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Bom dia, hoje vamos apresentar a ação na obra “Memorial do Convento” de José
Saramago.
"Soldado maneta e uma mulher que tinha poderes "- Baltasar Sete-Sois e Blimunda
Sete-Luas:
Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltasar Sete-Sois e
Blimunda Sete-Luas:
Baltasar Sete-Sois: mutilado da guerra.
Blimunda Sete-Luas: via, em jejum, o interior das pessoas.
Conhecem-se num auto de fé (Cap.5 p. ) e no final da narrativa encontram-se
no mesmo evento;
Contribuem para a construção da passarola;
O seu amor contrasta com o amor dos Reis, desprovido (= sem) de pureza.
O nº7 não é só repetido ao longo da obra, como passa a fazer parte dos nomes Baltasar
e Blimunda:
É o número de dias de cada fase do ciclo lunar, que regula os ciclos da vida e da
morte na Terra.
É o símbolo dos ritmos vitais, mas também da sabedoria e do descanso no fim
da criação.
Também pode ligar-se à ideia das sete felicidades, ligadas a valores espirituais,
de inteligência, culturais.
É ainda um número de totalidade na ordem moral e espiritual.
O Cobertor e a Colher:
O cobertor, que a rainha trouxe da Áustria, surge, logo ao início da obra, a
indiciar afastamento.
Torna-se símbolo da separação que marca o casamento de conveniência
daquele régio casal.
A colher que Baltasar e Blimunda partilham é um símbolo da aliança, da “união
de facto”, de compromisso sagrado. Numa espécie de ritual de casamento, o
padre Bartolomeu de Gusmão testemunha e abençoa esta união (Cap.5
pag )
É um verdadeiro símbolo da transgressão (=desobediência), o cobertor liga-se à
frieza do amor, à ausência do prazer, escondendo desejos insatisfeitos; a colher
exprime o amor autêntico numa relação de paixão e, inclusive, a atração erótica
dum casal que se completa sem precisar de reprimir o seu prazer.
Críticas do autor:
O autor apresenta uma caricatura da sociedade portuguesa da época de D. João V.
A sátira e a crítica social estão presentes ao longo de toda a obra, muitas vezes
aliadas à ironia e ao sarcasmo.
Ninguém é poupado, nem mesmo o povo;
O adultério e a corrupção dos costumes são alvo de sátira ao longo da obra.
Assim critica:
Os frades que “içam as mulheres para dentro das celas e com elas se gozam”;
Os nobres e o próprio rei, até porque este considera que as freiras o recebem
“nas suas camas”.
Há uma constante denúncia da Inquisição e dos seus métodos e uma crítica às
pessoas que fazem festas graças aos autos de fé, onde se queimam os
“condenados”;
E a ignorância do povo permite-lhes gostar de ver estas cerimónias.
POVO:
O povo português é vítima de crítica que nada instituído ou informado,
facilmente se deixa manipular pela igreja, pelos seus mandamentos antiquados
e muito afastados dos princípios originais da instituição;
O povo miserável e analfabeto vivia continuamente na esperança de um
milagre;
Personagem coletiva e anónima, une-se nos vários populares que refletem a
miséria, as péssimas condições de subsistência, a ignorância e a exploração de
que são vítimas;
E, no entanto, “este povo habituou-se a viver com pouco”, não é capaz de
evidenciar uma atitude crítica, nem de assumir uma postura de revolta, de tal
forma, vive sobre ordens da igreja, assustado com atitudes ou pensamentos
que possam significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé, encarados
como diversão, tal como as touradas.
IGREJA:
A religião era, na época, um verdadeiro ópio popular. Era a forma subtil e
inteligente de que a igreja dispunha para manter tanto a ordem como os seus
grandes lucros;
Com esta consciência, a igreja soube tirar partido da sua posição de
superioridade e da influência que exercia, funcionando simultaneamente como
entretenimento e tribunal, alertando os mortais para os perigos que corriam
caso não respeitassem os mandamentos da santa Igreja;
A igreja não dá o exemplo, pois muitos membros do clero desrespeitam os
votos que fizeram, como por exemplo o episódio em que Blimunda foi violada
pelo frade (Cap.23 pag 476).
Os seus mais altos dignitários/títulos são a personificação da vaidade, da
luxuria, e da gula, com o intuito de manter o povo ignorante e, assim, mais
facilmente manipulável. (Cap. 20 pag 387)
LADO HISTÓRICO:
A história passa-se no século 18.
Começa por volta de 1711, sensivelmente três anos após o casamento do rei D.
João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria.
Termina em 1739, 22 anos depois, quando se realiza um auto-de-fé em que
morre António José da Silva.
Os acontecimentos e as personagens são reais, as datas respeitam o que se
passou na época.
As referências ligadas ao Convento de Mafra, na generalidade correspondem à
verdade histórica, por exemplo, a bênção da primeira pedra do Convento, cujas
cerimónias tiveram início às sete horas do dia 17 de novembro de 1717.
Factos que são considerados históricos por poderem ser comprovados em livros e
crónicas da época:
O voto do rei D. João V que originou a construção do convento;
A indecisão do rei quanto ao número de frades;
A matéria-prima e os artistas que vieram de vários países da Europa;
O desejo do rei de que a cerimónia da sagração coincidisse com o seu
aniversário;
O trabalho que foi exigido aos operários par que os prazos fossem cumpridos;
O recrutamento obrigatório feito a nível nacional;
A origem das pedras de Pêro Pinheiro;
O casamento dos infantes portugueses e espanhóis;
O músico italiano Domenico Scarlatti que veio para Portugal para dar lições à
infanta D. Maria Bárbara;
Os autos-de-fé e as perseguições levadas a cabo pela Inquisição;
A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão.
LADO FICCIONAL:
O narrador, consciente de que só as pessoas das classes altas se imortalizam na
História, tenta individualizar o maior número de elementos pertencentes ao povo para
que também sejam lembrados e assim se faça justiça.
É na ficção que isso acontece com a referência aos trabalhadores Francisco Marques,
Manuel Milho, Álvaro Diogo, João Francisco, José Pequeno, Joaquim Rocha, Julião Mau-
Tempo.
Também é mencionado o par Baltasar e Blimunda, casal amoroso cuja relação plena de
magia nos empolga e nos faz aderir à sua forma de estar na vida. São eles também os
construtores da passarola criando um espaço de evasão do real e ajudando a
materializar um sonho.
HISTÓRIA E FICÇÃO:
Há factos e personagens históricas que são relatados e simultaneamente envolvidos
com aspetos ficcionais.
Bartolomeu de Gusmão é uma dessas personagens que, apesar de ser histórica
e ter realmente existido, aparece na obra com aspetos ficcionais que envolvem
a construção da passarola e a sua amizade com Baltasar e Blimunda.
A passarola entra no plano da ficção ao ser movida pelas “vontades" recolhidas
por Blimunda. Chama-se a este tipo de personagem, personagem histórico-
referencial.