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Empatia Emanuelh
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Resumo
Resumen
Este trabajo objetiva discutir cómo la comprensión empática, actitud facilitadora del
crecimiento humano desarrollada por Carl Rogers, se configura como una acción ética en el
cuidado en salud mental. Para ello, se realizó un breve recorrido histórico del campo de la
Lima, D.; Liberato, M.; Dionísio, B.
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Abstract
This paper aims to discuss how empathic understanding, the facilitating attitude of human
growth developed by Carl Rogers, is configured as an ethical action in mental health care. In
order to achieve this, a brief history of the field of assistance to the person suffering from
psychic suffering was made, starting from the asylum model born in psychiatric hospitals and
then going through the various mental health reforms around the world, until we reach the
current model of care psychosocial, which presents itself as a propitious context for the
emergence of ethical action. We present the idea that in the manicomial model it was not
possible to sustain an ethical dimension in the relational scope, since the old psychiatric
paradigm privileged the mental disorder to the detriment of the person. Finally, aspects related
to the concept of empathy and the possible dialogue with the Levinasian ethics were analyzed,
whose approximations allow to infer that the emphatic understanding of Rogers is an
essentially ethical attitude.
Keywords: empathy; ethic; mental health.
(Goffman, 1974, p.287). Sujeitos estes que, demais esferas do ser humano (Foucault,
por não fazerem parte da hegemonia social 2014), o louco perde seu caráter humano e,
ou da linha da “normalidade”, eram mais facilmente, aceita-se toda a sorte de
segregados e institucionalizados, no intuito abusos e violações. Segundo Foucault
de manter um determinado ideal de (2014, p.184), diante da razão, a loucura é
“pureza” da sociedade. vista como “negatividade pura”, sendo o
Segundo Goffman (1974), as louco aquele que deve ser visto como
diversas instituições totais, enquanto “nãoser”.
dispositivos de segregação e higienização Os manicômios constituíram, assim,
social, atuam nos corpos humanos em um uma realidade institucional, na qual a ética
processo institucionalizante de das relações humanas era impossível, visto
dessubjetivação e perda da qualidade que esta não pode existir num contexto em
humana do indivíduo. Por meio de uma que as relações de poder atuam em um
série de violências aos quais estes corpos constante processo de aniquilamento da
são submetidos, os sujeitos totalmente subjetividade e da diferença. Segundo
institucionalizados são objetificados, não Lemos (2015, p.103), a dimensão ética das
sendo mais possível compreendê-los em relações diz de uma “não imposição de um
sua dignidade. Segundo o autor, todo o saber-poder sobre o outro”, que, por sua
contexto institucional em uma instituição vez, “não é passível de tematização ou
total atua num constante processo de conceituação”. Neste sentido, a dimensão
aniquilação da subjetividade, que ética somente se faz presente em uma
descaracteriza e reifica o sujeito, tornando- relação na qual a alteridade não se pode ser
o um ser inumano (Goffman, 1974). negada, excluída ou suprimida; ou seja,
Tanto para os campos de numa relação de abertura e acolhida do
concentração como para os manicômios já Outro em sua radicalidade (Lemos, 2015).
não existe uma dimensão que possa ser Se o testemunho do louco era
compreendida como um limite ou postura impossível devido à letalidade da
ética nas relações. Isto se justifica pela experiência manicomial, este ainda
ideia de que já não se trata de corpos encontra mais um empecilho ao
humanos: são seres cujas mortes não testemunhar sobre os horrores do antigo
merecem ser sofridas e suas vidas não modelo de saúde mental, pois na relação de
merecem ser vividas. poder que se estabelecia, o louco tinha o
Numa realidade em que se privilegia seu discurso anulado e deslegitimado. Sua
em demasia a razão em detrimento das fala era algo que não se podia levar a sério:
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Lima, D.; Liberato, M.; Dionísio, B.
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era o dito de alguém desprovido da sua que a saúde mental se trata de um campo de
razão (Foucault, 2014). atuação territorial,
Dessa forma, apenas outro modelo transdisciplinar e intersetorial.
de atenção à pessoa em sofrimento Se hoje compreendemos a esfera do
psíquico, radicalmente diferente do modelo cuidado à pessoa com sofrimento psíquico
manicomial, pode possibilitar relações como um campo de atuação “polissêmico e
verdadeiramente humanas que, por sua vez, plural na medida em que diz respeito ao
legitimam a alteridade como digna de ser estado mental dos sujeitos e das
atendida em sua diferença. Se coletividades”, como afirma Amarante
compreendermos a dimensão ética das (2007/2015, p.19), isso se deve à convicção
relações como um “acolhimento à diferença de que o modelo manicomial mais produziu
produzida na processualidade” (Andrade & malefícios que benefícios e que, em última
Morato, 2004, p.346), bem como a adoção instância, jamais alcançou nada daquilo que
de uma postura de respeito frente à se propunha, tendo em vista que, se
diversidade, somente um modelo que negue pautando no paradigma biomédico, estas
integralmente a lógica dos manicômios instituições apostavam na cura biológica de
pode dar abertura a uma relação seus internos (Basaglia, 2015).
genuinamente ética. No entanto, essa é uma realidade
Saúde mental e as novas formas de cuidado bastante recente e em constante construção,
à pessoa em sofrimento psíquico fruto de muitos embates políticos e
Falar sobre saúde mental, desconstruções epistêmicas.
atualmente, só é possível se a Historicamente, as concepções
compreendermos como uma extensa e epistemológicas que embasaram o cuidado
complexa área do conhecimento que se em saúde mental partem do modelo
baliza na negação integral do antigo biomédico-hospitalocêntrico, sendo assim,
modelo manicomial (Amarante, 2015). Se, durante muito tempo, o estudo dos
anteriormente, o modelo de cuidado à transtornos mentais, no qual basicamente se
pessoa em sofrimento psíquico era adepto resumia toda a área da saúde relacionada ao
ao reducionismo biológico, segregação sofrimento psíquico, era de exclusividade
social por via da institucionalização e, da medicina e se dava em ambiente
ainda, considerado como uma área de estritamente hospitalar. Contexto este que
propriedade exclusiva do saber médico, deu origem a disciplina pioneira nesse
contrapor-se a este modelo significa dizer
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A empatia como atitude ética no cuidado em saúde mental
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qual pelo menos uma das partes visa criar normalidade perdida ou trazê-lo para o
condições facilitadoras para o domínio do mesmo, do controlável e do
desenvolvimento das potencialidades do familiar, mas sim, compreendê-lo em sua
outro. Nesse sentido, a compreensão diferença radical, deslocando-nos ao seu
empática, formulada por Rogers no encontro.
contexto de uma Relação de Ajuda, se A empatia é uma atitude potente no
alinha ao paradigma de atenção âmbito da saúde mental, que permite a
psicossocial adotado no Brasil, pois aposta aproximação do outro sem o intuito de
no vínculo, no cuidado e na liberdade objetificá-lo, nem a pretensão de reduzi-lo a
experiencial dos usuários, bem como na categorias nosológicas e termos técnicos,
convicção de que o foco do cuidado em priorizando a dimensão da dignidade da
saúde mental deve ser sempre a pessoa que pessoa. É uma atitude ética que afirma
sofre, não o seu diagnóstico, corroborando constantemente um não-saber sobre a
com o pressuposto basagliano de que a diferença, colocando os pressupostos
doença deve ficar em parênteses, para que o teóricos e clínicos em suspensão,
sujeito possa, então, emergir (Amarante, priorizando a relação humana enquanto
1996/2016). dispositivo primeiro no cuidado.
A atenção psicossocial é um campo
Considerações finais de atuação ainda recente e, embora sejam
Situar o conceito de compreensão inegáveis as conquistas atingidas até então,
empática como atitude ética no cuidado em não deixa de ser uma área ainda repleta de
saúde mental significa vislumbrar modos de grandes desafios, o que nos leva a
produção de subjetividade orientados pela considerá-la como um cenário em constante
abertura para o diverso, o plural e, ao construção. Levando em consideração que
mesmo tempo, ao singular de cada um. o próprio paradigma de atenção
Constitui-se como uma postura que psicossocial surgiu como um contraponto
possibilita impactar-se constantemente com ao antigo modelo manicomial, é necessário
aquilo que foge às referências de mundo de que os profissionais da área sempre tenham
cada um; sem, com isso, pretender em mente o percurso histórico que se deu
capturálas, respeitando a legitimidade de até chegarmos à conjuntura que temos
sua diferença. Significa também pensar um atualmente. Trata-se de um compromisso
modelo de atenção e de cuidado para o ético-político de revisão constante dos
outro, que não visa restaurar uma suposta nossos métodos, técnicas e concepções
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