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Bom dia turma! Hoje vamos falar sobre a conceção do amor nos livros memorial do convento e
Frei luís de sousa. Vocês devem-se estar a perguntar: “Como assim conceção do amor?”. Na
verdade o tópico está dividido em dois subtópicos, que são o amor contratual que é
caracterizado normalmente por um casamento, em que as pessoas envolvidas neste contexto
estão juntas apenas por causa de condições políticas e económicas, e não por amor verdadeiro
e mútuo. Por falar em amor verdadeiro que é o outro subtópico deste tema, define-se por uma
relação verdadeira, daquelas que nós estamos habituados a ver, onde existe a procura da
felicidade do outro e de compatibilidade.
Memorial do Convento:
Como se devem lembrar, o rei D. João V e a rainha D. Maria Ana de Áustria tinham um
casamento um pouco diversificado, apresentavam-se sempre de uma maneira mais
distante e formal. Esta união real é apresentado como uma aliança estratégica entre
Portugal e Áustria, destinada a fortalecer as relações entre os dois países e consolidar
o poder da monarquia portuguesa, isto pode-se comprovar com o facto de eles terem
relações sexuais apenas para originarem descendentes ao trono português. Como se
pode detetar no seguinte excerto presente no capítulo I: “duas vezes por semana
cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal”. Ainda neste capítulo temos a
descrição dos preparativos para os encontros nupciais entre os nobres o que ajuda a
verificar a formalidade presente na relação. Esse tipo de matrimónio era comum entre
as cortes europeias da época e muitas vezes envolvia considerações políticas e
diplomáticas em vez de sentimentos genuínos de afeto e de desejo mútuo.
Por outro lado, temos a definição de amor verdadeiro presente na relação entre Blimunda e
Baltasar que desafiam as convenções sociais e religiosas de sua época.
Eles representam um amor profundo e genuíno que transcende as dificuldades e as restrições
da sociedade em que vivem. Blimunda é uma mulher extraordinária, dotada de habilidades
místicas e uma visão única do mundo, enquanto Baltasar é um ex-soldado mutilado, marcado
pela guerra e pelas injustiças sociais.
Apesar das adversidades que enfrentam, Blimunda e Baltasar encontram consolo e apoio um
no outro. O seu relacionamento é baseado na compreensão mútua, na confiança e na lealdade
inabalável. Eles compartilham não apenas um amor romântico, mas também uma conexão
espiritual e emocional profunda, que lhes dá força para enfrentar os desafios que encontram
ao longo de suas jornadas.
Blimunda e Baltasar desafiam as convenções sociais e religiosas da época, optando por
viverem juntos fora do casamento tradicional. Eles escolhem seguir seus próprios caminhos e
construir sua própria felicidade, mesmo que isso signifique enfrentar o julgamento e a
desaprovação da sociedade.(padre)
Em última análise, o amor entre Blimunda e Baltasar é um testemunho da capacidade do ser
humano de encontrar alegria e significado mesmo em meio às circunstâncias mais adversas.
Sua história é uma das partes mais emocionantes e memoráveis do romance, destacando o
poder transformador do amor verdadeiro.
Entrelaçados desde o momento em que se viram, Blimunda e Baltasar se
complementam em um só. Contrastando com o que ocorre entre o casal
real, há nessa relação cumplicidade, respeito e fidelidade, sentimentos
que aparecem em diferentes situações como quando Blimunda se recusa
a olhar Baltasar por dentro: “Amanhã não comerei quando acordar,
sairemos depois de casa e eu vou-te dizer o que vir, mas para ti nunca
olharei, nem te porás na minha frente” (SARAMAGO, 1994, p. 77, grifo
nosso). Blimunda respeitava e confiava profundamente em Baltasar a
ponto de não querer olhá-lo interiormente: “[...] Juro que nunca te olharei
por dentro” (SARAMAGO, 1994, p. 56). Do mesmo modo, Baltasar a partir
do momento em que se depara com Blimunda, no auto de fé, passa a ter
olhos apenas para ela: “mas agora só tem olhos para os olhos de
Blimunda, ou para o corpo dela” (SARAMAGO, 1994, p. 55).
Ela tem uma vida simples e vive de forma livre e sem etiquetas de
condutas, configurando-se como o oposto da rainha Dona Maria Ana que
vive de aparências. As duas personagens mostram duas posturas distintas
em relação ao amor, à vida conjugal e à religião.
Um amor que foi capaz de superar obstáculos e provações, como os nove
anos que Blimunda passou procurando por Baltasar por lugares
longínquos: “Durante nove anos. Blimunda procurou Baltasar”
(SARAMAGO, 1994, p. 353). Esse longo período de tempo é revelador do
sentimento verdadeiro que une o casal. O amor de ambos é sincero, há
carinho, respeito, amizade, sentimentos que ultrapassam os limites
terrenos.
Conclusão:
Ambas as obras destacam que o amor verdadeiro é inerentemente mais poderoso e duradouro
do que o amor contratual, pois é baseado na conexão emocional genuína entre as pessoas,
que transcende as expectativas sociais e as obrigações formais. No entanto, também mostram
que o amor verdadeiro muitas vezes enfrenta obstáculos significativos, como pressões sociais,
convenções religiosas e dilemas éticos, que testam sua força e resiliência.
Em última análise, tanto "Memorial do Convento" quanto "Frei Luís de Sousa" permitem
compreender a complexidade da interação entre o amor verdadeiro e o amor contratual,
sugerindo que, embora as convenções sociais possam moldar as relações humanas, é o amor
verdadeiro que prevalece, desafiando as normas estabelecidas e trazendo significado e
redenção às vidas daqueles que o experimentam.