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1. No romance, o casal real é retratado de maneira bastante crítica. D.

João V é mostrado como


um rei preocupado com a ostentação e a perpetuação de seu legado, o que o leva a prometer a
construção do Convento de Mafra se tivesse um herdeiro. Sua relação com a rainha é formal e
distante, mais funcional do que emotiva, focada na obtenção de um herdeiro que justifique e
fortaleça seu reinado.

D. Maria Ana de Áustria é retratada como uma figura mais passiva na relação, submetida à vontade
do rei e à pressão de gerar um herdeiro. Sua vida é marcada pela solidão e a alienação,
contrastando com a vida dos plebeus e outros personagens mais baixos na hierarquia social, que
são retratados de forma mais calorosa e humanizada.

A promessa de construir o Convento de Mafra é um elemento central na trama e serve como um


catalisador para vários eventos no livro. Essa promessa, feita em agradecimento a Deus pela
concepção de um herdeiro, reflete a religiosidade da época e o uso da fé como instrumento de
poder. A grandiosidade do convento é um símbolo do absolutismo de D. João V e do seu desejo de
deixar um legado físico imponente.

A construção do convento também desencadeia um retrato da sociedade portuguesa do século XVIII,


explorando as disparidades sociais e o custo humano envolvido em tais empreendimentos. Através
da narrativa de Saramago, percebe-se uma crítica ao desperdício de recursos e à exploração dos
trabalhadores comuns.

A descrição do casal real e a promessa do rei em "Memorial do Convento" são fundamentais para
entender a crítica de Saramago à história oficial e às narrativas dominantes. Ele usa esses
elementos para questionar a moralidade das decisões dos poderosos e para explorar temas como o
autoritarismo, a justiça social, e o papel da religião na sociedade.

A relação distante e fria entre D. João V e D. Maria Ana também serve como um contraste para a
relação mais genuína e afetuosa entre Baltasar e Blimunda, os protagonistas, cujo amor representa
uma forma de resistência contra as opressões da época.

Saramago, assim, não apenas narra a história de um rei e sua esposa, mas usa suas vidas para
tecer uma narrativa maior sobre poder, resistência, amor e humanidade.

2. É intricadamente tecida com o estilo narrativo característico do autor, que frequentemente usa a
ironia em personagens e temas.

D. Maria Ana é apresentada principalmente através das lentes de suas obrigações e do isolamento
que sua posição impõe. Saramago a descreve com uma certa melancolia, destacando sua solidão
em meio às riquezas e deveres da corte. Ela é retratada como uma figura que está fisicamente
presente, mas emocionalmente distante, encapsulada em seu mundo de expectativas e pressões
para produzir um herdeiro.

A rainha é descrita como alguém que vive sob o peso de suas responsabilidades, mas também
mostra sinais de resignação e uma falta de poder para mudar sua situação. A narrativa não se detém
apenas em sua aparência física, mas também explora seus sentimentos internos, seus desejos
reprimidos e a realidade de ser uma mulher em uma posição de poder, mas sem controle real sobre
sua vida.

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