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Ágata, Aileen, Alayne, Anastasiya, Andrei, Bellrauthien, Brendan, Brevven, Cassiana,

Chandra, Chloe, Daelirn, Daialla, Darastrix, Deucalião, Elizander, Estige, Gauwalt,


Georg'gh'ius, Grigoriy, Gurothos, Hades, Harald, Hella, Insensatez, Iovan, Isaiah, Jamie,
Kerberos, Klaus, Kôa, Livelia, Mairon, Yasmeen, Maximiliano, Núbia, Oícim, Sabine, Safira,
Syara, Travyen, Uli Abraxas, Vierna, Volghor e Yuu'sufa entram em um bar.
O bar chama-se O Tronco do Caçador. A atmosfera é pesada. A iluminação é tênue. No
canto do bar, há um bardo que toca uma melodia triste. Um dos clientes, uma meia-tiefling
de cabelos longos negros e olhos vermelhos, está no meio do bar, dançando com a música.
— Eu acho que ela se chama Ágata. Ela parece um pouco errada no cérebro — disse
Aileen, a meio-elfa de vestido vermelho, olhando a figura descoordenada e sorridente.
— E ela tem uma coleção impressionante de armas — disse Sabine, a meio-orc. — Ela tem
a minha admiração.
Aileen olhou para Sabine.
— Sabe, nós não temos que esperar muito dela. Ela parece nos odiar.
— Quanto a isso, eu concordo — disse Andrei.
— É mesmo? — perguntou Yuu'sufa, a kanii, sentada na mesa.
— Claro. — respondeu o homem, com sua voz arrastada e profunda.
O mago eslavo era um homem eslavo. Suas feições eram esculpidas em um rosto pálido.
Ele era magro e alto. Os seus olhos eram azul-gelo e tinham olheiras. Ele usava uma
armadura brilhante, um casaco laranja e um chapéu de capuz.
Alayne puxou-lhe o braço, chamando a atenção de todos.
— Se você disser uma palavra de mais, eu vou te transformar em um rato.
— Não seja boba. Você não teria a coragem.
— Eu sei que não.
— Eu sabia.
Alayne deu um tapa no braço dele.
— Se não tivesse, eu teria feito um contrato com o Diabo.
Andrei riu.
— E se isso acontecesse, eu diria a você que isso não faria nenhum bem ao mundo.
Anastasiya, a aasimar, olhou para os lados, vendo se Ágata ainda estava lá.
— Olhem para o canto. Ela se foi.
— Ela se foi, mas nós a encontraremos novamente. — disse Alayne.
Andrei suspirou.
— É, se tiver sorte.
— Com certeza. — disse Aileen.
— Vamos aproveitar o momento, não vamos? — disse Alayne. — É melhor aproveitarmos o
tempo em que a Ágata não está aqui, porque quando ela estiver, nós terão que lidar com os
nossos medos, angústias, desapontamentos e a nossa vida.
Bellrauthien começou a tocar a música.
As pessoas, então, começaram a cantar a música:
"I'm just a poor boy, nobody loves me
He's just a poor boy from a poor family
Spare him his life from this monstrosity"
Um homem apareceu e começou a cantar ao lado deles.
"Easy come, easy go, will you let me go?
Bismillah! No, we will not let you go (Let him go!)
Bismillah! We will not let you go (Let him go!)
Will not let you go (Let him go!)"
Ao terminar, Andrei pegou sua bebida e tomou um grande gole.
A tarde virava noite conforme as primeiras estrelas começaram a brilhar lá fora. Chloe e
Grigoriy conversavam, falando sobre o futuro. Brevven, o yuan-ti, observava a escuridão do
teto.
***
Uli Abraxas olhava para o rosto de Insensatez. Ela estava deitada em uma cama de
hospital. Uli colocou uma flor ao lado dela.
— Você sempre foi incrível, sabia? — O drow disse com um ar terno.
Ele então olhou para o chão, se lembrando de um tempo antigo.
— Lembra-se do dia em que nos conhecemos? Eu pensei que nunca ouviria sua voz
novamente.
O drow baixou a cabeça e fechou os olhos.
— Eu sinto muito por não ter podido salvá-la. — o elfo de olhos vermelhos disse, soluçando.
— Se eu pudesse ter ficado ao seu lado, eu o teria feito. Mas eu não sou capaz de fazer
nada.
O elfo baixou a cabeça, esfregando a mão no rosto.
— Eu não sei se poderei me recuperar do que houve.
***
Daelirn estava sentado sozinho em seu quarto, pensando. O elfo sentia uma forte dor em
seu coração, como se estivesse se arrependendo de alguma coisa. Mas o que?
— Você se importa com eles, mas eles não se importam com você — disse uma vozinha.
— Eu sei que é verdade, mas não importa. Não vamos parar — disse o elfo. — Mesmo que
a morte me tire da vida.
As trevas da noite começaram a aparecer no quarto de Daelirn. Ele foi falando.
— Ninguém me ama. Todos estão mortos, mortos, mortos.
Mas mesmo assim, não há nada de ruim em não gostar de sua própria vida, certo? Daelirn,
Dae? Ninguém entenderia a sua dor, a sua perda, a sua vingança. Ninguém nunca poderia
compreender isso.
Daelirn começou a chorar e ficou desapontado com isso, com seu desapontamento. Ele se
levantou e foi embora, embora ele ainda não tenha compreendido por quem seu choro era,
ou seu ódio estava dirigido.
Nada era igual agora. O elfo ficou perdido nas escuridões. As lágrimas desceram de seu
rosto e ele sentiu a dor de suas emoções serem refletidas em sua mente.
Ao virar para a porta, Daelirn viu Insensatez parada, com seus olhos azuis fixos em si. Ela
não estava com nenhuma expressão em seu rosto. Ela estava fria e distantes, com seus
olhos e ossos azuis brilhando de frieza.
Daelirn gritou quando ela abriu a boca e exalou algo verde azulado. Os olhos de Insensatez,
que estavam escuros de ódio, mudaram e estavam preocupados. Mas era só uma ilusão.
Não havia nada disso ali.
— Está tudo bem — sussurrou ele. — Não precisa se preocupar.
Ele tentou sorrir, apesar das dores.
— Vai ficar tudo bem. Vamos ficar bem.
E assim os dias iam se passando. Quando ele queria fugir da solidão, Daelirn sempre
voltava a pensar sobre a mesma coisa, talvez até se estivesse deixando medo ou um
sentimento, a mera possibilidade de sofrer. A angústia aumentava conforme o tempo ia em
direção ao seu desaparecimento. E aquela dor permaneceu inextinguível, mas ao longo do
tempo, foi cessando.
Um novo lugar, novo sentimentos e sensações, e céus, novos problemas. Como qualquer
nova experiência, ele era curioso demais para se sentir confortável. Mas ele sabia, quanto
mais forte e esperançoso ele pudesse se mostrar, mais rápido ele se sentia derrotado e
triste.
Era engraçado que a sua esperança ao longo dos anos foi só ficando fraca e apagada, um
último sopro de ar. E não achando que devesse ficar neste lugar, por onde ele era
bem-vindo e reconhecido, ele resolveu partir para uma nova terra, longe desse mar e
distante. Talvez isso fosse uma opção, embora Daelirn pensasse que isso também poderia
trazer seus problemas. Talvez, um novo ponto de vista fosse melhor. Talvez, ele jamais
voltaria.
À primeira vista, isso poderia ter parecido triste, mas não importa que isso vai longe para
dentro da mente do jovem. Suas lágrimas em aparência transpassam as roupas, mas em
seus ossos se quebram e se refrigerem a medo e arrependimentos, quebrando o espírito do
jovem, até que uma fraqueza total enfraqueça sua mente e sua ligação consigo mesmo,
transformando-a em um peso. Ele só pode acabar enlouquecendo.
***
Daialla caminhava, vagando, segurando uma vela, esperando encontrar alguém a quem dar
algum apoio. A aarakocra estava sentindo medo do mundo e tentando ignorar. Quando o
fogo se apagou, ela passou a ser incapaz de ver. As sombras estavam nas ruas, então ela
decidiu não ir para lá, não tentar entender nada. Ela apenas andava em círculos.
Ela andou, caminhando pelas ruas escuras. Seus pés pisaram na grama e depois no chão
de madeira. Ela não conseguia ver nada, exceto o silêncio.
A aarakocra estava perdida.
Ela caminhou, procurando por uma luz, uma fonte, o que quer que fosse. Mas não
conseguia enxergar nada. A aarakocra se sentiu perdida, mas continuou andando. Ela tinha
que encontrar uma maneira de voltar para casa.
O vento soprou e o clima ficou frio.
A aarakocra começou a tremer de frio. Ela olhou para trás. O que estava acontecendo com
ela? E o que fazer? Ela olhou para cima e viu as estrelas. Elas eram lindas. Ela admirou as
estrelas, se deleitando com a visão. Então ela voltou a olhar para a frente, olhando para as
estrelas na noite.
A aarakocra admirou o céu, admirou os planetas. As estrelas e galáxias brilhavam e
pintaram o céu com sua luz. Ela admirou o céu, os anéis, as estrelas, as nuvens, os pontos
de luz e todos os outros detalhes da constelação.
Mas não estava contente com o céu.
Sua perna foi cortada. Ela caiu, sendo puxada para trás por um homem enorme de carne,
com grandes presas e garras. Ela gritou de dor. O sangue saiu de seu corpo, molhando sua
pele e roupa. Ela gritou de dor por um bom tempo.
Darastrix'taek pôs-se a analisar sua pele, a carne exposta. Ele pegou uma faca e cortou ela.
— Eu vou devorar você.
A aarakocra se recusou a deixar que a dor a dominasse. Ela cuspiu na cara dele.
— Faça isso, covarde. — Ela disse, com a voz falhando e a mão segurando o ferimento.
Darastrix'taek se tornou irritado.
— Eu vou devorar você. — O draco-negro repetiu.
A aarakocra negou com a cabeça, reprimindo o desejo de chorar.
— Você não fará isso.
O draco-negro então pegou seu machado de batalha e começou a cortar o peito dela.
Deucalião apareceu e com uma varinha, lançou um feitiço contra ele, jogando Darastrix'taek
para trás.
O lutador recuou com seu machado.
— Que pena. Você era uma boa comida.
A aarakocra suspirou, mas seus olhos estavam estáticos, seu corpo tremia. Ela se
esforçava para se mover.
— Você acha? — ela perguntou.
O draco-negro acenou com a cabeça. A aarakocra teve que admitir que aquilo soava lindo.
— Você quer que eu te leve? — perguntou Deucalião, se oferecendo para ajudar.
— Você é um ótimo homem. — Ela disse.
Ele pegou-a no colo.
***
Elizander andava em silêncio por um campo cheio de flores. A alegria e o sol brilhavam,
mas havia um mistério no ar.
Hella caminhava pelo campo, vendo as flores. A vampira estava feliz.
As flores brilhavam ao lado de Elizander. Ela ria. Ela parecia se divertir muito. Mas havia
algo em seus olhos. Ela não era feliz, apesar de toda a beleza daquele momento. Havia um
peso no peito de Elizander. Um grande peso que não se podia fazer nada. Era apenas uma
dor que ela carregava em suas costas. Mas isso não impedia Elizander de continuar
andando. Ela ainda sorria, tentando ignorar as preocupações. Ela estava bem com o passar
dos anos, mesmo que houvessem diferenças em sua vida, com uma enorme questão de
identidade e orgulho em sua mente. Mas as coisas estavam bem para Elizander, mesmo
que ela não sentisse-se completa. Mas ela queria continuar em frente e tentar descobrir
como era ser feliz novamente.
Hella sorriu ao vê-la.
— Como vai?
Elizander olhou para o céu. Ao ver a vampira, suas expressões se tornaram alegres e
tristes, emocionadas e amarguradas. Mas não importava o que fosse, nunca era apenas
uma alegria. Elizander tentou falar, mas as palavras não saiam de sua boca. Elizander se
sentou em um tronco, ajoelhando-se em frente a vampira. Ela ficou parada, sem fazer nada,
sem falar nada. Apenas se acomodou.
Hella sorriu, colocando suas mãos na cintura. Ela tentou ficar quieta, mas ela apenas não
conseguiu evitar seus lábios se movimentando para fazê-la falar. — Você pode falar o que
quiser, meu bem. — Disse Hella.
A palavra saiu em um suspiro. Elizander soltou um grande suspiro antes de começar.
— O que aconteceu com nossos sonhos, nossos esforços para tirar vocês daqui e dar-lhe
um lugar melhor?
Hella a olhou com pena.
— É uma pena, mas é o que é.
A vampira continuou olhando para a jovem, olhando para seus olhos, tentando decifrá-los,
mas sem sucesso. A palavra deixava a boca de Elizander como um suspiro e continuava
ficando presa em seus lábios, nunca se pronunciando.
A vampira sentiu o peso do coração de Elizander, de como era difícil para ela falar e falar de
todo o seu luto, de toda a sua dor e sua tristeza. Hella ficou preocupada e se aproximou
dela.
— Você pode me contar tudo. — Ela disse, tentando ser reconfortante.
A jovem, sem falar uma só palavra, se inclinou. Ela deixou seu corpo leve ao respirar,
segurando todos os sentimentos e soluços para si. Os olhos da vampira brilharam,
enxergando cada detalhe e cada caminho que existia na face de Elizander, cada segundo
daquilo. A vampira acariciou sua face com ternura.
— Eu te amo. — Elizander disse, finalmente mostrando um pouco de coração.
Elizander sorriu para a vampira.
E Hella nunca poderia esquecer, nem de mãos cheias, o brilho que ela viu naquela
fisionomia.
***
Estige vinha caminhando pela floresta com o seu gato preto, Mordasfome. O felino tinha o
pelo preta e os olhos azuis de um raio o encarando. O animal olhou para o vampiro e
resmungou:
— Precisa parar de matar mocinhas.
— Shh... — respondeu ele.
— Eu não shi...
Gauwalt, estava vindo em sua direção. Ele balançou suas mãos com rapidez, ralhando com
os caninos de Estige, dizendo em tom de alfinete:
— Eu começaria a me virar, se fosse você.
Estige nem se atreveu a fazer um barulho, apenas caminhando. Quando Estige chegou em
sua casa, sua esposa se aconchegou a ele.
— Ah, meu amor! Fazendo novas amizades?
— Eu só quero usar você!
— Parece divertido. A qualquer momento. — dizia a loira.
Mordasfome resmungava, grato que o trajeto terminou:
— Algum de vocês está morrendo de medo? — resmungou o animal.
Os outros estavam quietos.
— Eu vou procurar alguma coisa pra comer.
Ele correu, com a boca cheia de baba.
— Seu filho da puta. — dizia Estige.
A loira deu um beijo no rosto do marido.
— Tudo bem, tudo bem. — Ela sorriu.
A garota, que era uma menina pequena, parecia não ter mais nada que dizer. Apenas
encarava a cena em silêncio.
Mordasfome voltou, com um coelho morto nas patas.
— Pronto. — Dizia ele.
Estige olhou para o coelho morto e começou a rir, aplaudindo o felino.
— Bom trabalho, mestre Mordasfome.
— Muito obrigado. — disse Mordasfome, ronronando.
Estige olhou para a criança.
— Estás feliz?
— Não. — disse ela.
— Isso é bom. — Estige deu um soco na parede. — Porra!
A garota olhou para ele com pena.
***
Georg'gh'ius olhou para a lua, admirando a forma que a luz refletia nas águas cristalinas do
rio. O corvo se aproximou da árvore, se posicionando bem sobre a copa. Ele estava
pensando sobre seu próximo passo.
O homem suspirou, olhando para as estrelas. Sua respiração estava acelerada, suas mãos
tremiam, seus olhos estavam úmidos. O vento soprou, o cabelo dele balançando. O corvo
se levantou e se dirigiu ao rio, de onde ele viu a visão de uma mulher de vestido branco,
com longos cabelos loiros e olhos verdes.
A aparição fez Georg'gh'ius tremer.
A mulher deu um sorriso triste.
— Por que você chora, filho?
Ele não conseguia controlar sua dor. Ele sentia o peso das palavras em seus ombros. As
memórias de quando foi uma vez feliz lhe voltaram à mente.
— Eu não quero morrer! — gritou Georg'gh'ius.
— E por que você acha que você vai morrer? — perguntou a mulher.
— Porque eu sou um erro.
— Onde você ouviu isso?
— De todas as pessoas.
— Quem foi?
Georg'gh'ius começou a chorar, sem parar.
A mulher olhou para o rio e começou a chorar.
O vento soprou e as nuvens brancas cobriram o céu.
— Eu estou tão cansado. — disse Georg'gh'ius, chorando.
— Eu sei, meu filho. — a mulher disse, consolando o jovem.
O corvo começou a andar, deixando-se cair no rio. O vento soprou mais uma vez, enquanto
a mulher sorriu, com tristeza.
— Não se preocupe, meu filho.
O vento soprou mais uma vez.
— Eu vou cuidar de você.
As palavras saíram da boca dela, mas o jovem não conseguia segurar a dor. Ele continuou
chorando, incapaz de parar. Ele estava desesperado, angustiado, desesperado por paz.
E ele começou a se jogar no rio.
Ele se arrastou pelo rio, sem se importar com a dor. Ele continuou, mesmo assim. Ele não
conseguia parar. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, com lágrimas escorrendo pelo
seu rosto.
Ele estava tentando achar aquele rio onde o sol brilhava, onde a vida não era um pesadelo.
Ele continuou andando, desesperado, mas ele não conseguia. Então, ele desistiu. Ele não
queria mais. Ele não podia mais.
Ele não conseguiu.
***
Gurothos sentiu uma lufada de ar quente em sua face, mas o vento do céu azul-claro não
passou por ele. O homem sentiu-se cansado, então ele se lembrou de todos os momentos
da vida de seu passado, das alegrias e tristezas que ele tinha experimentado, da forma que
seu coração e sua alma viviam através das recordações de todo o tempo e das situações
de suas memórias, e se perguntou porque estava agindo de tal maneira. Ele apenas viu
tudo de novo e começou a se sentir nostálgico. Mas então ele começou a pensar em todas
as coisas ruins que ele havia passado e começou a se arrepender por não ter tido muito
contato com a natureza, ou pelo menos não tê-la experimentado, além das histórias e das
lendas. Ele foi trazido de volta a realidade quando o vento o tocou novamente.
Hades, que estava sentado ao lado dele, sentiu o e falando para ele:
— O que está fazendo?
— Eu só estava sentindo o vento.
— É uma noite linda. — disse Hades.
Hades não entendeu, então ele resolveu sair. Gurothos estava deitado de costas na grama.
Ele estava em silêncio. Seus pensamentos vagarosos não diziam muito de onde estava, ou
quem era, mas simplesmente uma voz em um corpo inanimado. Ele ficou no chão, olhando
para o céu, vendo a luz das estrelas piscando no céu, enquanto ele observava a lua cheia e
brilhante. Seu olhar foi direto para a lua. Seus olhos brilharam ao ver a luz que a lua lançou.
Harald também estava a observar a lua. Ele sentou-se em uma pedra e pegou a mão de
Gurothos, olhando para o céu.
Gurothos olhou para os céus. Os dois ficaram lá. O tempo passou. Harald observava as
estrelas, pensando nos sonhos que eles tinham juntos. As palavras escaparam da sua
boca.
— Você acha que eu posso ser feliz?
— Sim. — disse Gurothos. — E eu sempre vou te amar.
— Você tem certeza?
— Claro que sim.
***
Iovan e Yasmeen estavam andando juntos, mas Iovan estava nervoso. Ele tinha uma arma
em mãos, e sua respiração estava pesada. Os olhos dele estavam semicerrados, enquanto
ele observava tudo em volta, procurando por algo. Yasmeen estava ao lado dele, com um
sorriso no rosto. Ela parecia animada, com um olhar alegre.
— Vamos lá. — disse Yasmeen.
Iovan entrou em uma loja de armas. Ele pegou um pouco de suprimentos e deixou a moeda
em cima da mesa. A moça atrás do balcão olhou para ele, com um olhar perdido.
— Está tudo bem? — ela perguntou, vendo o jovem com uma arma em mãos.
— Estou bem. — Iovan disse, sem expressão.
Yasmeen continuou olhando para ele, com um sorriso no rosto.
— Você não quer falar comigo?
— É. — Iovan disse, sem emoção.
— Pensei que você estivesse entediado.
— Eu não estou.
— Então por que você não me diz o que está acontecendo?
— Porque você não vai entender.
— Não vou? — perguntou ela. — O que há de errado?
— Eu não sei. — disse Iovan, com um tom de voz triste. — Eu não sei. É um pouco
complicado.
— Como isso é um problema? — perguntou ela.
— Não sei, mas eu tenho essa sensação de que você não vai me ajudar de qualquer forma.
— Talvez você esteja errado.
— Talvez. — disse o jovem, em uma voz monótona.
Yasmeen levantou a voz e soltou um grito de indignação, deixando o negócio.
Brevven entrou na loja de armas, vindo atrás deles. O bicho-luz que estava no caixote
correu em sua direção, tentando puxá-lo para fora da loja. O Yuan-ti vai até a mesa onde a
moça está. Ele olha ao redor e esfrega os braços.
A ainda sem perceber o que estava acontecendo, ela continuava tentando abrir o estoque
de armas. Iovan, observando tudo, balança a cabeça em desaprovação, vendo tudo se
torcer. Ele pega uma pena em suas mãos, e partindo para fora do estabelecimento, é
arrastado pela Bolas Vermelhas.
Brevven arqueou uma sobrancelha, antes de dar as costas, passando direto pela mulher,
entrando na sala de contabilidade, onde vê Yasmeen encarando uma pilha de papéis.
Brevven vira a cabeça aos lados, encarando a jovem. Ele caminha, apontando sua varinha
para ela.
— Chega de folhas de papel. — diz o Yuan-ti, se voltando para Yasmeen. — Vai morrer.
Ela olha, confusa, e tenta se afastar, mas sem sucesso, ela é morta com sua varinha no
lugar.
Aparecendo logo depois do ocorrido, Iovan empurra a porta aberta, sua própria mão
entupida de entranhas, falando, à crescente hesitação.
— Yassie!
***
Isaiah caminha pela calçada, olhando para a entrada da universidade. As luzes do céu
queimavam quase lírias. Olhando pela janela, ela o viu. Isaiah é tão feliz assim. Não faz
bem viver com esperanças. É apenas mais ruim a decepção.
Então ele viu Iovan, seu companheiro de equipe, caminhando em direção a ele.
— Nós estamos quase indo para casa.
Iovan olha para a janela, vendo a aparição de um cavalo no céu. Ele fala em voz alta, ainda
encarando a janela.
— Acho que não vai ser possível. — Isaiah responde, vendo o cavalo.
A aparição de um dragão aparece, surgindo como uma espécie de sombra. Ele é enorme,
com uma cauda de vinte metros. As paredes começam a tremer. O cavalo solta uma
sombra de fogo, enquanto o dragão começa a dar tiros com suas mãos, os óculos ainda no
rosto.
***
Jamie entra pela porta do quarto. Não se incomodando muito em encarar o demônio de
cabelo cinza.
— Oi! — Daelirn cumprimenta-o com um sorriso, vestido em seu habitual conjunto branco.
Jamie faz um barulho estranho e encarra o jovem demônio, seu semblante sério, enquanto
o jovem senta em sua cama, apoiando a cabeça nas próprias mãos, apreciando a
paisagem.
— Se me der licença...
— Não, não, sinta-se a vontade. — diz Jamie, tentando ser cavalheiro.
— Como estão as coisas?
— Não muito bem, eu diria. — Ele olha pela janela. — Você vê esse céu? Quero dizer, um
vermelho-oceano. Quebrando tudo nos arredores. Entende?
O jovem está mirando o fogo enquanto respira fundo. Ele encara o céu escuro. O céu
quebrado.
Daelirn pega uma mecha do cabelo e passa-o atrás da orelha. Ele faz beicinho, pensativo.
— Quero dizer, eu não estou dizendo que vou te machucar. — Jamie fala, se apoiando na
janela.
Daelirn escuta atentamente e arqueia a sobrancelha.
Jamie, toma uma atitude difícil quando fala outra vez, após um tempo de silêncio.
— Um segundo até te libertarmos...
— Seu irmão arruinou minha vida. — Interrompe Daelirn. — Está chegando a hora da paga.
Um olhar melancólico.
— Aquele olhar o torna um pecado. — Jamie murmurou, enquanto causava explosões
esporádicas. — Ela era o único sol que iluminava minha existência.
— Ah. — respondeu Daelirn, curvando os lábios em uma linha compenetrada.
O jovem olha confuso para o homem enquanto arruma os cabelos, olhando sua própria
imensidão.
— A sua imagem parece outrora familiar. Como eu queria matar você. Eu sei onde tudo
começou. Eu deveria ter tido mais sorte na hora de escolher o que sou. Agora... eu acho
que não. — Jamie suspirou. — Eu já tive minha escolha, lembre-se disso. Agora, há uma
escolha sua a se fazer, que vai decidir a escolha deles.
— Sente-se comigo. — disse o demônio, trocando o lugar da cama.
— Tudo bem. Eu vim até aqui.
Se ajoelhando, o rapaz começa a trocar a vestimenta de um jaleco preto por uma de
estampado. Ele avança e se aconchega no abraço de Jamie, sorrindo e fechando os olhos,
que ficam vermelhos por um momento. Ele então o abraça, pensando, provavelmente, que
precisaria sair pela janela. O semblante dele fica estático, calmo, quieto. Eram as palavras
de Jamie que ele tentava compreender.
— Dorme. Eu prometo, isto é importante, e não volte. — Daelirn beija o rosto dele, enquanto
se recostava a ele novamente, ajudando-o a relaxar. — Abre. Vamos, feche os olhos e
dorme, meu menino.
Os sons eram suaves, tranquilos. Ele entende. Por mais que possa estar magoado. Os
pensamentos dolorosos e confusos, a curiosidade e o cinismo.
***
Kerberos andou pelas ruas da noite, sem vida. Estava na 1° hora da manhã e todas as ruas
estavam praticamente vazias, ou quase isso. Ele andou pela rua principal, sem vida. Tudo
estava em silêncio. Nada se mexia. O vento soprou, enquanto a neve caia. Era um dia frio.
O vento frio soprou. Kerberos olhou ao redor. Tudo estava em silêncio.
Ele olhou para o céu azul, sem nublagem, observando os raios, sentindo-os. As luzes do
céu estavam no seu pico de radiação, mas ainda assim, a visão era bela. A noite estava
escura. Ele continuou caminhando, vendo a noite sumir em silêncio. Havia somente as
estrelas, brilhando no céu, enquanto o vento soprava. Ele se levantou, caminhando
lentamente pelas ruas, procurando alguém.
Deucalião estava andando em silêncio, vendo a cidade, sem ninguém. Havia uma aura de
tristeza e silêncio no ar. Ele estava cansado, com uma sensação de medo. Ele caminhou
por entre as ruas, sem vida, vendo o céu estrelado, escuro e ainda mais frio. A sensação de
pânico em seu peito. Ele não sabia porque estava frio, mas sentia frio. Ele se apoiou na
parede, tentando respirar.
Hella também andou pela rua, sem vida, sem ninguém. Mas ela estava contente, olhando
as estrelas, admirando a noite. Era uma noite tranquila e fria. Mas a alegria permanecia.
Hades estava no telhado da casa. O vento soprou, os fios de cabelo voaram. O homem
segurou a varinha em mãos. Ele olhou para o céu. Era frio.
Georg'gh'ius se aproximou dele. Ele olhou para a lua, sorrindo. A lua estava linda. Ele a
adorava.
— O que você acha? — perguntou o corvo.
— A noite está linda. — respondeu o mago.
Eles sentaram lado a lado. Georg'gh'ius começou a se mexer.
— O que está acontecendo?
— Eu não sei.
Hades olhou para a lua. A lua estava brilhando, como um pequeno sol. A noite estava linda
e o vento estava soprando, o frio, quente. O silêncio, silêncio. Hades ficou na escuridão e
nas sombras. Hades estava cansado e confuso, mas era um silêncio misterioso.
Os homens apenas ficaram no escuro e no silêncio da noite. O silêncio do outono. O
silêncio da lua.
— Não estamos felizes. — disse Hades, chorando.
Era uma noite fria e silenciosa. Mas o vento estava soprando e o céu estava frio. O homem
ficou em silêncio, sem respostas.
***
Klaus caminha por entre as ruas e as pedras, ainda abraçado à Elizander, que não tem
ideia de onde estava, só que está tentando escapar. Klaus fica um pouco aflito com sua
presença, mas ele tenta disfarçar e manter-se firme. Os dois andam em direção a uma
grande porta de ferro e passam pelas mesmas. O céu estava frio. O vento soprava, frio e
lânguido, frio e branco, com frio e com dor, frio e com dor. Mas as coisas poderiam piorar,
ou poderiam melhorar. Klaus entrou pela grande porta. Ele ficou um pouco assustado
quando a porta começou a fechar atrás de si. A luz que entrava pela janela iluminou a sala,
o fazendo parecer mais cheio de vida do que havia antes. Klaus puxou a mochila e
colocou-a no chão.
A parede estava cheia de fotos e quadros, e o chão era um piso de madeira, que
contrastava com o concreto na frente. A sala parecia um pouco mais brilhante e cheia de
vida, mas não parecia muito. Klaus observou o local. As paredes estavam cheias de pós de
fotos e quadros.
— O que você acha? — perguntou Klaus.
— Você tem sorte. — disse Elizander, sorrindo.
Klaus balançou a cabeça e soltou um suspiro.
— Eu não sei...
— Você tem sorte de que eu estou aqui. — disse Elizander.
— Sim, mas eu tenho alguns problemas.
Elizander olhou para a janela e notou que era o fim do dia.
— O que está acontecendo?
— Nada.
— Então por que você está assim?
— Você vai ver.
Klaus sentou-se em uma cadeira e cruzou os braços. A jovem olhou para ele com confusão
e desaprovação.
— Você quer dizer...
— Não, não. Você não precisa saber.
— Mas...
— E você não pode fazer nada.
— Mas...
— Não. Você só vai me entender se eu te contar.
— Mas...
— Não.
— Você é uma pessoa horrível!
— Eu sei. — respondeu Klaus. — Mas eu não sei porque você quer falar sobre isso.
— Porque eu estou te dizendo!
— Não. Você está tentando fazer o que?
— Eu não sei. — disse Elizander, em voz baixa.
— Então não tente.
***
Kôa estava fazendo uma refeição em um restaurante, quando ele foi atingido por uma bola
de feno. Ele olhou para o lado e viu um vulto que se escondeu. Ele se levantou e foi atrás
do vulto, tentando descobrir o que havia acontecido.
— É você! — gritou o ser.
Kôa piscou para ele, sem entender o que estava acontecendo.
— O que você está fazendo aqui?
O ser se afastou e se escondeu em um canto do telhado.
— Por favor, não me machuque.
— Desculpe... — disse o Kanii. — Você não pode andar assim.
O Kanii foi se afastando. Ele estava começando a ficar chateado.
— Mas onde você vai?! — exclamou o ser.
O ser saltou e foi em direção a um beco. O Kanii andou pelo beco, mas perdeu de vista o
ser. Ficou no escuro e sem luz. O coração dele disparou, as palavras vieram, as dúvidas
continuam, a esperança em primeiro lugar. Seus pensamentos eram simples, nunca
elaborados. Seu coração gritava em seus ouvidos.
Livelia surgiu por trás de Kôa no beco, seus passos tão tímidos que mal podiam ser
ouvidos. Ela foi até ele.
— Me desculpe. — disse Livelia, baixinho.
A ausência de voz do Kanii, a tensão, o desespero.
— Desculpe por quê?
— Por não poder ser a sua escolha.
— Não diga isso. Você jamais deveria se sentir assim.
— Mas você não é capaz de me amar.
— Isso não importa. — Kôa disse, tentando confortar a garota.
Livelia se aproximou, encostando-se a Kôa, ficando muito perto dele. — A única coisa que
eu sinto quando olho para você é pena. — A garota puxou a luz que havia no fundo do seu
coração. Ela sorriu.
Ele ficou chateado e ficou calado.
— Você não tem vergonha?
Livelia piscou.
— Não. Por quê?
Os pensamentos dele eram simples, nunca elaborados. As dúvidas continuam. O coração
gritava em seus ouvidos.
O sangue do coração disparou. Os olhos estavam azuis, as mãos tremiam, as mãos
apertadas, o corpo suado, a respiração desregulada.
Ele não entendeu.
— Não se preocupe. Você pode ter tudo o que quiser. — Livelia olhou para Kôa, com pena.
O rapaz olhou para ela, com raiva e confusão, perguntando-se o que ela estava fazendo,
por que e como poderia tocar-lhe. Algo começou a latejar em seu coração. Parecia distante.
***
Mairon havia conseguido descansar, mas não parecia estar contente.
— Essas cores ficam bem em você. — disse Mairon.
— Obrigado.
O outro assemelhou-se a um homem, talvez usasse um traje preto brilhante. Ele também riu
e o encarou.
— Nunca testei a tecnologia dessa... — e parou, olhando para Hella. Ela estava quieta,
sentada no canto.
— Estou com pena do corvo. Não para de sofrer, sequer para se recompor. Nem um tempo
tranquilo. A cada hora, o deveres desafia-lo a testemunhar mais um caos — disse o
aasimar.
— Bom, não se pode sossegar nesta linha. Temos um pouco de esperança. Mas, sob toda a
azarosidade é possível um vencedor encontrar a carreira.
Hella notou o olhar de Mairon, tão triste. Ela fechou os olhos. Ela não sabia se devia confiar
em ele, se ele era sua chance. Mas depois de tudo que ocorreu, Mairon pelo menos a faria
se sentir bem. Mas ela sabia que a maldade poderia vir quando ela menos esperar.
Era óbvio, então, que ela estaria certa.
— Pega leve. Simplesmente tudo o que temos de caridade e bom senso não parece
torná-lo responsável — disse Mairon.
Andaram.
Apenas um aparecimento estranho poderia afugentar a tristeza.
Maximiliano e Núbia apenas caminharam, olhando para a visão diante deles.
Eles observavam.
— Nós sempre temos um sorriso na face quando os olhos se encontram com o brilho da
alegria. — disse Mairon. — Esse tipo de coração é raro.
As palavras de Mairon ecoavam.
Núbia correu em direção a um pedaço de metal queimado e arruinado, pegando-o em suas
mãos.
— Você tem alguma lâmina aí?
Mairon olhou para o chão e começou a procurar. Ele olhou para a parede, tentando
encontrar uma arma, mas não encontrou nenhuma.
— Não. Não tenho. — respondeu ele.
Núbia olhou para Mairon, com uma expressão de frustração no rosto.
— Lamento. — disse ele.
— Mas você é um paladino de uma ordem aliada. — falou Núbia.
— Não.
Núbia olhou para o chão e balançou a cabeça.
— O que você pensa agora?
— Em minha missão.
— A missão...
— Vamos descansar um pouco.
— Pode ser.
***
Oícim sentiu sua visão ficar embaçada e seus sentidos fraquejarem. Ele sentiu um prazer
subir por sua barriga. Ele sentiu a emoção de desejo e luxúria se infiltrar em seu corpo,
deixando-o ainda mais excitado e quente. Ele não pode evitar o riso, ao ver o quanto a
mulher estava tão... interessada. Ele se virou para encarar-a.
A mulher era bonita e tinha um jeito muito charmoso. Seu olhar era profundo, e ele parecia
ter uma conexão com ela. Seus olhos pareciam brilhar. E a mão dele segurou a bochecha
dela, acariciando-a com cuidado. Ele não percebeu o que estava fazendo, mas de repente,
ela parecia estar chorando. Os olhos dela começaram a chorar e a boca dela se abriu.
Ele deu um passo adiante para abraçar a mulher, mas ela o empurrou, fazendo-o cair no
chão. Oícim deu um olhar furtivo para a mulher. Oícim deu um passo para trás. Ele não
estava gostando do jeito que ela estava agindo. Ou dos olhares que ela lhe dava. Ele não
se importava, mas a sensação de irritação estava pairando sobre ele.
— Parece que você é um homem de estado, mas eu acho que você não é digno.
A mulher abriu a boca para protestar, mas foi interrompida pela mão de Oícim tapando sua
boca, enquanto ainda segurava a cabeça dela. Ele sussurrou com a voz rouca:
— Você acha mesmo que eu não sei o que você está tentando fazer?
Oícim olhou para ela.
A mulher sentiu seu coração disparar, a voz dele ficando mais forte e grave. Oícim tentou
controlar o desejo, mas ele sentiu seus músculos ficarem mais duros e o que parecia ser
um sabor de medo começou a se formar em seu peito. Ele não pôde conter o sorriso. Oícim
não estava entendendo a situação, mas ele não queria deixar de ver o rosto da mulher.
Oícim pegou a mão da mulher em suas mãos e sorriu, o que deixou a mulher
desconcertada. Ele se virou para ela, olhando para sua face corada. Ele viu um sorriso nos
lábios da mulher e viu o brilho de felicidade em seus olhos. Oícim continuou sorrindo e ficou
chateado.
Oícim continuou segurando a mão da mulher enquanto ele piscou lentamente.
Safira corou e apenas deu um passo de lado. Oícim congelou. O coração de Safira batia em
seu peito. Ele ouviu a voz de Safira, suave e levemente aterrorizada, e sorriu.
— Então, porque eu estou aqui? — perguntou a mulher.
— Só porque ouvi um rumor de que você poderia estar interessada em mim. — Oícim
balançou a cabeça e suspirou.
— Bem, se você diz.
A mulher sentou-se no chão, com o braço atrás da cabeça e segurou o livro na outra mão.
— Bem, você sabe que estou aqui para um certo propósito — disse Oícim. — Então vamos
fazer algumas perguntas.
A mulher ficou paralisada.
— Qual a sua idade?
— 24.
— Sua altura?
— 1,65.
— Como vamos se encontrar?
— Por causa da morte de um meu irmão.
— Seus olhos são bonitos?
— Não muito.
— É? Você não acha? — disse, levantando uma das sobrancelhas.
— Não. — respondeu a mulher, em voz baixa.
***
Syara foi levada a uma tenda improvisada que foi montada onde estava localizada a
carroça. Na realidade, foi uma das construções daquela região que era vista como um
campo de concentração.
— Para quê o senhor o trouxe aqui? — Syara perguntou a um soldado que estava parado
ao seu lado, encostado na parede.
— Seu pai vai vê-la.
— Como?
— Seu pai não está aqui? — disse o homem.
— É.
Syara ficou confusa.
— E?
— Ele vai te ver.
Syara ficou ansiosa.
— E?
— Você está nervosa? — perguntou o homem.
— Estou.
— Ok. — disse o homem, simplesmente.
Syara ficou incomodada com a maneira que o soldado estava a encarando.
— Você não tem a impressão de que eles estão brigando com você?
— Não. — respondeu Syara, encarando o homem.
— Por quê?
— Eu não sei.
— O que acha de tomar um café comigo?
— E por que eu aceitaria?
— Eu estava só sendo legal.
— Certo. — respondeu a jovem, encarando o soldado.
— Vamos comer alguma coisa? — o homem perguntou, sorrindo.
— Sério?
— Sim.
— Claro.
A jovem, atordoada, estendeu a mão e disse:
— Vamos comer alguma coisa e falar de coisas engraçadas.
— Coisas engraçadas?
— Vamos ficar longe deste lugar. — disse o homem.
— Por que?
— Você acha que esses grupos de esquadrões irão trazer algum bom? — o soldado
perguntou a ela.
— Eu não sei. — disse Syara, tentando encarar o soldado.
— Então vamos ficar longe.
***
Travyen ficou deitado em sua cama, pensativo. Vierna e ele conversaram um pouco. Ela lhe
contou a história de seus pais, de que ela foi criada por pessoas que não lhe davam muita
importância e que ela acabou aprendendo a viver uma vida afastada do mundo. Ela
começou a sair e fazer amizade com uma bruxa muito sensível que adorava fazer criação
de pássaros. Travyen disse que estava feliz em vê-la finalmente sorrindo e dizer alguma
coisa, mas que estava preocupado por estar fora de sua casa.
— Você acha que eu posso voltar para a cidade? — perguntou a ela.
— Quem sabe? Você sempre pode tentar.
— Se eu não retornar, você pensará em mim?
— Sim, eu penso em você. Mas você tem que pensar em mim.
Todo um reino sob os comandos de uma rainha? A imagem de um monarca com uma
espada, encarando um gatilho? A alegria e as penas? A beleza e a honra? A tempestade e
a fera? O sangue e o céu? O fogo e o céu? As escolhas e as palavras? Os sonhos e a
fuga? O futuro e a luz? O passado e a esperança? A paixão e o medo? A crueldade e a
gentileza? O desespero e a paz? A decepção e o conforto? O abandono e a liberdade? O
caos e a harmonia? O fogo e a floresta?
O caminho para a cidade era uma trilha estreita de pedras. Ele ficou perdido e sentiu um
forte ódio contra a vida.
— Por que você está tão triste? — perguntou Iovan. — Eu sei que você está triste, mas por
que?
— Eu não sei. Eu não me lembro.
— Eu sei que você se lembra.
O temor e a luta. Uma revolução e uma rebelião. Um reinado e um império. A voz de um
filho e a voz de um pai. As memórias do passado e as memórias do presente. O peso da
maldição e o peso da vida.
— Não sei. — disse, soluçando. — Eu não me lembro.
Iovan, aflito, começou a bater a cabeça com as mãos, fazendo com que ele acordasse.
— Calma... calma... calma! — disse, com a voz alterada.
— Você me esqueceu! — gritou. — Eu vou estourar o seu buraco de merda!
— Calma! — Iovan gritou de volta.
Iovan tentou fazer com que ele se acalmasse, mas ele tentou empurrá-lo para longe.
— Você é uma completa droga, Iovan. — disse, antes de colocar-se em pé. — Você é uma
merda.
Iovan ficou no chão, o choro encheu o quarto.
— Eu não consigo viver sem você, Iovan. Eu te amo.
— Eu sei, eu sei... — respondeu Iovan, olhando para a cama.
— E eu quero você em todos os lugares.
— Sim, sim... eu vou tê-lo.
— Eu sei disso, Iovan.
— Quer dizer que você vai me deixar em paz?
— Não, eu não.
— Mas...
***
Volghor deixou Daelirn sozinho para trás, enquanto ele se dirigia aos bastidores do palácio.
Encontrou-se com um menino loiro com uma flor, que aparentemente estava procurando
alguma coisa. Volghor olhou para o menino com curiosidade e suspirou, caminhando em
sua direção.
— Olá? — disse ele, sem jeito.
O menino olhou para ele com olhos estupidamente grandes e desengonçados, como se
ainda não soubesse o que fazer.
— Não seja um idiota. Vamos só não fazer isso. — disse Volghor, tentando achar alguém
mais velho que pudesse entender a situação.
A figura encapuzada do outro lado da parede gritou.
— Daelirn!
— Não importa.
Daelirn, um jovem demônio negro de dois metros de altura e cabelo curto, olhou para o
arquipélago de cima do prédio, enquanto abria o zíper de seu casaco, expondo suas asas
negras.
— Eu não acho que deveríamos fazer isso.
— Oh, seja louvável... — disse Daelirn. — Bem, até eu vou se você não deixar de ser um
bebezinho chorão.
— Quer dizer que você não tem vergonha?
Daelirn se virou e fez uma careta, fazendo uma voz aguda.
— Claro que não. — ele olhou para o chão, tocando o peito, falando com a voz embargada.
— Eu estava te escutando.
O menino de olhos verdes arregalados e com olhos turquesas, olhou para o chão, e puxou
seus pés.
— Não, não... Não era para isso acontecer.
— Desculpe. — disse, dando um passo de lado, desviando-se do menino.
— Não. Não, não, não, não. Não... não...

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