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Conceito de Cultura
Conceito de Cultura
PWP – O Conceito de Cultura [síntese para entrarmos no conceito de cultura dos Estudos Culturais]
Erudita: “o melhor que foi pensado e dito no mundo” (Arnold) – o legado artístico e intelectual. Sentido livresco.
Cultura = alguns bens, os melhores → IDEIA DE PERFEIÇÃO/ESTADO DE PERFEIÇÃO QUE SE ALCANÇAVA
ATRAVÉS DOS EXEMPLOS MAIS ELEVADOS DA FILOSOFIA, DAS ARTES, etc.
Antropológica: um modo de vida. Cultura = todos os bens, ferramentas (tradições, valores, crenças) → A
CULTURA SÃO OS MELHORES BENS QUE REPRESENTAM UM IDEAL DE PERFEIÇÃO E QUE FAZEM PARTE DE UM
MODO DE VIDA [XIX-XX]
Semiótica: as práticas significantes de um grupo ou povo [aquilo que tem uma importância simbólica – o mesmo
objeto pode ser cultural num contexto, mas não noutro | ex.: um urinol vs. urinol de Duchamp (“servir
para”/”dizer que”)] → o urinol foi tornado um objeto cultural porque a sua função é fazer-nos pensar no que é a
arte, o que fez esse objeto nesse contexto tornar-se num objeto cultural
Cultura como representação [mais inclusivo que a arte porque inclui os objetos artísticos e os que falam sobre o
mundo; tudo o que nos faça pensar no seu sentido simbólico – bens e ferramentas dotados de sentido
simbólico], reconhecimento do valor das comunidades periféricas/minorias, reivindicação [desejo que essas
identidades periféricas têm de chegar ao poder e procuram sair para ocupar o centro – poder] e reprodução
[representa a dimensão económica do objeto cultural – objetos económicos + femininos; trouxe algo de novo].
Alta cultura: produtos originais não produzidos para fins comerciais ou lucrativos, que inovam, causam
perturbação e fazem pensar. Arte. Vanguardas. Pensamento crítico e inovado.
Cultura popular: [*tem pouco poder para marcar a ordem vigente e resistir à dominação, mas apresenta
resistência através do se lado de escárnio, maldizer, etc. (ex.: Zé Povinho – forma obscena enquanto resistência
por parte das classes baixas à dominação das classes mais altas, que deixam isso acontecer porque*]. Primado do
coletivo sobre o individual, do concreto sobre o abstrato. Transmissão de práticas de geração em geração.
Artesanato, conformidade. Perigo de extinção.
Cultura de massas = indústria cultural: consumo, lucro, reprodução tecnológica, apaziguamento das tensões do
quotidiano, recurso aos media (publicidade). Retaguarda.
o O sentido de cultura não é fácil de ser compreendido, e os seus vários níveis são característicos de uma
complexidade.
o A aceção de cultura de Arnold é criticada porque, a certo momento, a cultura realizou um momento de desvio
que não era fácil prever o que viesse a acontecer → esse movimento de desvio leva-nos a distinguir entre
duas formas de ver a cultura: ‘cultura’ e ‘Cultura’.
P. 57: Cultura: vai representar uma VISÃO TRADICIONAL → forma de combinar o nosso egoísmo num mais
espaçoso e inclusivo ambiente = SUBJETIVIDADE UNIVERSAL
Esta visão da cultura de subjetividade universal acreditava que era possível gostarmos dos mesmos objetos
culturais (pinturas, sinfonias, etc.) porque elas eram o melhor, e todos nós podíamos chegar a esse
patamar → suspendendo os nossos ‘eu’ empíricos/as diferenças sociais, sexuais e étnicas, convertendo-nos
em sujeitos universais, concordando em reconhecer a qualidade de alguns objetos em detrimento de outros
[perspetiva da alta cultura = visão universal sem atender a particularismos]
As minorias defendem que a cultura não pode ser aquilo que a maioria diz = AFIRMAÇÃO DE UMA
IDENTIDADE ESPECÍFICA SEXUAL, REGIONAL, ETC., ENQUANTO SUPERAÇÃO.
Se a Alta Cultura defende que é possível a superação, a visão da cultura diz que não é possível haver um
padrão de excelência porque cria profundas desigualdades, sofridas por quem tem que usar a política para
ocupar a sociedade [a nossa identidade deveria ser reconhecida como merecedora de ocupar também o
centro.
OU SEJA: cultura é uma espécie de arma para a afirmação destas diferenças que têm importância social
e cultural, e vista como espaço de reclamação.
A cultura transforma tão profundamente o campo cultural que passa a ser vista como um “campo de
batalha”, em vez de consenso, visto que é uma forma de protesto.
Guerra do ponto de vista cultural:
- subverter o cânone;
- trazer as minorias para o centro das obras artísticas [ex.: altos cargos das minorias nas séries]
∴ o campo cultural vai colocar no centro as minorias, dando-lhes voz e fazendo como que elas falem dos
ressentimentos que aquela minoria tem direito a ter → são direitos políticos para fazer as pessoas
regressarem no tempo e reescreverem as histórias, repensar grandes nomes do passado, modificar o modo
como se olha para o passado = DAR PODER À MINORIA
P.59: a cultura não deixa de ter uma dimensão crítica, enquanto Cultura tem uma dimensão crítica porque
estabelece as diferenças entre as obras com cânone e sem cânone. [crítica = distinguir o melhor e o pior].
A Cultura estabelece hierarquias entre as pessoas, os objetos artísticos, hierarquias e desigualdades entre
aqueles que podem aceder e apreciar as obras, e os que não têm essa possibilidade.
Quando se diz que todas as identidades são legítimas, corre-se o risco de perder essa dimensão crítica
porque, assim, todas são igualmente válidas e nenhuma é superior → correr esse risco significa cair no
populismo (vamos dizer que somos todos bonitos, maravilhosos, todos iguais e com o mesmo valor, e isso
não é verdade).
A cultura, para evitar esse risco, preserva uma dimensão crítica que a vai permitir distinguir entre os
objetos culturais → em função da maior democraticidade, da inclusão dos objetos ou não, do modo como
eles promovem a manipulação da consciência.
Os objetos do passado são Cultura porque são falados de forma diferente. Vai recorrer-se às obras do
passado para se ver como é que os livros e as leituras e a alfabetização capacitavam as pessoas para
melhorar a vida do ponto de vista económico.
O sentido clássico da cultura era antítese da política – aquela ideia de quem nasce culto é tradicionalista. A
poesia era uma forma de sairmos do quotidiano e falarmos do bem, do mal…
[“A importância radical desta mudança de sentido dificilmente pode ser menorizada. A verdade é que a cultura no
seu sentido mais clássico não devia apenas ser não política — na realidade, fora estabelecida como a própria antítese
da política.[…] É quase possível identificar o momento em que, na história literária inglesa, algures entre Shelley e as
primeiras obras de Tennyson, «poesia» é redefinida como o antónimo do público, do prosaico, do político, do
discursivo, do utilitário.”]
P.60: usar a cultura para criar consensos tende a ser menos conciliadora [“A cultura neste último sentido de
religião, nacionalidade, sexualidade, etnicidade e afins, é um campo de contenda feroz; de tal maneira que, quanto
mais prática se torna, menos apta está a desempenhar um papel conciliador, e quanto mais conciliadora, mais
ineficiente se torna.”]
P.63: a cultura deixa de ser uma crítica da vida [na aceção de Arnold → distinguir o melhor e o pior] para
passar a ser crítica de uma vida dominante, que é exercida pela periférica (ela agora tem a voz através da
linguagem cultural – vídeos, exposições, etc. [“A cultura já não é, na exaltada acepção de Matthew Arnold, uma
crítica da vida, mas a crítica de uma forma de vida dominante ou maioritária exercida por uma outra que é periférica.
Enquanto a alta cultura é a alternativa falhada à política […]”]
A Cultura é desinteressada nas questões sociais, nas desigualdades, etc. Não correspondem à vida tal
como ela é. A cultura, segundo a Cultura, é excessivamente terrestre porque se preocupa com o
quotidiano. [“Para a Cultura, a cultura é obscuramente sectária, enquanto para a cultura, a Cultura é
fraudulentamente desinteressada”]
Para a cultura falta uma visão conjunta e para a Cultura falta a visão das minorias. [“Estamos aparentemente
divididos entre um universalismo vazio e um particularismo cego.” – “cego”= porque não tem capacidade de ver o
conjunto, só vê a sua realidade “eu, eu, nós, os oprimidos”]
∴ Isto tudo é uma forma de o autor ver a crise na cultura por causa da falta de entendimento. Mas, na
verdade, a cultura sempre esteve em crise porque, a partir do momento em que se fala dela, faz com que
nós percebamos____
A consequência cultural tem a ver com a necessidade de se formar uma identidade nacional [uma imagem
com símbolos nacionais] para os países que perderam o seu valor.
o Compreendendo a cidadania: Outro aspeto muito importante para se olhar para a aproximação política-
cultura é a ideia de cidadania.
Sempre foi um termo associado à política porque informa sobre uma noção de cidadania enquadrada
em princípios políticos.
Hoje, a cidadania é um conceito político [visão clássica da cidadania], mas também cultural [forma mais
contemporal de se encarar a cidadania]; agregam-se também outros sentidos.
1. Indivíduo harmonizado com o Estado (liberdade social e estabilidade social) – Thomas Hobbes: o indivíduo
deve desistir da liberdade pessoal para dar ao Estado o poder de estabilizar a sociedade, garantir a
manutenção da ordem, respeito e propriedade privada. [a ideia de cidadania é convertida a este ideal de
existência de harmonia, de sociedade estável, nas qual as pessoas partilham valores(?)];
3. Ritos coletivos;
5. Virtudes cívicas: patriotismo [a sociedade deve ser patriota] e intervenção na discussão pública dos
assuntos nacionais. Participação nas decisões do governo.
6. Consciência dos deveres, civis e militares. Supervisionar a ação do governo, travando excessos.
8. Importância da educação
What is citizenship: Cidadania é algo que vai reforçar a impressão de uma identidade comum que promove
unidade e harmonia, que impede fragmentação social [o cidadão conhece os seus direitos e deveres que
são comuns; partilham crenças, ritos, gostos comuns…]
Esta visão clássica de cidadania fragiliza-se em cidades densamente multiculturais/em nações que sejam
habitadas por comunidades oriundas de países e culturas diferentes → vai ser a heterogeneidade
cultural/realidade multicultural que vai convidar a uma nova reflexão sobre o conceito de harmonia;
NOVA CONCEÇÃO DE CIDADANIA: CIDADANIA CULTURAL
1. Direito a ser diferente do ponto de vista étnico, religioso, linguístico, etc., da maioria das pessoas da
comunidade onde se vive, sem comprometer o poder de participar nos processos democráticos da
comunidade;
2. Direito a produzir e fruir bens culturais;
3. Direito a produzir e comunicar informações (contra o monopólio das mass media);
4. Direito ao conhecimento de outras línguas e culturas – fácil acesso ao estudo de línguas estrangeiras
[demonstração do respeito da cultura pela cidadania]
5. Construção de identidades de “fronteiras” → mudanças na noção de identidade porque agora é
considerado aquilo que se chama identidade de fronteiras, que pertencem a diferentes
culturas/nações/diferentes tipologias. (ex.: identidade de fronteira: antigas nações colonizadas)
Permite o indivíduo considerar-se semelhante e diferente dos outros. Do ponto de vista cultural, a
fronteira não separa, mas é um espaço onde confluem heranças e grelhas culturais diferentes.
Por isso, são híbridas, na medida em que cada indivíduo se reconhece como semelhante e diferente. Se
todos se reconhecerem como semelhantes e diferentes, a aceitação dessa perspetiva será mais fácil.
A cidadania cultural é uma forma de superar as dificuldades numa sociedade multicultural, vendo o
indivíduo como semelhante em alguns aspetos. → EQUILÍBRIO É IMPORTANTE PARA A ACEITAÇÃO DA
DIFERENÇA.
Seria bom se todos nós desenvolvêssemos a capacidade de nos reconhecermos no outro. Só o facto de
aprendermos línguas diferentes permite o contacto com pessoas diferentes. Viajar também é importante
porque desenvolvemos identidades de fronteira. [os que se situam nas fronteiras são multiculturais e os
restantes devem desenvolver mecanismos que promovam pontes de entendimento].
“inter” pressupõe sempre reciprocidade que origina equilíbrio de forças e poderes → daí resulta que deve
haver obrigações e direitos para todos [eu devo aprender a língua estrangeira dos outros, tal como eles
devem aprender a minha = reciprocidade
o Multiculturalismo e interculturalidade
MULTICULTURALISMO: enquanto conceito político, vai manifestar-se politicamente na forma como o conceito de
cidadania vai ser revisitado. É um conceito político porque só existe em sociedades cujos estados têm legislação que
favoreça a entrada de indivíduos de outras culturas [sem esta abertura, não existem países multiculturais].
Os desafios trazidos pelo multiculturalismo são políticos e culturais → tem a ver com a dificuldade de comunicação
entre comunidades que falam línguas diferentes e têm mentalidades diferentes.
Podemos dizer que as sociedades multiculturais ocorrem encontros multiculturais [conceito político] e interculturais
[conceito do campo da comunicação – vai ser a necessidade do entendimento que vai operar uma operação
qualitativa na própria qualidade que vai mostrar como uma situação comunicativa vai dar asas à existência de uma
realidade cultural.
INTERCULTURALIDADE – pessoas de culturas diferentes que falam línguas diferentes [= realidade multicultural –
presença no mesmo espaço]. Esta realidade torna-se intercultural quando uma destas pessoas inicia um ato
comunicativo → há um encontro entre pessoas de nacionalidades diferentes e em que uma delas está a falar/ouvir
uma língua que não é sua = CAMPO DA COMUNICAÇÃO
MULTICULTURALISMO
1. Heterogeneidade social que pode acontecer por conquista (ex.: colonização), por migrações voluntárias
(ex.: os africanos nos EUA e na Europa, emigração, exílio) e por afirmação sociopolítica.
2. Políticas de acolhimento do outro (“equality through sameness”; “equality through difference”)
3. Uma sociedade atenta às diferenças:
- Direitos de governo próprio para as minorias (ex.: Bélgica com 6 representações linguísticas no
parlamento, uma por cada distrito linguístico);
- Proteção financeira e jurídica para certas práticas étnicas e religiosas;
- Direitos de representatividade nos órgãos e instituições centrais do estado;
- Educação multicultural.
Democratização da cultura: [noção de democratizar a cultura = torná-la acessível a um grande número de pessoas;
sentido pejorativo]
Conceção paternalista da política cultural assente, antes de mais, na ideia que urge elevar o nível cultural das
massas, tidas como consumidoras passivas → baseada na ideia de que as massas devem ter acesso aos bens da
Alta Cultura, ter oportunidade de consumir outro tipo de bens [elas não chegam lá por si];
A cultura erudita é que deverá ter como missão estender-se aos outros níveis culturais, pois retém património
cultural; a cultura de massas é alienante.
Conceção hierarquizada de cultura baseada na tricotomia cultura erudita (A Cultura – cultura de massas –
cultura popular); a primeira é a única que tem valor patrimonial, a segunda como alienante e trivial.
Conceção tradicionalista da cultura, inimiga da diversidade do campo cultural;
Concessão essencialista das audiências (povo, nação), jamais como públicos (consideração de vários modos de
relação com a cultura instituída.
≠
Democracia cultural: representa a mudança da valorização do que acontece no campo cultural, independentemente
daquilo que é ou não feito pelas indústrias culturais criativas. | Reconhece que existe capacitação/possibilidade de
superação/existe significado que é transmitido pelas indústrias culturais e criativas. Quem participa neste nível, pode
ajudar as massas a superiorizarem-se [em vez de lhes dar a entrada livre que lhes dá a voz, fá-los fazer eles próprios
[fator de democraticidade]
Empowerment das populações, através da relação entre conhecimento, agência e poder [tudo o que é feito
através das culturas industriais pode dar poder/agência; dar-lhes a possibilidade de atuarem, de serem agentes
no campo cultural];
Autoconsciência das possibilidades de emancipação fundada em ações comunitárias, realizadas pela
comunidade, mesmo que não sejam no âmbito da alta cultura, que têm efeitos positivos;
Ação cultural encarada de baixo para cima e de dentro para forma, a partir das necessidades e aspirações das
populações;
Visão dos sujeitos como protagonistas ativos da sua própria história sem perder o enfoque do quotidiano: das
suas tensões, experiências e pulsões;
Cultura como processo social indispensável para combater formas de dominação.
[Ação cultural de baixo para cima = são os criativos a ajudar a população a criar uma obra genial e criativa, e essa
criação é considerada cultura relevante, mas não arte. Pode partir de grupos minoritários, de psicólogos, de
arquitetos [nem todos têm de ser artistas] → TODOS NUMA CULTURA TÊM A POSSIBILIDADE DE FAZER ALGO; A
DEMOCRACIA VÊ TODOS COMO PROTAGONISTAS]
Rejeição de cultura como “ornamento de espírito [não é algo que se traz], sinal de distinção social [só alguns
conseguem alcançar os bens mais caros], modo de supremacia dos conhecimentos, dotados de linguagens
reservadas e de ritos particulares que excluem aqueles que os ignoram, sobre os demais;
Direito à cultura, simultaneamente individual e coletivo, baseado numa conceção de cultura como serviço
público acentuado na ideia de liberdade e de para todos que são livres de aceder a esses meios de expressão;
Dignificação de todas as línguas e formas de expressão cultural e abertura de reportórios e de campos.