticos > perspectiva de que informantes, ampliar fontes
diversidade de técnicas: o pesquisador continua de dados (p. 571)
observação participante, sempre sendo um
estrangeiro (p. 563-564) complementaridade dos
entrevistas coletivas, grupos
dados quali- e quanti- (p.
focais (p. 576-578)
579)
"Em trabalho de campo etnográfico bem-feito deve estar registrado o
tratamento dado aos "inimigos", localmente chamado de "alemães",
dentro de uma favela em alguma cidade brasileira, narrando inclusive
as atrocidades cometidas contra eles, assim como a fala dissidente
dos vizinhos de traficantes, aterrorizados por eles e pelos policiais
violentos. Só dessa forma será possível entender a constelação de
práticas sociais mais do que violentas, belicosas e cruéis, como parte
da construção de uma identidade masculina guerreira, assim como os
dois poderes despóticos que tornaram o viver nas favelas tão cheio de
perigos e sofrimentos atrozes. Diante deles, ouvindo-os falar sobre
esses sofrimentos, o pesquisador não pode se restringir a registrar a
cultura dos traficantes ou a dos policiais violentos." (p. 560)
REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO/A
PESQUISADOR/A:
Para contornar o problema da mentira, a autora
contratou assistentes de pesquisa que eram da
própria Cidade de Deus, ou seja, pessoas com
as quais os entrevistados se sentiam mais a
vontade
Como estudar sujeitos que são diferentes da
gente, principalmente quando temos privilégios
de raça, classe, etc...?
Como realizar a pesquisa de forma ética e sem
correr tantos riscos?
https://www.youtube.com/watch?v=5ypEw_9BFfQ

mil nações moldaram minha cara


minha voz, uso para dizer o que se cala

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