A Crise Americana

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A CRISE NORTE AMERICANA

Só a ação dos Estados pode agora restaurar a necessária confiança

Ângela Merkel, chanceler alemã.

A Crise iniciada nos Estados Unidos foi diferente, das demais que aconteceram
depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). N’outras crises os governos se
organizaram e impediram o colapso do sistema financeiro. A crise americana iniciou
com a quebra do sistema financeiro e, precisou da ação dos governos para se manter
vivo o sistema, por meio da injeção de milhões... A decisão dos governos dos países
desenvolvidos colocou em xeque os países da periferia, pois esses passaram conviver
com a fuga de capitais.
Diferentemente, da Crise de 1929, o protecionismo, por parte do Estado chegou
primeiro ao setor financeiro ao invés do setor comercial.

Folha de São Paulo 29 de março de 2009

De como a especulação sem limites quebrou até os especuladores

José Roberto Campos

A história da atual recessão começou com o estouro da bolha habitacional, que,


para o economista norte-americano, Paul Krugman deverá destruir US$ 8 trilhões em
riquezas – US$7 trilhões de perdas para os donos dos imóveis e US$ 1 trilhão para os
investidores. Esse trilhão de dólares é o resultado da colocação de “papeis podres”
pelo mundo, que forçaram uma espiral de vendas para cobrir posições e prejuízos que
derrubou os preços de praticamente todos os ativos em todos os mercados mundias.
Valor EU& 23/25 de janeiro de 2009

A crise americana de 2008, cujo reflexo se estendeu ao mundo capitalista, tem


suas origens nos anos de 1990, quando se convivia com o auge das práticas neoliberais
caracterizadas pela liberalização financeira e comercial; redução da intervenção do
Estado na economia; livre entrada e saída de investimentos estrangeiros.
Nessa época havia a crença de que o sistema financeiro era autocontrolável,
baseando-se em critérios rígidos de avaliação de crédito e da necessária relação da
emissão de títulos com a geração de riqueza real. As autoridades econômicas de vários
países despreocupavam-se em vigiar e regulamentar vários lançamentos no mercado
financeiro.
Recordando de alguns aspectos da crise ocorrida nos Estados Unidos em 1929,
os negociantes de ações de grandes empresas como: U.S. Steel, General Eletric,
Westhinghouse e outras, ao fazer a venda de milhares de ações prometiam grandes
lucros no futuro. Com os mercados tanto interno como externo reduzidos, a estagnação
das vendas geraram uma redução do valor das ações. Nesse contexto a Bolsa de Valores
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de New York acumulou 16 milhões de ações que desvalorizadas não tinham


compradores, pois a valorização dessas ações dependia da venda das mercadorias
produzidas.
Essa crise de superprodução e a redução dos mercados consumidores
desvalorizando as ações envolveram o mundo capitalista numa Grande Depressão.
A crise norte americana originou-se setor imobiliário, quando os bancos com um
excesso de dinheiro em caixa decidiram facilitar o crédito para compradores de imóveis
que não tinham um histórico de idoneidade de crédito. Para compensar os riscos, os
bancos concluíram negócios cobrando altos juros dos mutuários.
A alta demanda gerou o aumento dos preços das moradias, levando muitos
mutuários a refinanciarem seus imóveis e receberem valores em dinheiro, esse fato
continuou facilitando o consumo.

Com empréstimos bancários e o bem imóvel financiado, o norte-americano teve


acesso a um mundo de outros créditos para comprar carros, eletroeletrônicos, pacotes
de viagem e tudo o que as vitrines e os catálogos do universo do consumo colocam a
sua disposição.
O comportamento dos consumidores norte-americanos demandou uma
mobilização direta e indireta de fábricas, fazendas, mineradoras, usinas e toda ordem e
serviços do mundo todo.

Sergio Sister, articulistas da Revista Teoria & Debate 79

No decorrer dos anos de 1996-2006 a população norte-americana se envolveu


numa espiral de compra que fez o governo elevar a taxa de juros para reduzir o
consumo. As conseqüências foram dramáticas, grande parte da população norte-
americana viu suas dívidas elevarem, o que provocou um grande aumento da
inadimplência.

Os mutuários atrasavam o pagamento das prestações de seus contratos de


crédito quando perdiam o emprego, e a queda dos preços dos imóveis os impediam de
vendê-los para quitar o financiamento. As empresas norte-americanas fecharam 5,7
milhões de postos de trabalho desde janeiro de 2008, o maior número de casos desde a
Grande Depressão, iniciada em 1929.

Jornal Valor 21/23 de agosto de 2009

Paralelo a esses fatos, as instituições financeiras haviam transformado montantes


de dívidas de milhões de mutuários em papéis podres, ou seja, não tinham respaldo do
setor produtivo, baseavam-se apenas em um bom pagamento das dívidas contraídas pelo
setor imobiliário.
Investidores como: bancos de investimentos, companhias de hipotecas,
seguradoras, fundos de pensão que haviam investido milhões nesse negócio de caráter
especulativo, frente à inadimplência dos mutuários, viram o valor dos papeis podres
caírem vertiginosamente. O colapso foi inevitável, a riqueza baseada no investimento
desses papeis chegou a 10 trilhões de dólares levando a bancarrota instituições
financeiras, cujo efeito dominó envolveu todos os setores da economia mundial. A

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desvalorização dos papeis podres ocasionou a crise do crédito retraindo os


investimentos, daí a queda da produção e do emprego, acompanhada da inadimplência.
A crise e as suas repercussões incidiram de várias formas sobre o mundo
capitalista:
 retração geral sobre as atividades econômico-financeiras;
 fuga dos investidores externos;
 retração do volume de exportações;
 redução interna do crédito e aumento dos juros;
 redução dos investimentos internos em ações;
 redução do ritmo de crescimento do PIB ( Produto Interno Bruto)
 elevação da taxa de desemprego
Esse quadro levou a desaceleração da atividade econômica mundial, deixando
visível a crise do modelo econômico financeiro neoliberal, defensor das liberalizações
financeira e comercial, que foram iniciadas na década de 1980 na Europa e nos Estados
Unidos e, posteriormente, na América Latina.
A rápida intervenção dos Estados, nas diversas partes do mundo, demonstrou o
quanto as teses neoliberais, de defesa da autorregulamentação dos mercados haviam
deteriorado a saúde financeira do sistema capitalista por meio de um capital
transformado em papeis podres.

FONTE: SISTER, Sérgio. (org.) O abc da crise. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo 2009.

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