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CESUP

BIBLIOTECA SETORIAL
rnml40 B o.; CIIij\/rlA~ AOR4RrAO

C OM PÊNDIO DE
ODONTOLOGIA LEGAL

I
Coordenação de

Moacyr da Silva

Professor Titular de Odontologia Legal pela


Faculdade de Odontologia da USP

Coordenador do Curso de Pós-Graduação em


Deontologia e Odontologia Legal da Faculdade de
Odontologia da USP

1997
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el , 6,~ . 60-1-'
S.l'iCõ,, -
(~
Compê,ldio de Odo1ltologia Legal
Copyright Q 1997 by f df1j'fJ1-
MEDSI Editora Médica e Cient{fica Ltda. , IH5:j.
Reservados todos os direitos. i.~
É proibida a reprodução total ou parcial deste volume,
de qualquer forma ou por quaisquer meios,
sem o consentimento expresso da Editora .

Editoração Eletrônica: fUTURA

Capa: Jurandir Félix

ISBN: 85-7199-146-4
1

_I_'-IO~CA

12480 1

Editora Médjca e Científica Ltda.


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COLABORADORES

Dalton Luiz de Paula Ramos


Mestre em Clínicas Odontológicas pela Faculdade de Odontologia da USP
Professor Responsável pelas Disciplinas de Reflexões sobre Bioética e
Responsabilidade Civil do Curso de Pós-Graduação em Deontologia e
Odontologia Legal da Faculdade de Odontologia da USP.

Edgard erosato
, Doutor em Radiologia pela Faculdade de Odontologia da USP
Professor Responsável pela Disciplina de Orientação Profissional da
Faculdade de Odontologia da US?

HHda Ferreira Cardozo


Doutora em Radiologia pela Faculdade de Odontologia da USP
Professora Responsável pelas Disciplinas de Craniometria e Meios para
Obtenção de Provas em Odontologia Legal, do Curso de P6s-Graduação
em Deontologia e Odontologia Legal da Faculdade de Odontologia da USP

Ida T. P. CalvieUi
Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP
Professora Responsável peJa Disciplina de Deontologia da Faculdade de
Odontologia da USP

Luiz Martins Turano


Doutor em Prótese Total pela Faculdade de Odontologia da USP
Professor Titular da Faculdade de Odontologia da Universidade de São
Francisco, Bragança Paulista, SP.

Mara Cristina Tramujas CaJabrez


Mestre em Ciências pela Vrije Universiteit Brussel- VUB - Bruxelas
Professora da Disciplina de Medicina Legal da Faculdade de História,
Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista
Marco Aurélio Marcondes Mantecca
Professor Assistente da Faculdade de Odontologia da Universidade
Paulista (UNIP) e da Faculdade de Odontologia da Universidade Santo
Amaro (UNlSA)
Especialista em Odontologia Legal pela Fundação para o Desenvolvimento
Oentífico e Tecnológico da Odontologia da Faculdade de Odontologia da
USP
Ma.ria Ercilia de Araujo
Mestre em Deontologia e Odontologia Legal pela Faculdade de
Odontologia da USP
Coordenadora de Saúde Bucal da Secretaria de Estado da Saúde do
Estado de São Paulo, de 1991 a 1994

Moacyr da Silva
Professor Titular da Faculdade de Odontologia da USP
Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Deontologia e Odontologia
Legal da Faculdade de Odontologia da USP

Norma Tami Maruyama


Pós-Graduanda em Nível de Mestrado de Deontologia e Odontologia
Legal da Faculdade de Odontologia da USP

Odete Maria Trindade


Pós-Graduanda em Níve1 de Mestrado de Deontologia e Odontologia
Legal da Faculdade de Odontologia da USP

Pedro Henrique Saldanha


Professor Titular da Disciplina de Genética Humana do Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo
Professor dos Cursos de Pós-Graduação do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo

Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani


Mestre em Odontologia Legal pela Faculdade de Odontologia da
UNlCAMP
Coordenador do Curso de Especialização em Odontologia Legal da
Fundação para O Desenvolvimento Tecnológico e Oentífico da
Odontologia da Faculdade de Odontologia da USP

PREFÁCIO

A Odontologia, assim como a Medicina, pode ser exercida nas suas


três modalidades: curativa, preventiva e legal.
A odontologia curativa, como o próprio nome indica, tem como
objetivos o diagnóstico, o prognóstico e a terapêutica das doenças
que atingem o complexo maxilomanclibular, enquanto a odontologia
preventiva preocupa·se com a sua prevenção.
No que tange à odontologia legal. a sua finalidade precípua é a
T
aplicação dos conhecimentos da ciência odontológica a serviço da
Justiça.
A escassez de publicações dedicadas a esse importante ramo da
ciência odontológica manifesta-se no fato de que as citações encon-
tradas no campo do Direito referem sempre obras produzidas há
décadas, quando a Odontologia no Brasil não havia, ainda, alcançado
o grau de avanço técnico e científico experimentado nos últimos
anos.
Por outro lado, essa dificuldade encontra paralelo na própria ativi-
dade docente, o que obriga os pesquisadores nacionais a buscarem
informações na bibliografia estrangeira, cuja realidade difere muito
da nossa. Isto para não dizer das dificuldades enfrentadas por aque-
les que militam no campo pericial .
Foi por essas ra zões que, motivados pela atuação de quase três
decênios no magistério da Odontologia Legal na Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo e pelo contínuo desem-
penho das funções periciais, propusemo-nos a apresentar aos leitores
a presente obra, fruto do trabalho de inúmeros colaboradores. aos
quais recorremos a fim de que esta traduzisse o que de mais atual
existe em cada campo objeto do interesse da Odontologia Legal.
A obra que ora apresentamos é fruto da experiência que se iniciou
com os ensinamentos dos mestres que nos precederam e moldaram o
nosso espírito científico. Para que não fique sem registro. lembramos
os nomes dos Professores Guilherme Oswaldo Arbenz. Armando
Moucdcy, Mendel Abrarnowicz, Affonso Renato Meira, Dirceu dos
Reis, entre tantos outros a quem devemos nossa formação .
A vivência pericial em instituto médico-Iegal foi possibilitada por
grandes mestres da Medicina Legal, como os Professores Armando
Cânger Rodrigues e Vitor Pereira, complementada, ao longo do
tempo, pela convivência com os Professores Marcos de Almeida,
Daniel Romero Muftoz e Jorge Sousa Lima, este último do Estado de
Minas Gerais, insignes continuadores da tradição daquela disciplina.
Este livro não tem a pretensão de ombrear-se às obras clássicas de
Medicina Legal ou de Odontologia Legal. Pretende ser, isso sim, um
repositório de temas de interesse para a Odontologia Legal, para ser
consultada por aqueles peritos que, alheios à vida acadêmica, neces·
sitem obter informações básicas para o seu exercício profissional.
Não foi por outra razão que o seu conteúdo foi desmembrado em
partes contendo capítulos que pretendem oferecer ao leitor, além das
informações especíiicas para o perito. um panorama atual sobre os
temas .
Assim, a Parte I, Exercício ~tico e Legal da Odontologia, aborda os
aspectos relativos à capacitação ética e legal para o exercício da
Odontologia no Brasil; delineando os contornos das profissões que
agora compõem a equipe odontológica e respectivos limites de atua·
ção. Questão candente analisada sob o aspecto ético é a do atendi·
mento aos pacientes HIV-positivos, que se completa com os comentá-
rios sobre os temas mais relevantes da ética profissional
As Noções de Antropologia e Identificação Antropológica, objeto
da Parte Il, fornecem noções básicas sobre biotipologia, principal-
mente tendo em vista a importância dos estudos biotipol6gicos de
Barbara e sua preocupação com a extremidade cefálica. Introduzem o
leitor no campo da antropologia forense, com a visão geral necessária
ao perito ou odontolegista cuja atuação, embora resuinja-se aos
aspectos odontológicos, não pode prescindir, por razões óbvias, de
conhecimento mais abrangente. Os quatro grandes temas - estimati-
va do grupo étnico, da estatura, da idade e do sexo, a partir dos ele-
mentos do crânio - , são adequadamente abordados. lncJu.iram·se,
também, noções gerais sobre dactiloscopia, tendo em vista que,
embora, evidentemente, o odontolegista não proceda à identificação
por esse meio, é importante conhecê-Io para determinar-se quanto à
oportunidade de sua intervenção para proceder à identificação pelos
elementos dentários.
Completa-se a Parte U, inovando em obra destinada ao estudo da
Odontologia LegaI, com a inclusão de capítulo sobre a pesquisa do
DNA em Odontologia Forense, abordando as potencialidades do
DNA, principalmente no que se refere à colheita de material nos ele-
mentos dentários.
O tema central da Odontologia Legal- identificação pelos elemen-
tos dentários - constante da Parte m, e complementado na Parte VI.
que aborda os aspectos peridais, foi condensado de fonna a possibili-
tar ao perito a apreensão de características dentárias importantes no
processo de identificação pelos dentes, assim como dos prindpios
que regem o estudo da rugoscopia palatina.
Na Parte Iv,. Traumatologia Forense e Tanatologia, visamos ofere-
cer ao leitor, além dos aspectos gerais, uma visão detalhada da ava-
l.iação médico-legaJ das lesões do complexo maxilomandibular frente
ao artigo 129, do Código Penal Brasileiro, que trata das lesões corp<r
rais. Ainda nessa Parte são introduzidas noções sobre tanatologia, as
quais consideramos oportunas para conhecimento do odontolegista.
Com respeito ao relacionamento profissional, considerando-se o
número crescente de Lides entre pacientes e profissionais, examina-
dos na Parte V, Aspectos Relativos à Atuação Profissional - , temas
que compõem o panorama do exercício diuturno do ci.rurgião-dentis-
ta para que, através da sua reflexão, os desentendimentos possam ser
minimizados. É com esse espírito que os temas da responsabilidade
profissional do cirurgião-dentista e dos reflexos da edição do Código
de Defesa do Consumidor sobre esse relacionamento são analisados,
abordando-se os aspectos jurídicos relevantes no exercido da
Odontologia, de forma a tomá-los acessíveis aos que são leigos na
ciência do Direito.
As dificuldades mais comuns encontradas por aqueles que necessi-
tam utilizar o Código Internacional de Doenças foram enfrentadas,
para trazer um estudo completo. nesse aspecto, sobre as doenças
bucais e seus anexos.
A parte final. Pericias Odontológicas, Parte VI, foi reservada para a
r discussão da atividade pericial realizada em foro civil, criminal e em
sede administrativa, campos de competência do odontolegista, com a
apresentação de casos práticos, historiados e comentados como
exemplos que permitam o d esenvolvimento da atividade pericial
dentro das normas legais.
Ao mesmo tempo são exemplificadas as possibilidades de atuação
no campo da Odontologia Legal, para afastar o estereótipo de que
essa modalidade de exerdcio da Odontologia só é aplicada na identi-
ficação de carbonizados.
A Parte VI traz, ainda, importante subsídio ao estudo das marcas
de dentes em material humano e não-humano.
Finalizando, não poderia deixar de consignar os meus agradeci-
mentos a todos os colaboradores que tomaram possível a consecução
de nosso objetivo, merecendo destaque especial o trabalho desenvol-
vido pela Pror. Ida T. P. Calvielli, que, com prejuízo de suas ativida-
des, assumiu a coordenação de todas as fases necessárias a sua apre-
sentação, auxiliada pela Bel. Sirlei Pires Terra, que também procedeu
à revisão dos textos.

PROF. DR. M OACYR DA SILVA


SUMÁRIO

Parte I - Exercfcio ~tico e legal da Odontologia no Brasil .......... 1

1.Exercício Lícito da Odontologia no Bnsil ...................................... .3


Ida T. P. Cnlvielli
2.Lei n· 5.081, de 24 de Agosto de 1966 "'Regulamenta o
Exercício da Odontologia no Brasil" ...............................................15
Ida T. P. Calvielli
3.Exercfcio [l ícito da Odontologia ......................................................43
Ida T. P. Calvielli
4.Alguns Co mentários sobre ~tica Profissional
Odontológ'ica ...................................................................................... .55
Dalton Luiz de Paula Ramos
5.Aspedos ~ticos do Atendimento Odontológico
de Pacient'e s HIV-Positivos ................................................................65
Daito" Luiz de Paulsz Ramos e Norma Tami Milruyama
6.Ética na Pesquisa Odontológica com Seres Humanos ............... .81
Dalto" Luiz dI! Paulsz Ramos I! Odete Maria de Trindade

Parte 11 - Noções de Antropologia e Identificação


Antropológica ..... .... ... .. .............. ............ .. .......... 91
7.Noções Gerais de Antropologia e Identificação
Antropológica ......................................................................................93
Moacyr da Silva I! Edgard Crosato
8.Noções de Biotipologia ....................................................................109
Moacyr da Silva
9.Estimativa do Sexo pelos Elementos do Crânio .........................117
Moacyr da ~ilva
10. Estimativa da Estatura pelos Elementos do Crânio ...................U1
Moacyr da Siloo
1l.Es timativa de Idade pelo Exame dos Dentes ..............................125
Hilda Ferreira enrdozo e Moacyr da Silva
12.Est'u do do Crânio na Pesquisa da Cor da Pele ............................149
Rodolfo Francisco Halt~lhoJJ Mela"i
13.Noções de Oactiloscopia .................................................................161
L,tiz Martins Turano e Moacyr da Silva
14.A Pesquisa de DNA em Odontologia Forense ............................167
Mara Cristina 1Tamujas Ca/abrez e P. H. Saldanlto

Parte 111 - Identificaçlio pelos Dentes e Rugoscopia Palatina ... 223

15.ldentificação pelos Dentes ............................................................. .225


Moacyr da Silva
16.Arcos Dentários e Rugoscopia Palatina ...................................... .237
Marco Aurélio Marcondes Mnllteca e Rodolfo Francisco HaltellJwJJ Meia,,;

Pane IV - Traumatologia Forense e Tanatologia ............ ....... 243

17.Traumatologia forense ....................................................................245


Mara CristitlQ Tramujas Cn/abra
18.Avaliação Médico-Legal das Lesões do Complexo
Maxilomandibular........................................................................... .289
Hilda Ferreira Cardozo •
19.Noções de Tanatologia .................................................................... .319
Moncyr da Silva

Parte V - Aspectos Relativos ã AtuaçAo Profissional ............ 325

20.Documentação Odontológica ........................................................ .327


Moacyr da Silva
2I.Classificação Internacional de Doenças (OD) de
Interesse da Área Odontológica .................................................... .345
Maria Ereilia de Araujo
22.0 Código de Defesa do Consumidor e o Cirurgião--
Dentista como Prestador de Serviços ........................................... 389
Ida T. P. Calvielli
23.Responsabilidade Profissional do Cirurgião-Dentista ............ 399
Ida T. P. Cnlvielli

Parte VI - Perícias Odontol6gicas ... .. .. ... .. .. ...... ............ ...... .413

24.Das Perícias Odontológicas ............................................................415


Moocyr da Silva
25.MaTcas de Mordidas .........................................................................475
Rodolfo Frallcisco Halte"ltof! Melaui

,
PARTE I

EXERCíCIO ÉTICO
E LEGAL DA
ODONTOLOGIA NO
BRASIL
CAPíTULO 1

EXERCíCIO L íCITO DA
ODONTOLOGIA NO BRASIL

IDA T. P. CALVIELLI

INTRODUÇÃO
Embora o exercfcio da odontologia no Brasil seja regulado pela lei nll
5.081, de 24 de agosto de 1966, a edição da Resolução CF0/185, de 26 de
abril de 1993, que aprovou a Consolidação das Normas para
Procedimentos nos Conselhos de Odontologia, revogando a Resolução
CFO·155/84, veio trazer profundas modificações ao campo do exercício
legal da odontologia.
A citada Lei nll, 5.081/66, ao regular o exercício da odontologia em
todo o território nacional, contemplou apenas a figura do cirurgião-den·
tista, estabelecendo os requisitos exigidos para a sua "capacitação legal ".
Assim sendo, o exerdcio legal da odontologia no Brasil era sinônimo de
atuação do cirurgião-dentista.
Esse enfoque pode ser considerado, hoje, ultrapassado, na medida em
que a Resolução CFO-l85/93 acima mencionada estabelece, já em seu
artigo 1/1, que:

"Estifo obrigados ao registro no CDn~11w Ft:deral t: Il insaiçao nos Constlhos


Regionais de Odontologia em cuja jurisdiçdo estejam estabelecidos ou exerçam
sllas atividades:
a) os cirurgiDes---dentistas;
b) os Mcnicos em prótese dent6riai
c) os tkniros em iligiene dmtll1;
3
4 EXERClclO rnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

d) os atendentes de consultório de1dtfrio;


e) os auxiliares de prótese dentdria;
fJ especialistas, desde que assim se anU/toem ou intitulem;
05
g) as trllidades prestadoras de assistêndn odolltol6giCJl;
I,) os laboratórios de prótese denMrin;
i) os demais profissionais auxiliares que viuem a ter suos ocupações regula-
mentadas;
jJ as atividades que vierem a ser, sob qualquer forma, vinculadas aos
Co,'selhos de Odorrtologia."
O exercício da odontologia deve ser entendido, então, não mais como
aquela atividade exercida exclusivamente pelo cirurgião--dentista, mas
compreendendo as atividades desenvolvidas por um grupo de profissio-
nais "em benefício da saúde do ser humano e da coletividade, sem dis-
criminação de qualquer forma ou pretexto" (art. 2"' do Código de t!:tica
Odontológica).
Com essa filosofia, expressa no Código de ~tica, a Resolução CFO-
185/93 estabelece, como será analisado no Capitulo 3, a competência de
cada um dos integrantes da profissão odontológica.
Ainda com respeito à questão do exercido legal da odontologia, não
se pode perder de vista que a definição dos requisitos exigidos para a
inscrição de cada profissional discriminado no artigo 1- da Resolução
CFO-185/93 e dos exatos contornos dos atos a eles consignados é de
extrema importância legal, já que a outra face da licitude dos atos prati-
cados por esses profissionais pode dizer respeito ao crime de exercido
ilegal, previsto no artigo 282 do Código Penal Brasileiro, que será anali-
sado, detidamente, no CapItulo 3, que examina o exercicio ilegaJ da
odontologia. ~ claro que nos refenmos não apenas à hipótese de falta de
autorização legal para o exercido da profissão de dentista (e teremos de
redefinir o que se deve entender por "profissão de dentista H, face às nos-
sas considerações iniciais), mas, também, aos limites de cada uma das
categorias agora trazidas para o seio da profissão odontológica.
Serão analisados a seguir os requisitos exigidos para a obtenção da
4.lltoriznçdo legal. pa ra cada profissional. A Resolução CFO-185/93, que
estabelece a competência de cada um dos integrantes profissionais, será
anahsada no CapItulo 2, destinado a examinar a Lei n l 5.081 /66.

, CIRURGIÃO-DENTISTA
Para inscrever-se como drurgião-dentista no Conselho Regional sob cuja
jurisdição vai exercer a sua atividade, o profissionaJ deverá comprovar
EXERCFCIO ÚCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 5

que atende a um dos seguintes requisitos, de acordo com o artigo S-, da


Resolução CFO-l85/ 93:

a) Ser diplomado por Curso de Odontologia rm mheddo pelo Ministério da


Educação e Cultura.
O ensino superior é livre no Brasil, isto é, está aberto à iniciativa pri·
vada, competindo à Unílfo a inspeçifo e o reconhecimento dos estabelecimen-
tos particulares de ensino.
Os estabelecimentos oficiais de ensino superior são aqueles criados e
mantidos pelo Poder Público e, assim, dispensam o reconhecimento que
já está impUcito no próprio ato de criação do curso superior.
O reconhecimento do curso, escola ou faculdade não-oficial é condi·
ção sille qua nOll para a validade do diploma e é conseqüência de todo
um processo de acompanhamento pelo Conselho Federal de Educação,
desde a criação do curso até a colação de grau de sua primeira tunna,
após o que, verificada a regularidade do processo, o estabelecimento de
ensino obterá o reconheomento.
APÓS a colação de grau e a expedição dos respectivos diplomas, seja
pela instituição oficial seja pela particular, devem os mesmos sofrer dois
registros: o primeiro tem por finalidade atestar a idoneidade do título,
através da verificação da regularidade da vida escolar pregressa do inte-
j
ressado, da autenticidade do diploma e do competente reconhecimento
da escola ou faculdade, quando se tratar de instituição particular, e é rea-
lizado por delegação do Ministério da Educação. por algumas universi-
dades federais ou estaduais. Não são pouco freqüentes, infellzmente, os
casos de fraudes as mais variadas, o que nos transporta aos desdobra-
mentos penais do exercicio enquanto protegido pela inscrição provisória.
Esse primeIro registro constitui o atestado pelo Poder Público de que
aquele é um lftulo ida"eo.
Após esse primeiro registro, os diplomas, agora já considerados " titu_
lo idônco", devem sofrer um segundo registro, anteriormente realizado
junto ao Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, a quem
incumbia "superintender e fiscalizar em todo o país as atividades rela-
cionadas com o exercicio da odontologia e profissões afins. diretamente
ou por intermédio das autoridades federais, estaduais e municipais".
Após a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de
Odontologia, em 14 de abril de 1964, pela Lei n' 4..324, a fISCalização do
exercício da odontologia passou para a competência desses órgãos, e o
registro dos diplomas, para o fim de submissão de seu portador à fiscali -
zação do exercIdo profissional, cabe agora ao Conselho Federal de
Odontologia.
6 EXERClcl0 rnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Convém lembrar, finalmente, que os portadores de diplomas expedi-


dos, seja pela escola ou faculdade oficial seja por aquelas reconhecidas,
podem, por sua vez, ser brasileiros; natos ou naturalizados, e estrangei-
ros que aqui cumprem o aprendizado de n!vel superior. Para que os
estrangeiros possam inscrever-se no Conselho Regional. é preciso que.
além do título idôneo (diploma já registrado), apresentem prova de per-
manência regular no Brasil e não se incluam na categoria de estudantes
beneficiados pelo Programa de Estudante-Convênio (PEC), nem estejam
sujeitos às restrições do Decreto Federal n' 89.758 / 84, que trata das
matrículas de cortesia para o pessoal diplomático e seus dependentes.

b) Ser diplomado por tsCOW estrangeira, cujo dipltmIQ tenha sido revalidado
dou obrigatoriamente registrado para a lrabititaç40 ao exerdcio profissitr
nal em todo o territ6n'o nacional,

A condiçào abriga duas hipóteses: revalidaç40 e registro obrigat6rio (este


último. no Conselho Federal de Odontologia), que, por sua vez, se des-
dobram em:
A primeira:

I. O estrangeiro formado no exterior que fixa residência no pars para


aqui exercer as suas atividades.
lI. O brasileiro. nato ou naturalizado. formado no exterior, que regressa
ao país para exercer a sua atividade profissional.
A segunda:
m. Diplomados por instituições de ensino superior .sediadas nos países
que ratificaram a "Convenção Regional sobre o Reconhecimento de
Estudos. Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e
no Caribe", aprovada pelo Decreto Federal n R 80.429. de 27 de setem-
bro de 1977.
IV. Diplomados por instituições de ensino superior de Portugal. por
força do Acordo Cultural assinado em 7 de setembro de 1966 e
Protocolo Adicional aprovado pelo Decreto I...egislativo n· 60, de 17
de agosto de 1971, e promulgado pelo Decreto n i 69 ,271, de 23 de
setembro de 1971.

I. O estrangeiro formado no exterior que jixD nsidênciD tiO Brasil para aqui
exercer as suas atividD.des e que aqui revalide o seu diploma. - Em linhas
gerais, o processo de revalidação visa a verificar se os estudos reali-
zados na instituição estrangeira são equivalentes aos ministrados
pelas nossas instituições de ensino superior, validando novamente
EXERCrCIO trCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 7

(revalidando) O documento que tinha valor no país de origem, com o


fim de tomar aquele diploma um Utulo idôneo no Brasil. O processo
de revalidação é conduzido pelas universidades que recebem delega-
ção do Ministério da Educação e Cultura para fazê-Io (uma delas, em
São Paulo, é a Universidade de São Paulo), e o interessado na revali-
dação pode escolher a instituição na qual vai requerer a revalidação,
porque o seu título, após o processo, vai ser equivalente ao daquela
instituição de ensino (o que explica por que obter a revalidação por
algumas instituições é mais difícil do que por outras ...).
A revalidação pressupõe a idoneidade do título, que, com a revalida-
ção, sofre automaticamente o primeiro registro no Ministério da
Educação. O segundo regi stro, real izado pelo Conselho Federal de
Odontologia, se completará quando o interessado der entrada no seu
pedido de inscrição no Conselho Regional.
~ evidente que o estrangeiro deverá, ainda, apresentar prova de per-
manência regular e não-temporária no país.
11 . Brasileiro, nato ou nnturalizodo,fom,ado por escola tstrangrira. - O proces-
so de revalidação é, em tudo, similar ao do estrangeiro. Até bem
pouco tempo, ao brasileiro, e apenas a ele, portador de título estran-
geiro era exigida prova de suficiência em Estudo de Problemas
Brasileiros, disciplina eliminada, agora, do currículo mínimo e que era
ministrada no Brasil em todos os níveis (graduação e p6s-graduação)
e não ministrada, obviamente, em alguma instituição estrangeira.
m. Diplomados por instituiç"es de ensino superior beneficiados pela
"Convençllo Regional sobre o Reconl,ecimento de Estudos, Títulos e
Diplomas". Não necessitam revalidar os seus diplomas, cujo registro
para os fins do Ministério da Educação (realizado pelas universi·
dades) é processado como se o diploma fosse originário de institui·
ção de ensino superior brasileira. Embora a Convenção designe
América latina e Caribe, ratificaram essa Convenção os seguintes
países: Panamá, México, Chile, Venezuela, Cuba, Colômbia, EI
Salvador, Equador, Suriname, Aruba, Curaçao, Santa Sé, Iugoslávia e
Holanda . Da mesma forma , esses diplomas são obrigatoriamente
registrados no Conselho Federal de Odontologia.

IV. Portugueses e brasileiros diplomados por ittstituiçm de ensillo superior de


Portugal, por força do acordo Cultural firmado pelos dois pn.fses.
Portugueses e brasileiros, segundo O Acordo firmado em 7 de setem-
bro de 1966, gozam da reciprocidade de reconhecimento de títulos e
diplomas. Os Utulos profissionais idôneos expedidos em Portugal,
• EXERCrCIO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

por força do acordo mencionado, deveriam ser automaticamente


registrados no Brasil. É bom que se diga, porém, que, a partir de
1986, os pedidos de registro de diplomas oriundos de instituições
portuguesas de ensino superior têm sido submetidos a uma acurada
análise de conteúdo, sendo registrados somente após a constatação
de equivalência ou conciliação curricular. Levado a efeito, então, esse
primeiro registro, o Conselho Federal de Odontologia deve, obrigato-
riamente, proceder ao registro que lhe compete (28 registro) como pri-
meira exigência para a inscrição nos Conselhos Regionais sob cuja
jurisdição seus portadores pretendam exercer a odontologia.
c)Sn diplomado por escola ou faculd.ad~ estadual. que tenha funcUmado com
autorizaçilo de governo estadual, quando beneficiado pelo D~r:rdcrLei n-
7.718, d~ 09 de julho de 1945, e comprovada a hnln1;~o para o exerdcio
profiss ional até 26 de. agosto de 1966.
A hipótese está voltada apenas para o passado, eis que o prazo esgo-
tou-se em 26 de agosto de 1966, data da publicação da Lei nO5.081 / 66 no
Diário Oficial da União, e contemplava aqueles profissionais que haviam
se formado em escolas de odontologia que não foram reconhecidas, mas
que tiveram seu direito de inscrição assegurado. É bem verdade que a
Lei n8 13 14 / 5] (a primeira que regulamentou o exercício da odontologia)
não fazia menção a essa categoria. Apenas por razões históricas, relem-
bra-se que esses profissionais carregavam as seguintes restrições:
a. Poder exercer a profissão apenas n05 Limites territoriais do estado
onde funcionou a escola.
b. Poder desempenhar apenas cargos ou funções públicas estaduais ou
municipais.
c. Não poder registrar as seus diplomas no Departamento Nacional de
Educação (que era o equivalente ao registro atual realizado pelas uni-
versidades) nem no Departamento Nacional de Saúde (o que é hoje
realizado no Conselho Federal de Odontologia).
d. Os diplomas não concediam o direito ao exercício de cargas ou fun-
ções públicas federais, nem ao desempenho de funções privativas das
cirurgiões-dentistas regularmente diplomados por estabelecimento de
ensino superior federal ou reconhecido.
d) Ser lia nciado nos termos dos Decretos 20.862, de. 28 de dezembro de
1931; 21.703, de 22 de fm!reiro de 1932; ou 22501, de 27 de fevereiro de
1933.

Os decretos enumerados referem-se aos dentistas práticos. Note-se


que todos foram editados entre 1931 e 1933, porque datam dessa época
EXERClclO LIcITo DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 9

as primeiras medidas efetivas para a monopolização do exercício da


odontologia pelos portadores de diploma de curso superior. Em 4 de
dezembro de 1933, foi expedido o Decreto n- 23.540, fixando a data de 30
de junho de 1934 como a data limite para a concessão do beneficio.
Esses práticos, até a data limite. deveriam requerer à autoridade sani~
tária competente a expedição de Licença, que os habilitava a exercer a
odontologia dentro dos limites territoriais da localidade para a qual era
expedida .
e) Ter colndo grau 'ui menos de dois ImOS chl chlta do pedido.
Desde que seja possuidor de uma declaração da instituição de ensino,
fumada por autoridade competente e da qual constem expressamente,
por extenso: nome, nacionalidade, data e local do nascimento, número
de cédula de identidade e data da colação de grau .
Chamamos a atenção para os comentários tecidos sobre o assunto no
Capítulo 2, que examina a Lei n-5.081/66.
Além das hipóteses analisadas até aqui, três outras devem ser consi~
deradas:
- Estrangeiro beneficiário do Programa Estmmnte-Convinio (PEC), coorde~
nado petas Ministérios das Relaç6es Exteriores e da Educaçifo .
Freqüentam as nossas escolas superiores estrangeiros que para aqui
vêm especialmente para estudar, beneficiados por acordos culturais
abrigados pelo PEC, firmados pelo Brasil com países cuja formação
de recursos humanos encontra-se em desenvolvimento, e cujo
ingresso nas escolas superiores dispensa a prestação do concurso
de habilitação (vestibular) para a matrícula inicial.
Terminado o curso, os diplomas desses alunos estrangeiros
devem ser registrados no Mi"istério dn EduCIlç40, tal como ocorre com
OS diplomas dos brasileiros, para que este diploma seja considerado
um titulo idôneo.
Tendo em vista, porém, que a condição para usufruir do progra.
ma é o retomo ao país de origem, o registro do diploma i rmliZlldo com
apostila restritiva do exercido profissional no Brasil, o que impede
aquele segundo registro no Conselho Federal de Odontologia.
Evidentemente, pode ocorrer que, após a expedição do diploma,
esse estrangeiro (a), seja pelo casamento com brasiJeiro{a), seja pela
naturalização, permaneça no Brasil. Nesse caso, a apostila restritiva
poderá ser cancelada e/ ou poderá ser expedido novo diploma,
quando então esse título deverá permitir-lhe concorrer no mercado
de trabalho no Brasil. após o preenchimento dos demais requisitos,
inclusive o registro no Conselho Federal de Odontologia.
,. EXERCrCIO ÉTICO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

• Estrangeiros beneficiados pelas matrfculas de cortesia, riOS termos do


Decreto Federal,,' 89.758, de 6 de junho de ]984. Os estrangeiros
sediados no país em virtude de trabalho ou função em Missões
Diplomáticas, Repartições Consulares de Carreira e Organismos
Internacionais e seus dependentes legais, portadores de vistos
diplomáticos ou oficiais, gozam da prerrogativa de matricular·se
em curso superior com isenção do concurso vestibular.
Esses diplomas, a exemplo do que acontece com aqueles expedi-
dos para beneficiários do PEe, são expedidos e registrados com
apostila restritiva de exercido profissional no Brasil. No entanto,
diferentemente do que ocorre com aqueles, a apostila restritiva
pode ser cancelada, bastando a concessào da residência temporária
(parágrafo único do artigo 2D do Decreto 89.758/84), com o que
seus diplomas poderão ser registrados no Conselho Federal de
Odontologia, adquirindo validade para o exercido profissional no
país, satisfeitas as demais exigências legais .

• Estnmgeiro com visto temporário, portador de contrato de trabalho ou que


comprove prestaçifo de serviço ao Gememo Brasileiro. Há casos em que o
estrangeiro vem ao Brasil para, temporariamente, exercer as suas
atividades profissionais. Nesses casos, deverá ser requerida ao
Conselho Regional sob cuja jurisdição estiver a região em que pres~
tará 05 seus serviços uma inscrição temporária, que será concedida
pelo prazo constante no seu contrato de trabalho, visado pelo
Ministério do Trabalho, ou no documento que comprovar a presta~
ção de serviço ao Governo Brasileiro.
A inscrição temporária, nesses casos, será cancelada automatica~
mente ao término do prazo concedido para a estada do profissional
no território nacional.
Ao estrangeiro, portador de "registro temporário" no Ministério
da justiça, será concedida a inscrição temporária, pelo prazo de
dois anos, a contar da data do referido registro (A rt.124, da
Resolução CFO-I85/93).

TÉCNICO EM PRÓTESE DFNTÁRIA

As atividades do técnico em prótese dentária não devem ser confun~


didas com as que são exercidas por alguns protéticos, que, a exemplo do
que acontecia com os barbeiros de épocas passadas e, mais tarde, com os
EXERCICIO Llcrro DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 11

dentistas p ráticos, assolam a população com lesões bucais dos mais


diversos graus.
Os técnicos em prótese dentária pertencem, hoje, a uma categoria pro-
flSSional perfeitamente definida, sindicalizada, conhecedora dos limites
de seu campo de atuação e que continua emprestando uma valiosa con·
tribuição à odontologia.
A institucionalização da profissão foi obtida a partir da Lei nl 6.710,
de 05 de novembro de 1979, que "Dispõe sobre a profissão de Técnico
em Prótese Dentária ...", sujeito, a partir de então, à inscrição obrigatória
no Conselho Regional de Odontologia da jurisdição onde irá exercer sua
atividade e a quem passa a ser subordinado.
Tal como ocorre com o cirurgião-dentista, para inscrever·se no
Conselho Regional de sua jurisdição, o técnico em prótese dentária deve--
rá preencher um dos requisitos exigidos para a sua categoria, estabeleci-
dos no artigo SO da Resolução CF0-185 / 93. São eles:

a. Possuir diploma ou certificado de conclusão de curso de Prótese


Dentária, ao nível do ~ grau, conferido por estabelecimento oficial
ou reconhecido.
b. Possuir diploma ou certificado, devidamente revalidado e registra.
do no país, expedido por instituições estrangeiras de ensino, cujos
cursos sejam equivalentes ao mencionado na alínea Q.
c. Possuir registro no Serviço de Fiscalização do Exercício Profissio-
nal, em data anterior a 06 de novembro de 1979.
d. Possuir prova de que se encontrava legabnente au torizado ao exer·
dcio profissional, em 06 de novembro de 1979.

Nas suas devidas proporções, o entendimento do que seja um estabe-


lecimento de ensino oficial ou reconhecido, os trâmites da revalidação e
os requisitos que se referem ao direito adquirido acompanham o raciocí·
nio exposto na análise sobre os requisitos exigidos para a inscrição do
cirurgião-dentista.

TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL


A profissão de técnico em higiene dental ainda não alcançou, no Brasil, O
reconhecimento de que goza em outros pafses, nos quais a sua atividade
12 EXERCfclO trlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

tem proporcionado a otimização do atendimento odontológico à popula-


ção, principalmente na área social.
A formação do técnico em higiene dental, em cursos profissionalizan-
tes de 2G grau, obedece ao disposto no Parecer 0 11 460/ 75 da Câmara de l°
e 2a graus, do Conselho Federal de Educação. Contudo, o mais comum
era, até bem pouco tempo atrás, a formação desses profissionais dentro
do próprio Serviço Público que deles carecia.
A inscrição do técnico em higiene dental no Conselho Regional se
processa mediante a apresentação do diploma, certificado ou documento
que atenda, integralmente, às exigências contidas no Parecer n' 460/ 75
referido acima, podendo, ainda, o documento estrangeiro sofrer revali-
dação (art.ll e §§, da Resolução CFO-l85/93).
Disposição inusitada e insólita sobre a inscrição de téoUco em higiene
dental no Conselho Regional é a trazida pelo § 2\1 do artigo 11 da
Resolução CFo-185/93. Detennina a referida disposição que:

"§ 2 A inscrição de cirurgião-dentista em Conselho Regional, como


Q

técnico em higiene dentaJ, somente poderá ser efetivada mediante apre-


sentação de certificado ou diploma que comprove a respectiva titula-
ção."

Com exceção da profissão de técnico em prótese dentária, regulamen-


tada em lei, as demais categorias criadas pelo Conselho Federal loram
objeto, apenas, de regulamentações de ordem educacional, que as incluí-
ram como possibilidades de fonnação profissionalizante em cursos de 1·
ou za graus, através de Pareceres do Conselho Federal de Educação.
Essas atividades só podem ser exercidas sob Q supervisdo e com a prese1l-
ça física do cJrurgido-dentista, havendo, portanto, total subordinação
daqueles a este último profissional.
Ora, que razão faria com que um profissional de nível de formação
escolar superior pretendesse inscrever-se em atividade de formação infe-
rior e a ele mesmo subordinada?
A explicação talvez seja encontrada em episódio ocorrido em um con-
curso público para preenchimento de cargos de técnico em higiene den-
tal, no qual muitos classificados eram cirurgiões-dentistas, alguns recém-
formados, mas outros já com alguns anos de profissão e aos quais se
leria tentado negar a posse sob a alegação de que não possuíam titulaçâo
para o cargo.
EXERCrCIO LfCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 13

o referido episódio deixa clara a distorção existente no mercado de


trabalho, cuja solução nâo passa, evidentemente, pela edição de medidas
como a ora comentada.

ATENDENTE DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO


Ao contrário do profissional citado no item anterior, O atendente de con-
sultório dentário, ou auxiliar odontológico, como era chamado, é, junta-
mente com o protético, o mais antigo auxiliar da profissão odontológica.
Por esta razão, até o advento das novas normas, o seu treinamento era
levado a efeito pelo próprio cirurgião-dentista (ou pelo "prático") .
Ainda hoje, em que pesem as exigências legais, a formação desses profis-
sionais se dá, preponderantemente, no âmbito do consultório, não obs-
tante algumas tentativas isoladas de ministração de cu.rsos específicos.
Segundo o artigo 19 e seu parágrafo único da Resolução CFO-l85/ 93,
a inscrição dos atendent"es de consultório dentário se fará mediante a
apresentação de "certificado expedido por curso ou exames que aten-
dam, integralmente, aos dispostos na Lei n· 5.692 / n e nos Pareceres
460/ 75 e 699 / n do CFE" ou título revalidado.

AUXILIARES DE PRÓTESE DENTÁRIA

Diferentemente do técnico em higiene d{!Otal e do atendente de consul-


tório dentário, cuja supervisão foi deferida ao cirurgião-d.entista, o amei-
liar de prótese dentária trabalha sob a supervisão do técnico em prótese
dentária .
A habilitação ao registro e a inscrição no Conselho Regional se fazem
através da apresentação de certificado de curso que preencha as condi-
ções do Parecer n g 540/ 76, do Conselho Federal de Educação (art.25, da
Resolução CFO-l85 / 93) .
Vedação inexplicável, a nosso ver, atinge apenas esse profissional. O
artigo 26 da Resolução CFO-185 / 93 estabelece que esse profissional
somente pode exercer suas atividades nos Limites territoriais do
Conselho Regional que deferiu a sua inscrição, sendo-lhe vedada a
transferência para a jurisdição de outro Conselho Regional.
CAPíTULO 2

I LEI N9 5.081, DE 24 DE
AGOSTO DE 1966
"REGULAMENTA O
EXERCíCIO DA
ODONTOLOGIA NO
BRASIL"

IDA T. P. CALVlELLI

INTRODUÇÃO
Como já tivemos a oportunidade de enfatizar, até bem pouco tempo, o
cirurgião-dentista era auxiliado no exercício de suas atividades pelos
protéticos e pelos auxiliares de consultório.
A evolução da proflSSâo odontológica e as transformações ocorridas
no mercado de trabalho se refletiram, também, nesse segmento profis-
sional, fortalecendo algumas categorias, como é o caso dos protéticos,
hoje denominados técnicos em prótese dentária, e ensejando o reconheci-
mento de outras, como a dos higienistas. que receberam o nome de técni-
cos em ',igiene dental. Os primeiros contam, inclusive, com sindicato
representativo e atuante, passando por uma marcante evolução.

I 15
,. EXERClclO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

Optou O Conselho Federal de Odontologia, assim, por incluí-los entre


aqueles que se devem subordinar ~ sua fiscalização, fazendo-o, defmiti-
vamente, através da Resolução CFO-l85 / 93, a qual sinaliza que, além do
ctrurgião-dentista, devem inscrever-se nos Conselhos Regionais o técni-
co em prótese dentária, os técnicos em higiene dental. OS atendentes de
consultório dentário e os auxiliares de prótese dentária.
Cabe, ainda, chamar a atenç30 para o fato de que uma Resolução,
como é o caso da CFO-l85/ 93, tem caráter supletivo, razão pela qual
apenas repete, complementa ou atualiza aquilo que já foi objeto de tex-
tos legais hierarquicamente superiores.
Assim, a profissão de cirurgião-dentista no Brasil ainda é regida pela
Lei n- 5.081, de 24 de agosto de 1966, publicada no Diário Oficial da
União em 26 de agosto de 1966, que "regulamenta o exercício da odonto-
logia em todo O território nacional".
A Lei n- 5.081 / 66 substituiu a Lei n- 1314, delaneiro de 1951, que pri-
meiramente instituiu o monopólio do exerdcio da odontologia para por-
tadores de diplomas obtidos em cursos oficiais ou reconhecidos de
odontologia, impedindo, assim, o exercicio da odontologia por quem
não satisfizesse os requisitos de capacitação que estabelecia.
A nova lei (5.081 / 66) foi editada dois anos após a criação dos Conse-
lhos Federal e Regionais de Odontologia, através da Lei n- 4.324, de 14
de abril de 1964, que atestou definitivamente a maioridade da profissão
odontológica.
A partir dela, compete aos Conselhos a fiscalização do exercido da
odontologia no Brasil, nos seguintes termos:

Art. l' - O exercido da odontologia no território nacional é regido pelo


disposto na presente Lei.

Ainda que a nova lei não tivesse feito menção expressa à revogação
de dispositivos contrários, o artigo em exame traz como conseqüência a
revogação tácita da lei anterior que versa sobre o mesmo objeto, ao esta-
belecer que o exercido da odontologia no território nacional é regido pela
presente lei.

Art. 2' - O exercfcio da Odontologia no território nacional só ê permitido


ao cirurglão-dentlsta habilitado por escola ou faculdade oficial ou reco-
nhecida, após o registro do diploma na Diretoria do Ensino Superior. no
Serviço de Ascallzação de Odontologia. na repartição sanitãria estadual
competente e Inscrição no Conselho Regional sob cuja jurisd1ção se
achar o local de sua atividade.
lEI No 5.081 , DE 24 DE AGOSTO DE 1966 17

Modificações estruturais e administrativas ocorridas nos órgãos ofi-


ciais citados no artigo em exame, somadas às autorizações decorrentes
de outras fontes legislativas, tomaram ultrapassadas as exigências nele
contidas.
A primeira exigência diz respeito à capacitaçdo profissional, que s6
poderá ser obtida através de curso de graduação em odontologia minis-
trado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida.
Embora o ensino superior seja livre no Brasil, a instalação e o funcio-
namento dos cursos superiores dependem da autorização da União, a
quem compete a inspeção e fiscalização dos estabelecimentos de ensino.
O diploma assim obtido necessita transformar-se em título id6neo, o
q\le acontecia com o seu registro na Diretoria do Ensino Superior e que
tinha por objetivo a verificação da regularidade da vida escolar pregres-
sa do portador do diploma, bem como a da escola ou (acuidade que o
diplomou. Esse registro é agora obtido nas próprias universidades fede-
rais ou estaduais.
Obtida a capacitação profissional, é preciso que sejam cumpridas outras
exigências para se obter a capacitação legal. Essas exigências se compunham
dos registros que eram realizados no SelViço Nacional de F'l5C3lização da
Odontologia, na Divisão do Exercicio Profissional (repartição estadual
competente) e na inscrição no Conselho Regional de Odontologia.
O registro no Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, que se
destinava a possibilitar a fiscaJização sobre o exerddo da odontologia, é
realizado agora pelo Conselho Federal de Odontologia, a quem cabe
atualmente, como já vimos, essa competência.
O registro na repartição sanitária estadual competente (Divisão do
Exercício ProftsSional), que tinha por finalidade a fiscalização mais dire-
ta sobre as instalações profissionais, está agora sob a jurisdição dos
Escritórios Regionais de Saúde, os ERSA, aos quais compete, através do
Centro de Vigilãncia Sanitária, conceder o alvará de funcionamento para
o profissional que pretenda exercer a profissão autonomamente.
Para aqueles que não vão exercer de (arma autônoma a profissão, isto
é, para aqueles que não pretendem "montar consultório", esse registro é,
atualmente, dispensado.
Finalmente, a inscrição no Conselho Regional de Odontologia sob cuja
jurisdição se achar O local de sua atividade completa a aquisição da capa-
cidadt legal, cujos requisitos, para cada hipótese, foram analisados no
Capítulo 1, que cuidou do exercicio lícito.
Art. 3' - Poderão exercer a odontologia no território nacional os habilita-
dos por escolas estrangeiras, após a revalIdação do diploma e satisfeItas
as demais exigências do artigo anterior.
18 o EXERCfCIQ ITlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Como já tivemos a oportunidade de afirmar no Caprtulo 1, existem


outras hipóteses de capacitação legal além daquelas representadas pelos
brasileiros ou estrangeiros portadores de diplomas revalidados. Os
diplomas expedidos pelas instituições de ensino superior sediadas nos
parses que assinaram a HConvenção Regional sobre o Reconhecimento
de Estudos, Títulos e Diplomas", a que fizemos menção no inciso D do
item b do Caprtulo 1, e os diplomas de portugueses e brasileiros expedi·
dos por escolas portuguesas, conforme se explicitou no inciso m do
mesmo item b, são automaticamente registrados pela universidade na
qual esse registro é requerido.
Outras duas hipóteses não previstas na Lei n' 5.081/66 decorrem de
situações nascidas da edição de textos legais posteriores: os estrangeiros
portadores de diplomas obtidos em escolas ou faculdades oficiais ou
reconhecidas beneficiados pelo Programa de Estudante-Convênio (pEC)
que tenham obtido visto permanente no Brasil e aqueles beneficiados
com il Matrícula de Cortesia Diplom.;1tica, na mesma situação, e que
deverão, apenas, após terem a idoneidade do titulo regularizada, procede-
rem aos demais registros e inscrição já analisados para estarem legalmen-
te capacitados para o exercício no Brasil.

Art. 4' - É assegurado o direito ao exercrclo da odontologia, com as res-


trições legais, ao dIplomado nas condições mencionadas no Decrelo-Lel
no 7.718, de 9 de julho de 1945, que regularmente se tenha habilitado
para o exercfcio profisslonal, somenle nos limites territoriais do Estado
onde funcionou a escola ou faculdade que o diplomou.

A Lei nll 5.081 / 66, ao mesmo tempo em que assegurou o direito ao


exercício da odontologia aos beneficiados pelo Decreto-Lei nI 7.718/45,
revogou-o expressamente, daí porque a data limite para a comprovação
do direito às vantagens por ela concedidas é a da publicação da lei nova
no Diário Oficial da União, em 26 de agosto de 1966.
Como já se chamou a atenção, a Lei nI 1.314/ 51, que regulamentava a
proflSSâo até o advento da Lei nl 51>81/66, nào contemplava esse grupo
de profissionais.
Se considerarmos que a habilitação dos profissionais de que trata esse
artigo remonta ao ano de 19"'5, portanto há mais de 50 anos, podemos
convir que, profissionalmente, trata-se de categoria em extinção.
As restrições impostas aos mesmos já foram analisadas no Capítulo 1.

Art. 5' - É nula qualquer autorização administrativa a quem não for legal-
mente habilitado para o exarcfcio da odontologia.
lEI N" 5.081 , DE 24 DE AGOSTO DE 1966 19

A demora na expedição dos diplomas e o longo tempo requerido pelo


seu registro têm, desde há muito, dificultado a vida dos recém-gradua-
dos em qualquer carreira.
Atento a essa realidade, o Conselho Federal de Odontologia baixou
resolução admitindo a inscrição provisória para o recém-formado, ini-
cialmente por um ano, aumentando esse prazo para dois anos posterior-
mente. t: o que estabelece a aHnea t! do artigo 5R da Resolução CFO-
185/ 93.
No entanto, é importante observar que, em razão da hierarquia das
leis, uma Resolução mo pode dispor contrariamente a uma lei.
A Lei n" 5.081 / 66 determina expressamente, em seu artigo 7', que o
exercicio da odontologia só é permitido ao cirurgião-dentista habilitado
por escola ou faculdade oficial ou reconhecida após o registro do diploma ~
;,rscriçifo no Conselho Regional.
É óbvio, então, que a apresentação do certificado de conclusão de
curso não supre o requisito da lei, até porque, como ficaria eventual
argüição de responsabilidade profissional decorrente da prática de atos
privativos de cirurgião-dentista por alguém que tivesse obtido a inscri-
ção provisória mediante apresentação de certificado falso, ou cuja falsi-
dade estivesse sediada até no certificado de conclusão do 2° grau etc. (o
que, como tivemos a oportunidade de observar, mo é assim tão raro) .
A solução poderia estar, ao que nos parece, na alteração da lei me-
diante proposta do Conselho Federal de Odontologia ao Legislativo, o
que seria muito oportuno, na medida em que este dispositivo e mesmo
outros da referida lei encontram-se ultrapassados.

ATRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA

A questão da competência atribufda ao cirurgião-dentista, isto é, do


elenco de atos que podem ser praticados por ele, nem sempre é padfica,
até mesmo porque, em virtude dos avanços técnicos e científicos experi·
menlados pela odontologia, algumas de suas áreas de atuação têm sido
s uperpostas a campos de competênda outrora exclusivos da medicina,
fazendo-se necessário tentar não a delimitação dos respectivos campos,
mas o estudo das hipóteses em que possa ocorrer, com vistas à adequada
argüição da responsabilidade profissional.
O campo de competência do cirurgião-dentista, ou a explicitação do
que ele pode praticnr, decorre do exame do artigo 6g e seus incisos .
20 EXERCfclO ~ICO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

An. 1)1- - CofT\pele ao cirurgião-dentista:

I. praticar todos os atos pertinentes à odontotogla. decorrentes de


conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-
graduação;
11. prescrever e aplicar especlalldades farmacêuticas de uso interno e
externo, indicadas em odontologia;
111. atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e
outros, Inclusive para justificação de faltas ao emprego;
IV. proceder à parlcla OOonloleg81 em foro eMl, criminal , trabalhista e
em sede adminlslIativa;
V. aplicar anestesia local e troncuJar;
VI. empregar 8 analgesia e 8 hipnose, desde que comprovadamente
habilitado, quando constiturrem meios eficazes para o tratamento;
VII. manter, anexos ao consultóno, laboratório de prótese, aparelha·
gem e instalaçlo adequadas para pesquisas e análises cHnieas.
relacionadas com os Casos especificos de sua especialidade, bem
como aparelhos de raios X, para diagnóstico, e aparelhagem de
fisioterapia:
VIII. prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes
graves que comprometam a vida e a saúde do paciente;
IX , utilizar, no exercido da 'unção de perit~ntórogo, em casos de
necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça.

l. Praticar Todos os Atos Pertinentes à Odontologia,


Decorrentes de Conhecimentos Adquiridos em Curso
Regular de Graduação ou em Cursos d e
Pós-Graduação

o inciso t consagra a uniformidade da formaçào odontológica em todo o


território nacional, quando estabelece que a prática dos atos profissio-
nais deve ser decorrente de conhecimentos adquiridos em Cllr50 regular,
que SÓ podem ser entendidos, então, como os de graduação, cujo currí-
culo mínimo é estabelecido pelo Conselho Federal de Educação.
Em que pese a diversidade na qualidade dos órgãos formadores, não
será possível indagar, no caso concreto, em qual escola o profissional se
formou; se seguia o currículo mínimo ou, pelo contrário, adotava O cur-
rk uJo pleno; se tal parte programática incluía, ou não, noções aprofun-
dadas, ou não, sobre fisiologia do coração, por exemplo. Os conhecimen-
tos exigíveis são aqueles estabelecidos no currículo mínimo,
LEI No 5.081 , DE 24 DE AGOSTO DE 1966 21

Por outro lado, quando a lei fala em cursos de p6s-graduação, estes


devem ser entendidos como aqueles aptos a conferir aos profissionais o
aprofundamento de seus conhecimentos em determinado campo, e não
qualquer um, de pequena duração, realizado apenas após a graduação.
As especialidades odontológicas são regulamentadas pela Resolução
cr-o-l85/93, que baixou a nova Consolidação das normas para procedi-
mentos nos Conselhos de Odontologia. Em conseqüência dessas altera-
ções, passaram a ser reconhecidas 14 especialidades: cirurgia e trauma to-
lagia bucomaxilofaciais, dentística restauradora, endodontia, odontologia
legal, odontologia em saúde coletiva, odontopediabia, ortodontia, patolo-
gia bucal, periodontia, prótese bucomaxilofacial, prótese dentária, radiolo-
gia, implantodontia e estomatologia.
Tal como ocorre com a autorização legal para o exerécio da odontolo-
gia, o especialista, para QnlmClar-st como tal, deve estar devidamente
autorizado pelo Conselho Federal de Odontologia, isto é, deve estar
registrado e inscrito como especialista.
O artigo 38, da Resolução CFO-18S/93, do Conselho Federal de
Odontologia, elenca os requisitos exigidos para o registro e a inscrição
como especialista, dos quais o cirllrgibo-de1ltista deve preencher ao menos um:

" a) pOSSUir tftulo de livre..(iocente ou de doutor, na área da especIalidade:


bl possuir titulo de mestre, na tirea da especialidade, conferido por curso
que atenda às exigências do Conselho Federal de Odontologia:
cl possuir certif1cado conferido por curso de especlallzaçlo em odontolo-
gia que atenda ~s exigências do Conselho Federal de Odontologia:
dI possuir diploma ou certificado de curso de especialização registrado
pelo extinto Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia;
el possu ir diploma expedido por curso regulamentado por lei, realizado
pelos serviços de Saúde das Forças Armadas, que dê direito especifi-
camente a registro e inscrição;
fI possuir diploma ou certificado conferido por curso de especialização ou
residência na vigência das resoluções do Conselho Federal de
Odontologia ou legislação especifica anterior. desde que atendidos
todos os seus pressupostos e preenchidos os seus requisitos legais.

§ l ! O certificado de curso referido na alrnea c deste artigo somente dará


direito a registro caso o profissional o tenha Iniciado após dois anos de
inscrito em Conselho Regional.
§ 2! São vedados o registro e 8 Inscrição de duas especialidades com
base no mesmo curso realizado.
22 EXERCICIQ tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

§ 3! QuandO se tratar de curso de mestrado e doutorado, com área de


concentração em duas ou mais especialidades. poderAo ser concedidos
registro e inscrição em apenas uma delas. desde que:
a. no conlficado expedido conste a nomenclatura correta da especiali-
dade pretendida;
b. a carga horária na área seja igualou superior 80 número de horas
previsto para a especialidade; e,
c. a soma dos alunos das diversas áreas não ultrapasse o número
estabelecido nestas normas para cada especialidade."

Chamamos a atenção para o fato de que a lei veda o afllíncio da condi-


ção de especialista por quem não seja registrado como tal no Conselho
Federal e inscrito no Conselho Regional de Odontologia. Anunciar-se
especialista sem autorização legal poderá vir a constituir infração ~tica,
mas não a infração penal prevista no artigo 282 do Código Penal. O DU-
cfcio de atos para os quais o profissional não esteja preparado, no nosso
entender, poderá caracterizar crime culposo, respondendo O profissional
pela negligência, imprudência ou imperícia, mas não por exercício ilegal,
seja por falta de autorização legal seja por excesso de limites.

11. Prescrever e Aplicar I2specialidades Fannacêuticas de


Uso Interno e Externo, Indicadas em Odontologia

A competência para prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas


não foi conquistada facilmente pela classe odontológica. Somente em
1951, com a edição da Lei nll 1.314, o cirurgião-dentista teve reconhecida a
sua capacidade para prescrever e aplicar todo o arsenal medicamentoso.
Diferentemente do que ocorre com os médicos, cuja atuação terapêuti-
ca é realizada preponderantemente através dos medicamentos, a ação
curativa dos cirurgiões-dentistas decorre, também de maneira preponde-
rante, de sua atuação direta sobre os elementos dentários e tecidos de
sustentação. A prescrição de especialidades farmacêuticas, via de regra,
constitui meio auxiliar do tratamento odontológico.
O aspecto que interessa abordar neste momento é o que diz respeito
ao problema dos limites de atuação do cirurgião-dentista no campo da
prescrição e aplicação de especialidades farmacêuticas.~ evidente que a
restrição "indicada em odontologia", como chama a atenção Samico
(1990), não precisa estar especificada no rótulo ou na buJa do medica-
mento. O arsenal terapêutico é comum ao médico e ao cirurgião-dentis-
LEI N" 5.081 , DE 24 DE AGOSTO DE 1966 23

ta, e também ao médico-veterinário. Os antibi6ticos, os hemostáticos, os


ana lgésicos e os antünflamat6rios são de indicação comum às três pro-
fissões. A causa da indicação poderá determinar o excesso de limites.
Um veterinário ou um médico, por exemplo, poderá, cada um deles,
receitar um anticoncepcional para um animal e para um ser humano,
respectivamente. Um cirurgiâo-d.entista nâo poderá fazê-Io, sob pena de
estar excedendo os limites de sua profissão, ainda que possua um vasto
conhecimento técnico e científico de farmacologia . Como enfatiza aque-
le autor: "O cirurgião-dentista não deve prescrever medicações para o
tratamento de patologias que não sejam de seu territ6rio legal de ativi-
dade." A questão da prescrição de medicamentos, e mesmo a do diag-
nóstico de determinadas doenças, tem sido objeto de discussões nevrál-
gicas. Em função do {ato de que muitas doenças têm manifestações pre-
coces no meio bucal, alguns drurgiões-dentistas afirmam ter competên-
cia para finnar seu diagnóstico. Temos chamado a atenção para o falo
de que, realmente, muitos cirurgiôe5-dentistas têm competência técnica
e científica para o diagn6stico. Falta- lhes, no entanto, a competência
legal para fazê-lo, porque essas entidades nosológicas, embora tenham
manifestação precoce bucal. têm sua sede em outros órgãos e não só na
boca, e, portanto, a capacidade legal para atestá-las é somente dos
médicos.
Finalmente, não se pode deixar de chamar a atenção para as doenças
iatrogênicas decorrentes da ingestão de medicamento. A recomendação
que sempre fazemos aos nossos alunos é a de que atentem para a relação
existente entre o período de tempo durante O qual O paciente deverá
fazer uso do medicamento, a sua dose e a quantidade em que a droga
vem apresentada (embalagens com maior ou menor quantidade), tendo
em vista os efeitos colaterais apresentados pela maioria das drogas exis-
tentes no mercado.

111. Atestar, no Setor de Sua Atividade Profissional,


Estados Mórbidos e Outros, Inclusive para
Justificação de Faltas ao Emprego

o atestado, médico ou odontológico, "constitui a afmnação simples e


por escrito de um fato médico e suas conseqüências" (Souza Lima, 19(4).
São três as condições para que um atestado médico seja apto a produ-
zir OS seus efeitos:
24 EXERCICIQ ~ICO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

L A efetiva prática do ato profissional que originou as conseqüências


atestadas.
2. A posse da "autorização legal" para O exercício profissional.
3. Não estar o p rofissional suspenso do exercício profissional (em
razão de sentença judicial ou imposição de penalidade pelo órgão
profissional).

Embora tivesse competência para atestar os fatos odontológicos e suas


conseqüências, ela s6 foi estendid a para os fins de justificação de falta ao
trabalho em 19751 quando o inciso lU do artigo'" da Lei n· 5.081 / 66 teve
sua redação alterada pela Lei nU 6.215, de 30 de junho daquele ano.
O reconhecimento, porém, da plena capacidade legal do cirurgião-
dentista para atestar não se completou com a necessária alteraç.\o do
artigo 302 do Código Penal, que prevê a figura do atestado falso finnado
pelo médico, para estendê-Io ao dru rgião-dentista, originando a injusta
disparidade de tratamento.. que leva a prática da infração cometida por
este último ôl ser denunciada pelo artigo 299 do Código Penal, cuja pena
~ ~tremamenle mais 5e'vera do que aquela cominada ao mesmo crime
quando praticado por médico.
Não discu tiremos aqui, porque foge aos limites deste capítulo, os
aspectos filosóficos da congruência ou nào do atestado falso firmado
pelo dentista com o "crime do falso", mas não podemos deixar de evi·
denciar a falta de visão dos representantes da classe odontológica ao não
propugnarem, pelo menos imediata men te após a edição da Lei nll 6.215,
de 30 de junho de 1975, pela competente alteração da redação do artigo
302 do Có<hgo Pena \.

IV. Proceder à Perícia Odontolegal em Foro Civil, Criminal,


Trabalhista e em Sede Ad_m inistrativa

Ao graduar·se, o cirurgião-dentista adquire plena capacidade para atuar


como perito.
Convém, no entanto, refletir com Arbenz (1988), segundo o qual "as
perídas são levadas a efeito por técnicos especializados, dotados de pro-
fundos conhecimentos teóricos e práticos do ramo a que se dedicam",
que os simples conhecimentos da graduação não permitem ao profissio-
nal desinrumbir--se dessa delicada tarefa .
O aumento da demanda de peritos em função do crescimento no
número de lides envolvendo o exercído profissional; da necessidade de
LEI No' 5.081, DE 24. DE AGOSTO DE 1966 25

avaliação do dano na ocorrência de lesões dentomaxilofaciais decorren-


tes de acidentes de trânsito; da avaliação dos infortúnios do trabalho,
dentre outras, tem deixado patente a necessidade de formação especiali-
zada., que não é obtida, seguramente, apenas com os ensinamentos
ministrados nos cursos de grad uação.
Em excelente e recente monografia, na qual analisou a "ocorrência de
traumatismos faciais e de elementos dentários em ocupantes de veículos,
decorrentes de acidentes de trânsito", Cardozo (1990), ao discutir as ava-
liações encontradas nos laudos que constituJ'ram o material de sua tese,
afirma que: "É nesse campo que se evidencia o despreparo dos profissi~
nais aos quais está afeta a responsabilidade da avaliação do dano sofrido
pelas vítimas no que tange à valoração das lesões dentomaxilofaciais."
Agravando essa situação, geralmente essa avaliação é realizada por
médioos-Iegistas que não possuem o necessário conhecimento especializa-
do para fazerem um prognóstico adequado das lesões dentomaxilofaciais,
apesar de, com exceção de alguns poucos estados, os Institutos Médico-
Legais já contarem com cirurgiôes-dentistas como odontolegistas.
Esta realidade não é só nossa, pois Montagna (1969), do Chile, também
chamou a atenção para o fato de que, naquele país, é o médico-Iegista
quem avalia as lesões de interesse odontológico, e que "a lei tende a con-
siderar as lesOes maxilofaciais com prognósticos de escassa gravidade,
baseada principalmente em que, graças aos progressos da ciência odonto-
lógica, estas se reparam com um alto grau de efidência",
No entanto, como enfatiza Cardozo (op,dt,), as lesões da que ora trata-
mos diferem de qualquer outro prejulzo corporal, inclusive porque a
vítima pode estar fisicamente apta para o trabalho, "mas não psicologi-
camente. em razão de alterações estéticas ou fundonais que demandam
tratamento especializado, e às vezes longo, para serem reparadas".
Esses estudos e todos os outros que têm abordado O assunto eviden-
ciam a absoluta necessidade de formação especializada, porque. como
afirma Silva (Silva, M, da Faculdade de Odontologia da USP, Comu-
nicação pessoal, 1993) a visão exigida do perito odontólogo é uma visão
"clinico-juridica", n:io bastando aoexperl o conhecimento apenas da odon-
tologia, o que se aplica a todos os campos das perícias odontológicas.
Resumimos a seguir os tipos de pendas que podem ser realizados
pelo cirurgião-rlentista, segundo Silva (Silva, M. Anotações de aulas).
Em âmbito dvi!:
a. Ressarcimento de danos
b. Arbitramento judicial de honorários
c. Exclusão da paternidade
d, Estimativa da idade
26 EXERCfclO trlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Em âmbito criminal:
a. Identificação
na vivo
noadáver
b. Peridas antropológicas (no crânio esqueletizado)
espécie animal
estimativa do sexo
estimativa da idade
estimativa da estatura
estimativa do bi6tipo
c. Lesões corporais
d. Detenninação da idade
e. Perídas de manchas
f. Detenninação da embriaguês alcoólica

Em âmbito trabalhista:
a. Acidentes-tipo
b. Doenças profissionais com manifestação bucal
c. Doenças profissionais do cirurgião-dentista
Em sede administrativa:
a. Auditorias
b. Exames determinados por comissões de sindicância

V. Aplicar Anestesia local e Troncular

Os anestésicos podem ser definidos como agentes que suprimem a sen-


sibilidade.
Desde a antigüidade buscam-se substâncias capazes de afastar a dor.
o uso da mandrágora e do ópio constit-uiu-se em conquistas nesse
campo, embora não tivesse alcançado resultados plenamente satisfató-
rios.
No campo da odontologia, a dor que acompanhava qualquer inter-
venção traduziu-se e ainda se faz presente nas representações da atuaç30
do cirurgiã<Hientista, em que este é apresentado como torturador.
Pode-se compreender, então, por que os cirurgiàes-dentistas empe-
nharam-se tanto na busca de métodos e substâncias que afastassem a
dor, sendo as descobertas do protóxido de nitrogênio e do éter eh1ico
como agentes anestésicos atribuídas a dois dentistas: Horace Wells e
Wi.lliam T.G.Morton, ambas em meados do século passado.
LEI N" 5.081, OE 24 DE AGOSTO DE 1966 21

Em virtude dos inconvenientes apresentados e pelos riscos que repre-


sentavam, inclusive com a ocorrênda de inúmeros acidentes anestésicos,
até letais, os odontólogos passaram a dirigir seus esforços no desenvol-
vimento de outros anestésicos que diminuíssem esses riscos.
Os agentes anestésicos podem ser divididos em dois grandes grupos:
os que detenninam a anestesia IOCDl e os que provocam a anestesia geral. Na
anestesia local acontece a abolição da sensibilidade especial 11 dor; na
anestesia geral ocorre a falta de sensibilidade em todas as suas modalida-
des fisiológicas, acompanhada da perda da consciência.
A anestesia local, a mais largamente utilizada pela odontologia, pode
ser levada a cabo através de três procedimentos: por infiltração, por
penetração diplóica e por condução (ou troncular).
A anestesia por infiltração consiste na injeção da solução anestésica
nos tecidos submucososi na diplóica, há penetração da solução anestési-
ca no tecido esponjoso, através do periósteo; e a anestesia por condução,
ou troncular (ou, ainda, regional), consiste no bloqueio do ramo nervoso
através da apUcação do agente anestésico na entrada ou na saída do con-
duto do nervo que se pretende bloquear.
a uso de produtos anestésicos para controlar o medo e afastar a dor
assumiu nos últimos anos um papel muito grande nos programas de
ensino odontológico das faculdades de odontologia, principalmente da
América do Norte.
a Mlmual de Clí1liCJl Gemi (de 1986-1987), do Baltimore CoUege of Dental
Surgery, da University af Maryland, descreve os tipos de modalidades
anestésicas utilizadas naquela faculdade, que incluem, além das anestesias
locais, a medicação oral seclativa; a utilização do óxido nitroso; a seclação
através de medicação lntramuscular; a sedação endovenosa (definida
como "técnica intravenosa consciente"); e a anestesia geral endovenosa.
No Brasil, O cirurgião-dentista pode prescrever e aplicar, de acordo
com a competência que lhe é conferida no inciso I do artigo 61, dentro do
arsenal medicamentoso existente, especialidades fannacêuticas de uso
interno e externo (portanto. por vias oral, retal, intramuscu1ar ou endo-
venosa), o que inclui, obviamente, drogas que possuem efeito anestésico
ou analgésico.
a que ocorre é que a sedação endovenosa, intramuscular ou retal,
entre nós, não é costumeiramente utilizada como técnica anestésica para
possibililar dirtJamente a alunçdo do cirurgido-denlista. As drogas são utiliza-
das como pré-anestésicas, como coadjuvantes da anestesia local e, geral-
mente, por via oral.
A alegação para a contra-indicação de seu uso mais abrangente é a da
falta de preparo específico dos alunos nos cursos de graduação; a neces-
28 EXERCfclO ITICO e LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

sidade de um aprofundamento dos conhecimentos de farmacologia e de


anestesiologia para a sua utilização, já que a ênfase do ensino, entre nós,
recai sobre as modalidades anestésicas local e troncular (ou regional. ou
p terigomandibular).
A anestesia geral somente pode ser realizada por médico anestesista,
segundo a Resolução nll 852/78, do Conselho Federal de Medicina, o que
não impede o cirurgião-dentista de operar paciente a ela submetido.
As observações relativas à atuação do cirurgião-dentista nesse campo
serão examinadas no tópico seguinte.
Finalmente, embora no cuniculo mínimo dos cursos de graduação em
odontologia, baixado pela Resolução nl 04/ 82, do Conselho Federal de
Educação. haja a determinação de ministração de conhecimentos de
ftsiologia e fannacologia, nem todas as faculdades ministram a aneste-
siologia como uma disciplina autônoma (por exemplo. a da Univer-
sidade de São Paulo) .

VI. Empregar a Analgesia e a Hipnose, desde que


Comprovadamente Habilitado, quando Constituírem
Meios Eficazes para o Tratamento

Empregar a A nalgesia
A falta de regulamentação da Lei n- 5.081/66 toma o exame desse inciso
totalmente dependente da in terpretação doutrinária.
Segundo Paciomik (1975), analgesia significa "abolição da sensibilida·
de à dor" ou, como interpretam os Zacharias (1988). é a "abolição da
sensibilidade à dor, sem perda da consciência".
Podendo a analgesia ser conseguida através da ministração de espe-
cialidades farmacêuticas, a competência para sua utilização já teria sido
prevista no inciso I do artigo 6-. Se, por outro lado, for decorrente da
anestesia local ou troncuJar, a hipótese também já teria sido contemplada
no inciso V, examinado no tópico anterior, o que nos leva a admitir que a
sua inclusão neste tópico é redundante e desnecessária.
Os termos analgesia e anestesia algumas vezes são encontrados na
bibliografia odontológica como sinônimos. Ao procurarmos subsidios
sobre anestesiologia na literatura, encontramos uma curiosa explicação
para a utilização do termo analgesia no prefácio da obra Sedation. de
Hamburg (1980). Diz esse autor que o termo "analgesia não pode ser
usado em sentido genérico para a sedação por inalação e foi adaptado
LEI,.,. 5.081 , DE 24 DE AGOSTO DE , 986 29

por Langa porque eworucamente analgesia afasta uma subliminar, inin·


tencional impressão mental de similaridade com o termo anestesia".
Sem dúvida, existe uma preocupação subjacente nos escritos odonto-
lógicos, principalmente norte-americanos, em afastar a idéia da anestesia
geral quando se referem aos métodos anestésicos utilizados por eles. ~
muito utilizado o termo sedação ou a variante sedaçào consciente.
Analisando-se a evolução histórica da anestesia e sabendo-se que a
odontologia sempre encetou grandes esforços para resolver o problema
da dor nos tratamentos odontológicos, tanto que a ela se deve a introdu-
ção do prolóxido de azoto (ou óxido nitroso) e do éter eb1ico como agen-
tes anestésicos - sabendo-se ainda que estes causavam a perda da cons-
ciência e que nos primórdios da sua utilização ocorreram muitos aciden-
tes, inclusive fatais -, pode-se compreender a preocupação dos cirur-
giães-dentistas em afastar a idé.ia de anestesia geral dos 'seus métodos
anestésicos.
A utilização da anestesia geral constituiu, no Brasil, um ponto de atri-
to entre a odontologia e a medicina, seguido de perto pela definição das
áreas de competência relativas à cirurgia bucomaxiJofacial.
Em 1977, instituiu-se um grupo de trabalho composto por repre-
sentantes do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Federal de
Odontologia, com a finaHdade de estudar e normatizar a atuação de
médicos e cirurgiões-dentistas no campo da cirurgia bucomaxilofa-
daI.
Durante a realização daquele traba lho, fo ram também discutidas as
questões relacionadas com a anestesia geral. resultando na edição de re-
soluções de ambos os Conselhos (Resolução CFM n l 851 / 78, de 4 de
setembro de 1978, CFM nl 852/ 78, de 4 de outubro de 1978, e Resolução
CFO-124, de 29 de outubro de 1978) normatizando a atuação de médicos
e cirurgiõe5-dentistas na região bucomaxiJofaciaJ e determinando a com-
petência exclusiva dos médicos-anestesistas para a realização da aneste-
sia geral.
Para uma ap reciação histórica desse episódio, as atas da constituição
da Comissão Mista e da síntese das várias reuniões acham-se transcritas
na publicação anual do Conselho Federal de Odontologia. A Resolução
CFO-I24 / 78 foi substitu/da pela Resolução CFO-I5S/ 84, alterada pela
Resolução CF0-181 / 92, por sua vez revogada pela Resolução CFO-
185/ 93, atualmente em vigor.
O espírito dessas resoluções conjuntas transparece, ainda, na manu·
tenção da antiga redação na atual normatização da especialidade de
cirurgia e traumatologia bucomaxilofaciais, podendo ser apreciada na
transcriçào do seu artigo 44:
30 EXERCfclO trlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

"Os drurgiiJes-dentistas somente podado realizar cirurgias sob anestesia


geral em ambiente hospitalar, cujo diretor técnico seja médico, e que disponha
das indispensáveis cotldições de segurança comlUlS a ambientes cirúrgicos, co,!-
siderando-se prática atentntónOo à ética a solicitaçào dou realização de anestesia
geral em consultório de drllrgião-dentista, de médico, ou em ambulatório."

É ponto paóbco, pois, que a anestesia geral 56 pode ser realizada por
médic:o-anestesista em ambiente hospitalar.
No entanto, uma velha questão ressurge, atualmente, no âmbito da
anestesiologia odontológica, sendo objeto de movimentações discretas
no sentido de ser a sua prática considerada legal: a utilização do óxido
nitroso, em consultório odontológico, como agente anestésico.
O Conselho Federal de Odontologia vinha recebendo consultas e
pedidos de pronunciamento acerca da viabilidade legal da realização de
cursos sobre analgesia gasosa e da utilização da anestesia por inalação
do óxido nitroso. Disso resultou que, em 1991, o Conselho, pronuncian-
do-se sobre o assunto, manifestou o entendimento daquele órgão máxi-
mo da odontologia acerca dos incisos V e VI, do artigo 6', da Lei nl
5.081106 e o fez, a nosso ver inadCC{uadamente, através da Resolução
CFO-l72/91, de 2S de janeiro daquele ano, uma vez que nada acrescen-
tou às normas já existentes sobre a matéria .
A interpretação, no entanto, tão necessária}" antes de esclarecer as
dúvidas, lançou novas sobre as já existentes.
Após vários cOllsidaallda, a referida Resolução estabelece que:

°
"Considerando que atllalmente nifo existe condiçifo legal para exerdcio da
analgesia gasosa ou da anestesia geral inalat6ria executada por cimrxiifo-dentista,

Resolve
Art. 1 ~ O dmrgillo-dentisfa poderd operar pacientes submetidos a qualquer
um dos meios de anestesia geral, desde q llt! sejam atendidas as exigências caute-
lares recomendadas para o seu emprego.
Art. 2"- O cirurgião-dentista somente poderá executar trabalhos profissi(mais
em pacientes sob anestesia geral quando Q mesma for executada por profissional
médico, especialista e em ambiente hospitalar que disponM das indispell5áveis
condições comuns a ambientes dnírgicos."

Que o cirurgião-dentista podia operar paciente submetido à anestesia


geral, não era novidade . Já vimos que as resoluções conjuntas dos
Conselhos de Mediana e de Odontologia, de 1978, já o previam.
LEI N" 5.081, DE 24 DE AGOSTO DE 1968 31

o atendimento às "exigências cautelares recomendadas para o seu


emprego" só pode ser entendido como as que dizem respeito à atuação
do médico--anestesista e em ambiente hospitalar, o que toma o artigo 'r,
também, totalmente desnecessário .•
Não resolvida a questão, o que continua a alimentar as argumenta-
ções connitanles sobre o uso do óxido nitroso pelo cirurgião-dentista, em
consultório odontológico, impõe-se a necessidade de definir se o referi-
do agente anestésico deve ser entendido como pertencente ao grupo dos
agentes anestésicos gerais, ou não.
Os defensores da exclusão do óxido nitroso da proibição legal alegam
que o problema é de técnica e que o aparelhamento moderno utilizado
para a sua aplicação permite o controle da liberação do gás em quantida-
de suficiente apenas para alcançar o estágio I da anestesia geral, que é o
estado de analgesia, sem perda da consciência e que, portanto, não pode
ser classificado como anestesia geral.
Os que defendem a sua proibição aJegam tratar-se de agente de anes-
tesia geral, e os riscos continuam grandes, além de o nosso profissional
n~ receber formação adequada e suficiente para fazer face a eventuais
emergências.
Sobre as vantagens da utilização do óxido nitroso, principalmente
para o tratamento de pacientes especiais, acaba de ser defendida tese na
Faculdade de Odontologia da USP (Chiarelli, 1995).
O ponto fundamental, no nosso entender, reside na classificação do
agente anestésico. Se consultarmos qualquer tratado de farmacologia,
constataremos que O óxido nitroso, ou protóxido de nitrogênio, é classifi-
cado como agmte gasoso de anestesia gtral. O fato de ser utilizado para que
se atinja apenas o estágio I da anestesia geral nào lhe tira aquela proprie-
dade.
Esta constatação não nos deixa alternativa: diante da manifestação da
Resolução CFO--l71/91, da resbição contida na Resolução CFO--l85/93,
e interpretação conjunta dos incisos V e VI, do artigo 68 , da Lei n-
5.081 /66, a aplicação da anestesia gasosa pelo óxido nitroso, no Brasil,
ainda não é permitida ao cirurgião-dentista, cabendo à comunidade
odontológica realizar as gestões legais necessárias para a legalização de
seu uso entre nós.
Outra possibilidade contida na interpretação da expressão "empregar
a analgesia" como sinônimo de "técnicas que tendem a conseguir a anal-
gesia " seria o uso da acupuntura, teoricamente possivel, embora não
tenhamos qualquer referência sobre o seu uso com essa finalidade na
odontologia.
32 EXERClclO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Empregar a Hipn ose


A segunda figura contemplada pelo inciso VI ~ a do emprego da hipno-
se.
A Lei n~ 1.314/ 51, regulamentadora da odontologia anterionnente à
Lei n" 5.081 / 66, não contemplava a possibilidade de utilização da hipno-
se pelo cirurgião-dentista. O seu uso pela odontologia, no Brasil, come-
çou a ganhar realce por volta de 1955, sendo o seu maior incentivador o
Dr. Alvaro Badra, a quem se atribui o título de pioneiro na ministração
dos cursos de hipnose e de sua regulamentação no Brasil. Segundo suas
próprias afirmações, deve-se a ele, também, a inclusão da permissão
para o uso da hipnose na Lei n 5.081/66.
Q

Diante do texto legal, fica dara a competência outorgada ao cirurgião-


dentista para empregá-la.
O maior problema para a interpretação do inciso ora em exame está
na definição do que se entende por "desde que comprovadamente habi-
litado" e se a hipnose constitui "meio eficaz para o tratamento".
Na.área da psiquiatria são ministrados cursos de extensão universitá-
ria sobre indicações e técnicas de hipnose, para médicos e estudantes de
medicina . Nesses cursos são aceitos dentistas e estudantes de odontolo-
gia, porque a legislação o permite. A opinião colhida informalmente de
docente que já ministrou esses cursos ~ a de que eles não habilitam, por
si só, o profissional; eles servem para dar uma base, uma noção, tanto
para médicos como para dentistas, das suas técnicas e aplicações . No
que se refere aos cirurgiões-dentistas, a opinião é a de que a hipnose
deve ser sempre aplicada por médicos, porque aqueles profissionais não
têm os conhecimentos necessários para fazer frente a qualquer conse-
qüência inesperada, como uma reação emocional intensa e adversa, por
exemplo, decorrente da própria natureza do processo hipn6tico.
Tendo em vista que a matéria não foi regulamentada, não havendo
pronunciamen to algum sobre as características relativas a conteúdo,
carga horária etc. que esses cursos devam apresentar, e sabendo-se que
cursos que ministram noções sobre técnicas e aplicações da hipnose têm
sido freqüentados habitualmente por cirurgi5es--dentistas, sem qualquer
restrição, somos de opinião que não existe óbice legal a que a técnica seja
empregada pelos odont610gos.
Como profissional liberaJ, ao cirurgião-dentista cabe realizar o diag·
nóstico, afirmar o prognóstico e eleger a terapêutica. Se a escolha da hip-
nose não constituiu "meio eficaz para o tratamento", é mat~ria técnica
que deverá ser respondida por eventual perícia. A ocorrência de aciden·
tes terá de ser analisada à luz da responsabilidade profissional.
LEI N< 5.081, DE 24 DE AGOSTO DE 1966 33

VII. Manter, Anexos ao Consultório, Laboratório de Prótese,


Aparelhagem e Instalação Adequadas para Pesquisas e
Análises Clínicas, Relacionadas com os Casos Específicos de
Sua Especialidade, bem como Aparelhos de Raios X para
Diagnós tico e Aparelhagem de Fisioterapia

As hipóteses previstas no inciso VD, à época da elaboração da lei, consti-


, tulam conquistas obtidas pela classe odontológica. Significavam o reco-
nhecimento de um status quo conquistado pelos proftssionais.
Com o advento das proflssões chamadas paraodontológicas, sujeitas
também à inscrição e à subordinação aos Conselhos de Odontologia,
como é o caso do técnico em prótese dentária, entre outras, as possibili-
dades e as condições legais relativas às hipóteses consideradas no inciso
VU são bastante diferentes daquelas inicialmente contidas na lei.

• Laboratório de Prótese
A instalação e o funcionamento do laboratório de pr6tese obedecem
atualmente às disposições contidas nos artigos 84 usque 89, da Resolução
CFQ-185 / 93, do Conselho Federal de Odontologia, e normas específicas
do ERSA / SUDS.
I Quando o laboratório de prótese for mantido por cirurgião-dentista
em anexo ao seu consult6rio, ou estiver sujeito à administração direta ou
indireta federal, estadual ou municipal, ou, ainda, pertencer a instituição
de ensino, não estará obrigado a inscrever-se naquele órgão.
Fora dessas possibilidades, o regis tro e a inscr ição no Conselho
Regional respectivo são obrigatórios.
Segundo se depreende das normas do Conselho, aoma mencionadas,
a propriedade de laboratório de p rótese pode ser de leigo, embora seja
exigida a figura do técnico responsável, que poderá ser cirurgiã.o-dentis-
ta ou técnico em prótese dentária e que assinará Tenno de Responsabi-
lidade, respondendo pelas infrações éticas cometidas em nome da enti-
dade.
Quando se tratar de laboratório d e prótese comercial, isto é, aquele
que não se enquadra dentre as possibilidades de isenção de registro e
inscrição apontadas acima, é exigido, também, o registro junto ao
CVS/ ERSA/SUDS, que emitirá alvará de funcionamento após vistoria
inicial. Q responsável técnico junto ao CRQ também o é junto ao
CVS/ ERSA / SUOS, sendo necessária a comunicação ao órgão sempre
que houver mudança do responsável, com a indicação do substituto.
34 EXERClclO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Aparelhagem e Instalação Adequadas para Pesquisas e


Análises Clí,u"cas
As pesquisas e análises clínicas referiam-se a todos os exames que já se
admitiam poder ser realizados pelo cirurgião-<lentista, como, por exem-
plo, a pesquisa de presença e contagem, no meio bucal, de lactobacilos,
de estreptococos e outros, além de todos aqueles exames relacionados
com os diagnósticos diferenciais entre saliva e demais secreções (sangue,
espenna, muco vaginal, muco nasal etc.), humanas ou não.
O leq ue de exames realizados pelo cirurgião-dentista é hoje muito
amplo, e a importância dessa atividade foi reconhecida na recente revi-
são das especialidades odontológicas, que incluiu como especialidade a
patologia bucal, cuja competência é expressa nos artigos 62 e 63:

"An , 56 - A patologia bucal 6 l!I especialidade que tem como obje-


tivo o estudo laboratorial das alterações da cavidade bucal e estrutu-
ras anexas, visa ndo ao diagnóstico final 8 ao prognóstico dessas alte-
, rações .
Parágrafo único. Para o melhor exerdcio de sua atividade, o espe-
cialista deverá valer-se de dados clrnicos e exames complemant8res.
) Art. 57 - As áreas de competência para atuaçio do especialista
em patologia bucal incluem a execuçio de exames laboratoriais
microscópicos, bioqurmicos e outros, bem como 8 interpretação de
seus resultados. "

Aparellros de Raios X e de Fisioterapia

A instalação e a manutenção de aparelhos de raios X em consultório


odontológico obedecem a normas regidas e condições estabelecidas no
Código Sanitário e pelo CVS/ ERSA / SUDS, a quem cabe o fornecimento
do competente alvará de funcionamento.
Principal meio auxiliar de diagnóstico, a presença da aparelhagem de
raios X é hoje corriqueira nos consultórios odontológicos.
A existência de clínicas de radiologia odontológica dedicadas exclusi-
vamente à especialidade é também fato comum na prática odontológica.
Quanto ao raio laser, embora não haja previsão especifica na lei, até por-
que à época não era conhecido, tem encontrado larga aplicação em
odontologia.
A aparelhagem de flsioterapia utilizada pelos cirurgiões-dentistas
incl ui os aparelhos de ondas curtas e ondas médias, diatennia, luz infra-
LEI No 5.081 , DE 24 DE AGOSTO DE 1966 35

vermelha etc. Modemamente, o lasu vem sendo empregado com finali-


dade fisioterápica .

VJ]]. Prescrever e Aplicar Medicação de Urgência no


Caso de Acidentes Graves Que Comprometam a Vida
e a Saúde do Paciente

Tend o em vista que o inciso n estabelece a competência para o cirurgião-


dentista prescrever e aplicar espedaUdades fannacêuticas de uso interno
e externo, indicadas em odon tologia, resulta que a competência assinala-
da no inciso VIII só pode ser aquela que cxtrapola os limi tes estabeleci-
dos no referido inciso 11.
É bastante freqüentei no meio odontológico, a afirmação de que o
cirurgião-dentista tem o direito e o dever de prescrever e aplicar medica-
ção de urgência no caso de acidentes graves, genericamente fala ndo, isto
é, em qualquer situação em que se verifique um acidente grave com
~Iguém.
No entan to, toda vez que o tema "a tendimento de emergência" é tra-
zido à baila, o exemplo lembrado é o da realização de traqueostomia .
O inciso vm, do artigo 6-, da Lei n- 5.081 / 66, no entanto, é meridiana-
mente daro: prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de aciden-
tes graves que comprometam a vida e a saúde do paciellte.
O exemplo acim a referido não se enquad ra na hipótese do inciso VIll,
uma vez que a traq ueostomia 111'0 é medicaçilo, é ato cirúrgico.
A possibitidade de ocorrência da necess idade de realização de uma
traqueostomia pelo cirurgião-dentista foi cogitada quando se discutiu a
área de competência da cirurgia bucomaxilofacial. No entanto, a nosso
ver, diante de um acidente com paciente durante o atendimento, será lícito
ao cirurgião-dentista tentar a traqueostomia. O indesejado insllctsSO desse
ato ci rúrgico n:io deve, simplesmente, ser imputado ao profissional. A
causa da asfixia, que determirrou a manobra dní.rgica, esta sim deve ser pe5qlli5ll-
da, com vistas IJ apuraç60 de eoodunl rregligêtlcia, imperldo ou imprudência.
No nosso entender, a interpretação do presente inciso deve ser feita
com extremo cuidado. A autorização é para utilização de medicamento
que, não sendo indicado em odontologia, pode ser prescrito e aplicado,
excepcionalmente, pelo cirurgião-dentista, ou seja, os cardiotônicos, os
anticonvulsivos, os antiglicêmicos, etc. Samico (op.cit.) considera justo o
preceito, porém alerta para a necessária preparação universitária do pro-
fissional que, se por um lado recebe 8 competência para a ação, por outro
esse direito gera deveres em relação à responsabilidade profissional.
3. EXERClclO t;T1CO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

IX. Utilizar, no Exercicio da Função d. Perito-Odontólogo


em Casos de Necropsia, as Vias de Acesso do Pescoço
• da Cabeça

Historicamente, quando os cirurgiões-dentistas começaram a realizar


pe rícias, encontravam grande dificuldade para examinar a cavidade
bucal c seus anexos, porque nem sempre a rigidez cadavérica permitia a
abertura necessária . A n· Lei 1314/ 51 não continha essa autorização.
Hoje a atuação do cirurgiãCKientista como perito em âmbito criminal
é padfica, havendo mesmo em muitos estados, como já mencionamos,
odontolegistas lotados nos institutos Médico-Legais.
Mesmo assim, no item 10 da ata da reunião conjunta dos Conselhos
Federais de Odontologia e de Medicina, já abordada quando examinado
o inciso VI, do artigo 6a, existe a vedação expressa do uso da via cervical
infra-hióidea pelo cirurgião-dentista.

Art. 7! - Evedado ao cirurgiãCKIentista:


, a) expor em público trabalhos odontológIcos e usar de artiffclos de pro-
paganda para granjear clientela;
b) anunciar cura de determinadas doenças para as quais não haja trata-
mento eficaz;
c) exerelclo de mais de duas especialidades;
d) consultas medianle correspondências, rádio, televisão ou meios
semelhantes;
e) prestação de serviço gratuito em consultórios partiCUlares;
f) divulgar benenclos recebIdos de clientes:
O) ant.KlCiar preços da serviços, modalidades da pagamento e outras formas
de comercialização da dinica e que signifiquem competição desleal

As vedações expressas no artigo acima constituem, de maneira mais


ou menos geral, a repetição das vedações contidas na Lei n- 1314/ 51,
que primeiramente regulamentou o exercicio da odontologia no Brasil.
Algumas traduzem, por isso, situações que já não se verificam na atuali-
dade, como, por exemplo, a estabelecida na alínea a e que se refere à
exposição que se fazia antigamente de trabalhos de prótese em vitrines
afixadas na porta do edificio no qual o profissional mantinha o seu con-
sultório . Por outro lado. a que é objeto da alínea b talvez tenha tido a
intenção de chamar a atenção dos cirurgiões-dentistas de maneira mais
enfática. uma vez que o seu enundado reporta-se ao crime de charlata-
nismo previsto no artigo 283 do Código Penal.
A proibição do exerddo de mais de duas especialidades, que muito
prudentemente pretendia evitar o charlatanismo moral (o multiespecia-
lEI N" 5.081. DE 24 DE AGOSTO DE 1966 37

lista geralmente não é especiaLista em nada), sofreu a ação do tempol e,


na Resolução CFO-l85/93, atualmente em vigor, no capítulo que trata
do "anúncio do exerdcio das especialidades odontológicas (artigos 36 e
H

seguintes) e que traz os requisitos para a inscrição como especialista, a


vedação refere-se ao anúncio, e não ao exercido. O proflSSional não pode
anunciar ser especialista em mais de duas áreas, embora o preceito legal
de proibição de exercício de mais de duas continue válido pelas razões
legais hierárquicas já enunciadas neste capítulo.
A alínea d refere-se à proibição de consultar sem examinar. Só pode
estabelecer um diagnóstico o profissional que tenha examinado o consu-
lente. O contrário é inadmissível, embora constitua prática comum não
s6 no campo da odontologia. como podemos constatar diariamente
pelos mais diversos meios de comunicação.
No que tange à vedação contida na alínea e, andou maio legislador. ~
evidente que, em razão dos direitos e garantias individuais, ninguém
pode ser proibido de prestar gratuitamente. em seu consultório, atendi-
mento a quem quer que seja. A proibição só pode ser entendida como a
de anunciar esse tratamento gratuito, o que configura a concorrência
d~leal. Acima de qualquer outra aspiração material, o proflSSional não
pode esquecer-se de que não pode intitular-se membro das profissões de
saúde aquele que não demonstra possuir generosidade.
A vedação que versa sobre a divulgação de benefícios recebidos de
clientes, na alínea t deve referir-se, provavelmente, ã divulgação que se
fazia antigamente de cartas recebidas de clientes, com louvores à atua-
ção dos profissionais.
Já a proibição contida na aHnea g. ainda que incluída entre aquelas do
Código de ~tica Odontológica que ensejam a condenação do profissional
infrator, são as que, estatisticamente, mais engrossam o número dos pro-
cessos éticos.
As vedações da Lei n- 5.081/66 são repetidas e mais explicitadas nos
textos legais baixados pelos Conselho Federal ou Conselhos Regionais.
como é o caso, por exemplo, do Código de ~tica Odontológica, baixado
pelo Conselho Federal. e a Decisão 29/83. do Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo.
Os artigos se, 9", 10 e 11 referiam-se aos peritos odont61ogos e aos den-
tistas práticos licenciados, tendo sido essas disposições, em boa hora,
vetadas quando a Lei n- 5081/66 foi sancionada.
Finalmente, os artigos 12- e 13- tratam das Disposições Gerais, nos
seguintes tennos:
Art 12 - O Poder Execulivo baixará decreto, dentro de 90 (noventa)
dias. regulamentando a presente Lat.
38 EXERCfclO rnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Embora a lei date de 1966, até o presente momento não {oi baixado o
regulamento de que trata o artigo em exame.
Temos notícia de que existe um movimento na classe odontológica
para produzir esse documento legal.
Somos contrários a essa iniciativa porque, a essa altura, impõe-se uma
revisão da lei maior da odontologia pa ra adequá-Ia às exigências das
transformações trazidas pelo decurso do tempo. e uma reguJamentação
do que já está ultrapassado não se justifica.

Art. 13 - Esta lei entrará em vigor na data de sua pubtlcação, revogados


o Oecreto-Iel no 7.718, de 9 de julho de 1945. a lei no 1.314, de Janeiro
de 1951 , e demeis disposições em contrário.

A lei ora em exame foi publicada no Diário Oficial da União em 26 de


agosto de 1966. da! por que os direitos assegurados a certas categorias,
como foi visto no inicio deste capítulo. tinham como data limite o citado
dia 26 / 08/ 66 .
A-presente lei revogou, também, como se vê, expressamente, a legisla-
ção anterior que incidia sobre o exercício lícito da profissão, o que signi-
fica que a partir de sua publicação OS requisitos exigidos para a capaóta-
ção legal e a competênóa do cirurgião-denhsta são, exclusivamente, 05
baixados nesta lei.

REFERÊNCIAS BlBLIOGRÁFICAS
Arbenz COA. Mtdicina ugal t An'rapologia Forenst, Rio de Janeiro/ São Paulo,
Atheneu, 1988.
Cardozo I-lF. VeriAcaçllo da ocorrência de traumatismos ÍClciais e de elemenl05 den-
tários, em ocupantes de veículos, decorrentes de acidentes de trânsito. 510
Paulo, 1990. DissertaçJode mestrado. Faculdade de Odontologia da USP.
Chiarelli JA . A utilizaçâo do 6xido nitroso em Odontologia . Dissertaçlo de
Mestrado. Faculdade de Odontologia da USP. 1995.
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Montagna J d aloPrognostico de lesiones en odontologia. Odont ChiI1969; 18 (92): 23-
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Paciomik R. Didorufrio Midico. ? 00. Rio de Janeiro: J(oogan. 1975.
Samico AHR.. Menezes JOV, Silva MOA. Asprdos llialS e legnu do t;rucfcio da odontolD-
gia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Odontologia, 1990}.
Souza Lima AJ. TraMdo dt Medicil1Jl I..tgal. 2"00.1- v. Rio de Janeiro: Typ. Hildebrandt,
1904.
Zacharias M, Zacharias E. Diaem4rio Ih MedicinIJ Ugll. Curitiba: EDUCA. 1988.
CAPíTULO 3

EXERCíCIO ILíCITO DA
ODONTOLOGIA

IDA T. P. CALVlEW

Quando se falava em exerddo ilícito da odontologia, no Brasil, até o


advento da Resolução CFO-185/93, do Conselho Federal de Odonto-
logia, deveria entender-se a prática de qualquer ato odontológico, prati-
cado diretamente no paciente, por alguém que não fosse cirurgião-den-
tista legalmente habilitado.
Esse entendimento hoje está ultrapassado, na medida em que alguns
profissionais pertencentes às outrora denominadas "profissões paracr
dontológicas" ou "profissões auxiliares" passaram a integrar o grupo de
profissionais que compõem, atuaLmente, a odontologia, e entre as suas
atribuições algumas se referem à prática de atos antes privativos do
cirurgião-dentista. No entanto, cotlvém ressaltar. logo de infcio, que esses pro-
fissionais só podem atuar sob a superoisifo direta e com a presença física do
cimrgiifo-dentista, sob peno de estarem praticando aercfcio ilegal da profiss4o
de cinngilfo-dentista.
O artigo 282 do Código Penal Brasileiro estabelece que:

Exercer, ainda que a titulo gratuito. a profissAo de médico. dentista


ou farmacêutico, sem autorização legal. ou excedendo-lhe os limites.

Pena - detenção de seis meses a dois anos.


Parégrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-
se também multa.

39
40 EXERclClO Enco E LEGAL O... OOONTOlOGIA NO BRASIL

A incolumidade pública, principalmente no que tange à saúde públi-


ca, é o bem jurídico tutelado pelo citado artigo, o que explica por que
apenas o exerócio da medicina, da odontologia e da fannácla é ampara-
do pela lei penal.
A proibição do exercício das "profissões de saúde" por aquele que
não tinha autorização para fazê--Io é das mais antigas nas legislações e
tem sua origem mais remota, ao que parece, na legislação de Rogério
(1140), rei da SiclHa, que proibiu "o exercício da medicina a todo aquele
que não mostrasse. em exame de Estado, que tinha feito o curso necessá-
rio, a fim de que os súditos do Rei não corressem perigo pela inexperiên-
cia de seus médicos" (Castiglioni, 1947).
uEssa proibição estendeu-se depois a outras classes de profissionais,
que foram se ocupando de atividades (como a ciru rgia, a sangria, a
extração de dentes etc.) consideradas indignas de serem praticadas pelos
médicos eruditos, isto é, aqueles que haviam freqüentado os cursos das
universidades. " (Calviem, 1993)
Aqueles que se dedicavam a cuidar dos problemas bucais, como as
extrações, a confecção e a colocação de dentes artificiais, entre outros,
eram OS "cirurgiões" e também os "barbeiros", que necessitavam de uma
licença para realizar esse tipo de serviço.
Posteriormente, já em época bem recen te e já demonstrando uma
certa evolução, esses cuidados passaram a ser prodigalizados pelos den-
tistas e pelos "práticos", evoluindo, através da formaçto já institucionali-
zada, para os atuais cirurgiões-dentistas.
Antes de mais nada, convém ressaltar que, embora a odontologia,
como já tivemos a oportunidade de observar neste capítulo, se compo-
nha da atuação de vários profissionais, o aocfcio ilegal previsto no artigo
282 do Código Perlal refrre-se, apenas ~ tilo-somtmle, à profis.s4o de cirurgidcr
dmflsla. Como veremos mais adiante, o exercício das profissões de técni-
co em prótese dentária, técnico em higiene dental, atendente de consul-
tório dentário e auxiliar de prótese dentária poderá, eventualmente,
caracterizar o crime de falsidade ideológica ou uma contravenção, mas
não o ilicito penal previsto no referido tipo penal
Por outro lado, clrnme-se a atellçJlo para o fato de que esses profissioJlais,
no exercido de suas atividades, poderão exceder, com uma certa facili-
dade, os limites do que lhes é permitido, praticando o crime do aerc(cio ile-
gal da odontologia, por falta de autorimç4o legal.
O exercício ilegal da odontologia pode consubstanciar-se de duas
maneiras: (a) pela prática de atos próprios de drurgião-dentista sem auto--
rimçi10 legal; e (b), sendo médico, cirurgião-dentista ou farmacêutico, pra-
ticar atos próprios de profissão que não a sua, isto f!, aa:dendo os limites
da própria profiss4o.
EXERCICIQ IÚCrTO DA ODONTOLOGIA NO BRASil 41

SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL

A profissão de cirurgiãCH:Ientista, a partir da Lei n' 1.314/ 51, primeira


que regulamentou o exercício da odontologia no Brasil, tomou-se priva-
tiva d"queles indivfduos que cursaram uma instituição de ensino de
nível superior ou que preenchem as condições especiais hoje previstas
na atual lei regulamentadora da odontologia, a Lei n' 5.081 , de 24 de
agosto de 1966.
A autorização legal pressupõe que o indivíduo esteja incluído em
alguma das categorias elencadas e examinadas no Capitulo 1 que anali-
sou o exerdcio Ircito da odontologia e que tratou das várias hipóteses
admitidas para a inscrição como cirurgião-dentista, exceto no que se
refere ao recém-formado, cuja inscrição provisória não preenche, a nosso
ver, os requisitos exigidos pela Lei nG 5.081 / 66, regulamentadora da pro-
fissão no Brasil

Clramamos a atençifo para o foto de que os requisitos exigidos ndo $do alterna-
tivos. slfo cumulativos, e a falta de qualquer deles implicam a afirmaçAo de que o
sujeito nlfo possui autorizaçdo legal.

Duas situações devem ser aqui analisadas, porque podem constituir


motivo de apreciação errônea pelos menos avisados: a dos "dentistas
práticos" e a dos beneficiários da Lei n' 7.718/ 45 .
Como tivemos a oportunidade de salientar (Calvielli, ap.dt .), a partir
de 1931 e até 1933, foram editados decretos garantindo aos práticos
licenciados, ou dentistas práticos, cujos conhecimentos eram adquiridos
através do "aprendizado prático" com algum "mestre da arte", a possi-
bilidade de pleitearem a sua inscrição junto aos órgãos da Saúde
Pública, para continuarem a exercer a sua " profissão" obedecendo a
determinadas restrições. A data limite para a concessão do beneficio foi
fixada pelo Decreto n' 23.540, de 4/ 12/ 33, como sendo o dia 30 de
junho de 1934.
Considerando que já se passaram mais de 60 anos da data fixada , é
evidente que aqueles que se poderiam beneficiar daquelas medidas
devem contar, atualmente, mais de 80 anos.
Inadmissível, portanto, que ainda se ouça falar de dentistas práticos,
ou práticos licenciados.
Qltalquer pessoa, com menos de 80 anos de idade, que se intitule dtntista sem
preetlcller os requisitos exigidos pela Lei TI' 5.081 /66 estartf exerctndo iltgalmtn·
te a profisslo de d rurgiífo-dentista.
42 EXERCrCIO ÉTIco E lEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Chamamos a atenção para esse fato porque se têm tomado muito fre-
qüentes as notícias sobre a constituição de "associações de práticos-licen-
ciados"; de indivíduos que se auto-intitulam "dentistas-práticos", sem
pertencerem ao grupo etário acima assinalado; enfim, de um constante
desafio às leis, com o conseqüente perigo trazido à incolumidade da
saúde da população.
Outra situação assemelhada refere-se aos beneficiados pela Lei n R
7.718/45. Obviamente, embora um pouco mais jovens que os possíveis
"dentistas práticos", os formados pelas escolas estaduais não reconheci-
das também estarão contando mais de 65 anos atualmente, o que os
coloca, do mesmo modo, como categoria profissional em extinção.
Por outro lado, como já tivemos a oportunidade de ressaltar, a edição
da Resolução CFO-l85/93, tomando obrigatória a inscrição de várias cate-
gorias profisslonaLS, além dos cirurgiões-dentistas submetidos ao
Conselho Federal de Odontologia pela Lei ng 4324 / 64, faz com que seja
necessário analisar as atribuições desses profissionais a par daquelas con-
feridas aos cirurgiões-dentistas pela Lei na 5.081/66, já examinadas no
Capítulo 2, nâo só para que fiquem evidenciados os limites de cada uma
delas, mas, principalmente, tendo em vista que esse exame possibilitará
examinar quais atos esses profissionais podem praticar, e se o Jazem sob a
supervisão direta do cirllrgiãtHientistn, com vistas ao eventual exercício ilegal
previsto no artigo 282 do Código Penal.

o Técnico em Prótese Dentária e o Exercício IlegaI


da Odontologia
Não será demais lembrar que os profissionais aqui referidos devem exe-
cutar o seu trabalho sob prescrição, supervisão e fiscalização do cirur-
gião-dentista, sendo-Ihes expressamente vedado prestar, sob qualquer
forma, assistência direta a pacientes, bem como manter, em sua oficina,
equipamento e instrumental específico de consultório dentário. Como
enfatizado por Calvielli (op.cit.), embora a profissão tenha sofrido notá-
vel evolução, "A reparação p rotética exige muito mais que apenas bele-
za, pois aquela está fundada em sólidos prindpios biológicos que não
podem ser ignorados, sob pena de ocorrerem prejuízos, às vezes irrepa-
ráveis."
A esses profissionais é vedado, ainda. fazer propaganda de seus servi-
ços ao público em geral, podendo fazê-Io apenas em revistas, jornais ou
folhetos especializados, dirigindo-se exclusivamente aos cirurgiões-den-
tistas.
EXERCfcIO IÚCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 43

Compele ao técnico em prótese dentária (§ 1-, art.7" da Reso lução


CFO-I85/ 93),

a) executar a parte mecânica dos trabalhos odontológicos;


b) ser responsável, perante o Serviço de Fiscalização respectivo , pelo
cumprimento das disposições legais que regem a matéria;
c) ser responsável pelo treinamento de auxiliares e serventes do laborató-
rio de prótese odontológica .

~ vedado ao técnico em prótese dentária:

I - prestar, sob qualquer forma, assistência direta a clientes;


11 - manter, em sua oficina, equipamento e instrumental espec(fico de
consultório dentário;
111 - fazer propaganda de seus serviços ao público em geral.

A partir do exame do que compete a esse profissional e das vedações


que lhe são impostas, facilmente se verificarão as situações em que o
mesmo poderá incorrer em exercício ilegal da odontologia.

o Técnico em Higiene Dental e o Exercício negal


da Odontologia

Ao técnico em hig iene dental compete, segundo o artigo 12 da


Resolução CFO-185/ 93:

a) partici par do treinamento de atendentes de consultórios dentários ;


b) colaborar nos programas educativos de saúde bucal ;
c) colaborar nos levantamentos e estudos epidemiológicos como coor-
denador, monitor e anotador;
d) educar e orientar os pacientes ou grupos de pac ientes sobre preven-
ção e tratamento das doenças bucais;
el fazer a demonstração de técnicas de escovação;
fi responder pela administração de clfnica;
g) supervisionar, sob delegação, o trabalho dos atendentes de consultó-
rios dentários;
h) fazer a tomada e a revelação de radiografias intra-orais;
il realizar teste de vitalidade pUlpar;
j) ,e,I;,., a ,.moção de ;ndutos, placas e cOlculos sup,ageng;va;s;
I) executar a aplicação de substâncias para a prevenção da cárie dental ;
ml inserir e condensar substâncias restauradoras;
44 EXEAcfClO rnco E LEGAl DA OQONTOlOOIA NO BRASIL
n) polir restaurações, vedando-se a escultura;
o) proceder â limpeza e 6 antl-sepsla do campo operatório, antes e após
os atos cirúrgicos;
p) remover suturas:
q) confeccionar modelos;
rI preparar moldeiras.

A simples enumeração dos atos que podem ser executados pelo técni-
co em higiene dentária demonstra o quão facilmente esses profissionais
estarão sujeitos a ultrapassarem os limites de sua atividade, exercendo
ilegalmente a odontologia. Convém atentar, por isso, às vedações a que o
mesmo está sujeito e que são objeto dos artigos 12- e 13G, da Resolução
CFO-l85/93.
Como se pode verificar, um centenário tabu que envolvia a profissão
odontológica {oi derrubado: o de que "8 boca era território exclusivo do
cirurgião-dentista". É bom que se atente, porém, que a allmção do técnico
em higiene derlfal somente poderá ocorrer sob a superoisi1o e com a presença flsi-
ca do cirllrgí6o~detltistQ, rlQ proporçdo mtfxima de 1 (um) cimrgiiJo-delltista
para 5 (cinco) técnicos em Irigiene dental (art.12R, Res. CFO-l85/93).

'"Art. 13 - t: vedado ao técnico em higiene dental:

ai exercer a atividade de forma autônoma ;


bl prestar assistência, direta ou indiretamente, a paciente, sem e indis·
pensével supervidío do cirurgião-dentista;
cl reeltzer, na cavidade bucal do paciente, procedimentos nio discrimina-
dos nos incisos do a"igo 20 destas normas ; e
di fazer propaganda de seus serviços , mesmo em revistas, jornais ou
folheias especializados da área odontológica . '"

o Atendente de Consultório Dentário e o Exercício


negaI da Odontologia

Compele ao atendente de consultório dentário, sempre sob a supervisão


do cirurgiãCHientista ou do técnico em higiene dental (art.20, Res.CFO-
185/93):

" ai orientar os pacientes sobre higiene bucal:


b) marcar consultas;
c) preencher e anotar fichas clrnicas;
di manter em ordem arqUIvo e fichário;
EXERCICKlIÚCITO DA. ODONTOlOGIA NO BRASIL 45

el controlar o movimento financeiro;


f) revelar e montar radiografias intrB-orais;
gl preparar o paciente para o atendimento;
hl auxiliar no atendimento ao paciente;
il instrumentar o cirurgião-dentista e o técnico em higiene dental junto 111
cadeira operatória ;
iI promover Isolamento do campo oparatórlo;
II manipular materiais de uso odontológico;
ml selecionar moldelras;
nl confeccionar modelos em gesso;
01 aplicar métodos preventivos para controle da cérie dental;
pl proceder à conservação e • manutenção do equipamento odontológico ...

É vedado ao atendente de consultório dentário (art.21, Res. CFQ-


185/ 93):

"aI exercer a atividade de forma autOnoma;


bl prestar assistência, direta ou Indiretamente, a paciente, sem a indls-
pendval supervisão do cirurgião-dentista ou do técnico em higiene
dental ;
cl realizar. na cavidade bucal do paciente, procedimentos nâo discrimi·
nados nos incisos do artigo 19 destas normas; e
dI fazer propaganda de seus serviços, mesmo em revistas, jornais ou
folhetos especiahzados da 6rea odontológica."

Embora a aUnea b apresente em sua redação uma conjunção alternati-


va, "sem a indispensável supervisão do cirurgião-dentista ou do técnico
em higiene dental", que pode dar margem a uma interpretação amplia ti-
va, no sentido de que o atendente pode praticar os atos que lhe compe-
tem sob a supervisão apenas do técrlico em higiene dental, a exigênda
de que este último 56 pode exercer as suas atividades, por sua vez, sob
superviStfo com a prese,.ça física do drurgiiJo-defltista afasta essa possibilida-
de, estando ambos obrigados a tmbnlhar somente sob supervisilo t com a pre-
sença fisica do cirurgisfo-delltista.

o Auxiliar de Prótese Dentária e o Exercício Ilegal


da Odontologia

Compete a esse profissional e, como exceção. sempre sob a supervisão


direta do técnico em prótese dentá ria:
.6 EXEACrCIO .;rICO E LEGAl DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

ai reprodução de modelos;
bl vazamento de moldes em seus diversos tipos;
cl montagem de modelos nos diversos tipos de articuladores ;
di prensagem de peçss protéticas em resina 8crnica;
ai fundição em metais de diversos tipos;
f) casos simples de inclusão;
gl contenção de moldeiras individuais no material indicado;
h) curagem, acabamento e polimento de peças protéticas.

Evidentemente, a esse profissional se estendem as vedações de atendi-


mento direto a paciente, prática de fonna autônoma e realização de pro-
paganda de seus serviços, podendo constituir a infração o crime de exer-
dcio ilegal da odontologia.

EXCEDENDO-LHE OS LIMITES

Se, na primeira modalidade - sem autorização lega] -, variados podem ser


os sujeitos ativos, na conduta "excedendo-lhe os limites" só podem sê-Io o
médico, o cirurgião-dentista e o farmacêutico, legalmente capacitados
(CalvieIU, op.cit), razão pela qual examinaremos as hipóteses nas quais
esses profissionais estariam excedendo os limites das próprias profissões.

O Farmacêutico em Relação à Odontologia


Não são muitas as hipóteses que podemos imaginar nas quais o farma-
cêutico estaria adentrando O campo da odontologia . Parece-nos que a
mais plausível seria aquela na qual o fannacêutico prescrevesse, minis-
trasse ou aplicasse especialidade farmacêutica para alguém que estivesse
apresentando um problema de origem odontológica. A prática de exo-
dontias ou de qualquer outro ato operatório, no nosso entender, configu-
raria exercício ilegal por falta de autorização legal, tão distantes os
conhecimentos da fannác:ia, nesse campo, dos conhecimentos próprios
da odontologia (Calvielli, op.dt.).

O Méd ico em Relação à Odontologia


Embora a odontologia seja considerada por muitos como ramo ou espe-
cialidade médica, o que é perfeitamente compreensível, já que o comple-
o EXEACfclO ILfclTO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 47

xo maxilomandibular é parte integrante do organismo humano, a partir


do momen to em que a odontologia foi erigida em profissão autônoma e
criado seu próprio conselho profissional, o seu campo de atuação passa
a ser privativo dos profissionais com capacitação legal para nele atua-
r<m .
Tal como ocorre com o excesso de limites praticado pelo cirurgião-
dentista em relação à medicina, também na odontologia existem campos
de atuação nos quais será muito fácil determinar a invasão de limites
pelo médico, como, por exemplo, o da dentística restauradora, da perio-
dontia, da endodontia e outros.
No entanto, existem áreas nas quais a determinação do excesso é mais
dificultada, embora não seja imposslvel, como, por exemplo, no campo
da prótese bucomaxilofacial, cujo objetivo é "a reabilitação anatômica ,
funcional e estética, por meio de substitutos aloplásticos, de regiões da
maxila, da mandíbula e da face ausentes ou defeituosas, como seqüelas
da cirurgia, do traumatismo ou em razão de malformações congênitas
ou de distúrbios do desenvolvimento" (art. 66, Res. CFO-185/ 93).
É muito comum o médico atuar em conjunto com o especialista odon-
tológico, mas não poderá aquele p rofissional da área médica fazê-lo
como único condutor da terapêutica ou reparação, sob pena de estar
excedendo os limites de sua profissão.
Na área da cirurgia e traumatologia bucomaxiloCaciais, na qual a
questão dos limites entre medicina e odontologia se mos trou mais polê-
mica, após reunião entre os Conselhos Federais das duas profissões, a
questão ficou mais pacificada, embora ai nda seja no campo dessa espe-
cialidade que se toma mais difícil estabelecer o excesso, tanto do médico
em relação à odontologia, quanto do cirurgião-dentista em relação à
medicina .
A questão não é irrelevante, como pode parecer em uma leitura mais
superficial, uma vez que as seqüelas decorrentes da atuação menos espe-
cializada dos médicos nessas áreas têm sido motivo de preocupação,
como demonstra a bibliografia.

o Cirurgião-Dentista em Relação à Farmácia


e à Medicina

Se a prática da odontologia operatória não é tão acessível ao {annacêuti-


co, a prática da farmácia, para o cirurgião-dentista, não é tão fora de pro-
p6sito. Com os conhecimentos adquiridos no curso de graduação. e
48 EXEACfclO rnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

principalmente em algumas áreas da pós-graduação, não será tão difícil


ao odont61ogo incidir no excesso de limites. Já vimos no Capítulo 3, ao
comentarmos a competência do drurgião-dentista, que ele pode realizar
análises clinicas e, mercê dos conhecimentos adquiridos na farmacolo-
gia, na bioquímica, na terapêutica, não lhe será difícil pesquisar ou pro-
duzir produtos farmacêuticos, por exemplo, cremes dentifrícios.
Com relação à medicina, o drurgião-dentista pode, em inúmeras
hipóteses. algumas das quais já exemplificadas no Capítulo 2, vir a exce-
der os limites de sua competência praticando atos privativos do médico.
Em aIg'umas situações, o excesso é facilmente identificável, como
acontece quando o cirurgiãcrdentista aplica a anestesia geral; ou quando
prescreve medicamento para doença cuja etiologia não é odontológica;
ou quando realiza rinoplastia. entre várias outras situações.
Nas situações fáticas, qUI:! poderão ser trazidas à apreciação do
Judiciário, nem sempre os limites das respectivas esferas de competência
parecerão tão claros, e a verificação de conduta penalmente iUdta deverá
ser informada por peritos altamente qualificados, como já tivemos a
oportunidade de ressaltar.
Examinando-se as áreas de competência estabelecidas para certas
especialidades, verifica-se que existem superposições nos limites da
medicina e da odontologia, que apenas a elevada qualificação e O bom
senso dos peritos saberão deslindar, para apontar o excesso penalmente
relevante.
Por outro lado, seria insustentável que um drurgião-dentista deixasse
de extrair, do seio maxilar, raiz que ali se alojou no decorrer de mano-
bras exodônticas. O tratamento da própria sinusite de origem dentária é
hoje de competência do drurgião-dentista.
Os exemplos se multiplicariam no exame das possibilidades que
podem surgir no decorrer do tratamento odontológico. No caso concreto,
como já dissemos, somente o exame pericial poderá detenninar a ocor-
rfulcia do excesso de limites. com a ressalva de que há que se investir e
incrementar a fonnação desses peritos. principalmente através de cursos
de especialização, uma vez que a atividade pericial não é ainda especiali-
dade economicamente atraente para os profissionais odontológicos.

A Prática da Hipnose pelo Cirurgião-Dentista


Embora admitamos os riscos da aplicação da hipnose pelo cirurgião-
dentista, não podemos concordar com a afirmação de que a prática seria
EXERCfCIO IÚCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 49

criminosa porque somente os médicos poderiam praticá-Ia . Diante da


expressa autorizaçào contida no inciso Vl, do ar tigo 61 , da Lei n l
5.081/66, os cirurgiões-dentistas têm competência para aplicá-Ia , não
constituindo a hipótese excesso de limites.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Calvielli ITP. O ondeio fl18a1 dn odmItologia. no Bmsil. São Paulo. 1993. Tese de mes-
trado, Fac. Direito USP, Opto. Direito Penal.
Casbglloni A. Hist6na tIII Mtdicuu. l ' vol. 5ao Paulo. Comp. Edit. National, 1947.
CAPíTULO 4

ALGUNS, COMENTÁRIOS
SOBRE ETICA PROFISSIONAL
ODONTOLÓGICA

DAL TON LuIZ DE PAULA RAMos

INTRODUÇÃO
Os aspectos que envolvem a ética profissional odontológica são múlti-
plos e variados. Para entender o contexto atual sobre o assunto. podería*
mos fazer abordagens histórico/sociológicas ou mesmo filosóficas sobre
o tema. Um referencial muito preciso para a análise da ética odontológi-
ca são os códigos de ética odontológica.
O Conselho Federal de Odontologia (CFO). entidade que, por força da
Lei n- 4324/ 64, detém a atribuição legal de elaborar o Código de Ética
Odontológica, editou três desses c6digos a partir de 1976, sendo eles:

1. A Resolução CFO-102. que vigorou de 7 de novembro de 1976


até 31 de dezembro de 1983, sera referida como o "CEO (CÓdigo
de Ética Odontológica) de 1976'",
2. A Resolução CFO-151 . que vigorou de , . de Janeiro de 1984 até
31 de dezembro de 1991 . referida como "CEO de 1984 -.
3 . A Resoluçio CFO-179. que vigora desde ,. de janeiro de 1992,
referida como "CEO de 199r.

Desses três institutos éticos, inicialmente devemos destacar que o de


1992 difere dos anteriores pela {onna como {oi elaborado. Os dois insti-
tutos éticos que o antecederam foram elaborados por comissões institui-
51
5' EXERCfCIO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

das peJo CFO com a finalidade de elaborar um anteprojeto de Código de


~tica, após ouvir alguns segmentos da classe odontológica. Já o CEO de
1992 representa o resultado da I Conferência Nacional de Ética
Odontológica - 1 CONEO - , realizada em Vitória (ES), pelo Conselho
Federal e Conselhos Regionais de Odontologia. em 1991. com a partici-
pação de cerca de 400 delegados de diferentes associações odontológi-
cas, sindicatos, faculdades de odontologia e demais entidades represen-
tativas da odontologia brasileira.
Sem demérito aos que elaboraram os projetos dos códigos de 1976 e
1984, entendemos (Ramos, 1994) que o de 1992 é muito mais representa-
tivo dos anseios da odontologia brasileira. Como é de se esperar, djfe-
rentes tendências marcaram presença, cada uma esforçando-se em repre-
sentar uma determinada realidade . Buscou-se então, pelo método do
consenso em grupos de trabaLho e assembléias, equacionar aspectos prá-
ticos da vida profissional: relacionamentos profissional-paciente, profis-
sional-equipe de saúde, profissional-sociedade etc.
Assim, chegou-se a um documento final, síntese dos trabalhos . O
Relatório Final da I CONEO (oi posteriomente acatado pelo Conselho
Federal de Odontologia, na íntegra, como o novo Código de Ética
Odontológica, através da R<50lução crD-179!91 d, 19f12/9I.
Trata-se, então, de uma forma de chegar-se ao diploma ético pelo
método do consenso, através de uma assembléia ou conferência. por isso
chamada "~tica de Convenção", modelo que não podemos deixar de
reconhecer como democrático e representativo da maioria.
Não raramente, nos deparamos com um entendimento popular que
considera a classe dos profissionais de saúde - médicos. dentistas, etc.-
como "máfia de branco", concebidos como grupos corporativistas que
procuram acobertar erros de colegas.
Esta é uma viS410 distorcida e redudonal da ética profissional. Em
uma análise de conjunto do atual Código de Ética Odontológica com os
anteriores, vemos que, pelo menos para a odontologia, essa tal postura
"corporativista" não é desejada pela própria classe.
Nesses códigos, elaborados pelos profissionais para os profissi onais,
sempre se procurou descaracterizar a odontologia como uma profissão
voltada para o lucro, condenando-se posturas mercantilistas ou mesmo
os excessos das propagandas odontológicas, frisando-se, isto sim, a res-
ponsabilidade dos profissionais para com a saúde do seu paciente e da
coletividade, como princípio fundamental da profissão, bem como pro-
curando-se coibir o abandono do paciente ou qualquer outra forma de
desrespeito a ele.
ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE E:TICA PROFISSIONAL ODONTOLÓGICA 53

Em todos os Códigos de ~tica Odontológica, também foi, sempre, con-


denada a conivência com erros técnicos ou outras infrações éticas.
No presente capítulo optamos por comentar como, a partir de 1976, os
diferentes Códigos de ~tica Odontológica abordaram as questões do
relacionamento do profissional com seu paciente e dos p rofissionais
entre si, temas que suscitaram os maiores debates dentro da classe odon-
tológica.

RELACIONAMENTO COM O PACIENTE

O Respeito Devido ao Paciente

Uma característica comum dos citados códigos é a preocupação com a


pessoa do paciente, "a razão e o objetivo de toda a ciénda odontológi-
ca", como explicitado no Código de 1976. Com distintas abordagens,
essa preocupação se manterá nos demais Códigos de e:tica Odontoló-
gica.
~ previsto como infração ética o exagero no diagnóstico, prognóstico ou
terap2llticn, que pode servu como forma de o profissional supervalorizar
sua competência, visando, na maioria das vezes de má fé, a auferir lu-
cros indevidos.
O paciente deve ser respeitado, também, em sua dignidade, o que
presume ser respeitado como leigo que merece ter informações precisas
sobre sua s ituação enquanto paciente, devendo ser sempre suficiente-
mente esclarecido sobre os prop6sitos, riscos, Cllstos t altenUJtroas do trata-
mento.
Podemos verificar que esse tipo de preocupação quanto ao direito às
informações, que o paciente, como leigo, detém, é também reconhecido
fora do ámbito da ~tica Odontológica em outros diplomas legais, como o
Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90):

"Art. 31 - A oferte e apresentação de produtos ou selViços devem


assegurar informaçfJes corretas. c/tlrlJs. precislJs. ostensivas e em /ln-
gua portuguesa sobre SuBS carBcterfstiCBS. qualidades, quantidade.
composiçlo, preço, garantia. prazos de validade e origem , entre
outros dados . bem como sobre os riscos que apresentam IJ saúde e IJ
segurança dos consumidores. .. (Gri tos nossos)

Mesmo que o profissional esteja convicto de que uma determinada


técnica é a adequada para aquele caso e que assuma a responsabilidade
54 EXERClclO tTlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

de realizá-Ia, ele sabe que existem e deve conhecer outras técnicas para
as quais talvez até não esteja persuadido intimamente, mas que, se acei-
tas na odontologia, são alternativas de tratamento que o paciente tem o
direito de conhecer.
Os termos - os propósitos, riscos, custos e alternativas do tralamrnto -
constituem cláusulas do contrato de prestação de serviços que seriam
melhores se explicitados antes do início do tratamento, por escrito, para
evitar problemas futuros por entendimento incorreto.
A responsabilidade de manter os usuários informados sobre os recursos
dispoPlíveis para atend~-Ios não é só do profissional, isoladamente, mas
também dos profissionais odontólogos responsáveis pela entidade pres-
tadora de atenção à saúde bucal onde trabalhe.
A indicação desta ou daquela terapêutica deve basear-se nas necessi-
dades clínicas do paciente e só ser realizada se o profissional tiver apti-
dão técnica para tanto. Assim, uma outra preocupação ética é a de que o
profissional não execute ou proponha tratamento desnecessário ou para
o qual não esteja capacitado. Não pode ser fator de indicação de técnica,
por exemplo, o que dá mais lucro ao profissional.
Conclama-se a classe a referendar sua conduta técnica em procedi-
mentos com efetiva comprovaçiJo científica, desta foona manifestando a
preocupação com técnicas e materiais novos, muitas vezes empregados
por profissionais devido aos modismos ou aos ape10s mercadológicos.

o Abandono do Paciente
o abandono do paciente é, em princípio, visto como infração ética, prin-
cipalmente em condições de urgência nas quais não haja outro profissio-
nal em condições de atendê-lo.
O conceito de "urgência '" no campo ético é muito mais abrangente do
que o jurídico, que considera as situações em que há iminente perigo de
vida . Podem-se considerar, então, a dor e mesmo danos estéticos abrup-
tos repentinamente causados nessa categoria. Frente a tais circunstâncias,
qunndo n60 houver outro cirurgibo-denhsta em condiç&s de fad-Io, o profissio-
nal não se pode eximir-se do atendimento, mesmo que paliativo.
Nos diferentes códigos aceita-se, porém, a possibilidade de "motivo
justificAvel" para o abandono do paciente, quando o(s) motivo(s) se inse-
re(m) em um conjunto de circunstâncias que vão desde a efetiva capaci-
tação técnica do profissional até os recursos financeiros do paciente em
c1inica particular, chegando às instituições prestadoras de assistência
ALGUNS COMENTARIOS SOBRE tTlCA PROFISSIONAL ODONTOLOGICA 55
----------------------------------
odontológica (clínicas, cooperativas, empresas e demais entidades pres·
tadoras ou contratantes de serviços odontológicos), que devem propiciar
padrões de trabalho minimamente adequados de higiene, segurança e
condições técnicas.
Uma circunstância bastante atual que coloca em pauta as questões de
abandono e recusa de atendimento diz respeito a pacientes contamina-
dos pelo vírus da AIDS, tema abordado no Capitulo 5.

RELACIONAMENTO COM A EQUIPE DE SAÚDE

A odontologia atual caracteri7.a-se pelo fato de o cirurgiãCKIentista não


trabalhar mais isoladamente, mas, de uma forma ou de outra, depender
de outros profissionais da odontologia, da medicina, da psicologia, da
fonoaudiologia, do serviço social etc.
Este convívio só pode ser sadio quando cada parte envolvida está sen-
sibilizada sobre a importância do trabalho multidisciplinar e sabe respei-
tar 05 seus próprios limites e os dos outros profissionais envolvidos na
equipe.
Nos serviços públicos de saúde, onde essa realidade multidisciplinar
toma -se mais evidente. usualmente as equipes caracterizam-se por estar
inseridas em um sistema com diversos níveis de atenção à saúde, dentro
de diferentes programas: ações preventivas e/ou curativas para crianças,
gestantes. idosos etc. Atua-se, então, em equipe, existindo aí diferentes
opções para a atuação dos profissionais. com a possibilidade de diversi-
ficar atividades, quando então nem todos farão as mesmas coisas.
Assim, frente a questões complexas, como o atendimento de paaentes
portadores do vírus da AIDS, podem ser distribuídas tarefas, segundo
cada competência. Na realização das tarefas pelos colegas da equipe,
deverão ser mantidos o respeito, a consideraçifo e a lealdadt.

A Concorrência Desleal

Os diferentes Códigos estabelecem como infração ética "praticar ou per-


mitir que se pratique cvnco"êll,in desleal". Presume-se aí uma postura ativa
do infrator em convencer o padente verbalizando ou n30 vantagens ou,
ainda, omitindo-se em relação às ações de terceiros (sócio. gerente ou
publicitária), com os quais esteja o profissional ligado por laços traba·
56 EXERCfclO nlco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

lhistas ou comerciais. Existem muitas situações distintas que podem con·


figurar estratégias para desviar a clientela e que se explicitam em (rases
do tipo: "Sou melhor tecnicamente do que os outros profissionais" ...
"Trabalho mais rápida e eficientemente ... " "Faço extrações sem dor .. ,H

etc., ou mesmo oferecendo beneffdos: "Aqui os melhores preços ... " "Ser-
viços gratuitos ..:" "Facilidades de pagamento" etc., todas podendo ser
sintetizadas em uma única : ,. Antes de ir (ou continuar indo) ao consult6--
rio de concorrentes, venha ao meu."
Em uma sociedade capitalista de livre iniciativa como a nossa, enten-
de-se que é livre a escolha do profissional pelo paciente. O que se preten-
de garantir, eticamente, é que a opção seja feita com base em parâmetros
de competência profissional e não de estratégias de mídia, principalmen-
te aquelas enganosas e de má fé.
Uma outra questão introduzida pelo Código de 1992, de cunho atual,
é a de proporcionar cobertura aos movimentos classistas que visem a
defender djreitos e deveres éticos dos profissionais, pois estabelece que
os profissionais que assumirem emprego ou função de outros, demitidos
em represália por mouime,rlo legItimo da co/~ria, estarão incorrendo em
infração ética.
Nos incisos IV do art. 38, e VlI, do art. 4', do Código de 1992, encon ~
tram-se explicitadas as situações que configurarão movimento classista
legítimo, definindo aqueles casos com os quais não podemos ou não
devemos ser coniventes: colldiçlks de traballro que rulo sejam dignas, stguras
e salubres ef ou faliras nos regulamentos erras nomras das ItIstitlliçiJes quando
indigrra5 para o atrela0 da profl5SiIo 011 prejlldicinis ao pacier,'e.

o Erro Profissional
A questão do erro profissional, quer seja ele técnico no sentido estrito.
quer ético, merecerá um capítulo à parte (Cap. 6), tamanha a sua com~
plexidade. Considera-se inCração ética criticnr erro técnico-cierrtífico de cole-
ga ausente, salvo por meIo de represenlaçao ao Corrstllro Regronal.
Importante frisar que se omitir quanto a fatos que possam representar
erro de colega é considerado infração ética. A questão, antes de tudo, é
saber se houve ou não o "'erro"'.
No cotidiano dos consultórios odontológicos, é possível o profISSional se
deparar com o que ele julgue, em um primeiro momento, um erro técnico
cometido por um colega. Em muitos casos, a história contada pelo paciente
pode influenciar;. tendenciosamente, a forma como se vê a realidade.
ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE tTlCA PflOFISSIONAL ODONTOLÓGICA 57

Esse "julgamento" da realidade é parcial se a outra parte envolvida


não foi ouvida, isto é, o colega é tido como responsável pelo "erro Com
H

isso, não se pretende o acobertamento de falhas técnicas, mas sim que,


antes de um juízo critico e isolado de um profISsional, a questão possa
ser avaliada por instância competente e imparcial, como o Conselho
Regional. através de sua Comissão de Ética. Alguns Conselhos estaduais
são assessorados por subcomissões formadas por especialistas, que ava-
liarão tecnicamente cada caso, evitando a subjetividade e possibilitando
às partes - paciente e profissional - a oportunidade de apresentarem
provas e argumentos, que, muitas vezes, mostram que a realidade não
era aquela inicialmente imaginada.
Em alguns serviços odontol6gicos, como hospitais ou faculdades de
odontologia, felizmente já começam a ser criadas comissões de ética para
avaliar previamente as denúncias de erros eventualmente cometidos
dentro da instituição, pronunciando-se sobre a sua procedência, antes de
encaminhar a questão ao Conselho Regional.
Os aspectos relativos à ética na pesquisa serão abordados no CapftuJo
6, dedicado a esse grande problema ético.

A Colaboração entre Colegas

Existem situações emergenciais nas quais o parecer de outro profissional


pode ajudar. Muitas vezes a ajuda não se circunscreve à opinião, mas
sim à sua efetiva atuação, concluindo uma cirurgia, por exemplo. Por
isso, preconiza-se eticamente não negar colaboração técnica de emergên-
cia a um colega.
Embora os Códigos não abordem explicitamente a situação de colega-
paciente-de-colega, um costume que vigorou durante muitas gerações é
o de que "colega não cobra de colega". Hoje, talvez premidos pelos altos
custos operacionais dos serviços odontol6gicos, não se fala mais em não
cobrar, porém a indicação presente é de "colaborar", o que pode signifi.
car, por exemplo, cobrar apenas os custos do tratamento.
As vedações éticas em não explorar colega nas relações de emprego ou
q!laudo compartilhar Iwnordrios, como também não ceder consultório ou labo-
ratório, sem a observn'lcia da legislaçAo pertinente, objetivam impedir que a
legislação trabalhista seja desrespeitada, não se pagando salários justos,
direitos trabalhistas etc., visto que é costume compartilhar honorários,
isto é, o proprietário que cede o consultório tem participação percentual
no movimento de caixa (40-50% etc.).
58 EXERCfcl0 ÉTICO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

Importante também frisar que O C6d.igo não se refere apenas aos con-
sultórios, mas também aos laboratórios, pois o dispositivo ético lembra
que esse contexto engloba o conjunto dos profissionais da odontologia -
dentista, protético, higienista e demais auxiliares - e que todos deverão
respeitar o princípio da não-exploração.
Por fim, O tema do exercício ilegal da odontologia já é motivo de tese
(Calvielli, 1993), devido à sua magnitude. Sob o aspecto ético, trata-se,
mais especificamente, da vedação ética da "utifizaçi1o de serviços prestados
por profissionais "no habilitados legalmente".
h importante lembrar que não é só o dentista que tem sua profissão
regulamentada. Também o protético, o higienista e os auxiliares contam
com legislação específica. Se existem condições para a regularidade,
podem existir profissionais em situação irregular. Uma situação freqüente
é a falta de inscrição no Conselho Regional de Odontologia. Assim, quan-
do da contratação dos serviços de outros profissionais da odontologia,
deveremos verificar previamente a legalidade de sua habilitação, para
não incorrermos na infração prevista no Código de Ética Odontológica.
A preocupação ética em impedir o exercício ilegal das profissões
odontológicas é tal que se considera de " manifesta gravidade" a infração
ética de acobertá-lo ou ensejá-lo (Art. 38, 11, do Código de Ética Odonto-
lógica).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Calvielli ITP. O uercfóo i/egnl dR odontologlR, no Brasil. São Paulo, 1993 (Dissertação-
Mestrado-Faculdade de Direito da USp).
Ramos DL? lticn Odolltológica - o código de ético odOlltológiCR (Rts(Jh,plo eFa- 179/91',
comelltado, São Paulo: Liv. Santos, 199-1.
CAPíTULO 5
,
ASPECTOS ETICOS DO
ATENDIMENTO OOONTOLÓGICO
DE PACIENTES HIV
Posmvos
DALTON LUIZ DE PAULA RAMOS E NORMA TAMI MARUYAMA

INTRODUÇÃO

A AtoS acentuou os problemas éticos relativos à saúde de toda a popu-


lação, pois nessa entidade nosol6gica existem padrões de conduta que
muitos consideram imorais. Na Austrália e na antiga União Soviética,
por exemplo, as pessoas infectadas têm restrições de livre trânsito. Em
Cuba, os pacientes HIV+ são detectados entre a população e vão para
um centro de quarentena, submetendo-se a rígidos regulamentos, como
nos relata Almeida (1993).
Em todo tipo de discriminação existe o preconceito, que pode ser
aquele decorrente do "medo da doença'", que só se explica por ignorân-
cia do que seja a doença, de como evitá-la etc. Infelizmente, no Brasil 35
campanhas que tratam da AtDS ainda têm insistido muito sobre a letali-
dade da sfndrome. Esta ênfase no AIDS MATA" parece querer causar
H

um impacto para que a população leiga fique mais atenta aos métodos
preventivos. A validade dessa estratégia de motivação é questionável,
prindpatmente porque, por outro lado, não se esclarece adequadamente
a população sobre o convívio com o doente, que passa a ser o motivo de
59
60 EXERCfclO éTIco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

medo, e daí os lamentáveis relatos observados na imprensa leiga de


crianças soropositivas expulsas de escolas etc.
Soma·se a isso que a imagem da AIDS ainda está associada aos antes
chamados "grupos de risco" - homossexuais, drogados, detentos -, que,
por si 56, já sofrem discriminação. Mesmo que não o seja. o doente será
"suspeito" de pertencer a um desses grupos, o que tomará ainda mais
difícil a sua situaçilo social.
A odontologia brasileira está aprendendo a se relacionar com a AIDS
neste contexto de medo e p reconceito. O surgimento da AIDS trouxe
grandes modificações nas rotinas dos consultórios odontológicos. como
os novos aspectos relacionados com a biossegurança: uso sistemático de
barreiras de proteção (luvas, máscaras), ênfase nos descartáveis, apura-
dos métodos de desinfecção, esterilização etc.
Mas as mudanças não se referiram apenas às questOes técnicas de
biossegurança . O perfil do proftssional também terá de mudar. A grande
maioria dos dentistas da geração "pré-AIOS" não era obrigada a viver
seu cotidiano profissional relacionando-se com potenciais pacientes ter-
minais, ou mesmo com o risco de contaminar-se com uma doença desco-
nhecida e tida como fatal . A AIDS provocou um grande impacto, que
levou, de início, alguns profissionais a condutas tidas como antiéticas:
abandono de pacientes, recusas de atendimento etc.
Também não podemos deixar de destacar as dificuldades encontradas
por colegas dentistas que, não se recusando a atender adequadamente
pacientes HIV+, se depararam com o medo, o preconceito e / ou a igno-
rância da sociedade para com o contaminado ou doente com AIDS .
Alguns colegas chegaram a perder toda a sua clientela quando esta se
deu conta de que seu dentista estava atendendo em seu consultório par-
ticular determinado paciente, publicamente conhecido como aidético.
Para se precaver contra esse tipo de desdobramento, alguns profissio-
nais tiveram, de início, de trabalhar mantendo o fato no anonimato.
é importante relatar que estamos observando, com base na experiên-
cia pessoal como docentes, que na última década o número de alunos
dispostos, depois de formados, a atender pacientes I-flV+ cresceu signifi-
cativamente. t grande também o número de profissionais interessados
em participar de cursos de reciclagem sobre AIDS oU mesmo dispostos a
participar de estágios em centros especializados no atendimento odonto-
lógico a pacientes HlV+. Hoje, inclusive, já podemos encontrar anúncios
de consultórios odontológicos que atendem, exclusivamente, a pacientes
HN+.
tlTambém destacamos que, aos colegas dentistas que trabalham em ins-
tituições públicas ou privadas, devem-se garantir condiçOes adequadas
ASPECTOS rocos DO ATENDIMENTO OOONTOLOGICO OE PAOEHrES HIV POSmVOS 61

de trabalho, entre outras, salário e respeito às normas de biossegurança,


pois só assim poderá ser exigido que os profissionais possam desempe-
nhar bem suas funções. Contudo, alguns problemas éticos ainda persis-
tem, e é uma análise atualizada da questão O que pretendemos realizar
neste momento.
Não há fundamento científico algum na conduta que preconiza a
segregação dos chamados comportamentos de risco como forma de con-
trole da expansão da doença.
Estabelecer-se a responsabilidade, em nossos dias, da mesma forma
como foi preceituada por Hip6crales, é duvidoso. Será que um código
de mais de dois milênios poderá abarcar em seus postulados básicos
todas as possibilidades, quase ilimitadas, de uma ciência-arte-profissão
que deixou de ser apenas (ou quase somente) paliativa para tomar-se
altamente invasiva e agressiva, como nos lembra Almeida (1993)? Para
autores como Migliorati (1994) e Scully (1993), alguns preceitos hipocrá-
tiros ainda devem ser ressaltados, como: "Usarei o tratamento para o
bem dos enfermos, segundo minha capaddade e juízo, mas nunca para
fazer o mal e a injustiça"; e, "no que diz respeito às doenças, criar o hábi-
to de duas coisas: socorrer, ou ao menos não causar danos".
O princípio de justiça, segundo Clotet (1993), exige eqüidade na dis-
tribuição de bens e beneffcios no que se refere ao exercício da medicina
ou área da saúde. Uma pessoa é vítima de uma injustiça quando lhe é
negado um bem ao qual tem direito e que, portanto, lhe é devido.
Assim, de forma evolutiva, surgiu a bioética, com o intento de nortear os
estudos da ética, em sua subdivisão (ciência da moral), no que se refere à
questão da vida, sustentada na aplicação dos princfpios de justiça, que, nos
diferentes casos, nem sempre é fácil nem conclusiva, mas o seu uso consti-
tui uma amostra do interesse e importância pelas formas corretas de agir.
A bioética, então, nova imagem da ética biomédica, é, para Clotet
(1993), o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da
vida e cuidado da saúde, enquanto essa conduta é examinada à luz dos
valores e princípios morais. Em outras palavras, a bioética procura, de
maneira racional e pactuada, resolver os problemas biomédicos decor-
rentes de suas diferentes visões, após a consideração dos princípios e
valores morais.
A bioética surgiu como uma resposta da ética aos novos casos e situa-
ções originadas dos avanços da ciência no âmbito da saúde. Devemos,
no entanto, concordar com o fato de que não há normas únicas para
resolver as diversas situações que se possam apresentar.
A Aros tem seu lado melancolícamente positivo: nunca tanto se pes-
quisou e se estudou sobre uma única doença, e nunca antes pacien-
62 EXERClclO ÉTICO E LEGAL DA ODONTOlOGIA NO BRASIL

tes/indivíduos infectados tiveram voz para discutir sua situação (Grec-


co,1993).

OS PRINcíPIOS ÉTICOS FUNDAMENTAIS.


O ABANDONO DE PACIENTES E
A DISCRIMINAÇÃO
A solidariedade é. sabidamente, o melhor remédio contra a AIDS
(Ramos, 1988). É relato comum entre os profissionais da saúde que tra-
balham sistematicamente com aidéticos que, quando o paciente é ade-
quadamente acolhido (familiar, profissional e socialmente), a sua sobre-
vida é comparativamente maior do que a daqueles marginalizados. Isto
se deve não apenas a fatores objetivos de atenção à saúde, mas também
a fatores emocionais e psicológicos.

A OMS - Organização Mundial de Saúde - considera, desde 1988,


que: "Os odontólogos têm 8 obrigação humana e profissional de tratar
e atender as pessoas Infectadas com o HIV. Deste modo, a classe
odontológ ica pode , conjuntamente com outros trabalhadores de
saúde, psicólogos, assistentes sociais etc., apoiar os infectados e
enfermos. A AIDS e os problemas relacionados a ela não desaparece-
rão em um futuro próximo. É a hora de os odontólogos aceitarem
desempenhar suas funções para combater e prevenir a enfermidade,
especialmente nos parses onde a infecção por HIV representa um pro-
blema de saúde pública muito sério."

o Código de Ética Odontológica (Resolução CF0-179 de 19 de dezem-


bro de 1991) não é omisso com relação a tais responsabilidades, embora
não traga referências explícitas à AIDS. É o caso do seu art. 21>;

"A odontologia é uma profissão qlle se exerce em beneJfdo da sozíde do ser


lU/mano e da coletividade, sem discn·minaçiIo de qllalquer fomra 011 pretexto."

Duas observações merecem ser feitas a partir desse dispositivo ético.

1. A palavra "saúde" roi empregada lato senSIl, não querendo o


Código referir-se ou reduzir a responsabilidade dos odont61ogos
apenas aos aspectos especificas da saúde bucal de seus pacientes.
Obviamente, a responsabilidade maior, a responsabilidade profis-
sional específica dos dentistas, é a saúde bucal, campo no qual a
ASPECTOS rncos DO ATENOtMENTO OOONTotOOlCO DE PACENTES HV POSITIVOS 63

odontologia dispõe de competente conhecimento técnico para diag-


nosticar, planejar e executar terapêuticas. Promover a saúde não é
só zelar pelo bem-estar físico do paciente, mas também zelar pelo
seu bem-estar social e psfquico. Hoje, como parte do currículo
mínimo dos cursos de graduação em odontologia no Brasil, jâ são
oferecidas disciplinas de sociologia e psicologia, que podem repre-
sentar uma ajuda nesse sentido.
2. O art. 2° aborda oportunamente a questão da discriminação Hde
qualquer forma ou pretexto", discriminação esta, importante frisar,
que pode ser sofrida tanto pelo paciente como também pelo profis-
sional. Não é escopo deste capítulo tratar da discriminação contra
os profissionais, mas podemos lembrar, a título de exemplo, de epi-
sódios dos quais temos conhecimento quanto à discriminação sofri-
da pelo dentista quando é ele o doente (com AJDS, por exemplo) e
por isso é "convidado" pelos colegas da equipe de saúde a afastar-
se das suas funções. Ou, ainda, episódios ocorridos em serviços de
saúde onde atuam médicos e odontólogos, nos quais os integrantes
da equipe médica sonegaram dos odont61ogos o diagnóstico de
AIDS dos pacientes encaminhados aos dentistas, sob o pretexto de
estarem preservando o sigilo profissional. Atrás de tais posturas
existe ignorância sobre o conhecimento e a responsabilidade técni-
co-dentífica dos odontólogos e uma postura soberba que não con-
djz com o verdadeiro espfrito muJtidisciplinar.

Outros dispositivos do mesmo Código lembram os profissionais da


odontologia de suas responsabilidades para com a saúde de seus pacientes.

~ Art . 4· - Constituem deveres fundamenta1s dos profissionais Inscntos:

111 - zelar pela saúde e pela dignidade do paciente;

v - promover a seúde coletiva no desempenho de suas funções , car-


gos e cidadania, independentemente de exercer e profissão no setor
público ou privado.·

Quanto ao abandono ou recusa de atendimento, o Código de Ética


Odontológica lembra aos profissionais da odontologia que:

~Art.6· - ~ vedado:

IV - abandonar paciente. salvo por motivo jusuficl§vel, circunstllncla


em que serão conciliados os honorários e indicado substituto;
64 EXERCfclO rnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

v- deixar de atender paciente que procure cuidados profissionais em


caso de urgência. quando nAo haja outrO cirurgião-dentista em condi-
ções de fazê-lo."

Assim, citando Samico (1990), não se justifica o abandono do paciente


aidético em situações emergenciais.
Um princípio ético, lato sensu, que precisa ser lembrado nesse contexto
é o de que nenhum profissional pode ser obrigado a autoprejudicar-se.
56 é "ético" o que é "justo", A justiça tem afirmado o clássico pensamen-
to ocidental, como nos lembra Pieper (1989), é "a vontade constante de
dar a cada um, com quem nos relacionamos, aquilo que lhe é devido ...
que haja alguém a quem algo é devido e que aquele que é convidado a
exercer a Justiça aceite ~se dever." (Grifo nosso).
Isto posto, devemos considerar que, se por um lado os odontólogos
sào chamados a não negligenciar a atenção para com esses pacientes, por
outro a complexidade dos fatores envolvidos deve ser também observa-
da (Ramos; Calvielli, 1991, Ramos, 1994), o que pode levar mesmo à veri-
ficação de que não é oportuno o atendimento odontológico, devido, por
exemplo, ao quadro sistêmico do paciente estar muito debilitado ou
mesmo à existência de um complicado momento psicológico do pacien-
te. Entendemos, então, que não se configura a recusa ou o abandono do
paciente quando, em determinadas situações, o profissional não realiza
procedimentos clínico-cirúrgicos mas zela por esclarecer e orientar ade-
quadamente O paciente sobre a contra-indicação do atendimento. adian-
do-o para um momento mais oportuno ou mesmo encaminhando-o a
serviço ou profissional mais capacitado.
É sempre oportuno lembrar a Declaração dos Direitos Fundamentais
da Pessoa Portadora do Vírus da AIDS, proposta pela Rede Brasileira de
Solidariedade (ONGs/ AIDS) em outubro de 1989 (Gaudere.r, 1991).

Considerando

que a AIDS , do ponto de vista da mediCIna, é uma doença como as


outras;
que a AIDS é uma epidemia mundial e é preciso um esforço coletivo
mundial para detê-Ia;
que não existe perigo de contágio da AIOS. exceto através das rela-
ções sexuais. de transfusão sangüfnea e da passagem da mãe ao feto
ou bebê;
que do ponto de vista plenário é a Humanidade que se encontra soro-
positiva. não existindo uma "minoria'" de doentes;
que, contra o pânico, os preconceitos e a discriminação, 8 prática da
solidariedade 6 essencial.
ASPECTOS rncos DO AT9DIMENTO OOONTOlOG)CO DE PAOENTES HIV POSrnVOS 65

Proclamamos que :

,. Todas as pessoas têm direito à informação clara, exata, cienti-


ficamente fundada sobre a AIDS, sem nenhum tipo de restri-
ção. Os portadores do vrrus têm direito a Informações específi-
cas sobre sua condição.
2. Todo portador do vfrus da AIDS tem direito à assistência e ao
tratamento , dados sem qualquer restriçAo, garantindo sua
melhor qualidade de vida.
3. Nenhum portador do vlrus será submetido a isolamento, qua-
rentena ou qualquer tipo de discriminação.
4. Ninguém tem o direito de restringir a liberdade ou os direitos
das pessoas pelo único motivo de serem portadoras do HIV,
qualquer que seja sua raça, sua nacionalidade, sua religião, sua
ideologia , seu sexo ou orientação sexual.
5. Todo portador do vfrus da AIDS tem direito à participação
em todos os aspectos da vida social. Toda ação que tende a
recusar aos portadores do vfrus um emprego, um alojamen-
to, uma assistência ou privá-los disso, ou que tenda ares·
tringi-Ios à participação nas atividades coletivas , escolares e
militares, deve ser considerada discriminatória e ser punida
por lei.
6. Todas as pessoas têm direito de receber sangue e hemoderiva-
dos, órgãos ou tecidos que tenham sido rigorosamente testa-
dos para o HIV.
7. Ninguém poderá fazer referência à doença de alguém, passada
ou futura , ou ao resultado de seus tes tes para AIDS sem o con·
sentimento da pessoa envolvida. A privacidade do portador do
vfrus deverá ser assegurada por todos os serviços médicos e
assistenciais.
8. Ninguém será submetido aos testes de AIDS compulsoriamen-
te , em ceso elgum. Os testes de AIDS deverão ser usados
exclusivamente pera fins diagnósticos, para controle de trans-
fusões e transplantes e para estudos epidemiológicos, e nunca
para qualquer tipo de controle de pessoas ou popUlações. Em
todos os casos de testes, os interessados deverão ser Informa-
dos. Os resultados deverão ser informados por um profissional
competente.
9. Todo portador do vrrus tem direito a comunicar apenas às pes-
soas que deseja seu estado de saúde ou o resultado dos seus
testes .
, O. Todo portador do VrtlJS tem direito A continuação de sua vida
civil. profissional , sexual e afetiva . Nenhuma ação poderá res'
tringir seus direitos completos à cidadania.
66 EXERCrCIQ tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

Desde 1992, a ADA - American with Desabilities Act - dá proteçào


antidiscriminação no setor público para os pacientes H1V+ e, de acordo
com ela, os cuidados devem ser os mesmos para os outros pacientes.
Para um ou outro paciente o tratamento poderá ser especializado. mas
não devemos generalizá-lo ou estereotipá- lo (Barr, 1992), pois, como
mostra uma pesquisa realizada na Nigéria (Sote, 1992),84,4% dos cirur-
giões-dentistas acham que os pacientes HIV+ deveriam ser tratados em
clínicas especializadas.
Em Pittsburg, onde foi realizado um estudo com en(enneiros, psicólo-
gos, dentistas e outros profissionais da área de saúde (Bennett, 1993),
concluiu-se que os mesmos não se dispõem a tratar de pacientes H1V+,
geralmente como conseqüência da "antipatia" e do desconforto existente
no tratamento de homossexuais e drogados. Verificou-se, tamMm, que o
nível de conhecimento não influenciava as suas opiniões, mas sim a per*
sonalidade dos entrevistados.
Apesar de a Associação Dentária Brit:ãnica e do Conselho de Dentistas
daquele pais considerarem inaceitável recusar um paciente por ser
HIV+, uma pesquisa realizada em Londres (Robinson, 1993) mostrou
que, de 19 pacientcs HIV+ que procuraram o cirurgião-dentista, 15
foram recusados e quatro foram atendidos porque não informaram
sobre o diagnóstico.
Na Nova Zelândia, Terry e cols. (1994) demonstraram que, dos
pacientes que procuraram tratamento odontológico e nao esconderam
do profissional o seu estado, 31% foram rejeitados.
Maruyama (1995), utilizand<rse de uma metodologia de análise quali-
tativa, buscou captar a real dinâmica da situação entre brasileiros. No
período de setembro a dezembro de 1995, foram entrevistados 18 pacien*
tes HIV+ no Serviço de Atendimento a Pacientes HTV+ da Clinica de
Diagnóstico Bucal do Hospital Heliópolis e no Centro de Atendimento a
Pacientes Especiais - CAPE - da Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo.
Foi solicitado a esses pacientes que respondessem ~s seguintes per-
guntas:

1. Há quanto t'empo foi feito seu diagnóstico de HIV?


2. Com que periodicidade \'ocê visitava o dentista antes do diagnósti-
co?
3. Fez algum tratamento odontológico após o diagnóstico?
4. Informou ao dentista que era portador do HIV?
5 . Qual foi a reação dodenhsta?
6. Se o dentista recusou o tratamento, qual foi a sua justificativa?
ASPECTOS tncos DO AT9IDfMENTO 000NT0l0G1CO OEPACIENTES)-D'V POSmVOS 67

Dos 18 pacientes entrevistados, nove não procuraram tratamento


odontológico em consultórios particulares após o diagnóstico. tendo se
dirigido ao Hospital Heli6polis ou ao CAPE.
Entre os outros nove pacientes. um não informou ao profissional que
era portador do vírus; dos oito pacientes que informaram, quatro obtive-
ram tratamento. Desses quatro atendidos, em um dos casos o dentista
era parente do paciente. Em outro, após o tratamento, o paciente foi
orientado pelo profissional a procurar um serviço especializado. Um ter-
ceiro relatou ter obtido o tratamento, "mas com restrições". O quarto
paciente acredita que tenha pago pelo serviço um valor bem acima do de
mercado.
Dos quatro pacientes recusados, um o foi com a justificativa de que o
paciente necessitava procurar um especialista para tratamento de pro-
blemas gengivais. A um segundo paciente, também recusado. foi dada
como justificativa da recusa a "fa lta de equipamentos adequados". O ter-
ceiro e O quarto pacientes recusados tiveram como justificativa "'o peri-
go de contraIrem uma infecção advinda do tratamento", sendo que a um
deles o dentista relatou ainda não estar atualizado e, então, não ter con-
dições de atendê-Io.

o MOMENTO DA ANAMNESE.
O SIGILO PROFISSIONAL

O tratamento odontológico inicia-se com a anamnese. Uma anamnese


bem-conduzida é norma técnica imprescindível em qualquer situação
clínica. As negligências na anamnese caracterizam erro profissional,
podendo sujeitar o proflSSional a sanções éticas e legais (Ramos, 1994;
Ramos, Calvielli, 1991).
Nas circunstâncias que envolvem uma primeira consulta de atendi-
mento clínico, as diferentes personalidades e ansiedades dos pacientes,
ou seu nível de conhecimento, podem perturbar o bom andamento da
colheita de informações clínicas. Preconceito, constrangimento, medo de
rejeição ou mesmo desinformação têm gerado situações em que o
paciente, consoentemente, omite informações. Como o tratamento odon-
. tológico é muito específico, muitos pacientes, por incrível que possa
parecer, acham que determinadas informações não precisam ser relata-
das ao dentista: "Por que o dentista, que vai apenas tratar de meus den-
tes, precisa saber que eu tenho AIDS?H Assim, os odontólogos devem
esclarecer seus pacientes sobre a importância de terem acesso a todas as
68 EXERclcro tnco E lEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

informações clínicas para o bem da própria saúde do paciente e para o


próprio sucesso da terapêutica odontológica.
Uma outra questão relacionada com a anamnese é a do sigilo profis-
sional. O Código de ~tica Odontológica destaca que o profissional deve
"guardar segredo profissionnl" (art. 48, IV) e ainda "resguardar a privacidade
do paciente durarlte todo o ntt1ldimD!to" (art. 48, XI).
O compromisso da guarda do fato sigiloso é a garantia que o paciente
necessita para vencer o constrangimento de responder ao profissional as
perguntas do questionário de anamnese. Para Abramowicz (1991), "0
desejo do paciente de sigilo em relação à familia deve ser respeitado,
desde que não se coloque em risco a própria familia e a coletividade". A
saúde coletiva é, aliás, outra preocupação do Código de htica Odon-
tológica e por isso, entende-se como justa causa a revelação de fato sigi-
l

loso na notificação compulsória de doença (art. 9", §1').


Pedrotti (1993) frisa que a privacidade do ser humano está ligada aos
direitos civis e penais. O paciente com AIDS tem direito a toda privaci-
dade exatamente em razão da dignidade humana, e cita a Constituição
Federal (art. 5 u, X), que estabelece serem invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de inde-
nização por dano material ou moral decorrente de sua violação.
A questão do diagnóstico de determinadas doenças tem sido objeto
de muita discussão e controvérsia. Porque muitas doenças têm manifes-
tações precoces no meio bucal, alguns cirurgiões-dentistas afinnam ter
competência para finnar seu diagnóstico. Segundo CalvieLli (1993), tem-
se "chamado a atenção para O fato de que, realmente, muitos cirurgiôe5-
dentistas têm competência técnica e científica para o diagnóstico. Falta-
Lhes, no entanto, a competência legal para fazê-Io, porque essas entida-
des nosoJógicas, embora tenham manifestação precoce bucal, têm sua
sede em outros órgãos que não o bucal e, portanto, a capacidade legal
para atestá-los é somente dos médicos."
Segundo a OMS (1993), os odontólogos estão capacitados a examinar
e diagnosticar as condições patológicas da mucosa oral, o que é uma res-
ponsabilidade do cirurgião-dentista. Embora esse exame tenha alto valor
no diagnóstico da soropositividade para o tilV, não é um método ade-
quado nem sistemático para diagnosticá-lo. O paciente deverá ser enca-
minhado para uma unidade médica, para o diagnóstico final. e ficar sob
assistência multidisciplinar.
A solicitação de exames sorológicos especfficos para AIDS é um recur-
so de diagnóstico que o cirurgião-dentista tem competência legal para
solicitar (Lei n· 5.081/66, que regula o exercício da odontologia no
Brasil), porém SÓ se justifica como complementação de um processo de
ASPECTOS rncos DO ATENDIMENTO ODONTOlOGICO DE PAOENTES HIV POSrTTVOS 69

anamnese bem-conduzido quando, com base em sinais clínicos e/ ou na


história do paciente, o profissional tiver identificado indícios clínicos
suficientes que justifiquem submetê-Io ao exame. É importante lembrar
que a simples solicitação do exame já gera ansiedade no paciente face à
expectativa de uma possível soropositividade, o que pode gerar desdo-
bramentos psicológicos de difícil previsão e controle pelo cirurgião-den-
tista . Além disso, só a possibilidade de tomar conhecida a solicitação do
exame pode trazer sérias conseqUências sociais para o paciente, devido à
infeliz discriminação social vigente.

AS MEDIDAS DE CONTROLE DA INFECÇÃO

Desde a data em que foi publicado o primeiro relato de paciente com


AIDS nos Estados Unidos, em 1979, até o momento, nenhum caso da
doença foi registrado como resuJtado da exposição ocupacional do cirur-
gião-dentista, e por isso este não tem sido inclurdo em grupos de alto
risco para a infecção, segundo informações do Centro de Controle de
Doenças (CDC), sediado em Atlanta, nos Estados Unidos.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer e dos Institutos
Nacionais de Saúde dos Estados Unidos descobriram e isolaram, em
abril de 1985, o retrovírus HTLV-IH, agente causador da AIDS. Embora
ele tenha sido isolado também a partir da saliva, o Serviço de Saúde
Pública dos Estados Unidos tem-na colocado como uma via pouco pro-
vável de transmissão do vírus, pelo simples {ato de que essa virose nâo é
transmitida através de contatos fortuitos (Genovese, 1991).
Em 1992, Epstein relatou não ter comprovado casos de contágio atra-
vés de tratamento odontológico. Scully e Portes (1993) lembram que a
evidência indica que a transmissão do cirurgiãcrdent-ista para o paciente
é muito improvável e quase impossível, quando as mecüdas para o con-
trole de infecção são respeitadas. Segundo a OMS (1993), transmissão
durante o tratamento dentário deve ser considerada como uma possibili-
dade teórica, já que não há caso comprovado de infecção pelo HIV. Só há
relato de um caso ocorrido na Fl6rida (Migliorati, 1994), onde se admitiu
a possibilidade da transmissão do vírus de um dentista para seu pacien-
te. o que causou histeria pública e profissional, porém nada ficou prova-
do.
A preocupação do paciente quanto ao contágio com o HJV é muito
grande, como mostra um estudo realizado por Horowitz, em 1992, no
qual 70% das pessoas questionadas relataram medo, caso soubessem
70 EXERClclO ÉTICO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

que seu cirurgiã<Hientista atendesse pacientes com HIV e ainda, sur-


preendentemente. 9,59% evitavam tratamento odontológico pelo mesmo
motivo. Moore, em 1993, mostrou que, quando as medidas de controle
de infecção são adotadas pelo drurgião-dentista. aumenta a atenção do
paciente para o risco de infecção.
É comprovado que o HIV encontra-se na saliva, porém estudos indi·
cam que, na maioria dos casos, inibidores salivares tomam o vírus não--
infectante (Moore, 1993). Esse mesmo estudo demonstrou que a detecção
do HlV na saliva não foi alterada após O tratamento.
Segundo o Ministério da Saúde (1994), o cirurgião-dentista deve
ga rantir o atendimento dentro das normas universais de segurança.
Assim, todo doente deve ser tratado como portador potendal de todos
os microrganismos. Há um periodo denominado "janela imunológica",
no intervalo entre a infecção e a possibilidade de detecção de anticorpos
anli-HIV por técnicas laboratoriais. Segundo Glick (1992), a soroconver-
são, na maioria das vezes, ocorre dentro de seis meses, mas há casos
raros relatados em que esse período pode alcançar três anos; o perlodo
de incubação em latência é de aproximadamente 10 anos desde a infec-
ção inicial até o diagn6stico do primeiro sinal da AIDS, tendendo ao
aumento desse período na década de 90, pela melhora da profilaxia e
dos tratamentos atuais.
Apesar de todos os esforços dos 6rgãos competentes, os profissionais
que tomam todas as medidas de controle de infecc;ão como regra para
todos os pacientes ainda são minoria . Tomamos como exemplo uma pes-
quisa realizada na Suíça (ferry, 1994), mostrando que 76% dos drur-
giôe5-dentistas em clinicas públicas usam luvas para todos OS procedi-
mentos e 29% em clínicas parllculares, sendo formada por jovens a
maioria dos que as usam, e a maíor razão para sua utilização é a AIDS.
Angelillo, em 1994, mostrou que, na Itália, apenas 24,4% dos cirurgiões-
dentistas usam rotineiramente todas as barreiras de segurança. Conclui-
se haver necessidade de esforço educacional para aumentar o conheà-
mento e a motivação do cirurgião-dentista na utilizaç30 de todos os
meios de controle de infecção. Devemos nos ater ao fato de que apenas
uma minoria tem consciência de ser portadora do HIV (Samico, 1990).

CONCLUSÕES
Episódios de discriminação sofrida por pacientes HIV+, quando da
assistência odontol6gica, ainda têm ocorrido entre nós, como também
em outros países, apesar da existência de dispositivos éticos, nacionais e
ASPECTOS rncos DO ATENDIMENTO OOONTOlOGICO DE PAOENTES HIV POsrnvos 71

internacionais disciplinando algumas questões pertinentes, embora não


haja, nas normas éticas da odontologia brasileira, referências explicitas à
questão da ArOS.
A discriminação tem se manifestado na recusa do atendimento sem
que seja dada justificativa ao paciente, ou ainda nas justificativas estapa-
fúrdias apresentadas aos pacientes para tais recusas ou até na cobrança
de honorários exorbitantes.
Deve o cirurgião-dentista buscar mais conhecimento acerca do assun-
to em questão, não só para o seu aprimoramento cient(fico, mas tendo
em vista que o conhecimento é também um caminho para se vencer o
preconceito.
Dispositivos éticos específicos e de observância obrigatória podem
também ajudar n melhorar este quadro, embora a solução efetiva pa~a
estar na retomada da moralidade dos relacionamentos profissionais.

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49--55 .
CAPíTULO 6

ETICA NA PESQUISA
ODONTOLÓGICA COM
SERES HUMANOS

DALTON LuIZ DE PAULA RAMOS E ODITE MARJA DA TRINDADE

INTRODUÇÃO
A odontologia tem como objetivos os cuidados com a saúde bucal do
indivíduo, bem como com a saúde bucal da coletividade. Para aprimorar
suas técnicas. os pesquisadores realizam experimentos científicos para
verificar a segurança e a eficiência de novos materiais restauradores; de
novas técnicas protéticas, cirúrgicas ou comportamentais; e de novos fár-
macos.
Os experimentos científicos, segundo Vieira (1991), obedecem a uma
estrutura lógica, podendo utilizar metodologia quantitativa, baseada na
estatística e utilizando métodos comparativos, e metodologia de cunho
qualitativo, como o estudo de caso, quando o autor relata suas observa-
ções clínicas a respeito de um único caso representativo da manifestação
de determinada patologia ou terapêutica.
Para estudar o efeito do tratamento com um novo (ármaco, por meio
de uma metodologia quantitativa, comparam-se dois grupos: o que rece--
be tratamento e o de controle. Ocorre, portanto, que um dos grupos
pode ser benefidado e o outro não, caso se comprove a efetiva atuação
terapêutica do que se está pesquisando. Ainda, um grupo poderá estar
sujeito a algum tipo de prejuízo quando o experimento demonstrar que

73
74 EXERClclO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

aquele fármaco, que se imaginava pudesse trazer um benefício, é inócuo


ou mesmo provoca algum tipo de efeito colateral lesivo.
O pré~requisito básico, então, é o de que qualquer experimento cHnico
em seres humanos 56 poderá ser realizado depois que experiências pré-
vias ÚI vitro e em animais de laboratório já tenham verificado os possí-
veis riscos à saúde, quando de sua aplicação em seres humanos, e as for-
mas de minimizá-los ou eliminá-los.
Ocorre que, mesmo quando bem-conduzidas, essas pesquisas prévias
poderão não ser suficientes para uma avaliação precisa da segurança dos
experimentos em seres humanos. Em outras palavras, sempre haverá
algum risco que não poderá ser identificado nos experimentos prévios,
risco este que poderá variar em intensidade: de um simples desconforto
do indivíduo objeto da pesquisa para um quadro de sensibilidade dolo-
rosa mais exacerbada, chegando até a casos em que poderá haver com-
prometimento da sua integridade física, podendo acarretar uma lesão
mais grave ou mesmo a morte.
A história ocidental, só neste século, está repleta de episódios de abu-
sos cometidos em nome da ciência. Basta lembrarmos das atrocidades
cometidas pelos nazistas nos campos de concentração durante a LI
Guerra Mundial, quando, buscando "benefícios" os mais variados para a
causa nazista, prisioneiros raciais, políticos e militares foram colocados à
disposição de equipes médicas para todo e qualquer tipo de experimen-
tação. Milhares foram torturados e mortos. Condenados, posteriormen-
te, em Nuremberg, por "crimes contra a humanidade", os nazistas não
foram os únicos, nem OS últimos, criminosos da ciência.
Nos episódios ocorridos nos campos de concentração nazistas, vimos
um poder militar e ideológico que aprisionava e submetia os indivíduos
aos seus interesses. Infelizmente, ainda hoje o noticiário internacional
relata episódios de torturas e submissão de nações inteiras a interesses
militares, políticos, étnicos ou econômicos, que têm como alvo a "pes-
quisa" de novos recursos bélicos, observações sociológicas ou comporta-
mentais e, Deus queira que não, talvez, pesquisas de desenvolvimento
de armas bacterianas ou genéticas.
Interessa destacar, também, um outro tipo de submissão mais comum
entre n6s. É a submissão cultural, na qual o poder está nas mãos de quem
detém o conhecimento e os recursos da mídia . Não se trata de pesquisas
desenvolvidas por pesquisadores em centros de pesquisa, mas de pesqui-
sas em larga escala que são determinadas por um mercado de produtos e
serviços. Há um tabu, implantado através de séculos de dominação cul-
tural, que nos faz acreditar que o que vem de certos países estrangeiros é
sempre bom, e o que é importado é sempre melhor. Pooeria configurar-se
nlCA NA PESQUISA ODONTOLÓGICA COM SERES HUMANOS 75

nesse caso, talvez, negligência em relação a uma postura crítica sobre o


que nos é oferecido e vendido. Assim, não é por acaso que os chamados
países do Terceiro Mundo, ou mesmo as pop ulações miseráveis da perife-
ria das grandes cidades, são o alvo de um mercado internacional de fár-
macos e, no caso da odontologia, de novos materiais odontológicos, pois
essas populações, por ignorância ou por extrema necessidade, subme-
tem-se mais facilmente ao uso em larga escala de novos medicamentos e
outros tipos de terapêuticas . O "novo" que é oferecido a essas verdadei-
ras "cobaias humanas" pode estar sendo apresentado como o último
milagre da ciência moderna, e não como em fase experimental.
O que toma essas situações ainda mais dramáticas é o fato de caber
aos profissionais da saúde prescrever e aplicar esses novos produtos ou
terapêuticas e, muitas vezes, estes também se deixam levar pejos tabus e
pelas estratégias de mnrketing que envolvem a apresentação dos novos
produtos, tomando-se, por sua vez, vítimas das referidas estratégias e
experimentação em massa. Se algo de mau acontecer a seu paciente,
serão eles que responderão, em um primeiro momento.
Ora, se o objetivo da odontologia é a saúde do ser humano, como
admitir-se que uma pesquisa odontológica possa vir a trazer prejuízos
àqueles que colaboraram como seus sujeitos?
A experiência das últimas décadas tem demonstrado que não pode-
mos simplesmente deixar ao "bom senso" do pesquisador a avaliação de
até onde pode ir em suas pesquisas. Por esta razão, em níveis nacional e
internacional, diretrizes foram p ropostas, primeiramente com o intuito
de aprofundar uma reflexão sobre esses temas, após o quê foram norma-
tizadas as condutas a serem adotadas pelas instituições de pesquisa,
pelas indústrias e pelos próprios pesquisadores.

DIRETRIZES INTERNACIONAIS E NACIONAIS


SOBRE PESQUISAS EM SERES HUMANOS

A primeira declaração internacional que diz respeito à pesquisa em seres


humanos foi denominada Código de Nuremberg, em 1947, ou seja, logo
após o término da D Guerra Mundial, com a fmalidade de auxiliar no
julgamento dos médicos que promoveram experiências com 05 prisio-
neiros de guerra, estabelecendo-se padrões para a realização de expe-
riências com seres humanos, sendo enfatizada a necessidade do consen-
timento voluntário do participante.
76 EXEAclcro tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

Mas é na Declaração de Helsinque. adotada inicialmente em 1964 e


que sofreu sucessivas revisões (Tóquio, 1975; Veneza, 1983; e a última
em 1989, na 41" Assembléia Médica Mundial em Hong Kong), que
encontramos os prinópios básicos para a investigação com seres huma-
nos, destacando-se que a realização de pesquisas em seres humanos
deve estar de acordo com prindpios cientificas, com objetivos clara-
mente formu lados em um protocolo de pesquisa (que deverá se r enca-
minhado a um comitê especialmente designado para sua deliberaçào e
orientação) e ser conduzida por pesquisadores com qualificação científi-
ca, após avaliação cuidadosa dos riscos previsíveis e dos possíveis bene-
fícios, sempre respeitando os direitos dos indivíduos a elas submetidos
e que devem dar seu consentimento após serem adequadamente escla-
recidos sobre sua participação, no assim chamado "consentimento pós-
informação" .
Como resultado da colaboração entre a Organização Mundial de
Saúde (OMS) e o Conselho para Organizações lntemacionais de Ciências
Médicas (OOMS), foi publicada inicialmente pelo CIOMS, em 1982, a
Proposta de Diretrizes Internacionais para Pesquisas Biomédicas
Envolvendo Seres Humanos e, mais recentemente, em 1991 outro docu-
mento, denominado Diretrizes I!ticas Jnternacionaís para Pesquisas
Biomédicas Envolvendo Seres Humanos.
Segundo este último documento, toda pesquisa envolvendo seres
humanos deve ser conduzida de acordo com três princípios éticos fun-
damentais: respeito pela pessoa, belleficêllcln e Justiça.
Como respeito pela pessoa devemos considerar: (a) o respeito pela auto-
nomia das pessoas capazes de decidirem livremente sobre sua participa-
ção na pesquisa; e (b) a proteção daquelas pessoas com autonomia aJte-
rada ou diminurda contra danos ou abusos.
A beneficêllcia é a obrigação ética de maximizar os benefkios e minimi-
zar os danos ou prejUÍZOS; que os riscos da pesquisa sejam razoáveis à
luz dos beneffcios esperados; que o seu planejamento seja sólido e que
os investigadores sejam competentes, tanto para a condução da pesquisa
como para a salvaguarda do bem-estar dos participantes.
A justiça é a obrigação tHica de tratar cada pessoa de acordo com o que
é moralmcnie certo, de dar a cada pessoa o que lhe é devido. Este prind-
pio pode referir-se ã distribuição dos participantes nas pesquisas, princi-
palmente quanto às regras de recrutamento e distribuição dos grupos de
estudo. Além do quê, nào é justo expor pacientes sem que, da experi-
mentação, resulte benefício real para a sociedade.
Apresentamos a seguir, em smtese, as prindpais diretrizes propostas
pelaOMS.
81CA NA PESaUISA ODONTOLÓGICA COM SERES HUMANOS n

Consentimento, Pós-Informação, dos Participantes

a. Para toda pesquisa biomédica envolvendo seres humanos, o pesquisa·


dor deve obter, antes do início da pesquisa, O consentimento do possí·
vel participante, ou, no caso de ser incapaz, de seu responsávellegaJ.
Esse consentimento deve ser obtido sem qualquer tipo de coação, pro--
legenda a liberdade de escolha do indivíduo.
b. Presu m ~se que o consentimento seja obtido após ter sido o partici·
pan te devidamente esclarecido, em linguagem que seja capaz de com-
preender, sobre:

• os objetivos e os métodos da pesquisa;


• os beneficios que podem ser esperados, por ele ou por tercei ros,
como resultado da pesquisa;
• os riscos ou desconfortos previsíveis;
• os procedimentos ou tratamentos alternativos à pesquisa e suas
vantagens para o participante;
• como será tratada a questão do sigilo dos dados de identificação do
participante;
• a extensão da responsabilidade do investigador na obrigação de
Eornecer·lhe assistência gratuita, fren te a possíveis e espeóficas
complicações para a sua saúde, decorrentes da pesquisa, bem como
compensações por deficiência ou morte resultantes de tais danos; e
• que o individuo é livre para recusar·se a participar e será livre para
abandonar a pesquisa a qualquer momento, sem penalidades ou
perda de benefícios aos quais teria direito.

c. Por sua vez, o investigador tem o dever de:

• transmitir ao participante todas as informações necessárias para


um consentimento esclarecido;
• estimular e dar oportunidades para que o participante possa fazer
perguntas;
• excluir as possibilidades de qualquer tipo de intimidação que pos-
sam influenciar a decisão livre do possível participante em colabo--
rar com a pesquisa. Assim, por exemplo, não se deve condicionar a
vaga para tratamento gratuito em uma instituição de assistência
odontológica à colaboração do paciente como participante na pes-
quisa;
• obter, por escrito, o consentimento do participante, após o mesmo
ter tido oportunidade suficiente para considerar se deseja partici-
78 EXEAClclO tTlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

par. Se a informação for complicada, será aconselhável dar aos par-


ticipantes folhas de informação. Se a pesquisa envolve um risco
mínimo, o comitê de ética pode aprovar a dispensa da assinatura
do participante;
• caberá, finalmente, ao investigad or renovar o consentimento, se
houver mudanças importantes nas condições ou nos procedimen-
tos da pesquisa.

Indução à Participação
o pesquisad or deve evitar situações que induzam à participação na pes-
quisa . Admite-se que os participantes podem ser pagos por seu incômo-
do e tempo, podendo ser reembolsados por eventuais despesas. como
também podem receber serviços gratuitos. Entretanto, pagamentos e
outros beneffcios não devem induzir a possíveis participações.

Pesquisas Envolvendo Crianças, Pessoas com


Distúrbios Mentais ou Comportamentais

a. Em pesquisas envolvendo crianças, pessoas com distúrbios mentais


ou comporta mentais, deve-se garantir que:

• tais pessoas não serão envolvidas em pesquisas que possam ser


igualmente bem executadas com adultos em plena posse de suas
capacidades;
• se p rocure obter a cooperação voluntária da pessoa após a mesma
ter sido informada, na extensão permitida pela sua maturidade e
inteligência; que crianças mais velhas, capazes de consentimento,
sejam escolhidas preferencialmente às menores ou às mais incapa-
zes, sempre que a natureza da pesquisa assim O permitir;
• indiferentemente do nível de compreensão da criança ou incapaz, o
pai, a mãe ou o responsáve1 legal dêem seu consentimento para a
participação dos mesmos na pesquisa;
• a recusa da criança ou daquela pessoa incapaz de participar da pes-
quisa deve ser sempre respeitada, a não ser que não existam alter-
nativas terapêuticas aceitáveis;
nlCA NA PESQUISA ODONTOLOGICA COM SERES HUMANOS 79

• os riscos previsíveis devem ser minimizados e justificados pela


expectativa de que os benefícios diretos para o participante indivi-
duai serão, pelo menos, tão vantajosos quanto qualquer alternativa
disponfvel.

b. Nas pesquisas em indivíduos com presumíveis restrições à esponta-


neidade do consentimento, tais como estudantes (quando a pesquisa
se desenvolve na instituição de ensino à qual estão vinculados), pes-
soas com vínculos empregatícios com a instituição de pesquisa ou
com o pesquisador, detentos e todos aqueles que possam ser influen-
ciados por vínculos hierárquicos, deve-se assegurar o direito de recu-
sa, sem que isso traga prejuízos nas relações trabalhistas, escolares etc.

c. Pesquisas envolvendo comunidades subdesenvolvidas devem ser evi-


tadas, a não ser quando respondam às necessidades de saúde e às
prioridades da comunidade. Nesses casos, o comitê de ética que ava-
liará a proposta da pesquisa deverá ter entre seus membros, ou con-
sultores, pessoas totalmente familiarizadas com os costumes e tradi-
ções daquela comunidade.

Estudos Epidemiológicos
Em estudos epidemiológicos, em que o consentimento individuaJ (ar
impraticável ou desaconselhável, o comitê de ética da instituição de pes-
quisa deverá avaliar se esta é eticamente aceitável e se são adequados os
planos do investigador para proteger a segurança e o respeito pela pri-
vacidade dos participantes e para manter o sigilo dos dados.

Seleção de Participantes de Pesquisas

a. Indivíduos e comunidades participantes de pesquisas devem ser sele-


cionados de modo que os ônus e os beneficios da pesquisa sejam
equanimemente distribuídos.
b. Como regra geral, gestantes e nutrizes não devem participar de qual-
quer teste clínico, exceto aqueles planejados para proteger ou melhorar
a sua saúde, a do feto ou da lactante, e para OS quais mulheres que não
estão grávidas ou amamentando não seriam participantes adequadas.
80 EXERClclO tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASil

Sigilo dos Dados

o investigador deve estabelecer salvaguardas seguras para o sigilo dos


dados da pesquisa. Os participantes devem ser informados quanto aos
limites da capacidade de o investigador salvaguardar o sigilo e às conse-
qüências previstas se houver quebra do mesmo.

Compensação de Participantes de Pesquisas por


Danos Acidentais
Participantes de pesquisas que sofrerem danos físicos resultantes de sua
participação terão direito à assistência financeira ou de outro tipo, que os
compense por qualquer lesão ou deficiência permanente ou temporária .
Não pode haver renúncia ao direito à compensação.

Constituição e Responsabilidades de Comitês


de Revisão Ética
Todas as propostas de pesquisa envolvendo seres humanos devem ser
submetidas, pa ra revisão e aprovação, a um ou mais comitês indepen-
dentes, de revisâo IHica e científica. O investigador deve obter a aprova-
ção da proposta de condução da pesquisa antes de iniciá-Ia.

a. Aos comitês cabe verificar.

• se a pesquisa proposta obedece a princípios científicos geralmente


aceitos. e se é baseada em experiências em laboratório, i" vitro e em
animais, e em um conhecimento p rofundo da literatura científica;
• se 05 benefícios esperados justificam quaisquer riscos, conhecidos
ou possíveis, para os participantes;
• se os métodos propostos e a realização da pesquisa irão minimizar
os danos e maximizar os benefícios;
• se os procedimentos propostos para a obtenção do consentimento
pós-informação sâo satisfatórios; e
• se os procedimentos propostos para a seleção de participantes são
adequados .
l
.I
nlCA NA PESQUISA ODONTOLÓGICA COM SERES HUMANOS 81

b. Os comitês devem ser multidisciplinares e constituídos por. especia-


listas e nãcrespecialistas; por pessoas capacitadas a avaliar projetos de
pesquisa; e, na eventualidade de serem apresentadas, freqüentemente,
pesquisas voltadas para doenças ou problemas específicos, como
AlOS. idosos ou outros grupos, podem incluir representantes ou
advogados desses grupos.

No Brasil, dois dispositivos relativos à matéria merecem ser citados. O


primeiro é a Resolução n· 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho
Nacional de Saúde.
Esta Resolução tem por objetivo normatizar a pesquisa na área da
saúde . A partir das Diretrizes da OMS anteriormente apresentadas, deve
existir, obrigat'oriamente, nas instituições que realizam pesquisas com
seres humanos, um Comité de ~tica em Pesquisa.
A reCerida Resolução especifica como devem ser compostos e como
devem funcionar os comitês. Determina, também, um modelo de proto-
colo de pesquisa mfnimo, que deve ser mantido em arquivo pela insti·
tuição responsável pela pesquisa, modelo este que transcrevemos a
seguir:

VI - Protocolo de pesquisa
O protocolo a ser submetido à revisão ética somente podera ser apre·
ciado se estiver Instrufdo com os seguintes documentos, em portu·
guês:

VI.l - folha de rosto : titulo do projeto, nome, número da carteira de


identidade, CPF, telefone e endereço para correspondência do pesqui-
sador responsável e do patrocinador. nome e assinaturas dos dirigen-
tes da instituição elou orgenização;

VI.2 - descrição da pesquisa, compreendendo os seguintes itens:

aI descriçlio dos propósitos e das hipóteses a serem testadas:


bl antecedentes cientlficos e dados que justifiquem a pesquisa . Se o
propósito for testar um novo produto ou dispositivo para a saúde,
de procedência estrangeira ou não, devera ser Indicada a situação
atual de registro Junto a agências regulatórias do pais de origem:
cl descrição detalhada e ordenada do projeto de pesquisa (material e
métodos. casufstica. resultados esperados e bibliografia);
di análise critica de riscos a benefrcios;
ai duração lotai da pesquisa. a partir da aprovaçAo;
fI explicitaçiio das responsabilidades do pesquisador, da instituiçAo.
do promolOf e do patrocinador;
82 EXERCfclO UICO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

g) explicitação de critérios pare suspender ou encerrar a pesquisa ;


h) local da pesquisa; detalher 8S instalações dos serviços. centros ,
comunidades e instituições nas quais se processarão 8S V~ri8S eta-
pas da pesquisa ;
il demonstrativo da existência de infr8~strutura necessãria ao desen-
volvimento da pesquisa e para atender eventuais problemas dela
resultantes, com a concordtlncia documentada da instituição;
Horçamento financeiro detalhado da pesquisa: recursos, fontes e des-
tinsçAo. bem como a forma e o valor da remuneração do pesquisa-
dor;
I) explicitação de acordo preexistente quanto A propriedade das infor-
mações geradas. demonstrando a inexistência de Qualquer cláusula
restritiva quanto' divulgaçio pública dos resultados, a menos que
se trate de caso de obtençio de patenteamento; neste caso, os
resultados devem se tornar públicos, tão logo se encerre 8 etapa
de patenteamento;
m) declaração de que os resultados da pesquisa serão tornados púbh·
cos, sejam eles favoráve is ou não; e
n) declaração sobre o uso e destinação do material elou dados cole·
tados.
Vt.3 - informações relativas ao sujeito da pesquisa:

ai descrever as caracterlstlcas da população a estudar : tamanho,


faixa etária, sexo, cor (classificação do lBGEl, estado geral de
saúde, classes e grupos sociais etc. Expor as razões para li utiliza-
ção de grupos vulneráveis:
b) descrever os métodos que afetem diretamente os sujeitos da pes-
quisa;
cl identificar as fontes de material de pesquisa. como espécimes. re·
gistros e dados a serem obtidos de seres humanos. Indicar se esse
matenal será obtido especificamente para os propÓSitos da pesqui·
Sll ou se seré usado para outros fins;
di descrever os planos para o recrutamento de indivIduas e os procedi.
mentos 8 serem seguidos. Fornecer critérios de Inclusão e exclusão;
el apresentar o formulário ou termo de consentimento. especffico
para a pesquisa , para a apreciação do Comitê de tt ica em
Pesquisa. incluindo informações sobre as circunstâncias sob 115
quais o consentimento será obtido. quem Irá tratar de obtê--Io e a
natureza da informação 11 ser fornecida aos sujeitos da pesquisa ;
fi descrever qualquer risco. avaliando sua possibilidade e gravidade ;
gl descrever as medidas para proteçio ou minimização de qualquer
risco eventual . Ou ando apropriado. descreve, as medidas para
assegurar os necessários cuidados à saúde, no caso de danos a05
indlvrduos. Descrever também os procedimentos para monltora·
trlCA NA PESQUISA ODONTOLOGICA COM SERES HUMANOS 83

mento da coleta de dados para prover a segurança dos Indivrduos.


incluindo as medidas de proteção li confidencialidade; e
hl apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos da
pesquisa. A imponAncia referente não poderá ser de tal monta que
possa interferir na autonomia da decisão do ind ivfduo ou responsá·
vel de participar ou não da pesquisa .
Vr.4 - qualificação dos pesquisadores: curriculum vitae do pesquisa-
dor responsável e dos demais participantes.

Vr.5 - termo de compromisso do pesquisador responsável e da instl'


tUição de cumprir os termos desta Resolução.

VII - COMIT~ DE t:TICA EM PESQUISA - CEP

Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida 1.1


apreciação de um Comitê de ~tica em Pesquisa .

VIL1 - As instituições nas quais se realizem pesquisas envolvendo


seres humanos deverão constituir um ou mais de um Comitê de !::tica
em Pesquisa - CEPo conforme suas necessidades.

VIL2 - Na impossibilidade de se constituir CEP, a instit uiçAo ou o


pesquisador responsável deverá submeter o projeto li apreciação do
CEP de outra instituição. preferencialmente dentre os indicados pela
Comisdo Nacional da ~tica em Pesquisa ICONEPIMSI.

Vlr.3 - Organizaçlo - A organização e a criação do CEP serão da


competência da Instituição. respeitadas as normas desta Resolução.
assim como o provimento de condições adequadas para o seu funcio·
namento .

VilA - Compo.içlo - O CEP deverá ser constitufdo por colegiado


com número não inferior a 7 (sete) membros. Sua constituição deverá
incluir a participação de profissionais da área de saúde. das ciências
exatas, sociais e humanas, incluindo. por exemplo. juristas. teólogos.
sociólogos. filósofos, bioetlclstas e, peto menos, um membro da
sociedade representando os usuários da instituição . Poder~ variar na
sua composição. dependendO das especifiCidades da instituição e das
linhas de pesquisa a serem analisadas.

VI1.5 - Tera sempre carater multi e transdisciplinar . não devendo


haver meis que metade de seus membros pertencentes 1.1 mesma
categoria profissional. participando pessoas dos dois sexos. Poder~
ainda contar com consultores sd hoc, pessoas pertencentes ou não à
Institulçio. com 8 finalidade de fornecer subsrdios técnicos.
84 EXERCICIO tnCQ E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

VII.6 - No caso de pesquisas em grupos vulneráveis. comunidades e


coletividades, deverá ser convidado um representante, como membro
ad hoc do CEP, para participar de análise do projeto especffico.

VII. 7 - Nas pesquises em população indfgena deverá participar um


consultor familiarizado com os costumes e tradições da comunidade .

VII.S - Os membros do CEP deverão isentar-se da tomada de decisão.


quando diretamente envolvidos na pesquisa em análise.

VII.9 - Mandato e escolha dos membros - A composição de cada


CEP deverá ser definida a critério da Instituição. sendo pelo menos
metade dos membros com experiênc ia em pesquisa, eleitos pelos
seus peres. A escolha da coordenação de cada Comitê deverá ser
feita pelos membros que compõem o colegiado , durante a primeira
reunião de trabalho. Ser' de três anos a duração do mandato, sendo
permitida recondução .

VII. 10 - Remuneração - Os membros do CEP não poderão ser remu·


nerados no desempenho desta tarefa , sendo recomendável , porém,
que sejam dispensados nos horários de trabalho do Comitê das outras
obrigações nas Instituições às quais prestam serviço, podendo rece-
ber ressarcimento de despesas efetuadas com transporte, hospeda -
gem e alimentação.

VII. 11 - Arquivo - O CEP deverá manter em arquivo o projeto , o pro-


tocolo e os relatórios correspondentes , por 5 (cinco) anos após o
encerramento do estudo .

VII. 12 - liberdade de trabalho - Os membros dos CEPs deverão ter


total independência na tomada das decisões no exerclcio das suas
funções, mantendo sob caráter confidencial as informações recebi-
das . Deste modo, não podem sofrer qualquer tipo de presdo por
parte de superiores hier'rquicos ou petas interessados em determina-
da pesquisa , devem Isentar-se de envolvimento financeiro e não
devem estar submetidos li conflito de interesse.
VI1.13 - Atribulçl5es do CEP:

ai revisar todos os protocolos de pesquisa envqJvendo seres huma-


nos, inclus ive os multicêntricos, cabendo-lhe a responsabilidade
primária pelas decisl5es sobre a étIca da pesquisa a ser desenvolvi·
da na instituição, de modo a garantir e resguardar a integridade e
os direitos dos voluntários participantes nas refendas pesquisas;
bl emitir parecer consubstanciado por escrito, no prazo máximo de
30 (trintal dias, identificando com clareza o ensaio, documentos
nlCA NA. PESQUISA. OOONTOlOGICA. COM SERES HUMANOS 8.

estudados e data de revlsAo. A revisão de cada protocolo culmina-


rá com seu enquadramento em uma das seguintes categorias :

• aprovado;
• com pendência : quando o ComItê considera o protocolo como acei-
tável, porém identifica determinados problemas no protocolo, no for-
mulário do consentimento ou em ambos , e recomenda uma revisão
especifica ou solicita uma modificação ou informação relevante, que
deverá ser atendida em 60 (sessenta) dias pelos pesquisadores;
• retirado: quando, transcorrido o prazo, o protocolo permanece pen-
dente;
• não aprovado; e
• aprovado e encaminhado , com o devido parecer, para apreciação
pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP/ MS. nos
casos previstos no Capftulo VIJI. item 4.c.
c) manter a guarda confidencial de todos os dados obtidos na execu·
ção de sue terefa e arquivamento do protocolo completo, que fica-
ré à disposição das autoridades sanitárias;
di acompanhar o desenvolvimento dos projetos através de relatórios
anuais dos pesquisadores;
ai desempenhar papel consultivo e educativo, fomentando a reflexão
em torno da ética na ciência;
fi receber dos sujeitos da pesquisa ou de qualquer outra parte
denúncias de abusos ou notificação sobre fatos adversos que poso
sam alterar o curso normal do estudo, decidindo pela continuida-
de, modificação ou suspensão da pesquisa, devendo, se necessá-
rio, adequar o termo de consentimento . Considera·se como antiéti-
ca a pesquisa descontinuada sem justificativa aceita pelo CEP que
a aprovou ;
g) requerer instauração de sindicAncia à direção da instituição em
caso de denúncias de irregularidades de natureza ética nas pesqUi-
sas e, em havendo comprovação, comunicar à Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa - CONEP/MS e, no que couber, a outras Ins-
tincias; e
h) manter comunicação regular e permanente com a CONEP/MS.

VII. 14 - Atuaç60 do CEP:

ai A revlsAo ética de toda e qualquer proposta de pesquisa envolven--


do seres humanos não poderli ser dissociada da sua análise clent(·
fica. Pesquisa que não se faça acompanhar do respectivo protoco-
lo nio deve ser anallsade pelo Comitê.
bJ Cada CEP devera elaborar suas normas de funcionamento. conten ·
do metodologia de trabalho, a exemplo de: elaboração das atas;
planejamento anual de suas atividades; periodicidade de reuni6es :
.6 EXEACICIQ tnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

número mrnimo de presentes para inrdo das reuniões; prazos para


emissão de pareceres; critérios para solicitaçAo de consultas de
exper($ na área em Que se desejam informações técnicas; modelo
de tomada de decisão etc.

o outro dispositivo brasileiro que merece destaque, em especial para


a pesquisa odontológica, é o artigo 35 do Código de Ética Odontológica,
a Resolução CFO-l79/91, atualmente em vigor, que julgamos oportuno
transcrever na íntegra:

An.35 . Constitui Infração ética:

I - desatender às normas do órgão competente e li legislação sobre


pesquisa em saúde;
11 - utilizar-se de animais de experimentação sem objetivos claros e
honestos de enriquecer os horizontes do conhecimento odontol6gico
e, conseqOentemente, de ampliar os benetrcios à SOCiedade;
111 - desrespeitar as limitações legais da profissão nos casos de expe-
riência in anima nobNi;
IV - infringir a legislação que regula a utilização do cadáver para estu-
dos elou exercrcios de técnicas cirúrgicas;
V - infringir a legislação que regula os transplantes de órgãos e teci-
dos post-mort8m e do "próprio corpo vivo";
VI - realizar pesquisa em ser humano sem que este ou seu responsá-
vel, ou representante legal, tenha dado consenlimento, por escrito,
após ser devidamente esclarecido sobre a natureza e as conseqGên-
clas da pesquisa:
VII - usar, experimentalmente, sem autorização da autoridade compe-
tente, e sem o conhecimento e o consentimento prévios do paciente
ou de seu representante legal, qualquer tipo de terapêutIca ainda não
liberada para uso no paes.

Embora não seja o escopo do presente capítulo, no inciso li desse arti-


go do Código de Ética Odontológica abordam-se, também, as questões
éticas da experimentação com animais. Como tivemos a oportunidade
de comentar (Ramos, 1994): "Quanto aos animais de experimentação,
devemos lembrar que modemamente cresceu a consciência entre a socie-
dade como um todo e a própria comunidade científica de que, mesmo
em pesquisas em seres irracionais, exige-se também respeito " ...
"'Existem, inclusive, 'Os Prindpios Éticos da Experimentação Animal ",
proposta pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA,
especificamente tratando desta questão ."
ITICA NA PESQUISA ODONTOlOGICA COM SERES HUMANOS 87

ENSINO ODONTOLÓGICO E PESQUISA

A capacitação legal para o exercicio da profISSão de cirurgião-dentista é


concedida, entre outras possibilidades, ao indivíduo habilitado, em nível
de graduação, por uma instituiçao de ensi no odontológico reconhecida
pelos órgãos competentes (ver Capítulos 1 e 2).
Para que o processo de aprendizagem seja efetivado. é necessário que
o aluno de graduação em odontologia passe por uma fase em que realize
atividades clínicas supervisionadas por docentes. Em muitas de nossas
faculdades, as etapas do ensino em que o aluno realiza atividades cHni-
cas são precedidas por uma etapa básica, de cunho essencialmente teóri-
co, e de uma etapa laboratorial. lida como pré-cUnica. onde se procuram
desenvolver as suas habilidades psicomotoras.
Através dos atendimentos clínicos realizados pelos alunos, as institui-
ções de ensino cumprem suas funções de ensino e prestação de serviços
à comunidade. Porém, é nesses ambulatórios de atendimento que pro-
fessores, estagiários e alunos de pÓ5-graduação realizam seus estudos de
observação clínica, que constituem a casuística de muitas pesquisas.
Assim. no Brasil, ensino e pesquisa odontológica estão intimamente
ligados, pois as instituições de ensino são, em potencial. os nossos gran-
des centros de pesquisa. De acordo com as normas já analisadas neste
capítulo, cada instituição deve contar com um comitê de ética, que deve-
rá estar atento não apenas aos aspectos éticos inerentes à pesquisa e à
biossegurança, mas também aos aspectos éticos do ensino odontológico.

Rotinas dos Serviços de Triagem de Pacientes em


Instituições de Ensino Odontológico

Para possibilitar um fluxo de pacientes adequado às necessidades de


ensino e pesquisa, as instituiçõcs geralmente contam com serviços de
triagem, que promovem a seleção dos paàentes a serem encaminhados
às diferentes disciplinas e equipes especializadas.
É requisito ético que a instituição zele para que o público que a procu-
ra seja devidamente esclarecido sobre o (ato de que os tratamentos ofere-
cidos serão realizados por alunos, sob supervisão de professor ou orien-
tador, responsáveis pelo aprendizado. Para tanto, é assinado geralmente
um termo de esclarecimento. com autorização para diagnóstico e/ou
execução de tratamentos com objetivos didáticos.
88 EXERCrCIO rnco E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

É bom lembrar que essa autorização não substitui o consentimento


esclarecido do paciente como eventual participante de pesquisa, pois
este tipo de consentimento, como anteriormente exposto, tem formula-
ção própria e deve ser especificamente elaborado para cada pesquisa em
particular.
As comissões de ética das instituições de ensino devem zelar para que
não ocorram abusos, como é o caso de se submeterem os pacientes a exa-
mes desnecessários, e que não sejam expostos a situações constrangedo-
ras ou discriminantes.
O exame radiográfico é, via de regra, o exame complementar mais
solicitado em serviços odontológicos. Nunca podemos esquecer que este
tipo de exame traz um risco, mesmo que minimizado pelos métodos de
p roteção biológica. Assim, a sua indicação não deve ser aleatória, mas
dentro de uma lógica de anamnese corretamente conduzida por meio de
exames preliminares e, posteriormente, a critério do profissional, com
exames complementares, para auxiliar ou comprovar o diagnóstico. Em
todo atendimento odontológico deve-se proceder a essa rotina elemen-
tu, que resultará em um plano de tratamento que apresenta prioridades
pecuJiares a cada caso.
No que se refere às situações de discriminação, além dos aspectos que
envolvem, por exemplo, o atendimento a pacientes HIV+, já comentadas
no Capítulo 5, podemos lembrar de outras situações do cotidiano das clí-
nicas das instituições de ensino, quando, muitas vezes, um determinado
diagnóstico clínico é discutido entre professor e alunos sem que se cuide
do devido sigilo dessas informações. f: o caso das discussões feitas em
espaço ambulatorial aberto, na presença de acompanhantes ou outros
pacientes.
Deve-5e zelar, ainda, para que a privacidade do paciente seja respeita-
da por ocasião da produção de documentação clínica fo tográfica . O
paciente deve autorizar, expressamente, que se realizem tomadas foto-
gráficas e / ou filmagens e que as mesmas podem ser divulgadas, princi-
palmente quando enfocam grandes segmentos da face, possibilitando o
seu reconhecimento.
Outro fator a ser considerado é a adequação das necessidades dos
pacientes às rotinas didáticas e disponibilidade das diferentes discipli-
nas . O paciente procura as instituições com um tipo determinado de
necessidade clinica, mas, devido ao calendário escolar, à existência de
vagas ou a outros problemas burocráticos da instituição de ensino, seu
atendimento clinico não é realizado de imediato e, assim, pode ocorrer
que, quando esse atendimento for iniciado, seu quadro cHnico odontol6-
gico já terá evoluído, sendo necessário um tratamento mais complexo,
rnCA NA PESQUISA ODONTOLOGICA COM SERES HUMANOS 89

como uma restauração envolvendo mais faces do dente, uma endodon·


tia ou mesmo uma cirurgia. Os responsáveis pela instituição e a sua
comissào de ética devem estar atentos no sentido de evitar a ocorrência
dessas situações.
Também pode ocorrer que, iniciado o tratamento em determinado
curso ou disciplina, em decorrência das férias escolares, por exemplo,
esse tratamento seja suspenso até a retomada das atividades didáticas.
Há preceitos éticos que determinam a responsabilidade da instituição de
ensino, por seus professores responsáveis pelos cursos, que devem zelar
pela continuidade e pelo término dos atendimentos clínicos iniciados
pelos alunos. Temos noHeias de mais de um processo judicial na
Comarca de São Paulo determinando, em sentença, que a instituição de
ensino odontológico conclua, de imediato, o tratamento iniciado e nJo
concluído em paciente reclamante.

Comércio de Dentes Humanos na Pesquisa


e no Ensino Odontológico

A odontologia, como ciência, ensina que a avulsão de um elemento den·


tário pode acarretar danos funcionais, estéticos e fonéticos. O dente é um
órgão complexo e importante para a saúde do indivíduo, de tal maneira
que não pode ser subsUt-urdo de forma totalmente satisfat6ria por
nenhum tipo de reparação protética.
Embora a submi.ssão a exodontias como única terapêutica para os
problemas odontológicos constitua prática freqüente na população brasi·
leira, devido às lamentáveis condições culturais e econõmicas, nenhum
odont61ogo pode ignorar a importância dos dentes para a saúde, acei·
mndo como nonnal essa prática, e, muito menos, incentivá·la de qual·
quer forma ou por qualquer pretexto.
Para que os elementos dentários possam ser utilizados em experimen·
tação ou como material didático ou reabilitador, necessitam estar ínte-
gros ou pouco destruídos, o que não corresponde à situação clínica em
que normalmente a exodon tia é indicada como terapêutica cirúrgica.
Sabemos que, para o aprendizado na etapa pré-clinica dos cursos de gra-
duação em odontologia, alguns professores responsáveis por disciplinas
entendem necessário que seus alunos desenvolva m atividades laborato-
riais - preparos cavitários, tratamentos endodônticos etc. - em dentes
naturais. Solkitam, quando não obrigam, que seus alunos tragam os tais
dentes para seu aprendizado. Premidos por esta exigência, os alunos
90 EXERCfclO trlCO E LEGAL DA ODONTOLOGIA NO BRASIL

podem estar incentivando o crescimento de um mercado ilegal de dentes


humanos, abastecido por clínicas tidas como "populares" nas quais o
objetivo não é a saúde, mas o lucro.
Deve ser considerada, ainda, a possibilidade de obtenção de tais den-
tes, ou mesmo de um crânio, ilegalmente, em cemitério, com a conivên-
cia ou negligência do administrador. A utilização, visando ou não ao
lucro, de cadáveres ou de ossos, sem que tenha sido autorizada por
autoridade competente, poderá caracterizar os crimes de violação de
sepultura (art. 210 do Código Penal), destruição, subtração ou ocultação
de cadáver (art. 211 do Código Penal) e, ainda, vilipêndio de cadáver
(art. 212 do Código Pena!), com as penas previstas na lei.
Concluindo, com base em tudo o que (oi exposto neste capitulo, cha-
mamos a atenção para o fato de que professores, dirigentes das institui-
ções de ensino odontológico e os próprios alunos não podem ignorar
suas responsabilidades legais, éticas e morais nesse campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OMS. Diretrizes éticas internacionais para pesquisas biomédicas envolvendo seres
humanos. Bi«tiCJll995; 3(2): 98-126
Ramos DLP. ttim Odotlto/6giCQ -" C6dlgodt ttiCJJ OdontológiCD (RtsOIuflo CFO-179/9I)
CfJmnltlldo. 510 Paulo: Santos, 1994: 7Op.
Vieira 5, Hossne WS. Erperímtutap70 com Strt$ Humor/os. São Paulo: Moderna, 1991:
160p.
PARTE 11

NOÇÕES DE
ANTROPOLOGIA E
IDENTIFICAÇÃO
ANTROPOLÓGICA
CAPíTULO 7

NOÇÕES GERAIS DE
ANTROPOLOGIA E
IDENTIFICAÇÃO
ANTROPOLÓGICA

M OACYR DA S ILVA E E DGAR CROSATO

INTRODUÇÃO
Sendo o homem um ser social, tem ele a capacidade de ad aptação ao
meio físico e também ao meio cultural onde estabelece padrões de com-
portamento, aceitando ou rejeitando valores.
A antropologia é uma ciência que estuda a evolução do homem sob os
aspectos físico e cultural, preocupando-se com a sua origem, sua posição
na escala zool6gica e a compreensão acerca dos diferentes grupos étnicos
e sociedades.
Embora Aristóteles (384-322 a.c.) já chamasse de antropólogos os filó-
sofos que se preocupavam com o estudo dos fatos sociais e com a histó-
ria natural, o vocábulo arrtropologia surgiu somente no princípio do sécu-
lo XVI, mais precisamente em 1501, quando Magnus Hundt publicou
um livro assim intitulado.
Etimologicamente, antropologia (gr. antltropos, logos, ia) significa a
ciência do homem. Apesar da grandeza do seu campo de ação, a antro-

93
94 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

pologia nào perdeu a sua unidade e é sintetizadora de todos os conheci-


mentos relativos ao homem.
No século 11, Galeno, nascido em 129 d.C., época em que o cadáver
humano era intocável, realizava seus estudos sobre o homem valendo-se
dos símios. Bem mais tarde, Vesalius, no século XVI, fez severas criticas
a Galena, afirmando que o estudo comparativo era válido, mas não se
podia afirmar como análogo ao do ser humano.Vesalius teve como
seguidores Sylvius, Eustáquio, Bartolin, entre outros.
Algumas defmições de antropologia foram apresentadas ao longo do
tempo: para Quatrefages a antropologia é a história do homem; Broca
afirmava que a antropologia é a história natural do gênero humano, e
Martio, que a antropologia é a história natural dos hominldios conside-
rados no tempo e no espaço.
A ciência antropológica pode ser dividida em antropologia culhmzJ e em
antropologia jisiaJ. Esta se preocupa com o estudo das variações quali e
quantitativas dos caracteres humanos, subdividindo-se em somafoscopitl,
onde são estudadas variáveis como a cor da peje, cor dos olhos etc., e
somatometria, que estuda variáveis quantitativas atinentes a mensu,rações
realizadas no ser humano, como, por exemplo, medidas do crânio, dos
arcos dentários etc.
O estudo das ca racter[sticas somatosc6picas e somatométricas tem
importância fundamental nos problemas relativos à identidade e à iden-
tificação.
Sem desmerecer as demais definições, cremos que a de identidade
apresentada pelo Prof. Emani Sintas Alves (1965) é a mais completa e se
presta adequadamente ao estudo da odontologia e da medicina legal.
Para o citado autor: "Identidnde é o cotljunto de caracteres, fisicos, ftmoOllais
011 psfquicos, tlontlais ou patol6gicos, que individualizam determinada pessoa."
Quando Simas Alves define identidade como um conjunto de caracteres,
refe~se à antropologia, e quando termina dizendo que elas individuali-
zam determinada pessoa, está se referindo à biotipologia, que será abor-
dada em capítulo p róprio.
O cirurgião-dentista que se dedica à odontologia legal, tanto exami-
nando o indivíduo vivo, como o cadáver, deve preencher a ficha com OS
dados antropológicos do examinando, anotando os caracteres SOrna tos-
cópicos e somatométricos.

DADOS SOMATOSCÓPICOS
Dentre os dados somatosc6picos, convém tecer considerações sobre a cor
da pele, dos pêlos, dos cabelos e a cor dos olhos.
NOÇOES GERAIS DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLOGlCA 95

Cor da Pele

o principal fator a ser estudado na cor da pele é a melanina, que varia


quantitativamente.
Além da melanina, outros fatores devem ser considerados no estabe-
lecimento da cor da pele: epiderme (mais espessa ou menos espessa);
sangue circulante (circulação periférica) , e influência da luz solar
(aumenta a quantidade de melanina) .
As diferentes tonalidade6 observadas nos diversos grupos étnicos, e
dentro de um mesmo grupo nos diferentes indivíduos, são conseqüência
das várias combinações desses três fatores.
Os indivíduos albinos não apresentam melanina na pele, nos pêlos e
na íris. Dentre as propriedades químicas da melanina, três têm impor-
tância médico-legaJ ligada às perícias de pêlos: (1) extrema resistência
aos agentes químicos, inclusive ácidos concentrados; (2) solubilidade em
subst"ancias alcalinas concentradas (soda, potassa) e (3) descorabilidade
pelos oxidantes, tais como cloro, ácido dórico, bromo, água oxigenada,
ácido peracético etc.

Detenni nação da Cor da Pele

Do ponto de vista antropológico pericial, a cor da pele pode ser verifica-


da por meio de uma escala cromática, como, por exemplo, a escala de
von Luschan . O exame deve ser realizado em região protegida pelas ves-
tes. Na falta de uma escala, o critério pessoal do examinador deve obe-
decer ao bom senso.
Para cada cor a classificação deverá ser feita em duas tonalidades,
mais clara e mais escura, principalmente den tro da população brasileira,
onde a miscigenação é intensa.
Roquette Pinto (1929) classifica a composição da população brasileira,
pela cor da pele, da seguinte maneira: brancos ou leucodermas, negros
ou melanodermas, mulatos ou faiodermas, mamelucos (branco x índio),
cafuzo (negro x índio) e índio.

Pêlos

As características dos pêlos também têm importância relevante na iden-


tificação dos indivíduos.
96 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlFICAÇAO ANTROPOLÓGICA

o pêlo é fonnado por uma parte implantada (raiz) e por uma parte
livre (haste). Na raiz, vamos encontrar duas bainhas, a interna e a exter-
na; na extremidade profunda, encontramos o bulbo piloso. Ainda junto à
raiz, observam-se os eixos, representados pelas glândulas sebáceas e
pelo músculo eretor do pêlo.
Hi stologicamente, reconhecem-se três camadas no pêlo completo:
clltfcllla «(ormada por células imbricadas), córtex (onde vamos encontrar
a melanina, responsável pela cor dos pêlos), e medula (que apresenta
bolhas de ar no seu interior).

Diagnóstico Genérico

Na espécie animal, via de regra, o que interessa mais de perto é o diag-


nóstico diCerendal entre o pêlo do homem e o de outros mamíferos.
Segundo Flamínio Favero (1973), os pêlos humanos têm as seguintes
características: cilíndricos, flexfveis e colorido homogêneo. Histologica·
mente, os pêlos humanos apresentam a cutfcula muito fina, a córtex ou
cortical preponderante, enquanto a medula nem sempre é visfvel.

Pesquisa do Sexo

t:: possível a verificação do sexo através do núcleo das células do múscu·


lo eretor do pêlo, pesquisando-se a cromatina sexual; no entanto, esse
diagnóstico pela simples observação dos pêlos pode levar a conclusões
errôneas, mesmo quando se trata r de pêlos de barba ou bigode, conside.
rando-se os casos de mulheres portadoras de perturbações endócrinas.
Com referência à idade do indivíd uo, podemos tirar apenas algumas
ilações sobre os pêlos, tais como pêlos de recém·nascidos ou cabelos
brancos, ainda assim com ressalvas.
Com relação à localização do pêlo (de onde foi tirado ou arrancado),
podem-se obter algumas informações, tais como, por exemplo, manguito
gorduroso (pêlos das axilas), raiz nodosa (pube masculino) e raiz delga-
da (pube feminino).

Importância Criminológica

Além de tudo que foi explanado, convém lembrar que os pêlos huma-
nos ou de animais descobertos nos locais do crime - tanto na vltima
NOÇOES GERAIS DE ANTROPOLOGIA E IDENTIACAÇ.A.O ANTROPOLÓGICA 101

e. Próstio: situado na borda alveolar superior, sobre a sutura inter-


maxilar.
f. Espinlwl: situado no centro virtual da espinha nasal anterior e infe-
rior.
g. Násio: situado no ponto de encontro das suturas nasofrontal e inter-
nasal.

Pontos Laterais do Crânio Facial


Os principais pontos laterais do crânio fadal para fins periciais são:

a. G6nio: situado na parte externa do ângulo da mandíbula, exatamen-


te no ponto de encontro geométrico do osso mandibular com uma
linha tangencial à borda posterior do ramo ascendente da mandf-
bula.
b . ZigomAtico: situado no ponto mais saliente do osso malar ou zigo-
mático.
c. Oácrio: situado no ponto de encontro da sutura maxilolacrimal com
a sutura nasofrontaL

Pontos do Pavilhão da Orelha


Esses pontos do pavilhão da orelha são estudados apenas no indivíduo
vivo ou no cadáver conservado, uma vez que não encontram correspon-
dentes no esqueleto por não existirem partes moles .

a. Trdgio: situado no ponto de encontro de duas retas, uma tangente à


borda anterior e outra tangente à borda superior do trago.
b . Otobásio superior: situado no ponto em que o pavilhão da orelha, na
sua parte superior, separa-se da parede lateral da cabeça.
c. Otobdsio inforior: situado no ponto em que o pavilhão da orelha. na
sua parte inferior, separa-se da parede lateral da cabeça.
d . Pré-auricular: situado no centro de uma linha que liga os pontos
otobásio superior e otobásio inferior.
e. Supra-auricular: situado no ponto mais elevado da borda superior
do pavilhão da orelha. Esta borda superior é uma pa'rte da forma-
ção anatômica chamada hélice.
102 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IOENTlACAÇAO ANTROPOLÓGICA

f. Pós.allricular: situado na parte mais saliente da borda posterior do


pavilhão da orelha.
g . Infra-auricular: situado na parte mais inferior do lóbulo da orelha.
h. Tubercular: situado sobre o tubérculo de Darwin. Este tubérculo
(nem sempre presente na espécie humana) está localizado mais ou
menos no ponto em que a borda superior do pavilhão passa a ser a
borda posterior ou ainda um pouco abaixo desse ponto.

Dim ensões Lineares Retas

Neste item , é importante salientar que não estào sendo consideradas


todas as dimensões, mas apenas aquelas que mteressam, quando se rea-
li7.a uma perícia no esqueleto cefálico. Do ponto de vista antropológico
geral, as mensuraçôes são muito mais numerosas .
No que se refere ao esqueleto cefálico, as medidas que interessam são
as seguintes:

a. Comprime"to máximo do crânio: é a distância em linha reta que vai da


glabela ao opistocrânio ou metalambda .
b. LArgura máxima do crbuja: é a distância em Linha reta, interposta a
um e outro eurio.
c. Dist4ncia biallricular: é a distância em linha reta que separa o ponto
auricular de um lado do ponto simétrico do lado oposto.
d. Dist811cia IIlfsio-ínio: é a distância em linha reta interposta ao násio e
ao {nio, sendo o rnio o ponto mediano localizado entre a porç-ão
cerebral e a região cerebelosa. Há na porção cerebral uma saliência
que os anatomistas chamam de Protubuânda OccipitaI, a qual nem
sempre se faz presente.
e. Altura da face: é a distância em linha reta que vai do násio ao mento.
f. Bizigomático: é a largura total da face, traduzida pela distância em
linha reta que separa um zfgio do outro.
g. Distbncia biorbitárin externa: é a distância interposta aos dois ectoo--
cantio.
h. Distlitlcia bigoniDnica: é distância em linha reta, interposta a um e
outro gônio.
i. Altura básio-uhtjce: é a distância que vai do básio ao vértice.
j. l.Jlrgura nufxima do lIariz: é a distância máxima existente nas partes
externas das asas do nariz, de um lado ao outro.
J. Altllra lIás,o-sub,msaI: é a distância em linha reta que separa o násio
do subnasal.
NOÇOES GERAIS DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA 103

mAltura subnasal-gnátio: é a distância em tinha reta que vai do subna-


sal ao gnátio.

Arcos Dentários

Com relação aos arcos dentários, as medidas que mais interessam são as
seguintes:

a. Lnrgura máxima do arco dentário


b. Comprimento máximo do arco dentário
c. Comprimento do arco dentário correspondente ao meio da largura máxima
d. Distância e7ltre os pré-mofares (face vestibular).

Curvas

Poucas são as curvas que podem ser determinadas e que podem ter inte-
resse para fins médico-Iegais. Dentre elas podemos salientar as curvas
cranianas e as curvas dos arcos dentários:

a. Perímetro horizontal nuiximo do crâllio (násio-opistocrânio-násio).


b. Curva sagitaf do crânio (biauricular).
c. Curva craniana média (média entre as curvas biauricular e násio-
ínio) .
d . Curva do arco de,lfário.
e. Curva anterior do arco dentário.

Ângulos e Triângulos
Na extremidade cefálica, os ângulos mais importantes são:

Ângulo de Rivet (násio-próstio-básio)

Os ângulos faciais de Camper, }acquart, Cuvier e doquet, bem como o


ângulo maxilar de Camper, destinados inicialmente ao estudo do progna-
104 NoçOes DE ANTROPOlOGIA E IOENTlACAÇAO ANTROPOlOGICA

tismo, já não têm mais interesse nesse sentido, visto que o ânguJo de Rívet
substituiu com vantagem todos eles. embora sendo de determinação um
pouco mais trabalhosa quando se trata de indivíduo vivo ou cadáver.
Esses ângulos, nO entanto, assumem um valor muito alto quando se trata
de investigar a cor do indivíduo por ocasião do exame de um esqueleto.
A ligação dos pontos násio-básio, no ângulo de Rivet, forma uma
figura triangular conhecida como tri4ngulo d~ Rivet.

Ângu los Occi pitais

Estes ângulos medem a inclinação do buraco occipital, muito pequena


no homem, em virtude de sua estação ereta c aumentam gradativamente
à medida que se desce na escala zoológica.
Preslam-se para a investigação da espéde animal quando restam, do
esqueleto. apenas fragmentos do crânio. incapazes. por si SÓ. de permitir
diagnóstico. Os principais ângulos occipitais são os de:

1. Daube"lo1l (opfstio-básio; básio-rebordo inferior da órbita) .


2. Broca (opístio-básio; op(stio-násio) .
3. Basilar de Brocn (opfstio-básio; básio-násio) .
4. Órbilo-Occipita! de Broca (a medida desse ângulo requer téolica mui-
to complicada).
5. AI/guio esfenoidal de Welc~r (násio-centro do canal óptico; centro óp-
tico-básio. Unidos OS pontos básio e násio, surge o triângulo de WelckLr.
6. A"gu!os auriculocraniatlos: se do básio são traçadas seis linhas que
passem pelo pr6stio, násio, bregma, lambda, lnio e opfstio, obtêm-
se cinco ãngulos, que Testut chama, respectivamente, de faci41,fron-
tal, parieta/. supra-inlaco ou supracerebtloso e infra-inlaco ou cmbtloso.
A soma dos dois últimos recebe o nome de occipital total. Todos eles
servem para a distinção entre indivíduos leucodermas e metano-
dennas.
7. Auguro da IIumdfbula; é o ângulo que se forma tomando-se em consi-
deração o longo eixo do corpo da mandíbula com o longo eixo da
mandíbula e presta-se como auxiliar na estimativa da idade.

Índices

Segundo Arbenz (1988), "os índices antropológicos, como tod.os os índi-


ces, são sempre relações centesimais entre duas medidas, e são emprega-
NOÇOES GERAIS DE ANTROPOLOGIA E IOENT1FICAÇAO ANTROPOlOGICA 105

dos tanto para as especulações em tomo da origem étnica como para a


investigação do sexo".

a. {"dice largllra-comprimento do cr/Jnio: relação centesimal entre a dis-


tância biéurica (largura máxima) e a distância glabela-metalambda
(ou opistocrânio).

De acordo com este índice, os tipos cranianos são;


Dolicocrânio x -74,9
Mesocrânio 75,0 - 79,9
Braquicrânio SO,O - Y

b . {"dia alh"a-comprimento do crl1l1;o: relação centesimal entre a distân-


cia básio-vértice e a distância glabela-metalambda, com os seguin-
tes tipos:

Platicrânio x - 69,9
Mesocrânio 70,0 - 74,9
Hipsicrânio 75,0 - Y

c. {ndice altura-largura do crânio: relaçâo centesimal entre as distâncias


básio-vértice e biéurica. 1ipos:

Tapinoc.rânio x - 91,9
Metriocrânio 92,0 - 97,9
Estenoc.rânio 98,0 - Y

d. {ndice médio de alfum do crlJ"io (Fr6es da Fonseca): relação entre a


altura do crânio e a média entre o comprimento e a altura. A altura
pode ser básio-bregma ou aurfcuJo-bregma, dando origem a duas
classificações:

1. Para a altura básio-bregma:


Crânios baixos x -79,9
Crânio médios 80,0 - 84,9
Crânios altos 85,0- Y

2. Para a altura auriculcrbregma:


Crânios baixos x - 67,9
Crânios médios 68,0 - 71,9
Crânios altos n ,o- y
106 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDEf.lT1ACAÇAO ANTROPOLOGICA

e. {ndia cefálico basal (Fr6es da Fonseca): relação entre as distâncias bi-


auricular e násio-ínio. Não foram determinados valores que permi-
tam classificações.

f. Indice de aptwsifo craniana (Fr6es da Fonseca): relação entre o diâ-


metro basaJ médio e a curva craniana média.

o diâmetro basal médio representa a média entre as distâncias bi-


auricular e násio-ínio; a curva craniana média é representada pela
média das curvas biauricular e násio-ínio. Não existem classifica-
ções.

g. flldice fociJJ1: re1ação centesimal entre násio-sinfísio e bizigomático.


Tipos:

Euripros6pio x - 84,9
Mesoprosópio 85,0 - 94,9
Leptoprosópio 95,0 - Y

h . (lIdice focinl slIperior: relação centesimal násio-próstio e bizigomáti-


co, com os seguintes tipos:

Grupo euripros6pio:
Face muito larga ou muito baixa x - 44,9
Face larga ou baixa 45,0 - 49,9
Mesoprosópio 50,0 - 54,9

Grupo leptoprosópio:
Face estreita ou alta 55,0-59,9
Face muito estreita ou muito alta 60,0 - Y
i. {"dice nasal: relação centesimal entre il abertura piri(orme e nasio-
espinhal. Tipos:

Leptorrino x·47.9
Mesorrino 48,0 -52,9
Platirrino 53,0 - Y

J. {"dice condilimlO occipital de &udoin: relação entre a largura máxima do


côndilo occipitaJ e seu comprimento máximo. Idealizado para a inves·
tigação do sexo, nem sempre rundona bem. Valor menor do que 50
caracteriza o sexo masculino; valor maior do que 55. o sexo feminino.
NOÇOES GERAIS DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇAO ANTROPOLOGICA 107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Favero, F. Mtdicilla Legal, 9 ed ., São Paulo, Martins, 1973.
Frasseto, F. Laiaui di Alltropologia, 2 ed. Milão, Hoepli, 1918.
Kluckhohn, C. Autropa/agia, 200. México, 1951.
Roquetle Pinto, E. Nota sobre os tipos antropológicos do Brasil. Atas e Trabalhos do l'
eo'lgresso Brasileiro de Eugellla, I" vol. Rio de Janeiro, 1929.
Simas Alves, E. Medicilla Legal e aeoutologia, Curitiba, 1965.
CAPíTULO 8

NOÇÕES DE
BIOTIPOLOGIA

MOACYR DA S ILVA

INTRODUÇÃO

Iniciando este capítulo, convém recordar algumas definições de identi-


dade. Em primeiro lugar, lembra-se a de Araújo (1957), para quem
"identidade é o conjunto de caracteres que individualizam uma pessoa
ou uma coisa".
Para Simas Alves (1965) é o "conjunto de caracteres nsicos, funcionais
ou psíquicos, normais ou patológicos que individualizam determinada
pessoa".
Os aspectos relativos aos ca racteres somatosc6picos e somatométricos
foram objeto do Capítulo 7. No entanto, quando os autores se referem à
individualização, esta pressupõe a individualidade psicossomática, obje-
to da biotipologia, e sobre a qual serão tecidas algumas considerações
complementares ao que já foi tratado em outros momentos da presente
obra.
Duarte Santos (1941), biotipologista português, utiliza uma termino1o-
gia deveras interessante que permite compreender O conceito de biótipo.
Para esse autor o biótipo compreende o tipo morfológico, isto é, a consti-
tuição morfológica do indivíduo, ou seja, a parte estática; o temperamen-
lo, que compreende a parte dinâmico-fisiológica, o cardla. que corresponde
'09
110 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlFICAÇ,i,O ANTROPOLÓGICA

ao componente volitivo-afetivo, e a inteligência, que é o componente cog-


noscitivo, intelectual do indivíduo.
Os dois primeiros, ou seja, o tipo morfológico e o temperamento,
caracterizam a individllalidade {/Sien, Os dois últimos, isto é, o caráter e a
inteligência, caracterizam a individualidade psíquica ou personalidade. Por
sua vez, a somat6ria da individualidade física mais a individualidade
psíq uica vai representar a fotalidade, a sín tese final, o indivíduo em seu
conjunto, ao qual se denomina bi6tipo.

PRINCÍPIOS FUNDAMEN1l\lS DA
BIOTIPOLOGIA

Segundo Berardinelli (1942), os principias fundamentais da dOlltriTla


cOllStilllciollalista são os seguintes:

1. Todos os indivíduos são diferentes; não há duas pessoas iguais.


2. O mesmo indivíduo é diferente de si mesmo a cada momento-
momentos condicionais.
3. As diferenças individuais não são caóticas, obedecem determinadas
leis.
4. O indivíduo é uma unidade, havendo indissolúvel correlação entre
suas diversas partes e funções.
5. Dentro das diferenças há semelhanças que permitem agrupar os
indivíduos em tipos.
6. O conhecimento do indivíduo "normal" deve preceder e servir de
base ao estudo do indivíduo patológico.
7. Na gênese das doenças, as reações individuais têm importância
igualou superior às causas externas.

Chamamos a atenção para a relevância dos pri.ndpios acima, não s6


para qualquer profissional que se dedica à área da saúde, mas principal-
mente para aqueles que desenvolvem suas atividades no campo pericial.
Basta atentar para o primeiro prinápio quando se pensa em identifica-
ção médico-lega1. E, quando comparado o indivíduo consigo mesmo, a
utilização dos prinópios de fisiologia e patologia será de grande valia,
mesmo porque essas diferenças podem ser analisadas em grupos popu-
lacionais com o emprego dos métodos estatísticos (distribuição normal),
permitindo agrupar os diferentes biótipos (normolíneo, brevilfneo, lon-
gilíneo).
NOÇOES DE BIOTIPOlOGtA 111

CONCEITO DE NORMALIDADE

Segundo Arbenz. (1988), quando analisado apenas o aspecto morfológi-


co, o "normal" será definido através do método estatístico. Assim, no

II estudo de detenninado elemento, mensurável ou ponderável. obtidos os


valores, organiza-se uma distribuição de freqüências, após o que será
calculada a média (X) - valor de tendência central- para posteriormente
calcular-se o desvio padrão (5) - medida de variabilidade, para definir-
I
se o "normal" através desses parâmetros.
Segundo o biotipologista Rautmann (apud Berardinelli, 1942), seriam
enquadrados como normais os indivíduos compreendidos entre a média
e mais ou menos um desvio padrão (68,'70/0 dos indivíduos).
Bauer (apud BerardineUi. 1942), por sua vez, é mais exigente, admitin-
do como normal uma oscilação de dois desvios padrões para mais e para
menos em tomo da média (abrangência de 95,5% da distribuição).
Já o biotipologista Viola (aplld Berardinelli, 1942) tem uma colocação
mais abrangente, considerando três desvios padrões para mais e para
menos como normais - 97,7% dos indivíduos estudados.
Por outro lado, muitos biotipologistas preferem utilizar a amplitude
interquartilar para considerar os indivíduos como normais, abrangendo
50% da distribuição, ficando 25% para cada lado.

CLASSIFICAÇÃO DE BARBARA E
BERARDINELLl

Nos estudos que tinham por objeto a biotipologia, os pesquisadores se


fixavam apenas na relação entre tronco e membros. Inovand o essa abor-
dagem, Mario Barbara publicou trabalho intitulado [folldamenti del1a era-
ui%gia cosfitllziollalistica, em 1933, no qual evidenciava as relações exis-
tentes entre o crânio e o indivíduo como um todo. Esse autor considerou
que a porção nasal da face corresponderia à porção torácica , enquanto a
porção bucaJ da face teria relação com a porção digestória, correspon-
dendo a somatória das duas ao tronco do indivíduo. Por outro lado, as
medidas do crânio cerebral estariam relacionadas com os membros.
Dessa forma, os indivíduos que tivessem preponderância das medi-
das da face deveriam corresponder ao biótipo do brevilineo, e os indivf-
duas que tivessem preponderância das medidas do crânio cerebral
seriam considerados longilineos. Quando houvesse um equilíbrio entre
112 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IOENTJACAÇÃO ANTROPOLOGICA

eRAMo

Ca,p;, . . .

""""
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• • ooooooOO ________
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~~oo N~NNNNNftft

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POf<çAo
BUCAL
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NOÇOES OE BIOnPOLOGIA 113

CRANIO

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BUCAL

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114 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOlOGICA

Quadro 8 -2. Classific8ÇAo de Barbara. com li nomencliltunII modificada por Arbem:

Fórmula

Crlnlo Cerebral Crinio Vi.ceral Cluatllcaçio

-"'-
O O No.mo""""
• • • M"""",""" """""""

O •
O
Breve/lnao nonnocerebRll
Br8Yilineo nonT'IO'o'Isceral
• meno<
maio<
• elevllíneo excedente
Bravlllneo deficiente
•O Brevilln90 anlagOnlco

O
Longillneo nonnovtsceral
longHlneo normocerebral

""""
menc<
• LongiIfneo exceden'e
LongiIineo dekklnl8
• LongiUneo antagOnico

os resultados das mensurações da face e do crânio cerebral, estariarnos


diante de um individuo normolíneo.
Para a determinação do biótipo craniofacial. devem ser tomadas as
seguintes medidas:

Crânio cerebral - g labela·opistocrânio (comprimen to máximo do


crânio)
biéurio (largura máxima do crânio)
básio-vértice (altura do mnia)

Crânio facial - násio-mento (aJtura da face)


bizigomático (largura da face)
esfeno-básio-próstio (profundidade da face)

Essas mensuraçõe5 (oram simplificadas com os trabalhos de Arbenz e


cols . (1966), Moucdcy (1970), Abramowicz e cols. (1960) e Silva (1978),
desenvolvidos na disciplina de Odontologia Legal da Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo.
Para a determinação do biótipo, utiliza·se a tabela de Barbara·Berar·
dineLU, analisando 05 desvios para O crânio cerebral e para o crânio vis·
cera!, que serão interpretados na classificação proposta por esses auto--
res com a nomenclatura ligeiramente modificada por Arbenz (1983).
NOÇOES DE B10TIPOlOG1A 11.

REFERÊNCIAS BrnUOGRÁFIcAS
Abramowicz d IJJ_ Estudo genético e antropológico de uma col6nia de holandeses do
Brasil. Rcu d~ Antropol, 1960. 8(1).
Araújo AP. Manual d~ DtJdüoscopiD. São Paulo, Escola de PolIda, 1957.
Arbcnz CO. Compbtdio d~ M~didlUl Ltgal. Atheneu, Rio/São Paulo, 1983.
Arbenz CO ti aI. Comportamento da latitude eu ryon em uma amostra de 1.718Indi-
vfduO!l. Rev FIU Odollt S Paulo. 1966, 4(1):67.
ArbenzGO. Mzdidn&l Lzgal ~ APltropolog;" FOrmM. Atheneu, Rio/ São Paulo, 1988_
Barbara M. 1frmtLtm~Jltl d~llQ cnmioIogia costllunonalishal. Roma, Pozzi, 1913
Berardinelli W. Tratado d~ Biotipologill ~ P'dologill Constitudmud. 4 ed. Rio de Janeiro.
Francisco Alves, 1942.
Duarte Santos LA. Biotípo/agia HUmDlIlI, São Paulo, Acadêmica, 1941.
Moucdcy A. ContribuiçJo para o estudo da detenninaçlo da altura do aAnlo fadal
em indivíduos vivos. Rev fac Odemt 5 PQUW, 1970; 8(1):2m.
Silva M. Contribuiçio para o estudo cefalométrico e biotipológico dO! Indios
Parakanãs do Igal1llpi do lontra (pará, Brasil) e sua importância na aracleri-
zaçlo de uma populaçJo isolada. Tese (Doutorado) Faculdade de Odontologia
da Universidade de São PauJo. São Paulo. 1978.
Simas Alves E. M~did'ltl Ltgal ~ Dtolllologilz. Curitiba, ediçaio do autor, 1965
CAPíTULO 9

ESTIMATIVA DO SEXO
PELOS ELEMENTOS DO
CRÂNIO

MOACYR DA S ILVA

A estimativa do sexo tem seu valor no campo da odontologia legal, prin-


cipalmente quando é encontrado um crânio separado do esqueleto.
É importante que façamos alglUlS comentários sobre a pesquisa de
diferenças sexuais existentes no crânio e que se referem, principalmente,
às conseqüências de possivel fragilidade da musculatura feminina. Nos
grandes súnios e em raças humanas primitivas e extintas, essas diferen-
ças eram muito pronunciadas, mas nos grupos humanos recentes estão
grandemente reduzidas. Por essa razão, a diferendação, no que se refere
ao sexo, é duvidosa em crânios humanos modernos.
Sem pretender que a exposição que faremos a seguir constitua ele-
mento de valor absoluto para a estimativa do sexo, será sempre mais
algum indfcio que poderemos acrescentar em uma investigação antropo-
lógica.
Pode-se dizer que o crânio feminino, com as ressalvas já levantadas,
caracteriza-se por um menor desenvolvimento de suas estruturas. Todas
as protuberâncias ósseas, cristas e apófises são menores e mais lisas. Isto
é particularmente verdadeiro no que diz respeito à apófise mastóide,
linhas occipital e temporal, eminência occipital externa e o modelado do
ângulo mandibular.
Na mulher, também as cristas supra-orbitárias são muito menos
desenvolvidas e, algumas vezes, totalmente inexistentes. A aspereza e a

117
118 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA.

irregularidade do bordo inferior do osso malar, no ponto de origem do


músculo masseter, são fortes características masculinas, mas isto não sig-
nifica, no caso dessa região apresentar-se lisa e regular, que se possa afir-
mar que o crânio seja feminino.
A falta de desenvolvimento ou o desenvolvimento insuficiente das
estruturas frontal e occipital também fornece uma certa diferença carac-
teristica no perfil dos crânios feminino e masculino.
No homem, o contorno, partindo da raiz do nariz para cima e para traz
e, em seguida, para baixo, em direção à eminência occipital, fonna uma
curva bastante suave e regular, interrompida apenas por depressões
inconstantes atrás da sutura frontoparietal e acima do osso occipital.
O contorno do crânio feminino é mais angular. A fronte eleva-se em um
aclive mais pronunciado do que no homem e a linha do perfil volta-se então
mais abruptamente para o plano horizontal. Na região occipital pode-se
observar uma mudança similar. mais abrupta, da curva em direção vertical.
Vale apenas acentuar o fato de que essas diferenças são meramente
superficiais e relacionadas com a atividade muscular.
O peso e o volume médios do cérebro feminino são mais baixos do
que os do cérebro masculinoj diferenças essas que, provavelmente, se
relacionam com qualídades puramente somáticas. Este fato explica a
capacidade ligeiramente menor do crânio da mulher (Quadro 9-1).

Ouadro 9-1 .

Crlinlo/Esltutura Sexo Ma.cullno Suo FeminIno

Fronte Mais i'ldInada. MaIs vel1leal

-
GJabe~ Mab prono.rdada M..................
Arcos supetdllates Mais saientes Menos salientes
ArticulaçAo fronlonasaJ CUMo
Aebordo supra-orbltério Rombo C"".",.
Apófise mastOide Mais robusta Menos robusta
Apófise estil6ide Mais longa e mais gtoSSa Mais cufta e mais fina
COndiIos ocdpltals MaIs longos e mais estreitos Mais curtos e mais largos

C6rdIJoo """"""'"'_ Mais robustos """de_


íNDICE DE BAUDOIN
Caracteres dos ma is interessantes são representados pelos côndilos do
occipital, que se apresentam, como já foi exposto. com caracterfsticas
ESTIMATIVA DO SEXO PELOS ELEMENTOS DO CRÂNIO ,'9
diferentes segundo o sexo, ou seja, são mais largos no sexo feminino e,
no sexo masculino, estreitados e exibindo um verdadeiro estrangula-
mento no terço médio.
Baudoin idealizou um índice condiliano, relacionando-o à base 100.
Esse autor considerava valores significativos para o sexo feminino aque-
les de 55 para cima; qualquer valor abaixo de 50 seria caracterizado
como masculino . O intervalo compreendido entre 50 e 55 constituiria
uma faixa duvidosa.

SEXO GENÉTICO

Em medicina legal, a detenninação do sexo genético tem sua aplicação


quando do encontro de fragmentos de tecidos, pêlo, manchas de sangue,
de saliva etc.
No caso particular da odontologia legal. é relevante citar a importân-
cia da pesquisa de cromatina sexual na polpa dentária, bem como nas
células de descamação da mucosa bucal.
Para células descamadas, os esfregaços devem ser feitos logo após a
retirada do material. Uma das técnicas de coloração utilizada é a do cre-
sil-violeta, assim descrita :

Fixação em álcool-éter (ãã) - 60 minutos


Hidratação: Álcool absoluto - álcool 950 e álcool 700 -1 minuto cada.
Água destilada -1 minuto
Coloração com cresil-violeta a 1%, a quente - 5 minutos
Desidratação: Álcool 950 - álcool absoluto I - álcool absoluto D - 3
minutos cada
Xilol-3 vezes, 3 minutos cada
Finalizar com a montagem
Obs.: A cromatina sexual será observada, nos núcleos das células,
mais intensamente corada. Estando presente (sexo femini no), estando
ausente (sexo masculino) .
CAPíTULO 10

ESTIMATIVA DA ESTATURA
PELOS ELEMENTOS DO
CRÂNIO

MOACYR DA SILVA

Nos processos de identificação de esqueletos, os conhecimentos de


antropologia são de suma importância, pois uma das fases desse proces-
so é a que se refere à estimativa da estatura, com a aplicação de toda
uma metodologia osteométrica que leva em consideração. principalmen-
te, os ossos longos.
No entanto, freqüentemente, quando são encontradas ossadas, nem
sempre estão presentes todos os ossos e muitas vezes apenas o crânio é
encontrado.
Nesses casos, os conhecimentos antropológicos do perito odontolegal
são imprescindíveis, pois, ausentes todos os demais ossos, tudo o que
resta são as informações que poderão ser fomecidas por aquela peça
óssea.
Carrea (1920), autor argentino, reaüzou estudos visando a proporcio-
nar dados odontomébicos que ele pudesse relacionar com a estimativa
da estatura. Nenhum autor se preocupou com a verificação da aplicabiü-
dade do método de Carrea em nossa população.
Na perfcia realizada por peritos brasileiros no caso Josef Mengele,
entre os quais estava este autor, foi utilizado o método Carrea para com-
plementar as demais estimativas e, embora se tratasse de indivíduo que
não pudesse ser considerado como pertencente à população brasileira, a
aplicabilidade do referido método foi comprovada.

121
122 NoçOes DE ANTAOPOLOGIA E IDENTlFICAÇAo ANTROPOLOGICA

A fórmula utilizada por Carrea é a seguinte:

Es ta tu Ta maxlma = ax6x1t

~
I
a =mensuração do arco em milímetros
Estatura mínima = a' x26 x. I
a'= mensuração da corda em milímetros

Para a realização do estudo em nossa população, utilizamos modelos


em gesso do arco dentário inferior e as fichas antropométricas de alunos
de ambos os sexos, do curso de graduação da Faculdade de Odontologia
da Universidade de São Paulo, pertencentes ao arquivo da disciplina de
odontologia legal.
Pertenciam ao sexo masculino, fichas antropométricas e modelos de
66 alunos, e 96 modelos e respectivas fichas antropométricas, ao sexo
feminino.
Tivemos o cuidado de selecionar, para o estudo, somente indivíduos
leucodermas.
Utilizando o método de Carrea, mensuramos os incisivos central e
lateral e os caninos inferiores com o auxílio de um paquímetro, para
obtenção da "corda", figura geométrica formada pela mesial do incisivo
central até a distai do canino. E, para a obtenção do "arco" formado por
esses dentes, também mensurados da mesial do incisivo central até a
distai do canino, utilizamos uma fita milimetrada .
Como Carrea não explicita em seu trabalho se utilizou o lado esquer-
do ou o lado direito, tivemos o cuidado de proceder à mensuração,
segundo o que foi descrito, para ambos os lados.
Os resultados obtidos estão descritos nos Quadros 10-1 e 10-2.
Embora tenhamos trabalhado, em nossa amostra, com leucodermas
brasileiros natos, pudemos verificar que ela é bastante heterogênea,
devido a fatores de miscigenação, uma vez que no Brasil vivem indiví-
duos de correntes de imigração d os mais variados grupos é tnicos (Silva,
19n ). Este fato, do ponto de vista médico-Iega l, deve ser considerado,
pois é uma variável importante em qualquer pesquisa de investigação
antropológica.
Na referida pesquisa, alguns casos aparecem como "impossibilidade
de cálculo" porque os elementos dentários necessários para a aplicação
ESTIMATIVA DA ESTATURA PELOS ELEMENTOS 00 CRÂNIO 123

Ou.dto 10· 1. VaIOfe5 d. médil , desvio padrlo a erro padrio di médll , Clk:utadOI para
leucoclermas femminos. lados direito I esquerdo

p.tlm.trol Emo

Lido M .... """'"


p,adrlo
.0<1<10
"- midl.
Direito: diferenças negauva. em
relaçio .li media 7, 7 5 ,16 0,70
Direito: diferenças positivas em
telaiio li m~.
ESQUerdo; diferenças negativas em
.,. 6,59 1,098

relaçio I m6d.la 7 ,' 5.46 0,78


esQUerdo: d iferenças POSltlVIS em
rellçlo I m6dJ. 7 ,3 6,26 0,97

Ouadro 10·2 , Valores da m6d il , desvIO padrto e eno padrJo da m6chl, CIIlculldos pari
leucodermu masculinos. lado. direito e esquerdo

Perlmetro. E,,.
Desvio pldrlo
Lado M6d11 p.drlo di midll
DlrlltO: diferenças positivas em
relaçio .. m6dJa .,. 10,40 1,62
DlrailO: diferença. poslIIYa. em
relaçlo .. rMd.1
El querdo: dlferençaa negatrvl' em
.,. 4.83 1,008

relaçlo .. m«IIl . ,3 7,69 1,216


E'Querdo: diferençlls POSitiVas em
releç io .. média . ,0 5 .93 1,21

da metodologia de Cama apresentavam apinhamento ou outra anoma-


lia.
Estatisticamente, foram calculados os seguintes parâmetros: média ôh
desvio padrão (5) e mo padrão dn média (SXJ.
Os cálculos desses parâmetros tiveram a finalidade de observar o
comportamento das diferenças entre a estatura real do indivíduo e a
estatura média estimada pelo método utilizado. Aplicada a fórmula para
a corda. estimávamos a estatura mínima do indivrduo e, da mesma
(orma, apUcado o método para o arco, obtínhamos a estatura máxima .
De posse dos resultados da estatura mínima e da estatura máxima, cal-
culávamos a estatura média . Com os resultados obtidos para a estatura
média eshmada, estes eram comparados com a estatura real do indiví-
124 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA. E IDENTlACAÇÃO ANTROPOLÓGICA

duo, constante da ficha antropomébica. Havia diferenças para mais ou


para menos, razão pela qual trabalhamos. estatisticamente. esses dados.
de forma a chegar ao erro padrão da média (SX), que nos permitiu, pro-
babilisticamente, estimar a variação no nível de 5% em tomo da média
estimada.
Chamamos a atenção para o fato de que o cálculo do erro padrão da mé-
dia foi realizado para as diferenças positivas, alguns milímetros acima da
estatura média calculada e também para as diferenças negativas, ou seja,
alguns milímetros abaixo da estatura média estimada.
Analisando os quadros, pudemos observar que a estatura real do indi·
vlduo coincidia com o intervalo entre as estaturas mmima e máxima, em
cerca de 70% dos casos na amostra estudada .
Em face dos resultados obtidos, verifica-se que não se pode confiar
plenamente no método de Carrea. No entanto. cabe lembrar que, nos
casos de identificaçAo médico-legal antropológica, cada achado é uma
contribuição valiosa para o perito chegar às conclusões finais, devendo o
método continuar a ser utilizado, levólndo--se em conta o grau de confia-
bilidade demonstrado.

REFERí NCIAS BmUOGRÁFlcAS


Carrea ru. Ensayos Odontometricos (tese Fac. Ciencias Uniyersidad Nacional de
Buenos Ayrcs). 1920. Buenos Airl!5
Silya M, Estudo antropométrico da extremidade cefálica de leucodermas adultos de
ambos os sexos. da regilo do Guaraú Jacupiranga, Estado de 510 Paulo. São
Paulo. 1971 (Tese de doutoramento. Faculdade de Odontologia da USp).
CAPíTULO 11

ESTIMATIVA DA IDADE PELO


EXAME DOS DENTES

HILDA FERREJRA CARDOZO E MOACYR DA SILVA

Considerando que o ciclo da vida compreende três etapas - desenvolvi-


mento progressivo, estabilização e envelhecimento ou regressão - , e que
em cada uma dessas fases encontram-se sinais que permitem uma apro-
ximação da idade real do organismo examinado, tem-se buscado, no
decorrer do tempo. desenvolver e aprimorar técnicas de estimativa da
idade. utilizando-se parâmetros indicativos da evolução ou involuç30
orgânica.
Via de regra, quanto mais jovem for o organismo examinado, maior
aproximação da idade cronológica poderá ser obtida e isto porque o
desenvolvimento, do qual o crescimento é parte integrante e constitui a
primeira etapa, ainda que apresente variações individuais, tende a
seguir determinado padrão. Além disso, as alterações que ocorrem no
organismo, nos primeiros anos de vida, são mais numerosas e mais mar-
cantes. É evidente que a avaliação deve ser realizada com base em parâ-
metros elaborados para grupos populacionais semelhantes àquele do
examinando, como veremos adiante, vários fatores interferem com o
desenvolvimento, e a margem de erro será tanto menor quanto maiores
forem as condições de similaridade entre o examinando e os sujeitos da
amostra utilizada para O estabelecimento dos valores médios. Segundo
Arbenz (1988), o ideal seria a elaboração de tabelas regionais, o que nem
sempre é possível.
A estimativa da idade pode ser realizada utilizando-se dados gerais:
estatura, peso, presença de rugas etc.; caracteres sexuais secundários:
125
126 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

presença e coloração de pêlos (pubianos e axilares), desenvolvimento de


genitália externa; presença de mamas; desenvolvimento ósseo e desen-
volvlmcnto dentário.
O método ideal seria aquele em que todos os itens dtados anterior-
mente fossem considerados, chegando-se a uma estimativa baseada no
somatório de todos os dados. Trataremos aqui apenas dos métodos que
procuram estimar a idade, analisando dados fornecidos pelos elementos
dentários ,
Estudos têm demonstrado que os elementos dentários são as estrutu-
ras orgânicas que fornecem os melhores subsídios para a estimativa da
idade. porque, ao que tudo indica, solTem menos interferência de fatores
sistêmicos e de desnutrição, que afetam sobremaneira a maturidade
orgânica e o desenvolvimento ósseo. Além disso. o estudo da evolução
dentária possibilita a análise de um número considerável de dados,
diminuindo, assim, a margem de erros. O desenvolvimento dentário vai
da vida fetal até por volta dos 21 anos de idade. Também os fenômenos
involutivos poderão ser pesquisados, seja na dentição deddua seja na
permanente.
Saliente-se que o termo dentição designa um processo que se inicia
com o espessamento do epitélio da camada basal e se encerra com a
perda dos dentes (por queda senil dos mesmos, por reabsorção patológi.
ca ou por remoçâo cirúrgica) . ~ um termo que designa uma série de
fases, tendo, portanto, um sentido dinâmico. Dentadura, por sua ve2, é o
conjunto de dentes de um indiv(duo em uma determinada fase de sua
vida . Tem sentido estático. Quando realizamos exame pericial com vistas
a estimar a idade. analisamos a dentadura, isto é, uma condição dentária
que deve caracterizar uma certa fase da vida daquele indiv(duo.
Assim sendo, na estimativa da idade pelo exame dos dentes, busca·
mos coletar dados que nos informem, em um primeiro momento. em
qual fase se encontra a dentadu ra em exame para, em seguida, estimar·
mos a idade do examinando.
A estimativa da idade pelo exame dos dentes, tal como os outros
métodos, fornecerá uma idade mais próxima da idade cronológica,
quanto mais jovem for o examinando. As variações nos estágios de
desenvolvimento dos elementos dentários são menores nas fases mais
precoces. Também nesses casos, a gama de informações será maior, em
razão da existência de maior número de dentes em fonnação. o que
permite um resultado mais aproximado. A medida que a maturação
dentária vai-se comp letando, diminui o espectro de informaçôes até
restringir-se aos terceiros molares, que são os últimos a se desenvol-
ver.
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME DOS DENTES 121

Os métodos de estimativa da idade mediante análise da dentadura


preconizam o estudo da dentição permanente. As informações coletadas
dizem respeito a mineralização, erupção, presença de patologias (cáries,
e.xodontias e periodontopatias) ou, ainda, de sinais de envelhecimento
(usura fisiológica).
A avaliação da idade dentária pode ser realizada mediante exames
direto e indireto. O primeiro é feito por meio de exame clínico, onde se
verificará o número de dentes irrompidos, seqüência eruptiva (no caso
de o examinando encontrar-se nas idades em que ocorre o desenvolvi-
mento dentário) e estado geral dos elementos dentários (cáries, e.xodon-
tias, desgastes etc.).
O exame indireto é feito pela análise de radiografias intra e extrabu-
cais. Nesse tipo de exame é possfvel avaliar os itens constantes do exame
direto e, principalmente, aqueles relacionados à mineralização dentária.
A análise desta última é considerada um indicador mais fiel da idade,
posto que sofre menos interferência de fatores que afetam a erupção e,
também , permite a coleta de informações que vão desde o início da
mineralização da coroa até o fechamento apicaL
A utilização de parâmetros fornecidos pela erupção dentária introduz.
de imediato, restrições aos resuJtados obtidos pclo fato de que examina-
mos uma condição estática restrita a poucos elementos dentários presen-
tes no momento do examc. Além dessa dificuldade inicial, deve-se aten-
tar para o fato de que o fenômeno da erupção é influenciado por vários
fatores, tais como; sexo, arco, biótipo, influências hereditárias, desenvol·
vimento dos maxilares, perda precoce dos dedduos, tipo de oclusão.
tipo de alimentação, raça. clima, situação econômico--sociaJ, ingestão de
núor etc.
No que diz respeito às variações de erupção nos sexos masculino e
feminino, vários estudos têm demonstrado a precocidade do apareci·
m~nto dos d~ntes nas meninas em relação aos meninos. Esta variação é,
em média, de seis meses para o primeiro molar e de três meses para os
demais dentes. As exceções ficam por conta dos segundos pr~molares
inferiores e o segundo molar superior.
Não se encontram diferenças significativas entre os hemiarcos, porém
os elementos dentários da mandíbula, via de regra, erupcionam mais
cedo do que seus homólogos da maxila .
O biótipo parece interferir com a erupção, tendo sido notado que esta
se faz precocemente nos longilfneos, em relação aos normolíneos e brevi-
Iincos. Em crianças magras. a erupção dentária é antecipada quando
comparada com as obesas.
128 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlACAÇAO ANTROPOLÓGICA

A herança tem demonstrado ser fator de peso nas variações indivi-


duais do p rocesso de erupção, tanto assim que, quando examinamos
uma criança com o objetivo de estimar sua idade, é de boa norma inves-
tigar qual é o padrão familiar de erupção dentária, o que não é fácil, já
que os pais não se prendem muito a esses acontecimentos, com exceção
do aparecimento dos primeiros dentes das dentições deddua e perma-
nente.
Ainda que a evolução dentária, da qual a erupção dentária é parte, seja
menos influenciada pela desnutrição do que o desenvolvimento ósseo, se
o quadro de desnutrição for grave ele acaba por interferir no desenvolvi-
mento dentário e, conseqüentemente, na erupção dos mesmos.
A perda precoce dos dedduos irá retardar ou acelerar a erupção d o
sucessor permanente, dependendo da época de sua esColiação. Assim é
que, se a perda ocorre antes do término da formação coronária do per-
manente, este sofrerá retardo na sua erupção; porém, se a esfoliaçào do
dedduo se fizer quando o permanente já se encontra em fase de fonna-
ção radicular, a sua erupção ace1erar-se--á. o mesmo ocorrendo quando o
dedduo ~ acometido por processo infeccioso. Tanto a precocidade como
o retardo na erupção do permanente são verificados analisando-se a
erupção do homólogo do hemiarco integro.
Os estudos analisando os fenômenos evolutivos dos dentes têm
demonstrado, continuamente, que eles variam entre povos diferentes,
daí porque não se recomenda a utilização de tabelas estrangeiras quando
se faz estimativa de idade em nosso país.
Nas regiões de clima quente observa-se precocidade na erupção.
quando comparada com a verificada em climas frios. Estudo realizado
com crianças americanas residentes no Rio de Janeiro, filhas de funcio-
nários da Embaixada Americana e freqüentadoras de escola americana,
mostrou precocidade na evolução dentária quando foram comparadas
com as crianças da terra natal de seu país, O inverso ocorreu com refe-
rência à evolução osteoesquel~tica, que se mostrou retardada em relação
às crianças residentes nos Estados Unidos.
Crianças de níveis socioeconômicos médio e elevado apresentam pre-
cocidade do processo de erupção dentária, quando comparadas com
aquelas de nfvel socioeconômico baixo.
No que tange à ingestão de flúor pela criança, verificou-se retardo na
erupção dos dentes; porém, ao que tudo indica, este fenômeno não está
correlacionado ao d esenvolvimento dentário e sim à incorporação d e
núor pelos ossos maxilares, dificultando fi sua reabsorção, com conse-
qüente demora na erupçAo dentária .
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME DOS DENTES 129

Dentre as perturbações sistêmicas que podem interferir na erupção


dentária, as mais conhecidas são o hiper e o hipotireoidismo, que cau-
sam, respectivamente, aceleração e retardo no processo em questão. Por
ourro lado, em estudo realizado por Brauer (Bahador, 1942), verificou-se
que examinandos portadores de diabetes melito, bem como portadores
de sífilis congênita, não apresentaram desvios da evolução dentária,
incluída a erupção, quando comparados com um grupo de indivíduos
que não apresentam tais perturbações.
Ainda vale salientar que as inclusões dentárias podem conduzir a
erros quandp se analisa simplesmente a erupção, posto que as ausências
de elementos dentários podem ser interpretadas como dentes não-erup-
donados, o que levaria a uma subestirnativa da idade. Da mesma forma,
as oligodontias podem conduzir a esse tipo de erro de interpretação.
Os exrranumerários poderão originar confusões, especialmente nos
casos em que procuram imitar a morfologia dos dentes normalmente
presentes nos arcos. Já as anodontias parciais ou totais, por estarem asso-
ciadas a outras alterações, chamam a atenção de imediato. Também as
inversões de erupção poderão atrapalhar o raciocínio pericial, especial-
mente quando da análise da seqüência eruptiva .
O perito deve estar atento para todos esses fatores quando contar
somente com o recurso do exame clínico para emitir o seu juízo.
Reiteramos ser desaconselhada a utilização desses parâmetros isolada-
mente, posto que a simples análise da erupção pode levar à margem de
erro de 50%, o que, segundo Brauer (Bahador, 1942), se constitui em
mero exercido de adivinhação, pouco condizente com a prática científi-
ca. Cite-se, por exemplo, os terceiros molares, conhecidos como dentes
dos 18 anos, mas que aparecem nos arcos dentários em idades diversas
e, muito freqüentemente, não surgem na cavidade bucal.
O processo de erupção dentária compreende três fases: pré-erllptlva,
préfuncional e funcional. A primeira corresponde ao tempo decorrido
entre o início do desenvolvimento do dente e a completa formação da
coroa; a pré-funcionaJ começa com a formação da raiz e se estende até O
momento em que o dente se coloca em contato com o antagonista, isto é,
entra em oclusão; daí em diante temos a fase funcional. Para as perícias
que consideram a erupção ~entária como referencial, interessa a fase
pré-funcional, que corresponde, em úJtima análise, à fase de erupção.
Evidentemente, para se utilizar a erupção dentária na estimativa da
idade, deve-se estabelecer um critério sobre quando considerar o dente
como irrompido, já que, como vimos, a fase considerada compreende o
aparecimento do elemento dentário na cavidade bucal até a sua oclusão
com o antagonista. Aconselha-se a utilização do critério de Ponková e
130 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

Cescolov, que consideram o dente irrompido quando uma parte da


coroa é visível: borda incisaJ nos anteriores ou vértice de cúspide nos
pré-molares e molares, o que na prática se traduz pelo momento em que,
no exame clinico, o explorador toca no tecido dentário.
A literatura é pródiga em tabelas de cronologia de erupção, porém,
como já ressaltado anterionnente, aconselha-se o uso de tabe1as rompa·
rativas realizadas com grupo populacional com características semelhan-
tes àquelas do examinando. Dessa maneira, entre nós. aconselha-se a uti-
lização das tabelas de Arbenz e de Mendel, que ostentam valores relati-
vos à cronologia de erupção e seqüência eruptiva, respectivamente.
Arbenz (1961) realizou um estudo examinando 2.030 crianças: 1.091
do sexo masculino e 939 do sexo feminino, leucodermas, biasileiros,
estudantes de escola pública. A idade da população examinada variou
dos 7 (idade mínima para matrícula) aos 13 anos. ou seja, de 84 a 167
meses. Dos seus achados pôde ser destacado que, para um dado número
médio de dentes erupcionados, a idade das meninas era cinco meses
menor do que a dos meninos com esse mesmo número de dentes. confir-
mando resultados de outros estudos.
A partir dos resultados encontrados. o autor construiu uma tabela
(Quadro 11-1) a ser aplicada em processos de estimativa da idade, consi-
derando as diferenças entre os sexos masculino e feminino e de acordo
com o número de dentes irrompidos.
Mendel (1968), por sua vez, propôs o aperfeiçoamento dos métodos de
estudos da sequência eruptiva dos dentes permanentes, considerando a
idade mínima na qual tal elemento estivesse presente e a idade máxima
em que o mesmo estivesse ausente. Realizou seu estudo examinando
1.200 crianças judias do grupo Ashkenazim, residentes na região urbana,
de nível socioeconômico elevado e matriculadas em escolas particulares.
Os sujeitos da amostra foram divididos por sexo, e as idades foram
calculadas com intervalo de freqüência de três meses. Foram tabuladas
as freqUências de cada dente em particular, e de cada dente combinado
com cada um dos demais. Esses dados foram devidamente compilados,
resultando em uma tabela que pode ser utilizada para a estimativa da
idade. Evidentemente, essa tabela (Quadro 11-2) apresentará resultados
melhores se usada em população específica. No caso da utilização desta
tabela em individuas miscigenados, deve-se atentar para as variações
inevitáveis e, de preferência, não ser utilizada isoladamente, mas em
combiní.'lção com outras tabelas e outros dados relativos ao desenvolvi-
mento geral do examinando.
A referida tabela considera as variações entre os hemiarcos direitos e
esquerdos e aT'COS superiores e inferiores.
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME. DOS DENTES 131

QUldro 11-1 . Estimativa da Idade em meses complfl105, por ponto e por Intervalos (imitas de
confiança de 80 e 95%), segundo o 18)(0, a em funçAo do nUmero da dentes pel1'T'l8Ollnles

' '"' ' ' ' '


Nümero. d.
S.xo M•• cunno S.xo f'flmlnlno
den tes
permenentll Eslimlllvl Umltes d. confllnçl Eatlmllivl Um1! .. de confllnçl
Inompldoa pM ponto 80", ' 5" por ponfO 80" .5",

O 8. 8' 8' 8.
1 8. 8. 8' 8.
2 8. 91 8' 85
J
.,
87 '5 8' 90
•5
6
7 88
..
95

103
100
104
108
111
88
90
••
.8
95
••103
lO'
••
10
11
'0

.
93
96
106
lO.
112
115
"'
118
121
12.
.,••
85
88
101
104
107
110
10.
113
116

12
13
102
105
88-118
89-121
127
130
97
100
113
84-1 UI
"'
122
125
14 108 92-124 133 103 87-119 128
15 111 95-127 86-136 lO. 90-122 131
16 98-130 89-139 109 84- 134
17
18
"'
117
120
101-133
104-136
92-142
95-145
112
115
93-125
95- 128
99-131
87-136
9().140
19 123 107-139 98-148 118 102-134 93-143
20 12' 11o.U2 102- 151 121 105-138 97-148
21 130 114-,4e 105-154 125 109-'4' '00-'49
22 133 117-149 108-158 128 112-144 104-153
23 137 121-153 112-161 132 116-'48 107- 157
24 141 125-157 116-16 5 136 120-152 111 -18'
25 145 129-181 121 140 124-157 116-185
26 151 134- 167 126 146 128-1 62 121
27 157 141 132 162 136 128
28 165 149 140 160 14' 135

Na prática, se existe a possibilidade da utilização de radiografias, isto


é, da análise da mineralização dos elementos dentários, os Quadros 11-1
e 11-2 auxiliam no estabelecimento do intervalo de idade com que se
deve trabalhar. Isto é, ajudam a elimina r valores muito discrepantes
apresentados na tabela de mineralizaçao dos dentes.
Desde que exista a possibilidade de utilização de radiografias, o méto-
do de eleição para a estimativa da idade de individuos jovens é o da aná-
lise das diferentes fases de mineralização dos elementos dentários. Isto
porque os dados referentes ~ cronologia de mineralização têm-se mostra-
do mais confiáveis, posto que sofrem menos interferência dos fatores que
132 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTlACAÇAO ANTROPOLOG1CA

Quadro' ' -2. Tabela de .eqOtncia eruptiva dos dente. permanentes_ considerando I Idade
mfnim. "I qUII ceda dente ut' presenla li li Idade mblm. em quI ,I. I.t' 8USllnll

PRESENTE AUSENTE
OENTE Id.de mlnlml Idlid. m6J1ima
11m mese. ) 'em m•••• '

Segul'Kio molll superior dllllha 123 ,.2


Primeiro moi ... S\JperioJ direito 63 93
Segundo p,'·molar superiot' diTeito 1O. '44
Primeiro pr6·mollf superior direito 67 136
Canino superior direito 105 14'
Incisivo letllld superior direito 63
Incisivo Cenlrel Iil\Jpenor direito
InCIsivo central tupanO!' esquerdo
63
63
"'
93
93
..
Incisivo ~t., superior esquerdo 03
Canino lup.rior esquerdo '0. "'
'"
Primeiro phi-moler superior esquerdo 90 14.
Segundo pr6-moler superior esquerdo 1O. 150
PTlmelfO moi., .upenOf nquerdo 63 93
Segundo mofe, superior esquerdo 123 ,.2
Segundo molar InllriO' direito '0. '.2
Primeiro molar Inle,iol direito 63 93
Segundo prt·molar Inlerior direito .9 153
Pmneiro pr6·molar inl","" dirello .9 14.
Canino Inferior direito 99 136
Incisivo laleral infenor direilo .3 99
Incisivo cenl,..1 inlerlor d1reito 60 87
Incisivo cenlra' inlerior esquerdo 6O 67
IncisIVO laleral inlerior IIlIquardo 63 99
Canino Infalk)! esquerdo 99 136
99
Primeiro pr6-molar inf",ior esquerdo
Segundo pr6-moler interior esquerdo 108 '"
153
Primeiro molar inferior esquerdo 53 93
Segundo molar interior esquerdo 106 ,.2

alteram a erupção, além de fornecerem informações sobre os elementos


dentários desde o início da formação coronária até O fechamento apical.
Vários estudos foram realizados utilizando esse tipo de análise, e em
todos ficou evidente a supremacia desse recurso. Os resultados encon-
trados {oram sempre mais próximos das idades cronológicas das crian-
ças examinadas, se comparados com aqueles fornecidos pela análise da
erupção dentária.
Para a estimativa da idade em brasileiros, aconselha-se a utilização da
tabela de cronologia de mineralização dos dentes permanentes de
Nicodemo, Moraes e Medici (1974). A referida tabela foi elaborada a par-
tir dos resultados obtidos em três estudos realizados pelos autores men-
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME DOS DENTES 133

donados, englobando a análise de todos os dentes permanentes, inclusi·


ve dos terceiros molares. Os autores, visando a padronizar as observa·
ções, consideraram oito estágios de mineralização dos elementos dentá-
rios estudados: primeiras evidências de formação da coroai um terço de
coroai dois terços de coroai coroa completa; inído de mineralização da
raiz; um terço de raiz; dois terços de raiz e término apicaJ .
O primeiro desses trabalhos foi o realizado por Nicodemo (1967), que
estudou a cronologia de mineralização por meio de radiografias penapi-
cais e extra...arais dos terceiros molares, em brasileiros da região do Vale
do Parafua, leucodermas, filhos de pais brasileiros, residentes na região
urbana, de nfvel socioeconômico médio, na faixa etária compreendida
entre 60 e 299 meses. Os seus resultados diferiram daqueles encontrados
por autores estrangeiros e de tabelas existentes (também realizadas a
partir de dados de populações estrangeiras) especialmente nos últimos
estágios de mineralização. que são mais precoces entre nós.
Moraes (1973) realizou trabalho similar ao anterior, estudando a cr0-
nologia de mineralização dos incisivos e primeiros molares permanentes
por meio de elipsopantomografias, em brasileiros leucodermas. Para
coletar os dados. utilizou-se de 47 crânios de ambos os sexos, nas idades
de Oa 36 meses. A escolha do primeiro mês de vida extra-uterina como
idade inicial justifica·se pelo fato de inúmeros estudos terem demonstra-
do que a calcificação dos dentes permanentes é, quase sempre, um pro-
cesso pós-natal, já que, ao nascimento, nenhuma calcificação é detectada
mediante o emprego de raios X, mesmo no caso do primeiro molar per-
manente que, sabidamente, inicia seu processo de calcificação na vida
intra-uterina , porém a deposição mineral é mínima, sendo detectada
somente por métodos histológicos.
Dos 36 meses até os 144 meses, Moraes realizou sua coleta de dados
em pacientes das clínicas da Faculdade de Odontologia de São José dos
Campos. Também à semelhança do trabalho de Nicodemo, seu estudo
revelou que houve retardo no início da mineralização dos dentes, acele-
rando-se, contudo, nos estágios finais, com precocidade no término da
fonnação dos mesmos, quando comparado com autores estrangeiros.
O último autor desse grupo de pesquisadores, Medici Filho (1973),
estudou a cronologia de mineralização dos dentes ausentes nos dois
estudos anteriores, ou seja, os pré-molares, caninos e segundos molares
permanentes. Também fez sua análise mediante a utilização de elipso--
pantomografias. A população estudada tem as mesmas características
daquela do trabaLho de Moraes.
A partir dos dados dos três estudos, os autores construlram uma tabe-
la de cronologia da mineralização dos dentes permanentes, considerao-
134 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

do variações entre arco superior e arco inferior. Não consideraram signi-


ficativas as diferenças encontradas entre os hemiarcos direitos e esquer-
dos e, principalmente, entre os sexos mascu.lino e feminino. A tabela ori-
ginai apresentada pelos autores teve as idades mínimas e máximas
transformadas em meses pelos docentes do Departamento de
Odontologia Social da FacuJdade de Odontologia de São Paulo, com o
objetivo de facilitar a sua utilização (Quadro 11-3).
Para a utilizaç!o do Quadro 11-3, é necessária a tomada de radiogra-
fia panorâmica, da qual se extrairão informações pertinentes aos elemen-
tos dentários pennanentes. Compara-se a imagem radiográfica de todos
os dentes em fonnação com os esquemas (Figs. 11-1 e 11-2) referentes
aos oitos estágios em análise, chegando-se a resultados bastante satisfa-
tórios.
Evidentemente, nem todos os elementos dentários se apresentarão,
radiograficamente, tal como aparecem no esquema, cabendo ao perito
realizar os ajustes necessários. Uma prática que tem demonstrado bons
resultados é aquela que considera o limite máximo da menor idade e o
mínimo da maior idade. Ao final da análise de todos os dentes, obtém·se
uma série de valores, variando de poucos a muitos meses, dependendo
da idade cronológica do examinando. O primeiro passo é eliminar as
idades discrepantes, sejam mínimas ou máximas, para posteriormente,
analisando-se todos os dentes presentes e em fase de desenvolvimento,
estabelecer qual seria o intervalo de idade provável do examinando.
Aconselha-se que a apresentação do resultado seja feita em intervalo de
meses c não em um número isolado.
Juridicamente, as perfcias de estimativa da idade têm sido solicitadas
para as idades compreendidas na primeira infância (processos de ado-
ção). 7 anos (direito à escola e ao lazer), 12 anos (término da infância e
início da adolescência), 14 anos (violência sexual) e 18 anos (imputabili·
dade penal).
A utilização dessa tabela tem mostrado resultados muito animadores
em grupos com baixa idade cronológica. Para as idades inferiores aos 7
anos, o método de análise da cronologia da mineral.ização tem apresen·
tado resultados surpreendentes, com variações de dias a 6 meses da
idade real, em grande porcentagem dos casas analisados, ainda que o
examinador não tenha familiaridade com a técnica. lsso se deve ao fato
de que, nessas idades, é grande o número de dentes que fornecem
algum tipo de infonnação para a análise, tal como pode ser verificado na
Fig. 11-3, além do que, reiterando o já referido anterionnente, as varia-
ções individuais, no que diz respeito ao desenvolvimento, são menos
acentuadas nas idades mais precoces.
m
~

"~
~

Quadro 11-3. Tabela cronológica da mneralllaÇAo dos denlêS p8l'T1"1Bn&nles entre brasileiros (Nlcodemo. MoraM e Medld FIlho) l i:
o

li
DENTE " IIYlô6ncil 113 d, 213 d, coral Inklo di 1/3 di 2/3 d. " ,mino
da mlnarllluçlo coroa corOIl completa to rn,açlo rall ,.11. .plelll
radlc:ular
m

Superiores j!!
Incl,lvo cenu.1 5-7 6-15 18-30 36-57 60-78 75-90 87· 108 100-118 o
inCISIVO lolaral 9-15 24-30 33-57 54-72 12-88 8 4. 102 96· 112 105· 117 ~
canino 5-. 12-33 36-60 60-78 76-87 90-114 111 · 141 126- 156 >
~
,. pt'-molar 27-30 48-66 57-75 78-96 87- 108 102-128 117- 138 129· 159 m
2' pr'-mol. 36-54 o
51 -66 66-84 78-102 93-117 105· 129 117- 144 141 - 159 o
~
\' mola, 1-6 6-16 18-30 36-48 54· 88 66·84 75-96 90- 104
2' molar 39·57 62-66 69-84 81 -102 102- 128 120·135 129·163 150- 162
o
3' molar 90-132 96-138 102· 156 138- 174 162· 198 180· 204 192·234 218-246 ~
m
~

Inferiores
IncisIVO central 3.9·6.1 9·12 18·27 28·45 48-66 60-78 76·96 90· 102
Incisivo lateral 4.6-5.8 7-12 18-30 18-66 54-78 68-88 80·99 92· 102
Canino 4-7 8 ·30 24· 54 51 · 72 69-93 84- 108 105-135 129-156
I" p,'-molar 27-36 45·60 51 -72 69· 90 84· 102 102· 126 114· 141 1:)2· 158
2" pr6-molar 33·54 4 6-63 66-81 78·96 93-144 108· 132 117· 144 141 -169
I " molar 1_6 6· 12 18·28 18·45 54·66 57·81 78·96 90· 10 4
2" mol.r 39-60 51 -66 72-87 84-105 102-126 117. 135 129· 153 150-165
3" mola, 90- 132 96· 138 102· 156 138· 174 162-198 18Q.204 192· 234 216-246

Oba.: O. dado. relerem·.a a me ... de vida extra-uterina jVEU) .

w
~
136 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTlF1CAÇÃO ANTROPOlOOICA

2 3 4

5 6 7 8

Figura 11 -1 .

À medida que a idade avança, os resultados tomam-se menos satisfa-


tórios. A partir dos 7 anos, a situação vai se tomando mais complexa,
considerando que, cada vez mais, o número de infonnaçOes vai dimi-
nuindo, tal como pode ser observado nas Figs. 11-4 a 11-6, respectiva-
mente. Nesse caso, aconselha-se que o perito lance mão de dados clfni-
cos (presença de cáries, restaurações etc.) com vistas a uma aproximação
mais adequada da idade cronológica.
Infelizmente. para a idade de 18 anos, aquela em que a estimativa da
idade pelo exame dos dentes é de solicitação freqüente. a situação de
análise é bastante pobre, uma vez que somente os terceiros molares per-
mitem a coleta de informes no que se refere à evolução da mineraliza-
ção. bem como da erupção, além do fato de que os referidos elementos
dentários nem sempre estão presentes nos arcos dentários. Nessas con-
dições, aconselha-se que o perito proceda a exame minudoso da cavida-
de bucal, com vistas à busca de informações de ordem clínica que pos-
sam auxiliar no esclarecimento da questão em exame.
Para melhor ilustrar tudo o que acabamos de expor, reproduzimos, ao
final do capftulo, um laudo de estimativa da idade solidtado pela Vara
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME OOS DENTES 137

2 3 4

8 'QJ R
5 6 7 8
ElItãglos de mioeraftzaçAo

Figurll 11-2.

Figura 11 -3 .
138 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlRCAÇ.A.O ANTROPOlOG1CA

do Júri . da Infância e da Juventude e Execuções Criminais, de uma


Comarca de São Paulo, com vistas à imputabilidade penal.
A partir dos 20 anos inicia-se o processo de envelhecimento ou regres-
são orgânica. Nesses casos, diante da necessidade de estimar-se a idade
do ind ivfduo, os métodos anteriores, baseados em modificações prove-
nientes da evolução orgânica, não poderão ser mais utili7..ados, devendo-
se lançar mão de dados relativos ao envelhecimento do examinando.
Tal como referido no infdo deste capitulo, nessa fase as variações indi-
viduais são muito grandes, e as modificações que se processam no indi-
víduo são menos evidentes e menos caracterlsticas do que nas (ases
anteriores, especialmente no crescimento. Por esse motivo, o intervalo de
idade encontrado em pessoas adultas é maJor do que nos jovens.
O problema da estimativa da idade em pessoas adultas roi estudado
por Gustafson (1950), que analisou aspectos da involução dentária, ela-
borando uma classificação dos fenômenos a ela ligados (desgaste oclu-
sal, periodontose, desenvolvimento de dentina secundária na cavidade
pulpar, deposição de cemento na raiz, reabsorção da raiz e transparência
do ápice radicular). Cada um desses fenômenos recebeu valor de O a 3,
de acordo com a intensidade ou grau de modificação. A soma dos pon-
tos fornece a idade aproximada obtida por meio de reta de regressão
construída pelo autor.
A técnica baseia-se na utilização de dentes monorradiculares, quando
são analisados seis pontos, a saber:

A - desgaste da superfície de oclusão;


P - periodontosc;
S - desenvolvimento de dentina secundária no interior da cavidade
p ul par;
C - deposição de cemento da raiz;
R - reabsorção da raiz;
T - transpa rê.ncia do ápice da raiz.

Segundo Gustafson, cada uma dessas observações, como já citado,


receberá notas de Oa 3. Assim:

AO - ausência de desgaste;
A 1 - desgaste leve;
A2 - desgaste que atinge a dentina;
A3 - desgaste que atinge a polpa .
ESTIMATIVA DA IDADE PElO EXAME DOS DENTES 139

Figura 11-4 .

Figura 11 -5 .

140 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇAo ANTROPOLÓGICA

Figura 11 · 6.

PO - ausência de periodontosc;
P1 - inkio de periodontose;
P2 - atinge mais de um terço da raiz;
P3 - atinge mais de dois terços da raiz..

50 - ausência de dentina secundária;


51 - infcio de fonnação de dentina secundária;
52 - dentina secundária preenche metade da cavidade pulpar;
53 - dentina secundária preenche quase completamente a cavidade
pulpar.

co - apenas O ccmento natural;


Cl- depósito de cemento maior do que o nonnal;
C2 - grande camada de cemento;
C3 - abundante camada de cementa.

RO - inexistência de reabsorção;
RI - pequena reabsorção;
R2 - grau mais adiantado de reabsorção;
R3 - grande área de reabsorção.
ESTIMATIVA DA IDADE PElO EXAME DOS DENTES 141

TO - ausência de transparência;
TI - transparência visfvel;
TI - transparência que atinge um terço da raiz;
T3 - transparência que atinge dois terços da raiz.

Após a observação de cada um dos seis fenômenos p reconizados, pro-


cede-se ao somat6rio dos pon tos:

An + Pn + Sn + Cn + Rn + Tn =soma dos pontos

Obtido o somatório dos pontos, locaLiza-se no gráfico os valores cor-


respondentes à idade fisiológica .
Para a utilização dessa técnica é necessário o preparo histológico do
dente, uma vez que os valores constantes da tabela do autor são resulta-
do de trabalho que utiliza essa metodologia. Esse fato inviabiliza a utili-
zação dessa técnica em vivos, porém a necessidade tem levado alguns
peritos a lançarem mão desta técnica mediante o uso de radiografias.
Nessas circunstâncias, chamamos a atenção para a devida adequação da
técrlica aos recursos disponíveis, considerando que a imagem radiográfi-
ca não reproduz fielmente a situação histo16gica real, tal como demons-
trado em inúmeros estudos de desenvolvimento dentário.

EXMO SR. OR o JUIZ DE DIREITO DA VARA 00 JÚRI . DA INFÂNCIA


E DA JUVENTUDE E EXECUÇOES CRIMINAIS DA COMARCA
DE .................... .

Processo n' .....

Pro" . Orfo . HILOA FERREIRA CARDOZO, responsá vel pela disciplina de


Odontologia Legal do Departamento de Odontologia Social da
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. inscrita no
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo sob o número
16.233. atendendo iII determinação do Exmo. Prof. Oro Moecyr de
Silve, 0 . 0 .• Vice-Diretor de Faculdade. para realizar PERICIA DE ESTI·
MATIVA DA IDADE e pedido do Exmo. Sr. Dr . JUIZ de DIreito da Vara
do Júri. da Inflneia e da JuvenlUde e Execuções Criminais da
Comarca de xxx na pessoa do rilu xxx (Processo n! ... 1 passa a apre-
sentar o seu laudo··············· •••• ••• •••••

HISTÓRICO : aos xx dias do mês de fevereiro de 199 ... iIIs 16:30


horas. nas dependências da Cllnica Odontológica e Serviço de
Radiologia desta Faculdade. foi apresentado pelas autoridades o Sr.
xxx para a reatizaçlo de exames clinico e radiográfico de seus arcos
142 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

Figura 11 -7.

dentários para os fins acima declinados. Nessa oportunidade relatou


que os trabalhos odontológicos presentes em sua cavidade bucal (seis
elementos dentários restaurados e um extrafdo) foram realizados
quando se encontrava recolhido a uma unidade da FEBEM, no ano de
19 ... •••••••••••••••••• • •••••••••

DESCRiÇÃO ; Exame clfnico. Hemiarco superior direito: dentes 18.


17. , 6, 15, 14, 13 e 12 fntegros e dente 11 com restauração de
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME DOS DENTES 143

Idade

90

80

70

60

50

40

30

2()

10

2 , • • ,. 12 14
,. P",1os

18
Reta de regressão de GUSTAFSON

Figura 1 '-8.

material estético na face mesiaL Hemiarco super/or esquerdo: dente


21 restaurado com material estético na face mesial; dentes 22, 23,
24 e 25 Integras; dente 26 restaurado com amálgama na face oclu-
sal; dentes 27 e 28 Integras. Hemiarco inferior esquerdo: dentes 38 e
37 Integros; dente 36 ausente por exodontia; dentes 35 , 34 , 33 , 32
e 31 Integras. Hemiarco inferior direito: dentes 41 , 42 , 43 e 44 Inte-
gros ; dente 45 restaurado em amálgama na face oclusal; dente 46
restaurado em amálgama nas faces vestibular e ocluso-distal com dis-
creta reação periapical ao nlvel das raizes distais; dente 47 restaurado
em amálgama na face oclusal e dente 48 ausente. Todos os elemen·
tOS dentários encontravam-se em oclusão. As condições de higiene
bucal mostraram-se deficientes. ······· •••••••••••••
'44 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTAOPOLOGICA

Exame radiográfico. Rlldiogrllfill pllnorlmlclI (foto 51: confirmados os


achados clfnicos referidos na Descrição. Presença do terceiro molar
inferior direito impactado e fechamento apical de todos os elementos
dentários. inclusive dos quatro terceiros molares (doc.1). Radiografias
pefÍspica;s das regiões molares com vIstas à obtenção de maior niti-
dez das condições aplcais dos terceiros molares para corroboração
das condições já assinaladas (does. 2/51.···· ••••••••••••

DlscussAo : li estimativa da id8de é um processo que se respalda no


fato de que os seres vivos, durante 8 sua existência, passam por três
estágios: desenvolvImento progressivo. estabilidade e involuçio. Na
primeira, os dados coletados são aqueles Indicativos do crescimento
orgânico; na segunda temos a constatação de que o processo pesqui-
sado j~ se completou ,fase de platô) e, na última, encontramos os
sinais degenerativos Uplcos do processo de envelhecimento. Assim
sendo, na prática pericial, o que se busca são Informações que permi·
tam estimar, dentro de cada uma dessas fases, os limites de um dado
per(odo Idias, meses ou anosl em que se encontra o organismo exa·
minado . Dentre os métodos tradicionalmente adotados para essa
investigação, aquele que se utiliza de dados referentes ao desenvolvi·
menta dos elementos dentários tem mostrado um grau de confiabili·
dade bastante aceitável, posto que, diferentemente de outros proces·
sos, é o que menos sofre interferências de fatores endógenos e e)(6·
genos, ainda que apresente os mesmos limites dos demais no que diz
respeito à diminuição de informações à medida que a primeira fase
(crescimento) vai se completando. Por essa razão, para a primeira
infância esse método tem mostrado uma margem de acerto que varia
de poucos dias li seis meses; enquanto que, no final da adolescênCia
e In(cio da maturidade, o processo torna·se dificultado em razão de
que, praticamente, todos os elementos dentários j~ atingiram O seu
esUiglo de maturação Itérmino de formação radicular com fechamento
dos éplces) e, a partir daI. tem-se uma condição estática que poderá
nos dizer que aquele individuo jé atingiu determinada idade. porém
sem nos informar há quanto tempo o fato ocorreu. Tal é a situação
no presente caso, onde pode ser constatado que todos os elementos
dentétlos encontravam-se totalmente formados , inclUSive os terceiros
molares supenores e inferiores. Tabelas de estudos de evolução da
cronologia de mineratlzação demjria elaboradas por dlferemes autotes
indicam que esse fenOmeno ocorre entre a idade mrnima de 18 anos.
com variações para idade mbima de 21 a 25 anos IR. KRONFELD,
Development and calcificstion of human$ deciduous lmd perrmment
denrition. Chicago Col!' DenLSurg.; M. MASSLER & I. SHOUR,
Development of lhe humsn dent;rian. Atlas of the mouth, Chicago,
Americs Dental Assoclarlan, 1941, In ROBERTO ANTÓNIO NlCODE·
MO: Contribuição para o estudo da cronologia da mmeralização dos
ESTIMATIVA DA IDADE PELO EXAME OOS DENTES 145

t'erceiros molares, pelo mét'odo radiognUico , em ieucodermas. brasilei-


ros, residentes no Vale do Paralha , EstlJdo de 510 Paulo_ 510 José
dos Campos. 1967. 57p. (Tese de Doutoramento - Faculdade de
Farm~cia fi Odontologia de 510 José dos Campos). p.5 6 p_6) Para
brasileiros, os valores utilizados são os do trabalho de NICODEMO,
para quem a situação dentária acima referida (fechamento aplcal dos
terceiros molares) se dá aos 18 anos como idade mlnima e 21 anos e
5 meses como Idade máxima. Esclareça-se que esses referenciais
dizem respeito 11 cronologia de mineralização dos elementos dentários
e não ao seu aparecimento na cavidade bucal. "isto que a erupção
dentária pode sofrer interferências de ordem local e geral em um grau
muito mais aCentuado do que a evolução tecidua!. Poderlamos. então.
afirmar que a situação fadlográfJca de evolução dentária do examinan-
do aponta para os limites entre 18 e 21 anos e 5 meses, ressalvando-
se. no entanto, que não se possui dados reais Indicativos do tempo
em que esse quadro fadiográflco se manifestou (que tanto poderia ser
de anos como de meses) . Outrossim. deve ser assinalado que os valo-
res encontrados pelos autores declinados dizem respeito a pessoas de
ambos os sexos e de nlvel socioeconOmico de médio a elevado. Os
mesmos não hesitam em afirmar que a maturação dentária se dá com
precocidade no sexo feminino e em pessoas de nrvel econOmico mais
alto, afirmações essas Que a prática cUnica têm demonstrado ser ver-
dadeiras, o que se explica pelos fatores indiscutr"eis de Que a mulher
chega li maturidade mais cedo do Que o homem e que, também, uma
adequada nutriçlio favorece o desenvolvimento ffsico não 56 em
tamanho e volume da massa corporal, como também em diminuição
do tempo necessário para que o fenõmeno da maturidade se comple-
te. Ainda com respeito 11 análise radiográfica. neste caso, um achado
Que merece registro é a presença do terceiro molar Inferior direito
impactado (ausência de erupçio motivada por obstáculos mecânicos).
já que este fenOmeno, no caso desses elementos dentários. esUi cor·
relacionado ao desenvolvimento tardio da dentlçio permanente (A.
BJORK B col., Msndibulsr urowth snd third moI., Impaction. Acta
Odont . Scand, Stockolm, 1956. In ROBERTO ANTÓN/O NICODEMO.
op.cit.) . Reiterando o que já foi afirmado no que se refere a esse
caso, os achados radiogrAficos enquadrariam o examinando nos limi-
tes da idade entre , 8 e 21 anos e 5 meses, mas, por outro lado, as
evidências clinicas (pessoa do sexo masculino e de nrvel socioecon6-
mico baixaI e radiográfica (terceiro molar inferior direito impactado)
apontam no sent ido de que a Idade real deva ser supe-
rior _••••••••••••••••••••• • ••••

No que tange ao exame clinico realizado, outros dados coletados cha-


mam a atençAo. particularmente o segundo pré·molar e o segundo
molar inferiores direitos , petas razões que se seguem: ambos os ele-
146 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlFICAÇAO ANTROPOLÓGICA

mentos dentários irrompem, normalmente , entre 11 e 12 anos (G. O.


ARBENZ. Medicina legal e Antropologia Forense . SIo Paulo, UvflJria
A theneu, 1988, p. 278; H. APRILE: Anatomia Odontológica. Buenos
Aires. Llbreria "EI Afenao .... '975. p . 462: G. D. MARQUES e col.:
Estudo da seqüência de erupç60 dos dentes permanentes em crianças
da cidade de S60 Paulo. Rev Fac de Odontol S. Paulo, 16 (2), p. 190.
1978J. Essas idades também têm sido observadas clinicamente. Tal
como referido no Histórico. o examinando apresenta alguns trabalhos
odontológicos que Informou lerem sido realizados em uma unidade da
FEBEM , no ano de 1986. Dentre tais tratamentos , encontram-se res-
taurações nas faces oelusais dos elementos dentários acima citados
(segundo pré-molar e segundo molar inferiores direitos) . Em sendo
assim, é fora da dúvida que esses dentes, na época dos referidos tra-
tamentos, Já s. encontrassem erupcionados há algum tempo, já que a
ocorrênCia de um processo de cárie requer um dado perrodo de tempo
de exposição na cavidade oral Ique é variável , dependendo da maior
ou menor imunidade do individuo a essas patologias) e que o perician-
do demonstrou uma alta reSistência à ocorrência de cárie, tal como
pode ser verificado pela radiografia panorâmica e pelo exame clrnlco
(um elemento dentário extrardo e seis outros com a presença de res·
taurações), ostentando uma ótima condição bucal , rara de ser encon·
trada , principalmente nos indivfduos de baixa renda. Assim, a alega·
ção de que o examinando estaria , na época do exame por nós realiza ·
do, com 19 anos incompletos nos remeteria a admitir que , à época
dos tratamentos odontológicos possivelmente realizados na FEBEM
119861, o mesmo estaria com 11 anos e, nessa idade , Já estaria apre-
sentando os elementos dentários em questão erupcionados e, mais,
necessitando de tratamentos restauradores, o que, estatística e clini-
camente, parace pouco provável. Entendemos que, diante desses
fatos, seria muito oportuna a localização da documentação odontoló-
gica relativa flqueles tratamentos Ificha clfnica e possfveis radiografias
do examinando) para que se pudesse coletar outros dados que, tal·
vez , viessem contribu ir para alucidar a questão ora apresentada .
•••••••••••••••••••••

CONCLUSÃO : a Idade radiogréfica do examinando está entre 18 e 21


anos e 5 meses de Idade, com evidências apontando para uma idade

........
superior a essas, tal como foi salientado na Discussão . ••••• • •••••

Era o que nos cabia esclarecer , colocando · nos à disposlç ào para


quai squer outros esclareCimentos que se façam necessários.
São Paulo, ... de Março de 199 ...

Prot-. Or". HllOA FERREIRA CAROOZO


CROSP·16 .233
ESTtMATIVA DA tDADE PElO EXAME DOS DENTES 147

Figura' ' -9.

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entre brasileiros. Rro Fac OdDtlloI 5lfD losi dos Cnmpos 1974, 33: 55-6.
CAPíTULO 12

ESTUDO DO CRÂNIO NA
PESQUISA DA COR DA PELE

RODOLFO FRANCISCO HALTENHOFF MELAM

A Antropologia Forense, quando trata da identificação dos despojos


humanos, inclui, em certas circunstâncias, o diagnóstico da identidade
racial.
A questão apresenta-se consideravelmente mais complexa quando
estão presentes apenas partes esqueléticas. Particularmente, o crânio
humano fornece, no entender de Giles e EUiot (1962), maior possibilida-
de para a pesquisa da identidade racial do que outras estruturas ósseas.
Como o crânio, dentre as partes do esqueleto, apresenta-se, com fre-
qüência, preservado após a morte, muitas dessas informações concen-
tram-se nas medidas cranianas, objetivando a determinação das três
principais categorias.
Entende-se a palavra "raça" como um conceito cuja fundamentação
cientffica e biológica está, predominantemente, ligada à freqüência de
um ou vários genes. As diferenças raciais são, quase exclusivamente, de
ordem quantitativa e não qualitativa, incidindo sobre um número de
genes relativamente pequeno em relação ao considerável número (deze-
nas de milhares) que forma o patrimônio hereditário da espécie.
Procurar-se-á entender a questão do ponto de vista penda!. Ao legis-
ta, como ensina Arbenz (1988), no processo de identificação humana,
interessa colher informações que, ao serem analisadas, possam, dentro
de um grau de confiabilidade científica conhecido, permitir afirmar se
determinado esqueleto apresenta características compatíveis com negros
(melanode rmas), amarelos (xantodermas) ou brancos (leucodermas).
149
150 NQÇOES DE ANTROPOLOGIA E IOENTlFICAÇAO ANTROPOLOGICA

Assim, a denominação cor de pele sintetiza. no âmbito da Antropologia


Forense, o objetivo a ser atingido no processo de análise de dados obh-
dos pelo perito.
O desenvolvimento da técnica para identificação humana, sob o
aspecl'O ffsico, pode ser classi.ficado, segundo Sassouni 0963), em duas
categorias. A primeira diz respeito ao grupo comparativo, pertencendo
às técnicas baseadas na comparação entre dados periciais obtidos e
registros previamente classificados. A identidade, obtida através de téc-
nicas desse gênero, apresenta um alto grau de (anfiabilidade e precisão.
A segunda possibilidade de abordagem pericial ooncentta--se no grupo
reconstTUtivo. Nessa categoria não há registros prévios. O objetivo bási-
co das técnicas nesse grupo é o de investigar, através do material bioló-
gico disponível, a quantidade máxima de informação pertinente à pes-
soa a ser identificada: idade, sexo, cor de pele (pigmentação cutânea).
biótipo. estatura etc. Os métodos aplicados sugerem possibilidades e
probabilidades. porem não podem obter certeza nos detalhes de identifi-
caçào do indivíduo.
Em alguns casos. métodos reconstrutivos levam a resultados tAo pre-
cisos que pennitem o achado de um registro anterior, e o caso então res-
vala paTa o grupo comparativo. Com o avanço da ciência da identifica-
ção e o desenvolvimento das maneiras de detecção. há uma inclinação
geral das técnicas do grupo reconslrutivo em direção ao grupo compara-
tivo.
As diferenças morfológicas quantitativas e proporcionais entre as
várias raças têm sido fartamente conhecidas desde o século passado.
Com freqüência são observações e estudos realizados em coleções
estrangeiras, o que dificulta, sobremaneira, sua aplicação em brasileiros.
O Quadro 12-1 mostra O resumo dos traços raciais mais caracteristicos
determinados pelo exame direto do crânio. segundo Krogman (1955).
O crânio compõe-se, em uma fase inicial da vida, de aproximadamen-
te 45 elementos ósseos (pequenas variações no número de ossos são
observadas), separados por cartilagem e tecido conjuntivo. No adulto,
esse número se reduz a 22 ossos, após a ossificação total, por volta dos
25 anos. Quatorze desses ossos encontram-se na face e os oito restantes
fonnam o neurocrânio. O tipo racial no estudo do crânio prende-se, com
freqüência, além das características observadas pelo exame direto, às
comparações entre medidas lineares, caracterizadas por índices, portan-
to, em relações centesimais entre duas distâncias (a primeira forma o
numerador, a segunda o denominador). Essas mensuraçôes exigem pon-
tos de reparo anatômicos como referência (Fig. U-1).
Ouadro 12·1 . Traço. raciais mais clracterl:strco. m
~
~
CAUCASÓIDEO c
O
NÓROIW ALPINO MEDfTERRÁNEO NEGRÓIOE MONGotOOE O
CARACTER ISTlCAS Europeu Eul'OPfiI Eul'Opeu O

..
O
do Nor1e Cenlllll do Sul
n
~

Tomamo longo Cuno Longo l ..... longo z


de .".".. Õ
Largura do
crênlo
EslTfllta lo'. . estreita E:strelta ...... z
>
~

-
~
Altura do Alta Alta Moderadamente Ballca Média O
C
"'"~ A_ _ alta
Conlomo sagital A_ Achalado Arqueado ~
largura do rosto ESITfIlta la",. Estreita Estreita Murto larga
o
>
Allura do roslo Alto Alia Modaradamente Baixa Alta n
O

AbeI1UI8 Ofbital
......" A< rBlb ii:Bda
Mod,.ad.m,,,,,
........
alta

......
Retangular AAodondada
~

O
>
Abef1Ura nasat

Margem I\BsaI
.....ta

Afiada
~
A_
... Estreita

Aflada "cavada" ou
Estreita

Afiada
~
~

Interior "tulCada"

,-
Pel1l1 Reto Ra" Ra" Inclinado
para baixo
Ra"

- , .-
Fonnato do palato EslTelto MOderadamente Estreito la"", MOderaClamenle

-'"-, '"-,
largo I."",
ImprouAo gerei Maciço, Grande Pequeno, Maciço, liso, Grande,
liso, aIOooado
dO_~

moderamonle li",

'"- arredondado , ......,


ponta_ constrUo, oval

~
~
152 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

6
+

Figura 12-' .

PONTOS CRANIOMÉTRlCOS

Ponto mtrItonlPrnI 011 fnIlt,," - ponto mais inferiort mIlIis .nterior d, mandJbu~ .
2. Pr6stlDov ponto ./fIfDlIrr- ponto mais mimO' do bordo .alvmlar luperioz".loc;i,liuo~ entre 05
incW_ cmtni5 superiores..
3. Ponto tSprnhal ou subn4s.ll- ocupa o cmtro virtual cU espinha nasal anterior
4 NiÚIO- ponto IObre a JUtura nasorrontal.
S. GlllbeJ. - protub61nda Jltuacb mtre AS duu ct15talsupr.orbitJnu.
6. BrrgmR - ponto de encontro das suturu sagital e connári • .
'l. LAmbdll-ponto de convergfnd. ct. .utu~ Ngitll com • sutWiI lambdóide• •
8. Inm - bue cU protuberinda ocdpitaJ rxtcmll.
9. Básio -ponto mfdlo do bordo Interior do 'mame ocdpital.

Como principais fndices, segundo Arbenz (1988), podem-se destacar.


• {"dia cefálico horizontal - Relaciona a distância " bieurica" com a dis-
tância glabela-metalambda:

Leucodermas 75,0 a 79,9


Melanodermas abaixo de 75,0
Xantodermas acima de 79,9
ESTUDO 00 CRÂNIO NA PESQUISA DA COR DA PELE 153

• ("dia craniano altura-compritnDJlo - Relaciona a altura máxima do crânio


(básio-bregma) com o comprimento máximo (gIabeIa-metaIambda):

Leucodermas 70,0 a 74,9


Melanodermas acima de 74,9
Xantodermas idem

• (ndia craniano altura-largura - Relaciona a altura máxima do crânio e a


largura "bieurica":

Leurodermas até 91 ,9
Melanoclermas 98,0 para cima
Xantodermas 92,0 a 97,9

• (ndice focinl- Relaciona distância násio-mento e distância bizigomática:

Leucodermas 85,0 a 94,4


Melanodennas 95,0 para cima
Xantodennas até 84,9

• (ndiaJacinl superior - Relaciona as distâncias násio-próstio e bizigomática:

Leucodermas 50,0.54,9
Melanodermas 55,0 para cima
Xantodermas até 49,9

• b,dice nasal - Relaciona abertura pirifonne e a distância násio-espinhal:

Leucodennas até 47,9


Melanodennas 53,0 para cima
Xantodermas 48,0.52,9

Em razão da escassez de valores, ângulos e classificações antropológi-


cas que levem em consideração dados somatométricos específicos da
população, visando à determinação da cor de pele, procurou-se desen-
volver um estudo na população brasileira com esta finalidade. A amos-
tra reuniu 243 indivfduos de ambos os sexos, pertencentes a três grupos
étnicos, assim distríbufdos: 71 me1anodermas, 73 xantodennas e 93 leu-
codennas. A partir de radiografias cefalométricas em norma lateral obti-
das com a técnica preconizada por Broadbent, foi analisada a variabili-
154 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IOENTIACAÇAO ANTROPOLÓGICA

dade dos ângulos propostos por Rivet, C1oquet, Welcker e }acquard .


Para cada telerradiografia foram obtidos quatro traçados cefalométricos
correspondentes a cada um dos ângulos estudados, obtendo-se, assim,
um tolal de 927 medidas angulares. Essas medidas foram comparadas
com os parâmetros propostos por aqueles autores e verificou-se uma
taxa de erro muito elevada quando aplicadas na população brasileira. Os
resultados podem ser observados nas tabelas de teste de critério para
cada ânguJo, respectivamente (Quadros 12-2 a 12-5 e Figs. 12-2 a 12-5).

Quadro 12-2. Tesla do crll'rlo de Rivel

FreqQtndf, Potcen t-.gfln


CRIT· RIV Porc-ntagem Acumulada Acumulada

Co rreIO 134 55.1 134 55, 1


Enado 109 44.9 24·3 100.0

Quadro 12·3. Tetul do critériO de Cloquel

Porcen lajjleJn
CRIT-ClO fr.qa'ncl. Porcentagem Acumulada

Coneto 9S 39,1 9S 39, 1


Euado 148 60,9 243 100,0

Quadro 12-4. Teste do CritériO de Welcter

Fr.qOfnela Porcentagem
CRlr·WEl Fr.qiifnct. Acumulada Acumulada

Correto .2 25,S .2 25,5


errado 181 74,S 243 100.0

Quadro 12·5. Tnte do Cnténo de Jacquard

Fraqiifncra Porcentagem
CRIT..JAC FreqOlncra Porcentagem Acumulada Acumulada

Correio 107 44,0 107 44.0


Errado 138 58,0 243 100.0
ESTUDO 00 CRÂNIO NA PESQUISA DA COR DA PELE 155

Figura 12-2.

Uma vez observados os resultados dos critérios normalmente utiliza-


dos e de posse dos dados correspondentes aos três grupos estudados,
passamos a utilizar novos recursos para tentar obter métodos de classifi-
cação mais precisos do que os anteriores.
A análise dassificat6ria discriminante foi a metodologia estatística por
nós utilizada para classificar as observações em dois grupos conhecidos
com base em uma das variáveis quantitativas.
Nesse método. para cada grupo contido na amostra é calculada uma
função linear discriminante, pennitindo que se estime o grupo ao qual
pertence um novo indivíduo ainda não classificado.
As taxas de erro podem ser calculadas em função da contagem dos
valores classificados de forma incorreta segundo as funções calcula-
das.
156 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOlÓGICA

• Angulo de CIoqUtlt: InJio·pr6,tm:pr6,r;o·gl.lHIIe

Figura 12· 3 .

Os dados colhidos foram apresentados em forma de tabelas e digita-


dos de maneira que pudessem ser lidos e usados na criaçào de um arqui-
vo de trabalho do SAS - Standard Analysis Systems, softwart selecionado
para a análise desses dados.
A interpretação dos dados peJo programa SAS resulta na formação de
três equações. uma para cada grupo. As equações são as seguintes:

Leuco = - 485,31 + 3,28" We1cker + 3,55 x Jacquard + 2,21 x Cloquet +


1,11 x Rivet
Melano =- 452,14 + 3,18 x Welcker + 3,35 x Jacquard + 2,96 x Cloquet +
0,34 x Rivel
Xanto = - 452,57 + 3,15 x Welcker + 3,40 x Jacquard + 2,33 X Claquet +
0,98 x Rivet
ESTUDO DO CRÂNIO NA PESQUISA DA COR DA PELE 157

Ir

\
. -
 ngulo de Welcker. b.sJo-centfo d~ ~elll túrsic~: centro d~ ,eJ~ runlclt-n.skJ

Figura 12-4.

Nessas equações, substituem-se as medidas angulares obtidas em um


novo crânio, cuja cor da pele deseja-se determinar.
A equação que resultar em um maior valor mostra o grupo ao qual,
.• provavelmente, pertence o indivíduo.
Da mesma forma que os mtHodos anteriores, este apresenta taxas de
erro que podem ser avaliadas através da contagem das classificações
incorretas.
Essa contagem é efetuada diretamente pelo Procedimento DISCRIM
do SAS, resultando no Quadro 12-6.
No Quadro 12-6, tem-se a contagem em relação à classificação estima-
da e a classificação real. Pode-se verificar o número de erros em relação
ao número de acertos de cada cor. Há uma boa tendência à classificação
correta. Nas três cores, as taxas de acerto são maiores do que as porcenta-
gens de erro, conforme pode ser visto na diagonal do quadro. Assim,
1 S8 NOCOES DE ANTROPOLOGIA E IOENTIFICACÃO ANTROPOLÓGICA
--------~--------------~--------

Figura 12-5 _

Quadro' 2-6_ Nümero de observações e percentual <Ie classillcaçio da CO(

COR Leucoderma Melanoderma Xantodenn, Total

leucoderma .8 1 2. .,
Melanoderma ,70, 97 1,08
70
27,96
4
100.00
77

Xenlo<lerma
'.90
22
90,91
6
5 , 19
45
100,00
13
30,14 8 ,22 61,64 100,00
77
TOlal
Porcentagem
Probabilidade
"37,45
0,3333
31 ,69
0.3333
7'
30,86
0 .3333
2"
100,00
ESTUDO DO CRANIO NA PESQUISA DA COR DA PELE 159

temos as seguintes taxas de acerto utilizando a equação proposta: 91 %


para os melanodermas, 71% para os leucodermas e 62% para xantoder-
mas. Consideramos a taxa de erro para os melanodermas, de 9%, acei-
tável, porém as taxas de erros para leucodermas (29%) e xantodermas
(38%) são muito altas . Em vista desses resultados, optou-se pelo desen-
volvimento de um método que tenha duas etapas. A primeira seria a
discriminação entre o grupo dos melanodermas e os "outros grupos"
(leuco e xantodermas) . Esse procedimento conduzirá a resultados com
taxas de erros menores, posto que o grupo dos melanodermas se apre-
sentou com uma diferenciação maior do que os outros dois grupos.
Na segunda etapa, outra análise, com a finalidade de se discriminar o
grupo dos leucodermas dos xantodermas, será realizada .
Obtêm-se, pelo mesmo acréscimo de dados da análise anterior, duas
funções lineares discriminantes, que permitem a diferenciação entre dois
grupos: melanodermas e "outros".

Me lano = - 398,499 + 2,678 X Wclcker + 2,763 x Jacqua rd + 3,451 x


Cloqllct - 0,145 x Rivct
O u tros = - 408,691 + 2,690 x We lcker + 2,862 X Jacqlla rd + 2,785 x
CloqJlet - 0,542 x Rivet

Quantificamos a possibilidade de erro nas classificações efetuadas,


que resultou no Quadro 12-7.
A re-substituição mostra que 96,10% dos melanodennas e que 94,58%
das "outras cores" foram classificados corretamente. São taxas de erro
bastante baixas e aceitáveis. Trata-se de uma taxa global de erro inferior
a 5%. Essa análise discriminante permitirá concluir, com alta taxa de
acerto, se o individuo é ou não um melanoderma. Em caso positivo, a aná-
lise está encerrada. No entanto, se a análise discriminante anterior apon-
tar para a pertinência no grupo de "outras cores", a equação abaixo per-
mitirá a discriminação entre os leucodermas e os xantodermas.

Quadro 12· 7. Numero de observações e percentual de clessificeçlo de cor

c., Melanoderml Oulro. Tol e!

Mehmoderma 74 , 77
96,10 3, 90 100,00
Outras 9 157 166
5,42 94,58 100,00
TOlal 6' 160 24'
Porcentegem 34 , 16 65.84 100,00
Probabilidade 0,5000 0,5000
160 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLOGICA

Leuco =- 524,593 + 3,704 x Welcktr + 3,419 x lacquard + 1,219 X Cloquet


+ 2,574 x Rivet
Xanto =- 490,453 + 3,552 x Welcb r + 3,265 x Jacquard + 1,353 x Cloquet
+ 2,419 X RiT1et
Sua maneira de utilização é semelhante ao exemplificado no caso
anterior. Observamos que as taxas de erro são superiores às da função
linear discriminante para os melanodermas, mas ainda são razoáveis .
Para leucodermas, obteve-se 72% de acerto e para xantodermas, 68%.

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zação de uma populaçJo isolada. 510 Paulo, 1978. IVp. Tese (Uvrc-Docfncia)
- Faculdade de Odontologia da Universidade de 510 Paulo.
CAPíTULO 13

NOÇÕES DE
DACTILOSCOPIA

LUIZ MARnNs TURANO E MOACYR DA S ILVA

INTRODUÇÃO
A pesquisa dos caracteres dactiloscópicos não se insere dentro do campo
de atuação do odontolegista. No entanto, é diante da sua ausência que se
fará necessária, muitas vezes, a atuação do odontolegista na busca de
outros dados que permitam a identificação de um cadáver em estado de
decomposição e mesmo de ossada .
Atendendo à finalidade da presente obra, que é a de apresentar ele-
mentos gerais de identificação, este capftulo pretende apenas fornecer
noções básicas do estudo da dactiloscopia (do grego d4Jct11os, dedos, e sko-
ptin, examinar), pois muitos são os tratados e livros escritos a respeito.

PROPRIEDADES DAS IMPRESSÕES DIGITAIS


Para que um processo de identificação possa ser considerado satisfat6--
rio, é necessário que apresente cinco propriedades fundamentais, ou que
preencha cinco condições. São elas:
a . Persistlrlda, também chamada de pcenidath. As cristas papilares e,
conseqüentemente, os desenhos que nelas se apresentam aparecem
,.,
162 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IOENT1ACAÇAO ANTROPOLOGICA

antes de o indivíduo nascer (sexto mês de vida intra·uterina) e só


desaparecem com a decomposição cadavérica.
Certas doenças, como a hansenrase e o pênfigo Coliâceo. podem
danificar os desenhos papilares. Algumas atividades profissionais
também fazem desaparecer as cristas pelo atrito (pedreiros, peletei-
ros etc.l, porém, nesses casos, o simples repouso por alguns dias é
suficiente para que elas reapareçam com as mesmas características
anteriores.
Cientes desse fato, certos criminosos reincidentes atritam suas
polpas digitais a fim de dificultar o seu reconhecimento.

b. Imutabilidade: os desenhos (ormados pelas cristas papilares penna-


necem sempre idênticos, com todas as suas particularidades. A
única possibilidade de alteração do desenho é a causada por uma
cicatriz.

c. [ndividllal,dade ou unIcidade. ou seja, cada indivíduo apresenta im-


pressões diferentes dos demais indivíduos. Não existem duas
impressões idênticas, nem mesmo nos diversos dedos de uma pes-
soa.

d. Praficabilidade: a tomada das impressões digitais é simples e rápida,


exigindo um mínimo de instrumentos. Parece incrível que um pro-
cesso de identificação de tão larga aplicação seja tão pouco comple-
xo e tão prático.

e. Clnssifictlbtbdnde; a propriedade anterior decorre. até certo ponto. da


possibilidade de classificação que toma possível a utilização dos
demais requisitos.

Sistema de Vucetich

o sistema decadactilar desse autor é o adotado no Brasil e foi lançado na


Argentina em 189l.
Uma impressão digitaJ apresenta três sistemas de linhas:
a. Sistema basal - Corresponde ao conjunto de linhas paralelas ao
sulco que separa a segunda e terceira falanges. No polegar, é o da
primeira e terceira falanges.
b. Sistema mnrgillal - Conjunto de linhas das bordas de impressão.
NOCOES DE DACTllOSCOPlA 163

c. Sistema wltral ou nuclear - Conjw\to de Linhas entre os dois ante-


riores e Delta - Fonnado pelo ponto de encontro dos três sistemas
acima referidos.

Esses elementos constituem a base do sistema dactil0sc6pico e for·


mam, segundo Vucetich, quatro figuras: arco, presilha i1lterlla, presilha
extema e verticilo.
A notação é a seguinte:

Polegares: A (arco); I (presilha interna), E (presilha externa) e V


(vertici1o)
Demais dedos: 1 (arco), 2 (presilha interna), 3 (presilha externa) e 4
(verticilo)
Dedos amputados: O (zero)
Dedos defeituosos: X (xis)

(A) Arco: sistema marginal subindo e voltando para a base


Não tem delta
Não tem sistema central

(I) Presilha intenra: linhas da esquerda para a direita


delta à direita

(E) Presilha externa: linhas da direita para a esquerda


delta à esquerda

(V) Verticilo: as linhas do núcleo formam um turbilhão disposto


em espiral. Possui dois deltas

Há alguns tipos que não se enquadram em nenhuma das fonnas


definidas acima. São eles: presilhn gandrosn. presilllll dupla. verticilo gancho-
50e fornllls D1I6nUllas.
No que diz respeito à fórmula dactiloscópica, os dedos da m40 direita
COnstifllent a súie e os dn mão e5qllcrda, a Sl!Cf4o. O polegar da série é deno--
minado fimdame:ntal, e os demais dedos constituem a divisdo. O polegar
da secção é denominado subclassificaçdo, e os demais dedos, subdiuisdo.
Estas convenções estão relacionadas com o processo de arquivamento.

Exemplo de uma fónnula dactilosc6pica:


Série V - 4423
Secção 1- 2231
164 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

PONTOS CARACTERÍSTICOS
Denominam-se pontos característicos os acidentes que ocorrem nas cris-
tas papilares e têm grande importância na identificação dactilosc6pica .
Segundo Araújo (1957), são os seguintes:

• POli to: é um simples ponto.


• Ilhota: é um pequeno traço.
• Cortada: é um traço um pouco maior do que a ilhota.
• Bifurcnçdo: é uma linha que se divide.
• eouj1uéndn: são duas linhas que se unem .
• Encerro: é uma pequena linha, presa pelas extremidades, formando
uma figura elíptica.
• A"n5tol1l~: é uma pequena crista papilar unindo duas outras de
proporções nonnais .
• Princfpio de UnIra: é a extremidade de uma crista papiJar (onde ela
começa).
• Fim de li"IUl: é a extremidade de uma aista papilar (onde ela termina).

Há uma espécie de convenção, conhecida como a lei dos 12 pontos


(17 na França, 8 a 12 nos EUA e na Alemanha), que estabelece que, se
houver 12 ou mais pontos coincidentes entre a impressão testemunha e a
suspeita, pode-se chegar à identificação.

TÉCNICA DE TOMADA DAS


IMPRESSÕES DIGITAIS
1. Colocar pequena quantidade de tinta em uma prancheta (madeira,
zinco, mármore, vidro espesso, alumínio etc.). Espalhar com espátula
e depois com rolo, para formar uma camada homogênea e delgada.
2. Os dedos cujas impressões serão tomadas devem ser lavados com
água morna ou sabão (ou detergente) para dissolver as gorduras.
Imprimir, levemente. cada dedo na prancheta para impregná-los de
tinta .
3. Com as fichas (ou planilhas dactilosc6picas), colher as impressões,
sobre a prancheta de madeira, com cinco depressões acanaladas de
tamanhos diferentes.
NOÇOES DE DACTILOSCOPIA 16.

Variação na Colheita das Impressões

• Pousada: segurar o dedo do identificando, na segunda falange (no


polegar, primeira falange), pelos dedos indicador e médio do identifi-
cador, e realizar leve pressão sobre a unha do dedo cuja impressão vai
ser colhida .
• Rolada: segurar da mesma maneira e pousando a polpa digital na
ficha ou planill: I; com movimento de meia rotação, colher a impres-
são.

POROS COPIA

Segundo Arbenz (1988), a "poroscopia consiste no estudo dos poros que


H
se apresentam sobre as cristas papilares Apresentam-se como "espaços

claros, que se destacam, às vezes, com muita nitidez, sobre as linhas


papilares cOr"T"eSpondentes às cristas". Variam em:

1. Número: de 9 a 18 por mm 2 segundo seu afastamento.


2. Posiçifo: sobre as cristas centrais e laterais.
3. Forma: circulares, ovalares, elipsoidais ou triangulares.
4. Dimensões: de 80 a 250 J.l .

ALBODACTILOSCOPIA
J:: o estudo das linhas brancas encontradas nas impressões. São pregas de
natureza funcional. Entre outros fatores, 70% são persistentes e 30% de
duração efêmera. São utilizadas como infonnação complementar.

IMPRESSÕES PALMARES

As palmas das mãos, tais como os dedos. possuem cristas papilares e,


embora possam ser classificadas, esta classificação é muito mais compli-
cada, apresentando, portanto, pouca praticabilidade, o que também é
devido à dificuldade de levantamento, quando latentes.
166 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

~PRESSÕESPLANTARES

As plantas dos pés também exibem cristas papilares perenes, imutáveis


e individuais.
A tomada das impressões plantares é muito utilizada em materni-
dades quando, nascida a criança, antes mesmo do corte do cordão umbi-
lical, tomn-se a impressão plantar do recém-nascido e a impressão digital
da mãe, anotando-se data, hora do nascimento, nome da mãe e outras
informações. que serão confrontadas quando da sarda da parturiente.
Um novo método de identificação de crianças recém-nascidas
começou a ser usado no mês de novembro de 1992, no Estado de São
PauJo. Trata-se do sistema DNA SCQlIner, que permite eliminar dúvidas
em casos de possrvels trocas de crianças. Colhe-se, ainda na sala de
parto, uma amostra do sangue da mãe e do cordão umbilical. e o mate-
rial é tratado e armazenado. Em caso de dúvida, o teste compreende a
análise de mais de 30 bandas de DNA (ácido desoxirribonucléico) da
mãe e da criança.
A dúvida quanto à maternidade ocorre, via de regra, após o oitavo
mês, quando a cor dos olhos e o tom da pele e dos cabelos se definem . O
prazo para a solicitação do exame é de cinco anos.

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CAPíTULO 14

A PESQUISA DE DNA EM
ODONTOLOGIA FORENSE

MARA CRIS11NA TRAMUJAS CALABREZ E P. H . SALDANHA

INTRODUÇÃO

Bateson (190S) foi o primeiro a definir a Gent'Hica como a ciência da here-


ditariedade e da variação, em conformidade com Q radical gene (do
grego gemIa,,), que denota origem ou agente gerador. Entretanto, a base
física da Genética já fora reconhecida por Weissmann, em 1885, ao dife-
renciar o somatoplasma, representado pelos diferentes tecidos que com-
põem o organismo ou soma, do germoplasma, formado pelas células ger-
minais, espermatozóides ou óvulos, que asseguram a continuidade
genética do indivíduo a seus descendentes, através de linhagem vertical,
praticamente "imortal".
Na mesma linha de raciocínio, outro importante conceito foi proposto
por Johansen, em 1909, ao distinguir o far6tipo,' que inclui o conjunto de
características estruturais, fisiológicas e mesmo comportamentais obser9
váveis em um indivíduo. do genóhpo. representando a configuração ge-
nérica ou conjunto de genes portadores da informação genética. poten-
daI mente capaz de produzir variáveis fenotípicas em interação com os
fatores ambientais (F =G + A).

'Do grego phttlllt'l" "" aparecer, mostrnr


167
16. NocOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

Esses postulados básicos da Genética puseram definitivamente por


terra a teoria lamarquista da herança dos caracteres adquiridos$ bem
como as hipóteses da pré{onnaçifo/ consolidando n teorin do epiginest:, que
assume o controle diacrônico do desenvolvimento orgânico através da
interação entre fatores genéticos e ambientais, provocando a CIlnaliZJJção
e:pigetlélica (Waddington, 1957) ou homeostase genética (Lemer, 1954) do
ser vivo, modemament"e sustentada pela análise de estrutura e ação
gênieas, a partir da dec:ifração do código genético.
Entretanto, (oi Mendel, em 1865. quem demonstrou experimentalmen-
te que a programação dos caracteres genéticos está sujeita às leis gerais
da segregação e recombinação independentes. através da demonstração
das clássicas proporções estatísticas do mono e do poliibridismo, poste--
riormente limitadas pela descoberta da ligação e permuta intercrom05SÔ-
mica, demonstrada em nível citogenético por Morgan e CatteU, em 1912,
durante os processos de mitose e mei~, descritos anteriormente.'
O potencial de variabilidade hereditária dos organismos revelado
pela recombinação independente dos caracteres mendelianos é de tal
magnitude que, somente considerando um par de genes alélicos hetero-
zigotos em cada um dos 23 pares de cromossomos humanos, o número
de genótipos diferentes possíveis é da ordem de 3 x 10 11 • isto é. mais de
100 vezes a população atual do planeta (Saldanha, 1967). Conseqüen~
temente. cada indivíduo humano constitui uma configuração genotípica
única, responsável por um perfil íenotípico praticamente impossível de
repetir~se casualmente. por conseguinte. ocorrendo unicamente em
gêmeos monozigóticos, por partilharem do mesmo genótipo herdado de
uma simples divisão mit6tica do zigoto.
Na espécie humana, inúmeras características hereditárias "normais"
(seletivamente neutras) permitem a definição da individualidade genéti-
ca, de modo que adquiriram grande importância médico-legal. De fato, a
história da Medicina Forense está intimamente ligada à descoberta dos
antígenos eritrocitários, que determinam os vários sistemas de grupos
sangüíneos humanos.
Os grupos sangüíneos ABO. descobertns por Landsteiner em 1900. foram
o primeiro sistema mendeliano a ser utilizado na identificação genética dos
indivíduos e caracterização das populações humanas, sobretudo após o re-
conhecimento da sua herança monogênica polialélica por Bemstein em 1924,
cuja genética incluiu. logo após (1930), mais um alelo (A, e A 2). Entretanto,

lJ.{omúncuJo p~formado no espermalozóide ou encapsulaçlo dos determinanles


hereditários imediatos e remotos nos ovários.
~emming (1882) e Farmer e Cattell (1905), respectivamenle.
A PESQUISA DE ONA EM ODONTOLOGIA FORENSE
".
pouco antes (1926), Yamakamy já demonstrara a secreção dos antígenos A e
B na saliva. Ainda na mesma década, Landsteiner e Levine (1927) identifica-
ram os antígenos dos sistemas MN e P.
Entretanto, a mais espetacular descoberta na área, em virtude de suas
aplicações clínicas, foi a descoberta da incompatibilidade matemo-fetal,
causada por anticorpo imune decorrente de antígeno eritrocitário fetal
(Levine e Stetson, 1939), logo em seguida reconhecido como fator RJJesus
ou Rh (Landsteiner e Levine, 1940). A complexidade genética desse siste-
ma, que inclui vários antígenos ou subtipos, aparentemente poliaJélicos
(Wiener, 1943), foi eIucidada por Fisher (1943) por meio de sua famosa
teoria dos três locos gênicos intimamente próximos (CDE), que permitiu
prever novos antígenos (aleIos), posteriormente identificados.
Até a descoberta do fator Rh, os sistemas de grupos sangüíneos (ABO,
MN, P) foram identificados por anticorpos naturais, completos ou frios,
isto é, que reagem à baixa temperatura do corpo (ótima de 16° e 4OC) em
meio salino. Com a introdução do teste da antiglobulina (Coombs,
Mourant e Race, 1945), uma série de antígenos hereditários (Kefl, Duffy
Kidd etc.) foi revelada através de anticorpos imunes ou bloqueadores que
reagem em meio protéico à temperatura do corpo (37"C), mediados pela
prova indireta de Coombs.
Seguiu-se então a descoberta de vários sistemas de grupos sangüíneos
geneticamente independentes, tais como Lutlreratl (Callender, Race e
Paykoç, 1946), Kell (Coombs, Mourant e Race, 1946), Lewis (Mourant,
1946), Duffy (Catbush, Mollisen e Parkin, 1950), Kidd (AIIen, Diamond e
Niedziela, 1950), Diego (Layrisse, Arends e Domingues, 1955) e muitos
outros de menor importância (Yt, Auberger, Dombroock, CoIton , Sid,
Sd antlo etc.), e, ainda, outros presentes em quase todos os individuas da
população (antígenos públicos) ou muito raros, limitados a membros da
mesma famfiia (antígenos privados ou familiais).
Enquanto todas OS sistemas antigênicos eritrocitários até então conhe-
cidos eram determinados por genes autossômicos, no início da década
de 60 foi identificado o grupo sangüíneo Xg, único determinado por
gene no cromossomo X (Mann e cols., 1962).
Detalhes do desenvolvimento histórico da imunocmatologia, bem
como as referências citadas acima, podem ser encontrados no clássico
livro de Race e Sanger (1975).
Ainda relacionada à imunogenética, com grande impacto na Medicina
Forense, foi demonstrada, em 1954, a ocorrência do sistema de histocom·
patibiJidade mediada por anUgenos na superfície dos leucócitos, conhe-
cido por complexo HU\ (IIistocompalibílity leucocyle antigm ), detenninado
por genes aléücos muito próximos, localizados no braço curto do cro-
170 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E rOENTlACAçAO ANTROPOLOGICA

mossomo 6. Os principais locas do sistema são HIA-A Ooco A), Hl.A-B


(loco B), HLA -C (loco q e HLA-D (loco D); os três primeiros, intimamen-
te ligados, determinam antígenos cJasse I, e o loco HLA-D, antígenos
classe li, todos com inúmeros alelos alternativos que estão separados por
vários locos responsáveis pelos antígenos classe m. Locos A. 8 e C codi-
ficam glicoprotefnas encontradas na membrana das células nucleadas
(antígenos classe 1), enquanto OS antígenos classe n estão presentes na
superfície do linfócito 8, macr6fagos e linfócito T ativados, bem como
em outras células com funções imunológicas específicas.
A presença de grande polimorfismo genético, em termos de muitos
alelos alternativos, com variável freqüência nas populações e grupos
raciais. herdados segundo padrão mendeliano, assegura inusitada espe-
cificidade, representada pela combinação alélica ou haplótipo indivi-
dual. Conseqüentemente, tem acentuado poder de discriminação indivi-
duai ou detenninação da individualidade genética. Há, pelo menos, 23
alelos no loco A, 47 no loco B, 8 no loco C, e inúmeros nos subgrupos do
loco D, todos com notação numérica, como, por exemplo, 827 representa
O alelo 27 do loco B do sistema HI..A (Coldberg e Kalil. 1989; Erlich e
Bugawan, 1990, e Currunings, 1991).
Além disso, a compatibilidade interindividual para o sistema HI..A é
de extrema importância no sucesso dos t-ransplantes heterólogos de
órgãos e nos processos de imunocompetência. Uma apreciação detalha-
da do sistema HLA pode ser encontrada na monografia de Dau.sset e Pia
(1989).
Posteriormente à descoberta do sistema HLA, vêm sendo reconheci-
dos inúmeros tocos gênicos envolvendo sistemas alélicos polim6rficos
de interesse para a Medicina Forense. Esses sistemas são representados
por variantes de proteínas e enzimas séricas, tais como haptoglobinas
(Polonovski e Jayle, 1940), lransferinas (Smithies, 1957), grupos Cc ou
componente grupo especifico (Hirschfeld, 1959), sistemas beta-lipopro-
te[nas (Ag, Lp, UI e UJ (Allison e Blumberg. 1961), pseudocolinesterase
(Cilblett, 1969), variantes de ceruloplasmina (Shreffler e cols., 1967), sis-
tema de alfa-macroglobulina Xm (Berg e 8eam, 1966), fosfa13se alcalina
(8eckman, 1968), grupos de imunoglobuLina Cm e lnv (Clubb, 1956), sis-
tema acetilador da isoniazida (Evans, 1969), variantes de álcool desidro-
genase (Smith e cols., 1971) etc., bem como enzimas eritrocitárias, tais
como deficiênoa e variantes da glic0se-6-fosfato desidrogenase (Childs e
cols., 1958; discussão em Saldanha, 1970; Saldanha e cals., 1969,1976),
variantes de 6-fosfogluconato desidrogenase (Fields e Parr. 1963), de fos-
foglucomutase (Spencer e cols., 1964), de lac13to desidrogenase (\éssell,
1965), de adenilato quinase (Fildes e Harris, 1966), de fosfatase ácida
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 171

(Goldschnidt, 1967). de peptidases (l.ewis e Harris, 1%7), de adenosina


deaminase (Spencer e cals ., 1968), de NAO H 1 diaforase associada à
metaemoglobina redutase (Hopkinson e cals., 1970), de glutâmi~pirú­
vico transaminase (Chen e Gilblett, 1971) e hemoglobinas anômalas
(Rucknagel e Neel, 1961) e, ainda, outros sistemas genéticos mendelia-
nos, como a excreção urinária do ácido beta-aminoisobutírico (Harris,
1953), deCiciência primária de lactase intestinal (Bayless e Rosensweig,
1966), excreção urinária de helanina (Saldanha e cals., 1960, 1962) e, par-
ticularmente, a sensibilidade gustativa à feniltiouréia ou feniltiocarbami-
da ou PTC, descoberta em 1931 por Fax (Saldanha, 1958, 1959a, 1962a,
1964a; Saldanha e Beçak, 1959; Saldanha e Nacrur, 1963).
As referências bibliográficas da maioria dos marcadores genéticos
referidos acima podem ser encontradas nos livros de Mourant e cals.
(1976,1978) e no catálogo de fenótipos mendelianos de McKusick (1992) .
As provas de identificação individual , utilizando os test'e s de grupos
sangürneos, ganharam valor legal nas cortes alemãs a partir de 1920,
mas somente em 1935 (oram aceitas legalmente nos Estados Unidos.
Logo em seguida, no Brasil, tais exames passaram a ter valor legal.
sendo a primeira ação de investigação de paternidade datada de 1948.
Em tal apelação, julgada pelo Dr. Fábio de Souza Queiroz, M. Juiz de
Direito de }aboticabal, Estado de São Paulo, (oram requeridos a prova de
confrontação fisionômica direta e indireta e o exame dactilosc6pico,
além da pesquisa de grupos sangüíneos, dos tipos sangüíneos, das aglu-
tininas Rh e da reação à feniltiouréia (PTC). O laudo pericial, emitido
pelo ProC. Or. André Dreyfus, relata A prova genética da investigação
H •••
H
de paternidade só é absoluta quando se trata de exclusão e finaliza com
" ... No presente caso, houve perfeita compatibilidade em relação a cinco
provas feitas, nenhuma das quais permitiu excluir que l.G.C. pudesse
ser pai de M.P." Na sentença final, o M. Juiz julga procedente a ação para
o efeito de reconhecer para todos os fins a paternidade, acatando os
resultados da investigação de paternidade com base nos testes de gru-
pos sangüíneos (Barros, 1949).
A terceira, e talvez a mais importante fase do desenvolvimento da
Medicina Forense, foi iniciada por }effreys e ools. (1985a), criadores da
técnica do DNA jingrrprinting. Em ação jurfdica movida pelo
Departamento de Imigração inglês, em 1983, contra residência de criança
nascida na Inglaterra, um filho de mãe imigrante de Chana, que deixara

'Nicohnamida adenina dinucleotideo.


172 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTlF1CAÇÃO ANTROPOLOGICA

o país para a África com o pai e que retomou à Grã-Bretanha. Entre-


tanto, os testes de grupos sangüíneos e HLA não tiveram êxito na identi-
ficação da maternidade, situação que foi solucionada através da técnica
do DNA fingerprinting, utilizada pela primeira vez nesse processo foren-
se Geffreys e cals., 1985b). A partir dessa ~poca, o uso da seqüência de
ONA na identificação individual teve grande impulso, com o desenvol-
vimento de inúmeras técnicas, consideradas neste capítulo, adquirindo
grande aceitação e popularidade, principalmente em virtude do seu alto
potencial discriminatório e da possibilidade de análise de diminutas
quantidades de material biológico.
No Brasil, apenas recentemente os testes envolvendo DNA passaram
a ser levados em contz' pela Justiça, sendo a,inda bastante questionados
por alguns. Acrescido a este fato, existe o alto custo do exame, em virtu-
de da escassez de instit Itos públicos pre)'arados para a execução rotinei-
ra dos exames com baSt.. no DNA. No entanto, já aparecem os primeiros
sinais de pleno reconhecimento, por parte do Estado, da eficiência das
informações oferecidas nos exames de DNA e a conseqüente necessida-
de de tomá-lo acessíve! à população em geral No paiS, a Capital Federal
já conta com a aprovação da Lei n- 1.097/ 96, que assegura a realizaçâo
gratuita de exame de DNA às pessoas de reconhecida necessidade.

POLIMORFISMO GENÉTICO

As populações humanas constituem uma espécie (Homo snpit1ls) politípi-


ca e polim6rfica. É poli típica porque inclui grupos, isolados, e raças, man-
tidas por barreiras geográficas, culturais e mesmo sociais, por conse-
guinte diferindo significativamente na freqüência de inúmeros genes
alélicos responsáveis por características monogênicas alternativas (grupos
sangüíneos. variantes protéicas e enzimas séricas e eritrocitárias, sensibi-
Lidade ao PTC etc., já mencionada anteriormente) ou nas médias de atri-
butos quantitativos poligênicos no sensll stricJo (cor dos olhos, dermat6gli-
fos etc.) ou multi fatoriais, determinados pela interação da constelaçâo
gênica individual com o meio ambiente (altura, peso, cor da pele, cor do
cabelo, pressão arterial, desempenho sensoriomotor, estrutura da cogni-
ção, Q.l., habilidades específicas, traços de personalidade etc.) (Cocn e
cels., 1950; Saldanha, 1959b, 1967; Saldanha e cels., 1960b).
A maioria dos antropólogos e geneticistas especialistas em filogenia
dos hominidas e da evolução humana (Klein, 1989) acredita que as dife-
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 173

renças observadas nos principais grupos raciais ou raças geográficas


humanas têm origem monofiMhctJ (unicêntrica), isto é, desenvolveram-se,
há pelo menos um milhão de anos, a partir de grupos intra-especificos
(não isolados reprodutivamente) (Garn, 1971 i Smith e Spencer, 1984;
MeUars e Stringer, 1989), enquanto oulTos admitem uma origem polifiléli·
ca (multicêntrica) das principais raças humanas a partir de populações
interespedficas (espécies incipientes) (Gates, 1948; Co(m, 1963; Wolpoff,
1989) . O homem de Neandertal (Hamo sapiens neat,dertl,alensls) e o
homem moderno ou de Cro-Magnon (Homo sapiet's sapiensJ, contempo-
râneos na Europa Ocidental entre 100 e 35 mil anos atrás, quando o pri·
meiro se extinguiu, poderiam representar espécies humanas incipientes,
embora não haja evidências do isolamento reprodutivo entre os dois
grupos (Cavalli·Sforza e cals., 1994, pp. 60·67).
A espécie humana é também amplamente polim6rfica, uma vez que
suas populações tTeqüentemente incluem (ormas ou características alter·
nativas determinadas por genes com freqüências tais (geralmente acima
de 1%) que não podem ser mantidas por suas taxas de mutação (em
média 1 em cada 50 mil gametas), que são responsáveis pelos genes ou
características denominadas idiom6rficas (genes que determinam doenças
hereditárias). Conseqüentemente, o polimorfismo genético deve ser seleti-
vamente neutro, determinado pela migração (Saldanha, 1962b) e pela mis-
tura de populações geneticamente diversas (Saldanha, 1959c, 1962a,c,
1968, 1989), ou mantido por mecanismos adaptativos que resultam em
polimorfismo balanczado, especialmente causado pelo maior valor adaptati-
vo do hererozigoto em relação aos respectivos homozigotos (Saldanha,
1964 a,b).
A distribuição mundial dos inúmeros polimorfismos humanos (oi pri-
meiramente compilada em extensa monografia por Mourant e cols.
(1976) e, mais recentemente, na elaboração do conceito de distlincia gellé·
tica, por Cavalli·Sforza e cols. (1994), incluindo a utilização de marcado-
res de DNA cromossômico e mitocôndrico.

ESTRUTURA E AÇÃO DOS GENES

Estrutura do DNA

A análise da variabilidade genética em bactérias, e especialmente O fenô-


meno da transformação, revelou que a informação genética é transmiti·
174 NQÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇAo ANTROPOlOGtCA

da através dos ácidos nucléicos. Entretanto, a codificação dessa informa-


ção, bem como sua transcrição através de processo intracelular, isto é, a
decodificação da mensagem genética a Um de produzir as características
hereditárias, e mesmo a manutenção do código e suas alterações (muta-
ção) ao longo da reprodução celular, somente pode ser explicada a partir
do momento em que a estrutura química dos ácidos nucléicos foi deter-
minada , bem como as relações dessa estrutura química com a síntese
protéica, básica em todos os processos biológicos, tanto de organismos
unicelulares e vírus, como de seres organizados, como o próprio ho-
mem.
A síntese protéica pode mesmo ser considerada como o processo hio-
químico mais diretamente ligado à ação e ao funcionamento dos genes,
já que, a partir das proteínas, moléculas complexas, tais como enzimas,
honnônios. hemoglobinas etc., são fabricadas pelo organismo, com fun-
ções vitais específicas das mais importantes. Apesar disso, as prolemas
são constituídas pela combinação de somente 20 diferentes aminoácidos,
que formam longas cadeJas de configuração tridimensional, denomina-
das polipeptídeos. Essas cadeias poüpeptidicas podem atingir alto peso
molecular, pela capacidade se polimerizarem. Uma proteína é essencial-
mente formada por poUmeros üneares de resíduos de aminoácidos, cuja
estrutura geral pode ser representada por.

A individualidade dos aminoácidos, que têm em comum o grupo


amino ~N) e o grupo ácido (COOH), é fornecida pela natureza quimi-
ca da cadeia lateral, referida como radical- R. Essa situação é claramente
verificada pelo confronto das fórmulas quúnicas dos 20 aminoácidos que
aparecem na Figura 14-1 .
As cadeias peptldicas são formadas pela reunião de aminoácidos, com
a perda de água, atrav6 da ligação peptídica, como aparece descrito a
seguir.
A PEsaUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 175

Grupo R df_ligo, n&o POlar GNPO A aromittco


coo- coo- F- coo- coe- coo-
~N-C-H
O
~N-C-H
O
H,N-C-H I I I
~N-C-H ~N-C-H tiJi-C-H

v_
I
O
H
O
I I I
......
CH, ,CH

......
,_ ~'
CH, 'bH, CH,

Ó
O

C-'i::,
COO- COO- coe-
b
--
O O
~N-C-H ",i!i-C-H l/H HO
I I H/I-C-Di1
CH, H-C-C~ I I "'-
I
b. H,c--CH,

-- p-
CH, Grupo R com ""IV" poaiIMI
/ \ I coo- coa-
CH, CH, CH, coe-
......... I
~N--C -H
I
I
~N-C-H
I
I
HJ;-C-H
I
Dia 9Ha C~
Orvpo A n&o ... rrwgado, polar I , I
COO- COO- COO-
~ ~ C-N~
I H~Ii-c-H
O

HJN-C-H ,
HJN-C-H
, OH, ~ I .,
1 NH C_H
I ,
H -C-OH OH,, CH, ' H

.."'"
OH,OH

COO-
,- CH,

COO-
I
SH
Qat.....

c0e-
I
I
<NH,

""'"
,
c-1fH~

"'"
"',... -..
I HJN-C-H ~N-C-H
GnJ90 R com cargII ~
H,Ii-C-H
I I coe- COO-
I I I
r' \'"' ,
CH, H,I4-C-H HJ;-C-H

~
c f"> I
\'"' /, c CH,

--
S H,N o /, I
I
OH, H,N o
COO- f">
coe-
G....... ~
-~
Mo"'" OlulamN

Figura, 14·1. Esuutula Qurmica dos 20 aminoácidos Que normalmente compõem as protel·
nas, classrficados de acordo com seu radical IR) em cinco grupos, segundo Lehmlnger e
cols., 1993 .

É evidente que as propriedades da cadeia polipeptfdica ou das proteí-


nas dependem da natureza química dos resíduos de aminoácidos, que
podem ser obtidos por hidr6lise. É comum definir a estrutura primária
da proteína através do número e da ordem particular dos aminoácidos
de sua cadeia peptídica . É justamente a estrutura primária da proteína
que está associada mais diretamente ao problema do código genético, já
que o DNA hereditário deve inicialmente fornecer a informação para
176 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLOGICA

(H,N - CH - COOO) + (H,N - CH - COOOH) ~

I I
R, R

---~~_
I
(H,N-CH-CO-NH- CH ,COOH) + ",0
(ligação peptídica) I
R, R

sintetizar a matéria-prima das proteínas, isto é, a natureza e a seqüência


dos aminoácidos.
Embora os ácidos nucléicos tenham sido reconhecidos no fim do sécu-
lo passado, a sua importância como portadores da informação genética
somente começou a ser postulada 30 anos mais tarde. Entretanto, a aná-
lise do código genético contido nos ácidos nucléicos apenas foi possível
após a compreensão de sua fórmula química, 50 anos depois de sua des-
coberta.
Atualmente, parece plenamente estabelecido que as moléculas dos
ácidos nucléicos formam longas cadeias poliméricas de nucleotideos .
Cada unidade desses polinucleotídeos consiste de três componentes:
uma base nitrogenada, um glicídio (pentose) e um radical do ácido fos-
(órico. As bases nitrogenadas podem ser representadas por purinas ou
pirimidinas, enquanto o glicídio é uma ribase ou uma desoxirribose (Fig.
14-2).
Há dois tipos de ácidos nucléicos: o ácido ribonucléico (RNA), que é
visto quase exclusivamente no citoplasma, e o ácido desoxirribonucléico
(DNA), presente no núcleo como parte constituinte principal dos cro·
mossomos. A ribose define a estrutura do RNA, e a desoxirribose, a do
DNA (Fig. 14-3).
O resfduo do ácido nucléico sem o radical fosfato é ~enominado
nucleosfdeo (glicosfdeo do núcleo), e este pode conter quatro tipos de
bases - as purínicas (adenina e guanina) e as pirimidínkas (citosina e
timina) - na fórmula do DNA. Na estrutura do RNA, a timina é substi-
tuída por uracila (Fig. 14·3). Assim, tanto o DNA como o RNA são repre-
sentados por diferentes ácidos, denominados nucleotídeos. A denomina·
ção do nucleosfdeo e, logo, do nucleotídeo depende da natureza da base
presente no ácido nucléico (Fig. 14-3).
A PESQUISA DE ONA EM ODONTOLOGIA FORENSE In

CADEIA
POllNUCLEQTfOICA

DNA RNA

BASES NITROGENADAS

.....no.. ........
.........
PrWnktlras

NUCLEOsiDEOS
(bise nitrogenada .. penlose)

NUCLEOTIOEOS
(base nIrogeMda .. penloIe .. ácido fD5fórico)

.ado dncdITIboadenllico icido adenllIco


âcldo desoUr1boguanlllco iddoguanll'ir::o
kIdo desolarribocltidlllco 6.:100 cibdllc:o
ácido desaxlrribotlmk:lnlco .ado uridlllco

AgUf' 14·2. Estrutur. qulmica do RNA. do DNA.


178 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IOENTlACAÇAO ANTROPOLÓGICA

~ O
O H-C-H n
"'C - C /
./ ~ H-Q-P-O-H
H-N, .....c-H I
O,C-N ~ _____ 0

0 ,- H/C, ._
Ilmina H-C / .......... b ~ H fosfórico

\~ H)
C--C
ribase ----+- H- o à-H
ou
deSoxlnlbosa - + H

Flgur. '4·3. COfrespond!ncla qurmlc. entre o DNA com rela"io aos seus componente,.

Na união da cadeia polimérica dos ácidos nucléicos, a ligação se dá


através do radical fosfato-açúcar na direção 5' e 3', fonnando uma estru-
tura helicoidal (Fig. 14-4).
No DNA, cada nucleotfdeo liga-se a outro através da reunião açúcar-
fosfato, formando longas cadeias poliméricas, de tal modo que o peso
molecular pode atingir 32 milhões. A polimerização do RNA é bem
menor em face de sua função de transporte de informação genética con-
tida no DNA, de modo que as unidades gênieas possuem moléculas com
cerca de uma centena de nucleotídeos. Os estudos bioquímicos demons-
tram que o ONA possui número equivalente de bases purinicas e pirimi-
clínicas, do mesmo modo que a proporção entre adenina e timina e entre
guanina e citosina é constante (A =T e G =C), independentemente da
complexidade biológica do organismo, como demonstrado no Quadro
14-1. DNAs isolados de diferentes fontes mantêm constante a relação (A +
TJ/(C+G).
A constância desta relação evidencia que para cada nucIeotideo de
adenina haveria um correspondente de timina e, semelhantemente, para
cada de guanina um correspondente de citosina, mostrando que as liga-
ções necessárias são sempre desses dois tipos: A = T, com ligação di-
idrogênica, e C == G. com ligação triidrogênica. Essa combinação redpro-
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 179

p~ "

p~
5'

5'
""
> ,3'
~
' P.'\.3'
A

A
C
T

T
G
,
3'

,
3' '\. 5'
3' P.
•• 5'
',P.
" 5'
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::. 3'
T A 3' '\. 5'

8. p~ 5'
'P: ~
3' A T ,
3' p~ 5'
~ \ 3'
~ p~ G C 3' p~ 5'
, 5' , 3'

i p 5'
P~ C G ,
3"P
~ 5'

ter
, 3'
5'
P~
'R" 3'
A T ,
3' P, 5'

5' T A
3~ 5'
Pteri 3'

Fig ura 14 -4. Diagrama d, sacçlo da mol6cula do ONA, iodicaodo a ligação eotre o rldical
fosfato IPI e a peotose UI OI diração dls posições S', 3 ' !lI) .

ca obrigatória revela que a associação d as bases dentro da molécula tem


quatro possíveis posições (Fig, 14-5).
Essas ligações ocorrem através de pontes hidrogênicas d ivaJentes
entre A-T, e trivalentes, entre C-G (Fig, 14-6).
Com base nos achados bioq uímicos, bem como na espectrometria
(difração de raios X), foi possível propor um modelo de configuração tri-
dimensional da molécula do DNA que recebeu o nome de seus autores,
O modelo de Watson e Crick, proposto em 1953, com base na seqüência
linear de nucleotíd eos, rendeu aos seus autores o Prêmio Nobel em 1962
e apresentava o DNA como duas cadeias helicoidais de nucleotfdeos,
mantidos em seqüência por ligações açúcar-fosfato e com cad a hemi-
molécula helicoidaJ (hemi-hélice) disposta de modo enanteomorfo em
relação à outra, sendo ligadas por pontes hid rogênicas entre as bases
purínicas e pirimidínicas (Fig. 14-7).
180 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IOENTlFICACAo ANTROPOlOGICA

11) 12)

A T T A

c G G c
A T T A

G c c G

13) 14 )

Figura 14-5. As Quatro ligaçOeI POufveis .nua as bau. -'eninaIA)·tmlna,n e guaMlItIG)·


cftoslnajC).

H-~-H O----------- ----~ N'Y· H


'C -C~ ' C - C: / N
+ ~ , ~....-
H-C
, N-C "N-H - --------------.N
, /
C= N
C

,,/ "O H/
Ilmln. adenlna

H
H Cí
H _ C / N-H ------------O,C _ C,N::,N
H-C J "'N--------------H-N C
, / 'C~W'"
,
N- C ... O -------------H- N/
,
/ H
I citoslna guanlna

Flgul. 14-6. Estrutura qulmlc. das base. purlnlc" 'Ideninll I gUlnlnal • plnmidlnicu
ttimlnl e cltosinal. evidenciando IS Ilglç/l •• (pontel NdrogenlclJl.
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE ,.,
Quadro 14-.1. VarlaçIodas bases presentes no ONAe no RNA em váta organismos.

Organllmo
ONA
Aff OIC A+ 1
"ã"""+C
.-..... "NA
8 _ Klfto
AIU OIC A + U e - AITIIrIo
"ô""+""C e - Kato

1. Vrrus mosaico 1.14 1,37 1,28 0 ,94


do tabaco
2, Fago T2 1,00 1,09 1,87 0 ,97
J , Fago /fi X174 0 ,75 1,31 1,35 0 ,76
!fita sim pias de

., ONAI
4 . E. co/i 1,09 0,99 !,OO 1,05 1,38 1, 18 0 ,83 ! ,06

., Serrada
mlJrcHcens
1,03 0 ,85 0,69 1,15 0 ,84 1,28 0 ,80 0 .8 1

.,.,
Pneumococos
7, levedura
OUnçCKIo-mar
NucleoH oócito
0 ,9 45
0 ,964
1,02
1.14
1,08
1,01
1.59
1.80
1,85
0 ,92
0 ,95
1,01
0 ,93 1,087
1,086 1,085
1,47 1, 34
1, 12 0 ,927
0 ,767 0 ,992
0,57 5 0.962
da estrela-do-
m..
la. Esperma da 1,02 1.01 1,43 ! ,ao
salmão
11 . Ffgado da boi 0 ,99 1.00 1.37 1.00 0.79 0.80 0 ,63 1,0 4
12. Nucleo de 0 ,805 0 ,865 0 ,795 0.990
flgado de boi
13. Timo de bezerro 0 ,985 1. 15 1,28 0,938
14 . Esperma de 0 ,98 1,03 1,67 0.978
homem
t5 , nmo de homem 1.05 ! ,OO 1,54 1.03
", Flgado da
homem
! ,OO ! ,OO 1.54 !,OO

Postulado Genético Fundamental


A natureza química do DNA leva a se postular o processo da ação gêni-
ca, basicamente, como:

transcriçtJo do tTQlIscriçtJo do
código código

DNA • RNA - - - - -••- síntese protéica

I
(código genético)

replica••o
ONA
182 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IOENT1ACAÇA.O ANTROPOLÓGICA

,.

._-
PorO de HidrugAt.,
(cIupIa ligaçao entre
8denInII - lIminl

nrecloNw.
_I

Agur. 14-7. Oi.gr.ma d. ncçlo da ettrotura l\ellcoidal cio ONA tendo como suporte u
mol6cula. ItÇÓcal-losfato , • reuniio du hemi-h4llc.. IUIV'S des lIgaç6u A - T lbiv..
'enta'. C. G Uriv,lentel. IAgur. modificada de Wltson e cols., 1988.1

Este esquema confere necessariamente quatro propriedades ao DNA.

a. Individualidade gênica: como foi demonstrado em estudo de ação


gênica em bactéria, o DNA gêmeo comporta-se como unidade indi-
vidual no processo de recombinação genética.
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 183

b. Duplicnçiio (replicnçilo) gênica: em virtude de sua capacidade de auto-


reprodução, o DNA assegura, através de suas réplicas, a manuten-
ção da informação genética durante o processo da divisão celular;
c. E~ecificidade gênica: por conter a informação genética codificada, o
DNA gênico é altamente específico durante o processo da síntese
protéica e, logo, na determinação das propriedades hereditárias
que resultam na determinação fenotípica, durante a morfogênese.
Essa especificidade é mantida graças à natureza química do DNA,
que permite se postular a teoria da seqüência das bases como meca-
nismo codificador da síntese dos 20 aminoácidos necessários à for-
mação das proteínas.
d. Mutabilidade gêniCll: também a natureza química do DNA explica as
alterações do código genético, com conseqüente alteração da infor-
mação hereditária, conhecida como mutação gênica . As mutações
que resultam de cópias ou réplicas alteradas são definidas por subs-
tituição específica de bases purínicas e pirimidínicas na seqüência
da cadeia de nucleotídeos, modificando a síntese correta de um ami-
noácido específico necessário ao processo "normal". Exemplos des-
sas alterações são conhecidos na síntese de hemoglobina humana.
Enquanto as propriedades a e b dão conta do processo de transmissão
gênica, as propriedades c e d explicam os mecanismos de expressão ou
ação gênica.
Do mesmo modo que a individualidade gênica decorre do comporta-
mento global do ONA gênico, as demais propriedades dependem do
arranjo de sua estrutura interna, isto é, de sua "anatomia" química quan-
to à seqüência linear das bases purínicas e pirimidfnicas. Dessa seqüên-
cia decorre não somente a capacidade de replicação do ONA, mas tam-
bém sua especificidade na transcrição e na tradução do código genético
e, ainda, sua mutabilidade.
A duplicação gênica, reconhecida citologicamente através da dinâmi-
ca dos cromossomos nos processos de divisão celular, pode ser explicada
em termos moleculares como decorrência da obtenção ;11 lJitro de novas
moléculas a partir de moléculas originais ou primers, bem como da análi-
se do DNA cromossômico com elementos radioativos marcadores das
bases nucleotfdicas.
Quando o ONA é degradado pela ação da desoxirrihose nuclease
(DNAse), resultam moléculas isoladas de desoxirribonucleotfdeos (tri-
fosfatos de nucleotídeos) das diferentes bases purínicas e pirimidínicas
(A-G-C-D. Estas podem servir de substrato para a síntese de novo DNA
ir! vitro, desde que haja:
184 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTlRCAÇAO ANTROPOLÓGICA

a. ação da poLimerase, enzima purificada responsável peJa síntese de


DNA;
b . presença de DNA de alto peso molecular, que funciona como um
primer para réplica sintetizada.

A reação obtida pode ser descrita como aparece na Fig. 14-8, revelan-
do que o DNA primer funciona como modelo (template) para replicar
outra molécula exatamente igual em sua estrutura química quanto à
seqüência de bases.
Os estudos com isótopos marcados de nucleosfdeos em E. coli, reco-
nhecidos pelo gradiente de densidade após uJtracentrifugação (experi-
mento de Mcselson-Stahl), indicam que cada hemimolécula espiral do
DNA agiria como molde sobre o qual nova molécula é sintetizada pela
formação de uma cadeia com bases complementares (A - T e C - G ou T
- A c G - q, resultando de cada hemimolécula uma molécula derivada .
Esse processo se mantém através das divisões celula res, conforme
demonstrado na Fig. 14-9.
O processo é paralelo à divisão cromossômica, que, na primeira divi-
são, produz DNA nibrido, mas, nas divisões seguintes, um número gra-
dativamente maior de moléculas puras, isto é, somente com um tipo de
elemento ma rcador (N14 ou NlS). Esses dados mostram que a "réplica"
do DNA é do tipo semiconservativa, isto é, cada hemimolécula conser-
va-se íntegra, funcionando somente como molde que mantém constante,
de divisão em divisão, a seqüência linear das bases dos nucleotídeos e,
conseqüentemente, integra a natureza do código genético.

CÓDIGO GENÉTICO: TRANSCRIÇÃO


E TRADUÇÃO
A decodificação da informação genética contida nos genes é processo
complexo, que envolve trallscriçlfo da informação codificada na seqüên-
cia das bases no DNA gênico e sua traduçifo ao nfvel dos ribossomos,
onde se dá a sín tese protéica. Nos processos de transcrição e tradução,
participam moléculas de RNA de dois tipos quanto à sua função, mas
exibindo sempre complementariedade na seqüência de suas bases em
relação ao DNA, cuja informação deve ser decodificada. Antes de se con-
siderar o mecanismo fundamental da síntese protéica como um todo, é
necessário conhecer a natureza da linguagem do código genético contido
no DN A e sua correspondência no RNA.
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 185

A 8
A-T
c-o
Dupla ~Ilce PfI~taJ
T-A
O-C

A T
C O cIu ~ hldrogtnlcu
Quebn,

T A com ~~ (desesplralluçtO)
O C . . dwI. cadelu

A-T A-T UgaçAo doi: hIdIogInIof;


C-O C-O a~nco. ao conjU"llo de
T-A T-A buel nucktoIldicII.
O- C O-C de aade cadeia

A-T A-T
C-O C-O PoIlmenlzllÇAo de nucleotlõeos
T-A T-A
O-C O-C

Figura 14-8. Diagrama de r'plicll do DNA, Indicando a dasespital1zaçao das hemi-h6lices


IA ) e a formação de cadeias cujas bases seqüenciais funcionam como temp/lIte para as
novas bases complementares 18 ).

A síntese ;11 vitro de aminoácido específico na presença de polinucleo-


tídeo sintético com seqüência de bases conhecidas tem sido o principal
método para se determinar a natureza do código genético. Há polinu-
cleotídeos sintéticos que possuem somente um único tipo de nucleotídeo
quanto à base (poli-A, poli-V) ou dois ou mais (poli-AU, poli-AVG etc.).
Em organismos unicelulares, esses polinuc1eotídeos funcionam como
RNA artificial, produzindo aminoácidos cuja presença pode ser correla-
cionada à seqüência de bases especificas no RNA . Por exemplo, poli-A
sintetiza somente tirosina; poli-U, fenila lanina; poli-C, prolina. Entre--
tanto, poli-Ve ou poH-AGG, por exemplo, podem determinar a síntese
de vários aminoácidos, de modo a revelar a existência de uma seqüência
específica de bases ou cOOo1l,' que codifica especificamente cada um dos
20 aminoácidos (Fig . 14--10), em duas fases: transcrição do código do

' Conjunto de três nucleotfdeos adjacentes que codificam um aminoácido ou


representam a terminalização da cadeia.
186 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

11 111

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FIgura 14-9. ESQ\lema de uAs poss/vli. mliK:lnlamos de rêplica do DNA eo longo da cedf!!'
espirai: I - con •• rvltivo. 11 - IlImlconservltivo .. UI - di,pe,.ivo. O experimenlo de
Me.elson,Slahl demoosttOlJ I ocorr6ncla do Pfocesso semicoolervltJVO. posteriormeml
confirmado por lIuto·radlogr.lia. IFiOU" modillcada de Cummmgl, 1991.'

DNA cromossômico e tradução do código em lermos de síntese do


DNA. Cada aminoácido é especificado através de um tipo de RNA,
denominado mensageiro (mRNA), que transcreve a seqüência de bases
do DNA em termos de seqüência correspondente no mRNA, posterior·
mente traduzida na síntese de um aminoácido particular, do seguinte
modo:

DNA: lTC TIT CAA erA TAA AAG CGC ATA TCA ... etc
mRNA: AAG AAA UUG GAG AUUUUC GCG UAU AGU_ etc..
aminoácido: glu Iys Os gly tyr leu gly leu mel... etc.
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 187

A análise detalhada da transcrição do código revela que as bases do


DNA são complementares às bases do RNA:

bases DNA t ranscrição bases RNA


adenina (A) uracila (U)
timina (1) adenina (A)
guanina (C) citosina (C)
citosina (C) guanina (G)

o alfabeto codificado, representado pelas quatro bases ou "letra", iso--


ladamente, só poderia produz ir quatro " palavras" em relação a um códi-
go que necessita de 20, para a síntese de todos os aminoácidos. A combi-
nação de duas letras ainda resultaria insuficiente, conquanto somente 16
combinações seriam possfve is (AA, AT, AC, AG, TA, TI, TG, TC, CC,
CA, CC, Cf, GA, Gr, CC, CC). A seqüência combinatória de três letras
o u trincas (tripletsJ, revelada ex perimentalmente, produz 43 ou 64 "pala-
vras" para um código que necessita somente de 20 unidades de informa-
ção. Isto justifica a existência de códigos redundantes ou degenerados,
como acontece, por exemplo, com a alanina, que pode ser codificada por
três diferentes trincas (CUG, CAG, CCG). Esta situação indica que "pala-
vras" ou trincas diferentes têm o mesmo sentido em virtude de duplas
comuns, muito embora haja evidências de que certas trincas possam ter
s ignificação, não em termos de especificação de aminoácidos, mas para
compo r a mensagem, codificando interrupções ou, então, podem mesmo
ser sem sentido (non sellse).
Desde que cada trinca codifica especificamente um aminoácido, é de
se esperar que qualquer alteração nesse cadon signifique uma mudança
na informação que produz síntese da cadeia polipeptídica, e a alteração
da proteína pode ser atribuída a uma mutação gênica. Freqüentemente,
a troca de uma única letra (base) produz alteração correspondente de
um aminoácido, indicando que o código não é justaposto. Contudo,
algumas alterações em um único cadon podem produzir modificações
em dois aminoácidos da cadeia polipeptfdica sintetizada, revelando a
existência de códigos justapostos. Esse fenômeno parece ocorrer, por
exemplo, na síntese de triptofano em E. cab.
As alterações de qualquer região (sUe) da estrutura de um gene fun-
cionai ou eislro" significam, em termos de síntese protéica, produção de
aminoácidos diferentes dos originais . O astron é representado por um
segmento de DNA, consistindo de cerca de 2.000 bases nuc1eotídicas
integradas na síntese de uma proteína com função estrutural (por exem-
188 NQÇOES DE ANTROPOlOGlA E IDENTlACAÇ.lO ANTROPOlOGICA

. ...

.....
G
.....
'"
....
Lo"

C
r
........
.....

·N. molécula de ANA. UmlNI • subatltuldà. pela urlel'• .

- . . no_
-
O ÇrrculO mal, O1erno repre..nta. o amlnóaddo ou o codoo eM 'ermlnallzaçao (x)

-
Amlno6ddo

.....
"""M
Aaparglna
~("')
No (J!)
Mo (N)
1001,""""
Lo""""
u.,...
"In
..... (l)

L" (K)
Acido a spjrtlc:o Mp (P)
Aan alOt.J Asp Au (8 )
"'UonIna
Fenllalanlna ''''
Pha (FI
IM)

ClstalNl
Glutamlna
ÁcIdo glutlmlc:o
c,. (C)
OI. (O)
O," (E)
.....
P<oIIna

T"••nlna
p,. (P)
se, (S)
Th, (T)
Btn e.'cJtj GJu O~ (Z) T~1an T", (W)
OlloN O~ (O) T.-..a T" M
Hlstldlllll HI. (H) Vali,... V.I M

Figura 14· 10 . Código genttico consdtuldo pela seqOtnc!. da uh bMn purmlas tA-GI .
plrimidlnlc•• (T·el na pane central 00 círculo, indicando o codon cOf,espondenta • c.t.
amlnoi!lcldo na lua perif.,,,.
A PESQUISA DE ONA EM ODONTOLOGIA FORENSE 189

pio, hemoglobina) ou enzimática.' A seqüência original dos pares de


nuc:1eotfdeos pode logo ser alterada por diferentes mecanismos, entre os
quais a substituição de uma única base parece ser o mais simples e fre-
qüente. Todavia, processos, como inserção, deleção ou inversão de um
ou mais pares de bases, têm sido considerados como responsáveis por
mutações gênicas. Qualquer região de um ou mais pares de bases susce-
tível de produzir mutação é considerada uma unidade mutacional ou
mutan.
A natureza universal do código genético, demonstrada experimental-
mente, apresenta certas exceções, como, por exemplo, codotls que não
têm sentido em dados organismos e 530 funcionais em outros. Contudo,
a degeneração do c6d.igo parece ser aparentemente generalizada, existin-
do cadans que não codificam aminoácidos, mas exercem funções de
sinais especiais, como, por exemplo, sinal de terminalização (Fig. 14-10).
Essa degeneração reflete a natureza não-justaposta do código e deve ter
significado evolutivo, já que poderia agir na estabilização da variabilida-
de genética da espécie. É possível que a degeneraÇólo envolva a ocorrên-
cia de diferentes RNAs, responsáveis pela tradução do código.
Até a década de 70, admitia-se a existência de uma relação direta uni-
versal entre as bases purínicas e pirimidfnicas do DNA e do RNA no
processo de transcrição da seqüência do código genético para a produ-
ção dos aminoácidos, então bem-demonstrada nos protocariontes, espe-
cialmente em bactérias (Eschericltia coli).
Entretanto, a clonagem dos primeiros genes dos eucariontes mostrou
que freqüentemente a estrutura gênica inclui regiões que nunca são
transcritas para a realização da síntese polipeptídica - os intrans ou
seqüências intervenientes. A molécula do DNA apresenta muito mais
ribonuc1eotrdeos do que o mRNA (RNA mensageiro) final, de modo que
cada tipo de gene pode inclujr número variável de introns (nenhum ou
até duas dezenas), podendo alcançar mil bases.
As regiões limítrofes do gene, não codificadas para sÚltese protéica,
nas posições 5' e 3' do resíduo fosfato (j1anking regiotlsJ, têm papel funda-
mentai na regulação da exp'r essão gênica, através da seqüência de
nucleotfdeos codificados por grupos de bases (OOx), reconhecidos como
CAAT e TATA. Essas regiões, localizadas no início (cap) de cada gene,
onde indicam o ponto de atividade da RNA-polimerase, descartam os
illtrons, com subseqüente junção (splidng) precisa das seqüências das
bases codificadas, os UOIl5, que representam seqüência de DNA de um

' A molécula do DNA pode incluir pares de nucleotideos da ordem de tO'.


190 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLOGICA

cistron, transcrita no mRNA. As seqüências de introns e uons foram be.m-


definidas para os genes da ovoalbumina e betaglobina. cujos intrrms não
são representados no mRNA, em contraste com as regiões codificadas
monitoradas por resíduos 3' e 5', Alterações nesse processo, provocadas
por mutações n05 illtrotls , podem gerar síntese anômala da protet'na
codificada, podendo dar origem a doenças genéticas, como, por exem-
plo, a betataJassemia.
Conseqüentemente, os illtro1ls podem ser considerados seqüências
intercaladas de nucleotídeos no DNA localizadas em um gene que não
codificam nenhuma porção da protefna final. Sua função precisa é desco-
nhecida, porém sabe-se que a síntese de polipeptídeos ocorre normal-
mente in vitro, mesmo na ausência de introns. Por outro lado, os introns
freqüentemente incluem regiões extremamente polimórficas, prestando-
se particularmente à identificação genética individual (Marx, 1976).
Nos vertebrados superiores (aves e mamíferos), os mRNA nucleares
são apreciavelmente maiores do que aqueles do citoplasma, de modo
que o tRNA (RNA transportador) já contém "cortes" que aparecem no
rRNA (RNA ribossômico) . O RNA precursor do processo de transcrição
é conhecido como RNA lIuclear Ireterogbreo, ou, como prefere Watson
(1988), prt-mRNA, o qual, após sua transaição, é processado até mRNA
através de enzimas específicas (nucleases). A Fig. }4-11 esquematiza o
mecanismo de transcrição gênica e evidencia a natureza homeostática e
epigenética dos processos biol6gicos discutidos na introdução deste
capítulo.
As principais referências bibliográficas nas quais se baseou a elabora-
ção da Eslmlura e Ação dos Genes são: Davidson (1960), Sager e Ryan
(1961), H.yes (1964), Wagner e Mitchell (1964), De Robertis e De Robertis
(1986), Watson e cols. (1988), Lewin (1990), Cummings (1991), Lee (1991)
e Lehmingcr e cols. (1993).

ANÁLISE DO POLIMORFISMO DE DNA

Variabilidade Genética versus


Individualidade Genética

Conforme discutido anteriormente, a existência de variantes alélicas na


estrutura do DNA, particularmente nos introns, penrute a identificação
de inúmeros polimorfismos estáveis nas populações que são a base para
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 191

raglAo nlo
codmc.da
IExon Exon
r ragllo naol
Exon codificada
5' Inttron I I Intron I
3'
Ragllo
DNA1 a stlmuladora ~ 1 I
lj'wTl fTATAl
5' ."t:rt':r::=t::;JC::Ct:::J-_ _ _....
I I
• Transcriçlo
1
• Processamento
-cap~ 5' ~ J I . -I I t-- MAA
11 J
1I-IjurçOO)
"Cap"' 5' ~ t=:1 ~ Cauda 3'
Nucleo
~
mRNA -c.p. 5' ----4C====::J~ CaUda 3'
Movimento do mRNA
Cltopl ••rn..

-Cap· 5'
! processado para
o cit oplasma
---oIC==~=~1-- Cauda 3'
• Traduçao
~
Pol1pepHdeo

Flgur. 14· 1 1. Esqueml do processo di · 'elturs · do CódlVO gen'tlco. com elirmnaçAo do s


na ulnscrição do ONA IHIra o mRNA, I lua polterlor uaduçlo como cadela poli·
in tfOllJl ,
peptldlcl no ribossomo.

a identificação genética individual. Estas variantes. os nuzrcadortS de DNA


(markers), para que sejam adequadas na identificação hereditária indivi-
dual, devem obedecer aos seguintes critérios:

1. padrão estabelecido de transmissão hereditária;


2. segregação independente em relação a outros marcadores;
3. porcentagens baixas de mutação;
4. eficiência na ca racterização e na diferenciação de grupos raciais da
populaçã.o, ap resentando, portanto, alta sensibilidade na identifica-
ção e exclusão ind ividual;
5. freqüência renotipica conhecida com polimorfismo, incluindo alto
grau de heterozigose;

192 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇAo ANTROPOLÓGICA

6. técnicas de investigação simples, rápidas, passíveis de reprodução


e de custo razoável;
7. identificação precisa dos alelos;
8. utilização de pouca quantidade de material para análise.

Como resultado dos recentes e constantes progressos na genética


molecular, novas técnicas tomaram-se disponíveis, aumentando a capa-
cidade de identificação das variações ao nível genômico para fins clíni-
cos e médico--legais .
Os testes de identificação ao nível do DNA têm revolucionado a Bio-
logia Forense, em virtude do seu alto potencial discriminatório e da pos-
sibilidade de análise de diminutas quantidades de material biológico,
em alguns casos virtualmente ausente. Devido ao significativo desenvol-
vimento de metodologias e ao conseqüente aumento do conhecimento
do genoma humano, descobriu-se que regiões do DNA apresentam
maior variação em comparação aos foc; analisados em testes convencio-
nais, permitindo uma melhor discriminação entre individuas. Estima-se
que o genoma humano exiba polimorfismos, variando de 1 em cada 100
a 1 em cada 1.000 nucleotfdeos. Portanto, a variabilidade entre seres
humanos, ao nível de DNA, é plenamente suficiente para fins de identi-
ficação individual.
Polimorrismos ao nível de DNA podem ser causados por variações de
um único nucleotídeo, bem como por meio de um número variável de
repetições em tanden (variabfe number Df ta"den rt:peats - VNTR). Esta últi-
ma indica repetições do tipo "seqüencial", ou seja, "uma após a outra".
Como o nome sugere, trata-se de pequenas seqüências de nucleotídeos
que se repetem sucessivamente, variando no número de cópias de cada
seqüência no genoma . Estima-se que 30% do DNA humano sejam com-
postos por repetições, não tendo estas, na grande maioria, significado
funcional, isto é, não codificam qualquer proteína (jlltrotls) (Marx e cols.,
1976). Posteriormente, o número dessas repetições mostrou-se altamente
variável na população humana, produzindo O polimorfismo de compri-
mento dos fragmentos de restrição (restriction fragments lengtll polymor-
phism - RFLP) Oeffreys e cals., 1985a).
Atualmente, os testes mais utilizados na identificação forense empre-
gando a pesquisa em DNA são: (a) análise por hibridização, utilizando
sondas de mllltilocus (muftilocus probes - MLPs) ou sondas de focus sim-
ples (single loclIs probes - SLPs), detectando os RFLPs e os STRs (sllOrl tan-
der! repeats) (Botstein e cols., 1980), e (b) reação em cadeia da polimerase
(peR), para reconhecer seqüências polimómcas nonnalmente presentes
em mini ou microssatélites.
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 193

Detecção de RFLPs através do Processo


de Hibridização
São basicamente dois os tipos de sondas7 utilizadas nos testes de identi-
ficação: sondas mllltl10cus (MLPs) e sondas de locus simples (SLPs).
As SLPs buscam. em um loeu$' de um par de determinado cromosso-
mo, a seqüência de DNA complementar à sonda utilizada . Sendo assim,
o emprego dessas sondas resulta em, no máximol duas bandas diferen-
tes, nos casos de indivrduos heterozig6ticos, ou em apenas uma banda,
nos casos dos homozig6ticos. Exemplificando, nos casos de investigação
de patemidade. se o perfil de bandas da criança apresenta-se como hete-
rozigoto, seus pais, se verdadeiros pais biol6gicos, devem ser portadores
homozigóticos ou heterozig6ticos (cada um) de uma das bandas presen-
tes na criança em questão.
A MLP detecta vários segmentos de DNA repetitivos, localizados nos
vários cromossomos. Assim, o emprego dessa sonda fomece um padrão
que varia entre 20 e 30 bandas em cada indivrduo. Devido a este elevado
número de caracteres, a probabilidade de igualdade entre duas ou mais
amostras analisadas (amostras diferentes) é muitfssimo baixa. Tal padrão
é tão individual quanto a impressão dermatoglífica digital, conseqüente-
mente conhecida como DNAfinguprinting.
Sucintamente, o processo tradicional da análise por hibridização com
sondas baseia-se no corte do DNA por enzimas de restrição que produ-
zem fragmentos de comprimento diferentes (RFLP) . Estes são dispostos
em gel de agarose ou poliacrilamida e submetidos à eJetroforese, onde
são agrupados, segundo seu comprimento, por meio de uma corrente
elétrica. Posteriormente, são transferidos para uma membrana de náilon
(blotting) e hibridizados com sonda (probe) marcada com material radioa-
tivo ~P", JSs, 1251, 3H) ou não-radioativo (biotina, fotobiotina, coloração
por horseína peroxidase, digoxigenina, citosina sulfurada) (Decorte e
Cassiman, 1991). Após a revelação através de pe1fcula de raios X, um
perfil complexo, apresentando no mâximo um par de bandas (quando
utilizada sonda a monolocus) (Fig. 14-12) ou várias bandas (quando utilj·

'Locus - plurallod (latim): posiçlo fixa em um O'Omossomo ocupada por determi·


nado gene ou por um de seus Bielas
"Sondas de DNA: pequena seqüência de! bases nitrogenadas conhecidas. apresen·
tando configuraçJo de hemi-hélice. marcadas com material radioativo ou qufmico.
• "'P: mais comumente utilizado pelos laboratórios de pesquisa, apresentando OI
mais alia taxa de emissaio (McV), vida média de 14,3 dias e resoluçJo in SI'U a ~50
mm e através de filtro, de 2CJO..SOO mm.
194 NOCOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLOGICA

zada sonda multilocus), é visível, configurando o pad.rão individual da


amostra analisada (DNAfingerprinting) Qeffreys e cols., 1985a).
A aná lise dos resultados é baseada no padrão de bandas observado
em cada amostra analisada. Assim, nos casos de investigação de paterni-
dade. o perfil de bandas correspondente à criança deve corresponder à
combinação do padrão de bandas: matemo ou paterno.
A técnica do finguprinhng teve merecido e amplo sucesso, mas apre-
senta uma série de dificuldades técnicas. exigindo experiência. principal-
mente na análise estatística e na interpretação dos resultados. Por outro
lado, a utilização de um conjunto de cinco a oito sondas mono/ocus é sufi-
ciente para que se obtenham um alto poder de exclusào e elevados valo-
res de probabilidade na diagnose de paternidade. O uso de sondas mono-
10cus permite o cálculo da probabilidade de paternidade, através dos
métodos já consagrados pelos marcadores clássicos, porém apresenta
desvantagem em virtude do relativamente elevado custo determinado
pelo processo da digestão enzimática, blottmg, e a hibridização com a
sonda correspondente. Há também, como fatores limitantes, a qualidade
e a quantidade de amostras disponfveis, principalmente em se tratando
de amostras odontológicas forenses.

A Técnica da PCR: Reconhecimento das Seqüências


Polim órficas ou de Comprimentos Polimórficos
Até 1985, a análise genética com finalidade médico-legal, em razão da
pequena quantidade de material disponlvel. era limitada. A qualidade
das amostras para análise, usualmente inferior a 1 J.Lg. é inadequada para
obtenção de resultado confiável em alguns casos, como em crimes
sexuais, ou apresenta·se contaminada por outro tipo de material. Porém,
com o advento da PCR (Mullis e cals., 1986), que permite a amplificação
de regiões restritas do genoma, associada à sua hibridização e aos receo·
tes desenvolvimentos da tecnologia da AmpFLP (amplificação de com·
primento de fragmentos polirnórficos), aumentou o potencial de análise
das amostras forenses. Provavelmente, sua maior contribuição tenha
sido tornar possível a amplificação exponencial de seqüências de ácidos
nucléicos in vitro, possibilitando valiosas infonnaçôes obtidas de quanti·
dades extremamente pequenas de DNA (Bugawan e cals., 1988; Higuchi
e cols., 1988, Sajantila e cals., 1991; Walsh e cols., 1992; Akane e cols.,
1992) ou, até mesmo, de uma única célula (U e cols., 1988), bem como de
DNA degradado, uma vez que a seqüência nucleotídica de interesse não
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 195

~ - M.""",.ONA
~ Quer. com UITIII ou lTIIIit enVmas de restriçio

==-j/:;-
........-
-t-:::::._ ----
'"'Ç"~ - - -- -
-..;.F" •
-=-/.;:::::-=- --- ONA n.gmem.do

GtII d. aglfOH IUbmetióo a eIetroforen

. ';': . . : ..1 _ Fragmento. di.po.to. no gel


separ.dO$ por t.manha

+-_GoI
+__ Membrana

FragmentM po*IonlHlOl
na membrana de nitrocelulose
(posIçIo Idtntlc:e. ~
no gel de agafOH)

Agura 14-12. T6cnica Southom bIottlnll. indicando a proouçio dos fr.gment05 de restri-
çlo reconhecidos por sondas marcadas no finei do processo.
' 96 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

seja muito grande (Impraim e cals., 1987). A diversidade do material


potencialmente fonte de DNA (fios isolados de cabelos, pêlos, polpa
dentária, saliva etc.), a rapidez, a especificidade e a possibilidade de ser
incorporado à tecnologia automatizada também são vantagens das aná-
lises com base na PCR. Todavia, salientam alguns pesquisadores, o grau
de variabilidade observado em cada um dos sistemas monolocos, obje-
tivando discriminação individual, é menor do que em cada um dos exa-
mes envolvendo sondas multilocos. Assim. faz-se necessário aumentar
o número de sistemas testados, visando incrementar o poder de discri-
minação, que pode confirmar a paternidade com probabilidade de
99,99%.
O princípio da técnica conhecida corno PCR (Mullis e cals., 1986) é
baseado na estrutura e na seqüência do DNA. Um conjunto de primers,
compostos por duas pequenas seqüências de oligonudeotfdeos, os quais
são complementares a uma certa extensão em ambos os lados do DNA a
ser amplificado, é usado para iniciar a reação. Esta ocorre em meio está·
vel, pela adição de um buJfor ou soJuçilo-tamptfo. O DNA, com a seqüência
originalmente conhecida, é chamado de DNA tmp/ate ou nw/de.
Procedendo-se ao aquecimento da molécula de DNA (dupla hélice)
aàma da temperatura fisiológica (37"C) , suas pontes de hidrogênio se
quebram e há separação das hélices. Este processo é denominado dtsna·
tllraçilo do DNA ou melting (Watson e cols., 1988).
Quando esta solução é vagarosamente resfriada, cada hélice encontra·
se com sua complementar e a estrutura de dupla hélice reconstitui-se -
processo conhecido como amdamellto (a1l1lealillg). Esta habilidade de
renaturação da molécula de DNA pennite a hibridização entre a hélice,
que é unitária (sing/e strtmd), e o primer. Esta preferência pelos primers à
cromátide irmã ocorre devido à alta concentração dos primers proporcio-.
nalmente ao DNA em estudo, presente no meio.
Durante o processo, tomam-se disponíveis nucleotídeos (desoxirríbo-
nudeotrdeos trifosfatos - dNl"Ps), livres em alta concentraçào, que servirão
na composição da nova seqüência a ser replicada .
Com o novo aumento de temperatura, a enzima de recombinação,
denominada TaqDNA polimerll5e, fornece energia à reação, incorporando
o nucleotideo na posição terminal do prima, promovendo a elongação
da cadeia. A este processo chamamos extmsdo.
O conjunto de reações em série de desnaturação, aneJamento e exten·
são é definido como um ciclo. A execução de um ciclo resuJta na amplifi-
cação da seqüência de DNA desejada .
O produto de um ciclo de amplificação serve como template para o
próximo assim, cada ciclo sucessivo, essencialmente, dobra a quantidade
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 197

de DNA produzido a ser amplificado. A PCR é um processo baseado na


repetiç~o desses ciclos e pode amplificar a seqüência de DNA em, no
mfnimo, lOS vezes e, potencialmente, em até 109 do DNA original, em
condições ótimas (Fig. 14-13).
Uma vez que o produto da amplificação apresenta-se em quantidade
relativamente grande, o uso de marcadores radioativos é perfeitamente
dispensável. Coloca·se então o produto da amplificação em gel de aganr
se, contendo brometo de etídio, que se incorpora à cadeia de DNA, ou
em gel de poliacrilamida, que pode ser corado com prata, por exemplo,
seguido de e1etroforese.
Objetivando auxiliar a atuação do profissional que se propõe a executar
a técnica da reação em cadeia da polimerase na investigação forense, serão
abordados a seguir alguns dos parâmetros envolvidos nesta técnica.

Fatores que Afetam o Processo da peR


Vários pesquisadores envolvidos no aprimoramento da PCR em diferen-
tes campos de aplicação, entre eles Erlich (1989), Kwok e Higuchi (1989),
lnnis e cols. (1990) e Ausubel e cols. (1990), têm observado alguns fatores
que comumente afetam o produto, comprometendo a especificidade e a
sensibilidade da amplificação do DNA através da reação em cadeia da
polimerase (Calabrez, 1991). A seguir são mencionadas algumas dessas
observações e sugestões que contribuem para o sucesso da PCR.

Sol u ção-Tampão (Bllfler)

A solução-tamp~o usualmente utilizada na PCR contém cloreto de


potássio (KO), Tris (C.HIINO,) pH 8,3, cloreto de magnésio (MgCl,) e
gelatina. Quando se opta pelo uso de leUs, esta solução já vem preparada;
no entanto, muitas vezes, objetivando a otimização da reação de amplifi-
cação ou adaptação às condições ambientais, a solução--tampão precisa
ser preparada (normalmente lOx, alicotada, sendo armazenada a -20"C).
Apesar de lnnis e cols. (1990) enfatizarem que não existem concentrações
padrões compatíveis com todos os protocolos, os mesmos autores ~
mendam o uso das seguintes concentrações: Tris·HCl lO a 50 mM (pH
variando de 8,3 a 8,8, a 20"C); NaCI 50 mM ou KCl acima de SOmM
causa a inibição da atividade da enzima TaqDNA polimerase. Contudo,
apesar de vários protocolos apresentarem bons resultados trabalhando
19S NOCOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIACACÂD ANTROPOlOGICA

Flgurl 14-1 3. ReaçAo em c.ad&ll da pollmerase (PCR). esquematIZando IJ IUH de cada


cIcio .

sem a adição de proteínas, gelatina ou albumina bovina na concentração


de 100 mg/ ml, e detergentes como 1'weel1 20 ouLAu-reth 12 (O,OS a 0.1%),
estes geralmente são sugeridos para estabilizar a ação enzimática .
A solução-tampão atua como meio onde ocorre a reação de amplifica-
ção. Assim, qualquer mudança nessa solução compromete as caracterís-
ticas do prod uto emal.
A PESQUISA DE oNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 199

A variação na concentração de cloreto de magnésio é de particular


importância, afetando diretamente a especificidade da reação, a ativida-
de e a precisão da ação enzimática, comprometendo o anelamento dos
primers, a dissociação das fitas duplas (tanto de DNA template como do
produto amplificado), a quantidade de produto fmat podendo propor-
cionar ainda a fonnação de "primer-dimer artifacts" (segmentos que com-
petem com a seqüência-alvo pela amplificação) . A soluçâo-tampão
provê cátions de magnésio (Mg+t) à enzima TaqDNA poLimerase, para
que esta proporcione a união entre o DNA template, os primers e os
dNTPs presentes na reação. Para que se possa calcular a concentração
adequada de cloreto de magnésio presente na solução-tampão, deve-se
ter em mente que os Mg- disponíveis para a enzima equivalem à con-
centração de MgCI2 menos a concentração total de dNTPs presentes no
meio, visto que estes também se unem aos Mg""', em quantidades pro-
porcionais.
Resultados satisfatórios em experimentos com DNA genômico foram
obtidos por Saiki (1989), que utilizou cloreto de magnésio na concentra-
ção de 0,5 - 1,5 mM. No entanto, reações contendo 0,5 - 2,5 mM de mag-
nésio acima da concentração total de dNTP são sugeridas e utilizadas
por Innis e Gelfand (1990) em seus experimentos envolvendo DNA
genômico. Os mesmos autores ainda observaram que a presença de EDTA
ou de outros agentes quelatizantes (cltelators) nos primers ou no DNA
template pode comprometer a ação do magnésio. Em termos práticos, a
concentração ideal de MgC~ depende das características próprias de
cada reação, implicando a seqüência-alvo a ser amplificada e o conjunto
de primers utilizados. Em condições padrões, onde os quatro dNTPs
apresentam concentração final de 0,8 mM, a adição de 1,5 mM MgC1 2
deixa 0,7 mM livre na reação. Conseqüentemente, se a concentração de
dNTPs alterar-se significativamente, haverá necessidade de compensa-
çãode MgC~ .

O lig onucleotídeos (Pri mers)

o conhecimento da composição do primer é, sem dúvida, o fator que irá


determinar o sucesso da reação de amplificação. Infelizmente não há, até
o momento, um conjunto de regras que garanta a síntese de primers efi-
cientes, o que toma esta seleção uma prática empírica. Há, no entanto,
algumas sugestões que visam a orientar o desenho de primers de alta
precisão (lnnis e coIs., 1990; Sambrook e cals., 1989; Saiki, 1989).
200 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E tOENTIACAÇAO ANTROPOLÓGlCA

a. O comprimento típico do oLigonudeotídeo iniciador da PCR deve


conter de ~8 a 2B nudeotfdeos, preferencialmente 20 a 24, apresen-
tand o de 50 a 60% de guaruna + citosina (Mol% G+C). Em virtude
d o comprimento reduzido, na temperatura de polimerização
(usualmente de noc), esses primers não apresentam estabilidade.
Por ourro lado, após a ação da TaqDNA, os produtos estendidos
são longos e permanecem unidos ao template, mesmo após a eleva-
ção rápida da temperatura até 'Tr'C.
b. Sempre que possível, deve-se optar por primers nos quais a disbi-
buição das bases seja aleatória e que contenham % G+C semelhante
ao fragmento a ser ampUficado (seqüência-alvo). Primes contendo
seqüências longas de polipurinas (por exemplo, CGC), polipirimi-
dinas (por exemplo, CCC) ou seqüências não-usuais devem ser evi-
tados, uma vez que podem promover a iniciação errônea (mispri-
ming) em fragmentos ricos em G+c.
c, Evitar pn'mus apresentando complementaridade nas terminações
3', especialmente quando estas se sobrepõem, irão reduzir a inci-
dência de "primer-dimer-artifads" e aumentar a produção do produ-
to desejado,
d, O equilíbrio da temperatura de fusão (TM) do par de primers é im-
portante..a fim de orientar na detenninação da temperatura de ane-
lamento. Thein e WaIlace (1989) sugerem que se abibuam 2"C para
A ou T e 40C para G ou C. Dependendo das condiçõcs da reação,
TM (melling temperatures) entre 55"C e 8O"C são consideradas satis-
fatórias.
e, Primers em alta concentração podem causar a iniciação da amplifi-
cação em pontos fora da região-a lvo (ectopic sUes priming),
Co ncentraçÕes entre 0,1 e 0,5 mM mostram-se, na maioria dos
casos, eficientes. Sambrook e cols. (1989) sugerem a redução da
quantidade de primus na reação nos casos em que o produto ampli-
ficado apresente-se reduzido ou contaminado por seqüências dife-
rentes daquela visada.

Molde (Template)

A reação em cadeia da polimerase tem sido especialmente conhecida por


sua capacidade de produzir considerável quantidade de produto-
seqüência de interesse, tendo como molde DNA bruto ou até mesmo
degradado. O DNA da amostra não precisa ser quimicamente puro para
A PESaUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 201

servir como molde, contanto que não contenha inibidores da ação da


enzima Taq (Erlich, 1989). Entretanto, os contaminantes presentes
podem diminuir a eficiência da reação, como enfatizam Gelfand (1989) e
Gyllensten (1989, apud Ausubel e cols., 1990), entre outros autores.
Os efeitos dos vários protocolos de rápida preparação das amostras a
serem submetidas à PCR são descritos por Higuchi (1989), que sugere
que procedimentos simples, como fervura (por exemplo, porção de cul-
tura celular), podem ser utilizados com sucesso na extração do DNA,
mas que, todavia, deve-se ter cautela quanto ao volume de amostra
manipulado . Tecidos orgânicos diretamente submetidos à peR vêm
sendo largamente utilizados, especialmente na prática da Medicina e da
Odontologia forenses. Wright e Wynford-Thomas (1990) registram que
apenas cinco micrômetros de material histológico fixado são suficientes
para obtenção de produto amplificado, sem prévia extração de DNA, em
condições ótimas de reação. Objetivando a inativação de possíveis inibi-
dores, a lise das células por simples fervura (lO minutos), assim como a
eliminação das proteínas, pode melhorar ainda mais a qualidade do tem-
pinte a ser submetido à reação. Células incubadas em proteinase K ou
submetidas à extração de DNA com fenol tomam-se livres de proteínas,
as quais podem comprometer a especificidade e a eficiência da reação
em cadeia da polimerase.
No que tange à quantidade apropriada de DNA templnte a ser adiciona-
da à reação, GeUand (1989), Gyllen,>ten (1989) e Hicks e Coen (dados não-
publicados, apud Ausubel e cols., 1990) mencionam que 100 nanogramas
de DNA genômico parecem ser o suficiente para detecção de um produto
de PeR, a partir de uma única cópia de gene de mamifero. A origem do
DNA pode variar, mas o mínimo de cópias de tentplntes irá usualmente per-
manecer entre 1()2 e lOS, em condições ótimas de reação, a partir de 0 1 mg
1

de DNA genômico humano. Os mesmos pesquisadores atribuem à quan-


tidade elevada de template presente na reação a diminuição da eficiência
de amplificação, em virtude da contaminação durante a preparação do
DNA, aumentando a produção de produtos inespecíficos.

AmpliTaqDNA Po li merase

Existem no mercado duas formas de TaqDNA polimerase: a enzima


extraída e purificada da bactéria Tlremllls aqunticus ou aquela produzida
pela engenharia genética através da síntese em E. coli (AmpliTaq1M).
Ambas apresentam propriedades equivalentes e aplicabilidade satisfató-
ria como enzimas catalisadoras na PeR.
202 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlACAÇÂO ANTROPOLÓGICA

A quantidade adequada de enzima a ser adicionada na reação é de. ap~


ximadamente, duas unidades em cada reação de amplificação de 100 mi. Em
quantidades superiores, pode ocorrer a amplificação de seqüências ines-
pecíficas.
Entre as inúmeras vantagens atribuídas à TaqDNA polimerase sobre a
enzima Klenow polimera~, anteriormen te utilizada como catalisadora na
reação de amplificação, existe uma que por certo justificou tal substituj·
ção: sua estabilidade térmica. Essa propriedade confere à TaqDNA poli-
merase a habilidade de manter-se ativa e resistente às variações extremas
de temperatura, processo que caracteriza a PeR. Outras vantagens foram
observadas em experimentos realizados por diversos usuários, entre elas:
a. permite o uso de temperaturas elevadas, otimizando a incorpora-
ção dos nucleotfdeos durante o aneJamento e a extensão (T.:HKJOC) e
reforçando a hibridização entre primer e tempIate, o que possibilita o
aumento na quantidade e na especificidade do produto;
b. possibilita que a rea~30 seja submetida à temperatura elevada por
um tempo extra de extensão, a fLm de diminuir a rep rodu~ão de
repeti~ões inespecíficas (Extensiem fate 2.000 a 4.000 bases por minu-
to à temperatura de 70-80"C)i
c. proporciona a fidelidade nas incorporações, ou seja, as incorporações
inespedficas ocorrem em freqüêndas baixfssimas (1 em 8xlO" a lO'
de bases) em condições ótimas de reação contendo 200 mM de cada
dNTP. 1,5 mM de MA em tempera tura de anelamento de 55OC;
d . apresenta validade de uso acima de seis meses.

Apesar destas vantagens, é importante lembrar que a enzima deve ser


protegida, sempre que possfvel, de temperaturas elevadas. Durante sua
manipulação, é aconselhável mantê-la em recipien te contendo gelo .
Vários pesquisadores sugerem a adição da enzima à reação de amplifica-
ção somente após a primeira elevação de temperatura (desnaturação),
eliminando assim, uma das elevações de temperatura, de cerca de 95OC,
a que seria submetida em uma reação de amplificação, que normalmente
conta com 25-30 ciclos.

Temperatura
Desnatllraçiio
É causa comum, levando ao insucesso do processo da PCR, a denatura-
ção incompleta da seqüência-alvo e/ ou do produto originado pelos pri-
meiros ciclos da reação (lnnis e cols., 1990).
A PESQUISA DE ONA EM ODONTOLOGIA FORENSE 203

Assim, alguns fatores, objetivando a escolha apropriada da tempera~


tura e do tempo de desnaturação, devem ser cuidadosamente considera-
dos:

3. fazem-se necessários temperaturas elevadas e tempos mais exten-


sos para a separação completa da cadeia de DNA, quando esta
apresenta alta freqüência de G+Ci
b. de especial interesse é a otimização da atividade enzimática, o que
previne perdas desnecessárias da mesma . Assim, quanto mais
baixa a temperatura a que for submetida a reação, maior a vida
média de atividade enzimática da TaqDNA polimerase.

Gelfand e White (1990) enumeraram, em forma de guia, algumas


correlações entre tempo, temperatura e vida média de atividade enzi-
mática (T 1/2) da TaqDNA polimerase: 130 min/ 92,5"'Ci 40 min / 9S"C; e
5 min / 97"C.

Anelamen to
A composição básica, o comprimento e a concentração dos primers na
reação de amplificação irão determinar a temperatura e o tempo neces-
sários para promover o anelamento dos primers.
Em concentração típica de 0,2 mM, exposições curtas (alguns segun-
dos), a qualquer temperatura entre SS"'C e n"'C, podem ser adotadas
com sucesso, conforme sugerem lnnis e Gelfand (1990), assim como a
prática diária na manipulação de amostras forenses.
Reações contend o temperaturas de anelamento elevadas minimizam a
formação de primers-dimer nrtiJacts, o anelamento incorreto entre primas
de fita simples de DNA e a extensão inespecifica de nucleotídeos nas ter-
minações 3' do primer. No entanto, a adequação na escolha de tempera-
turas de anelamento, especialmente nos primeiros ciclos, aumenta a
especificidade da reação. Temperaturas baixas, especialmente em pre-
sença de altas concentrações de dNTP; favorecem a extensão inespecffica
de primers e a exte nsão de nucleotfdeos erroneamente incorporados
(Innis e cols., 1990).

Extensão
o comprimento e a concentração da seqüência-alvo irão determinar o
tempo e a temperatura de extensão adequados para o sucesso do proces-
204 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IOENTlFICAÇÃO ANTROPOlOGICA

50 de amplificação. A extensão dos primers é tradicionalmente feita a


71!'C, por ser esta a temperatura próxima da "ótima" para que se proce-
da à extensão no modelo MI3 descrito por Gelfand (1990). Estimativas
para a incorporação de nuc1eotídeos a noc variam de 85 a 100 nuc1eotí-
deos por segundo, dependendo do tampão, do pH, da concentração de
sal e da natureza do DNA template (Saiki e Gelfand,1989; lnnis e cals.,
1990). Esses valores são coerentes com o intervalo mendonarlo no item
A"'pli Taq para atuação da Taq.
Nos casos em que a concentração do substrato é muito baixa (ciclos
iniciais) ou quando a concentração do produto excede a concentração
da enzima (ciclos finais do processo), um tempo longo de extensão
pode ser recomendado. Existem, ainda, dados que sugerem o aumento
do tempo de extensão n05 ciclos finais do processo, objetivando com-
pletar a polimerização. No entanto, períodos mais curtos, como por
exemplo, 1 minuto a 72OC, são considerados por Innis e cols. (1990)
como suficientes para a amplificação de produtos contendo até 2 kb 'G
em comprimento.

Concentração de Agarose

Bons resultados, na maioria dos casos, podem ser obtidos com a utiliza-
ção de gel de agarose a 1%, proporcionando a visualização de fragmen-
tos que variam de 80 a 1.000 pares de bases (bp).
Também estão disponíveis no mercado outros tipos de agarose, bem
mais finos. Eles facilitam a leitura de amostras não visíveis ou não dis-
tintas suficientemente em agarose comum, proporcionando uma análise
precisa das bandas. Dentre esses reagentes podem ser mencionados a
NuSieveGTG agarose (FMC Bio Prod ucts) e o Separite™ Gel Malrix
(Gibco/ BRL ure Technology) .
A agarose NuSieve, em concentração de 3 a 4%, separa e evidencia
com nitidez um intervalo de fragmentos entre 80 e 1.000 bp. Aumentada
essa concentração acima de 4.%, toma-se possível a resolução precisa de
fTagmentos apresentando diferenciação de 10 bp. Outra agarose alterna-
tiva, que possibilita a diferenciação de bandas em até 10 bp, é a Separide,
que toma viável a separação de fragmentos de 50 a 1.000 bp de compri-
mento.

'''J<b: quilo pares de bases.


A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 205

Número d e Ciclos

A determinação do número adequado de ciclos para cada reação irá


depender basicamente da concentração inicial do ONA a ser amplificado
(ONA-alvo), quando os demais parâmetros da reação já foram otimiza-
dos.
A adoção de um número baixo de ciclos provavelmente irá levar a um
baixo volume de produto. Por outro lado, um número alto de ciclos
pode aumentar a produção de produto inespecíiico, resultante do parea-
mento errôneo de primers ocorrido nos ciclos iniciais da reação, os quais
continuarão a ser amplificados em virtude do "qeitJ:J platô" (lnnis e cols.,
1990). Tal efeito se dá quando uma pequena quantidade de ONA, dife-
rente da seqüência-alvo, portanto uma seqüência inespecífica, é detecta-
da . Situações como esta ocorrem principalmente em casos de contamina-
ção da reação, em especial com aerossol (Wright e Wynrord-Thomas,
1990), ou em casos nos quais a Taq pofimerase tenha sido sintetizada a
partir de E. co/i, sendo contaminada com o ONA da bactéria.

Precauções

Devido às suas altas sensibilidade e especificidade, o processo da PeR


necessita d e atenção especial de seus usuários na prevenção de contami-
nação, que pode levar a resultados nã~fidedignos . Algumas sugestões
práticas que podem contribu ir para o sucesso da amplificação são as
seguintes:

a. cam ref erenda ao preparo das amostras - Atenção deve ser tomada
quanto à identificação dos tubos, evitando-se assim a troca entre
amostras . Se possível, deve-se optar pela não-manipulação de
amostras diferentes ao mesmo tempo. Após a adição do DNA à
reação, esta deve ser fechada e submetida a breve centrifugação
(especialmente quando se tratar de amostras diminutas), assegu-
rando que todos os componentes da reação estejam misturados.
A exposição das amostras já preparadas para amplificação, por
pelo menos 3 minutos a 940(:, irá ajudar a inativação da proteinase,
que pode estar presente na amostra li ser amplificada;
b. resultadas fa/so-positivos - São fontes potenciais de contaminação
entre amostras a presença de amostras dispersas do ar em rorma de
aerossol e a manipulação muito próxima de amostras diferentes já
206 NoçOes DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇAO ANTROPOLOGICA

amplificadas e por amplificar. Para que taJ fato não venha a com-
prometer o resultado fmal da amplificação, sugere-se que sempre
se amplifique uma amostra como controle negativo (não contendo
DNA tcnplate).

A prática diária comprava a importância da observação e da incorpo-


ração, na rotina de trabalho, de certos cuidados básicos há muito sugeri-
dos por pesquisadores, como Know e Saiki (1990), Wright e Wynford-
Thoma. (1990), Budow1e (1996), entre outros. Além cfuso, é necessário
um planejamento adequado da estrutura do laboratório onde serão ana-
lisadas amostras forenses, utilizando-se métodos da Biologia Molecular.
Entre tais normas estão:

a. a separação física do local onde são manipuladas as amostras pré e


pós-peR, assegurando que as mesmas não entrem em contato
umas com as outras. Os mesmos pesquisadores também sugerem
que a preparação da reação a ser amplificada ocorra em local livre
da manipulação de DNA;
b. os reagentes preparados em condições estéreis devem ser alicota·
dos, armaze.nados a ·200c e, da alícota em uso, retirado o volume
necessário a ser adicionado à reação diretamente dos frascos de
estocagem;
c. quanto aos cuidados para evitar contaminação através dos equipa·
mentos, sugere-se a utilização de material (especialmente
Eppendorfs, pipetas e ponteiras) especifico para cada atividade, ou
seja, para a extração do DNA, para preparações de solução e das
amostras a serem amplificadas e, finalmente, para a manipulação
do produto de PCR , Alguns modelos da estrutura adequada para
um laboratório de manipulação de amostras de DNA são sugeridos
por Ba1asz (1994) (Fig. 14-14).

Precauções adicionais devem ser adotadas em todos os aspectos que


se referem à manipulação das amostras, desde a coleta do material, pas-
sando pela extração e amplificação de ONA, até a análise do material
amplificado. Algumas sugestões sobre este procedimento são:

a. troca freqüente de luvas;


b. centrifugação rápida dos tubos antes de eles serem abertos;
c. abrir e fechar tubos cuidadosamente, prevenindo-se a formação de
aerossóis;
d . minimizar ao máximo a manipulação das amostras;
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 207

e. adicionar todos os componentes da reação de amplificação, menos


a amostra de DNA, e proceder ao aquecimento prévio (geralmente
95OC) e s6 então adicionar o DNA template/
f. submeter os componentes da reação, exceção feita aos primers, à en-
zima e ao DNA template, à luz ultravioleta (UV) contribui para a
inativação de DNA contaminantes (Wright e Wynford-Thomas,
1990), visto que a UV tem propriedade de fragmentar o DNA,
impossibilitando sua amplificação pela PCR. Com base nessa pro-
priedade, sugere-se que, antes da preparação das amostras para
amplificação, O local deva estar estéril e livre de DNA, como em
ambiente oferecido pelo fluxo laminar, com o meio ambiente sub-
metido à luz UV.

BIOTECNOLOGIA NA PRÁTICA FORENSE:


UMA DISCUSSÃO DE CASOS PRÁTICOS

Vários são os protocolos utilizados na análise do DNA; como já mencio-


nado anteriormente, não existe uma metodologia padrão. Dai a necessi-
dade de avaliação cuidadosa, por parte do pesquisador, das condições
da amostra a ser analisada, especialmente em se tratando de amostras
forenses, onde há maior risco de con taminação e efeitos ambientais,
além de quan tidade reduzida de material disponível, o que levará à
escolha da metodologia adequada.
Para a correta escolha da metodologia, devem-se estimar as condições
em que o ONA se encontra. A quantidade de ácido nucléico extraída
pode ser determinada multiplicando-se a concentração obtida na leitura
do espectrofotômetro (00 260 nM - em luz UV) pelo volume de ONA
(ONA + 1 x TE -10 mM, pH 7,0; lmM EDTA). ~ necessário lembrar que
a concentração de 50 mg/ml apresenta OD2lJO igual a 1,0. Costuma-se
submeter uma amostra (1%) desse material à eletroforese, objetivando
estimar a qualidade do ONA extraído e, nos casos em que a análise do
DNA é feita a partir da digestão enzimática, há necessidade de estimar·
se o intervalo de peso molecular em que se encontra o ONA a ser anali-

"Os procedimentos que apresentam vantagens distintas devem ser bem-avalia-


dos, isto é, a adição de todos os componentes da reação, menos o DNA templott,
sugere a não-contaminaç30 entre as amostras manipuladas (Know, 1990). Por outro
lado, vários autores sugerem a adição da enzima Taq polimmue somente após a pri-
meira desnaturação, a fim de aumentar sua vida útil.
2.. NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇAO ANTROPOLóGICA

~ vestlári o. - r-- men os d•• ~TII' .a


lei 'mania
.. Iass~paradas

U 'J ,

prepa~ode
raagenles
axtraçlo DNA •
ptepllraÇlo de PCR
a_.
,",)!se pós-amp/ificaçAo

nuxo de ar (filtrado) sentido unlco



"uxo da pessoal sentido único

rooeblmanlo de amostras
I vestltrto
l. .··.. l-t- O+
ar filtrado
~ I .....""
'.."
eparaÇlo de _ lIuxo
agent•• horiz. ampl/ficaçAo •
IIUKO análise pós·ampllflcaçlo
•xtraÇlo DNA_ laminar
+UV
-~ prasdo-I

ftuxo de pessoal

flgUfa . 14-14. Modelos "temetNOl de duas pa.ntas IM taboratÓf'1O patl petqUISII da DNA.

sado. Havendo necessidade de se quantificar DNA humano. procede-se


à hibridização com sonda Allt (Nelson e Caskey, 1989).
a prática, 05 passos objetivando resultados fidedignos que a venham
contribUir para o esclarecimento de casos forenses, dveis ou criminats.
podem ser considerados como: adequação dos procedimentos de coleta,
averiguação das condiçOes do material coletado, escolha da metodologia
de extração e análise do DNA e, fmalmente, análise dos resuJtados (Fig.
14-15).
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 209

Casos com Análise do Elemento Dentário


A primeira identificação de âmbito jurídico criminal através da análise
do DNA aconteceu na Inglaterra, em 1985, em caso de estupro seguido
de assassinato. O próprio Jeffreys Oeffreys e cols., 1985a) coLetou o esper-
ma no local do crime e o submeteu a RFLP, utilizando sonda por ele ela-
borada . Mais tarde, repetido o exame em amostras de sangue coletadas
dos moradores do pequeno condado inglês, estabeleceu-se a correspon-
dência genética entre duas amostras, possibilitando a prisão do crimino-
50.
A literatura relata inúmeros casos semelhantes ao descrito acima,
demonstrando que qualquer líquido ou tecido orgânico é potencialmen-
te fonte de DNA e passível de análise. No entanto, uma grande porcen-
tagem das amostras forenses coletadas no local do crime ou do que
resta do corpo da vítima não se presta à análise do DNA, pois foi sub-
metidas a pressão e temperatura altas ou sofreu contaminação ambien-
tal. Os dentes, entretanto, resistem melhor do que qualquer tecido
humano à degradação post-mortem, extrema variação de temperatura e a
elevada pressão (Spitz. e Fisher, 1973; Geberth, 1983; Lawton e Churton,
1989; Fisher, 1992) . Conseqüentemente, a ocorrência de tais fatores
ambientais confere aos dentes alto poder de preservação da identidade
genética individual, sendo, portanto, fonte importante de informação.
Tanto o esmalte como a dentina, e principalmente a polpa, podem ser
utilizados diretamente na determinação de grupo sangüíneo (Smeets e
cols., 1991).
Apesar de serem possíveis os exames imunoematológicos, como tipa-
gem sangüínea dos fatores ABa, Rh, MN etc., como, relata Smeets e cols.
(1991), a partir do esmalte, da dentina e especialmente da polpa dentá-
ria, a maioria das amostras forenses apresenta-se irreversivelmente com-
prometida para tal prática, obrigando o pesquisador a recorrer às técni-
cas de genética molecular.
Provavelmente, o processo mais simples, largamente utilizado na
identificação individual com o material genético, consiste na determina-
ção do tamanho dos fragmentos poLim6rficos (RFLP), formados a partir
do corte da cadeia de DNA por enzimas de restrição. Tais enzimas cor-
tam a molécula de DNA em pontos específicos, demarcados por seqüên-
cias típicas de bases nitrogenadas . Uma vez que nenhum indivíduo
exibe urna seqüência de DNA idêntica à de outro da população, exceto
os gêmeos monozigóticos, o número e o tamanho dos fragmentos obti-
dos em decorrência do "corte enzimático.. identificam cada indivíduo
em uma amostra.
210 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTlFICAÇAo ANTROPOLÓGICA

A metodologia da análise molecular dos RFLPs toma possível a detec-


ção dos VNTRs e requer cerca de 10-50 ng de ONA não-degradado.
apresentando peso molecular entre 10.000-20.000 pares de base. A meto-
dologia consiste na distribuição dos fragmentos de restrição. através da
eletroforese, fixando-os a uma gelatina (gel). Obtém-se um padrão de
faixas (bandas) denominadas "impressão digital" (DNA fingerprintingJ.
Dando seqüência ao processo, segue-se o Soulltenr blotting. no qual a
detecção dos resultados é (eita por marcadores radioativos ou químicos.
A identificação se dá através da comparação do padrão de bandas obti-
do do suspeito e da amostra analisada, levando o processo total cerca de
uma semana. Esse procedimento também pode ser utilizado nos testes
de paternidade, onde são analisadas amostras do material genético, nor-
malmente extraído de sangue da mãe (assumida como biológica), da
criança e do suposto pai (putativo). A análise dos resultados consiste na
comparação do padrão de bandas da mãe, da criança e do suposto pai. A
seguir apresentamos um caso hipotético de investigação de paternidade,
utilizando-se sonda monolocus, em familia em que é questionado o pai
biológico do último filho (E). O esquema (Fig. 14-16) representa a com-
provação de paternidade do indivíduo A com relação às crianças C e O,
que têm como mãe biológica comum a mulher B. O resultado da investi-
gação demonstra q ue o padrão genético da criança em questão não cor-
responde ao padrão de bandas do indivfduo A; no entanto, corresponde
a uma das bandas do indivíduo F. Tal similaridade indica a paternidade
do indivíduo F em relação à criança E (Fig.14-16).
As sondas de DNA utilizadas na de tecção de regiões do genoma
humano que exibem alta variabilidade apresentam-se divididas em duas
categorias básicas: as sondas muftiloclls (MLPs), que detectam simultanea-
mente um grande número dessas regiões hipervariáveis (essas sondas
oferecem, como vantagem, grande número de informações em um único
teste e como fator limitante a necessidade de maior quantidade de mate-
rial presente na reação};1l e as sondas monotocus, que detectam locus úni-
cos (SLPs) (que têm a vantagem de serem mais sensiveis, de necessitarem
menor quantidade de amostra no processo de análise/' além de mostra-
rem apenas duas bandas, no máximo, podendo individualizar amostras
misturadas - ONA de origens diferentes). Logicamente, as SLPs têm
como fator limitante o número de informações por reação, o que leva o
pesquisador a utilizar diversas sondas para obter um grau aceitável de

"Nonnalmmte o mínimo K'lelt.lvel ~ 100 ng de DNA de alto pelO mo1ecubr


"Norm..lmmte o minimo ~Itjvel ~ 50 ng de ONA de alto pelO moJ«ular
ANALISE 00 ONA IfVllELEVANTE A COMPAOYAÇÃO DE lOEHTlOAOE »
(EX.: RllHXlNFESSO DE EST\JPRO EM PROCESSO DE REUNIÃO DAS ri!
PAOYAS DE AGAESSAo, YIOt.bcIA. I~Ao EfC.)

!IOHCrA! MOMllOCUS ~ VIA sovtHEJW


lIlonwa, ~ COM RADIOl1YIOACE OU

OUIt,jICAMEHTE) om
...",,,'" I RFloP
~
...,.,.. I""GAO
.......... ~

I
.9OHIlrAS 1oU.fl.0CI.IS (MLPs)' (ANW$AO.U VIA
SIOIITH€RN IiI.OTTIHG, lrMACADM COM
~TMDrADE OU~) (ON.A
- l
AHÁUIE 00 [)NA AEU:YAN'TE A
COMPROVAÇÃO 0E1CIEHf'IDN)E >
...."""
_""'0
I PCR
5TR (SHORr TM/OE'M REP&.1S)"

AMPlI·FlPS (.wPUFJEO F/'W3JJENT I..ENOTH


POl rwAFJSW) - lKHlAS .wc:wowcus (SLPs)'
I
ASO' PA08E (flU.El.E-SP€.CIF1C-otJGO-NIJCUOTICE)
""""""'" """'"""" .....-.c.u
SSO" - : . (SECMJ€NCE-&1'ECtF1C
.............,no<)
'UlPa, mcMIJbcu, prvtw,
'OuIdI.~lU _ MulliPlb L UlICOÔH CcHpontlon {n'CIIL 172000).
'SlPs; ~ lJ(Ob-. SIo IQIT"QIoI â VNTR lod (AMP·FLPa) óetiICt8CD I ~rtlrdli.~ por PCR. DtS8O, 017S30, 3'MVR v-ne _1IPOIIPtoIe1na O
"SI1tcI. -' 1886 9ugIWlln . , ., 11188, SIlkItIf • . 11189, von 8eIuIIIItgen".; 11189; Gylenllen.," ltQ:t
"YOn Be!oIdIngIn ", ... 11189 ~-TP HLA ca... 'I. ORB ("' cal. 160000. 1620(0). 0uIc:II-Tys» tt...A C.MII, 000 (Il' tal. 183000) Ut~ eotpo"'lion
AQur. 14· 1 5 . Dlaglam. simplificado di paIrei. d, uma amo,tr• .
-'"
212 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E lDENTIACAÇAo ANTAOPOLOG1CA

confiabilidade na comparaçao feita entre amostras diferentes, necessitan-


do assim de mais tempo para análise até se chegar ao resultado fmal.
Dentre os casos registrados na literatura em que os dentes foram utili-
zados. e que não são numerosos, destaca-se o relatado por Sweet e cals.
(1995) . Trata-se de um caso de identificação em que a vítima de homicí-
dio fora incinerada, tendo todo o seu corpo quase completamente crema-
do, reduzido a aproximadamente 25% do tamanho original, inviável
portanto para a realização de exame de ONA pelos métodos convencio-
nais. No entanto, um dente não-erupcionado (terceiro molar) fora pre-
servado pela lfngua e pelo grande músculo responsável pela mastigação.
Poi, então, extraído o DNA da polpa dentária (1,35 J,lg), que apresentou
alto peso molecular.
Aqueles que pretendem ingressar nos laboratórios de análise forense
adotando como metodologia a análise do DNA, e especialmente os que
têm intenção de adotar a PeR como "ferramenta de trabalho", devem ter
como principio a atenção e a precisão nas manipulações e adotar precau-
ções rígidas quanto à contaminação (Brown, 1991a). Além da estrutura
física do laboratório, exemplificada anterionnente na Fig. 14-14, deve ser
observada a distribuição de equipamentos nas diferentes áreas do labo-
ratório, tais como: a extração de DNA, preparação da PCR e análise e
estocagem do material amplificado. Inúmeras são as sugestões dadas
por vários au tores, en tre os quais podem ser citados: Madej e Scharf
(1990), Orrego (1990) e Brown (1991b). O Federal Bureau of Investigation
- FBI - (1994) também sugere modelo de instalação de laboratório.

Extração de DNA a Partir de Dentes


Em geral, para a análise de DNA, são preferencialmente utilizados dentes
grandes (molares), íntegros e sem restauração. A seguir, sugere-se um
protocolo" utilizado na extração de DNA contido em elemento dentário.

1. Limpar a superfície externa do dente com álcool.


2. Utilizando motor de baixa rotação com um ctisco de corte novo,
cortar o dente1' no sentido horizontal, na região da junção do ce-
mento e do esmalte. No caso de tratar-se de dente restaurado, esta
região deve ser evitada.

"Protocolo desenvolvido e adotado pelo Federal Bureau of Investigation - FOI


(1994).
"Para o corte dos dentes. pode ser utilizada a "cortadora de precislo" Ulbicut.
A PESOUISA DE ONA EM ODONTOLOGIA FORENSE 213

3. A. Se houver tecido pulpar presente na câmara pulpar, remover cui-


dadosamente este tecid o, utilizando instrumental endod ôntico.
Colocar o tecido removido em tubo Eppendorf 1,5 ml, adicionar
300 ~I de solução-tampão de extração stain e 7,5 ~I de solução de
protcinase K. Fechar imediatamente o tubo.
ou
3. B. Se o tecido pulpar não estiver preservado, utilizar motor de baixa
rotação para fazer um corte fino de secção horizontal, partindo da
porção apical até encontrar o primeiro corte (item 2).
Utilizar motor de baixa rotação com disco de lixa para tomar
lisa a superfkie exterior da secção, ficando ela assim livre da
impregnação de fragmentos ou fibras _
Transferir a secção do dente lixada para o pulverizador de tecido
BessmaIJ" e seu " pilão"_ Com um martelo, bater continuadamen-
te, até que a peça seja pulverizada.
Colocar 0,02 a 0,05 g desse pó em tubo Eppendorf 1,5 ml.
Adicionar à amostra 300 ~I de solução-tampão de extração stnin e
7,5 ~l dc solução de protcinase K. Fechar rapidamente o tubo.
Obs.: As etapas 1, 2 e 3 devem ser executadas em ambiente esté-
ril, de preferência sob fluxo laminar.

4. Submeter o tubo a v6rtex em baixa velocidade, para evitar perdas,


por um segundo, seguido de microcentrUugação por dois segun-
dos, assegurando que toda a quantidade de " pó de dente" esteja
em contato com a solução de extração_
5_lncubar o tubo a 560C por, pelo menos, duas horas ou até, no máxi-
mo, 24 horas .
6. Centrifugar o tubo em microcentrlfuga por dois minutos, até que o
resíduo se condense no fundo do tubo_
7. Adicionar 300 ~ de fenal / clorofórmio/ álcool" isoamllico i\ solu-
ção de extração. Submeter brevemente a mistura a vórtex, a baixa
velocidade. para que se obtenha a emulsificação . Centrifugar o
tubo em microcentrffuga por três minutos. objetivando a separa-
ção do resfduo e do material genético sob análise.

"Catálogo Fisher n- 08-418-3.


l~en olé agente tóxico. Cautela deve ser mantida durante sua manipulaçJo, prin-
cipalmente em grandes volumes ou repetidas vezes em volumes menores, assim
como no seu descarte. Sugere-se sua manipulação em campânula, fluxo laminar ou,
no mínimo, em local bem-ventilado .
214 NoçOes DE A.NTROPOlOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

r-- - r--
-r-

r--

Agura 14 ·1 6 . InVIIstigaçlo de paternidade em f.mnia em que •• luspelta da liUlçlo do


filho mais novo IE).

8. A um concentrador Microcon 1()(f', adicionar 100 J.1l de TE"" e trans-


ferir, com o auxilio de uma pipeta, a fase aquosa obtida na etapa
anterior, evitando o transporte do solvente orgânico (líquida).
9. Com o concentrador adequadamente tampado e devidamente ros-
queado, cenbifugar em microcentrífuga a SOO x g" por 10 minutos.

"Catálogo Amimn n" 42413.


"A velocidade da centrifugação para produzir 500 x g está baseada no raio do
rolor e deve ser calculada ou lida por nomógrafo. Nonnalmente, tais dados são for-
necidos pelo próprio fornecedor do aparelho.
A PESQUISA DE ONA EM OeONTOLOGIA FORENSE
21'
10. Remover cuidadosamente a unidade do concentrador e descartar
o fluido presente no copo filtrador. Retomar o concentrador à
posição anterior.
11. Adicionar 200 J.11 de ~ ao concentrador, repetindo a etapa 9.
12. Medir o volume de TE", que deve estar entre 40 e 200 J.1l. Remo-
ver o concentrador do copo filtrador e, cuidadosamente, invertê-lo
no copo de retenção previamente identificado. Descartar o copo
filtrador.
13. Centrifugar em microcentrífuga a 500 x g por 5 minutos;
14. Descartar O concentrador e tampar o copo retentor.
l5. Estimar a quantidade de DNA em cada amostra por hibridização
de slot bIot.-
16. Neste ponto o DNA da amostra pode ser submetido à amplifica-
ção.
O material deve ser guardado a 4°C ou em freezer. Antes de a
amostra estocada ser utilizada, submetê-la a vórtex brevemente e à
centrifugação por 5 minutos.

Composição dos Reagentes Citados acima


Soluç4o-lIlmp4o deexlmçilostain-10 mM TRlS, 100 mM N.O, 39 mM urr,
10 mM EDTA, 2% 50s, volume final =
1 litro.

Dissolver, misturando continuamente, 5,84 g de NaCI em 500 ml em


água deionizada . Adicionar 10 ml de 1 mTRlS, 20 ml de 0,5 M de EDTA
e 100 mI de 50s a 20%. Ajustar o pH 8,0 por adição de HO e volume
final de 1 litro. Conservar à temperatura ambiente.
Reservar 100 ml da solução acima e adicionar à mesma 601,4 mg de
dithiothreitol (DTI1, misturando até dissolução completa. Esta solução
pode ser utilizada, no máximo, por duas semanas, guardada à tempera-
tura ambiente.

Solllçifo de Proteirlase K - 10 mg/ ml, volume final =10 rnJ.

~Iem no mercado aparelhos que realizam a quantifiação do DNA extraído,


podendo também ser quantificado (com menor precislo) através da leitura em
espectrofolômetro (ver nota de rodapé n- 13).
2'6 NOÇOES DE ANTROPOLOGIA E IDENTIFICAÇÃO ANTROPOLÓGICA

Em tubo estéril descartável de 15 ml, dissolver 100 mg de proteinase


n
K (usado em Biologia Molecular) em 10 m1 de água deionizada. Trans-
ferir uma alrquota de 100 ~ para o tubo de microcentrlfuga (0,5 mI) e
incubar a -200c (este volume será suficiente para uma amostra) .

Ftnol/Clorof6rmio/Álcool lsoamílico (25:24:1; v/v) - Fenol / clorofór-


mio/á lcool isoa.mflico saturado com Ilulfor, pH 7,9.»'

TE-< - lO mM 1RJS-HCI, 0,1 mM ElJTA, volume final =I litro.

Adlcionar 10 ml de IM 1RJS-HO, pH s.o


e 200 ml de 0,5 M ElJTA a 990
ml de água deionizada . Autoc1avar e guardar à temperatura ambiente.

TRlS-HCI- IM, pH 8,0, volume final = I litro.

Dissolver 121,1g de TRlS base (TRJSlhidroximetil] aminometano,


ctHl'NOl) em 800 mI de água deionizada. Ajustar o pH a 8, adicionan-
do HCI. Completar com água deionizada até o volume fmal de 1.000 ml.
Autoclavar e guardar à temperatura ambiente.

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"Usar luvas e proteçJo parn os olhos dUJ"lU1te a marupulação de protemase K,


pois esta pode causar irrltaçlo de mucosa .
:::Catálogo GJBC~BRL n· 5593 UB.
A PESQUISA DE DNA EM ODONTOLOGIA FORENSE 217

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PARTE 111

IDENTIFICAÇÃO
PELOS DENTES E
RUGOSCOPIA
PALATINA
CAPíTULO 15

IDENTIFICAÇÃO PELOS
DENTES

MOACYR DA S ILVA

INTRODUÇÃO
o conhecimento das particularidades anatômicas normais dos dentes
humanos, macros e microscópicas, é de suma importância para o odon-
tolegista .
Muilas vezes, OS dados anatOmJcos da coroa constituem os únicos ele-
mentos que irao permitir estabelecer a fórmula dentária correspondente.
Outras vezes, tra ta-se de identificar fragmentos que podem esclarecer
sua exata natureza, não cabendo di.scussão sobre o fato de a compreen-
são das alterações dentárias de interesse pericial, sejam elas patológicas,
fisiológicas ou intencionais, só ser possível com base no conhecimento
dos caracteres normais.
O perito, ao exam.inar um dente, deve, em primeiro lu~ verificar se trata-
se de dente dedduo ou permanente, para em seguida determinar o grupo a
que pertence (incisivos, caninos, pré-molares ou molares). Na seqüência,
observar-se-á se o elemento dentário é superior ou inferior. Também será ana-
lisada sua posição no aro) (central ou lateral), primeiro ou segundo, e qual
sua situação em relação ao planosagital (direito ou esquerdo).
Em urna perícia odontológica é muito importante o diagnóstico dife-
renciai entre dentes dedduos e dentes permanentes.
O cirurgião-dentista que pretende exercer a função de odontolegista
precisa cond entizar-se de que deve ter um conhecimento adequado de

225
226 IDENTIF1CAÇAO PELOS DENTES E RUGOSCOPIA PALATINA

anatomia dentária, para proceder com tranqüilidade ao diagnóstico dife-


rencial entre dentes deóduos e dentes permanentes.
Poderá ser solicitada ao perito a realização do reconhecimento de
fragmentos dentários macroscopicamente nào-.identificáveis, impondo-.
se o exame microscópico. Se forem encontrados elementos que caracteri·
zem os tecidos calcificados dos dentes - , esmalte, dentina ou cemento-,
isso constituirá um diagnóstico de certeza.
Quase sempre serão encontrados dois tecidos - esmalte-dentina ou
cemento-dentina -, segundo se trate, .respectivamente, de fragmentos de
coroa ou de raiz.
O perito cirurgião-dentista precisa ter, também, bom conhecimento de
preparaçOes histol6gicas de elementos dentários, que podem ser realiza·
das pela descalcificaça.o por desgaste. Do ponto de vista pericial, a técnica
do desgaste é a eletiva, por ser mais simples e, sobretudo, mais rápida.

ANOMALIAS DENTÁRIAS DE INTERESSE


PERICIAL
As distrofias dentárias têm sua importância do ponto de vista pericial.
São responsáveis pelos estigmas e anomalias dentárias.
Distrofia e afloftlnfia são termos que não devem ser tomados como sin()'
nimos . O primeiro significa um fenômeno causado por distúrbio da
nubição, o segundo, a sua exteriorização ou conseqüência. Essa exterio-.
rização tem importância nos casos de identificação. Em casos de estupro,
em que o delinqüente morde a vítima, e em casos de dentadas em ali·
mentos, as anomalias serão fundamentais para a identificação d o crimi-
noso. Já tivemos a oportunidade de realizar perícias em que a anomalia
{oi a característica que permitiu a identificação.
Bercher (1950) afirma que as anomalias podem ocorrer por fatores
genéticos decorrentes de doenças de gestantes (sarampo, rubéola, trau·
matismos e toxünfecções etc.) e por doenças de crianças (srnlis, raquitis-
mo, afecçõe5 cutâneas de longa duração, auto-.intoxicação, febres exante-
máticas, distúrbios gastrointestinais, traumatismos etc.).

Classificação das Anomalias


Anomalias de Volume (Hetero metrias)
De acordo com a parte do elemento dentário atingida, as heterometrias
podem ser. coronárias, radiculares e lotais.
IDENTIFICAÇÃO PElOS DENTES 227

Segundo o tipo de alteração, podemos reconhecer duas modalidades:


,rnllismo (diminuição de volume) e gigantismo (aumento de volume) .
Essas anomalias podem ocorrer em um único dente ou em vários. O
mais freqüente é observá-Ias em dentes homólogos.

Anomalias de Número

As anomalias de número são de três tipos: anodoutia (ausência de den-


tes); oligodolttia (diminuição do número de dentes) e poliodontia ( aumen-
to do número de dentes).
Os casos de anodontia total são pouco numerosos e, quando ocorrem,
em geral são acompanhados de alterações em todos os fãneros (pêlos,
unhas) ou glândulas e devem ser interpretados com segurança.
A oligodontia pode ser classificada como verdadeira ou falsa;. a primei·
ra ocorre por um fenômeno de agenesia (de um ou mais de um folículo)
e a segunda, por inclusão do elemento dentário.
A poliodolltin também pode ser verdadeira ou falsa . A verdadeira ocor-
re pelo aumento do número de dentes, devido à existência de órgãos
extranumerários; a falsa, graças à persistência de dentes dedduos no
arco dentário permanente.
As anomalias de número podem ocorrer tanto na dentição deddua,
como na dentição permanente.

Anomalias d e Forma (Heteromorfias)

Do ponto de vista didático, podemos estudar as anomalias de forma


fazendo uma ligeira descrição dos seguintes tipos: co,roidismo, dilaceraçlfo,
coalescênoa (concreção, fusão e geminaç3o) e mJSÍÚJ (em fossas, em fissu-
ras e em superfícies).
No c01loidismo, o dente tem a forma de dois cones justapostos pelas
bases, na maioria das vezes acompanhada de uma heterometria (nanis--
mo total) . Segundo Arbenz (1959), parece constituir um atavismo filoge-
nético, pois os dentes assemelham-se a dentes de répteis.
Na dilacuaçW, nota-se um desvio, uma curvatura do grande eixo do
dente, provavelmente causada por um obstáculo mecânico durante a
calcificaçào. Sua localização mais freqüente está no nível da raiz, porém,
às vezes, podemos encontrá-Ia no colo do dente ou na coroa.
A coolt!SdncjQ consiste na reunião de dois ou três dentes e abrange três
variedades: concreçifo, fuslIo e geminaç4o, assim explicadas:
228 rOENTlACACÂO PELOS DENTES E RUGOSCOPlA PALATINA

• C01lcreçd"o: quando dois dentes se encontram em posição viciosa,


havendo formação de cementa, que os mantém unidos .
• Fusdo: é a união de dois dentes provenientes de dois foUculos vizi·
nhos. O (enômemo ocorre durante a evolução. O reconhecimento é
relativamente simples, sendo feito por meio da presença de um
sulco nítido entre os dois.
• GemiFlaçllo: é uma anomalia mais complexa, em que um único foU-
culo dentário origina dois dentes soldados. Na observação clínica
não se verifica a existência de um sulco divisor; o exame radiográfi-
co revela a existência de uma única câmara puJpar.

As erosões, também chamadas de I.ípoplnsias, são conseqüência da


parada de calcificação, em um determinad o tempo, durante a evolução
do dente. Microscopicamente, o fenômeno traduz-se por faixas ou pon-
tos não-calcificados. Podem ser encontradas nas seguintes formas;

• Em fossn: pode corresponder à falta de nutrição do dente por um


trauma qualquer. Quanto ao seu aspecto, parece que a perda ocor-
reu pela sua remoção por uma cureta.
• Em fissura; é representada por sulcos contínuos abrangendo tanto a
face vestibular como a lingual, sempre dispostos horizontalmente.
• Em superftde: corresponde a áreas maiores ou menores em que falta
o esmalte. Como característica, não são muito profundas.
• Dmtes de Hutc/lmson : são erosões de forma semilunar. nas bordas
livres dos incisivos, causadas por parada de calcificação, não atin-
gindo os ângulos mésio-incisal e mésio-distal. Via de regra, são
devidas à sífilis, podendo ainda ocorrer por conta de outra causa
qua lquer que interfira com o fenômeno da calCificação.
• Deutes em lavo de mel: aparecem nos molares, que se apresentam
com aspecto irregular, especialmente no que diz respeito às cúspi-
des, que são substituídas por numerosos e pequenos tubérculos.

Anomalias de Posição (Heterotopias)

São também conhecidas como anomalias de direç40 ou de implantaç40 e


allomalias de loadiznçifo.
Anomalias de direçifo. também chamadas de anomalias de implanlaç40.
são modificaçOes da posição dos dentes segundo OS eixos vertical, trans-
versal e anteroposterior. Assim, temos a giroversão, vestibu)oversào, lin-
guoversão, lateroversão, mesioversão e distoversão.
IDENTIFICAÇÃO PELOS DENTES 229

As anomalias de localimçoo podem ocorrer por tratlsposiçtlo, migraçilo ou


gétJt:5I!.
A transposiçifo é muito rara. Um dente ocupa, no arco, o lugar de outro
dente.
Na migraçifo, O dente erupciona fora do arco, mas em suas proximida-
des, como, por exemplo, no assoalho da órbita, nas fossas nasais, no
ramo da mandfbuJa, na abóbada pala tina etc.
Na gênese, o dente aparece em outro lugar do organismo que não a
boca e suas proximidades. Por exemplo, na sela túrsica, nos ovários etc.
Trata-se de caso de anomalia muito mais intensa.

Anomalias de Erupção

Podemos citar os seguintes tipos: mlpçllo prrcoa, uupçtJo retardada, qlleda


precoce, inc1usào, impnctaçães, terreira dentiçifo e dentes 'Ia época do nascimento.
A empçifo precoce ocorre, geralmente, por conta do hipertireoidismo e
pode estar presente tanto na dentição dcddua como na permanente.
Arbenz (1959) descreve um caso em que o primeiro molar pennanente
erupcionou por volta dos 4 anos.
Erupçifo retardada ocorre, geralmente. devido a um hipotireoidismo e
pode ser observada em ambas as dentições.
Nos casos de hipertireoidismo, como a erupção dos permanentes é
precoce, a queda precoce vai provocar a rizólise prematura dos dentes
dec!duos e, como conseqüência, sua queda em uma época em que a
mesma não deveria ocorrer.
Geralmente ocorre ,ucJusifo nos terceiros molares, nos caninos, no
segundo pré-molar e nos incisivos laterais.
ImpactaçtJes são dentes mal erupcionados (por exemplo, terceiros
molares impactados contra segundos molares).
O fenômeno da terceira dentiç60 não ocorre no ser humano, pois o
homem é um animal difiodonte, isto é, apresenta duas dentições. Às
vezes, um indivíduo idoso vê. com surpresa, surgi r um ou aJguns dentes
no arco dentário, provavelmente tratando-se de dentes extranumerários
que antes não puderam irromper por falta de espaço, e pensa tratar-se
de terceira dentição.
Dentes lia época do 11ascimel1fo; segundo Testut (1944), es te fenômeno
ocorre em cada dois mil ou três mil nascimentos . O den te com o qual a
criança nasce pode pertencer à dentição pré-Iáctea (que não existe na
espécie humana) e caj logo a seguir. Pode, no entanto, ser um dente decí-
230 IOENTIFICAÇAO PELOS DENTES E RUGOSCOPlA PALA TINA

duo precocemente erupcionado, tratando-se geralmente dos incisivos


centrais inferiores, que vão permanecer no arco dentário até sua queda
na época normal. Geralmente este fato se deve a um hipertireoidismo
matemo.

Alterações Devidas aos Hábitos

Durante sua vida o indivíduo pode adquirir certos hábitos que podem
deixar estigmas nos elementos dentários . Essas alterações não são muito
numerosas, mas algumas delas são de uma tipicidade fora do comum.
Vejamos exemplos:

• Desgaste dos ra1lgMores di! dentes: os indivíduos que têm O hábito de


ranger os dentes são denominados bruxomanas, e o hábito recebe o
nome de bruxomania. Existem denominações técnicas para designar
o fenômeno, tais como odonterismo e odontoprise, embora seu uso
seja pouco disseminado. Alguns puristas da Língua denominam
"briquismo" o hábito de ranger os dentes. Dechaume acredita ser
um hábito que pode ser adquirido pelos aviadores, classificando as
alterações produzidas em três grupos: (a) ligeira: pequena abrasão
na borda cortante dos incisivos; (b) avançada: em que já se pode
observa r luxação dos dentes; e (c) muito avançada: onde se pode
observar até fratura do rebordo alveolar.
Morfologicamente, o desgaste se faz segundo um plano dirigido
obliquamente. de baixo para cima e da frente para trás.

• Desgaste dos roedores de unha: as oianças e adultos que apresentam


esse hábito são chamados de onicófagos. A conseqüência é exteriori-
zada pelas irregularidades na borda cortante dos incisivos, notan-
do-se aspecto serrilhado. Esta alteração será tanto mais acentuada
quanto maior o tempo decorrido entre o inicio do vfcio e o momen-
to do exame.

• Geol agia: alguns indivíduos possuem o hábito anormal de comer


coisas estranhas. É a chamada alotriofogía, desenvolvida por porta-
dores de certos distúrbios mentais, nos quais o paciente resolve
ingerir terra (geofagia). Trata-se de uma das modalidades de per-
versão do instinto nutricional. Esse mesmo fato se verifica na anci-
lostomose, em que existe perversão do apetite com alotriofagia, em
IDENTIFICAÇAO PELOS DENTES 231

que uma das substâncias estranhas é representada pela terra. Nos


indivíduos ge6fagos, verifica-se abrasão dos dentes em virtude do
atrito das partículas de terra sobre o esmalte, durante um tempo
mais ou menos longo.

• Desgaste pelo uso de p6s abrasivos: o emprego abusivo de dentifrícios


poderá levar a um desgaste das faces vestibulares dos dentes no
nível da região cervical.

• Desgaste dos fumadort:S de cadrimbo: os desgastes devido ao USO conti-


nuado do cachimbo. sempre entre os mesmos dentes, é muito inte-
ressante. Vta de regra, o desgaste se dá em mais de um dente e, em
geral. na maxila e na mandíbula, o que ocorre quando elas se
encontram em oclusão, ocasionando um orifício que os autores
franceses denominam lrall de pipe, que reproduz aproximadamente
a superffcie desgastada da forma de um objeto, lisa e polida . No
que se refere à localização, raramente é mediana e, em geral, vamos
encontrar desgaste no ângulo disto--incisaJ do incisivo lateral e na
vertente mesial do canino, no maxilar; enquanto na mandfbula, no
ângulo disto-incisal do incisivo lateral, nas duas vertentes do cani-
no e em uma pequena parte do primeiro pré-molar.

• Desgaste dos que se utilizam de ptleiras: esse tipo de desgaste. produ-


zido pelo uso de piteiras, é bem mais acentuado. O individuo que
tem o hábito de utilizar piteiras apresenta, como conseqüência, o
desgaste que atinge a região onde o mesmo costuma colocá-Ias,
com os dentes em oclusão.

• Escurecime,.to dos dentes dos fumantes: é sabido que os fumantes


apresentam os dentes escurecidos, principalmente nas faces lin-
guais e vestibulares dos incisivos caninos inferiores. O escureci-
mento varia em função direta do número de cigarros consumidos
por dia e também do tempo em que o individuo cultiva o vicio. Por
outro lado, é necessário, para essa observação, levar em considera-
ção OS hábitos de higiene e as visitas ao cirurgião-dentista para pro-
cedimentos de limpeza e profilaxia.

• Alterações profissionais: certas atividades laborativas determinam


estigmas tão característicos sobre: os dentes que podemos tirar ila-
ções sobre a profissão do individuo. Sobre os sinais profissionais,
não podemos deixar de citar as palavras do emérito professor de
232 IDENTlACAÇAo PELOS DENTES E RUGOSCOF'tA PALAnNA

Medicina Legal, Flaminio Fávero (1958): "São estigmas que o hábi-


to do trabalho imprime no indivíduo,"

Procurando metodizar o estudo das alterações dentárias profissionais.


transcrevemos O quadro criado por Schour e Samat (1942), adaptado
(Quadro 15-1).

Qu adro 15-1. ManilestaçAo 0fB/ de doençu profissklnall, de acordo com o agente 8 lU ocu-
pações (adaptado de Schoure Sarnat, 1942)

Agentu Ocupações

Apreendo da objetol Abraslo localizada, Costureiras. carpint eiros.


• 'ter.çJo da musculatura tatraleito" tipógrafol etc .•
tM:oflcial. mO.icol Jinswmentos de
pneumatocllle 11 I'bio soprol e sopradores de
Inlarlor congesto 11 vklro
edemllclado
Blastomicola Sul- las6.1 erolivas ou Trabalhado,es _grlcol..
Americana ulceradas, cor esbranquiçada,
IParllCoccldioides superfk:1e granulo,. li com
~D7itmshl ponto. MfTIOfTigicO', dof ,
IIrdor _ prurickJ, ,ialorr6ia
odontalgil, gengivas
inllllmad ..
IhemotT6glCu alou
retraçlo gengivan.
eofar1lmenlo glngUo".r
li agravamento do asteco
geral
Aleatrlo Estomalitel, carcinoma Pescadores. trabalhadores
daliblo I ITlI.ICON c:om asfalto e alcaulo,
cek:ete.,os. telhadorn
com picha e
preseryadores de madeira
Inorg8nlco (cobre, ferro , Mancha. verdes nos BrolUlldores,
nfquall dente., plgmen t~o.. na trabalhadores com
gengIva, cinMtnto, gravador" e
genglvoestomatite mineiro.
Qrglnico (0.10. Pigmenllçlo dos dente•• Trabalhadores em 01S0 .
celulóide, .erragem. da gengiva, abra.1o celul6kle. serragem
latinha. tabacol generalizada. farinn. . tabaco
genglvoestom~e ,
hemorragia
Arslnico GOltO met6l1co, Trabalhadores com
sialort"a. gengiva produtos qurmico ••
edemaciada, muco.a refinadares, siderúrgicos,
ulcerada, eroa6ea fabricantu de inMtlddas
esbranquiçadas. ardor
local. n«to.e pulpat.
nacro.. 6ssea. perio.tite
IDENnFICAçÃO PELOS DENTES 233

Quadro 1501 . ManllastaçAo oral de doenças profissionais, de acordo com o agente e as octr
paÇÕEls (adaptado de Sctlour e Sarna!, 1942) (ContinuaçAo)

Agentes Manlfesteções Ocupações


Bucais

Bismuto Hemorragias, edemas. Manipuladores de


gengivoeslomatíle, bismuto, fabricantes
plgmentaçlo da mucosa de pós
bucal e gengival (linha
de bismutol, coloraçlo
negro-azulada {papila e
gengiva marginall.
sensação de ardor, gosto
metálico
Cromo NeCfose 6ssea, ulcereçio Trabalhadores com
dos tecidos bocais. compostos de anilina,
manchas amarelas nos cromo, aço, máquina
dentes fotográfica, impressores e
misturadores de borracha
Fluor Osteoclerose, parda de Trabalhadores com
transpar'ncia do esmalte, crioUla
sialorrá!a
Chumbo Unha de Burton Gravadores, fabricantes
(acinzentada). h4J1tO de Inseticidas, acumuladores
fatido. gosto metálico, eletricos, refinadores de
gengivoestomatite. chUmbo, impressores
Slalorreia. aumento de
volume das "IAndulas
salivares. parotldite
Mercurio Sialofl6ia. Bronzeadores {cano de
gengivoeslomalite. armaI. fabncantes de
o!l1eomielite, dentes tintas e baterias,
enegrecidos. parOlidite. DENTISTAS,
afrouxamento dental, detonadores,
gosto metálico, orla azul- trabalhadores com
escuro (colo dos dentesl explosivos
F6sforo Gengivoestomatite, Fundidores de latllo,
halitose, descalcificaç:io, trabalhadores em f.tbrica
cárie e perda gradual dos de fÓsforo, em bronze
dentes, ulceraçlo dos losloroso. fabricames de
tecidos bucais, fertilizante e fogos de
osteomlelites {supuraçio aniffcio
alveoladentária com
exsudato purulento
foslorescentel
Prata Genglvite, halitose. Industria qufmica
sialorreia, gengiva com
orla empardeclda,
pigmenlaç30 da pele
e mucosa
234 IDENTIFICAÇÃO PELOS DENTES E RUGOSCOP1A PALATINA

Quadro 15-1 . Manifestação oral de doenças profissionais, de acordo com o agente 8 as 0cu-
pações (adaptado de Schour e Sarna!, 1942) (Continuaçlo)

Agentes Manifestações Ocupações


Bucal.

Açúcar C6rle e periodontita Refinadores, padeiros a


confeiteiros
Anil ina Coloraçiio azul dos lábios Trabelhadores com
e de gengivlI elcetrão, de hulha,
explosivos. pintOlls.
curtidor" e
vulcanizadores
Benzen o Ilemorragia gengivlIl, Trebalhadores com
estometite, h6lito 11 gosto coque. metalúrgll e IlcI,
benzóico, osteomialita lavlilam seca,
dOI max ilares vulc.anlzadoras, fabricantes
de pólvora sem fumaça
FenDI 1v"etacromasia amarela Indusuia qufmicI
dos dentes, gosto amargo Idelinfetantel
Cre sol Estomalit. Trabalhadores com
alcauio, hulha, borracha,
destHaria, curativos
c irúrgicos de
desinfetantes
Variaçiio de prllssio Sengramento gengiva!, Mergulhadores, aviadores
odontlllgias
Á ci dos IH2S04 . HN03' DescalclficaçAo do Maneio de 4cidos em
Hei , HF etc.) esmalte, osteomielite . cartuchos, raf inadores de
hemorragia gengiva!, peuóleo, trabelhadores
estometJte, ulc8raçio com explosivos e elgodlio
Calor Doras maxilares Foguistas, ferreiros,
bombeiros
Frio AlecçOes dos dentes. du Industrias com dmlfa
articulações e dos ossos f,igor ffica lentatados
maxililu el, afrouxamento matadouros, sorvetes]
dos dentes, queda de
restaurações
Monóxido de cll fbono C~rie ,.Inflamação Mineiros, fund ldofBs,
gengIVa!, quede precoce uebelhado res com molor
dos dentes, debilidade da a gesollna
musculatura da !lngua e
do rosto
R~ d lo. Ra ios X Candidlase, gengivite, Tkntcos, plOtores de
periodontopatias, mostradores de relógio,
xerostomla Icárie de pesquisadores
Irradiaçãol, DENTISTAS
osteorradlonecrose etc.
IDENnFICAçÃO PELOS DENTES 235

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amenz GO. lntroduflOA Odcmtologú1 Legal. Ed. do autor. Silo Paulo, 1959.
Bercher FF, Aeury F. Frie% L. Patho~ Otnta/rt. Coleção u Pr.atique Stomatologi-
que. ,3'- 00. Masson , Paru, 1950.
Fávero F. Medicina LLsal, 6'- ed. Uv. Martins Ed . Silo Paulo. 1958.
Schour L. Sarnat BC. Oral Manifestatiom of Occup.ation.al Origin. I 14m Mt:d Assoe,
1942.120(15): 1.197-207.
Testut L. Trrltado de Anatomía Humana, tomo IV, Salvat, B.arcelona, Buenos Aires,
1944.
CAPíTULO 16

ARCOS DENTÁRIOS E
RUGOSCOPIA PALATINA •

MARCO AUR~L10 MARCONDES MANTECCA E


ROOOLFO FRANCISCO HAL TENHOFF MELANI

ARCOS DENTÁRIOS

Os arcos dentários podem ter realce na solução de certos problemas


médico-legais, como na identificação de vítimas ou de criminosos, nas
lesões apresentadas por um cadáver, quando os arcos dentários tenham
funcionado como instrumento corto-contundente, ou, ainda, diante de
dentadas, possibilitando reconhecer se foram produzidas pelo homem
ou por animal e qual a sua espécie.
Segundo lzard (1950),85% dos arcos dentários apresentam forma elíp-
tica, e os 15% restantes são representados por arcos em U, PI hiperbóli-
cos, cem V.
Picasse (1955) assegura que, em qualquer dos aspectos assumidos
pelo arco dentário superior, a geometria analítica demonstra que a curva
descrita pela sucessão dos elementos dentários configura um segmento
de elipse.
As dimensões dos arcos dentários estão relacionadas com os fatores
evolutivos individuais, ou seja, aumento da base do crânio, aumento da
distância intercondflica e, eventualmente, com a redução no número de
dentes .
Para o estudo dos arcos dentários, podemos lançar mão de índices
extrínsecos e intrínsecos:
237
238 IDENTIFICAÇÃO PELOS DENTES E RUGOSCDPIA PALA TINA

Índices Extrínsecos

Utilizam medidas dos arcos e medid as da face, tais como:

Índice de Flower

Distância do lR pm ao 3D m
x )00
Distância nãsio-básio

Classificação:

Microdentes abaixo de 42
Mesodentes 42 45
Megadentes acima de 45

Índice Largura do Arco-Largura da Face

Larg. max. do arco


-=~~~~ __ ___ x)OO
~
Distância bi.z.igomática

Normalmente este índice é igual a 50.

Índice Comprimento do Arco-Comprimento da Face

Comprodo arco
~~~~~~~_____ X)OO
Distância incisivo-básio

Também normalmente igual a 50.

Índices Intrínsecos
Utilizam, exclusivamente, medidas dos arcos dentários:
ARCOS DENTÁRIOS E RUGOSCOPIA PALATINA 239

índi ce Largu ra-Comprimento do Arco

____Largura do arco
~_____________ x 100

Comprimento do arco

Classificaçdo
Dolfcoves x 115
Mésoves 115 130
Euríoves 130 Y
Segundo Campion (in lzard, 1950), as distâncias que devem entrar no
cálculo do fndice são a largura ao nfvel do segundo pré-molar e o com-
primento até a face distaI do primeiro molar.

Índice Palatino

Largura da abóbada
______________ - - - x 100
Comprimento da abóbada

Classificaçilo:
Leptostafilinos x 79,9
Mesostafilinos 80,0 84,9
Braquistafilinos 85 Y

fndice de Kneese

Esse autor fez uma inversão do fndice de Campion, obtendo melhor dis-
tribuição, utilizando as distâncias preconizadas por Campion.

__Comprimento do arco
~~__~_______ X100

Largura do arco

Classificaçi1o:
Euríove x 69,9
Mésove 70 84,9
Dolícove 85 y
240 IDENnFICAçAo PELOS DENTES E RUGOSCOPlA PALATINA

RUGOSCOPlA PALATINA
Considerada como um meio auxiliar de identificação, a rugoscopia pala-
tina tem por base a análise das cristas, dobras, pregas ou, ainda, das cha-
madas plicas, encontradas na abóbada paJatina, sendo de grande valia
nos casos em que o estudo dactiloscópico, por quaJquer razão, não possa
ser utilizado, como, por exemplo, nos acidentes em que não há possibili-
dade de análise por ausência das falanges, nos indivíduos carbonizados,
ou em situações de desarticulações e amputações, quando a cabeça se
encontra separada do tronco.
Anatomicamente, o maxilar superior é um osso par, suporta os ele-
mentos dentários superiores e seus correspondentes pontos de implanta-
ção, entrando na construç.ão das principais regiões e cavidades da face;
abóbada pala tina, fossas nasais, cavidades orbitárias, fossas zigomáticas
e fossas pterigomaxilares. Sua fonna depende do arco aJveolar, podendo
apresentar, segundo Testut (1944), quatro aspectos distintos: hiperbóliCll,
quando os segmentos dos arcos são divergentes em todo o seu períme-
tro; parabólica, quando, sendo também divergentes, porém um pouco
menos pronunciados e prolongando-se sua direçâo, acabariam por
encontrar-se; ipsilon, quando são paralelos entre si; e tUptiCll, na qual os
segmentos apresentam convergência.
Particularmente, a porção infrapalatina constitui o palato, que exibe,
em seu terço anterior, inúmeras rugosidades, diretamente relacionadas
com a mucosa bucal, que apresentam uma grande variabilidade de com-
primento, podendo ser únicas ou ramificadas; retilíneas, curvilíneas,
angulosas ou sinuosas. Na espécie humana, como ensina Aroenz (1959),
o conjunto formado pelas rugas é assimétrico, ao contrário do que aconte-
ce, de regra, nos outros animais. No entanto, apresenta maior importân-
cia o fato, comprovado, de que são individuais, imutáveis, perenes e
passfveis de classificação, preenchendo, portanto, os requisitos témicos e
biológicos necessários para a identificação humana.
Em uma classificação da disposição das rugas no paJato, <:arrea, cita-
do por Brinon (1983), dividiu-as em quatro diferentes categorias:
1. Rugas dirigidas no sentido mediaI - Tipo 1
2. Rugas d irigidas no sentido lateral - Tipo n
3. Rugas dirigidas no sentido distai - Tipo m
4. Rugas dirigidas em sentido variado - Tipo rv

As demais rugas distribuídas ao longo do palato, que podem ser retas


ou curvas, agregam-se, com freqüência, aos tipos descritos acima, indivi-
dualizando, assim, as características do palato.
ARCOS DENTÁRIOS E RUGOSCOPlA PALATtNA 241

Brinon (1983), por sua vez, djvide as rugas emfundamentais e caracte--


rlsticns. As fundamentais partem da rafe mediana, e as características o
fazem a partir da margem alveolar. Para efeito de classificação, às pri-
meiras assinala-se urna letra (correspondente à sua (onna) e, às segun-
das, a mesma letra de sua imediata superior fundamental, mas, acresci-
da de apóstrofe ou asterisco. Cita Pei'ialver "( )" que, estudando mais de
7.000 modelos. pertencentes a ambos os sexos e de várias idades, agru-
pou os diversos tipos de desenhos (formas) na seguinte proporção:

Ponto ...................................................... 3 %
Linha reta ................................................ l 7%
Linha curva ............................................ 160/0
Ângulo ....................................................8%
Circulo ....................................................6%
Linha sinuosa ........................................ .38%
Linhas compostas .................................. 15%

Uma proposta de classificação prática para a notação das característi-


cas individuais rugoscópicas foi feita por Martins dos Santos, em 1946,
dividindo as rugas pala tinas em quatro possibilidades de localização:

a. Inicial , correspondente à papila mais anterior à direita, é represen-


tada por urna letra .
b . Complementar, correspondente às demais papilas da direita, é
representada por tantos números quantas forem as rugas contáveis.
c. Subinicial, correpondente à papila mais anterior à esquerda , é
representada por uma letra .
d . Subcomplementar, correspondente às demais papilas da esquerda,
é representada, como a complementar, por uma série de números
relativos às rugas contáveis.

Os diversos números e letras que designam as figuras são:

Ponto ....................................O...................................P
Reta ....................................... l ...................................R
Curva ...................................2 ...................................C
Ãngulo ................................3 ..................................A
Ângulo agudo ...........Aa
Ângulo reto .............. .Ar
Ângulo obtuso ......... .Ao
Curva fechada .....................4 ...................................Cf
242 IDENTlFICACÂO PElOS DENTES E RUGOSCOPlA PAlATINA

Sinuosa ................................ .5 .................................. .5


Bifurcada ..............................6 ................................... 8
Tri€urcada ............................7 ...................................T
Quebrada .............................8...................................Q
Anômala ..............................9.................................. .An

11 111 IV

• •
~-
Rg. 18-' , ExUIlIdo de Odontolog,. Leglll Y Prlctfa FonnSfl. de Elid. N. Btil'\on.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arbenz GO. lntrodupJoa QdolltologiD lLgal. São Paulo 1959.
Bnfton EN. Odontologill Ltgal y Prdclic. Forense.. Purirtton Editores, Buenos Aires,
1983.
lzard G . Ortho~dlt!delltofttcÜllt. Paris. 1950.
Kneese MQS. ContribuiçJo para o estudo do lndice de Campion em um grupo de
universitários de 5.io Paulo. AMis Fac Farm Odont USP. 1962. 19 (2).
Pei"lalver J. OdontologlQ UgIlI y CHonlologiQ Odontol6gic# Ed . Continente. Caracas,
1995.
Picasse M. Contribuição ao estudo da morfologia do arco dental superior nos brasj.
leiros (Tese) São Paulo. 1955.
Sousa Lima J. Importância pericial da rugoscopia pala tina . (Tese de doutorado).
Faculdade de Odontologia da Unjversidade Federal de MInas Gerlis,
Departamento de Odontologia Preventiva e Social, 1962.
Testul, Latujel. Trtltlldo de Anatomia HUmQlUl. Tomo rv. Salva! Editores. Barcelona,
Buenos Aires, 1944.
PARTE IV

TRAUMATOLOGIA
FORENSE E
TANATOLOGIA
CAPíTULO 17

TRAUMATOLOGIA FORENSE

MARA CRJSnNA TRAMWAS CALABREZ

INTRODUÇÃO

A traumatologia forense comp reende o estudo sistemático das lesões


produzidas por agentes lesivos ex6genos, de modo a oferecer à Justiça
subsídios, como diagn6stico, classificação jurídica, nexo causal, se a
lesão é vital ou pós-morta l, enquadramento legal e gravidade do dano
causado. Como bem elucida Arbenz (1988). esses danos podem ser pro-
duzidos por agentes que têm a intenção de ferir (animus laedendi) ou de
matar (onimus necllndi), mas podem ser produzidos igualmente por
outras causas. Assim, o campo de interesse da traumatologia forense
atinge desde os acidentes caseiros até os acidentes de trabalho, mortes
súbitas e mortes suspeitas, enfun, todos os traumas compreendidos no
campo das energias vulnerantes.
Didaticamente classificam-se as energias vulnerantes pelos agentes.
Do ponto de vista médico-legal, a finalidade da classificação da causali-
dade do dano é a determinação do agente, que é defmido pelas caracte-
rfsticas fundamentais da lesão. Assim, o objetivo do estudo é a lesão,
peça de maior importância na elucidação dos fatos: " Dá-me as caracte-
rfsticas da lesão e lhe direi que agente a produziu" (Muf\oz):

·Prof. Or. Daniel Romero Muilot, Professor-Assistente, Doutor da Faculdade de


Medicina da USP. Anotações de aulas
245
246 TRAUMATOlOGtA FORENSE E TANATOLOGIA

As causas produtoras das lesões corporais ou lesões mortais podem


ser agrupadas, facilitando seu estudo. Tradicionalmente, os autores,
entre os quais Flamínio Fávero (1980), destacam sete categorias de ener 4

gias vulnerantes: mecânica, física, qufrnica, físicOo<luimica, bioquímica,


biodinâmica e mistas, porém, neste capítulo. a exposição do tema estará
mais próxima do conteúdo ministrado no Curso de Pós-Graduação em
Medicina Legal do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica. Me-
didna Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade
de Sào Paulo.
As energias vulnerantes serão analisadas segundo sejam: de ordem foi-
cn; de ordem qll{mica; de ordem biológica; de ordem ps(qllicn, e de ordem
mistn.

ENERGIAS DE ORDEM'FÍSICA (EOF)

As energias de ordem física podem ser causadas por agentes mecd"icos e


nllo-mecO11 icos. ~

Agentes Físicos Mecânicos

São as energias que tendem a modificar o estado de repouso, ou movi-


mentol em parte ou de lodo o corpo. Os agentes mecânicos são respon-
sáveis por 97% dos casos que movimentam os Institutos Médico-Legais
e 98% de todos os casos de homiddio tentado ou consumado e dos cri-
mes de lesão corporal. Os agentes mecânicos são classificados em fomlDs
puras efomlUs mistas.

Form as Puras

Obedecem as características geométricas na superffde vulnerante (Qua-


dm 17-1).
TRAUMATOlOGIA FORENSE 247

Ouadro 17·1 . Formas pul1lS

Agente Modo de Forma de CaracterfltlcaI


Contato Atuação Morfológica.

Perlurante ponto presslo ponta rlgldl,


!tna a alongada
Cortante linha presslo e llmina com
deslizamento gume
Contundente pleno prelslo, choque. super"ele
b vezes assoc1ado ao romba ou plana
deslizamento,
uaçio etc.

Agetrtes Perftlrantes
São aqueles que agem idealmente por um ponto que, pressionado, lesa o
corpo da vítima, produzindo ferimento punct6rio, provocando o afasta·
menta das fibras dos tecidos, divulsionando-as. São representados por
objetos afilados, pontiagudos, alongados, em geral de secção circular ou
poligonal. O diâmetro, em regra, não é largo, como ocorre com estiletes,
agulhas, pregos etc. Devem ser tomados cuidados ao se definir um obje-
to como sendo um agente especifico. porque uma agulha. por exemplo,
somente poderá ser considerada um agente perfurante se usada de
modo convencional. É importante lembrar que a energia mecânica é
cinética ou potencial, ou seja: a força viva de um obJeto depende de sua
massa e da velocidade com que se movimenta:
F=m......,yl
2
• Elementos da fesifo: orifício de entrnda (OE), trajeto e orifkio de sarda
(OS), podendo apresentar·se em forma de fenda, circular, fusiforme
ou oval.
• Caracter/sticas da ftsifo: convencionalmente produz lesão punct6ria
ou perfurante, segundo OQuadro 17·2, e a solução de continuidade
obedece as leis de Filh6s e de Langer (apud Arbenz, 1988):
1! lei de Filh6s: A solução de continuidade produzida por agentes
perfurantes ti semelhante à produzida por Instru·
mentos de doIs cortes.
2! Lei de FHh6s: Em ume mesma região, o maior eixo tem sempre a
mesma direção. que depende da orientaçio das
fibras; varia, portanto, de região para região .
Lei de langer: Na confluência de regiões de linhas de força diletentes.
a extremidade da lesão toma o aspecto de ponta de
seta ou de triângulo, ou mesmo de quadrilátero.
2.8 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

Quadro 17-2. Classificeçlo m6dico-legal

AVlnll E"1T1910 C.rac1erf,tJ.c•• TIpo de Luto


da l ••lo

Parfu,ante agulha prohmcfidade > > Ixten.lo lalio punctóf1'·


~n. -ponto' perlur.çlo ou
pequeno leslo perfurant."·

• O ferimento aptesenU! 'Ingramanto nulo ou mfnlmo. JI que o sangramento li devido'


rotura de fibras e VISOI . AlI bordn da 18110 nlo evidenciam contudo. obedecendo o •• n-
tido das fibras afastad •• da pele. Geralmente, o orillelo de enulda Ipresentl-'I menor do
que o dilmetro do instrumento egresso' devKlo , elasticidade I • retraçA0 dOI tecidos .
•• Se o nstrumento li c&nlco • de maiot dilmetro. o ,f.stamento das libras do. tecidos apre-
aenta .,PIC::IO da laslo por Instrumento de guma flello CltK'Cllrizada como ·cu. de
botio"' ou .1 bordai no oritrclo de larda podam sofrer ligeiro oomprometimento (compIC-
laçA0 ).

Ainda em relação às características da lesão, devem ser observados


seu trajeto, profundidade e dimens6o.

Trajeto: é sempre retilíneo. A lesão é maior, menor ou igual ao com-


primento do instrumento. Em regiões moles, depressíveis e de
declives, o trajeto é maior; já nos planos ósseos, como, por exemplo,
no tórax, apresenta-se menor.
- Profundidade: em presença de tecido fibroso e cartilaginoso, as
dimensões do agente são bem reproduzidas. Já em planos ósseos, a
profundidade da lesão é reduzida .
- Dimensílo: a extensão é demarcada pela distância entre os orificios
de entrada (OE) e de saída (OS) . A profundidade será detenninada
segundo se trate de fundo cego ou transfixante.

• Progn6sh"co: é variável, desde reparação total (restifutio ad integrumJ


até morte, quando atingidos o coraç30, grandes vasos e centros ner-
vosos. A profundidade alcançada pelo instrumento é mais relevan-
te do que a lesão externa produzida. Assim, o prognóstico é reser-
vado na proporção em que a sintomatologia denuncie maior pene-
tração e a lesão de órgãos profundos seja mais grave. As infecções
também são fatores agravantes no prognóstico.
• Etiologia jurfdica: a freqüência é alta em casos de homiddio, prin-
cipalmente entre detentos . Os recém-nascidos também podem
ser vítimas desse tipo de lesão (infanticídio). Nos acidentes co-
TRAUMATOlOGtA FORENSE 249

muns ou de trabalho, a freqüência é significativa, mas não no sui·


cídio.
• Estimativa do moml!nto dI! produçilo da lesão: apesar de bastante
imprecisa, a estimativa da época de produção da lesão é realizada
por meio da observação das características da lesão e de sua evolu·
ção.
• Exames das vesttS: visa a buscar informações adicionais que possam
contribuir para a elucidação do fato delituoso. Também é importa0·
te lembrar que existe correspondência entre a ação do agente mecâ-
nico sobre as vestes e sobre o tecido cutâneo, sendo, porém,
momentânea.
• Lesão vital ou pós-mortal: na lesão vital há impregnação hemática,
(ormação de coágulo e retração dos tecidos; já a lesão pós-mortal
apresenta-se como um ponto (dependendo da morfologia do agen-
te).

Genericamente, no exame da vítima, alerta-se para 05 problemas que


a sondagem pode trazer, devendo esta ser realizada de modo cuidadoso
e ser precedida de documentação fotográfica, pois poderá comprometer
o diagnóstico, visto que possibilita a produção de falsos trajetos e a alte-
ração de correspondência com o instrumento empregado.

Agentes Cortantes
São aqueles que agem idealmente por uma linha representada pelo gu.
me da respectiva arma, seccionando os tecidos, dando origem à lesão
incisa. As lesões incisas (superficiais e profundas) podem ser.

• Simples: como conseqüência da ação perpendicular do agente em


relação à superfície lesionada. Tais lesões, normalmente, não atin-
gem tecidos mais profundos.
• Com retalho: decorrentes da ação oblIqua do agente agressor, pro-
porcionando o destaque da porção do tecido lesado.
• Mutilalltes: produto da açâo tangencial à superfície lesada, como,
por exemplo, na amputação da orelha ou dos dedos.
250 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

Agente ElUlmplo Clfllclarl.Uc .. d. L.llo TIpo da le.lo

neYllha 1.I.nslo > profundidade 18.io incisa ·


tfplea ledo lusilolme ou navic:ular
com bordas tisas, nftldas. regulares
• duas caudas IClud. da entrada -
CE - 8 cauda de $lida - CS)

• H' 18eçlo uniforme no tecido, partindo da um ponto da apoiO. Iste mais profundo d ....i-
do • prlsslo p81•• anUada do Instrumento n. pela, tornando-se progressiv.mante luper-
flcial; M afastamento das borda•• sangramento. Ob"rYaôo d, petf~. o aspecto t angular
ou Im bisei.

A fonlln e a dirtçi'Io da ltsifo dependem do instrumento utilizado pelo


agressor e das caractensticas da região atingida, podendo apresentar-se
como:

• esgorjmmmto; lesão por instrumento cortante na região anterior do


pescoço;
• degola: lesão por instrumento cortante na parte ântero-Iateral do
pescoço. Na p rática é, em geral, produzida por instrumento corto-
contundente e ocorre, principalmente, em casos de suplício, mas
pode também ser homicida;
• decapitação: lesão por instrumento de corte que secciona o pescoço,
separando a cabeça do troncoi
• esquartejamento: lesões diversas por instrumento de corte que divide
o corpo em partes ou "postas".

Quando duas lesões incisas se cruzam ou coincidem em algum ponto,


há necessidade de determinar qual delas foi produzida em primeiro
lugar. Em tal caso, deve-se seguir a Lei de Chavigny, ou seja. procura-se
coaptar as bordas da lesão que se supõe ser a primeira e observa-se qual
o comportamento da outra. Sendo esta de fato a ordem, haverá plena
continuidade nas bordas da primeira lesão, e as bordas aproximadas da
segunda terâo uma interrupção ao atingir a outra, indicando que ela foi
feita quando a primeira estava de bordas abertas.

• Tipos de lesões: as lesões incisas podem ser em ziguezague (ou em


ponte); irregulares, em virtude da falta de corte ou presença de den-
tes no gume do instrumento utilizado; de deftsll, normalmente nas
palmas das mãos, no dorso dos pés, nos dedos e na região ulnar do
TRAUMATOlOGIA FORENSE 251

braço, caracterizando que o indivíduo agredido se encontrava em


pé no momento da lesão. Quando em vítimas deitadas, são obser-
vadas lesões na planta dos pés; Itsdts abamntts (ou golpes (alhos) e
de Ilesitnçifo (ou tentativa).
As lesões em regiões onde há osso subjacente devem ser cuidado-
samente analisadas e diferenciadas das lesões contusas.
• Progllóstico: é variável, na dependência do local, do órgão atingido e
da profundidade do ferimento. Quando a vítima não morre, a inci-
são tegwnentar cicatriza. Às vezes a cicatriz é exuberante, dando
origem ao quelóide ou cicatriz hipertrófica . O instrumento agressor
ou a lesão podem sofrer contaminação, fator agravante do progn6s-
tico.
• Etiologia jurfdicn: decorre da observação da presença de lesões típi-
cas de defesa, tortura ou execuçAo. A freqüência de lesões incisas
nos casos de homicídio é alta; nos casos de acidentes são raras e,
por fim, nos suiddios são caracterizadas por incisões no punho
com lâmina de barbear ou caco de vidro, podendo, ainda, ocorrer
lesões do tipo esgorjamento.
• Estimativa do momento da produção da lesão: avaliada pela evolução
da cicatrização da lesão.
• Lesifo vital 011 pós-mortal: além dos exames de laboratório, a presença de
lesões características de defesa evidencia. geralmente, lesões em vida.

Agentes Conhmdentes
São os que atuam por pressão, deslizamento e tração, podendo origi-
nar impressões na superfície cutânea (como, por exemplo, a impressão
dentária). Apresentam supel fície plana ou romba. Inúmeros são os
exemplos de agentes desse grupo, não só OS de ação tfpica. como pau,
pedra, martelo, mas, também, aqueles que apresentam superfícies
resistentes contra as quais o corpo embate, e, ainda, os que podem fun-
cionar como agentes contundentes, dependendo do modo de ação.
Assim, as con tusões podem ser ativas ou passivas, segundo o modo de
ação do instrumento, isto é. se este atinge o corpo, ou se a vítima proje-
ta-se contra ele\

• Caracterfsticas da lesifo: convencionalmente produz lesão contusa,


abrasiva, lacerante ou uma combinação destas.
• Tipos dI! lest1o: podem ser 5lJ.perficims, havendo ou não preservação
da integridade da pele, ou podem ser lesões profundas.
252 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

Quadro 17-4. Classillcaçlo m6dico-legll

Agente Exemplo Modo de Açio Tipo de le!5i1o

Contundente bastA0 prestA0 contusa

escoriaçlo pressio + .rr.ste (abrasival


daslizamanlO

dentada Impresdo ctltlnee contusio + abrl'IVI


LaCI'lnta esc.Jpe\amenlo traç,io liclro
im'qulna rOUlrizl
lAcaIo trauma nos pressSo + traçA0 l6t;aro-contus.
contundente rebordo.
orbitais

As contusões superficiais com mtegridnde da pele são caracterizadas por:

• eq llimose: derrame sangüfneo decorrente da rotura de capilar no


tegumento, nas massas musculares. nos espaços intermusculares
ou nas vísceras. Estão presentes os elementos de transformação da
hemoglobina; a metaemoglobina está ausente e as redes de fibrina.
Presentes. A hematologia divide as equimoses em:
• Eqllimose propriamente dita 011 cardrnal.
• Eqllimoma: equimose de grande proporção.
• Srlgilação: pequenas equimoses múltiplas localizadas bem próximas
umas das outras, assemelhando-se a grãos de areia.
• Petéqllia: pequena equimose semelhante à "'cabeça de alfmete".
• V,õice: estrias em virtude do alargamento do tecido.
• SllfuslIo: ampla zona de infiltração hemorrágica .
• Bossa SlJlIgiUlICQ ou lúifáticn: presente em regiões em que abaixo da
pele existe osso. Com o trauma, há fonnação de uma elevação bem
n[tida, e o hematoma recebe o nome especial de bossa, vulgannente
conhecida como "galo".
• Hema toma : dá-se pelo extravasamen to sangüíneo ou linfático
decorrente do rompimento de vasos de maior calibre. Devido à
pressão, inerente ao volume de sangue, este afasta os tecidos e pro-
voca a fonnaçao de nova cavidade que aloja o líquido (sangue ou
linfa).
• Impressifo cutlitleJl: pode aparecer em decorrência de agressões pro-
vocadas por dentes. unhas ou polpa dos dedos.
TRAUMATOlOGrA FORENSE 253

As contusões superficiais sem integridade da pele são caracterizadas por:

• Escoriação ou erosão, esfoladura ou arranhadura: caracterizadas pela


perda da epiderme devido ao trauma, havendo exposição de cama-
das mais internas (normalmente a derme) devido à ação contun-
dente, que age tangencia1mente, por atrito e pressão, simultanea-
mente ao deslocamento do agente contusivo. Juridicamente, é uma
lesão leve, mas, do ponto de vista médico-Iegal, é significativa,
dependendo de sua sede, forma, dimensão, e se produzida em vida
ou pós-morte, permitindo a estimativa da provável data de ocor-
rência, estimada pela evolução da lesão.
• Lesão contusa (Iacerante): resuJta de uma ação contundente em re-
giões em que o tegumento se assenta sobre superfícies ósseas, mor-
mente quando sejam arredondadas ou mesmo salientes. Essas le-
sões, amorfas e de bordas anfractuosas, podem assemelhar-se a
lesões produzidas por instrumentos cortantes ou cortocontunden-
tes, devido ao desgarro em ambos os lados da lesão.
• lAcerocolltusa: são lesões amorfas, apresentando bordas anfractuo-
sas e normalmente apresentam maior ou menor extensão de pele
deslocada. Têm origem quando a superfície do instrumento con-
tundente é mais ampla e o plano ósseo subcutâneo é mais extenso,
a solução de continuidade é mais dilacerante, isto é, solução de
continuidade em meio a uma ação contundente acrescida do rom-
pimento da pele, por compressão.

As contusões profllndas podem apresentar-se como;

• Fratura: pode ocorrer com exposição ou não do osso lesionado, isto


é, fechada (subcutânea) ou aberta (exposta). É decorrente de com-
pressão, torção ou se caracteriza pela solução de continuidade dos
ossos. As fraturas podem ser diretas, quando observadas no mesmo
local onde houve o trauma, ou indiretas, quando provêm de violên-
cia em uma região mais ou menos distante do local fraturado (por
exemplo, fratura da base do crânio por queda em pé) (França ,
1977).
• Lllxnçilo: origina-se pelo deslocamento das superfícies articulares de
dois ossos que deixam, assim, de ter relação de contato comum. As
luxações são provocadas por traumas, entorses, hérnias e ptoses
(deslocamento de órgãos).
254 TRAUMATOLOGlA FORENSE E TANATOLOGIA

• RohlrQ de 6rgrlos internos: ocasionada por impacto violento, agindo


por concussão.
• Esmagame1lto: alta pressão sob re membro ou órgão, provocando
parcial ou completa destruição do mesmo.
• Derrame: pode ser cavitário-hemático, serofibrinoso ou seroso (em
tórax, pericárdio, abdômen.. articulações, encéfalo), ou não-cavitá-
rio.

Genericamente, nas lesões incisas, as manifestações mais comuns são


o derrame e a eqlâmose, as quais podem ser assim caracterizadas:

• Derrame pode ser linfiJtico, nos casos das contusões tangenciais, sero-
50 ou sinovial, ao nível das articulações, gasoso, na região torácica,
como nos casos de enfisema subcutâneo e pneumot6rax, pode
ainda ser hemáfico, sendo este o mais importante e freqüente (é a
equimose slrieto sensu) .
• Equimose, causada pela inftltração nos tecidos do sangue alojado
fora do vaso em virtude de rompimento dos capilares e vasos 5U))..
jacentes; é produzida por pressão, tração, sucção ou esforço, poden-
do ser traumática, acidental, provocada ou espontânea (esclerose
em placas, psicogênica), tendo como evolução:

hemoglobina (Hb) metaHb hematina


(vermelho) (vermelho- (castanho-escuro)
acastanhado)

hemossiderina: apresenta Fe livre, cor


azul (cianUJ"do de Fe) e _ estimativa de
reaçio de Perls positiva da ti: 3- - 12"'
dia

hcmatina
hematOldína: sem a presença de
Fe livre. cor amarela _ _._ estimativa
de data: 12"' dia - 2
e reaçllio de Pers! meses
negati~

o grande grupo das equimoses apresenta caracteristicas próprias, tais


como:

a. Variações de cor: ocorrem pela transformação da hemoglobina pro-


vocada por reações bioquímicas. Essa variação depende da quanti-
TRAUMATOLOGlA FORENSE 255

d ade de san gue extravasado, da violência do trauma, da extensão


da região atingida, da riqueza vascular da região e das característi-
cas individuais (estado geral do indivíduo, idade, sexo etc.). Tal
transformação cromática acontece da periferia para o centro da
lesão, onde ocorre mais lentamente. O estudo de tais mudanças ori-
gin ou o espectro equimótico de Legran d du Saulle:

evolução da lesão

vermelho verme1ho-escuro, azul verde amarela laranja tomando-se cada


vivo bronzfneo, roxo vez mais pálida
escuro. negra, até desaparecer
violácea

• vermelho vivo, vermelho-escuro ou bronzíneo: lesões recentes, de


poucos momentos a horas;
• negra: dois a três dias;
• azul: três a seis dias;
• verde: sete a 12 dias;
• amarela: 13 a 20 dias, desaparecendo em 25 dias, aproximadamen-
te.
b. Contusões sem eqllÍmose ocorrem, basicamente, em três situações: o
agente contundente está envolvido em corpo macio que suaviza a
aspereza do golpe lesivo sem atenuar a violência; em virtude de os
vasos sangüíneos serem muito elásticos, resistindo ao trauma sem
se romper; e, em casos de morte rápida devida à rotura do coração.
cessa a circulação, impedindo a formação da equimose.
c. Eqllimoses sem contusão são observadas nos casos de doenças como
púrpura, escorbuto, hemofilia, mal de Brigth, entre outras.
d . Eqllimose espontlitrea post-mortem e equimose vital. Almeida Jr. e
Costa Jr. (1971) chamam a atenção para a distinção entre equimose
esporrtfirrea post-mortem e eqllimose uital. A primeira tem origem em
contusões provocadas no cadáver, como, por exemplo, as decorren-
tes da manipulação do mesmo. É possíve1 proceder-se à distinção
entre elas fazendo-se uma incisão na região suspeitada. Em se tra-
tando de equimose post-mortem, observa-se sangue fluido e não
aderido às paredes do tecido, enquanto nas regiões onde há equi-
mose provocada em vida, o sangue apresenta-se coagulado e preso
às malhas do tecido . Todavia, os mesmos autores mencionam a
25. TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

excepcionalidade de produção no cadáver, mesmo algumas horas


após o óbito, de equimoses em nada diferentes das produzidas no
individuo vivo.
e. ColoraçAo pseudHquim6tiCIJ 110 ClJd4ver:
• Equimose: hipostática: típica nos casos em que o cadáver permanece
longo tempo na mesma posição. Pela ação da gravid ade, acrescida
do acúmulo d e Hquidos corpóreos, a pressão sobre os vasos das
regiões inferiores toma~se tal que estes acabam por romper-se, pro-
vocando o acúmulo de liquido nas regiões de declive e penetrando
na malha dos tecidos. Esse sangue encontra-se fluido ou hemolisa-
do dentro do vaso; não estando presentes os elementos de transfor-
mação de hemoglobulina, a metaemoglobina apresenta-se neutra e
sulHdrica; também não estão presentes as redes de fibrina .
• Manchas de pumjaç4o: decorrentes da ação da fauna microbiana,
têm seu inicio, via de regra, na região abdominal próxima à fossa
iUaca direita, correspondente à porção do intestino terminada em
fundo cego. Apa recem, normalmente, um ou dois dias após a
morte.
• Livores parad6xicos: manchas lívidas, de cor azul com orla negra,
podem aparecer, precocemente, no penodo de uma ou duas horas
após a morte e também em virtude de temperatura alta ou, mais
tardiamente, após sete horas do óbito, atingindo seu máximo no
penodo de 10 a 12 horas. ~ oportuno lembrar que os tivores não
mudam de posição.
f. Equimoses profundas: também são conhecidas como vísceras negras
ou equimoses de m igração, visto que o sangue se movimenta, alo-
jando-se em lugar distante do traumatismo.
• Importlfncia médico-legaI: as equimoses têm importância na detenni·
nação da sede da lesão, na caracterização de lesão vital ou pós·mor·
tal, quanto à forma da lesão e na estimativa da data de sua produ·
ção. Na determinação da sede da lesão (habitual e especial), o peri-
to deve estar atento, ao realizar o exame, para a possibilidade de
migração das equimoses.

Fonnas Mistas

São vistas quando, na superfície vulnerante, se combinam as formas de


um ou mais tipos puros.
TRAUMATOlOGIA FORENSE 257

Quadro 17-5. Formas mistas


Agenta Modo de AçIo

Perfuroconaote perfuram e conam


Perlurocontundenta perfuram a contundem
Conocontundente conam e contundem

Agentes Perfllrocortatrtes
São representados por agentes que possuem uma ponta (perfurante) na
extremidade distal de uma lâmina, com um ou mais gumes (cortantes).
Os instrumentos típicos ~o: punhal, peixeira, faca de ponta e corte, cani·
vete.

Quadro 17-6. ClassIfIcaçAo médk:o-Iegat

Agenta Exemplo Modo da Açlo TIpo de lado

Perfuroconante punhal presuo perfuroinclU •


+
deslizamento

• A eXlenl lo de !ti.1o • maiol do que e prolundideda IE :> P) - bordas lisa., ragullla.,


n/tidas e apresentando duas caudaS (em 18 tratando de Instrumento de um gume: botoeira:
do is gumes: biconvexa) ou mal', dependendo do número de gume• .

• Dimen5ÕtS: a extensão da tesão pode ser maior do que a lâmina, se


esta for retirada obliquamente. Pode ser menor, se o corte estiver
"rombo", agindo mais por distensão da pele do que pela sua sec·
ção. A lesão pode, ainda, apresentar dimensões iguais à largura da
lâmina. Quanto ao trajeto, a lesão pode ou não ser semelhante ao
instrumento utilizado, estabelecendo como solução de continuida·
de uma ou mais aberturas, ou, ainda, terminando em fund o cego.
Na presença de ossos ou cartilagens, costumam ser reproduzidas a
forma e a dimensão do instrumento agressor, podendo este transfi·
xar um ou mais órgãos durante o trajeto da lesão.
b oportuno lembrar que, nas lesões provocadas por agentes per·
furantes, a orientação da fenda deve obedecer a direção das fibras
do tecido. Se o maior eixo da fenda não coincide com a direção das
fibras afastadas da pele, a lesão deverá ser imputada a agente pér.
furo-cortante.
25. TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

• l..LS4o vital ou pós-mortal: se for vital, deve apresentar impregnação


hemática, formação de coágulo e retração de tecido; quando pós-
mortal, caracteriza-se pela ausência de impregnação hemática ou
sangue e ausência de retração de tecido.
• Características especiais: a busca de lesões nas vestes, lesões de defe-
sa, lesões de hesitação ou tentativa, evisceraçõe5 pela pressão abelo-.
minai, esgorjamento, lesões aberrantes, lesões de caráter sádico e
lesões de caráter mortal constituem procedimento re1evante para a
caracterização da etiologia jurídica.
• DetermirraçtJo do agente: pode ser estabelecida por meio da caracteri-
zação do tipo da lesão, e, possivelmente, do instrumento causador
desta .
• Etiologia j urfdico: homiddio (multiplicidade de lesões ou lesões de
defesa), suicídio (lesão única ou típica de rituais como o " haraqui-
ri").

Agentes Cortoconnmde"tes
Agem pela ação do gume (geralmente não muito afiado), influindo na
produção da lesão o peso do instrumento e a força viva de quem o
maneja, que sobrepuja a ação cortante.

Agente Modo de Açlo T1po de LIslo

Cortoc:ontundente lolce preulo Cortocontusa ·


lado •
podA• força de mpacto

• As catactl1lsticas da tedo dependem do gume do Instrumento. Sendo Ista afiado, ", ..


dominam as CatacterlSllc1S Incisa.; quando rombo. predominam .. caractetfs1lcas de lesA0
conlUSII.

• Diagn6stico diferencial de ltslJes contusas e cortocontusas:

• As contusões das bordas da lesão cortocontusa nunca são tão


acentuadas, pois a sol ução de continuidade é causada por sec-
ção. Nessa lesão, as bordas apresentam grande contusão (equi·
mose, escoriações), pois são produzidas por dilaceração (desgar.
ramento dos tecidos).
TRAUMATOLOGIA FORENSE 2.9

• A lesão contusa tem bridas de tecidos não·rompidos, o que


nunca se observa na cortocontusa.
• A cortocontusa é mais profunda e pass(vel de atingir o tecido
ósseo. As contusas nunca são, ao mesmo tempo, tão profundas e
tão irregulares.
• Frequentemente, as cortocontusas são mortais.

• Diagn6sfiro: a graVidade da lesão é determinada pelo instrumento


utilizado e pelas características da lesão.
• Prognóstico: dependerá das condições de cada trau matismo, variem·
do de acordo com a extensão da lesão, órgão e tecidos atingidos.

Agetrtes PerfUTocontundentes
Apresentam extremidade mais ou menos romba ou que logo assume
esse caráter. O instrumento típico é o projétil de anna de fogo, que per·
fura pela força com que atinge a superfície cutânea e contunde pela sua
conformação. Dada à sua relevância, as considerações sobre os agentes
perfurocontundentes evidenciarão os aspectos relativos aos "ferimentos
por arma de fogo".
A classificaçilo médico-legal dos tiros quanto as distancias dos disparos é
feita pela caracteriz.açào do orifício de entrada (DE) (Fig. 17-1).

1. Areas de contamo
• sinais decorrentes do projétil: orlas
• conlusilo: estão presentes a equimose e escoriação, caracterizadas
pelo sinal de Thoinoti
• etlX llgo: caracterizado pelo sinal de Chavigny.

ELEMENTOS DE DISPARO
TE
I aR


~~
CHAMA CO
FULIGEM MO

GASES
LO

SUPER PAftT PÓLVORA

" ACUECIDOS NAo QUEIMADA
E PART. METAL
PROJrnL
CONTUsAo

Flg . 17-1. Esquema representando os elementos do disparo .


260 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOl()(iIA

• sinais decorrentes da carga explosiva: zonas, as quais sofrem resis-


tência do ar e da gravidade. Estas podem ser decorrentes de:
• compress60 de gasts;
• clmmllscnmento;
• esfimmçnmeuto ou falsa tatuagem;
• tatuagem.

2. Distância do disparo - Para o cálculo da distância de disparos, procede-


H
se aos chamados "tiros de prova , que são executados com a mesma
arma (quan do poss{vel) ou arma de modelo equivalente, com a
mesma muniçao, em distâncias crescentes. Deve-se atentar para o fato
de que, na ausência de queima de pêlos, não se pode saber se o dispa-
ro foi à queima-roupa ou de curta distância .

3. Caracterlsticns dasles&s por projétil único


• Orifício de. entrada (DE): é o ponto de penetração do projétil no corpo
(pele, mucosa, cavidades naturais).
• Quanto à jonlla: as bordas apresentam-se evertidas, com caracte-
rísticas específicas em relação à posição do tiro. Nos tiros per-
pendiculares, apresenta-se com forma circular; nos tiros inclina-
dos ou em regiões abauladas, com forma oval, eUptica ou fusi-
forme, parecendo lesào perfurante ou perfurocortante; nos tiros
tangenciais, só existem as orlas de contusão e enxugo; nos tiros
encostados, o orifício de entrada é muito semelhante ao orifício
de saida .
• Quanto As dim~nsões do orifício de entrada, podem ser d~ ponto,
maiores. menores ou iguais ao diâmetro do projétil.
• QUQllto 4s áreas de conlomo, estas somente estão presentes no ori-
fício de entrada, podendo apresentar co-hemoglobina (COHb),
nitratos, nítritos, sulfatos, sul fitos, fuligem, partículas de pólvora
não-combusta, partfculas metálicas. às vezes fibras de vestes. No
orifício de saída esses elementos não estão presentes. Somente o ori-
fício de entrada apresenta áreas de con torno cujas ca racterísticas
vilriam conforme a distância do tiro, podendo ser:
• Orla de contltslCo: é devida ao impacto do projétil na pele, pro-
vocando a sua erosão antes de ser perfurada, pela sua disten-
são. É bem evidenciada após seis horas do óbito, porque a
pele apresenta aspecto "pergaminhado" .
• Orla de contllSifo e enrugo: representa o ponto de contato no ins-
tante em que o pro}étil atinge o alvo. Nos tiros perpendicula-
res, margeiam o orifício de entrada como um anel, e nos tiros
TRAUMATOLOGIA FORENSE 261

inclinados, têm forma de meia·lua. Tal orla está presente inde-


pendentemente da distância do disparo, estando ausente ape-
nas nos tiros encostados e naqueles à queima· roupa, onde
pode estar mascarada pelas demais zonas de contorno. Tam·
bém nos tiros perpendiculares existe a condensação das zonas,
em forma de anel ao redor do orifício de entrada; nos tiros
inclinados, a conden'iação é maior do lado onde o ãngulo de
incidência é menor, apresentando, o lado oposto, uma zona
mais rarefeita .
• Número de oriflcios de entrada: é igual ao número de orifícios de
saída. Quando esses números não forem coincidentes, devem
ser procurados os projéteis no interior do corpo da vítima os
quais, somados aos orifícios de saída encontrados, devem per·
fazer o número de orifícios de entrada .

o trajeto é delineado pelo projétil principal e pelos projéteis secundá·


rios, sendo, portanto, único ou múltiplo. Tal trajeto pode ser: reh1ílleo;
com desvios; lmntnatldo em ful,do cego ou no orifldo de saí@. ~ importante
salientar que não existe trajeto curvo. Quanto à forma e ao aspecto do
trajeto, dependem da natureza e da resistência dos tecidos, podendo ser:
subcutâneo. muscular, ósseo ou cartilaginoso. Dependem, também, das
condições do projétil, da djstância do disparo. da força viva do projétil e
da deformação do projétil.
O estudo do trajeto tem importância clínica e médic<rlegal. Na clínica,
porque auxilia na indicação terapêutica e, na médic<rlegal, porque indi·
ca a possível presença, no interior do trajeto. de fragmentos das vestes,
sangue e o próprio projétil.

• Orifício de salda (OS): é produzido pelo projétil propriamente dito,


isoladamente ou reforçado por outros corpos que a eJe se juntem no
decorrer do trajeto (vestes, botões, ossos, dentes). Só será observa·
do se o projétil for transfixante, sendo geralmente maior do que o
oriffcio de entrada e do que o diâmetro do projétil.
A principal característica do orifício d.e saída é a ausência de
orlas e zonas. Apresenta·se, logo depois de produzido, com bordas
evertidas, irregulares, estreladas, com hérnia ou perda de lecidos
(sangue, massa cefálica etc.).

A análise da direção do tiro pode ser baseada nas características do ori-


fício de entrada e as áreas de contomo, podendo ser: langencial, inclina·
262 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

da ou perpendicular, decompondo-se em vetores nos planos sagil::ill, ver-


tical e horizonta1. A inclinação do corpo, mantida a mesma Linha visada
da arma, faz variar o trajeto do projétil (tiro de prova).

4. Características das lesiJes por projéteis múltipros. Cada grânulo do projétil


múltiplo comporta-se como projétil único. De infcio, caminham jun-
tos, abrindcrse em área de diâmetro cada vez maior, dando origem à
"rosa de tiro"'. O trajeto, geralmente largo e irregular, é produzido
pelo conjunto de projéteis que, geralmente, não apresentam peso uni-
forme. Os projéteis múltiplos têm como característica sua força viva,
que não é tão acentuada como no projétil único. Sua (orma não permi-
te maior penetração nos tecidos, apresentando várias orlas, pois cada
grânulo tcm a sua própria orla, sendo que as zonas são comuns ao
conjunto do disparo. geralmente não apresentando orifício de saída.
Nos tiros encostados (TE) com projéteis múltiplos, o orifrcio de entra-
da (OE) se rompe.

trajeto do proJ,m

1 2 3

Fig . 17· 2.

• Sinais tfpicos
• ClImara ou Mina dt. Hoffmann. presente nos tiros encostados e no tiro
à queima-roupa (também chamado curtíssima distância).
• Sinal d~ Benassi. caracterizado por esfumaçamento. presente nos
tiros encostados, nos tiros à queima-roupa e de curta distância
(CO), ao redor do orificio de entrada ou na super((cie externa do
osso.
• FlUllt de BOlmel, identificado pela maior perda de substância da
tábua externa do osso transfixado (lesão perfurocontusa no crâ-
nio) .
TRAU M ATOLOGIA FORENSE 263

• Sinal de Rojas, evidenciado nos tiros à queima-roupa e de curta dis-


tância, apresentando rotura cruciforme.
• Sinal da escarapela de. Simotlin, presente nos tiros à queima-roupa e de
curta distância, apresentando impregnação de fuligem nas vestes.
• Si"al de Kro"lein-Ba/fortr, presente nos tiros encostados, que provo-
cam a disjunçâo das suturas cranianas devido à fo rça expansiva
dos gases e, ainda, aos elemen tos de combustão da pólvora, que
podem atingir a mão que segura a arma.

5. Aspectos gerais 110 exame das lesões por arma de. fogo

• Lesões por armn de fogo, por mecQnismos outros que não o projétil: po-
dem ser devidas à explosão do cano, ao tiro pela culatra ou, ainda,
ao contragolpe.
• Regiões geralme"te escolhidas como alvo dos suicidns por arma de fogo:
cabeça, na região temporal homolateral à mão usada; no cond uto
auditivo homolateral à mão usada; na região frontal lateral; na
região do prec6rdio, e no abdômen.
• Exame das vestes: de grande importância, pois possibilita o estudo
da correspondência dos orifícios no tegumento com os orificios nas
vestes, que só estará presente se o cadáver nâo tiver sido movimen-
tado. Esses orifícios devem ser fotografados em relaçâo a um ponto
fixo e podem deter elementos das orlas ou enxugarem o projétil.
Com relação aos orifícios encontrados nas vestes, devem ainda ser
verificadas sua forma, dimensões e situação, fornecendo elementos
para o diagnóstico da distância e da direção do disparo.
• Orifícios de entrada atípicos: pode haver somente contusão, porque o
projétil não tem mais força viva, erosão nos tiros ta ngenciais, e
lesão em boca de mina (nos tiros encostados).

Agentes Físicos Não-Mecânicos

Tempe ratura

Exposição ao Fn'o:
• Etiologia jurídica: acidente individual (acidente de traba lho) ou coleti-
vo (por exemplo, retirada do Exército de Napoleão da Rússia, em
264 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANA.TOlOGIA

1812), ação criminosa, devend~ atentar para condições como idade,


álcool, sono, depressão orgânica e/ou moral.
• Sintomatologia: não apresenta sintomas próprios; no entanto, podem
ser observados:

• Sintomas 10000is: referentes à temperatura tegumentar, à palidez da


pele, pele anse.rina, retrações (mamilos, escroto, testículos).
• Sintomas gerais: desordens no sistema nervoso, sonolência, convul-
sões, delírios, perturbações da motilidade. congestões. Na situação
de exposição contínua e prolongada, verificam-se comprometimen-
to do estado geral e hipofuncionamento dos diversos órgãos (gan-
grenas etc.) .

• Diagn6stico: inespecífico. Realizado por histórico, perinecroscopia e


necroscopia. É indispensável aux.llio de provas circunstanciais das con-
dições ambientais e fatores pessoais de resistência da vítima.

No exame do corpo da v{tima, registrarn-se alguns sintomas, não-patog-


nomónicos, como: a coloração vennelho-clara das hip6stases e do san-
gue, a baixa coagulação sangüínea, a repleção das cavidades cardfacas,
as equimoses do pescoço, da mucosa estomacal e da pleura pulmonar, a
espuma sanguinolenta das vias respiratórias e a anemia cerebral.
O intertSSt! médiarlegal está na detenninação de as lesões serem vitais
ou não, na estimativa do tempo de permanência do corpo no meio res-
friado (frio difuso) ou diretamente exposto ao frio (gelo, ar frio) e em
estabelecer se a morte sobreveio com auxílio de outras causas (naturais
ou violentas), além do frio.

Expos ição ao Cnlor

Calor Difuso: resulta na insolação e na intermação.

• Etiologia jurfdica: geralmente acidental, podendo apresentar-se


como irlSOlnç4o, devido aos raios solares terem incidido diretamente
sobre o organismo, ou intumaÇlfo, quando a elevação da temperatu-
ra é provocada em espaços confinados ou sem arejamento, mesmo
quando abertos (acidentes de trabalho, como nas termonoses) .
TRAUMATOLOGIA FORENSE 265

As termonoses apresentam como etiopatogenia:

• ação direta sobre o sangue (destruição dos elementos circulantes


e consecutiva trombose)
• ação direta sobre a miosina cardíaca (coaguJação)
• supressão da sudorese
• choque anaf:ilático devido à penetração, na circulação, de subs-
tâncias estranhas
• comprometimento dos cenrros nervosos pelo aumento de poli-
peptídeos do soro, devido à destruição das proteínas hemáticas
• ação direta sobre o encéfalo (comprometimento das funções).

• Sitltomatologia: é inespeclfica, havendo perturbações que conduzem


à síncope ou à asfixia. Observam-se manchas e espumas sanguino-
lentas nas vias respiratórias, elevação da temperatura, rigidez mus-
cular precoce, putrefação rápida, congestão, hemorragias viscerais
etc.
• Diagllóstico: face à carência das lesões específicas, estudam-se as cir-
cunstâncias do acontecimento, os testemunhos, o local etc. A ne-
croscopia negativa para outra causa de morte concorre, por exclu-
são, para a diagnose especial.
• Interesse médico-legal: reside na precisão do diagnóstico para exclu-
são de outras causas de morte (crimes, suicídios, acidentes) .

Calor Direto: resulta em queimaduras (externas ou nas mucosas) atra-


vés de gases, lfquidos ou sólidos superaquecidos, ou, ainda, pela própria
chama.

• Si"tomatologia: as lesões podem ser mais ou menos profundas, de


extensão variada, assépticas ou infectadas; em todas há alteração
ou morte do tecido atingido.
• Classificaçào: em medicina legal, são classificadas como:

• De l ' grau: quando atinge apenas a epiderme. É leve, com rubefa-


ção da pele congesta e quente.
• De r grau: se hã rompimento da epiderme com aparecimento de
llictenas (bolhas de líquido límpido-amarelado).
• De;Y grau: quando há destruição da derme e formação de escaras
de colorido vinhoso, passando a acinzentado. São menos doloro-
266 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

sas, mas deixam cicatrizes e se infectam mais facilmente (morte


por processos septicêmicos).
• De 4' grau: quando ocorre carbonização de tecidos (superficial ou
profunda). Perda de órgão e/ou membro (necrose), ou óbito.

A gravidade da queimadllra é estabelecida pela extensão da superfície


corpórea. Ocupando mais de 60% do corpo, o quadro é considerado gra-
vfssimo e de prognóstico obscuro (geralmente mortal, mesmo em se tra-
tando de queimadura de 1- grau) .
No diagnósHco deve-se observar:

• Se o óbito ocorreu em conseqüência de queimadura ou a vítima


teria sido colocada sob a ação do calor depois de morta . A reação
vital nos tecidos, a presença de llictenas verdadeiras (só forma-
das no vivo), presença de proteínas e leucócitos (só no vivo, pois
no morto eles contêm gás) e a dosagem de CO e no sangue, são
observações valiosas para este diagnóstico.
• Gravidade da lesão: nas queimaduras de 1· grau, salvo se subsis-
tir uma inflamação local, as lesões desaparecem facilmente. Nos
demais casos, diagnosticada e classificada sua importância,
impõe-se a conclusão segundo a gravidade da lesão corporal.
Nos casos de morte, esta pode ocorrer logo (choque, asfixia pelo
CO etc.) ou sobrevir devido a complicações (auto-intoxicação ou
anafUaxia, causada pelos produtos de destruição dos tecidos;
graves alterações sangüíneas etc.).

• Etiologia jurfdicn: acidentes, geralmente desastres de massa, explo-


são de materiais combustíveis etc.; acidentes de trabalho. Homicí-
dios e suicídios são raros.

Há i"teresse médicrrlegal na detenninação da lesão ser ou não vital e


em se saber se a morte sobreveio com auxílio de oulTas causas (naturais
o u violentas), além do calor. Na identificação do cadáver queimado,
como a impressão digital é raramente disponível, recorre-se à antropo-
metria, à odontologia legal, à genética molecular e a outros aspectos
como o recolhimento de objetos que possibilitem identificar a vítima. Há
interesse també.m em estabelecer-se o nexo causal (temperaturas oscilan-
tes): tuberculose pulmonar relacionada com a atividade da vftima (ope-
rários de câmara fria, de caldeiras ou altos-fomos).
TRAUMATOLOGIA FORENSE 267

A observação dos instrumentos também submetidos ao aquecimento


e seu atual estado pode fornecer informações importantes no que tange
à estimativa da temperatura a que chegou o ambiente.

Temperatura de fusão: Ferro = 1.600"<:;


Prata = 95O"C;
Ouro = 106"<:;
Alumínio = 700"C.

Pressão Atmosférica

Ao nível do mar, a pressão atmosférica é de 760 mmHg. A cada 10 m de


profundidade, 1 (uma) atmosfera é acrescida (Lei de Arquimedes).
Exemplo: 382 m de profundidade: 10 + 1 atm = 39). atm .
No ar que é inspirado, os componentes encontram·se em uma concen·
tração específica no alvéolo pulmonar.

Exposição à Baixa Pressão

o interesse médico--fegaf é pequeno e, na maioria dos casos, trata-se de ad·


dente. Os casos mais comuns são:

• Mal-dns·montnllhns: devido ao aumento da altitude, há diminuição


da pressão atmosférica, provocando o desequilíbrio na oxigenação
sangüínea (rarefação do ar inspirado), levando a anoxia e acapnia,
acrescida da diminuição da temperatura ambiente . Verificam·se
efeitos decorrentes da baixa da pressão parcial de O 2 ao nível alveo--
lar (embriaguez das alturas com perda da autocrítica e do controle
motor, com hemorragias em diferentes setores (SNC, nasal etc .).
Tais efeitos já se manifestam a 3.048 m de altitude: a pressão alve<r
lar é de cerca de 60 mmHg. podendo haver comprometimento da
memória recente, do discernimento, taquicardia, taquipnéia e dimi·
nuição da capacidade de realizar cálculos complexos. É importante
lembrar que, a partir de 7% de O 2 no ar inspirado, não se assegura
mais do que uma saturação de 50% de Hb e uma tensão de O 2 no
sangue arterial de 20 mmHg, o que põe em risco a vida (cerca de
8.000 m) . No entanto, esses casos não apresentam grande interesse
médiccrlegal, visto que são geralmente addentais.
268 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

• Doença dos aviadores: - PA + l' + rufdo + tensdo - além do aumento


da pressão atmosférica e da temperatura, os profissionais da área
da avíação ainda são submetidos a tensão e ruído constantes, ine-
rentes ao ambiente de trabalho.

A umento da Pressiio

• Etiologia: decorre do aumento da pressão atmosférica, provocado


artificialmente para fins industriais ou esportivos, por meio do ar
comprimido. O perigo está na descompressão que, realizada de
maneira inadequada, ocasiona embolias de 2' hemorragias etc.,
ocasionando sérios transtornos e até a morte das vítimas.
• Interesse médico-legal:
3 . Estabelecer a responsabilidade da permanência excessiva ou
ocorrência da manobra de descompressão sem rigor técnico
(infortunística).
b . Responsabilidade em casos de acidente esportivo.

Eletricid ade

Duas fonnas de eletricidade podem ser distinguidas: atmosférica e indllS-


trinl . No evento causado pela eletricidade atmosférica, a vítima pode
sofrer fulguraçno e ju.lmitlnçi1o. Alterações podem ocorrer na fulguração,
tais como perturbações oculares, digestivas, urinárias, confusão mental e
queimaduras, enquanto na fulminação, como o próprio nome indica,
ocorre o êxito letal.

• Patog~71in: a morte sobrevém devido à paralisia dos centros nervo-


sos, surgindo a asfixia e a parada cardíaca. Tal estado pode antece-
der uma queda, a qual pode explicar o óbito devido ao trauma.
• Diagll6stico: para estabelecer o cüagnóstico de lesões decorrentes da
ação da eletricidade, deverão ser examinados os comemorativos e
realizada, se possível, a inspeção do local e de outros seres e objetos
atingidos.
• Lesões extemas: '1esões arborescentes de Uchtenberg", figuras den-
drfticas, ramificadas, são compatíveis com a vida . Os cabelos e
pêlos da vítima apresentam-se chamuscados. Podem-se observar,
TRAUMATOLOGIA FORENSE 269

hemorragias musculares. roturas de vasos e mesmo do coração;


fluidez acentuada do sangue com baixa coagulação; fraturas
6sscas; lesões na Ungua e na mucosa bucal; equimoses subpleurais
e subpericárdicas; carbonização total ou parcial de órgàos; hemorra-
gias internas e tc.
" Interesse médico-Iegal: refere-se ao uso inadequado, ou não-uso, dos
equjpamentos de proteção (infortunística) e no estabelecimento de
diagnóstico diferencial com outras causas de morte, natural ou vio-
lenta .

Os eventos causados pela eletricidade industrial podem assumir as for-


nas de e/etroplessiio (morte causada por descarga elétrica); e eldrocus5ifo
,acidente causado pela corrente elétrica industrial sobre o organismo).

" Patogenin: nas lesões ou morte por eletricidade industrial, interessa


conhecer a intensidade da corrente

I I =E (volts)/R (ohms)

onde E = força eletromotriz ou tensão e R = resistência . Sabe-se


que, em situações normai&. a resistência da pele (seca) é de 15 a
20.000 ohms; e interessa, também:
" estabelecer o percurso da corrente elétrica no corpo da vitima
• determinar a nocividade, a qual é decorrente da diferença de
potencial da descarga elétrica, sabendo-se que:
" o corpo submetido à tensão acima de 1.200 v sofre inibição
" exposições a 120 v, ou menores, provocam a fibrilação do coração
" descargas elétricas variando entre UO e 1.200 v levam à tetaniza-
ção ou asfixia da vítima.
" SiPltomatologia:
" Presença clara de queimaduras nos locais de entrada e sarda da
corrente (marcas elétricas de Jellinek) .
" Lesões cutâneas: alcalinização (polaridade negativa) ou acidifica-
ção (polaridade positiva).
" Dependendo da ação sobre o sistema nervoso centra1, podem-se
observar sonolência, agitação, espasmo~ tremores elc.
" Interesse médico-Iegn/: despertam grande interesse, visto que a perf-
eia positiva é indispensável em casos de acidentes industriais passí-
veis de indenização trabalhista. Os casos de suiddio são raros.
270 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

Radioatividad e

As radiações ionizantes alfa e beta apresentam poder de penetração me-


nOf do que as radiações gama (grupo a que pertencem os raios X). Seu
efeito é responsável por danos à saúde, manifestando alterações quími-
cas e bloqueando a mitose e, conseqüentemente, afetando a função do
6rgão afetado. Veriricam-se também alterações cromossômicas (muta-
ções) ao nível ganadal e no embrião (estas, mais severas).
• rnteresse. médico-tegal: indispensável é o estabelecimento do nexo de
causalidade entre o ato profissional dos que manejam instrumentos
que utilizam as radiações para fins clínicos ou terapêuticos e lesões a
pacientes em tratamento. É conhecido O emprego de formas dolosas
e cuJposas de morte ou de lesões por esse tipo de energia para fins de
extermínio (bombas atômicas, H etc.) ou esterilização.

Radiações Não-Ionizantes, luz e Som

Tais radiações abrangem a luz, os raios infravermelhos e os uJtravioletas,


os raios laser etc. Ruídos acima de 90 decibéis causam lesão ao nível do
6rgão de Corti, na c6dea. Alterações psíquicas pela exposição prolonga-
da aos altos níveis de ruído também são observadas.
O ultra-som, as ondas curtas e outros tipos de propagação de vibração
podem produzir lesões profundas (energia térmica e destruição celular).
Quanto ao infra-som, este pode ocasionar perturbações do equilíbrio
(acometimento do labirinto).
Há interesse médico--legaf nos casos de acidentes de trabalho (dermati-
tes, tumores de pele, conjuntivites etc.), os quais são passíveis de indeni-
zação. Formas dolosas e culposas de lesões pelo emprego desse tipo de
energia estão presentes em relatos de casos de extermínio e tortura
(suplício do sino) .

ENERGIAS DE ORDEM QUÍMICA

Trata-se de substâncias cáusticas que atuam entrando em reação química


com a célula viva, agindo sobre os tecidos, desorganizando-os e des-
truindo-os.
Os cáusticos podem ser coagulantes (ácidos ou sais ácidos), provocan-
do escaras secas, de cores variadas e, na maioria das vezes, não-infecta-
TRAUMATOlOGIA FORENSE 271

das. Podem ser, também, IiqutJacitnttS (básicos), dando origem a escaras


moles, esbranquiçadas e infectadas.

ENERGIAS DE ORDEM BIOLÓGICA


São representadas por substâncias como os venenos, que atuam entran·
do em reação química com a célula viva, interferindo diretamente no
metabolismo da célula e provocando processos degenerativos.
Há, no entanto, uma divergência no que diz respeito à definição de
veneno. Dentre várias definições, preferimos adotar a já antiga, descrita
no art. 296 da Consolidação das Leis Penais Brasileiras como a mais ade-
quada aos nossos propósitos: -roda substância mineral ou orgânica que,
ingerida, ou aplkada no seu exterior, sendo absorvida, determine a
morte, ponha em perigo a vida ou altere profundamente a saúde."
Casos acidentais apresentam·se mais freqüentemente em crianças e
em doentes mentais; os suiddios 5<;0 bastante freqüentes em mulheres.

Para o diagnóstico da intoxicação devem--se observar:

• O histórico ou circunstâncias que envolveram o fato.


• Os aspectos clínicos: sintomatologia.
• Anatomopatologia: achados necroscópicos.
• Aspectos físico-químicos.
• Aspecto experimental ou farmacológico: reprodução das reações
presentes no caso.

No estudo do quadro clínico, devem ser consideradas:

• As vias de absorção do tóxico, que podem ser: cutãnea, oral ou


parental; podendo ainda ter sido introduzido em cavidade natural,
sendo a absorção feita pela mucosa.
• As vias de eliminação. levando-se em conta a rapidez com que o
veneno é eliminado (importância no diagnóstico, na terapêutica e
no prognóstico).
• A ação do veneno e suas circunstâncias modificadoras, a saber:
• se ingerido em dose tóxica ou fatal
• estado do veneno (dissolvido, puro, frescura e condições alotr6-
picas)
• vetor e via de penetração do veneno
• condições gerais da vítima e tolerância ao veneno ingerido.
272 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

Segundo Segre: as intoxicações podem ser agrupadas em:


a. Medicamentos: depressores do sistema nervoso central, vagolíticos,
antialérgicos etc.
b. Produtos qufmicos de usos diversos:
1. Produtos de uso caseiro: raticidas, formicidas com base de arsê-
nio (lesivos ao tubo digestivo), cianeto (chamados também de
venenos cerebrospinais), potássio (lesivos ao sangue); insetiddas
em geral. DOT etc. os detergentes (gasolina, benzina etc.).
2. Substâncias de laboratório: arsênio, fósforo, bissulfato de carbo-
no etc.
c. Plantas tóxicas: sala branca (Brugmnnsia arboml e suaveolens); fungos
(Clavict:ps purpurea - LSD, Amanita muscarill); arruda (Ruta graveo-
Iens) etc.
d . Venenos animais: típicos de serpentes, artrópodes etc.

ENERGIAS DE ORDEM PSÍQUICA

Sabe--se, hoje, que alterações psíquicas e emocionais, sejam elas passagei.


taS ou transitórias, são responsáveis por danos à integridade fisiológica e
anatômica e à saúde física e mental, podendo levar à morte, por emoção
ou traumatismos inibitórios (choque) . Sendo assim, tais agentes podem,
perfeitamente, ser arrolados no quadro das energias vulnerantes.
As sensações de prazer, horror, tensão, alegria ou tristeza podem
gerar o comprometimento de vários órgãos e funções corpóreas, como,
por exemplo, o sistema endócrino (doença de Basedow, doença de
Addison, diabetes emotiva etc.); o aparelho digestivo (secura da boca.
inibição aliment'a r, ingestão emotiva, diarréia, úlcera de estômago ou
duodenal etc.); o aparelho respiratório (asma, dispnéia etc.); o sistema
nervoso (neuroses, psicoses, cegueiras e mudismos sem base anatômica
etc.), e o sistema circulatório (taquicardia, elevação brusca da pressão
sangü ínea, muitas vezes provocando a síncope cardIaca).
Quanto à etiologia jurídica, como relata Almeida Jr. (19'71):''É interminável
a lista das lesões pessoais em que as emoções desempenham, eventualmen-
te, o papel de fator etiológico." lmportante levar em conta a suscebbilidade
da vítima, assim como suas condições gerais no momento do episódio.

• Prof. Dr. Marco Segre. Professor-titular da Faculdade de Medicina da USP


Anotações de aulas.
TRAUMATOLOGIA FORENSE 273

ENERGIAS DE ORDEM MISTA

As energias vulnerantes de ordem mista englobam os casos de asfixias,


sevícia e de d oenças parasitárias. Sendo as asfixias a modalidade mais
freqüente de óbito ou lesões, é nela que vamos concentrar nossa análise.

Asfixias
As asfixias são definidas como sendo a srndrome patológica, às vezes ter·
minada com a morte, produzida pela an6xia, que consiste na baixa de
oxigênio (Oi:> nos tecidos, ou por hipercapn8a, que ocorre devido ao aro·
mulo de monóxido de carbono (CO), resultantes da dificuldade ou
supressão das funções respiratórias .

• Etiologia da asfixia: consiste nas alterações na composição do ar


atmosférico decorrente da diminuiçlio de 02 e no predominio de
gases inertes (gás de cozinha, éter dimetílico, ozônio etc.); em
decorrência de transtornos ou obstáculos nas vias respiratórias (dos
orifícios respiratórios, aos alvéolos) e/ou músculos respiratórios
que impedem a penetraçlio de O2 até os alvéolos. Tal obstrução
pode ocorrer por corpos estranhos, constrição do pescoço, paralisia
dos músculos respiratórios. compressão toracoabdominaJ etc.; devi·
do a alterações na hematose, ocasionando a insuficiência card.!aca
°
congestiva {Icq e transtornos pulmonares gerais. sangue pode,
ainda, rn05trar·se alterado e inapto para captar e transportar 02.
podendo ocasionar insuficiência cardfaca congestiva, anemias hipo-
crOnJcas, intoxicação (envenenamento) por monóxido de carbono
ou produtos metaemoglobinizantes, venenos hemolíticos etc. A
etiologia ainda compreende o comprometimento ou o não-aprovei·
tamento de 02 pelas células dos tecidos, devido às alterações enzi·
máticas, podendo ocorrer em virhJde de paralisia respiratória inter-
na, devido à presença de hidrogênio sulfurado, HCN etc.
As asfixias são produto de dois fatores: asfixico e mea2"ico. O falor
asfixico, sem especificidades para o diagnóstico, tem du ração apro-
ximada de sete minutos, apresentando a fase irritallt~ (dispnéia ins·
piratória e expiralÓria) e a fose de tsgotamrnto (periodo de pausa e
terminal, culminando na parada cardraca). O fator mecdnico, mais
274 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOG1A

característico, consiste na busca dos vestígios traumáticos deixados


pelo agente asfixiante e sua identificação.

• Etiologin jurídico: são relatados casos acidentais, de suicídio e homi·


ódio. Neste último, há de haver superioridade do agressor, multi-
plicidade de agressores, QU, ainda, incapacidade de a vítima resistir.
Como observam Almeida Jr. e Costa Jr. (1971), Hnão deve o perito
fonnular o diagnóstico de morte por asfixia, na ausência de sinais
particulares próprios de determinado tipo de asfixia, uma vez que
os sinais internos e externos não são patognomônicos da morte por
asfixia". O mesmo autor cita a advertência de Hofmann: "A de-
monstração de que a morte foi devida à asfixia não pode ser dada
pelo perito, senão mediante a verificação dos traços das violências
com as quais a asfixia foi produzida ,"

o i"teresse médico-legal das asfixias consiste na determinação do tipo


de morte asfíxica , podendo ser: violenta (quanto ao modo), primitiva
(quanto ao tempo), isto é, suas causas devem agir inicial e diretamente
sobre um dos componentes do sistema respiratório, ou pTTltJOCtlda (quanto
ao meio) .
As asfixias de interesse médico--Iegal são as decorrentes de alterações
na composicão do ar atmosfé.rico e próprias a transtornos ou obstáculos
nas vias respiratórias (dos orifícios respiratórios aos alvéolos), assim
como O comprometimento das funções respiratórias (músculos respira·
tórios etc.), que impedem a penetração do ar até os alvéolos. Assim, as
asfixias podem ser causadas por aIteraç6es 110 meio ambiente (soterramen·
to, afogamento e oxiprivas, que podem ocorrer em razào de confinamen·
to ou exposição a gases inertes) e por alterações na diru2m;co respiratória
(sufocação ativa ou passiva, devido à constrição do pescoço, podendo
caracterizar o enforcamento, o estrangulamento e a esganadura) .

• Sinais gemis de morte asfixica: podem ser atemos e intemos.

Exttm1os:
• lento resfriamento do corpo.
• Equimose (subconjuntivas e petéquias na face, nuca e conjuntiva
decorrentes do derrame capilar).
• Cianose na face, lábios, pavilhões auriculares e unhas, devido ao
aumento nos capilares da hemoglobina reduzida.
TRAUMATOlOGIA FORENSE 275

• Espuma na boca e nos orifícios respiratórios.


• Hipóstase precoce, extensa e escura.
• Putrefação precoce.
• Rigidez cadavérica precoce, sendo de breve duração.
• Exoftalmia com dilatação das pupilas.

Internos:

• Persistência de fluidez do sangue (apresentando-se mais escuro).


• Congestão visceral.
• Presença das manchas de Tardieu (equivalentes a hemorragias len-
ticu1ares pleurai~ equimoses puntiJormes ou infiltração de Welsch)
facilmente identificáveis sob a pleura e sob o pericárdio, faringe, base
da língua etc.
• Há modificação do pH devido .à não-eliminação de dióxido de car-
bono (C02), decorrendo a acidose gasosa descompensada, o au-
mento da reserva alcalina (hipercapnia), a estimulação dos centros
nervosos e do seio carotídeo.
• O ponto criosc6pico do sangue da cavidade direita apresenta-se
baixo.
• As taxas de oxigênio enrontram-se em baixos níveis.
• Ocorre a hiperglicemia, normalmente após seis horas de óbito.

Asfixia por Alterações no Meio Ambienle

Cu adro 17-8.

Fo rm a Modo Incldt ncl.

Soterramento, tambtm substltulçlo do ar por acidente> 11omlcldlo


chamadO de meio sólido, semi-sólido
sepultamento OU putverutento
Alogamento meiO alfeo • substrt\Jldo acidente> aulcldlo > homicklio
por liquido
Qxlprivas baixa concentraçio de acidente> sUlcldlO > homcldic
oxigênio no melo
Confinamento acidente> homicldJo
Gases Inerte. sulddio > acidente> homicfdio
276 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

So terramento ou Sepultamento
É a asfixia por aJteração no meio ambien te decorrente da substiruição do
ar por meio sólido, semi-s6lido ou puJverulento (resíduo sóLido aspirado
e engolido, como, por exemplo. farinha ou areia fina).
Apresenta como causa de morte o tamponamento dos orifícios respira-
tórios (abafamento) ou das vias respiratórias (obstrução respiratória); a
compressão torácica ou toracoabdominal; o confinamento; lesões trau-
máticas as mais variadas, como, por exemplo, traumatismo cranioence-
fático, rotura de ffgado, baço, rins. coração, pulmões, vísceras ocas (estô-
mago. intestino. bexiga).
A etiologia jurldica é homicida e acidental, inclusive infortunística.
O exame do vítimQ inicia-se pela perinecroscopia Oevantamento das cir-
cunstâncias do evento), seguida da busca dos sinais gerais internos e
externos. característicos da morte asffxica, dos sinais de abafamento,
obstrução respiratória. sufocação indireta e t.ruumatismos variados. além
da análise do corpo sujo com material soterrante. Há de se mencionar
que não é necessário que todo o corpo fique coberto pelo material soter-
rante.
A deten"jnnçifo de lesifo vital ou pós-mortal dá-se pela busca da penetra-
ção do meio asfixiante nas vias respiratórias, o que caracteriza lesão
vital.

Afogamento
É a asfixia por inspiração de água ou outro lfquido ou material semilí-
quido como iodo, barro, material de latrina etc.
O afogamento se efetiva com a condição do corpo submerso ou.
ainda, quando isso não ocorre, em casos de suicídio, acidente, homid-
dia, ou infanticídio, nos quais a vrtima, encontrando-se inconsciente ou
incapacitada de reagir, teve os orifícios respiratórios submersos. Há,
também, casos relatados de edema agudo de pulmão e hemorragia intra-
Iraqueal ou brônquica, 05 chamados afogamentos internos.
A etiologia juridien do afogamento é geralmente acidental, correspon-
dendo a 8,6% do total de mortes acidentais (Organização Mundial de
Saúde - OMS), como cita Arbenz (1988) . O afogamento aparece como a
segunda fonna mais freqüente de suicídio entre os homens, sendo rara-
mente escolhida como forma de suplício ou homicídio. A consecução
deste último exige que haja superioridade de forças por parte do agres-
sor, debilidade ou incapacidade de reação por parte da vítima .
TRAUMATOlOGlA FORENSE 2n

o meco"ismo de morte por asfixia simples inicia-se com o "tragar água H


,

o que leva ao espasmo da laringe, desencadeando um processo de ano-


xia, anoxemia, anoxia cerebral, na perda da consciência e paralisia bul-
bar, culminando com a morte. A morte por inibiçAo, devido à dor da pan-
cada do abdômen na água, por exemplo, ou a hidrocuss4o, provocada
pelo banho frio após as refeiçôes, ocasiona reflexo naso-respirat6rio. A
crioalergia, em casos de hipervagotônicos, ocasiona o çhoque, que tam-
bém pode levar a vftima a óbito. Os óbitos decorrentes dos mecanismos
mencionados acima são os chamados "'afogados azuis" ou "'afogados
verdadeiros", e representam quatro quintos dos casos de morte por afo-
gamento.
Segundo Bosco; há de se classificor o corpo na tfglla com a finalidade de
determinar se o corpo caiu ou foi jogado ainda com vida ou ap6s a
morte por qualquer razão (chamado de "'afogado branco'}, para os fins
de investigação de etiologia juridica (homjádio, suicídio ou acidente).
Conforme ensina O ilustre mestre M~rcos de Almeida,- a morte por
asfixia pode ser dividida em fases, as quais dependem do tipo de morte da
vítima. Assim, a morte rápida apresenta cinco fases, iniciando-se com dis-
pnéia, aquiescência, convulsão, apnéia e morte; enquanto, nas situações
em que se faz mais lenta, são observadas apenas três etapas: dispnéia,
convulsão e morte.
Na busca da determinação do local de afogamento, água do mar ou
doce, devem ser observados os sinais t(picos de morte por afogrmlellto:

• Em meio à dgua doce (0,5% de NaCI): há penetração de água nos pul-


mões, ocasionando dilatação e insuficiência das vias respirat6rias,
seguida de congestão. O sangue arterial mistura-se com a água,
determinando, no ventrfculo esquerdo, hidremia (diluição do san-
gue), hemólise (aumento da concentração de potássio), edema pul-
monar, fibrilação ventricular, acarretando também a diminuição
dos elementos figurados do sangue, da hemoglobina, da viscosida-
de, do fndice de refração, da condutibilidade elétrica, da densidade,
da concentração de cloretos e da alcoolemia.
• Em meio à água do mnr (aproximadamente 3% NaCl) : ocorre a hemo-
concentração, com ausência de arribnia cardfaca. Em amostras de

·Pror. Dr. João Bosco Penna, Professor-Assistente Doutor da Faculdade de


História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista (UNESP) .
Comunicação pessoal .
"Prol Dr Marcos de Almeida, Professor-Titular da Fllculdade de Medicina da
Universidade Federal de 510 Paulo.
278 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

cadáveres, não-putrcfeitos, o ponto crioscópico é mais elevado, sendo


aproximadamente de -l,23°C no ventrículo esquerdo e -l,01°C no
ventrículo direito, em "'afogados azuis". A análise dos níveis de
cloro no ventrículo esquerdo demonstra, em afogados azuis em
água do mar, um aumento de 25%, ou mais, nos valores normais
(98-105 mg / I).

Além dos sinais gerais de morte asfíxica, para concluir tratar-se de


morte por afogamento, devem ser observados os sinais particulares
característicos na vítima, que podem ser externos e internos:

• Smais txtunos
• Pele rria e ansenna devido à contração- muscular, ainda em vida.
salientando os foUculos pilosos, dando à pele caracterfsticas de
"pele arrepiada".
• Retração dos mamilos, escroto e pênis.
• Cogwnclo de espuma presente desde a boca e narinas até os alvéo-
los pulmonares, devido à mistura de ar e plasma (sinal vital).
• Erosão dos dedos.
• Corpos estranhos sob as unhas das mãos .
• Maceração epidérmica (mão de lavadeira).
• Lesões no corpo em virtude de choque contra pedras, hélices,
remos, paus etc.
• Lesões causadas por animais da fauna aquática local.
• Hipóstases róseas (na região ventral do corpo, principalmente na
fa ce, no pescoço e na porção s uperior do tórax, devido à posição de
pronação em que se encontra a vftima).
• São observados, às vezes, espasmos cadavéricos .

• Sinais i"temos:
• Espuma traqueobrônquica (sinal vital) .
• Enfisema aquoso ou hidroaéreo.
• Manchas de Paltau(, características do rompimento de capilares.
• Presença de partfculas sólidas como areia, plâncton ou minerais,
nas profundezas dos pulmões, fígado e na medula óssea dos ossos
longos.
• Detecção do lIquido do afogamento nas vias digestivas.
• Diluição da concentração sangüínea.
TRAUMA TOlOGIA FORENSE 279

Quanto ao tempo de flutuaç4o, é estimado em tomo de 24 horas (no


máximo cinco a seis dias), a não ser que o corpo venha a ser destruído
por animais da fauna aquática ou que fique preso no fundo do mar, rio
ou lago. No entanto, observa~se que, em água salgada, a flutuação do
corpo dá ~se de forma mais precoce, em virtude de sua densidade ser
maior do que a da água doce. Já a estimativa do trnrpo de jmusilo, embora
por vezes necessária, é bastante imprecisa. •
° procedimento de idetltificafAo das vitimas de afogamento em adiantado
estado de putrefação é baseado no exame do esqueleto e dos arcos den~
tárias. Ê oportuno mencionar que, nesses casos, as características vitais
das feridas desaparecem no curso da imersão devido à ação da água. As
lesões profundas escapam à maceração e só são desfeitas pela putrefa ~
ção.

Oxiprivas

Ê a forma de asfixia decorrente da baixa concentração de 02 no ambien-


te. Tais situações são observadas em casos de ronfinametllo ou exposiçilo a
gases inertes.
f

• Confinamento: é a asfixia que ocorre, normalmente, em situações em


que a pessoa permanece em lugar não-ventilado até se esgotar o
oxigênio (02) disponível no ambiente.

Apresenta, como causa de morle, diminuição de 0 1, aumento do dióxi-


do de carbono (C01), elevação da temperatura e do vapor d'água que,
associados aos gases tôxicos da respiração e sudorcse, detenninam a
morte. Ê importante observar que o uso de ventiladores de ar permite a
diminuição da temperatura e de vapor d'água, diminuindo, assim, a sua
nocividade. O aumento da temperatura pode determinar perturbações
na termorregulação corpórea.
A etiologia jurldiCIJ apresenta maior incidência de acidentes do que de
homicídios, sendo 05 casos de suiddio mais raros .
No exame da vítima busca-se identificar, além dos sinais gerais internos
e externos de morte asfixica, lesões traumáticas características da tentati-
va de fuga, assim como determinar se estas são vitais ou pós-mortais. A
análise das circunstâncias e comemorativos é de crucial importância
280 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

para que possa ser estimada a situação em que a vftima se encontrava no


momento em que sofreu a lesão.
• ExposiçAo a gtlsei j"erles, como O nitrogênio, hidrogênio, gás de cozi-
nha, entre outros, leva à alteração da pressão ao nfvel alveolar. Em
situações normais, a pressão exercida pela combinação de oxigênio,
di6xido de carbono (CU,) e nitrogênio (N,) é de 713 mmHg, o que é
devido ao ar inspirado, que é aquecido e saturado de va"por d 'água
(a 37"C a p ressão exercida é de 47 mmHg). A adição de vapor de
.tgua diminui a pressão pardal dos gases ao nível alveolar. A pres-
são é proporcional à concentração de cada componente do ar, sen-
do que a adição de vapor de água diminui a pressão parcial dos ga-
ses ao nível alveolar.

N 2 - 80% ................... .566 a 580 mmHg


H2 -14,5% ..................95 a 105 mm Hg
COl -55,5% ................ .40 mm Hg

o volume de gás dissolvido no sangue é diretamente proporcional à


pressão pardal deste gás na mistura gasosa inspirada.
Dentre as alterações observadas na vrtima de exposição a gases iner·
tes, podem ser citadas:

H;poxin a81,da
• alterações cardiovasculares
• alterações do sistema nervoso central (perturbações no raciocínio
e instabilidade motora, quadro semelhante ao do alcoolismo agu-
do) .

Hiporia cr6nica
• alterações do sistema nervoso centraJ (sonolência, falta de atenção,
fadiga, retardamento do tempo de reação etc.)
• alterações cardiovasculares, levando à hipertensão pulmonar com
insuficiência cardraca direta somada à poliglobulia.
TRAUMATOLOGIA FORENSE 281

Asfixia por Alterações na Dinâmica Respiratória


Cuadro 17·9.

..... 'lxia Incldinc'-

Sufocaçlo: .upressio do ar at mosfllrico


das cavldadas IIIplrat6rias
Ativa OIJ dirata suptes.slo do ar atmosflllnco abafamento-homic:fdkl > acidente
dfN'iclo AprlM'lÇl de obstkuIo obstruçlo respltatória > .cidanta ,.
oponclo-se ao ingrllso do ar homicldio
pelo. orif/cios respiratórios OIJ
ao aeu trAMito pelas vias
reSPiratórias
Pauiva ou indireta suprasdo do IN' auno.f6rico .cid ante > homlcldlo
davido A compranlo da ,egilo
toriclCa, havendo o
Impedimento do. movimento.
respIratório.
Const riçlo de .upresslo da entrada do ar
pescoço atmo.llllrico em vinude de
constriçio de pescoço
anforcamento freqOentemanta caso. de lulcldio
estrangulamento fleqOantamanta CasOI da homicldio
esganaduf' freqÜentemente caso. de homlcldlo

Sufocação
Ê a asfixia decorrente do imped imento mecânico, direto ou ativo (por aba-
famen to ou obstrução respiratória) e indireto ou passivo, essencial à respi-
ração.

1. 5uJocaçAo direta ou ativa


a . 51ifocação direta ou ativa devida no abafamellto: por oclusão dos orifí-
cios respiratórios, impedindo o ingresso do ar. A etiologia jurldiCll
é predominantemente de casos de homiddio em decorrência de
violência sexual ou, ainda, de infantiddio. No caso de aódentes,
as vitimas podem ser recém-nascidos que vêm a óbito durante o
aleitamento no seio matemo, crianças pequenas que ingerem
objetos os mais diversos e idosos ou indivíduos que acidental-
mente sofrem o bloqueio das vias respiratórios em decorrência
da introdução de qualquer objeto estranho. Relata-se o caso de
um homem que, ao retirar o peixe do anzol após pescá-lo, teve o
acesso do ar bloqueado em sua laringe devido à introdução aci-
282 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOG1A

dental do peixe, o que o levou ao óbito. O suicídio é relativamen-


te raro, sendo observado em doentes mentais. Também é obser-
vado nas asfixias sexuais ou auto-er6ticas (asfixia provocada
com o intuito de obter orgasmo), sendo que alguns autores clas-
sificam-nas como acidentais.

No exame do corpo da v(tima devem ser buscados os sinais gerais inter-


nos C externos de morte asfíxica. assim como os sinais particulares, que
são:

• enfISema obstrutivo, distendendo os pulmões;


• estigmas ungüeais, impressões cutâneas, vestígios do fator mecâni·
co aos rebordos dos orifrcios respiratórios;
• equimoses e lacerações nas regiOes internas dos lábios.

Às vezes nada se encontra, pois O agente asfixiante foi retirado.

b . Sujocaçifo direta ou ativa deaido a obstmçiJo respirat6ria: dá-se quan-


do o obstáculo impede o livre trânsito do ar pelas vias respirató-
rias.

2. SlIfocaçifo indireta ou passiva: é resultante da compressão do tórax ou


mesmo toracoobdominal, impedindo os movimentos respiratórios.

Quanto à etiologia jllrfdica, os casos de hornlddio e suiddio não são


muito freqüentes, aparecendo em situações de violência sexual e infanti·
ódio. Os acidentes, especialmente decorrentes de desabamentos e des·
moronamentos, são os de maior incidência. Ainda dentro dos casos ad·
dentais, podem ser observadas as mortes de crianças que dormem entre
adultos ou em acidentes em momentos de pânico, quando muitos ten·
tam evadir-se de um recinto através de saída estreita.
Segundo Bosco,' a figura médico--Iegal típica da sufocação indireta, pas-
siva ou também chamada de asfIXia traumática, é a máscara equim6tica,
decorrente da coalcscênda de petéquias difusas da pele (conseqüentes à
rotura dos capilares) e das mucosas e conjuntivas oculares, devido ao
reflexo seroso provocado pela elevação de pressã o serosa abrupta e
intensa.

·Prot. Dr. Joio Bosco Penna, Professor-Assistente, Doutor da Faculdade de


História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
ComunicaçAo pessoal .
TRAUMATOLOG1A FORENSE 283

No exame do corpo da vftima devem ser buscados os sinais gerais inter-


nos e externos de morte asfixia, máscara equim6tica, marcas de com-
pressão no tórax ou toracoabdominal. ~ oportuno lembrar que a massa-
gem cardíaca, procedimento de ressuscitação, nào provoca o apareci-
mento da máscara equim6tica e, sim, de cianose intensa do segment'o
cefálico.

Constrição do Pescoço
Em virtude de enforcamento, tstrangulamellto ou esganadura, comprome-
tendo a entrada de ar nas vias aéreas.
O en.forcnmen.to consiste na ação de força constritiva agindo na direção
do eixo do corpo. Isto é, consiste na constrição do pescoço por laço acio-
nado pelo peso da própria vítima. O enforcamento pode ser analisado
segundo:

A suspettsão
• completa: quando O corpo fica suspenso por completo, sem qual-
quer contato ou apoio com o solo
• incompleta: quando há qualquer ponto de apoio do corpo com o
solo

A posiçdo do n6 (este nunca deve ser desatado!)
• simétrico: quando o n6 está posicionado na linha média anterior ou
posterior do pescoço
• assimétrico: quando o n6 está posicionado na posição lateral

E,l{orcamento tipico 011 atípico


• enforcamento típico - quando o n6 se encontra na linha média pos-
terior do pescoço
• enforcamento atípico - em casos onde o nó está em qualquer outra
posição no pescoço

A etiologia jurldica do enforcamento tem como causa mais freqüente o


suiddio (sendo a forma de suiddio mais usada entre homens, principal-
• mente entre detentos e paàentes de hospitais psiquiátricos) ou o homicl-
dia, havendo necessariamente superioridade ou multiplicidade de
agressores ou incapacidade de resistênci.a~ São relatados casos de aciden-
tes caseiros, de trabalho (como acrobatas, por exemplo), nas asfixias
sexuais e nos suplícios (execuções).
284 TRAUMATOlOGrA FOAENSE E TANATOlOGIA

A jisiopatologin desta modalidade de asfixia apresenta mecanismos, OS


quais podem agir separadamente ou em conjunto. O nrmmismo circulat6·
rio relaciona o peso da vrtima e o efeito que este provoca no processo da
asfixia pelo enforcamento: 2 kg são necessários para obstrução da jugu-
lari 5 kg para obstrução da carótida; 15 kg para obstrução da traquéia e
25 kg para obstruir as vértebras. O mecanismo ntTVOSO apresenta estbnulo
vagai direto ocasionado pelo laço no pescoço; estímulo vagai pela contu-
são da faringe e estímulo do seio carotídeo, e ação sobre a porção cervi-
cal da medula e do bulbo. O mecanismo respirat6n'o inicia-se pelo posicio-
namento da lingua, que é jogada para trás e para cima, ocluindo a por-
ção superior da laringe.
No exame do corpo da vftima devem ser buscados os sinais gerais inter-
nos e externos de morte asfíxica, assim como sinais particuJa,res externos
e internos. São eles:

• Sinais particulares
• Externos
• sulco obliquo, interrompido e de profundidade desigual, geral.
mente ao nível da laringe, ou acima desta, sendo único ou múlti·
pio
• a cabeça da vítima encontra-se inclinada para o lado oposto ao
don6
• fácies branca ou cian6tica
• exoftalmia acompanhada de protrusão da Ungua
• hipóstases nas porções inferiores do corpo, decorrentes do acú·
mula de liquido, o que explica a putrefação antecipada na por-
ção em declive em que se encontra o cadáver e a possível mumi·
ficação das regiões superiores do corpo;
• liquido seminal, espermático ou prostático no prepúcio ou nas
vestes
• lesões traumáticas devidas às crises convulsivas agônicas .

• Internos
• equimoses e infiltração sangüínea da pele e partes moles
• equimoses retrofarlngeas
• sulco no platisma e estemocleidomast6ideo
• roturas musculares
• roturas e/ou luxação dos cornos do hi6ide
• rotura da cartilagem tire6idea
• luxação e/ou fratura de vértebras cervicais, com ou sem rotura~ e
d05ligamentos intervertebrais
TRAUMATOlOGIA FORENSE 285

• sinal de Friedberg, que consiste em sufusão sangüínea na túnica


externa da carótida primitiva
• sinal de Amussat, dificilmente encontrado, que representa roturas
transversalmente dispostas na túnica interna da carótida primitiva,
posicionadas perto da bifurcação, devido à falta de elasticidade do
tecido
• sinal de Etiene Martin, que é o desgarramento da túnica externa da
carótida primitiva.

Na prática forense, O enforcamento apresenta a dificuldade de preci-


sar-se se O ato foi homicida ou suicida. A razão do problema reside na
não-especificidade de sinais que possam propiciar a sua diferenciação.
No entanto, devem ser observadas:

a. As LesDes
• de luta ou contenção em virtude de falhar o fator surpresa ou a
incapacidade de resistência
• de caráter mortal
• de caráter sádico
• de violação
• de hesitação 'ou tentativa
• de defesa
• de aparência aberrante resultantes, geralmente, de golpes falhos

b . Os jatos e situações que o,.tecederom o enforcamento.


c. As carodmstiClls toxicol6gicas analisadas através dos exames das vfsce-
ras o
d. AsJlip6sta5eS, elementos que fornecem as caratensticas quanto à posi-
ção do corpo da vítima.

Ainda no exame. do corpo da vítima, deve-se ter cuidado na análise de


falsos sulcos, sulcos naturais da pele, sulcos artificiais, sulcos decorren-
tes da putrefação e sulcos patológicos, facilmente distinguidos, pois são
os únicos que pergaminham.
O estrangulamento é produto de força constritiva que atua perpendicu-
larmente ao eixo do corpo. A constrição de pescoço dá-se pela ação de
um laço acionado por qualquer outra força diferente do peso da própria
vítima.
A etiologia jurídica apresenta casos de homicídio, suiádio, acidentes,
infanticídio e suplício. Vale lembrar, como exemplo deste último, o
28. TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

emprego do garrote ou torniquete. Segundo relata Arbenz (1988), a


forma mais rudimentar é a que emprega uma corda que vai sendo torci-
da até que se consiga a morte por asfixia . O torniquete é composto por
uma argola de metal que é apertada com parafusos do tipo "borboleta".
De forma semelhante à do enforcamento, a fisiopntologia do estranguln-
menta também apresenta três mecanismos, segundo Bosco:'

• Mecanismo respirnt6rio: que se destaca por sua importância. O laço


está geralmente em posição mais baixa quando comparada com a
do enforcamento, situada entre a cartilagem tíre6idea e a traquéia .
• Mecanismo circulatório: apresentando obstrução da jugular e caróti-
da . Os fenômenos congestivos (e não anêmicos) são observados
juntamente com a equimose e cianose de face e pescoço. as quais
são mais intensas e freqüentes do que as observadas nos casos de
enforcamento, podendo haver, inclusive, a presença de quemoses
(edemas de conjuntiva ocular).
• Meca1lismo nervoso: devido à compressão e privação de oxigênio,
ocorre a inibição vagaI.

No exame do cadáver, além dos sinais gerais internos e externos de


morte asfixica, devem ser observados os sinais particulares de morte por
estrangulamento. que são:

• Internos
• as lesões na altura do pescoço são mais escassas e menos caracterís-
ticas do que no enforcamento
• presença de hemorragias localizadas nas partes moles, roturas
musculares, fraturas e luxações ao nível das vértebras cervicais
• equimose retrofaríngea .
• Externos
• presença de sulco único ou múltiplo, horizontal contínuo e de pro-
fundidade unifonne. Geralmente entre a cartilagem tire6idea e da
traquéia. ~ oportuno chamar a atenção para o posicionamento das
lesões profundas e do sulco, que devem estar sempre no mesmo
plano, uma vez retirado o laço.

·Prof. Dr. Joio Bosc:o Penna, Proressor Assistente Doutor da Faculdade de


História, Direito e Sen' lço Social da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
ComunicaçJo pessoal.
TRAUMATOlOGIA FORENSE 287

A esgalladura é produ to da ação da (orça constritiva atuante na região


anterior do pescoço, realizada pelas mãos do agente agressor, podendo
este se valer das pregas do cotovelo ou do joelho.
A etiologia jllridica é quase sempre de caráter homicida, ligado à vio-
lência sexual, sendo também comuns os relatos envolvendo crianças,
adultos debilitados, idosos e doentes mentais, pois estes não apresentam
capacidade de defesa ou resistência. Nos casos em que há resistência por
parte da vítima, o sucesso da esganadura leva cerca de quatro minutos.
A fisiopatologia, como as das modalidades de asfixia discutidas ante.-
riormente, também apresenta mecanismos respiratórios, circulatórios e
nervosos, sendo este último o mais importante.
A busca de lesões gerais caracterfsticas de morte asfixiea e de lesões
específicas de esganadura, juntamente com a análise dos comemorati-
vos, é de suma importância no exame do corpo da vitima . Assim, podem
ser encontrados os seguintes sinais:

• Externos
• impressão dos dedos do agressor deixadas no pescoço da vítima
• estigmas ungüeais lineares ou semicirculares, determinados pelas
unhas do agressor
• equimoses, que às vezes são vistas somente à luz ultravioleta .

• Internos
• hemorragia acentuada das partes moles
• equimose retrofarfngea
• lesões vasculares
• fraturas da laringe, sendo mais fre<:Jüentes do que nas demais asfi-
xias constritivas
• fratura do osso hióide e da apófise estilóide.

Em se tratando da busca de lesões, que levam à determinação do


mecanismo de morte, é oportuno lembrar que, no judô, ensinam-se cerca
de 30 técnicas ou golpes que possibilitam o sucesso da esgana dura sem
deixar qualquer vestfgio.
A determinação do verdadeiro mecanismo de morte, assim como os
subsídios que o estudo detalhado da traumatologia forense pode forne-
cer à justiça, depende da análise mi,wdosa das lesões prtsetltes lIa vítima e
da habilidade do perito observar, analisar e stlteionar cada uma das tvidhlcia5
que circundam o caso pericindo.
2.. TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPíTULO 18

AVALIAÇÃO MÉDICO-LEGAL
DAS LESÕES DO COMPLEXO
MAXILOMANDIBULAR

HILDA FERREIRA CAROOZO

INTRODUÇÃO
As lesões sediadas na face suscitam muitas discussões no que ctiz respei-
to à avaliação pendal em ~o da complexidade anatômica, funcional e
est~tica da região.
A preocupação com os aspectos periciais aumentou nas últimas déca-
das devido ao grande número de vftimas de acidentes de trâru;ito. Para-
lelamente, a violência urbana contribui de (orma significativa para essa
casuística. Não se pode deixar de mencionar, ainda, o crescente número
desses tipos de traumatismos decorrentes da prática esportiva. Final-
mente, os acidentes de trabalho continuam a ocorrer, apesar de todas as
medidas de prevenção impostas pela lei e adotadas pelas empresas.
No que se refere aos acidentes de trânsito, estes trouxeram, além do
aumento no número de traumatizados. alterações no padrão das lesões,
devido à força de impacto e aos diferentes tipos de estruturas envolvidas
na produção dos traumatismos. Esses fatores podem acarretar complica-
ções clínicas no tratamento desses ferimentos, com conseqüentes dificul-
dades para a avaliação médico-Iegal.
Não é incomum que, de ferimentos sediados na região maxilofacial,
restem seqüelas, ainda que os tratamentos instituídos tenham sido bem
indicados e conduzidos adequadamente.
28.
290 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

Essas seqüelas podem ser funcionais e estéticas. As estéticas podem


acarretar grandes dificuldades de reintegração social do tTaumatizado.
Para melhorar essas seqüelas, na maioria dos casos, são necessários
procedimentos corretivos. Considerando que ninguém é obrigado a
submeter-se a qualquer tipo de tratamento, senão por (orça da lei, ncr
vas dificuldades se impõem à perícia, especialmente àquelas de âmbito
penal.
Outra dificuldade para o perito nesse tipo de avaliação é a exigüidade
de publicações encontradas na literatura. Em relação ao lraumatizado, as
contribuições literárias de ordem clínica são inúmeras, porém, as de ca-
ráter médico-Iegal, orientando sobre OS múltiplos detalhes no campo pe-
ricial e a correta metodologia para abordá-los e resolvê-Ios, são raras.
Para Fiori e Marin (1964), os elementos cllnioos pata OS quais o perito
deve atentar são: (1) inspeção e palpaçào, eventuais deformidades asso-
CUidas ou não à cicatriz cutânea; (2) medida da abertura bucal máxima;
(3) limitação dos movimentos de lateralidade, retrusão e protrusão da
mandibu1a; (4) má oclusão dentária; (5) verificação clínica e radiográfica
de alterações anatomofunconais da articulação temporomandibuJar; (6)
fórmula dentária; (7) alterações fonéticas; (8) estado geral. principalmen-
te em relação ao aparelho digestivo; e (9) alterações anatomofuncionais
cranioencefá licas associadas (especialmente relativas ao nariz e suas
cavidades, dos seios paranasais, dos nervos cranianos, da visão e do
aparelho auditivo) .
Para fins médico-legais, cada um desses dados clínicos requer exames
especificos para a verificação da relação causal com as lesões traumáticas;
prognóstico de pennanência ou de evolução do quadro clínico: avaliação
das possibilidades de reabilitação protética; enfim, todos os elementos
fundamentais para a adequada avaliação da debilitação resultante, pres-
suposto indispensável para a avaliação penal, civil ou infortunIstica.

LESÕES MAXILOFACIAIS

Os dispositivos legais que resguardam a tutela da integndade pessoal


estão contidos no artigo 129 e seus parágrafos, do Código Penal Bra-
sileiro. Esse direito prescinde de qualquer atributo individual (idade,
profissão, condição socia l etc.), considerando que qualquer lesão pessoal
que limite a atividade e o potencial individual representa um dano que
perturbará as relações de convívio social e, em última instãncia, refletirá
sobre a sociedade como um todo.
AVAUAÇ.A.O M~DJCO-lEGAl DAS lESOeS DO COMPlEXO MAXJlOMANDJBULAA 291

Diante dessas afirmações, mais se reforça o já exposto anteriormente.


Considerando que a face é o primeiro objeto de interação entre os indiví-
duos, é perfeitamente compreensível a regra que nos mostra que, quanto
• mais a face é envolvida por perturbações, principalmente estéticas •
maior será a reação negativa causada em outras pessoas.
O art. n R 129, do C6d.igo Penal Brasileiro, estabelece que:

Art . 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem .

• No cuput desse artigo, concentra-se a grande maioria dos ferimentos


faciais de menor gravidade, e que se restabelecem sem as conseqüências
previstas nos §1' e 2'.

§ l' . (lesão corporal de natureza gravei· se resulta:


I • incapacidade para lIS ocupações habituais. por mais de 30
dias.

Nas perícias, em âmbito penal, no que se refere aos traumatismos


faciais, especialmente nos casos de fraturas, a primeira preocupação é
com o tempo de incapacitação. Considerando todas as estruturas que
podem ser envolvidas nesse tipo de dano, o tempo necessário para que
se verifique o processo de reparação freqüentemente supera os 30 dias. ~
o caso, por exemplo, das fraturas mandibulares, que necessitam, em
média, de 45 dias para a sua consolidação.
Após a cura das lesões, o perito deve avaliar a existência de seqüelas e
suas conseqüências. Fiamminghi e cals. (l976), com base nos resultados
de acompanhamento, por um ano, de 149 casos de traumatismos faciais,
recomendam alguns períodos que julgam apropriados para que as lesões
se estabilizem e, dessa forma , permitam um prognóstico mais realista
sobre as possíveis seqüelas de caráter pennanente.
1. Lesões culAneas: a existência ou não de características defonnantes
de urna cicatriz deve ser verificada depois de um período de cinca
a seis meses.
2. Fraturas ósseas: (a) deformidades e assimetrias: a permanência de
deformidades e assimebias do esqueleto facial (excluindo as lesões
articulares), poderá ser confirmada depois de 90 dias; (b) CRio ósseo
exuberante, limitação de abertura bucal, movimentos mandibulara e alte-
rações funcionais da articlllaçl10 lt:mporomnrldiblllar podem ser conside-
rados após seis meses d.o evento lesivo.
3. Lesões derltárias: a existência de alterações da oclusão dentária pode-
rá ser confirmada no periodo compreendido entre 40 e 50 dias.
292 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

4. Stqüelas neurológicas: exigem um período de um ano para um diag-


nóstico seguro_

Como pode ser observado, o caráter de pennanência da maioria das


seqüelas faciais poderá ser estabelecido em um perfodo de seis meses,
excetuando-se aquelas de natureza neurológica.

Art . 129, 1",11 - perigo de vida.

Ê comum encontrar-se na literatura afirmações de que as lesões sedia-


das não causam risco à sobrevivência do traurnatizado, porém Aldman
(1970) afirma que, em estudo realizado sobre a caUSQ mortis, 20% das víti-
mas iam a óbito em conseqüência de traumatismos faciais, segundo o
laudo do patologista. Ê evidente que este diagnóstico não é da compe-
tência do cirurgião-dentista.

Art. 129, i 1-, 111 - debilidade permanente de membro. sentido ou função.

A face abriga o maior número de órgãos dos sentidos: - olhos, ouvi-


dos, nariz e boca -, bem como as funções mastigat6rias e fonéticas e,
portanto, a região facial poderá ser sede de inúmeras lesões, cujos resul-
tados finais são passíveis de serem enquadrados neste inciso. No que
tange ao campo estomatológico, podem-se citar a limitação de abertura
bucal, a dificuldade de execução dos movimentos mandibulares, más
oclusões pós-traumáticas etc.
Em relação à face, não se pode esquecer da função estética, que é de
fácil verificação clínica e afirmação pericial, bastando para tanto o uso de
fotografias. Existem alguns casos em que o periciando alega alterações
estéticas, mas o perito não conseguirá perceber, facilmente, qualquer
modificação do estado anterior. Nessas circunstâncias, recomenda-se o
uso de fotografias anteriores ao evento lesivo.

Art . 129. 12-, I - Incapacidade permanente para o trabalho.

Neste inciso, no que se refere à face, é muito importante o entendi-


mento da conceituação de trabalho, se genérica ou específica, pois nessa
região ocorrem lesões cujas conseqüências, embora causem pouco pre-
juízo ao indivíduo comum, poderão representar sérios impedimentos
para aqueles que exercem determinadas atividades. Podemos exemplifi-
car os distúrbios fonat6rios que, mesmos leves, poderão prejudicar sig-
nificativamente os que dependem da comunicação verbal para o exerci-
AVALIAÇÃO M~OICQ..lEGAl DAS lESOES DO COMPlEXO MAXllOMANDIBULAR 293

cio de seu trabalho, corno é o caso de locutores, professores, advogados


etc.
Na mesma situação anterior encontram-se OS profissionais que depen-
dem da estética harmoniosa: modelos, apresentadores de televisão, rela-
ções públicas e outras atividades que envolvem interação com o público.

Art. 129, t 2', 11 - enfermidade incurãveL

Alguns exemplos desta tipificação penal, no campo estomatológico,


podem ser representados por graves distúrbios da articulação temparo-
mandibular; perdas dentárias, que resultam em dificuldades djgestivas e
no estado geral do paciente; perdas de osso alveolar com graves conse-
qüências sobre a função mastigatória etc.

Art. 129, t 2', UI - perda ou lnutili:l:açAo de membro, sentido ou fun-


ção.

Aqui valem os mesmos comentários feitos no inciso anterior, já que, se


a alteração for da ordem de 80 a 100% da função anterior ao trauma, a
caracterização penal caberá neste inciso.

Art. 129, t 2', IV - deformidade permanente.

No âmbito da medicina legal, entende-se por dano estético qualquer


modificação pejorativa do complexo estético individual da pessoa. Tal
conjunto exerce função de tamanha importância na vida de relação que
se adotou, há várias décadas, o conceito defunplD estética. Neste entendi-
mento será considerado o aspecto externo do corpo humano, em condi-
ções de repouso ou de movimento.
Diz a doutrina que, a deformidade permanente é caracterizada por
um dano estético visfvel e permanente. A palavra Hpermanente" refere-
se, aqui, como nos demais incisos onde se faz presente, à incurabilidade
por evolução natural ou por tratamentos costumeiros.
Em relação a esse tipo penal, a região facial, mais do que qualquer
outra, é atingida por alterações pejorativas pós-traumáticas, já que é
sempre visível, e os defeitos aí instalados sâo percebidos de imediato.
As lesões passíveis de seqüelas estéticas que atingem a região facial
podem envolver tecido cutâneo, suporte ósseo, músculos, feixes de ner-
vos, vasos, ductos salivares e elementos dentários. Estes últimos serão
discutidos à parte.
As cicatrizes no rosto são muito variáveis nos seus aspectos. Estes
dependem da modalidade de ação do trauma, da idade do lesado, das
294 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

características intrinsecas do tegumento da região-sede do ferimento e,


também, dos procedimentos de reparação empregados na cura das
lesões. As mais graves seqüe1as costumam ser aquelas conseqüentes a
feridas lacerocontusas que, em geral, causam cicatrizes deformantes,
devido ao aspecto enfossado ou por provocarem estiramento do tecido
circundante.
A ação muscular contínua provoca constantes movimentos de abertu-
ra e fechamento dos bordos da ferida, que podem resultar, além de
maior tempo para a reparação, em prejuízos no resultado final. É eviden-
le que, antes de expor um jurzo definitivo sobre a real extensão do dano
estético causado por cicatrizes, é aconselhável atentar para as modifica-
ções que se processarão com o tempo.
VaJe lembrar que não basta a simples presença de dano estético na
face para se configurar a deformidade permanente. É preciso que esta
seja de um certo vulto.
Nas discussões sobre a avaliação de dano estético na face, não se po-
de deixar de mencionar a notável evolução dos procedimentos repara-
dores, tal como a cirurgia plástica. Hoje, mediante procedimentos tera-
pêuticos adequados, é possível a restituição, parcial ou total, condição
estética anterior. Nessas circunstâncias, pergunta-se se o perito deve con-
siderar essa possibilidade quando da avaliação do dano. Na literatura, a
resposta é muito controvertida, porém predomina a idéia de que o papel
do perito é o do vislml el repertum e. nessas condições. ele deve conside-
rar o dano tal como se apresenta. Acredita-se que a conduta adequada
seja a de analisar minuciosamente o dano, declinando no seu relatório
todas as possibilidades de melhoria, mas, deixando ao magistrado o
juízo final da tipificação.
A estética facial pode ser alterada por lesões dos músculos da masti-
gação e da mímica. Diferentemente das feridas tegumentares, a interrup-
ção de um músculo pode ser seguida de notável distanciamento das bor-
das das lesões devida à grande toniddade da fibra muscular.
As lesões de troncos nervosos são, com freqüência, esteticamente des-
favoráveis. Podem-se observar quadros de paralisia facial com anemia,
logoftalmo, epífora, aplanamento do sulco nasolabial, rebaixamento da
comissura labial, problemas fonatórios etc. Para a avaliação da extensão
e das conseqüências desses tipos de lesão, aconselha-se buscar o awdlio
de um neurologista, cujo parecer será incluído no relatório do perito.
Os traumatismos que incidem na região bucal podem, além das ofen-
sas ao tegumento e ao músculo, provocar lesões do dueto de Stenon. As
lesões de estruturas glandulares podem redundar em fístula salivar,
assumindo grande importância estética quando se comunicam com o
AVAUAÇÁO M~DICO·lEGAl DAS lESOES 00 COMPlEXO MAXllOMANOIeULAR 295

exterior. Nesses casos, acontece perda de saliva sobre a face, especial-


mente quando da mastigação.
As fraturas faciais comumente causam defeitos estéticos em conse-
qüência de perdas ósseas com encovamento do tecido cutâneo, consoli-
dação viciosa da fratura, resultando em assimetria, anquiloses da articu-
lação temporomandibular, reduzindo ou anulando a mobilidade normal
da mandíbula, de maneira a dificultar a (onação e, em alguns casos, em-
prestando ao rosto expressão de estupor ou assombro.

LESÕES DENTÁRIAS
Em razão da facilidade com que a face é atingida por traumatismos, é
freqüente a ocorrência de lesões do aparelho mastigatório. Tais lesões
podem ser mais ou menos graves, desde uma leve periodontite traumá-
tica até a avulsão de um ou mais dentes.
Como no item anterior, nos ateremos às discussões que envolvem tipi-
ficações concernentes às lesões dentárias. Por isso, a análise se referirá ao
capllt; § I R, I e ill, e § 211, I, D, me IV, do artigo 129.

Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.

As lesões dentárias passíveis de tipificação, como as de natureza leve,


são aquelas de menor monta: ligeira luxação dentária, fraturas de peque-
na parte da coroa etc. O perito deverá declinar no seu laudo as canse-
quências terapêuticas desses danos, uma vez que e1as poderão necessitar
de cuidados que, possivelmente, perdurarão por toda a existência do
indivíduo (por exemplo, o refazimento de restaurações resultantes de
fraturas coronárias).

Art. , 29, § '-, - incapacidade para as ocupações habituais, por


mais de 30 dias.

As lesões, para cujo restabelecimento sejam necessários mais de 30


dias, são enquadradas como sendo de natureza grave. Não se exige que
esta incapacidade seja absoluta, basta que o exercício das atividades
habituais da vitima coloque em risco ou retarde a cura da lesão.
Em relação às lesões que atingem os elementos dentários, achamos
que o período de incapacidade deve compreender as diferentes necessi-
dades terapêuticas que cada caso requer, com vistas ao retomo à "nor-
296 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

malidade" funcional da vítima. Assim sendo, devem estar incluídos,


nesse período, tratamentos endodônticos, confecção de próteses (provi-
sórias ou fixas) e outros procedimentos que se mostrem necessários.

Art.129, § 1", 111 - debilidade permanente de membro. sentido ou fun -


ção.

Essa figura penal refere-se à diminuição da capacidade individual,


seja ela relativa à menor eficiência de um membro, de um sentido ou de
urna função. Segundo Fávero (1957), "debilidade significa &aqueza".
Assim sendo, desde que ocorra um enfraquecimento do indivrduo em
relação ao que era antes do evento lesivo, como conseqüência do atenta-
do à integridade corporal, estaremos frente à debilidade preceituada em
lei.
Considerando que os elementos dentários, no seu conjunto, desempe-
nham tríplice função - mastigat6ria, fonética e estética -, as perdas den-
tárias preenchem os requisitos para a configuração acima referida .
Ainda que não tenha havido avulsão dentária, mas somente fratura da
coroa, a debilidade de função poderá fazer-se presente, visto que, para o
exercício de suas funções, os elementos dentários requerem a presença
de coroa íntegra.
No que se refere ao qllatltllm de enfraquecimento, entre n6s o parâme-
tro é aquele consignado pela Lei de Acidentes do Trabalho, que especifi-
ca os valores de 3 a 80%. Esses limites têm significado de orientação, não
representando uma rígida barreira de juízo, já que toda valoração deve
referir-se ao caso concreto, devendo resultar de uma rigorosa anamnese
e exame clínico minucioso.
O fato de serem utilizados os valores declinados na Lei de Acidentes
do Trabalho, para avaliação de debilitações, tem resultado, no campo das
lesões dentárias, em algumas controvérsias, já que se entende que, embora
o dano fisiológico permaneça efetivo, não atinge aquele grau de relevân-
cia econômica, na prática valorável, no que diz respeito à capacidade
laborativa.
De fato. não há que se equiparar o prejuízo laborativo resultante da
perda de um olho ao de um dente. Tal corno já afirmado, o parâmetro
trabalhista deve ser consultado e utilizado, mas sem perder de vista a
finalidade da pericia. Cabe ressaltar que o Código Penal não visa, especi-
ficamente, ao resguardo da capacidade de trabalho, mas sim ao da inte-
gridade da pessoa humana como tal. É evidente que um trabalhador
braçal ou intelectual, com raras exceções, executará a5 suas funções,
ainda que com alguns dentes a menos, mas a sua capacidade pessoal
estará, certamente, diminuída .
AVAUAÇAO MeDICO-LEGAL DAS LESOES 00 COMPlEXO MAXILOMANDI8ULAR 297

Além disso, em âmbito penal~ não se trata de determinar se com


alguns dentes a menos a mastigação ainda é suficiente ou se enquadra
dentro do padrão de nonnalidade genérica, mas o objetivo é o de avaliar
se a pessoa em exame mastiga exatamente como fazia antes e, também, o
grau de desconforto adquirido. Não convém esquecer que, em matéria
de lesão corporal, segundo Arbenz (1983): "O indivíduo é probando de
si mesmo."
Outro ponto preconizado, e que merece discussão, é aquele em que as
perdas dentárias devem ser valoradas segundo o papel que o elemento
dentário desenvolve no aparelho mastiga tório. A esse respeito, entende-
mos que errado será diferenciar a perda de um terceiro molar, de um pri-
meiro molar, ou de um canino, porque todos os elementos dentários
desempenham um papel relevante na cavidade bucal, senão ar não esta-
riam. Além disso, é conveniente lembrar que as perdas dentárias não se
estabilizam no momento em que ocorrem, posto que exigem, para uma
reabilitaçao artificial, a presença de elementos dentários remanescentes.
Nesses casos, por vezes, a presença ou não de um terceiro molar pode
modificar completamente um planejamento protético e, em alguns casos,
inviabilizar a confecção de prótese mais adequada à saúde dentária
remanescente.
Poderá ser alegado, ainda, que as condições dos arcos dentários, antes
do evento traumático, modificam o juízo valorativo do dano, e isto por-
que, se a perda se verifica sobre um sistema já debilitado, na valoração
do dano coloca-se a culpa da debilidade posterior no órgão já debilitado.
Entendemos que isso em nada modifica a situação, porque não cabe ao
perito discutir o quanto havia de funcionalidade anterior à lesão, mas
sim de quanto esta debilitou aquele indivíduo dentro de suas condições
particulares. A lei penal não visa à proteção de estados de perfeição, mas
ao que cada pessoa tem de integridade corporal. Voltamos a insistir no
problema da reposição protética, lembrando que, se previamente ao
trauma, ainda que debilitado, o ofendido poderia ter possibilidade de
colocação de prótese, enquanto, em decorrência de perdas dentárias,
essa condição poderá ver-se anulada.
Em nosso país, OS autores colocam as perdas dentárias entre as lesões
causadoras de debilidade permanente, mas, nas situações em que o ele-
mento perdido já era destituído de inserção óssea, o jurzo de debilidade
deixa de existir, considerando que o elemento dentário, ainda que presen-
te na cavidade bucal, não teria condições de exercer qualquer função, até
mesmo estética, porque nessas condições, provavelmente, apresentaria
posicionamento anômalo no arco. Claro está que esse jufzo s6 poderá ser
298 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

confirmado mediante a análise de radiografias anteriores à ocorrência do


trauma.

Art. 129, § 2", I - Incapacidade permanente para o trabalho.

Configura-se quando. em razão do dano anatômico ou funcional que


a lesão produziu, o indivíduo não pode mais trabalhar, e de forma per-
manente.
Tal como já reCerido anteriormente, o ponto de discussão a respeito
desse inciso é se o texto se refere ao trabalho em geral ou ao trabalho
especifico da vítima. Se entendido como sendo para o trabalho genérico,
no caso de lesões dentárias, esse inciso não teria sentido em ser discuti-
do, posto que, com raríssimas exceções, encontraríamos atividades que
dependeriam dos dentes para serem executadas. Considerada, porém, a
segunda eventualidade - trabalho específico dn vítimn - , as perdas dentá-
rias merecem atenção, porque os elementos dentários têm pronunciada
função estética, e atualmente inúmeras profissões exigem este atributo.
Voltamos a insistir sobre o fato de que algumas atividades profissionais
requerem boa fonação e, nesses casos, as perdas dentárias podem tomar
inviável o exercício dessas atividades.
Convém não esquecer que algumas atividades braçais requerem o
consumo de até 6.500 cal/dia, situação em que as debilidades rnastigató-
rias, mais ou menos extensas, poderão dificultar, ou até mesmo tor·
narem·se impeditivas da continuidade do trabalho particular daquele
indivíduo.
Sobre a questão de ser o trabalho genérico ou específico da vítima,
lembramos Carvalho e cals. (1987), que afirmam que do esforço da víti-
ma não deve redundar um benefício para o ofensor. Assim sendo, uma
readaptação profissional do lesado, como pretendem aqueles que defen-
dem ser o trabalho genérico, iria contra tal postulado.
Diante de tais considerações, entendemos que o perito deve referen-
ciar, quando for o caso, a atividade da vítima, ressaltando se, com as per-
das dentárias, essas atividades ver-se-ão prejudicadas, cabendo ao ma-
gistrado a decisão sobre o enquadramento devido.

Art. 129, § 2-, 11 - enfermidade incurável.

Enfermidade, de acordo com Aranha (1987), deve ser entendida como


"a falta ou a perturbação de uma ou mais funções, quer por ausência
congênita, quer por alteração ou abolição definitiva delas, e compatível
AVALIAÇÃO M~DICO -LEGAL DAS LESOES 00 COMPLEXO MAXILOMANOIBULAR 299

com um relativo estado de saúde" _ Entendendo-se essa figura penal


como sendo qualquer desvio do estado de saúde, as perdas dentárias
poderão estar aí ca racterizadas, uma vez que, ainda que reposta proteti-
camente, a função mastigatória não será restituída ao estado anterior,
levando o indivíduo à ingestão deficiente de alimentos, além d o que,
dessas perdas, poderão decorrer a necessidade de cuidados periódicos
para a manutenção do estado bucal, especialmente nos casos em que se
instale grave sobrecarga (perda de mais de um elemento dentário ou
perda de parte de rebordo alveolar) do periodonto de sustentação dos
elementos dentários remanescentes.
Art . 129, § 2-, 111 - perda ou inutilização de membro, sentido ou fun-
ção.

No que diz respeito aos preceitos desse inciso, vale lembrar que não
há necessidade de um grau extremo de debilitação funcional, ou seja, a
perda não precisa ser absoluta, basta que a função fique praticamente
inútil (um vestígio funcional). Em geral, como já referido anteriormente,
em nosso país aceita-se que uma perda de 80% caracterize a perda ou a
inutilização de membro, sentido ou função.
Na ocorrência de perda de todos os dentes, alguns podem entender que
não se trata de perda de função mastigatória, considerando que esta é
exercida pelo desempenho dos dentes conjuntamente com outras estrutu-
ras anatômicas: mandíbula, maxila, articulação temporomandibular, lín-
gua, bochecha, músculos etc., e, sendo assim, não existiria a necessidade
de uma dentadura completa e perfeita. De fato, em um primeiro momen-
to, isso pode parecer verdadeiro, porém, deve-se reconhecer que a masti-
gação que se faça somente às expensas dos rebordos alveolares representa
um vestígio de função mastigatória. Com a perda de todos os dentes,
perde--se a fragmentação, o esmagamento e a trituração dos alimentos,
processos essenciais para a formação de um adequado bolo alimentar.
O fato de muitas pessoas, principalmente idosas, encontrarem-se des-
tituídas de elementos dentários, continuando, no entanto, a desenvolver
uma pseudofunção mastigatória por meio das gengivas (oportunamente
adaptada às novas funções), não autoriza afirmar que as pessoas edêntu-
las sejam capazes de mastigar; já que se nutrem, quase exclusivamente,
de alimentos de consistência líquida, mastigando longamente aqueles
mais sólidos e, na maioria das vezes, evitando-os.
Por OUITO lado, não nos devemos esquecer de que o edentado total,
principalmente o idoso, atingiu essa condição com O decorrer dos anos e,
portanto, teve condições de adaptar-se progressivamente (geral, local e
psicologicamente), enquanto aquele que se vê bruscamente edêntulo, no
300 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

mais das vezes, é incapaz de mastigar, devendo limitar-se rigorosamente


à alimentação Hquida ou semilíquida e com problemática possibilidade
de adaptação futura.
Se é certo que a perda da função mastigat6ria poderá ser admitida na
presença de trismo completo e irredutível da mandtbula, também é ver-
dade que, na ocorrência de edentulidade total ocasionada por trauma,
não é infundado falar-se em perda da função mastigatória, até porque,
nas perdas traumáticas dessa monta, freqüentemente apresenta-se um
apreciável desequilibrio da relação entre os arcos dentários.
Pelos motivos assinalados, entendemos que a perda de todos 05 den-
tes, ou quase todos, preenche os requisitos necessários para o enquadra-
mento no tipo ora em exame.

Art . 129. § 2-, IV - deformidade permanente.

No campo estomato16gico reconhece-se, sem discussão, a eldstência


de deformidade nos casos em que haja ocorrido a perda de todos (ou
quase todos) os dentes, com conseqüente retração dos lábios, afunda-
mento da bochecha, protrusão do menta e tooas aquelas modificações
que são caracterfsticas da parte inferior do rosto idoso e que, em um
indivíduo jovem, contrasta de mooo intensamente desagradável com a
região superior do rosto.
No entanto, encontram-sc sérias resistências com vistas a tipificar, como
deformidade, a perda de um ou mais elementos dentários do grupo ante-
rior, embora que pode parecer excessivo classificar-se entre as lesões gra-
víssimas uma situação clínica que alguns consideram ser corriqueira.
Reiteramos que a doutrina e a jurisprudência reconhecem a presença
da deformidade permanente quando O dano for de caráter estético, visí-
vel e não reparável naturalmente. Acrescentam ainda que deve ser de
vulto. No caso de perdas dentárias, principalmente dos anteriores, temos
a presença de todas essas características, visto que os mesmos consti-
tuem atributo cstéhCO, slio de indiscutfve1 visibilidade, não se reparam
naturalmente e, com relação à re1evância ou vulto, podemos lembrar que.
aqueles que negam a deformidade nessas perdas de pronto trazem à
baila o argumento da reparação protética, o que evidencia não se conce-
ber, esteticamente, um sorriso desprovido de dentes anteriores.
Diante desse fato, as perdas dentárias envolvendo elementos anteriores
e, em alguns casos, mesmo OS posteriores, dependendo do tipo de sorriso
do examinando, consubstanciam a figura da deformidade permanente.
Os doutrinadores recomendam que nesses casos, à semelhança de
outras lesões relativas à deformidade. o perito deverá fornecer laudo
AVALIAÇAo M~OICO·LEGAL DAS LESOES 00 COMPlEXO MAXILOMANOIBULAR 301

minucioso e documentado sobre o caráter intrínseco da alteraçào e sobre


a sua permanência, deixando ao magistrado a tipificação penal definiti-
va. Cabe ao perito esclarecer as questões relativas à lesão, com vistas a
propiciar ao juiz elementos valiosos para a conclusão definitiva .
Um problema que se tem colocado como de difícil entendimento é
aquele relativo à perda de dentes anteriores à dentição detidua, uma vez
que se constitui em prejuízo estético, que, embora com uma demora de
alguns anos, acabará por ser sanado quando do nascimento dos dentes
permanentes.
A nosso ver, esse problema não deve ser tratado como deformidade
permanente, uma vez que essa perda não é definitiva, considerando que
a palavra permanente, a que a lei se refere, diz respeito a toda a existên-
cia d o indivrduo. Por outro lado, não deverá ser tratado como lesão de
natureza leve porque, para a criança atingida, esse dano é sério, já que
poderá ser motivo de brincadeiras, por vezes cruéis, a respeito de sua
aparência . Segundo Deffez e Ambrosini (1982), "o tempo pode atenuar
ou mesmo elidir o defeito estético da criança, porém o dano psicológico
já poderá estar estabelecido". Dessa forma , entendemos que esse tipo de
lesão deverá ser tipificado como sendo debilidade dI! junçi'lo estética (§lG, []],
do art. na 129) e, portanto, de natureza grave.
Sobre a questão estética, ainda deve ser considerada a fonética, que
nào se deve referir apenas ao fascínio de urna comunicação verbal parti-
cularmente: atraente, mas ao padrão geral, comum a todas as pessoas.
Não se duvida de que a expressão das palavras constitui-se em caracte-
rística estética capaz de gerar estados de ânimo específicos em quem as
ouve e, conseqüentemente, certos distúrbios da fala podem determinar
uma debilitação estética, mais ou menos relevante, independentemente
de qualquer outro dano à "vida de relação"
A função fonética poderá ser comprometida, no caso de lesões buca-
dentárias, principalmente nas regiões dos incisivos e pré-molares. De
fato, basta a simples ausência de um ou mais dentes para que determi-
nados fonemas sejam pronunciados incorretamente. Assim sendo, é evi-
dente que o defeito da pronúncia , como resultado de ausências dentá-
rias, prejudica a função estética da pessoa, ainda que a possibilidade de
comunicação com o mundo exterior por meio da fala continue perfeita-
mente viável. Portanto, não se fala em dificuldades extremas de comuni-
cação verbal, mas sim de alterações que chamem a atenção, negativa-
mente, do ouvinte.
Na discussão sobre perdas dentárias, deve-se atentar para uma cir-
etmstância que se verifica, não raro, na prática pericial e que é represen-
tada pela perda de prótese conseqüente às lesões corporais. Eviden-
302 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

temente, trata-se aqui de dano à coisa e não à pessoa. Quando esse dano
envolve dentes pilares da prótese em questão, além da avaliação comum
a qualquer elemento dentário, surge a necessidade de averiguar-se a
possibilidade de realização de uma nova prótese nos mesmos padrões
daquela perdida. Na prática, implica verificar se a eficiência da função
mastigat6ria continuará a mesma da anterior ao evento traumático, ou
se, ao contrário, a nova situação criada acarretará problemas protéticos
mais complexos.
Outra situação que gera muitas controvérsias é a da substituição dos
dentes perdidos por prótese. Nesse caso, o perito poderá. inicialmente, ver-
se diante de duas eventualidades: a parte lesada apresenta-se para a perícia
sem ter realizado a substituição protética ou apresenta-se com a prótese
já instalada .
Na primeira eventualidade. vale lembrar que a gravidade da lesão
deve ser avaliada no momento da perícia e não depois, se a parte ofendi-
da se submeter a tratamento especial ou à aplicação de próteses. No
segundo caso, entendemos que a situação em nada se modifica, posto
que as próteses constituem um recurso artificial e este, como se sabe, não
pode ser considerado como fator de elisão do dano.
Considerando que sempre que se fala em perdas dentárias vem à
baila a discussão da possibilidade de elisão do dano mediante o uso de
próteses, convém que o perito faça constar, no seu relatório. as diferentes
possibilidades desse tipo de reparação. bem como as limitações que
apresentam .
Entendemos que a possibilidade de confecção de aparelho protético
em nada muda a situação, uma vez que, das perdas dentárias, sempre
restará um prejuízo permanente; por mais adequado que seja o trata-
mento recebido. visto que, a ciência odontológica por muito que tenha
evoluído, não se pode pretender que dentes artificiais ou desvitalizados
tenham igual valor funcional e durabilidade de dentes naturais. As fun-
ções exercidas pelos dentes naturais não serão plenamente substituídas
no caso dessas perdas, constitu indo, a própria prótese. em um fator de
agressão aos dentes remanescentes.
Finalmente, lembramos que, apesar de todas as opiniões em contrário,
o s ignifi cado funcional dos elementos dentários não pode ser menospre-
zad o, visando a reduzir OS casos de debilidade a uma restrita série de
situações gravíssimas, sob pena de punir a vítima e premiar o ofensor,
em uma inequívoca inversão dos objetivos da lei penal.
AVAUAÇAO MI:OICO-LEGAL DAS LESOES DO COMPLEXO MAX1LOMANOIBULAR 303

AVALIAÇÃO DO DANO EM ÂMBITO CIVIL


Em âmbito civil, afirma-se O prinópio jurídico de que o prejulzo causado
por ato de outrem deve ser ressarcido pelo ofensor. Esse preceito encon-
tra-se estabelecido no art. 159 do Código Civil Brasileiro: "Aquele qlle, por
(lçilo 011 omissilo volulltdria, negligencia 011 imprudência, violar direito. 011 cau-
sar prejuízo a olltrem, fica obrigado (I reparar o dano." Essa reparação diz res-
peito ao dano patrimonial e extra patrimonial.
Especifica CasUlo (1987) que: "O dano patrimonial pode ser identifica-
do como aquele que desde logo aparece pelo reflexo direto no patrimô-
nio da vítima, mesmo que não haja reflexo direto no patrimônio do cau-
sador do dano," Por sua \fez, "o dano extrapatrimonial identifica-se
como sendo aquela ofensa a um direito, uma lesão que não traz uma
repercussão no patrimônio da vitima, no sentido clássico de material.
podendo ou não repercutir no do ofensor".
No que se refere à perícia médico-lega l, o objeto da avaliação serão as
conseqüências de uma modificação pejorativa do modo de ser da pes-
soa, ou seja, de uma debilitação do indivlduo considerado como entida-
de somática e psíquica. Assim sendo, no dano patrimonial serão avalia-
dos os prejuízos relativos às despesas médicas, transportes, perdas de
dias de trabalho etc. No dano extrapatrimonial serão referenciados os
prejufzos não-mensurávels em valores econômicos: honra, reputação,
decoro. integridade moral em geral, alegria de viver e respeito à própria
personalidade.
Os preceitos que dão cobertura ao dano corporal são representados
pelos artigos 1538 e 1.539 do Código Civil Brasileiro:
"Art. 1.538. No caso de ferimento ou outra ofensa ê saúde, o ofensor
indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros ces-
santes até o fim da convalescença, além de lhe pagar a Importância
da multa no grau médio da pena criminal correspondente."
"§ l' - Esta soma serê duplicada, se do ferimento resultar aleijão ou
deformIdade. "
"§2" - Se o ofendido, aleijado ou deformado, for mulher solteira ou
viúva. ainda capaz de casar, a indenização consistlrê em doui-Ia.
segundo as posses do ofensor, as circunstâncias do ofendido, e a
gravidade do defeito."
"Art. 1.539. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não
possa exercer o seu oHcio ou profissão, ou se lhe dimInua o valor do
trabalho . a indenização. além das despesas do tratamen to e lucros
cessantes até o fim da convalescença, incluirá uma pensão corres-
ponden te à impo rtância do trabalho, para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu."
304 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

Os prejuízos sofridos pela vítima podem ser assim dispostos: ckspesas


de 0"0; incapacidade temporária pardal ou total; incapacidade parcial perma-
lIf!1lte; pretium dotons e prej llfzo estético.

Despesas de Cura

o primeiro problema enfrentado pelo indivíduo portador de trauma tis-


mos é aquele inerente à urgência do tratamento terapêutico. Dessa
necessidade emerge o direito do indivíduo lesado ao ressarcimento das
despesas de cura.
Neste tópico podem ser elencadas as despesas com transporte, hospi-
tais, médicos, medicamentos, enfermeiras, exames, aparelhos (com a
devida conservação e substituições), acompanhantes e o que mais se
fizer necessário para o restabelecimento da vftima.
No campo odontológico, a reabilitação do paciente, vitima de trauma-
tismo, inclui a intervenção do cirurgiãCKientista e, não raro, a realização
de trabalhos protéticos. Sobre o ressarcimento desses tratamentos, enten-
de-se que, se do trauma resultou debilitação mastigatória, fonética ou
estética, as despesas referentes aos mesmos entram nas conseqüências de
natureza patrimonial.
No caso de reabilitação estética, interessa a condição econõmico-social
do individuo lesado. Se as suas atividades habituais não têm grandes
exigências estéticas, se houver evidências de escasso tratamento odonto-
lógico e descuido de regras básicas de higiene, não se exigem tratamen-
tos de alto n{vel estético, sendo suficiente que ofereçam condições de
estabilidade e funcionalidade.
Se, no adulto, deve ser levada em consideração a condição econômico-
social do ofendido, quando tratar-se de crianças e adolescentes essa
regra muda, porque o periciando ainda não ocupa uma posição definida
na coletividade, e o dano; principalmente o de caráter estético, poderá
comprometer um positivo ingresso na sociedade produtiva ou adequada
e uma justa valoração no mercado de trabalho.
Pelos motivos citados, a ocorrência de lesão traumática sobre a denti-
ção decídua ou permanente jovem representa um dano de grau econô-
mico-social mais elevado do que no adulto. As despesas de cura devem
respeitar dois diferentes períodos: o primeiro, no qual se instaumm tra-
ta mentos necessários ao desenvolvimento da dentição (tratamento con-
servativo, ortodôntico e prótese removível); e o segundo, que obje tiva
assegurar uma situação de estabilidade funcional futura.
AVAUAÇÃO Mt:DICO-LEGAl DAS lESOES 00 COMPlEXO MAXIlOMAND1BUlAR 305

É bom lembrar que, em geral. como conseqüência de lesões dentá·


rias, mesmo o traumatizado adulto terá pela frente uma série de provi·
dências terapêuticas que se prolongam, em evolução progressiva, espe-
cialmente no caso de aparelhos protéticos, uma vez que este tipo de
reabilitação tem sempre duração limitada. É absurdo considerar que
uma restauração protética, uma vez concluída, represente o fim da res·
ponsabilidacle de ressarcimento do dano dentário. Este continua em
processo dinâmico, já que os elementos dentários estão em constante
desempenho de funções, bem como e"postos às agressões do meio
bucal, acrescidas daquelas provocadas pela presença do próprio apa.Te-
lho protético. Neste aspecto, interpreta·se como sendo necessária a
continuidade de cuidados terapêuticos, à custa do agressor, por toda a
vida do indivfduo, pois seria injusto que o ofendido tivesse de arcar
com esses custos.
Saliente--se que a perspectiva de vida média do ser humano utilizada
para esse cálculo é de 65 anos e, portanto, no valor global do ressarci·
mento deverão estar incluídos os diferentes tipos de tratamentos (bem
como seus refazimentos) que se poderão fazer necessários até a idade
acima declinada.

Incapacidade Temporária Total e Parcial

A incapacidade temporária total é representada pela fase pós·traurnáti·


ca, durante a qual persiste a impossibilidade de proceder·se às ocupa·
ções rotineiras no domicilio . A pa rcial, por sua vez, corresponde ao
período de transição entre a incapacidade temporária total e a retomada
da vida habitual. A data de consolidação corresponde ao período de
retorno ao trabalho, com a incapacidade fixada de maneira definitiva no
momento da perícia. Será desnecessário acrescentar que o cálculo de
dias parados de trabalho diz respeito a esse período.

Incapacidade Parcial Permanente (IPP)


Essa figura penal representa a redução do potencial f[sico-psfquiro-sen·
soria l ou intelectual, resultante de atentado à integridade da vítima.
Trata·se, portanto, da apreciação da deficiência biológica adquirida. Essa
306 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGI4

avaliação acontece a partir do momento em que não se pode mais contar


com os cuidados médicos para a melhora do quadro seqüelar.
Na avaliação dessa incapacidade, não existe parâmetro oficial. Deixa-
se sob a responsabilidade dos peritos aquilatar o grau da mesma, consi-
derando a capacidade restante, a idade da vítima e sua profissão. Tra-
dicionalmente, os cálculos baseiam-se em tabelas de acidentes de traba-
lho, buscando, porém, apenas um parâmetro inicial.
Nas referidas tabelas, as perdas dentárias recebem pontuações que
variam enormemente. Os valores mínimos e máximos encontrados
foram: 0,5 a 1% para incisivos e caninos, 0,5 a 1,25% para pré-molares,
1,0 a 2,5% para primeiros e segundos molares e 0,25 a 2,0 para terceiros
molares. Em geral, atribui-se: 1% para incisivos e caninos; 1,25"0 para
pré-molarcs e 1,5% para molares.
Esses valores estão na dependência da possibilidade ou não de coloca-
ção de próteses e na presença de antagonistas. Diante da possibilidade
de instalação de prótese fixa, os valores relativos ao IPP serão reduzidos
em dois terços, porém deverão ser acrescentados os valores relativos à
diminuição da integridade dos dentes remanescentes, resultante de tra-
tamentos com vistas ao papel de pilares da prótese. No caso de coloca-
ção de próteses parciais removíveis, o IPP cai para 50%.
Nas perdas dentárias, deve-se ter presente o conceito de superfície
mastigat6ria e, por isso, computam-se no TPP os antagonistas dos ele-
mentos perdidos. Para a maioria dos autores, essa pontuação deve ser de
50% do valor daquele perdido.
Deve-se alertar o perito para os cuidados necessários quando da utili-
zação dessas tabelas no caso de perdas dentárias, porque os valores assi-
nalados poderão não representar a realidade funcional, de acordo com O
caso examinado, o que poderia ser exemplificado com os valores encon-
trados para caninos, que são os mesmos fixados para os incisivos, sendo
que os primeiros são excelentes suportes de prótese fixa, o que não ocor-
re com os incisivos, principalmente os laterais.
A avaliação do lPP na criança reveste-se de cuidados especiais porque
não pode ser limitada às considerações relativas à debilidade imediata,
especialmente em aparelho dentário na fase de maturação, sendo obriga-
tório verificar se a lesão inicial será produtora de alterações na dentição
permanente.
Um fato muito discutido é a possibilidade de perdas dentárias repre-
sentarem ou não prejuízos à capacidade laborativa do ofendido. A esse
respeito pode-se afirmar que, além daquelas profissões que demandam
grandes exigências estéticas, a diminuição da capacidade laborativa
pode ficar prejudicada. mesmo no trabalhador braçal. uma vez que este
AVAUACÂO M~DICO-lEGAl DAS LEsOeS DO COMPLEXO MAXllOMANOIBULAR 307

requer, para o desempenho de suas atividades, grande aporte diário de


calorias (de acordo com tabelas elaboradas para tal fim) e, na ocorrência
de perdas abruptas de vários elementos dentários, esse trabalhador
poderá ver-se impossibilitado de suprir suas necessidades calóricas e,
assim, ser prejudicado na sua atividade laborativa.
Além disso, lembramos que, na grande maioria das vezes, o lesado
não se encontra preparado, economicamente, para arcar com OS custos
demandados pela reabilitação protética decorrente de perdas traumáti-
cas, visto que estas acarretam problemas para o arco dentário, que vão
além dos elementos dentários perdidos. Por outro lado, a alegada possi-
bilidade de ressarcimento, na prática, tem-se mostrado demorada e nem
sempre concreta, dependendo, inicialmente, das possibilidades do ofen-
dido arcar com o ônus de uma demanda judicial. Assim sendo, ainda
que a indenização dos danos corporais sofridos venha a ocorrer, decorre-
rá um certo período de tempo no qual o ofendido ver-se-á forçado a
desempenhar as suas atividades com a referida debilidade mastigatória.

Pretiuln D%ris

Este é um termo habitualmente utilizado para designar a reparação do


sofrimento suportado pela vítima em conseqüência de um traumatismo,
e representa um dano de caráter temporário. Refere-se aos fenômenos
dolorosos no momento do acidente, às dores provocadas por interven-
ções cirúrgicas, eventualmente repetidas, às anestesias gerais ou locais,
aos bloqueios intermaxilares, à reeducação funcional, aos sofrimentos de
ordem psicológica e outros que venham a ocorrer.
O periodo considerado estende-se desde a ocorrência da l~o até a
data da cura, momento em que a vítima entra em lPP, com as lesões
transformando-se em seqüelas. Uma dor persistente e um sentimento de
perda da integridade corporal após a cura clínica já são elementos do
!PP.
No que tange aos traumatismos envolvendo elementos dentários. o
pretillm doloris compreende as dores do momento de ocorrência do trau-
ma; as sessões de tratamento, por vezes, dolorosas; o uso de próteses
provisórias, freqüentemente incômodas e antiestéticas; os sentimentos
de constrangimento etc.
No seu relatório, O perito deverá considerar os elementos desse prejuí-
zo e quantificá-los . Geralmente, utiliza-se uma escala de sete graus,
sendo que a cada um corresponde um ponto: (1) muito leve ou insignifi-
308 TRAUMATOLOGIA FORENSE e TANATOLOGIA

cantei (2) leve; (3) moderado; (4) médio; (5) suficientemente importante;
(6) importante, e (7) muito importante.

Prejuízo Estético
A valorização do dano estético tem sido exaustivamente tratada na lite-
ratura jurídica e médico-legal. Enquanto tal dano, em âmbito penal, é
limitado pela noçào de deformidade permanente, em sede civil, ao con-
trário, a questão pode ser analisada no que diz respeito à totalidade de
suas implicações e reflexos.
Sabe-se que a qualidade estética permite ao indivíduo ampliar a pró--
pria consciência, agir utilitnristicamente no campo das relações huma-
nas, desenvolver e afirmar a própria personalidade. Essa qualidade é de
fundamental importância na "eficiência s<xial da pessoa, facilitando o
H

desempenho de atividades na "vida de relação", na qual a aparência


recebe particular atenção e interesse. O conjunto de atitudes sociais e in·
dividuais constitui pressuposto econômico por não representar fonte
direta de ganho.
O que acabamos de afinnar justifica-se por observar~ no ser huma·
no o desejo de ter em tomo de si pessoas de aspecto agradável, não
somente nas si tuações de "vida social" em geral, mas, igualmente, no
seu mundo profissional e de trabalho. Aqueles indivíduos, donos de uma
aparência que é aceita com prazer, recebem, indistintamente, a admira·
ção dos demais. Disso resulta a propensão de deferir, aos mesmos, aque-
la simpatia e aquele crédito que outro, não igualmente dotado, tem mais
dificuldades em conseguir.
Em razão dessas considerações, para alguns autores o prejuízo estéti·
co resulta de sentimentos e sofrimentos morais comprovados e, por isso,
em alguns países (Alemanha e Países Baixos), esse dano é incluído no
preallm doloris. A nosso ver, esse prejuízo tem duas vertentes: uma que
diz respeito ao sentimento de depreciação sentido pela vítima; a outra
refere--se aos sentimentos de rejeição que desperta no observador e que
implicam uma depreciação social em sentido amplo. Assim sendo, o pri.
meiro dano estaria compreendido no pretium doloris, e o segundo, no
prejuízo estético propriamente dito.
Frente a todas essas considerações, a necessidade e o desejo dos mem·
bras de uma sociedade de conseguirem uma imagem cultural aceitável
não constitui bivolidade ou luxo. A debilitação estética implica, entre
outros, um prejuízo econômico.
AVAUAÇÃO M~DlC()'LEGAL DAS LESOES 00 COMPLEXO MAXILOMANOIBULAR 309

Do prejuízo estético podem ser distinguidas duas conseqüêndas ec0-


nômicas: diminuição da capaddade de trabalho e de ganho.
Importa em prejuízo à capaddade de trabalho, a debilitação de um
membro, de um sentido ou de uma função que seja indispensável para a
execução das atividades que aquele individuo realiza . Por outro lado,
resulta em prejuízo na perspectiva de ganho aquela diminuição que, sem
reduzir a aptidão para o trabalho, prejudica, totalmente ou em parte, a
possibilidade de conseguir adequada retribuição.
No primeiro caso, teríamos o desempenho profissional de apresenta·
dores de televisão, modelos, relações públicas etc. Nestas atividades não
se pode duvidar de que um comprometimento da aparênda indda dife..
tamente sobre a capaddade de trabalho. Já a redução da perspectiva de
ganho pode ser exemplificada pelo apresentador de televisão que, con-
traindo um defeito estético, passasse a desenvolver o seu trabalho como
locutor de transmissões radiofônicas, onde a aparência perde a impor-
linda. ~ indubitável que, nesse caso, a lesão da função estética não ind-
diu sobre a capacidade de trabalho, mas reduziu a capacidade de ganho,
visto que comportou uma limitação da possibilidade de emprego e retri-
buição monetária em relação a um determinado trabalho.
Hoje, entende-se que, do dano da função estética, restará sempre uma
diminuição da capacidade de ganho, pois esse prejuízo, no mais das
vezes, gera limitações na possibilidade de obtenção de trabalho e de
ambientação no mundo profissional.
Pode-se referir aqui o caso, não raro, do operário que, portador de uma
defonnação que lhe conferia uma aparência sinistra, encontrava sérias
dificuldades para conseguir uma ocupação, porque provocava nos seus
companheiros reações de fuga em razão do seu aspecto desagradável.
A avaliação do prejuízo estético é influenciada por fatores inerentes
ao queixoso: idade, sexo, repercussão sodoprofissional e estado civil; e
por aqueles relativos às possibilidades de reparaçAo: correções cirúrgi-
cas, próteses etc.
Em relação à idade, na face rugosa da pessoa mais idosa, a "reserva
cutânea" oferece maIS vantagens no que toca às cirurgias reparadoras;
na criança e no adulto jovem, as complicações sépticas são menos fre-
qüentes do que nos idosos etc.
Quanto ao sexo da vítima, a Justiça tende a indenizar melhor a mu-
lher em relação ao homem, portador de igual seqüela estética. Entende-
se que a mulher; quando atingida por este tipo de dano, tem diminu ídas
suas possibilidades de realizar um casamento vantajoso do ponto de
vista econômico, O mesmo acontece com pessoas solteiras (prindpamen-
te se forem jovens) e, por isso, no laudo deve constar o estado civil da
310 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGlA

vftima. Inclusive no Código Civil Brasileiro, esses dois prindpios. que


favorecem a mulher e as pessoas solteiras, encontram-se explicitados no
§? do art. 0"1538, tal como pode ser observado no início deste capitulo.
A repercussão socioprofissional refere-se ao estilo de vida do ofendi-
do antes do acidente. Para uma pessoa que tenha uma vida social muito
ativa ou para quem a aparência seja fator influente na sua atividade pro-
fissional, pode ser muito marcante tomar-se portador de uma seqüela
estética localizada na face.
Assim como ocorre no prttium doloris, para o cálculo do prejuízo esté-
tico lança-se mão de uma escala progressiva, a mesma declinada quando
da discussão daquele prejuízo.
E, finalmente, o perito deverá assinalar no seu relatório todos os fato-
res morfológicos envolvidos, bem como as possibilidades de melhoras
mediante recursos terapêuticos (cirurgias, próteses e outros).
A tarefa do perito na valoração do dano estético não inclui considera-
ções de ordem econômica. Nesse aspecto, deve limitar-se a esclarecer, o
mais exatamente possível, os aspectos anatõmicos, funcionais e psicoló-
gicos do prejulzo estético, com o fim de estabelecer a justa relevância das
conseqüências clínicas decorrentes do dano.
Nos casos em que, na solicitação de realização de pericia, houver ques-
tões explicitamente relativas a valores econômicos, aconselha-se que o
perito, para respondê-Ias, utilize tabelas indicativas, porém, tal como já rei-
terado, sempre que nos referimos a tabelas, os valores assinalados são
meramente ind.icativos, uma vez que os honorários referentes a tratamen-
tos odontol6gicos variam de acordo com o caso e suas consequências.

o Preju ízo Estético em Crianças e Adolescentes


o prejufzo estético que incide em uma criança, em um adolescente ou
mesmo em um adulto jovem exige reparação econômica maior do que
aquela verificada em um adulto, pois este último geralmente, já conquis-
tou o seu espaço na sociedade, enquanto o primeiro ainda terá de fazê-Io
e, a partir da lesão, com possibilidades de afinnação reduzida.
A avaliação do dano estético na criança apresenta grande dificuldade,
visto que certas lesões desgraciosas são freqüentemente seguidas de res-
sentimentos psicológicos que perduram mesmo após a correção do dano.
Nas lesões dentárias, enquanto no adulto, graças às técnicas atuais de
substituições protéticas, o prejuízo estético pode ser minorado rapidamen-
te, na criança, em virtude do crescimento, a reabilitação protética "definiti-
va" é postergada, e a criança terá de conviver com uma aparência altera-
AVAUAÇAO M~OIC04.EGAL DAS LEsOeS 00 COMPlEXO MAXILOMANDIBULAR 311

da, servindo inclusive de motivo para brincadeiras de mau gosto por


parte de seus colegas de escola e de lazer. Por isso, preconiza-se que, para
a avaliação de traumatismos que atinjam esses grupos etários, utilize-se,
também, um outro parâmetro: o do prejuízo futuro (prejlldia d'avenir),
A avaliação do dano na criança deve revestir-se de cuidados especiais,
considerando que, em qualquer aspecto - funcional, estético e psicológi-
co -, não se poderá dizer que estes se extinguiram enquanto o cresci-
mento não houver sido completado, Para o perito, a exata valoração do
da no na criança envolve, praticamente, o mesmo que avalia r como seria
a sua vida de adulto se o dano não tivesse ocorrido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora a atividade do árurgiã<Kientista como perito não seja freqüen-
te, algumas considerações devem ser feitas quanto à atuação do clrur-
gião-dentista no que tange à avaliação do dano, seja como depositário de
informações relevantes para a avaliação médico-legal, seja quando
envolvido em processos de responsabilidad e profissional.
Quando o cirurgiã<Kientista atua como perito, pode-se afinnar que a
documentação da vitima de lesões dentárias tem demonstrado ser insufi-
ciente para o adequado equacionamento da avaliação do dano. Geral-
mente, o perito conta apenas com a visão da lesão ou sua conseqüência, e
nenhuma ou escassas informações sobre os fatos geradores dessa lesão,
Tem-se observado que os profissionais sempre se preocupam com as ano-
tações de ordem terapêutica, esquecendo-se de que as conseqüências jurí-
dicas do dano não se encerram com a solução clínica do caso.
Saliente-se que, em ãmbito penal, o exame pericial, acontece às vezes,
logo após a ocorrência do evento lesivo, porém, nas ações cíveis, pode-
rão decorrer meses ou anos até que o ofendido venha a ser examinado
pelo perito. Nesses casos, resta-lhe recorrer aos registros realizados na
época da ocorrência dos fatos, constantes das fichas clínicas e das radio-
grafias, As primeiras freqüentemente são de difícil leitura, porque a
maioria dos profissionais utiliza símbolos e abreviações particulares. As
radiografias são produzidas com finalidade diagnóstica, e, quando da
realização da perícia, não raro deixam de ser localizadas ou, por vezes,
não foram adequadamente reveladas e fixadas, apresentand o, conse-
qüentemente, deficiências no que tange à resolução de imagem.
Outro problema que merece análise é o que diz respeito ao desconhe-
cimento, por parte de grande número de profissionais, dos indicadores
das diferentes figuras de avaliação do dano, seja na área penal ou civil.
312 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOlOG1A

Considerando que lides judiciais envolvendo a atuação profissional do


cirurgíãCKIentista são, hoje, bastante comuns, as n~ relativas à carac-
terização de dano pessoal devem ser de dommio corrente.
Quando da argüição da responsabilidade profissional, os parâmetros
para avaliação dos prejuízos alegados são os mesmos dos decorrentes de
outros fatores etiológicos. Dessa forma, se o perito não se ativer aos mes-
mos ou se, porventura, cometer algum equívoco na avaliação, convém
que o profissional tenha condições de defender-se, independentemente
de qualquer orientação que venha a receber nesse sentido. Assim, enten-
demos que o significado de uma debilidade de função, deformjdade per-
manente etc., não deve ser de dominio apenas do perito, mas de qual-
quer profissional que atue na área da saúde.
Quanto às ações de ressarcimento de dano, temos visto algumas aber-
rações sobre o qUQtltutrI (em valor monetário) pretendido. De fato, algu-
mas quantias referidas em processo levam aqueles familiarizados com as
questões de ressarcimento a se perguntarem em que pressupostos tais
valores se respaldaram.
Outro fato que tem chamado a nossa atenção é o que se refere às ale-
gações de necessidades terapêuticas que fogem completamente aos
padrões socioeconõmicos e culturais da suposta vítima. Nesse aspecto,
deve-se sempre ter em mente que o ofendido tem direito ao ressarcimen-
to em medida eqüitativa, limitando-se às despesas de cura e de trata-
mentos que se adeqüem à sua condição, sendo injustificado, exceto em
casos particularíssimos, que urna pessoa acostumada a tratamentos
comuns se proclame necessitada de recursos terapêuticos nâo-rotineiros
na prática clínica, como seria o caso de implantes.
O mesmo se aplica ao que se refere aos outros itens concernentes ao
valor global do ressarcimento. Assim, no cálculo de dias parados, estes
devem ser justificados; na discussao do IPP, esta terá de ser especificada
e, preferentemente, quantificada; o pretiutrI doloris, tal como visto, tem
indicativos especificas, e também o prejufzo estético deve ser adequada-
mente avaJjado, pois o que se pretende, juridicamente, é um cálculo glo-
bal justo, tanto para o ofendido quanto para O ofensor.

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CAPíTULO 19

NOÇÕES DE TANATOLOGIA

MOACYR DA S ILVA

INTRODUÇÃO
Muitas vezes investido das funções periciais em casos de necropsia,
confonne prevê o inciso ))( do parágrafo 62 da Lei n!! 5.081 / 66, devendo
utilizar para tanto as vias de acesso da cabeça e do pescoço, é necessário
que o cirurgião-dentista tenha algumas noções de tanatologia (do grego
thánatos, morte, e Togia, ciência), parte da Medicina Legal que trata da
morte, dos fenômenos a ela relacionados e da legislação que lhe é con·
cemente.
"Entendendo-se que a existência da pessoa natural termina com a
morte, tem·se que admitir que o morto não é pessoa, e sim coisa "
(França - 1992), o que não dispensa o nosso respeito, nossa piedade e
nossa reverência .
A destruição, subtração, ocultação e vilipendiação de cadáver consti-
tuem infrações punidas pelo Código Penal Brasileiro.
A legislação brasileira aceita como conceito de morte a cessação total e
irreversíveJ das funções vitais que, no entanto, não desaparecem de uma
s6 vez, razão pela qual se costuma dizer que a morte não é um fato e sim
um processo que leva o organismo a uma série de transformações em
que a volta à normalidade toma-se impossível.
Definir O momento da morte tem sido a tarefa da classe médica em
razão das suas conseqüências legais. Antigamente, a morte era ligada ao

319
320 TRAUMATOlOGIA FORENSE E TANATOlOGIA

início da putrefação; posteriormente, isso era constatado pela rigidez


cadavérica.
No século passado, um médico--Iegista francês ganhou um prêmio ao
estabelecer uma série de sintomas que caracterizavam a morte. tais como
fenômenos oculares, parada respiratória e parada cardíaca.
Essas observações foram evoluindo c, em um passado muito recente,
mais precisamente em 1967, o Dr. Christian Bamard, na África do Sul,
realizou o primeiro transplante carcHaco, vindo à tona todas as indaga.
çOes de ordem médica sobre o tema. O critério passa a ser, então, a para-
da das ondas cerebrais. Mas, será que um EEG plano significa morte? Já
que as células ainda continuam a exercer suas funções básicas, além das
especificas, da mcsma forma que OS neurônios, embora sua função espe-
cífica de originar e transmitir impulsos elétricos se extinga .

CONCEITO ATUAL DE MORTE ENCEFÁLICA

Segundo os critérios adotados pela Faculdade de Medicina da USP. os


conhecimentos da medióna atual. com a utilização de máquinas de cir-
culação extracorpórea. medidas de ressuscitação cardíaca e respiradores
artificiais, tomaram obsoletos os critérios tradicionais sobre o que se
en tendia por morte. Assim, tomou-se imperiosa a revisão do conceito
devido a diversos fatores. Dentre eles podem ser citados:

a . A possibilidade de a medicina moderna prolongar a vida através


de meios artifidais toma necessário definir a morte encefálica;
b. Os programas de transplantes exigem órgãos (ntegros e hfgidos
para o seu sucesso.

Por essas razões cabe ao médico a diIfcil tarefa de decidir se determi-


nado paciente apresenta ou não cessação irreversível da atividade ence-
fálica, e a disciplina de Neurologia da citada Faculdade, por solicitação
da Comissão de Transplantes de Órgãos, estabeleceu critérios oficiais
para a morte encefálica nos pareceres da Procuradoria Jurídica e da
Comissão de Nonnas ~ticas e Regulamentares.
Os referidos critérios, aprovados pelo Conselho Deliberativo do
Hospital das CUnicas da FMUSP, em reunião de 12 de julho de 1983.
estabelecem que, em todo paciente com traumatismo cranioencefálico ou
com graves problemas neurológicos clínicos, o diagn4stico de morte
encefálica baseia-se em:
NOÇOES DE TANATOlOGIA 32'

a. Paciente em coma arreativo e aperceptivo por mais de seis horas de


observação, tendo sido excluídas condições de hipotermia e de uso
de drogas depressoras do sistema nervoso central .
b. O conceito clínico de morte encefálica deve ser respaldado por um
exame complementar que demonstre, inequivocamente, ausência
de atividade cerebral ou ausência de perfusão sangümea cerebral.
Em nossas condições atuais, pode-se utilizar, para essa verificação,
o eletroencefalograma ou a arteriografia cerebral ou, ainda, medidas
de fluxo sangüíneo cerebral mediante o emprego de radioisótopos.

Se as condições acima forem preenchidas, a declaração de morte ence-


fálica deverá ne<:eSSariamenle ser assinada por um médico representante
da diretoria cUnica, além do neurologista clínico ou do neurocirurgião
responsável pela avaliação.
Após estas considerações iniciais, teceremos alguns comentários no
campo da tanatologia de interesse médico-Iegal.

EXAME TANATOLÓGICO

Consiste no exame do cadáver e na verificação das circunstâncias que


envolveram a morte. Descobrir a causa da morte apresenta duplo aspec-
to - médico e jurídico - e envolve a perillecroscopia, a lIecroSCOpia e os exa-
mes complementares.
A necrosc:opÜl t'em como sinonímia os termos: tanatoscopia, tltcrOpSia e
alllopsia. Esta última denominação não é adequada porque significa
auto-observação, exame de si mesmo, e foi uma terminologia utilizada
antigamente para fazer sentir ao médico que ele se auto-observa quando
examina o corpo sem vida de um semelhante, origem da utilização do
SUflXO skopein, do grego, que significa ver ou observar, ou opsis, do latim,
que tem o mesmo significado.
No que diz. respeito à peritu!C1OSCOpia, esta compreende o exame do cadá-
ver no local dos falos, sendo geralmente realizado pelo perito criminal.
Por sua vez, o tenno tanatognosio, cujo sufixo deriva do grego gnosis,
que significa conhecer ou reconhecer, rcfere-se ao diagnóstico da realida-
de da morte, enquanto cronolanatogrlosia significa O conhecimento do
tempo da morte.
O diagnóstico da realidade da morte é tanto mais dificil quanto mais
próximo do momento da morte estiver o cadáver. ~ lógico e evidente
322 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

que cuidados devem ser tomados com a chamada morte aparente - a


catalepsia - , que significa s(ndrome lIervostl e que consiste na cessação dos
movimentos voluntários da consciência.
No que se refere à cronotnnQtognose, Almeida Jr. e Costa Jr. (1974) apre-
sentam um esquema prático para a fixação do momento da morte:

a. Cadáver ainda quente sem rigidez (morte recentíssima, uma a duas


horas);
b. Cadáver com temperatura sensivelmente inferior a 37"C (rigidez na
mandlbula e na nuca, aparecimento de man chas hipostáticas,
ausência de mancha verde: morte há pouco mais de duas horas);
c. Temperatura do cadáver pouco superior à do ambiente (rigidez
total, livores generalizados, ausência de mancha verde: morte há
pouco mais de oito horas);
d . Cadáver frio, rigidez total, tivores, mancha verde inicial (morte
entre 20 e 30 horas).

FENÔMENOS CADAVÉRICOS
Fenômenos Abióticos
1. lmedintos: perda da consciênda, insensibilidade, imobilidade, abolição
do tônus muscular, cessação da respiração, cessação da circulação.
2. Mediatas : perda de peso (valor acadêmico), pergaminhamento da
pele. dessecação das mucosas. achatamento do globo ocular. resfria·
menta do corpo, hip6stase (começa mais ou menos 10 minutos após
a morte, depois de duas horas está quase localizada e de oito a 12
horas observa-se a fixação da hip6stase), rigidez. cadavérica (ocorre
tanto mais rápida quanto mais imediata for a desidratação, e atinge o
máximo em cinco a oito horas, permanecendo por dois a três dias).

Fenômenos Transformativos

Destrutivos

• Autolise: ocorre quando existe uma grande acidificação do meio


interno; o indivíduo morre e se dissolve, não há putrefação.
NOÇOES DE TANATOlOGtA 323

• Pufrefação: a putrefaç30 processa-se em quatro períodos sucessivos,


correspondendo às seguintes fases:
• Fa~ de coloração: compreende, principalmente, a mancha verde
abdominal. ao nível do fígado, aparecendo após a morte, entre
16 e 20 horas, permanecendo por cerca de sete dias.
• Fase gasosa: os microrganismos produzindo gás provocam o inhI-
mescimento das cavidades, principalmente no abdômen; ela per-
manece de uma a três semanas.
• Fase coliquativa: quando ocorre a liquefação dos tecidos; é a fase
do amolecimento, e dura vários meses.
• Fase de tsqlleleti2nção: é a conseqüência inevitável dos processos
acima descritos, que pode levar de alguns meses a alguns anos,
dependendo de vários fatores.
• Maceração: ocorre no meio úmido, principalmente nos afogados.

Conse.rvadores

• Mllmijicaçlfo: este processo ocorre quando há perda rápida de água,


evitando dessa forma a ação das bactérias: geralmente o local é
seco, quente e ventilado, não ocorrendo a putrefação.
• SapotlijiCQçifo: neste processo também não ocorre a putrefação, devi-
do ao cadáver encontrar-se em local com excesso de umidade, ter-
renos argilosos, impermeáveis. Na saponificação, os tecidos são
transformados em adipócera (substância amarelo-escura), conheci-
da também como gordura dos cadáveres, e que apresenta cheiro de
ranço.

QUESITOS UTILIZADOS NO EXAME


TANATOLÓGICO

1. Houve morte?
2. Qual a sua causa?
3. Qual o instrumento ou meio que a produziu?
4. A morte (oi produzida com emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia
resultar perigo comum? (Resposta especificada.)
324 TRAUMATOLOGIA FORENSE E TANATOLOGIA

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PARTE V
,

ASPECTOS RELATIVOS
À ATUAÇÃO
PROFISSIONAL


CAPíTULO 20

DOCUMENTAÇÃO
ODONTOLÓGICA

MOACYR DA SILVA

o cirurgião-dentista tem um trabalho de grande responsabilidade na


sociedade, pois vai cuidar da saúde de seus semelhantes. É exatamente
em função dessa responsabilidade que existem normas éticas e legais
que norteiam o profissional em sua atividade laborativa . Dentre elas, as
que dizem respeito à elaboração de receitas e atestados, ao preenchimen-
to da ficha clInica~ entre outras, demonstram a necessidade de haver um
cuidado especial com a sua documentação em um tríplice aspecto: clíni-
co, administrativo e legal, como chamam a atenção Ramos e Calvielli
(1991). No aspecto clínico, a formação profissional e a vasta literatura
odontológica oferecem os subsídios necessários para a elaboração dessa
documentação; já quanto aos aspectos administrativos e legais, a docu-
mentação de todas as fases da atuação profissional é de suma importân-
cia e estão intimamente relacionadas com o aspecto clínico, podendo a
falta ou fa lha nessa documentação comprometer a sua validade sob o
aspecto legal.
h por essa razão que sugerimos que essa documentação passe a reves-
tir-se das características de um prontwfrio, apto a desempenhar as fun-
ções acima referidas . O primeiro passo para a construção desse prontuá-
rio é o registro da anamtle5e.

327
328 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

REGISTRO DA ANAMNESE

Tendo em vista que a prestação de serviços do ciiUrgiã~entista se ins-


creve na área da saúde, não se pode compreender que essa atuação se
faça desconhecendo o estado geral de saúde do paciente, face às suas
implicações no tratamento odontológico.
Mesmo em um consultório em que o movimento de pacientes seja
considerável, esse problema pode ser contornado com a adoção de ques-
tionário respondido e preenchido diretamente pelo paciente, reservan-
do-se um segundo momento para o contato direto com o profissional,
quando se procederá ao aprofundamento das questões relacionadas com
a sua saúde geral.
Em 1991, Ramos e CalvieUi publicaram trabalho em que a conveniên-
cia da adoção do inventário de saúde do paciente foi analisada e, peja
clareza e atualidade da exposição. será transcrito a seguir. Afirmam os
citados autores que:

-Nos tratamentos odontológicos, em função de sua própria razão de


ser, o estado anterior do paciente (como ele se apresentava antes do
tratamento) não tem como ser provado, a não ser p~o perfeito registro
de suas condições e da documentação circunstanciada de sua evolu-
ção. ~ a documentação odontológica, portanto. uma prova "pré-consti-
turda"; ou é realizada no devido tempo, ou não haverá mais oportuni-
dade para fazê-lo _ Um desses momentos é o que se refere 11 colheita
de dados sobre e saúde geral do paciente, consubstanciado na anam-
nese.
~ ponto pacifico O fato de que, com freqüência. 8 anamnese é redu-
zida ao mlnlmo, ou nem' realizada, porque o cirurgião-dentista não
quer "perder tempo", ou mesmo confia na sua memória. e só frente a
provocações especificas, como o surto de determinadas doenças
(como hepatite ou . mais recen temente. a AIDS) . toma o profissional
alguns cuidados. normalmente os especrficos para essas questões e.
no mais das vezes. de forma inadequada. Por outro lado, é comum o
paciente não declinar eventuais tratamentos a que se esteja submeten-
do, medicamentos que esteja tomando e eté outras queul:as relaciona-
das com a sua saúde geral , porque desconhece as implicaç6es odonto-
lógicas conseqüentes 8 certos estados mórbidos. Não é infrequente,
também. que o paciente esconda certos fatos de sua saúde. por vergo-
nha ou medo de revelá-los.
Tendo em vista que o cirurgião-dentista nao possui o dom da clarivi-
dência. é evidente que não poderá responsabilizar-se pelas conseqüên-
cias de fatos que não lhe foram revelados.
DOCUMENTAÇAO ODONTOLÓGICA 329

E por essa razão que o inventário de saúde do paciente é documen-


to Importante no resguardo da responsabilidade profissional, uma vez
que, respondido pelo próprio paciente e por ele assinado. BS conse-
quênclBs danosas decorrentes da omISSão de informações nio poderão
ser creditadas à culpa profissional."

Apresentamos a seguir uma sugestão de composição de inventário de


saúde que poderá ser adaptado, modificando-se o elenco das perguntas.
• diminuindo-o ou aumentando-o, de acordo com as necessidades especí-
ficas de cada área de atuação profissional (Fig. 20-1).
É evidente que o questiomirio proposto não substitui a anamnese,
mas tem o caráter de introdução ao conhecimento do estado geral do
paciente, propiciando a oportunidade do aprofundamento adequado se
houver ind(cio de alteração patológica, que se connnnará ou não quan-
do da complementação do exame clínico, justificando, inclusive, a solici-
tação de exames complementares.

FICHA CLÍNICA

Não se pode mais admitir que uma ficha clínica contenha apenas as con-
• dições bucais representativas do "orçamento" apresentado ao paciente .
Ela é parte integrante da prontuário e deve estar apta a representar não
apenas o planejamento do tratamento contratada, como também funda-
mentar eventuais alegações relativas às intercorrências da execução do
tratamento.
Assim, o estado geral bucal apresentado pelo paciente, antes de ini-
ciado o tratamento, mesmo quando se trate da intervenção de espedalis-
ta que O recebeu por encaminhamento de colega, deve constar da ficha
c1fnica, até para resguardar eventual responsabilidade por atos operacio-
nais não realizados pelo profissionaL
Por outro lado, o fato de a população brasileira submeter-se à identifi-
cação para expedição da cédula de identidade, geralmente ao completar
a maioridade, toma a ficha clínica importante subsfdio para o reconheci-
mento de menores em casos de catástrofes em que não se possa contar
com outros meios de reconhecimento. O mesmo se diga na eventualida-
de de o cirurgião-dentista ser chamado a colaborar com a Justiça, apre-
sentando esse documento para ser confrontado com as condições bucais
encontradas em corpo ou restos mortais submetidos a processo de iden-
tificação.
33. ASPECTOS RELATIVOS A AT\JAÇAO PROFISSIONAl

o praNOlI que:5t11:1N1l1o tem • lInIIIdade di! .....r O NU ~III • ~ OI ~ eM . . -*


OBrai qui podem In/Iuh' 1"10 seu ItllamenIO ou ,. mecIcaçIo ..... r«eftada. E CONADENCIAl • deWI IM
entregue PESSOAlMENTE AO DENTISTA..

1- lden!dIc:açAo do PKIenI,

n' Esl CM!-


Toe
Em CII., eM
",_
."*"".... nome I ...... di! ian'IaIrql.- poc»_QIlfUCIadI:r.
ToL
Nome. Telefone de NU M6dico:
O, T• .

II - 0IIesIiDnArI0 de ArIamtIne

RaspondI ~ Sl~ ou NÃO h ~ atJ.bo. lllllfalodo. resposta com um X.


01 No I'I'IOITIIWIIO . . . em tratalTlll'lllO rnotdIco _ SItol--.NAo
02 ElIIi IomIIrdo IIDumit medicaçIo no rnorn.r$) _. H_StM NAo
.___._•. NÃO
04 voe•• hemotlllco ,. __ .5IM __ NAo

_....
05 .l. lleVJ$ Uf\Ie o CO<aÇI1Io bI~ mtJrID ~II _.SlM ___ NÃO
08 Sofre de aIgum.I oo.nç. do ecnçAo...
_ _ NAO
D7 Sanl.lalta de ar com tr&q(i6nc!llH' __ ' ._••••. SlM ._..............NÀO
OS
09
10
COStuma ter OI 1141 ou pema. inchadas __ _ ____ ._ _ 51.

T.nIo5HPMlltenlllcom'~:::=_,_---====~
~ ... l acanvu Mngue .
....
SIM
_._ .. __ NAo
_ _ NAO
_ _NAO

" Voe'. dIabêIIoo . _ ...••• _.................._ _.SIM


_ _ NAO
semi, multa _ _ NAO
" C05tUIfII; $ede
Quando .. lerl . as fendas demOram. CICIIfIW
" Sangra
•. SIM
._SIM
__ SIM
_ _NAO
__ NAo
ou
mtJrIO qulncIO . . ,. . utr1II oente
" . SIM ---""O
"" Tem algUm Ilpo de II&rgII
precImu
Algumll YIIZ tomar trwnaludo di! Uf19U1I ........ ....•.SIM ' _ " H •••

_ _ "Ao
NÂO
17 ~ vel.1OmOU ~ (8eNetac:l. J)Of w.npIol- SIM
VoctHtI~ 5,"
" "Ao

OU~.lnrormaÇlOes que julgar ~Intl referir.

SIoPaUo,
'" "'''
OOCUMENTAÇAO OOONTOLOGICA 331

Para que essa contribuição da classe odontológica seja efetiva, há


necessidade de padronização dos registros comumente utilizados pelos
cirurgiões-dentistas, de tal forma que a transmissão dos caracteres obser-
vados seja eficiente e facilitada.
Foi por essa razão que propusemos uma nova maneira de representar
os serviços odontológicos executados e as condições dentárias encontra-
das, utilizando a notação preconizada pela Federação Dentária Interna-
cional, aprovada no Congresso de Bruxelas, em 1970, cujo modelo será
apresentado mais adiante.
A representação dos elementos dentários é feita por meio de retângu-
los divididos em três partes: na parte inferior são representadas as faces
dos elementos dentários ou serviços odontológicos envolvendo o referi-
do elemento; na parte intermediária, é indicado o material utilizado ou a
existência de cárie, por meio de símbolos literais simples. Por fim, na
parte superior, são indicados outros serviços referentes ao elemento den-
tário, tais como tratamentos radiculares, radiografias ou outros.
A simbologia empregada foi estudada e testada em trabalho piloto
para verificar a sua exeqüibilidade e vem sendo empregada na discipli-
na de Odontologia Legal do Departamento de Odontologia Social da
Faculdade de Odontologia da USP, em alguns Institutos Médico-Legais e
na Polícia Militar do Estado de São Paulo.
As anotações da primeira parte da ficha compreendem a qualificação
do paciente (nome, endereço, sexo, estado civil etc.), e as da segunda
destinam-se ao exame das condições bucais anteriores (condições pré-tm-
tamento) e posteriores (co1ldições pós-tratamento) ao tratamento. No que se
refere à anotação de cada trabalho executado no elemento dentário, os
mesmos serão discriminados nos retângulos, de acordo com a notaçã o
adotada pela FO I, recebendo um número formado por dois dígitos.
Esses digitos, para os dentes permanentes, vão de 11 a 48, e para os decí-
duas, de 51.85 (Fig. 20-2).
Nos retângulos que representam cada elemento dentário, em três divi-
sões, serão anotadas as situações do trabalho odontológico, de acordo
com O código elaborado pelos autores (Fig. 20-3), que deverá fazer parte
integran te da ficha ou ser anexado a esta. Assim:

Faces restauradas; trabalhos envolvendo o elemento den-


tário ou exodontias.

Material utilizado ou cárie.

Canais tratados, radiografias, outras observações.


332 ASPfCTOS RElATIVOS A ATUAÇAO PROFISSIONAl

PERMANENTES

QUADRANTE 1 OUADRANTE2
1817 161514 131211 2122 23 24 25 26 27 28

4847Q'544434241 3132 33 34 35 36 37 38
QUADRANTE' QUADRANTE 3

oecfouos

OUADRANTE 5 OUAOAAHTE6
5550453525' 8162638465

85 84 83 82 81 7172737415
OUADRANTE' OUAORANTE7

o código é constituído por uma símbologia literal simples e foi testado


pelos autores, que verificaram a possibilidade de sua utilização por qual-
quer cirurgião-dentista. Abrange a maioria dos trabalhos cotidianamen-
te executados na clfnica geral, embora não seja possível, evidentemente,
abranger todos os serviços executados em todas as especialidades. Em
caso de utiJização de material não-codificado, isso poderá ser anotado
no espaço reservado às observações. Por outro lado, se houver dois
materiais restauradores dJ.(ercntes em um mesmo elemento dentário, 05
mesmos poderão ser representados por meio do código ou referidos
como observação.
Se o dente estiver fntegro, nenhuma anotação será (elta no retângulo
corres pondente ao dente, isto é, retângulo em branco significa dente
íntegro.
Para melhor compreensão, elaboramos um exemplo hipotético que
poderá ser visto nas Figs. 20-4 e 20-5.
DOCUMENTAÇÃO OOONTOlOGtCA 333


b
CanaIs tratadOs - radiografias - OIJIras obserwç&ts

Material utlTlzado ou cãrie

8 Facas restauradas ou lrabalhos envolvendo o elemenlo dentário, ou exodontias.

Espaço (e) - Faces: "O . ocIusar "M - mestar "O. distai" '\... MnguaI"
-V ,. wslibtJlar" , • inclsar
Trabalhos en volvendo os elementos:
"CO - coroa" · PFP - ponta fixa pilar""PF - ponte llu elemento suspenso"
"CP - coroa plv6. "PRG - ponte relT1Ovfvellndlcando elemento como
grampo·
"PR - ponte removlvel elementos colocadOs"
ExodonUa: no espaço colocar a palavra "Exo·
Raiz: no espaço colocar a letra "R"

Espaço (b) - Material utilizado:


"Ag - amálgama" ·Si - cimento de sllicato" °Au - ouro" "LNA -liga nlo
áurica"
ORA _ resina .erRu" °RC - resina composta" "MP - melalop«istlea
Venner"
"MC - melalocerAmlca" .p - porcelana""N - nUcleo· etc.

06S.: Caso lenha sido utilizado algum outro materiel, escrever por
axtenso no espaço ou fazer a cltaçAo no espaço de observações.

Cáries: "C - c4rie"

Espaço (c) - "Tratamento de 1 conduto - 1C"


"Tratamento de 2 condutos - 2C"
"Tretamento de 3 condutos - 3C"
"RX - 58 houyer radiografia daquele elemento"
"INCL - dente Incluso"
·S - INCL - dente seml· lncluso"

NOTA : Observar que, sendo esta uma ficha odontolegal, os trabalhos 1"110 codifica·
dos devem ser descritos minuciosamente na parte relerente a observaç6as
(próteses totaIs, aparelhos ortodÔfltlcos, forma do arco, anodonllas, dentes
extranumerários etc.).

A gurll. 20-3, CódIgo a S8( uUllzado no preenchimento da ficha odon,olegal.


33. ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇAO PROFISSIONAL

PLANO D E TRATAMENTO

Na medida em que estamos trabalhando na área da saúde, é inadmissí-


vel a utilização do termo "orçamento" para definir as conseqüências das
fases de diagnóstico, terapêutica e prognóstico, no mais das vezes impre-
visíveis, em face da resposta biológica do paciente. É por essa razão que
preferimos a expressão "plano de tratamento...., mais condizente com a
realidade da atuação odontológica e que permite, quando necessário,
mod.ificações ao plano inicial, impostas pelas mais diversas razões.
Por outro lado, a situação econômica da maioria da população brasi-
leira impede, muitas vezes, a realização do tratamento técnica e cientifi-
camente mais adequado, de acordo com o avanço experimentado pela
odontologia nas últimas décadas. Assim, ao mesmo tempo em que suge-
rimos a adoção da expressão "plano de tratamento", a possibilidade de
alternativas para alguns procedimentos pode e deve ser objeto de anota-
ções que permitam ao profissional resgatar as condições em que o trata-
mento foi realizado. É evidente que as restrições e limites relativos a
cada hipótese devem ser minuciosamente debatidos entre profissional e
paciente.
Assim, diante da necessidade de reabilitação protética, na impossibili-
dade de arcar com o ônus de uma prótese fixa em metalocerâmica, o
paciente pode optar pela confecção de uma prótese fixa metaJoplástica,
por prótese parcial removível com frezagem, ou até por uma prótese
parcial removível simples. A indicnção adeqltada ao caso, pelo profissional,
deverá ser declarada 110 plano de tratamento, colocando-St a opçdo do paciente e
as sitas razões, expressamente, e colllendo-se a assinatura do paciente para que,
em eventual imputação de inadequação do tratamento, o profissional
possa comprovar que ela não se deveu a imperícia, negligência ou
imprudência.
Cremos não haver necessidade de relevar que, embora presentes as
alternativas acima referidas, o limite é biológico, e o proflssional é o
único apl'o a decidir se a alternativa é condizente com esse limite.
Finalmente, além das anotações relativas ao estado anterior do
paciente, a ficha clínica deve refletir não apenas os atos clínicos realiza-
dos e materiais utilizados, mas também detalhar as ocorrências, como
faltas, (alta de colaboração, condições de higienização e outras que, de
alguma (orma, possam interferir no resultado esperado, pelo paciente ou
mesmo pelo profissional, principalmente porque poderão corroborar as
alegações do profissional quanto ã responsabilidade do paciente pela
não-obtenção de determinado resultado.
DOCUMENTAÇÃO OOONTOLOGtCA 335

Nt do dente Exame das condições bucais Exame das condiç ões bucal.
antes do tratamento apó. o tratamento

Integro Integro
"
17 restauração MOO-amálgama restauração MOO-amálgama
I. Integro Integro
15 integro íntegro
14 cárie MOO Incrustação MOO-ouro
c/2 trat. radic o+ R-X
13 cárie MO prótase fixa-MP c11 trato
radlc. - R-X
12 axodontla prótese fixa metaioplástica
tt exodontia prótese fixa metaiopláslica
21 exodontia prótese fixa metaloplástlca
22 exodontia prótese lita metaloplásUca
23 cárie M prótese fixa pllar-metaloplástlca
24 Integro Integro
25 Integro Integro
2. coroa-metalocerAmlca coroa-metalocerAmica
27 Integro Integro
2. Integro Integro
3. Integro Integro
37 Integro integro
3. cárie O res\. Q-amálgama +
prol. remov_c/ apoio grampo
35 etodonlla prótese removlvel
34 exodonUa prótese removlvel
33 restauração O-silicato rest oO-slllcato +
prót. removoc/apoio grampo
32 íntegro Integro
31 Integro Integro
41 Integro Integro
42 Integro Integro
43 restauração M-sUlcato rest oM-slllcato +
prot. remov_c/apolo grampo
44 exodontla prótese removlvel
45 exodonlia prótese removlvel
4. exodontia prótese removlvel
47 cárie O resl. O-amálgama +
prot. removoc/apoio grampo
4. Incluso exodontia

Figura 20-4. Descrição de um exemplo hipotético.


336 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROASSIONAl

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Faculdade de Odontologia
Departamento de Odontologia Social F1CHAW

FICHA ODONTOLEGAL

NOME: _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ __ _ TURMA NII _ __

I~RugoP"""

" " ' - De..''''. .


""~ - /.- /._ -

18 17 UI 15 ,. 13 12 11 21 22 23 2A 25 21 'Z1 28
55 54 53 52 51 81 e2 53 &4 85
85 B4 83 82 81 71 72 73 74 75
48 47 48 45 .... 43 42 41 31 32 33 34 35 :te 37 38

/,"CLI ~ IEXolEXal.J ~ I I I I I I: 1=1,,01 ~ I I 1I


"""""'-
~_ /_ I._-

1:1:ld .. II~II I
2C teR)(
Ag A.U MP MP MP

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17
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PFP PF
13
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12
PF
\I 21 22 2:!
.. 25 71 28
55
85
50 53
B3 .2
51
81 "
71
82
72
83
73 74
55
75

Figura 20·5 .
DOCUMENTAÇÃO ODONTOLÓGICA 337

RECEITAS

As receitas serão analisadas como pertinentes ao prontuário odontológi-


co e, como tal, analisadas como um documento odontolegal, cuja cópia
deverá ser anexada ao prontuário do paciente.
O Código de Ética Odontológica, complementado no Estado de São
Paulo pela Decisão CRO-SP 29/83, define as inIonnações obrigat6rias e
as facultativas a serem inseridas no papel receituário. De acordo com os
Artigos 29 e 30 do CEO e li da referida Decisão. essas infonnações res-
tringir-se-ão a:

a. Nome completo do cirurgião-dentista.


b . Profissão.
c. Número de inscrição no CRO sob cuja jurisdição esteja exercendo
sua atividade.
d. As especialidades odontológicas nas quais o cirurgião-dentista es-
teja inscrito.
e. Títulos de fonnação acadêmica mais significativos na profissão.
f. Endereço, te1efone, horário de trabalho, convênios e credenciamentos.

Os itens Q, b e c são obriga tórios e os demais, facultativos.


Ainda, achamos por bem que o profissional, alm,. dos dados acima,
inclua no receituário os relativos a outras inscrições:

CPF -Cadastro de Pessoa Física da Receita Federal.


CCM - Inscrição de Contribuinte do Cadastro Mobiliário (prefeitura).
INSS -Inscrição no Instituto Nacional de Seguridade Social.

Na nossa atividade docente, temos abordado inúmeras questões ati-


nentes aos cuidados que devem ser tomados pelo cirurgião-dentista,
quando este se depara com a necessidade de prescrever medicamentos
para o seu paciente. O nosso ponto de vista sobre a matéria foi muito
bem apreendido por Cardozo e Calvielli (1988), docentes do Departa-
mento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia da USP, em
artigo publicado na revista Odont610g0 Moderno, razão pela qual optamos
por traosaevê-lo abaixo:

~Não obstante a atuação do cirurgião-dentista se faça, de maneira pre-


ponderante , diretamente nos elementos dentários e tecidos de susten-
tação, muitas vezes ele necessitará prescrever ou aplicar especialida-
des farmacêuticas como meio de tratamento .
338 ASPECTOS RELATIVOS A ATUACÃO PROFISSIONAL

A prescrição. diferentemente dos demais atos profissionais. resultará


em um documento que exige o preenchimento de determinados requi.
sitos, objeto da lei 5.991 , de 17, 12,1973- , que 'dispõe sobre o con-
trole sanitário. do comércio de drogas, medicamentos. insumos farma-
cêuticos e correlatos e d' outras providências'.
Assim. no Artigo 35. do Capftulo VI - 'Do receituário' - e referida lei
estabelece que:
'Art. 35 - somente será aviada a receita:
8. que estiver escrita a tinta. em vemáculo, por extenso e de modo
legfvel. observados 8 nomenclatura e o sistema de pesos e medidas
oficiais;
b. que contiver o nome e o endereço residencial do paciente e. expres-
samente, o modo de usar e medicação;
c. que contiver a data e a assinatura do profissional, endereço do con-
sultório ~ ou residência. e o numero de inscrição no respectivo Con-
selho Profissional.

Parágrafo Unico - O receituário de medicamentos entorpecentes ou


a estes equiparados e os demais sob regime de controle. de acordo
com a sua classificação. obedecerão às disposições da legislação
Federal Especifica."
A Resolução n· 151. de 16.07.83-·. do Conselho Federal de Odon-
tologia, que aprovou o Código de ~tica Odontológica vigente. acompa·
nha. nos seus Artigos 31 e 32. a lei maior.
Além dos aspectos formais e legais acima referidos le obviamente
dos cientfficos: que não serão obJeto do presente uabalhol . o cirur-
gUio-dentista deverá levar em consideração três aspectos que não
podem ser negligenciados na prescrição 80 paciente: o culrural. o eco-
ndmico e o cientifico .

• Em 1993. pelo Decreto n' 793. de .........• a redação do Ar! 35 da Lei 5.991 / 73 foi
alterada. esmbe1ec:endo que:
Art .35. Somente será aviada a receita médica ou odontológica que:
I - contiver a denominaç-Jo genérica do medicamento prescrito;
n - estiver escribl a tinbl, de modo IcgfveL observados a nomenclatura e o
sistema de pesos e mecHdas oficiais. indicando a posologia e a duração
total do tratamento;
m - contiver o nome e o endereço do paciente;
IV - contiver a data e a assinatura do profissional. endereço de seu consul-
t6rio ou residência, e o número de insaição no respectivo Conselho
Regional.
··0 Código de ~tica Odontol6gica referido no texto foi revogado pela Resolução
CFO-I79, de 19/ 12/1991. que aprovou o novo Código de ~tica . atualmente em
vigor. e 85 disposições dos Artigos 31 e 32 estio previstas nos Artigos 29 e 30 do
alual Códlgo_
DOCUMENTAÇAO ODONTOL001CA 339

No que tange ao aspecto cultuml, o cirurgião-dentista deve atentar


para o fato de que o paciente pode ser alguém não afeito li terminolo-
gia odontológica_
Disso decorre que as explicações pormenorizadas, acerca do uso da
droga, não devem ser encaradas como perda de tempo ou subestima-
ção da capacidade de entendimento do paciente. Quantas vezes o
gesto de assentimento esconde apenas o desejo de não parecer igno·
rante aos olhos do profissional. Outras, pode traduzir o receio que a
situação de consultório lhe traz. O cirurgião·dentista deve certificar-se
de que suas explicações foram entendidas, e para isso deve lançar mão
de termos acesslveis para aquele determinado peciente.
Por outro lado, o intervalo de tempo durante o qual a droga deverá
ser utilizada encerra a averiguação dos hábitos do paciente, para que
possa ter os efeitos obJetivados. A costumeira prescrição de ·uso após
as refeições" deve ser precedida do conhecimento dos hábitos do
paciente nesse campo. Pode tratar-se de paciente que faça , por qual-
quer razão, apenas uma refeição por dia e, nessa eventualidade, como
ele irá resolver quando tomar o medicamento?
Os exemplos poderiam multiplicar-se nesse aspecto, mas até o ane-
dotário que corre nesse campo demonstra que o assunto deve merecer
maior atenção por parte do profissional.
Quanto ao aspecto econ(Jmlco, podemos afirmar que atualmente ele
se reveste de grande importancia. dado o custo dos remédios.
O cirurgião-dentista, ao decidir por determinada posologia, tem a obriga-
ção de prescrever congruentemente em relação à quantidade que deverá
ser adquirida pelo paciente. Hoje já se encontram embalagens condizentes
com o uso por tempo razoavelmente curto. Dessa forma. como no exemplo
prático mais adiante, o prOfissional deve atentar para o cálculo entre a
quantidade do medicamento que o paciente irá consumir e aquela declinada
na receita. Ao prescrever um antiinflamatório para ser ingerido de seis em
seis horas. sabendo que o paciente irá necessitar do mesmo por 48 horas,
aproximadamente, a quantidade necessária será quatro (drágeas, comprimi-
dos etc.) por dia (4 x 2 = 8 unidades).
Imaginemos que existam li venda embalagens do anti inflamatório
com' O e 20 unidades. E óbvio que a preferência do profissional deve
recair na indicação de uma caixa com 10 unidades, e isso por uma
razão muito simples: se a quantidade da embalagem indicada for insu-
ficiente, o paciente não Irá tomar a droga pelo tempo considerado
necessário pejo profissional para conduzir ao efeito desejado; se a
quantidade indicada for muito superior. o restante , muito provavelmen ~
te, servirá para automedicação em qualquer oportunidade, com eviden-
tes riscos para o automedicado.
Finalmente, o aspecto cientffico diz respeito ao domfnio que o profissio-
nal deve ter sobre o conhecimento cientffico das drogas por ele receitadas.
340 ASPECTOS RaA-nvOS A ATUAÇÃO PROASSIONAl

~ nesse aspecto que se evidencia o acerto da íntroduçio da dísciplina de


Metodologia Cientffica no currfculo mrnimo odont~ico .
O cirurgião-dentista tem o dever laté leg81) de conhecer os aspectos
farmacológicos daquilo que prescreve, mas deve também saber inter-
pretar a bibliografia apresentada pelos laboratórios, bem como saber
analisar os resultados apresentados . Não se pode conceber um profis-
sional que seja simplesmente ' repetidor de bulas'· .

ATESTADOS ODONTOLÓGICOS
Assim como as receitas. os atestados constituem documentos legais e, a
fim de que não surjam problemas legais, o cirurgião-dentista deve tomar
alguns cuidados com a sua reda~ão e sobre a oportunidade de oferecê-lo.
Conhecido o papel receituário mide costumeiramente os cirurgiões-
dentistas e médicos fazem a redação dos seus atestados, vamos nos ater,
agora, ao modlls fociendí do mesmo.
Um atestado é constihúdo por várias partes, sendo a primeira delas
aquela relativa às qualificações do profissional, que, como vimos, faz
parte do impresso (papel receituário) no qual vai redigir o atestado.
Em seguida virão a qualificação do padente, sua identificação e a
finalidade a que se destina, isto é, se para fins trabalhistas, escolares, espor-
tivos ou militares (e nunca para os devidos fins), podendo ser incluída a
informação de que foi fonnulado a pedido do interessado.
Finalmente, na sua terceira parte, o àrurgião-dentista declarará que o
paciente esteve sob seus cuidados profissionais sem especificar a nature-
za do atendimento (quando exigida a sua natureza, o profissional deve
valer-se do Código lntemacional de Doenças, cujos códigos de interesse
para a odontoiogia encontram-se especificados no Capítulo 21), seguin·
do-se uma breve conclusão relativa às suas conseqOências (impossibili-
dade de com parecer ao trabalho; que esteve sob seus cuidados profissio-
nais de tal hora a tal hora ou, então, que o mesmo deve guardar repouso
por tanto tempo quanto necessário) . Cada caso é um caso. Assim, o pro-
fissional irá concluir sobre o tipo de afirmação que fará no caso concreto,
tendo em vista que uma afirmação que não corresponda à verdade
poderá acarretar·lhe a imputação de falsidade ideológica, crime previsto
no Artigo 299 do Código Penal.
A seguir, exemplos hipotéticos de atestados que poderão ser adapta-
dos ao caso concreto:
DOCUMENTAÇÃO ODONTOLOGICA 341

A testado paf1J justiflCllçlo dtJ '.It. 110 tr.blllho

Atestada

Atesto, para fins trabalhistas e a pedido do interessado, que o Sr.


Fulano de Tal. portador da cédula de identidade RG ......• ...•...••• este--
ve , nesta data. sob meus cuidados profissionais, das ...... as ......
horas.

Local. data

Assinatura do profissional
CRO n· .....
Atestado para justiflcaçlo de '1Ilta de a/uno menor A escola

Atestado

Atesto. para fins escolares e a pedido do seu genitor. que o menor


Beltrano de Tal esteve sob meus cuidados profissionais nesta data ,
sendo·lhe recomendado repouso por 241vinte e quatro I horas .

Local, data

Assinatura do profissional
eRO na.. ....

A testado de condiç6es bucais paTIJ ingresso em firmas, asco/as e clu-


bes (o exemplo dado sed parll fins esportivos)

Atestado

Atesto. para fins esportivos e a pedido do interessado, que o Sr.


Sicrano de Tal, portador da cédula de identidade RG .............. esteve,
nesta data. em meu consultório, tendo sido submetido a exame odon·
tológico completo, tanto das estruturas mineralizadas como também
dos teCidos moles. permitindo atestar que o mesmo apresenta condi·
ções bucais satisfatórias.

Local , data

Assinatura do profissional
CRO nl •••••
342 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇAO PROFISSIONAL

MODELOS

Ao lado da sua função odontológica, os modelos podem constituir ele-


mentos de prova judicial. Diante da dificuldade de serem arquivados
todos os modelos de prótese ou outros serviços odontológicos, recomen·
da-se a guarda, pelo menos, dos casos mais complicados, tiranrlD-5e uma
fotocópia do modelo em gesso, dos demais casos, e anexandD-a ao pron·
tuária do paciente.

RADIOGRAFIAS

Um dos exames complementares mais realizados pelo cirurgião-dentista


é o exame radiográfico.
As radiografias estão presentes, na maioria dos processos, como maté-
ria de prova . Freqüentemente, porém, ao ser requisitado O material ra·
diográfico pelos peritos ou assistentes técnicos, ou mesmo quando
necessária a sua juntada para corroborar as alegações do cirurgião-den-
tista, este não as encontra no seu arquivo, porque "estão soltas dentro da
gaveta do arquivo" e ele não pode precisar a quem pertencem, ou não
foram reveladas e fixadas adequadamente, tomando-se imprestáveis
para esse fim.
Porque constituem, na maioria das vezes, importante matéria de prova,
chamamos a atenção dos profissionais para a necessidade de adotarem o
sistema de duplicação das mesmas, preventivamente, ou, na eventuali-
dade de serem requisitadas pela Justiça ou quando pedidas pelo pacien-
te, duplicarem o original, fazendo a entrega da cópia, uma vez que
representam o embasamento de atos operacionais realizados pelo profis-
sional.

ORIENTAÇÃO PARA O PÓS-OPERATÓRIO OU


SOBRE IDGIENIZAÇÃO

Também representam provas sobre o dever de cuidado. Podem ser ela-


boradas em impressos próprios ou não, sendo importante que sejam
entregues mediante assinatura de recebimento, na cópia ou em livro de
protocolo.
DOCUMENTAÇÃO ODONTOLÓGICA 343

ABANDONO DE TRATAMENTO PELO PACIENTE

Fato que não é incomum, o abandono do tratamento pelo paciente


necessita ficar comprovado, com vistas à responsabilidade profissional.
Na ocorrência de faltas ou quando o paciente deixa de agendar consul-
tas programadas para a continuidade do tratamento, o cirurgião-dentista
deve acautelar-se, expedindo correspondência registrada (com aviso de
recebimento) em que solicita o seu pronunciamento sobre as razões do
impedimento. Na falta de resposta, a correspondência deve ser reiterada
no prazo de 15 ou 30 dias, para que o abandono fique caracterizado.
Essa convocação, nos mesmos termos e prazos, pode ser realizada
também por telegrama fonado com cópia (que servirá como prova).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos afirmar que o prontuário preconizado é passível de ser realiza-
do por todo e qualquer profissional, podendo ser modificado ou adapta-
do à sua administração do consultório, desde que atenda às exigências
legais para poder ser reconhecido judicialmente.
No caso de profissionais cuja cUnica seja diferenciada economicamen-
te, podem ser acrescentadas ao prontuário básico, radiografias panorâ-
micas, fotografias, vídeos, enfim, tudo o que constituir documentação
odontolegal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arbenz co. Medicina Uga/ r Âfltropologl4 Form~. Rio de Janeiro. 510 Paulo. Livraria
Atheneu, 1988.
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Lei n· 5.081 , de 24 de agosto de 1966 - Regulamenta o exerdcio da Odontologia .
Lei n· 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o controle sanitário d o comér-
cio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras
providências.
344 ASPECTOS RElATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

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Rtv As! P"ul Cirurg Dmt 1971,31 (5).
CAPíTULO 21

CLASSIFICAÇÃO
INTERNACIONAL DE
DOENÇAS (CID) DE,
INTERESSE PARA A AREA
ODONTOLÓGICA

M ARIA ERCILIA DE ARAWO

POR QUE UTILIZAR A CLASSIFICAÇÃO


INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID)

Uma classificação de doenças pode ser definida como um s istema de


categorias pa ra O qual as e ntidades m órb idas são alocadas de acordo
com cri térios preestabelecidos. O propósito da OD é permitir a análise
sistemática, a interpretação e a comparação dos dados de mortalidade e
morbidade, coletados nos diferentes países ou áreas e em diferentes épo-
cas. A 00 é usada para traduzir diagnósticos de doenças e outros p~
blemas de saúde a partir de um código alfanumérico, o que permite.
facilmente, o arquivamento, a recuperação e a anáüse das informações.
Na prática, a ao tomou-se a classificação diagnóstica padrão inter·
nacional para todos os propósitos epidemiológicos gerais e para muitos
propósitos administrativos da saúde. Estes incluem a análise da situação

345
346 ASPfCTOS RELATIVOS À ATUAÇAO PROFISSIONAl

geral de saude de grupos populacionais e o monitoramento da incidên-


cia e da prevalência de doenças e de outros problemas de saúde em rela-
ção a outras variáveis, tais como as características e as circunstâncias dos
indivfduos afetados. A ao não foi preparada, nem é adequada, para
indexar as entidades clinicas distintas. Há também algumas restrições
quanto ao uso da CID para estudos de aspectos financeiros, tais como
cobranças ou alocação de recursos.
A CID pode ser usada para classificar doenças e outros problemas de
saúde registrados em muitos tipos de registros de saúde vitais. Seu uso
inicial era o de classificar causas de morte como anotadas nos registros.
Depois, seu escopo {oi estendido para incluir diagnósticos em morbida-
de.
Ê importante notar que, embora a CID seja primariamente designada
para a classificação de doenças e lesões com um diagnóstico formal, nem
todo problema ou razão para entrar em contato com serviços de saúde
pode ser categorizado desta maneira . Conseqüentemente, a CID d~
conta de uma ampla gama de sinais, sintomas, achados anormais, quei-
xas e circunstâncias sociais que podem ocupar o lugar de um diagnósti-
co em registros relacionados à saúde. EJa pode entào ser usada para clas-
sificar dados registrados sob títulos como "diagnóstico", "razão para a
admissão", "afecçOes tratadas "e "motivo de consulta", que aparecem
em urna ampla variedade de registros de saúde, a partir dos quais deri-
vam estattsticas e outras informações da situação de saúde.
Desta forma, no campo da odontologia, a ao deve ser usada princi-
palmente pela necessidade de se manter o segredo profissional, que
deve ser analisado sob dois aspectos - ético e jurídico -, para que se
possam entender os limites da atividade dos cirurgiões-dentistas.
"Sob o ponto de vista jurídico, o Código Penal Brasileiro adotou a fór-
mula genérica, impondo, em seu Art. 154 (Violação do Segredo
Profissional), o dever de sigilo a todos aqueles que têm dele conheci-
mento em função de ministério, ofício ou profissão. Devendo existir um
nexo de causalidade entre o conhecimento do segredo e o exerdcio da
atividade, sendo que a revelação deste somente se fará se houver justa
causa".6 (Silva e Calvielli, 1988).
Na prática , os motivos da justa causa serão analisados e sopesados
pelo juiz penal, diante do caso concreto, e a ele caberá decidir pela licitu-
de da revelação.
É. pois, no campo ético que a violação do segredo profissional encon-
tra as suas mais ~rias implicações, "ficando patente a responsabilidade
do cirurgião-dentista na manutenção da confiança depositada pelo
paciente no profissional". (Silva e Calvielli, 1988).
CLASSIFICAÇAO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICIOI 347

o Código de Ética Odontológica, em seu Art, 9'!, dispõe sobre o dever


~tico da guarda do segredo, enumerando algumas hipóteses de revela·
ção por justa causa,

Art, 9'- . Constitui infração ética:


Revelar, sem justa causa , fato sigiloso que tenha conhecimento em
razão do exercrcio de sua profissão.

o cirurgiàcrdentista tem acesso a informações imprescindíveis para o


bom andamento da terapêutica odontológica, tais como sobre doenças
infecto-contagiosas que o paciente apresente ou já tenha apresentado.
Fato dessa natu,reza deve ser tratado sigilosamente, pois entende-se
que sua notoriedade não é desejada, sendo danosa socialmente ao
paciente.
Garante-se O sigilo para que "o paciente possa sentir·se em liberdade
para transmitir ao profissional o fato, sem o constrangimento de imaginar
que, através do profissional, este se tome público". (Ramos, 1994).
"Na dúvida, o prudente ~ calar, porque o silêncio ~ protegido pela lei,
não a inconfidência". (Shafer, 1979),

QUANDO UTILIZAR A CID

A CID deve ser utilizada sempre que se fizer necessário Oestabelecimen-


to de um diagnóstico em documentos odontolegais.
Não podemos esquecer que o proflSsional está lidando com um orga·
nismo vivo. A odontologia não é apenas dente, mas dente e anexos, e
precisamos relacionar o c:irurgião-dentista com doenças sistêmicas e sua
atividade dentro da comunidade.
O cirurgião-dentista pode ser o primeiro a diagnosticar várias doen·
ças sistêmicas que apresentem manifestações bucais, como neoplasias,
HIV etc.
Os procedimentos corriqueiros, como receitar e fornecer atestados,
embora rotineiros e aparentemente simples, apresentam aspectos e con-
seqüências de ordem legal que não podem ser desconhecidos,
Portanto, o uso mais freqüente da CID ~ quando se redige um atestado.
Souza Lima define o atestado como "a afirmação simples e por escrito
de um fato médico e suas conseqüências", (Arbenz, 1988).
Vejamos como fazê-lo, uma vez que os atestados têm normas fixas,
348 ASPECTOS RELATlVOS À ATUACAO PROFISSIONAL

NORMAS CLÁSSICAS PARA A ELABORAÇÃO


DE UM ATESTADO (ARBENZ, 1988;
DARUG E E MASSINI, 1978)

1. Cabeçalho: qualificação do p rofissional.


2. Qualificação da pessoa (paciente) e o fim a que se destina.
3. Estado mórbido. demais fatos e suas conseqüências. sem especi.ficar
a natureza do problema existente - 00.
4. Conclusão: conseqüências do que foi apurado.
5. Data e assinatura.

Quando da elaboraç:io do item 3, não devemos esquecer as normas de


segredo profissional e, para contornar a situação, basta usar a CID.

Exemplos de Atestados (Arbenz. 1988):

• Atestados Clínicos - Têm múltiplas finalidades. entre as quais certifi-


car as condições de sanidade ou doença, intervenção e suas conse-
qüências, impossibilidade de campa,recimento ao trabalho por
detenninados dias etc.
• Atestados de sanidade - "Laudos de capacidade (fornecidos por p~
H

fissionais de instituição oficial ).


• Atestados paTa fins previdenci4rios - Como, por exemplo, os de doen-
ças profissionais e aquelas produzidas pelo trabalho, que são de
notificação compulsória. Entretanto, um atestado de infortúnio
para obtenção de benefícios pa ra o acidentado pode ser rejeitado
pelo órgão previdenciário por falta de diagnóstico. Invocar o segre-
do profissional nesse caso não tem sentido, visto que existe a possi-
bilidade de se contornar a situação, bastando para isso usar a
Classificação lntemadonal de Doenças - CID.

COMO USAR A CID

Embora a 00 seja adequada para muitas aplicações diferentes, ela nem


sempre permite a inclusão de detalhes suficientes para algumas especia-
lidades, e às vezes pode ser necessária a informação acerca de diferentes
atributos das afecç6es classificadas. Foi também sugerido que a CID
CLASSIFICACÃO INTERNACIONAl DE DOENÇAS CCIO) 34.

deveria incluir classificações de infonnações adicionais relacionadas com


o estado de saúde ou a assistência médica.
Julgou-se que o corpo da CID (a classificação de três e quatro caracte-
res), representado pelos três volumes da CID-I0 (OMS, 1993), poderia
não incorporar todas essas infonnaçOes adicionais e tomá-las acessfveis
e relevantes para seus usuários tradicionais, de modo que surgiu a idéia
H
de uma "famllia de classificações de doenças e de problemas relaciona-
dos à saúde, incluindo volumes publicados separadamente do corpo da
aD para serem usados, quando necessário.
A classificação " nuclear" da 00-10 (OMS, 1993) é o c6cUgo de três
caracteres, que é o nível exigido de codificação para infonnes internacio-
nais ao banco de dados sobre mortalidade da OMS e para comparações
internacionais gerais.

CLASSIFICAÇÕES RELACIONADAS AO
DIAGNÓSTICO

Adaptações para Especialidades


As adaptações para especialidades geralmente reúnem, em um único
volume compacto, as seções ou categorias da CID que são relevantes
para uma dada especialidade. As subcategorias de quatro caracteres da
ao são mantidas, mas dão-se muito mais detalhes, por meio de subdi-
visões de quinto ou, às vezes, sexto caracter, havendo também um índice
alfabético de termos relevantes. Outras adaptações podem (ornecer defi-
nições de glossário de categorias e subcategorias na especialidade.
As adaptações (oram freqüentemente desenvolvidas por grupos inter-
nacionais de especialistas, mas grupos nacionais às vezes têm publicado
adaptações que depois têm sido usadas em outros paIses. A lista mostra-
da a seguir inclui algumas das principais adaptações a especialidades
existentes hoje em dia. Entre elas: oncologia, dermatologia, neurologia,
reumatologia e ortopedia, pediatria e transtornos mentais.

Odontologia e Estomatologia
A terceira edição da Aplicação da Oassmcação Internacional de Doenças
à Odontologia e Eslomatologia (CID-OE), baseada na CrD-I0, está em
preparação para publicação pela OMS. Destina-se a reunir categorias da
350 ASPECTOS RELAnVOS À ATUAC.lO PROFISSIONAL

CID para doenças ou afecções que ocorram ou tenham manifestações,


ou, ainda, tenham associações com a cavidade oral e estruturas adjacen-
tes. Fornece maiores detalhes que a CID-lO, por meio de um quinto
caracter, mas o sistema de numeração é organizado de tal modo que a
relação entre um código da CID-OE e o código CID do q ual ele foi deri-
vado seja imediatamente óbvia e os dados das categorias CID-OE pos-
sam ser rapidamente incorporados às categorias CIO (OMS, 1993).

PRINCÍPIOS GERAIS DE CLASSIFICAÇÃO


DE DOENÇAS
William Farr declarou, em 1856, que a "Oassificação é um método de
generalização". Várias classificações p<XIeDl.. então, ser usadas com van-
tagens e o médico, o cirurgião-dentista, o patologista ou o jurista, cada
um do seu ponto de vista, podem legitimamente classificar as doenças e
as causas de morte da maneira que lhes parecer mais adaptada para faci-
litar seus inquéri tos e produzir resultados gerais.
Uma classificação estatistica de doenças deve restringir-se a um
número limitado de categorias mutuamente exclusivas, capaz de dar
conta do conjunto das afecçôes mórbidas . As categorias devem .ser esco-
lhidas para facilitar o estudo estatístico dos fenômenos da doença. Uma
entidade mórbida espedfica de importância particular para a saúde
pública ou que ocorre freqüentemente deve ter sua própria categoria.
Também existem categorias que serão atribuídas a grupos de afecçõe5
separadas, mas correlacionadas. Toda doença ou afecção mórbida deve
ter local bem definido na lista de categorias. Conseqüentemente, em
toda a classificação haverá categorias residuais para outras afecções e
para uma miscelânea de afecçqes que não puderam ser alocadas em
categorias mais específicas. O menor número possível de a(ecçôes deve
ser classificado em categorias residuais.

A ESTRUTURA BÁSICA E OS PRINCÍPIOS DE


CLASSIFICAÇÃO DA CID
A ao é uma classificação de eixo variável. A estrutura foi desenvolvida a
partir daquela proposta por William Farr nas primeiras fases das discus-
sões internacionais sobre a estrutura de classificação. Seu esquema preco-
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID) 351

nizava que, para todos os propósitos práticos e epidemiológicos, os dados


estatísticos sobre doenças deveriam ser agrupados do seguinte modo:

• Doenças epidêmicas
• Doenças localizadas
• Doenças localizadas dispostas por local de acontecimento
• Doenças de desenvolvimento
• Traumatismos

Esse modelo pode ser identificado nos capftulos da OD-lO (OMS,


] 993). Sobreviveu ao teste do tempo e, de modo mais ou menos arbitrá-
rio, ainda é visto como a estrutura mais útil para propósitos epidemioló-
gicos gerais do que quaisquer das opções testadas.
A CID básica é uma lista de códigos de categorias de três caracteres,
cada uma das quais pode ser dividida em até dez subcategorias de qua-
tro caracteres. Em lugar do sistema de código puramente numérico das
revisões prévias, a Décima Revisão usa um código alfanumérico com
uma letra na primeira posição e um número nas segunda, terceira e quar-
ta posições. O quarto caracter segue-se a um ponto decima1. Os números
de códigos possíveis se estendem de AOO.O a Z99.9. A letra U não é usada.

Volumes
A OD-I0 compreende três volumes: o Volume 1 contém as principais
classificações, o Volume 2 fornece orientação aos usuários da ao, e o
Volume 3 é o índice Alfabético da Classificação.
Grande parte do Volume 1 é ocupada pela classificação principal,
composta pela lista de categorias de três caracteres e pela lista tabular de
inclusões e subcategorias de quatro caracteres. A classificação nuclear -
lista de categorias de três caracteres - é o nível obrigatório para informar
o banco de dados de mortalidade da OMS e para comparações interna-
cionais gerais. Esta classificação nuclear também relacion a titulos de
capítulos e de agrupamentos. A lista tabular, que dá o detalhamento
completo em nível de quatro caracteres, é dividida em 21 capitulos.

Capítulos
A classificação está dividida em 2] capítulos. O primeiro caracter do
código CID é uma letra, e cada letra está associada a um capítulo especí-
fico, excetuando-se a letra D, que é usada tanto no Capítulo U, "Neo-
352 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇÃO PROASSIONAl

plasias", como no Capítulo ro, " Doenças do Sangue" e dos órgãos


Hematopoéticos e Alguns Transtornos que Comprometem o Mecanismo
lmunitário, e a letra H, que é usada tanto no Caprtulo VTI, "Doenças dos
Olhos e dos Anexos", como no Capítulo vm, "Doenças do Ouvido e do
Processo Mast6ide", Quatro capítulos (I, ll, XIX e XX) usam mais do que
uma letra na primeira posição de seus códigos.
Cada capftulo contém categorias de três caracteres em número sufi-
ciente para cobrir seu conteúdo, mas nem todos os códigos disponíveis
são utilizados, deixando espaço para revisão e expansão futuras.
Os Capítulos I a XVU relacionam-se a doenças e outras afecções mór-
bidas, e o Capítulo XIX a traumatismos, envenenamento e algumas
outras conseqüências de causas externas. Os capítulos restantes comple-
tam a amplitude do assunto ora compreendido em dados diagnósticos.
O Capítulo xvm cobre sintomas, sinais e achados clínicos e laboratoriais
anormais, não classificados em outra parte. O Capítulo XX, "Causas
Externas de Morbidade e Mortalidade", foi tradicionalmente usado para
classificar causas de traumatismos e envenenamento, mas desde a nona
revisão também tem sido usado para qualquer causa externa de doenças
e outras afecções mórbidas registradas. Finalmente, o Capítulo XXI,
"Fatores que Influenciam o Estado de Saúde e de Contato com Serviços
de Saúde", se destina à classmcaç30 de dados que explicam o motivo de
consulta para serviços de saúde de uma pessoa não doente atualmente,
ou as circunstâ ncias nas quais o paciente está recebendo assistência
naquele tempo particular ou de outra forma dando algum suporte na
assistência daquela pessoa.

Agrupamentos de Categorias
Os capítulos estão subdivididos em agrupamentos de categorias homo-
gêneas de três caracteres. No Capítulo I, OS títulos dos agrupamentos
refletem dois eixos de classificação - modo de transmissão e grande
grupo de organismos infectantes . No Cap[tulo TI, o primeiro eixo é o
comportamento da neoplasiai e dentro do comportamento, o eixo princi-
pal é por localização de acometimentos, embora algumas poucas catego-
rias de três caracteres sejam fornecidas para tipos morfológicos impor-
tantes (por exemplo, leucemias, linfomas, melanomas, mesoteliomas,
sarcoma de Kaposi) . A amplitude de categorias é dada entre parênteses
após cada título do agrupamento.
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS 1001 353

Categorias de Três Caracteres


Dentro de cada agrupamento, algumas das categorias de três caracteres
são para afecçOes isoladas, escolhidas devido ã sua freqüência, gravida-
de ou suscetibilidade à intervenção de saúde pública, enquanto outras
destinam-se a grupos de doenças com alguma característica comum. Há
usualmente previslio para "outras" afecções a serem classificadas, per-
mitindo a inclusão de muitas afecções diferentes, porém mais raras,
assim como afecções "não-especificadas".

Convenções Usadas na Lista Tabular

Na listagem de termos de inclusão e exclusão na lista tabular, a CID


emprega algumas convenções especiais relacionadas com o uso de
parênteses, colchetes, a abreviatura "SOE" e a frase "não classificada em
OUITa parte" (NCOP). Essas convenções necessitam ser adequadamente
compreend idas, tanto por codifica dores quanto por qualquer um que
deseje interpretar estatísticas baseadas na 00.

Parênteses ( )

Os parênteses são usados no Volume 1 em duas situações importantes:

1. Os parênteses são usados para abarcar palavras suplementa res, que


podem seguir um termo diagnóstico sem afetar o número de meti-
go ao qual as palavras fora dos parênteses estariam alocadas. Por
exemplo, em 110, onde o termo inclusão, "Hipertensão (arterial)
(benigna) (essencial) (maligna) (primária) (sistêmica)" implica que
110 é o número de código para a palavra "Hipertensão" somente ou
quando qualificado por quaisquer ou por qualquer combinação das
palavras entre parênteses.
2. Os parênteses são também usados para incluir O código ao qual se
refere um termo de exclusão. Por exemplo: HOl.O, Blefaroconjun-
tivite (HI O.5).
354 ASPECTOS RELATrvOS A ATUA.çAO PROFISSIONAL

Colchetes [ 1

Os colchetes são usados:

1. Pa ra incluir sinônimos, palavras alternativas ou frases explicativas


- por exemplo, A30 Hansenlase [Lepra).
2. Para referir-se a notas prévias - por exemplo: COO.8 Lesão invasiva
do lábio.
3. Para referir-se a um conjunto de subdivisões de quatro caracteres já
enunciados, comuns a várias categorias - por exemplo: K27 Úlcera
péptica. local não-especificado.

As letras SOE são uma abreviação de Usem outra especificação", impli-


cando "não-especificado" ou "não-qualificado".

" Não-Classificados em Outra Parte" I "NCOP"

As palavras "não-classiHcados em outra parte", quando usadas em um


título de categoria de três caracteres, servem como alerta de que algu-
mas variantes especificadas das afeções listadas podem aparecer em
outras partes da classificação. E, quando usadas no corpo da lista, indica
que outras variações especificas daquele termo sAo classificadas em
outra parte e que, quando necessário, deve-se procurar O termo mais
específico no Índice.

Referências Cruzadas
As referências cruzadas são usadas para impedir duplicações desneces-
H
sárias. A palavra "ver requer que o codificador se dirija ao outro termo;
"ver também" indica que o codificador deve procurar também em outra
parte do fndice se o enunciado que está sendo codificado contém outras
informações que não se acham identificadas sob o termo ao qual "ver
também" está ligado.
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CIDI 355

DISPOSIÇÃO DO ÍNDICE ALFABÉTICO


o Volume 3 está dividido em três .seções, como segue:
• A Seçbo I relaciona todos os termos classificados nos Capitulos I a
XIX e no Capítulo XXI, exceto drogas e outros compostos qufrnicos.
• Seção 11 é o índice de causas ex ternas de morbidade e mortalidade e
contém todos OS termos classificáveis no Capítulo XX, exceto dro-
gas e ourros compostos químicos.
• A Seç4a m - Tabela de Drogas e Compostos Químicos - relaciona,
para cada substância, os códigos para os envenenamentos e os efei-
tos adversos das drogas classificadas no Capítulo XIX e os códigos
XX que indicam se a causa do envenenamento foi acidental, inten-
cional (auto-infligido) ou não-determinado, ou um efeito adverso
de uma substância correta adequadamente administrada.

CLASSIFICAÇÕES DA CID DE INTERESSE


ODONTOLÓGICO

PARTE I
o Capítulo XI da OD agrupa todas as doenças do aparelho digestivo
(KOO-K93) e exclui:

• algumas afecções originadas no período perínatal (POO-P96)


• algumas doenças infecciosas e parasitárias (AOO-B99)
• compilações da gravidez, do parto e do puerpério «()()()...()99)
• doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais (EOO-E90)
• lesões traumáticas, envenenamentos e algumas ourras conseqüên-
das decorrentes de causas externas (500-1'98)
• malformações congênitas, deformidades e anormalidades cromos-
sômicas (QOO-Q99)
• neoplasias (COO-048)
• sint'Omas, sinais e achados anormais clínicos e laboratoriais não -
classificados em outra parte (ROO-R99)
356 ASPfCTOS RElATIVOS À A TUAÇAO PROFISSIONAL

Os agrupamentos contidos no Capitulo Xl da CIO são os seguintes:


• KOO-K14 - Doenças da cavidade oral, das glândulas salivares e dos
maxilares
• K2()..K31 - Doenças do esôfago, do estômago e do d uodeno
• Kl5-K38 - Doenças do apêndice
• K4()...K46 - Hérnias
• KSO-K52 - Enterites e colHes não-infecciosas
• K55-K63 - Outras doenças dos intestinos
• K65-K67 - Doenças do peritônio
• K7Q-K77 - Doenças do fígado
• K8()..K87 - Doenças da vesícula biliar, das vias biliares e do pãn·
creas
• K90-K93 - Outras doenças do aparelho digestivo

Neste capítulo, trataremos apenas do agrupamento KIX)..K14, que trata


das doenças da cavidade oral, das glândulas salivares e dos maxilares .

Doenças da Cavidade Oral, das Glândulas Salivares e dos


M axilare. (KOO-K14)

KOO - Distúrbios do d esenvolvimento e da erupção dos dentes


Excllli: dentes inclusos e impactados (K01.·.)

KOO.O- Anodontia
Hipodontia
Oligodontia

KOO.l - De ntes s upranumerários


Dentes s uplementares
Distomolar
Mesiodens
Paramolar
Quarto molar

KOO.2 - Anomalias do tamanho e da fo rma dos dentes


Concrescência; fusão e geminação dentária; dens in d~nt~
Dente: forma de cavilha (cônico), evaginado, invaginado
Enameloma, macrodontia, microdontia, pérolas de esmalte, taurodon-
tismo, tubérculo pararnolar
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL oe DOENÇAS (CID) 357

Exclui: Tubérculo de Carabelli, que é considerado uma variação nor-


mal e nao deve ser codiFicado

KOO.3 - Dentes manchados


Esmalte manchado, (Juorose dentária, manchas do esmalte não ass~
dadas à f1uorose
Exclui: depósitos nos dentes (K03.6)

KOO.4 - Distúrbios na formação dos dentes


Aplasia e hipoplasia do cemento; dente hipoplásico de Tumer; desl~
camento do germe dentário; dilaceração dos dentes; hipoplasia do
esmalte (neonatal), (p6s-natal), (pré-natal); odontod.isplasia regional
Exclui' dentes de Hutchinson e molares em fonna de amora devido a
sífilis congênita (ASO.5); dentes manchados (KOO.3)

KOO.s - Anomalias hereditárias da estrutura dentiria, não classifica-


das em outra parte
Ame1ogênese; dentinogênese e odontogênese imperfeitas
Dente em concha; displasia da dentina

KOO.6 - Distúrbios da erupção dentária


Dente: natal, neonatal, precoce, erupção prematura dos dentes
Queda prematura dos dentes temporários (dedduos)
Retenção dentária (dentes temporários persistentes)

KOO.7 - Síndrome da erupção dentbia

KOO.8 - Outros distúrbios do desenvolvimento dos dentes


Alterações de cor durante a fonnação dos dentes
Manchas intrinsecas do dente SOE

KOO.9 - Distúrbio não especificado do desenvolvimento dentário


Distúrbios da odontogênese SOE
K01- Dentes inclusos e impactados
Exclui: dentes inclusos e impactados com posição anonnal dos pró-
prios dentes ou dos dentes adjacentes (K07.3)

K01.O - Dentes inclusos


Um dente incluso é um dente que não irrompeu sem que tenha havi-
do obstrução por outro dente.
358 A.SPECTOS RELATIVOS À ATUAÇÃO PROFISSIONAL

KOl.l- Dentes impadados


Um dente impactado é um dente que não irrompeu em virtude de ter
havido obstrução por ou tro dente.

K02 - Cárie dentária

K02.0 - Cáries limitadas ao esmalte


Manchas brancas (cáries iniciais)

K02.1 - Cáries da dentina

K02.2 - Cárie do cemento

K02.3 - Cáries dentárias estáveis

K02.4 - Odontodasia
Melanodontia infantil
Melanodontoclasia

K02.8 - Outras cáries dentárias

K02.9 - Cárie dentária, sem oul'ra especificação

K03 - Outras doenças dos tecidos dentários duros


cárie dentária (K02-)
ranger de dentes SOE (F45.8)
E.xclui: bruxismo (bruquismo) (F458)

K03.0 - Atrito dentário excessivo


Desgaste (fisiológico): oclusal ou proximal dos dentes

K03.1- Abrasão dentária


Abrasão dos dentes: habitual, por dentifrício, ocupacional, ritual, tra-
dicional
Defeito runeiforme SOE

K03.2 Erosão dentária


Erosão dos dentes: SOE devida a dieta, drogas e medicamentos, vômi-
tos persistentes, idiopática, ocupacional
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID) 359

K03.3 - Reabsorção patológica dos dentes


Granuloma interno da polpa
Reabsorção dentária (externa)

K03.4 - Hipercementose
Hiperplasia do cemento

K03.5 - Ancilose dentária

K03.6 - Depósitos nos dentes


Depósito dentário (de) : alaranjado, matéria alba, negro, por betel ,
tabaco, verde
Tártaro (dentário): suhgengivaI, supragengival
Manchas nos dentes: SOE, extrínseca SOE

K03.7 - Alterações p6s-eruptivas da cor dos tecidos duros dos dentes


Exclui: depósitos nos dentes (1<03.6)

K03.8 - Outras doenças especificadas dos tecidos duros dos dentes


Dentina sensível
Esmalte irradiado
Use código adicional de causa externa (Capitulo XX da OD), se neces-
sário, para identificar a radiação, caso a radiação tenha sido a causa.

K03.9 - Doença dos tecidos duros dos dentes, não-especificada

K04 - Doenças da polpa e dos tecidos periapicais

K04.0 - Pulpite
Abscesso ou pólipo da polpa
Pulpite: crônica (hiperplásica) (ulcerativa), supurativa

K04.1 - Necrose da polpa


Gangrena da polpa

K04.2 - Degeneração da polpa


Calcificação ou cálculos da polpa dentária
DentícuJos

K04.3 - Formação anormal de tecidos duros na polpa


Dentina secundária ou irregular
360 ASPECTOS RElATIVOS A ATUAÇAO PROFISSIONAL

K04.4 - Periodontite apical aguda de origem pulpar


Periodontite apical aguda SOE

K04.5 - Periodontite apicaI crônica


Granuloma apica! ou periapica!
Periodontite apical SOE

K04.6 - Abscesso periapical com fístula


Abscesso com ffstula: dentário, dentoalveolar

K04.7 - Abscesso periapical sem fístula


Abscesso (SOE): dentário, dentoalveolar, periapical

K04.8 - Cisto radicular


Cisto: apical (periodontal), periapical, radicular residual
Exclui: cisto periodontallateral (}(09.0)

K04.9 - Outras doenças da polpa e dos tecidos periapicais e as não-


especificadas

KOS - Gengivite e doenças periodontais

K05.0 - Gengivite aguda


Exclui: gengivite ulcerativa necrotizante aguda (A69.1)
gengivoestomatite herpética [herpes simples1 (800.2)

KOS.l- Gengivite crônica


Gengivite (crônica): SOE, descamativa, hiperplásica, marginal sim·
pies, ulcerativa

KOS.2 - Periodontite aguda


Abscesso: parodontal, periodontal
Pericoronite aguda
Exclui: abscesso periapical (1(04.7); com fístula (K04.6)
periodontite apica1 aguda (K04.4)

KOS.3 - Periodontite crônica


Pericoronite crônica
Periodontite: SOE, complexa, simples

KOS.4 - Periodontose
Periodontose juvenil
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICIOI 361

KOS.S - Outras doenças periodonlais

KOS.6 - Doença periodontal. sem outra especificação

K06 - Outros transtornos da gengiva e do rebordo alveolar sem den·


tes
Exclui: atrofia do rebordo alveolar sem dentes (K08.2); gengivite: SOE
(1<05.1), aguda (K05.0), crônica (1<05.1)

K06.0 - Retração gengival


Retração gengiva! (generalizada), Oocalizada), (p6s-infecciosa), (pós-
operatória)

K06.1 - Hiperplasia gengival


Fibromatose gengival

K06.2 - Lesôes da gengiva e do rebordo alveolar sem dentes, asso·


ciadas a traumatismos
Hiperplasia irri tativa do rebordo alveolar [hiperplasia devida a d enta·
dura]
Use código adicional de causa exte rna (Caprtulo XX. da CID), se
necessário. para identificar a causa.

K06.8 - Outros transtornos especincados da gengiva e do rebordo


alveolar sem dentes
Epúlide (de): células gigantes, fibroso
Granuloma: gengival piogênico, periférico d e células gigantes
Rebordo gengival flutuante

K06.9 - Transtomo da gengiva e do rebordo alveolar sem dentes,


sem ou tra especificação

K07 - Anomalias dentofaciais (inclusive a má oc:ludo)


Exclui: atrofia ou hiperplasia hemifaciaJ (067.4); hiperplasia ou hipo--
plasia condilar unilateral (1<10.8)

K07.0 - Anomalias importantes (major) do tamanho da mancHbul a


Hiperplasia hipoplasia: mandibular, maxilar
Macrognatismo (mandibular) (maxilar)
Micrognatismo (mandibular) (maxilar)
Exclui:· acromegalia (E22.0)i sfndrome de Robin (087.0)
362 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAC,l,O PROFISSIONAL

K07.1 - Anomalias da relação entre a mandíbula com a base do crâ-


nio
Assimetria da mandíbula, prognatismo (mandibular e maxilar),
retrognatismo (mandibular e maxila r)

KQ7.2 - Anomalias da relação entre as arcadas dentárias


An teposição (horizontal) ou superposição (vertical) dos dentes supe-
riores em relação aos inferiores
Desvio da arcada dentária (para (ora da linha mMia)
Distoclusão e mesioclusão
Mordida: aberta (anterior) (posterior), cruzada (anterior) (posterior)
Oclusão linguaJ posterior dos dentes inferiores
Sobremordida (excessiva): horizontal, profunda, vertical
Transpasse horizontal ou overjet

K07.3 - Anomalias da posição dos dentes


Apinhamento; deslocamento; diastema; espaçamento anormal; luxa-
ção; rotação; transposição
Dentes inclusos ou impactados com posição anormal de tais dentes ou
dos adjacentes
Exclui: dentes inclusos ou impactados sem que haja anormalidade de
posição (KOI.-)

K07.4 - Má oclusão, não especificada

K07.5 - Anormalidades dentolaci ais funcionais


Fechamento anormal dos maxilares
Má ocl usão devida a: deglutição anormal, hábitos labiais, Iinguajs ou
chupar os dedos, respiração pela boca
Excllli: bruxismo (bruquismo) (F45.8); ranger de dentes SOE (F45.8)

K07.6 Transtornos da articulação temporomandibuln


Desarranjo da articulação temporomandibuJar
Mandíbula estalante
Síndrome ou complexo de Costen
Síndrome da dor e disfunção da articulação temporomandibular
Exclui: deslocamento (503.0) e luxação (503.4) atual da articulação
temporomandibular

K07.8 Outras anomalias dentofaciais


CLASSIFICAÇAO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICIO) 363

KO?9 Anomalia dentofacial, sem outra especificação

K08 - Outros transtornos dos dentes e de suas estruturas: de s usten·


tação

K08.0 - Esfoliação dos d e ntes devida a causas sistêmicas

K08.1 - Perda de d entes devida a acidente, extração ou a doenças


periodontais localizadas

K08.2 - Atrofia do rebordo alveolar sem dentes

K08.3 - Raiz dentária retida

K08.8 - Outros transtornos especificados dos dentes e das estruturas


d e sustentação
Dor de dente SOE
Hipertrofia do rebordo alveolar SOE
Irregularidade do processo alveolar
Odontalgia SOE

K08.9 - Transtorno dos dentes e de suas estruturas d e sus tentação,


sem outra especificação

K09 - Cistos da região bucal, não classifi.cados em outra parte


Inclui: lesões que apresen tam características histol6gicas tanto de cis-
tos aneurismáticos como de outras lesões fibroósseas
Exclui: cisto radicu1ar (1(04.8)

K09.0 - Cis tos odontogênicos de desenvolvimento


Ceratocisto
Cisto (de): dentfgero, erupçAo, folic ular, gengiva I, periodonta l lateral,
primordial

K09.1 - Cistos d e dese nvolvimento (não-odontogênicosl da região


bucal
Cisto (do)(da): canal dos incisivos, globulomaxilar, nasopalatino, pala-
tino, papila

K09.2 - Outros cistos da mandíbu.la


Cisto da mandrbula: SOE, aneurismático, hemorrágico, traumático
Exclui: cisto ósseo latente dos maxilares (K10.O)
cisto de Stafne (KIO.O)
364 ASPECTOS RElATIVOS À ATUAÇ.l.O PROASSIONAl

K09.8 Outros cistos da região or.d, não classificados em outra parte


Cisto da boca: denn6ide. epidermóide, linfoepitelial, nasoalveolar,
nasolabial
Pérolas de Epstein

K09.9 - Cistos da regil0 oral, sem outras espedfic.Jções

100 - Outras doenças dos maxilares


Kl0.0 - Trimstomos do desenvolvimento dos maxilares
Cisto (de): ósseo latente dos maxilares, Stafne
TaTus: mandibular. palatino

KIO.l- GranuJoma central de células gigantes


Granuloma de células gigantes SOE
Exclui: granuloma periférico de células gigantes (1<06.8)
KJO.2 - Mecções inflamatórias dos maxilares
Osteítei osteomielite (neoeana!)i osteorradionecrose ou periostite
maxilar (aguda) (crônica) (supurativa)
Seqüestro ósseo maxilar
Use c6digo adicional para causa externa (Capítulo XX, da CID), se
necessário, para identificar radiação, se for causada por radiação.

100.3 - Alveolite maxilar


" Alvéolo seco'"
Ostefte alveolar

KI0.8 - Outras doenças especificadas dos maxilares


Displasia fibrosa ou exostose maxilar
Hiperplasia ou hipoplasia oondilar unilateral
Querubismo

100.9 - Doença dos maxilares, sem outra especificação


Kll- Doenças das glândulas salivares
Kll.O - Atrofia de glândula salivar
K11.1 - Hipertrofia de glândula salivar

Kll.2 - Sialadenite
Exclui: febre uveoparotídea [Heerfordt] (D86.8); parotidite epidêmica
(B26.-);
uveoparotidite (086.8)
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICID) 365

K11.3 - Abscesso de glândula salivar

K11.4 - fístula de glândula salivar


Excllli: fístula congênita de glândula salivar (Q38.4)
K11 .5 - Sialolitíase
Cálculo ou pedra de glândula ou canal salivar
1<11.6 - Mucocele de glândula salivar
Cisto mucoso (de): extravasamento ou retenção de glândula salivari
rânula
K11 .7 - Alterações da secreção salivar
Hipoptialismo; ptialismo; xerostomia
Excllli: boca seca SOE (R682)

K11.8 - Outras doenças das glãndulas salivares


Doença de Mikulicz
Estenose de canal salivar
Lesão linfoepitelial benigna de glândula salivar
Sialectasia, siaJomelaplasia necrotizanle
Exclui: síndrome seca [Sjõgren] (M35.0)
1<11.9 - Doença de glândula salivar, sem outra especificação
Sialoadenopatia SOE
K12 - Estomatite e lesões correlatas
Exclui: cancro oral (A69.0); eslomatite gangrenosa (A69.0); gengivoes-
tomatite por vírus do herpes simples [herpes simples] (800.2); norna
(A69.0); queilite (1<13.0)
K12.0 - Aftas bucais reddivantes
Ntose de Bednar
Eslomatite: aftosa (major) (minar), herpetiforme
Periadenite mucosa necrótica recidivante
Úlcera aftosa recidivanle
K12.1- Outras formas de estomatite
Estomatite: SOE, devida a prótese, ulcerosa, vesiculosa
K12.2 - Celulite e abscesso da boca
Abscesso submandibular
Celulite da boca (assoalho)
Excllli: abscesso (de): glândula salivar (Kl1.3), língua (K14.0), peria-
migdalino 036), penapical (K04 .6-K04.7), penodontal (K052)
366 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROASSIONAl

K13 - Outras doenças do lábio e da mucosa oral


Inclui: afe<:çôes epiteliais da !rngua
Exclui: algumas afecçõe5 da gengiva e do rebordo alveolar sem dentes
(K05-K06); cistos da região oral (K09.-); doenças da língua (K14.-); esto-
mati te e lesões correlatas (Kl2.-)

Kl3.0 - Doenças dos lábios


Perl~clte NCOP
Queilite: SOE, angular, esfoliativa, glandular
Queilodinia, Queilose
Exclui: arriboflavinose (E53.0); perl~che devido a: candidíase (837.8),
deficiência de rihoflavina (E53.0)
queilite aetinica (L.55-L59)

K13.1 - Mordedura da mucosa das bochechas e dos lábios

K13.2 - Leucoplasia e Qutras alecções do epitélio oral. inclusive da


língua
Eritroplasia ou leucoedema do epitélio oral, inclusive da lingua
Leucoceratose do palato causada pela nicotina
Palato do fumante
Exclui: leucoplasia pilosa (K13.3)

K13.3 - Leucoplasia pilosa

K13.4 - Lesões granulomatosas e granulomatóides da mucosa oral


Granuloma: eosinófi1o ou piogênico da mucosa oral
Xantoma verrucoso

K13.5 - Fibrose oral submucosa


Fibrose submucosa da língua

K13.6 - Hiperplasia irritativa da mucosa oral


Exclui: hiperplasia irritativa do rebordo alveolar sem dentes fhiperpla-
sia devido a dentaduraJ (1<06.2)

K13.7 - Outras lesões e as não-especificadas da mucosa oral


Mucinose oral foca l

K14 - Doenças da língua


Exclui: eritroplasia, hiperplasia epitelial focal .. leucoedema ou leuco-
plasia da Ungua (K132); fibrose submucosa da língua (K13.5); leucopla-
sia pilosa (K13 .3); macroglossia (congênita) (Q38.2)
CLASSIFICAÇÃO INTERN ACIONAL DE DOENÇAS ICIOI 3.7

Kl4.0 - Glossite
Abscesso ou ulceração (traumática) da língua
Exclui: glossite atr6fica (Kl4.4)

K14.1 - Língua geográfica


Glossite: areata esfoliativa, migrat6ria benigna

1<14.2 - Glossite romb6ide m ediana

1<14.3 - Hipertrofia das papilas linguais


Hipertrofia das papilas roliáceas
Lrngua : negra, pilosa, vilosa . sabu~

K14.4 - Atrofia das papilas linguais


Glossitc atr6fica

K14.5 - Ungua escrotal


Língua : fissurada, gretada, sulcada
Exclui: Hngua fissurada congênita (Q383)

K14.6 - Glossodínia
Língua dolorosa
Glossopirose

K14.8 - Outras doenças da língua


Atrofia ou hipertrofia da língua
Língua crenada, macroglossia

K14.9 - Doença da língua, sem outra especificação


Glossopatia SOE

Fenda Labial e fenda Palatina

Q35 - Fenda pal atina


Inclui: fiss ura palatina e palatosquise
Exclui: fenda palatina com fenda labial(Q37)

Q35.0 - Fenda bilateral do pala to duro


368 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Q35.1- Fenda unilateral do palato duro

Q35.2 - Fenda biJateral do palato mole

Q35.3 - Fenda unilateral do palato mole

Q35.4 - Fenda bilateral dos palatos duro e mole

Q3S.5 - Fenda unilateral dos palatos duro e mole

Q35.6 - Fenda mediana do palato

Q35.7 - Fenda da úvuJa

Q35.8 - Fenda palatinil não-especi1icada bilateraJ

Q35.9 - Fenda palatina não-espedficada unilateral

Q36 - Fenda labial


Inclui: Fissura congênita do lábio
Lábio leporino
QueiJosquise
Exclui: Fenda labial com fenda pala tina (Q37)

Q36.0 - Fenda labial bilateral

Q36.1- Fenda labial mediana

Q36.9 - Fenda labial unilateral

Q37 - Fenda labial com fenda palatina

Q37.0 - Fenda bilateral do palato duro com fenda labial

Q37.1- Fenda unilateral do palato duro e mole com fenda labial

Q37.2 - Fenda bilateral do palato mole com fenda labial


CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICIOI 3 ••

Q37..3 - Fenda unilateral do palato mole com fend .. labial

Q37.4 - Fend .. bilateral dos palatos duro e mole com fenda labial

Q37.8 - Fenda bilatenl do palato com fenda labial, não-especificada

Q37.9 - Fenda unilateral do palato com lenda labial, não-especifica-


d.

Q38 - Outras malformações congênitas da língua, da boca e da


faringe

Q38.0 - Malfonnações congênitas dos lábios, não-classiJicadas em


outn parte
Ffstula congênita do lábio
Malformação labial congênita
Síndrome de Van der Woude

Q38.1 - Anquiloglossia
Lfngua presa

Q38.2 - Macroglossia

Q38.3 - Outras maJfonnações congênitas da língua


Aderência, fissura, malformação, aglossia, hipoglossia
Hipoplasia da língua
Língua büida
Microglossia

Q38.4 - Malfonnações congênitas das glândulas e dutos salivares


Atresia, ausência, fístula salivar congênita, glândulas ou dutos saliva-
res supranumerários

Q385 - Malformações congênitas do palato, não-classilicadas em


outra parte
Ausência da úvula, malformação congênita do palato, palato em
ogiva

Q38.6 - Outras malfonnações conjuntas da boca


370 ASPECTOS RElATIVOS A ATUAÇAO PROFISSIONAL

Sintomas, sinais e achados anoOl1ais de exame clínico

F45.8 - 8ruxismo
Ranger de dentes

R06.5 - Respiração pela boca

Rl9.6 - Halitose

R22 - Tume(ação, massa ou tumoração localizadas na pele ou tecido


subcutâneo

R43 - Distúrbios do olfato e do paladar

R47 - Distúrbios da fala

R68.2 - 80ca seca, não-especificada

Lesões, envenenamento e outras conseqüências de causas


externas

Traumatismos da cabeça (500 - 509)


Inclui: Traumatismo: cavidade bucal, dentes, face, gengiva , língua .
mandlbu la e maxilar, palato e queixo.

500.5 - Traumatismos dos lábios e da cavidade oral

501.4 - Ferimento da bochecha e da cavidade oral

S02 - Futuu do crânio e dos ossos da face

S02.4 - Fratura dos ossos matares e maxiJares


Maxilar superior
Osso zigomático

502.5 - Fratura de dentes


Dente(s) quebrado(s)
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICIO) 371

502.6 - Fratura de mandíbula

502.8 - Outras fraturas do crânio e ossos da face


Alvéolo
Palato

503 - Luxação, entorses ou djstensão das articulações e dos ligamen-


tos da cabeça

503.0 - Luxação do maxilar


Articulação temporomandibular
Maxilar
Mandíbula

503.2 - Luxação dentária

503.4 - Entorse e distensão do maxilar


Articulação temporomandibular
Ligamento temporomandibular

S04 - Traumatismo dos nervos cranianos

504.3 - Traumatismo do nervo trigêmeo

Efeito da Penetração de Corpo Estranho Através de O rificio


Natural, Queimaduras e Corrosão

T18 .0 - Corpo estranho na boca

T2Q - Queimadura de lábio

T28.0 - Queimadura da boca e da faringe


372 ASPECTOS RELATIVOS A ATVACAo PROFISSIONAL

PARTEII

Doenças Sistêmicas com Manifestações Bucais

Nesta segunda parte da apresentação da Cl O. agrupamos algumas


doenças sistêmicas que podem apresentar manifestações bucais. Para
tanto seguimos a orientação de Shafer.

Infecções baderianas, vini.s e mjc6ticas (Shafer, 1979)

Doenças infecciosas e p.uõlsitárias com manifestações bucais

AtS a A19 - Tuberculose

A2I - Thlaremia

A24 - Mormo e melioidose

A30 - HansenJase

A36 - Difteria

A38 -Esc;ulatina
Exclui angina estreptoc6cica 002.0)

ASO a A53 - Sífilis

A54 - Infecção gonoc6cica

A69 - Outras infecções por espiroquetas

A69.0 - Estomatite ulcerativa necrosante


Cancro oral, estomatite gangrenosa, gangrena por fusoespiroquetas,
noma

A69-1- Outras infeções de Vicent


Angina de Vincent, boca das trincheiras, estomatite por espiroquetas,
faringite por fusoespiroquetas
Gengivite (de): ulcerativa necrosante (aguda),Vmcent
Gengivoestomatite ulcerativa necrosante (aguda)
CLASSlFICAÇÃO INTERNAClONAl DE DOENÇAS [CID ) 373

A69.2 - Doença de Lyme


Eritema crônico migratório

L98.0 - Granuloma piogênico

086 - Sarcoidose

086.8 - Sarcoidose de outros locais especificados e locais combina-


dos
Artropatia sarcóide
Febre uveoparotidea [doença de Heerfordt]
Paralisia de múltiplos nervos cranianos por sarcoirlose

jOl- Sinusite

JOl.0 - Sinusite maxilar aguda


Artrite aguda

J36 - Abscesso periamigdaliano

Doenças pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) - (B20 - 824)

B20.4 - Doença pelo HIV resultante em candidíase

821 .0 - Doe nça pelo HIV resultante em sarcoma de Kaposi

Infecções Virais Caracterizadas por Lesões da Pele e Mucosas


(800-809)

BOO - Infecções pelo vírus do herpes [herpes simples)"


Exclu i angina herpética(B085)

BOO.O - Eczema herpético


Pústula variceliforme de Kaposi

800.1- Dermatite vesicular devida ao vírus do herpes


Dermatite vesicular do: lábio, orelha
Herpes simples: face, lábio
374 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇ.l.O PROFISSIONAL

800.2 - Gengiva estomatite e faringoamigdalite devida ao vírus do


herpes
Faringite herpética

B02 - Herpes Zoster (zona]

802.2 - Herpes zoster acompanhado de outras manifestações neuro-


lógicas
Nevralgia do trigêmeo pós-herpética
Polineuropatia pós-herpética
Ganglionite geniculada pós-herpética

803 - Varíola

805 - Sarampo

806 - Rubéola

801- Verrugas de origem vira!

B08 - Outras infecções virais caracterizadas por lesões da peJe e das


membranas mucosas, excluindo estomatite vesicular viral (A93.8)

808.0 - Outras doenças por ortopoxvírus


Cowpox, doença pelo vírus arf, pseudocowpox (nodo dos leiteiros1,
Vacínia
Exclu i: varíola dos macacos (004)

808.1- Molusco contagioso

808.4 - Estomatite vesicular devida a enterovírus com exantem a


SÚldrome pé-mão-boca

B08.5 - Faringite vesicular devida a enterovírus


Angina herpética

808.8 - Oums infecções vitais especificadas


Doença pé-boca, faringite Iinfonodular por enterovlrus, febre aftosa,
síndrome do vfrus, tanapox, yabapox

825 - Doença por citomegalovírus


CLASSIFICA ÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID) 375

B26 - Caxumba [parotidite epidêmica]

B27 - MononucIeose infecciosa

B34 - Doenças por vírus, de localização não-especificada

834.1-lnfecção por enterovírus, não-especificada


Infecção SOE por vírus: Coxsáckie, ECHO

B37 - CandidJase

837.0 - Estomatite por cândida


Sapinho oral

B37.9 - Candidíase não-especificada


Sapinho SOE

838 - Coccidioidomkose

838.3 - Coccidioidomicose cutânea

839 - Histoplasmose

840 - Blastomicose

840.3 - Blastomicose cutânea

840.7 - Blastomicose disseminada

841 - Paracoccidioidomkose
Inclui: blastomicose brasileira
Doença d e Lutz

846 - Zigomicose
1
B46.3 - Muconnicose cutânea
Mucormicose subcutânea

842 - Esporotricose
376 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇÃO PROFlSS10NAl

848 - Ou tras mkoses não-classificadas em outra parte

848.1 Rinosporidiose

A42 - Actinomicose

A80 - Poliomielite aguda

Infecções Parasitárias com Possíveis Manifestações Bucais

865 - Esquistossomose
867 - Eqüinococose
869 - Cisticercose
875 - Tricnose
8 77 - Ascaridíase
878 - Estrongiloidíase
B87 - Miiase

Manifestações Bucais das Doenças Metabólicas

E02 - Hipotireoidismo subclínico por deficiência de iodo


E03 - Outros hipotireoidismos
E05 - Tueotoxicose [HipertireoidismoJ
ElO a E14 - Diabetes meüto
E20 - Hipoparatireoidismo
E22 - Hiperfunção da hipófise
E22.0 - Acromegalia e gigantismo hipofisário
E24 - Síndr ome de Cushing
E27 - Outros transtornos da glândula supra-renal
E27.1- Insuficiência adrenocortical primária
Adrenalite auto-imune
Doença de Addison

E51- Deficiência de tiamina (Beribéri)


E52 - Deficiência de ruacina lPelagral

E54 - Deficiência de ácido ascórbico


Escorbuto
CLASSIFICAÇAo INTERNACIONAl DE DOENÇAS ICIDI 3n

E71.3 - Distúrbios do metabolismo de ácidos graxos


Adrenoleucodistrofia IAddison-Schiller)

E75 - Distúrbios do metabolismo de esfingolipídios e outros dis túr-


bios de dep6sitos de lipídios

E75.2 - Outras esfingolipidoses


Deficiência d e s ulfatase
Doença de: Fabry. Gaucher. Krabbe. Niemann-Pick

E76 - Distúrbios do metabolismo do glicosaminoglicano

E76.0 - Mucopolissacaridose do tipo I


St'ndrome de: Hurler. Hurler-Scheie, Scheie

E76.1- Mucopolissacaridose do tipo n


Síndrome d e Hunter

E76.2 - Outras mucopolissacaridoses


E80 - Distú.rbios do metabolismo da porfirina e da bilirrubina
E80.0 - Porfiria hereditária eritropoética
E80.1 - Porfiria cutinea tardia
E80.2 - Outras porfirias
E83.3 - Distúrbios do metabolismo do fósforo
E85 - Amiloidose

C96.0 - Doença de Lellerer-Siwe


Reticuloendoteliose. retirulose
0 76 - Algumas doençu que envolvem o tecido linforreticul.u e o
s istema reticu1o-histiod ti co

076.0 - Histiocitose das células de Langerhans não-classificadas em


outra parte
Doença de Hand-Schüller-Christian
• Granuloma eosinofflico
Histiocitose X (crônica)

076.1 - Linfo-histiocitose hemo.fagocítica


Reticulose hemofagodtica familiar
378 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇÃO PROASSIONAl

A39 - lnJecção meningocóc.ica

A39.1 - Síndrome de W3b!rhouse-Friderichsen

Doenças dos Ossos e Articulações, Tecido Conjuntivo e


Doenças Congênitas

Q67 - Deformidades osleomusculares congênitas da cabeça, da face,


da coluna e do tórax
Q67.0 - Assimetria facial
Q67.1 - Deformidade facial por compressão
Q67.2 - Dolicocefalia

Q67.4 - Outras deformidades congêni tas do crânio, da face e da


mandíbu1.;,.
Atrofia ou hipertrofia hemifacial
Depressões dos OSSOS do crânio

Q75 - Outras malfonnações congênitas dos ossos do crânio e da (ace

Q75.1 - Disostose craniofaciaJ


Doença de Crouzon

071.4 - Acondroplastia
Hiporondroplastia

Q78 - Ostcogêncse imperfe ita


Fr:J.glildade óssea
Ü5teoP5aritosc

Q78..2 - Osteopetrose
Síndrome de Albers-5chõnbcrg

Q82.8 - Outras malformações congên.itas especificadas da pele


Acrocondon
Cer3tose folicular [Darler-Whitel
Ceralose palmoplantar herdada
Cúli31nxa (hipc.relástica)
Pên Rgo familiar benigno
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CIOI 379

Q87.0 - Síndromes com mallonnaçães congênitas afetando predo·


minantcmente o aspecto da face
Acrocefalopolissidactilia, acrocefalossindactilia, cidopia, rosto de
assobio
Síndrome: criptoftálmica, de Goldenhar, de Moebius, orofaciodigital,
de Robin, de Treacher CoUins

Q87.4 - Síndrome de Marfan

Q90 - Síndrome de Down

M02 - Artropatias re1acionais

M02.3 - Doença de Reiter

M06 - Outras artrites reumat6ides

M35 - Outras afecções sislêmicas de tecido conjuntivo


Exclui: Colagenose perfurante reacional (L87.1)

M35.0 - Síndrome seca [Sjogren]


M35.2 - Doença de Behçet
M80 - Osteopowse com fratura patol6gica
M81 a M84 - Outras osteoporoses
M85.0 - Displasia fibrosa
M85.1 - FJuorose esquelética
M89.5 - Osteólise

Doenças do Sangue e dos Órgãos Hematopoéticos

D50 - Anemia ferropriva


051 - Anemia por deficiência de vitamina B12

051.0 - Anemia por deficiência de vitamina B12 devida à deficiên·


da de fator intrínseco
Anemia de: Addison, de Biermer, perniciosa, deficiência congênita de
fator intrinseco
'00 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROASSIONAl

055 - Anemia devida a t:ranstomos enzimáticos


056 - Talassemia
060 a 064 - Anemias aplásticas
064 - I~úrpura e outras afecções hemorrágicas
066 - Hemofilia (deficiência hereditária do fator VIU)
065 - Coagulação inlravascular disseminada (síndrome de d esfibri-
nõlção)
075.1 - Policitemia secundária
0 70 - Agranulocitose

072.8 - Outros transtornos especificados dos glóbulos brancos


Leucocitose, Unfodtose, linfapenia, monocitose, plasmocitose, reação
leucom6ide

074 - Metemoglobinemia

Doenças da Pele

E15.2 - Miliária ap6crina


Doença de Fox-Fordyce
L03 - Celulite [f1egmãoJ
llO - Pênfigo
UI - Outras afecções acantolCticas
L11.0 - Ceratose adquirida
tll.l- Dermatose acantalitica transitória [Graver]
L12 - Penfig6ide

LU.2 - Doença bolhasa crônica da infância


Dennatite herpetifonne juvenil

l13 - Qutru afecções bolhosas

L13.0 - Dermatite herpetiforme


Doença de Duhring

lI4 - AfecçOes bolhosas em doenças classificadas em outra parte


UO - P50rfa~c
l42 - Ptiriase tÓseil
lA3 - Líquen plilno
L5I - Eritema polimorfo (eritema multiforme)
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICID) 381

L51 .1- Eritema multiforme bolhoso


Sindrome de Stevens-Johnson

L55 a L59 - Transtornos da pele e do tecido subcutâneo relaciona-


dos com a radiação

L57 - Alterações da pele devidas à exposição crônica à radiação não-


ionizante

L57.0 - Cera tose actínica


Ceratose: SOE, senil, solar

L57.1- Reticulóide actínica


L75 - Afecções das glândulas sudoríparas apócrinas

L83 - Acantose nigricans


PapiJomatose confluente e reticular

L93 - lúpus eri tematoso


L9O.4 - Acrodermatite crônica atr6fica
194.0 - Esderodennia localizada [morféia)
L94 .1 - Esderodermia linear
198 - Outras afecções da pele e do tecido subcutâneo, não-classifica-
das em outra parte
157.3 - PLiquilodennia de Civatte

157.4 - Cútis laxa senil


Elastose senil

157.5 - Cranuloma actínico

Q77.6 - Displasia condroectodérmica


Síndrome de Ellis-Van Creveld

Q79.6 - Síndrome de Ehlers-Danlos


Q81 - EpidermólisC! bolhosa
Q823 - lncontinênda pigmentar
Q82.4 - Displasia edodérmica ( anidr6tical
382 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROASSIONAl

Q8~ .5 - Nevo não-neoplásico congê.nito


Marca de nascença SOE
Nevo: f1âmeo, em morango, mancha de vinho, sangüíneo, vascular
SOE. verrucoso
Exclui: Icnligo (L81.3), manchas café-com·leite (L81.3), nevo: SOE
9D22.-), arâneo 078.1), estelar 078.1), melanocitico (022.-), pigmentado
(022.-)

T 78.2 - Edema angioneurótico


Edema de Quincke. Urticária gigante

018 - Hemangioma e linfa ngioma de qualquer localização

022 - Nevas melanocíticos


Ine/lIi: nevo: SOE, azul. pigmentado, piloso

022.0 - Nevo melanodtico do lábio

Doenças dos NelVos e Músculos

Transtornos do Nervo Trigêmeo

GSO - Transtornos do nerva trigêmeo


Inclui; Transtornos do quinto par craniano

LSO .O- Nevralgia do trigêmeo


Síndrome da dor facial paroxfstica
Tique doloroso

GSO.a - Outros transtornos do n ervo trigêmeo


G50.9 - Transtornos não-especificados do nervo trigê.meo
G51 - Dor facial atípica

G51- Transtornos do nervo facial


I/lclui: trdIl5lomos do sétimo par craniano

G51.0- Paralisia de Bcll


Paralisia facial
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ICIDI 383

G51 .1 - Ganglionite ge.niculada


G51.2 - Síndrome de Melkersson
G51.3 - Espasmo hemifacial crônico
G51.4 - Mioquimia facial
G51.8 - Outros transtornos do nervo fadal
G51 .9 - Transtorno não-especificado do nervo facial
G52 - Transtornos de outros nervos cranianos
G52.1- Transtornos do nervo glossofaringeo
G35 - EscJerose múltipla
G71 - Transtornos prim ários dos músculos
G71.0 - Distrofia muscular
G71.1 - Transtornos miotônicos
G71.2 - Miopatias congênitas
M33 - Dermatopoliomiosite
M60 - Miosite
M61 - C llcificClçlo e oss ificaçlo do músculo
M61 .0 - Miosite ossificante LraumáticCl
M61.1- Miosite ossiJicante progressiva

Neoplasias com Localização Bucal

COO - Neoplasia maligna do lábio


COO.O - Lábio superior ex terno
COO.l - Lábio inferior externo
COO.3 - Lábio superior face interna
COO.4 - Lábio inferior face interna
COO.6 - Comissura labial
COO.8 - Lesão invasiva do lábio
COO.9 - Lábio, não-especificado
COl - Neoplasia maligna dCl base da língua
C02 - Neopbsia malignCl de outras partes e de partes não-especifica-
dOIS dOi Hn gua
C02.0 - Face dorsal da língua

C02.1 - Borda da língua


Ponta da língua

C02.2 - FClce ventn.1 da língua


Freio lingual
384 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROASSIONAl

C02.4 - Amígdala lingual


C02.8 - Lesão invasiva da língua
COZ.9 - Língua, não-especificada

C03 - Neoplasia maligna da gengiva


[nclui: Mucosa alveolar (rebordo)
Exclui: neoplasias malignas odontogênicas (C41.O-C41.1)

C03.0 - Gengiva superior


C03.1 - Gengiva inferior
e03.9 - Gengiva, não-especüicado
e04 - Neoplasia maligna do assoalho da boca
e04.0 - Assoalho anterior da boca
e04.1- Assoalho lateral da boca
e04.8 - Lesão invasiva do assoalho da boca
C04.9 - Assoalho da boca, não-especificado
C05 - Neoplasia maligna do palato
C05.0 - Palato duro
C05.1- Palato mole
C05.2- Úvula
COS.8 - Lesão invasiva do palato
COS.9 - Palato não-especificado
C06 - Neoplasia maligna de outras partes e de partes não-especifi-
cadas da boca

C06.0 - Mucosa oral


Parte interna da bochecha
e06.1 - Vestíbulo da boca
C06.2 - Área retromolar
C06.8 - Lesão invasiva de outras partes e de partes não-especificadas
da boca

C06.9 - Boca, não especificada


Cavidade oral
Glândula salivar menor

C07 - Neoplasia maligna de glândula par6tida


C08 - Neoplasia maligna de outras glândulas salivares majores e as
nãooof:specificadas

COS.O - Clândula submandibular


Glândula submaxilar
CLASSIFICAÇAO INTERNACIONAl DE DOENÇAS ~aOJ 385

C08.1- Glândula sublingual


C08.8 - Lesão invasiva das glândulas salivares
C08.9 - Glândula salivar maior
C14 - Neoplasia maligna de outras localuoIções e de localizações
mal definidas do lábio, cavidolde oral e faringe
C41 - NeopJasia maligna dos ossos e das cartilagens articulares de
outras localizações e de localizações não-especificoldas

C41.0 - Ossos do crânio e da face


Maxilar
Osso orbital

C41.1 - Mandíbula
C43 - Me lanoma maligno da pele
C43.0 - MeJa.noma maJigno do lábio
C44.0 - PeJe do lábio
Carcinoma basoce1ular do lábio

C46 - Sarcoma de Kaposi


C46.0 - Sarcoma de Kaposi da pele
C46.1 - Sarcoma de Kaposi dos tecidos moles
C46.2 - Sarcoma de Kaposi do palato
C46.8 - Sarcoma de Kaposi de múltiplos órgãos

C47 - Neoplasia maligna do nervos periféricos e do sistema nervoso


autônomo
Inclui: Nervos e gânglios simpáticos e parasimpáticos

C47.0 - Nervos periféricos da cabeça, da face e do pescoço


C49 - Neoplasia maligna do tecido conjuntivo e de outros tecidos
moles
C49.0 - Tecido conjuntivo e tecidos moles da cabeça, da face e do
pescoço

Neoplasias Malignas de Localizações Maldefinidas,


Secundárias e de Localização Não-Específica

C76 - Neoplasia maligna de outras localizações e de loc,dizações


mal d efinidas
38. ASPfCTOS RElATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

06.0 - Cabeça, (ace e pescoço


Bochecha SOE

en.o - OSnglio5 linfáticos da cabeça, da face e do pescoço


09 - Neoplasia maligna secundária de outraslocali2.ações
C79.2 - Neop1asia maligna secundária da pele
eso - Neoplasia maligna sem especificação de localização
Cal - Doença de Hodgkin
C82 - Linforna niio-Hodgkin, roHcular {nadular}
C83 - Linloma difuso
e84 - Linloma de célula T cutânea
C90 - Mieloma múltiplo e neoplasias maligna de plasm6cito
C90.0 - Mieloma múltiplo
Doença de Kahler

C95 - Leucemia

NêopI3~ias: "[n 5ihl"

000 - Carcinoma i" situ da cavidade oral, do esôfago e do estômago


Exclui: melanoma in Silll (D03)
Doo.O - Lábio, c3vidade oral e faringe
003 - MeJanoma in silu
003.3 - Melanoma ir. sitll do lábio
004 - Carcinoma in sittl da pele
004 .0 - P<!le do Ubio

Ncoplasias Benignas
010 - Neoplasla benigna da boca e da faringe
010.0 - Ubios

010.1 - Língua
Amigda la lingual

010.2 - ASSOAlho da boca

0]0.3 - Outras partes da boca e as não-especificadas


G1Andulas salivare:; menores
CLASSIFICAÇAo INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CIDI 387

011 - Neoplasia benigna de glândulas salivares maiores


DU .O - Glândula parótida

011 .7 - Outras glândulas salivares maiores


Sublingual. submandibular

016 - Neoplasia benigna de osso e de cartilagem articular

016.4 - Ossos do crânio e da face


Maxilar
Osso orbital
0165 - Osso da mandíbu1 a
017 - Neoplasia lipomatosa benigna
017.0 - Neoplasia lipomatosa benigna da pele e do tecido subcutâ·
nco da cabeça, da face e do pescoço
021 - Outras neoplasias benignas do tecido conjuntivo e de outros
tccidos moles
021.0 - Tecido conjuntivo e outros tecidos moles da cabeça, da face
e do pescoço
023 - Outras neoplasias benignas da pele
023.0 - Pele dos lábios
037 - Neoplasia de comportamento incerto ou desconhecido da
, cavidade oral e dos órgãos digestivos
037.0 - Lábio, cavidade oral e faringe

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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l(amO!> DLP ~tiaJ Odontol6gu;n. 1! ed. São Paulo: Ed. Santos, 1994.
Sh.a(e.r WG. ti li/. Pll/oIogiIIBuCIII. J! ed . Rio de Janeiro: Interamericana. 1979.
Silva M. Calvielli ITr. Aspectos éticos e legais do exercido da odontologia. In : Paivi!I
lG. Antonluzl JH Endodontlll - Bases JU2,a 11 Pr4lic/J ClIrtica. 2! ed . Artes
MêdiC3S,1988, p 368-n.
CAPíTULO 22

o CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR E O
CIRURGIÃO-DENTISTA
COMO PRESTADOR
DE SERViÇOS

IDA T. P. CALVIELLJ

INTRODUÇÃO
A edição da Lei na 8.078, de 11 de setembro de 1990 - Código de Defesa
do Consumidor - , suscitou no seio da classe odontológica um sem-
número de indagações, ora maximizando ora minimizando os seus refle-
xos sobre o relacionamento cirurgião-dentista/ paciente.
O presente capítulo, longe de ter como objetivo oferecer um posicio--
namento definitivo sobre as conseqüências dessas normas para o rclacicr
namento profissional, pretende, isso sim, apresentar uma contribuição
micial para a discussão da matéria, coligindo as opiniões dos doutrina-
dores sobre dois aspectos relevantes para a classe odontológica, quais
sejam, o que se refere à responsabilidade profissional, quando encarado
o cirurgião-dentista como prestador de serviços, e o da publicidade vei-
culada por esses proflssionais, diante do entendimento de que ela inte-
390 ASPECTOS RElATIVOS À ATUAÇÃO PROFISSIONAL

gra a relação contratual, como oferta, e das suas conseqüências quando


caracterizada como enganosa ou abusiva .
O Código de Defesa do Consumidor surgiu no cenário jurídico, como
enfatiza Silva (1996), "mais precisamente na drea dos direitos obrigacionais.
como uma TnJOludonária inovaÇJ1o", O Código. para Nery (1992), "pretende
criar a necessidade de haver mudaPJça de mentalidnde de todos os envolvidos nas
refaçlJes de consumo, de sorte que 7140 seja mais pmticadn a 'Lei de Gerson' no
país, segundo a qual Sl tUvt lirar oontagem deujda t indevida de tudo, em ddri-
mento d05 di~itos de outmn. O Código pretende destStimular o fomtctdur do
espfrito de praticar corldulas desleois ou abusivas, e o consumidor de aproveitar-
se do ~gime do Código para reclamar infundndnmt1lte pretmsos dimtos a de
conferidos", Para Eros Grau, citado por Nery (1992), trata-se de uma
norma-objetivo. Ela define o fim a ser alcançado, cujo prindpio orientador
da llll,rprelaçi1o, bllSClldo lia boo fi, expressa, segundo o dizer de Aguiar Jr.
(1995), 7l1ndamtntal aigtncia qUt estaI! bast da sociedade organizada, desem·
PfllJuwdo junr;Qo dI! sistl!mntiZllçDO das demais 1I0rnUlS positivadas e dim:Wnan-
do SI/a aplrcação".
Como aS5inala Marques (1995), "como lei 'IOVO e rejuventsetdora do
Dmuto CIvil BrasileIro, tem a/mldo a atençiJo de juristas ;nttrtSStUfos tra emlu-
çiio da ciinCJa jurldlCtJ e dos rnstmmen/os legais garantidora de relaç3es socinis
mais equitíbradas e leais; tem despertado contínuo ;'Iteresse nos profissionais do
dIreito em geral. advogados, conCIliadores, m~mbros do Ministério Público e
magistrados", apresentando, a partir de sua edição, uma copiosa produ·
ção doutrinária, que se reflete não apenas nas inúmeras obras publica-
das, como na pr6pria criação de veículo", destinado precipuamente a
abrigar as contribuições para a sua interpretação.

o "Código adotou a teoria do risco da atividade como postulado funda-


mentai dos danos causados ao consumidor. A SImples exisfênciJl da atividade
tcolltJmica riO mercado, extTtida ptIo fornecedor. j6 o carrega com a obrigaçifo de
reparar o darlO callsado por essa mesma atividade. A responsabilidade t, portan-
to, objctiDa (Arts. 12 e 18J. Não I necessán·o que talha agido com culpa, Iam·
pouco que sua ahvldade esteja autoriZAda ~/o 6rgiJo competente do poder públi·
co, ou, ainda, que telllJo havido caso fortuito 011 força maior. Apenas e lãtr
somentr: as circunstâncias melldotladns lIa coe em numerus clausus como
CQlISIlS excludentes do df!VCr de illdenizar é que efctivamettte podem sn- inVOC#-
das pelo forneador o fim de eximi-to dõSe devu". (Nery Jr., 1992) .

• Trata-se da revist.. Direito do Consumidor editada pela Editora Re\"\.sla dos


Trlbunnb.
o CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 3.,

Como nâo poderia deixar de acontecer, diante da magnitude da tarefa


representada pela interpretaçâo do Códígo de Defesa do Consumidor,
poucos são os trabalhos direcionados exclusivamente para o exame dos
aspectos da prestação de serviços pelos profissionais liberais e o da sua
publicidade. Dentre os trabalhos que os mencio~ alguns posiciona-
mentos merecem análise, porque representam a posição doutrinária
acerca da responsabilidade profissional liberal no Código de Defesa do
Consumidor.
Discorrendo sobre "Os prindpios gerais do Código Brasileiro de
Defesa do Consumidor Nelson Nery Júnior (1992), um dos seus redalo-
res, ao abordar a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais,
assinala que:
'"A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais é subjetiva. fun -
dada na culpa fArt.14, §4-1. para cUJa verificação incide o princIpIO do
maior favor ao consumidor, que é o da Inversão do ônus da prova
(Art.6", VIII) _ Como a regra geral do coe é o da responsablJid.de objtr
tlva pelo risco da atividsde. foi preciSO que a norma do Art. 14, §41.
mencionasse expressamente a exceçAo. qual seja, a responsabilidade
pessoal do profissional liberal deve ser investigada a titulo de culpa.
sendo esta subjetiva, portanto. Entenda -se aqui por profissional liberal
aquele escolhido pelo consumidor intuitu personse. isto é. para cuja
escolha foram relevantes os elementos confiança e competência acre-
ditados pelo cliente. Quando o profissional liberal integra pessoa jurldl-
ca ou presta serviços a pessoas Jurfdicas. a responsabilidade destas é
objetiva, já Que não se pode falar, nestes casos, em responsabilidade
pessoal. como mencionada na norma do Art . , 4, §4', do CDC . ~

o posicionamento acima é também esposado por Benjamin (1991),


Denari (1991), Teresa Ancona Lopez (1991) e França (1995), entre outros.
Complementando a sua análise sobre a responsabilidade do profissio-
nal liberal, o autor do trecho transcrito (Nery Jr., 1992) afirma que:
'"Deve ser feita a dIstinção. ainda, entre as obrigações de meio e as de
resultado. para que se caracterize perfeitamente a responsablUdade do
profissional liberaI. Quando a obrigação do profissional liberal, ainda Que
escolhido inruitu person(J(J pelo consumidor. for de resultado. sua res-
ponsabilidade pelo acidente de consumo ou vIcio de serviço 6 objetiva.
Ao revés. quando se tratar de obrigaçilo de meio. aplica-se o §4- do
Art . 14 do COC em sua inteireza , devendo ser examinada a responsabili-
dade do profissional sob a teoria da culpa. De todo modo. nas ações de
indenização movidas em face do profissional Uberal. quer se trate de
obrigação de meio ou de resultado (objetiva ou subjetlval . é posslvel
haver a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, conforme
autoriza o Art . 6', VIII , do Código."
392 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Considerando que a natureza da obrigação contratual dos serviços


odontológicos tem sido entendida como "de resultado", o posiciona-
mento expendido no trecho acima transcrito poderia levar à interpreta-
ção de que, em eventual reclamação contra serviço prestado por cirur-
gião-dentista, a verificação da culpa não seria empreendida. No entanto,
como bem acentua Nery (1992), no que "respeita h responsabilidade civil, a
regra geral do CDC é a da responsabilidade objetiva, fundada na teoria do risco
da atividade, que é absolutamente incompaHve.l com o sistemn da responsabilida-
de subjetiva, com culpa, regra geral do C6digo Civil (Art. 159)", ao que aduzi-
ríamos a regra específica prevista no Artigo 1.545, que trata da responsa-
bilidade "dos médicos, cirurgiões, fannacêuticos, parteiras e dentistas",
que são obrigados a satisfazer o dano, sempre que este decorra da
imprudência, negligência ou imperícia, em atos profissionais.
Mais do que nunca, como já temos enfatizado inúmeras vezes, a
odontologia tem o dever inadiável de conduzir pesquisas que visem ao
estabelecimento dos limites condicionados pelas respostas biológicas e
pela influência da colaboração do paciente, nos rratamentos odontológi-
cos, tendo em vista o fato de a saúde bucal, como de resto a saúde geral,
constituir um processo dinâmico e, em que pese o fato r estético, que este
estará, sempre, subordinado à recuperação de uma saúde bucal perdida
ou comprometida pelas afecções bucais.

A PUBLICIDADE ODONTOLÓGICA E O CÓDIGO


DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A publicidade no Brasil, embora de forma assistemática, como informa


Comes (1992) sempre, foi contemplada na legislação, como, por exem-
plo, entre outras, nas disposições que tratam dos crimes contra a econo-
mia popular, relativas ao mercado de capitais, dispondo sobre a distri-
buição gratuita de prêmios a t:ftulo de propaganda, prevendo o crime de
charlatanismo para o anúncio de cura por meio secreto ou infaUvel ete.
No entanto, com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, a
publicidade foi regulada e sistematizada sob o ponto de vista jurídico
(Nery jr., 1992).
Nesse mesmo sentido são as afirmações de Marques (1995), de que
historicamente a publicidade era considerada mera prdtica comnâal, sendo
relevante no direito administrativo, comercial e penal.
o COOJGO DE DEFESA 00 CONSUMIDOR 3. 3

Segundo a citada autora: "Com as mudançns introduzidas pelo COC, a


publicidade, quando suficientemente precisa, passa a tu efeitos jurídicos de uma
oferta, integrando o futuro contrato. Isto significa que o fornecedor brasileiro
deverá prestar mais atençdo nas infonnaçiJes que veicula, seja através de impres-
sos, propaganda em rádio, jornais e telnJis4o, porque ~tas já criam para ele um
vínculo, que no sistema do coe será o de uma obrigação pr~-contratual, obriga-
çdo de manter a sua ofe.rta nos termos ml que foi veiculada e cumprir com seus
deveres anexos de lealdade, informaç4o e cuidado; no caso de acdtapIo por parte
do consumidor, de prestar contratualmnlte o que promet~ ou sofrer as const-
qüincias pmnstas no Art. 35."
O Código de Defesa do Consumidor "menciona a publicidade como ati-
vidade ~/evante em três momentos: 1) quando suficientemente precisa, integra
a oferta contratual (Art . 30), o futuro contrato (Aris. 18 e 20), vincula-{} como
a proposta (Arts . 30 e 35); 2) quando abusivo ou enganosa, i proibida e sancio-
nada (Art . 37); 3) nos demais casos, como prática comercial deve se correta
nas i'lformaçDes que presta (Arts . 36, parágrafos único e 38), identific6vel
enquanto publicidade (Art . 36, caput) e sobretudo, leal (Art . 6", lVr (Mar-
ques, 1995).
Discorrendo sobre o controle da publicidade, Bittar (1992) lembra que
"nesse sentido, com base na orientação protecionista fixada na Constituiç6o de
1988 - que os erigiu em valores fundametrtais - lerdo os consumidores e a socie-
dade respeitados seus direitos essenciais 4 vida, d saúde, d "igidez física e metl-
tal, d IlOnra, à infomulçifo, d proteçifo do patrimônio cultural e a outros tantos
que se inscrevem a esse tlível e que, por via de metlsagetl5 publicitArias, podem
ser afetados, como na pr6tica se verificava", o que ocorria. por exemplo, com
os anúncios de curas miraculosas, de promessas mirabolantes, de insi-
nuações ou de dissimulações dolosas etc.
Ainda segundo esse autor, os "pritrclpios básicos que nor/eiam a publici-
dade, a partir da vigência do Código, silo os stgllitltes: a) o da obrigatoriedade da
i"fommç40; b) o da veracidade; c) o da disponibilidade; d) o da transparência,
com os rcipectivos corolários. Em consonlJncia com o primeiro, toda infonnnçifo,
que deve ser clara e precisa, obriga o anunciante, intwando os contratos que
celebrar com co1fsumidores,' pelo segundo, deve ser verdadeira a informaç4o 011
mensagem publicitária, cumprindo-lhe apresentar corrdamente os elementos
bdsicos do produto ou serviço oferecido; pelo terceiro, devem estar disponlveis,
para os intert!SSfldos, todos os dados som a mensagem publicittJria, fáticos, den·
tíficos, ou técnicos; pelo quarto, deve a mensagem ser facilmetJle identificável
como tal, tlllo se admitindo, pois, mascaramento, ou Olltro expediente, inclllsive
H
subliminar, dissimulatório •
394 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROFI~SIONAl

A PUBLICIDADE ENGANO SA E A ABUSIVA

Ainda como Limites à publicidade, o Código veda a .. "me1lsagcns L'1'gn-


nasas, j"clusive por omissão (griJci), e as nbusivns, impondo sanções especí-
ficas para as transgressões, de c"nho civil e penal" (Bittar, 1992).

"Enganosa é a mensagem falsa ou fah:eada , que leve a erro o consumi-


dor. Na linguagem legal, Ó enganosa a publicidadE" que: (a) seja total
ou parcialmente f3lsa, compreendidas a informação e a comunicação
publicitárias; {bJ que, de qualquer modo. possa enganar ou induzir a
erro o consumidor sobru a natureza, caracterlsticas, quantidade, quali-
d<lde, propriedade. origem . preço e outros dados do produto ou do ser-
viço. Ê também enganosa a que deixa de informar o consumidor sobre
dado eilsencial de produto ou serviço, como, por exemplo. as quo ocul-
tam certa informação essencial. ou olgurna contra-indicaçiio. ou algum
componente ce cerla fórmula, e assim por diante- (Sittor, 19921.

No que tange à publicidade abus:va, objeto do Art. 37, §21l, verifica-se


que a "pllblicidade abusioo transpõe ns fronteiras do direito do consumidor, em
funçlfo do princípio da ordem príb/icn ou legalidnde. Os valores a que fi lei visn
proteger são os da comunidade; entre outros, o.; mencionados 110 dispositivo.
Abusivo é o que ofende a ordem príblicn (public policy), 011 n/lo é ético ali é
opressivo 01/ inescrupuloso, bt-'1/1 como o que callSll dano substancial aos consu-
midores" (Lopes, 1992).
A afirmação de que a publicidade abusiva não é étic.J, como vimos
acima, é corroborada por Marques (1995), ql1e chama a atenção para f)
fato de que, ao pretender disciplinar a publicidade "de [omra a coibir fuh/-
ros daltos aos consumidores brasileiros, "irn poderia restringir {! sua tutela, pro-
tege'fda a ;'fcolumídade ecattómien do consumidor e dcí:mnda de proteger fi sua
ittcolllmidade jis;cn e moral", e resume as suas assertivas afinnando, taxati-
vamente, que a "publicidade abusiva é, em r/5uma, n Pllbliddndt! antiética".
Os reflexos desse entendimento deverão ser levados em consideração
pela classe odontológica, na eventualidade da pretendida Jjberalização
da publicidade odontológica, que poderá sinalizar os limites éticos dessa
pubücidade para que não ocorra confronto entre o que se considera ético
sob o ponto de vista odontológico e () que resultará ético a partir da
construção doutrinária sobre o tema.
O sistema de controle da publicidade adotado no BrnsiJ é o sistema
misto, isto é, coexistem o con trole legal (por meio do coa e o privado
(exe rcid o pelo CONAR - Comissão Nacional de Auto-Regulamen-
tação ......) (Nery Jr., 1992; Lopes, 1992).
o CÓDIGO DE DEFESA 00 CONSUMIDOR 395

No caso das profissões liberais, pensamos que esse controle legal é


exercido também pelos conselhos e ordens profissionais, que dispõem,
nos respectivos Códigos de ~tica e em disposições especiais, sobre as
práticas publicitárias permitidas e sobre aquelas que constituem infra-
ções éticas.
As restrições à publicidade odontológica têm provocado, por parte
dos profissionais, críticas as mais acerbas, constituindo a infração relati-
va à publicidade antiética o contingente mais significativo dos processos
éticos instaurados pelo Conselho Regional de Odontologia de São Paulo,
e acreditamos que o mesmo venha ocorrendo em outros estados.
Em São Paulo, além das disposições contidas no Código de ~tica
Odontológica, a Resolução 29/ 83 dispõe sobre todos os aspectos da
comunicação odontológica, desde a composição de seu papel receituário
até as dimensões admitidas para as placas indicadoras da atividade pro-
fISSional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do muito que se discute, informalmente, na classe odontológica sobre 05
efeitos do Código de Defesa do Consumidor nas relações com os seus
pacientes e do pouco que foi trazido dos pronunciamentos doutrinários,
fica a certeza de que o tema carece de estudos mais aprofundados por
parte dos pesquisadores da área odontológica.
Como afirmamos no início deste capftulo, a intenção foi a de expor os
pontos de vista dos doutrinadores da área jurídica sobre temas que
tocam, diretamente, as relações do cirurgião-dentista com os consumido-
res dos seus serviços profissionais, cabendo à comunidade odontológica
posicionar-se, também, em relação a eles.
Por outro lado, já temos tido a oportunidade de alertar a classe odon-
tológica para as questões relativas à publicidade, estas sim, indubitavel-
mente de natureza objetiva, frente à configuração de enganosa ou abusi-
va . Como alerta Marques (1995), os "efeitos civis da publicidade, como
frisamos, são totalmente novos e as reflexões sobre o tema estão apenas
começando no Brasil".
A produção doutrinária sobre o Código de Defesa do Consumidor é
considerável, e não pode ser negligenciada por quem pretenda ver a
odontologia ocupando o lugar que merece nesse novo contexto social.
Quase nada dela foi reproduzido neste momento, mas o pensamento
que preside a interpretação de seus princípios básicos está contido nos
396 ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

trechos escolhidos, optando-se por transcrevê-Ios, ipsis /itens, para não


correr·se O risco de, se interpretados, haver prejuízo da fidelidade neces-
sária ao pensamento dos autores.
Essa a razão, também, pela qual optamos por trazer a indicação espe-
cifica da obra em que fora colhidas em notas de rodapé, deixando para
arrolar nas referências bibliográficas as principais obras que, embora não
tenham sido citadas no texto, constituem leitura obrigatória para quem
pretenda aprofundar-se no tema .

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o CÓDIGO DE DEFESA 00 CONSUMIDOR 397

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1991 .
CAPíTULO 23

RESPONSABILIDADE
PROFISSIONAL DO
CIRURGIÃO-DENTISTA

IDA T. P. CALVIEUI

Considerado como O grande tema no campo do Direito privado no sécu-


lo XX, 05 debates cada vez mais abrangentes sobre a responsabilidade
em razão dos enormes avanços tecnológicos, se por um lado são gerado-
res de utilidades, por outro podem detenninar, cada vez mais, perigos à
integridade da vida humana (Diniz, 1988), indicam, seguramente, que
essas discussões continuarão a constituir a grande preocupação dos
juristas.
O campo da odontologia não poderia escapar a essas discussões e
assistimos, cada vez mais freqüentemente, a inclusão nas obras do Di-
reito, de análises sobre a responsabilidade dos cirurgi6es-dentistas.
Isso nos faz conscientes de que a odontologia, ao mesmo tempo em
que aprofunda e alarga a sua produção no campo do saber científico e
tecnológico, precisa, urgentemente, voltar-se OS olhos para os reflexos de
sua atuação sob a ótica do campo jurídico.
Responsabilidade significa responder peJos seus atos, mas essa defini·
ção, quase que tautonímica. pouco esclarece. O termo responsabilidade
encerra a idéia de obrigação, não sendo independente, de qualquer pre-
missa, como frisa Marton (1938), mas é "termo complementar de noção
p révia, mais profunda, qual seja a de dtroer, de obrigaçilo". "'É resultado,
pois, da ação pela qual o homem expressa o seu comportamento, em face
desse dever ou obrigação."
399
400 ASPECTOS RElATIVOS A ATUAÇAO PROFISSIONAL

o dever e a obrigação podem ser morais ou jurídicos. A esfera da res-


ponsabilidade moral é mais extensa do que a do direito, sendo que, para
este, a responsabilidade exige a existência de um dano ocasionado pela
violação de um dever,
Pode parecer irrelevante tratar da responsabilidade moral individual
do cirurgião-dentista quando se pretende abordar as conseqüências
legais de sua atuação. No entanto, se considerarmos que a forma pela
qual o homem expressa o seu comportamento diante dos deveres morais
exterioriza-se através de suas ações no campo fático, considerado o
somatório das posturas individuais, pode-se compreender o porquê do
estereótipo aplicado a detenninadas categorias sociais e profissionais em
um dado momento histórico. Assim, o estereótipo de que os "potrticos
são corruptos" e os "médicos pertencem a uma máfia de branco" pode
não corresponder, efetivamente, à realidade, quando se considera a p0s-
tura moral individual de um político ou de um médico, mas constituirá,
inegavelmente, um pré-julgamento que refletir-se-á na apreciação de
algum episódio de sua atividade profissional.
Não é por outra razão que temos insistido na necessidade de cons-
cientização da classe odontológica para a inadequação de certas práticas
que poderão conduzir à estereotipação negativa de seus profissionais e a
pré-julgamentos que em nada beneficiam, não só a odontologia como
profissão, mas cada cirurgião-dentista em particular.
A responsabilidade jurídica abrange a responsabilidade civil e a
penal. A responsabilidade penal tem como pressuposto a turbação da
ordem social pela violação da norma penal, acarretando a submissão do
lIgentc à pena que lhe for imposta pelo órgão judicante. Na responsabili-
dade civil, a causa ge.radora ~ O interesse em restabelecer o equiUbrio
jurídico alterado ou desfeito pela lesão, através da recomposição do statll
quo all'~ ou pela reparação pecuniária.
Embora a ordem jurídica admita outras fontes de responsabilidade,
em regra , a teoria da responsabilidade funda-se no ato ilícito.
Nas palavras de Oiniz (1988), o Hato ilícito constituí urna ação (comis-
s!'io ou orrlli;sao), Imputáve1 ao agente. danosa para o lesado e contrária à
ordem jurldka. Essa violação jurídica poderá consistir em desobediência
D um dever prcVlSto no ordenamento jurídico (ilícito civil ou penal) ou a
uma obrigaç:lo assumida (inexecução de contrato)H.
A responsabilidade civil, genérica, é definida pelo legislador civil no
Artigo 159 do Código Civil, nos seguintes tennos:

"Arl .159. Aquele que, por ação ou omissão volunt!ria. negligênc1a ou


imprudência , violar direito, ou causar prejurzo a outrem, fica obrig&dO 8
reparar o dano.
RESPONSABIUDADE PROFISSIONAL 00 CIRURGIAo·OENTISTA 4.,
A verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade regulam·se
pelo disposto neste Código, Arts. 1.518 a 1.531 e 1.537 a 1.553.-

Em outras palavras, alguém pode ser obrigado à reparação porque


violou direito ou causou prejuízo a outrem, doloso ou culposammte. Diz-
se dolosammte quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo; culposamente quando o resuJtado indesejado ocorreu por
negligência, imperícia ou imprudência, seja no cumprimento das obriga-
ções contratuais, seja decorrente da ação mcita .
Como ensina Pedrotti (1995) na cuJpa há, sempre, a violação de um
dever preexistente. Se esse dever se funda em um contrato, a culpa t con-
tratual; se no principio geral do direito, que manda respeitar a pessoa e
os bens alheios, a culpa t extracontratual, ou aqu.1inna.
Muito se discutiu sobre se a relação que se estabelece entre o médico
(e por analogia, o cirurgião-dentista) e seu paciente era contratual ou
extracontratual. Alguns autores a incluem na esfera contratual, outros,
na esfera extracontratual, havendo outros, ainda, que a enquadram em
uma ou em outra, dependendo das circunstâncias.
Essa discussão, embora de certa (orma pacificada pela doutrina
(Costa, 1928; Dias, 1983; Diniz, 1988; Pedrotti, 1995) que a entende como
contratual, adquire extrema relevância para a odontologia. na medida
em que dela decorre a conceituação da natureza da obrigação contratual,
que pode ser "de meio" ou "de resultado".
Pela clareza da exposição, transcrevemos as considerações de Maria
Helena Diniz (1988) sobre ambas:

-A obrigação de meio é aquela em que o devedor se Obriga tão-somen-


te a usar de prudência e diligência normais na prestação de certo servi-
ço para atingir um resultado. sem. contudo. se vincular a obtê-lo .
Infere·se dar que sua prestação não consis1e em um resultado certo e
determinedo a ser conseguido pela obrigado, mas tão-somente em
uma atividade prudente e diligente deste em benefrcio do credor. Seu
conteúdo é a prÓpria atividade do devedor, ou seja. os meios tenden·
tes !li produzir o escopo almejado. de maneira que a inexecuçào da
obrigação se caracteriza pela omissão do devedor em tomar certas pre-
cauç6es, sem se cogitar do resultado final.·

A conseqüência do inadimplemento da obrigação de meio refere-se ao


ônus da prova . Caberá ao credor "demonstrar que o resuJtado coLimado
não (oi atingido porque o obrigado não empregou a diligência e a pru-
dência a que se encontrava adstrito", e isto "porque nessa relação obri-
402 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇAO PROFISSIONAL

gacionaJ O devedor apenas está obrigado a fazer o que estiver ao seu al-
cance para conseguir a meta pretendida pelo credor.. ,",
É nesse sentido que Magalhães (1988) afirma que a "questão da pre-
sunção de culpa e ronseqaente inversão do 01lU5 probandi não se Liga à
divisão entre culpa contratual e aquiHana, mas, sim, ao fato de a doutri-
na e a jurisprudência. mais recentemente, interpretarem as obrigações
contratuais como obrigações de meio e obrigações de resultado ......
São considerados de meio os contratos de prestação de serviços médi-
cos e advocatícios. por exemplo.
Já a "oUrigaçdo de resultado é aquela tm que o cnd(lr tem o direito de exigir
do devedor a produçilo de um resultado, sem o que se ImJ o inadimplemento da
reJaçifo obrigaaonal. Ter-se-4 a exn:uçilo dessa relaç40 obrigacional quando o
dtwdor CII"'prir o objetivo final. Como tSSQ obrigaç4o requer um residindo .'itil
ao credor, o seu inadimplemento é. sujiciellte para determinar Q mponsnbilidade
do droedor. j6 que basta que o resultado não seja atingido para que o C1?dor seja
illdcllimda pdo obrigRdo, que só ~ i$e1ltard de responsabr1idade se provar que
1lilo agm CIlfposamellte. Assim, se inadimplida essa obrigaçAo, o obrigado jicartf
constitufdo em mora, de modo qlle llte com.petirá pnwar que a falta do resultado
previsto tido decorreu de culpa slla,......
A relação contratual que se estabelece entre o drurgião-dentista e seu
paciente era, até bem pouco tempo, entendida pelo direito como perten-
cente, exclusivamente, a esse grupo: ao daqueles cuja obrigação contra-
tual é de resultado. Será fácil imaginar quão onerosa para o cirurgião-
dentista era essa classificação.
Pelizmente, a decidida atuação dos cirurgiães-dentistas, encabeçados
principalmente pejos pesquisadores e docentes da área da odontologia
legal, foi fazendo ver aos juristas que o estádio em que se encontra a
ciência odontológica, distante dos tempos de Gualter Lutz (1938) e
Guimarães Menegale, não podia mais se conter no campo da previsibili-
dade de resultados, eis que dependentes da resposta biológica de seus
paCIentes, ou até mesmo de sua colaboração (Silva e Calvielli, 1988;
Ramos e Calviclli, 1991), que na cirurgia, na endodontia, na periodontia,
por exemplo, existe uma inafastável imprevisibilidade da resposta bioló-
gtca. A partir dai, nos contratos que têm por objetivo a atuação nessas
~reas, admlte-se a obrigaÇ"dO de meio; porém, "quando se cuida de trata-
mento dentário que envolva a colocação de prótese, restauração, limpeza
etc. voltadas para o aspecto estético" (Stoco, 1995) essa obrigação conti-
nua a ser entendida como "de resultado" .
Assim, a obrigação contratual do cirurgião-dentista compreende, funda-
mentalmente, a realização do serviço convencionado (e que consiste no seu
plano de tratamento) que poderá ser considerada cumprida, em detennina-
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL DO CIRURGIÃO-DENTISTA 403

dos casos, se o profissional agiu com zelo e diligência (obrigação de meio).


Em outros, somente o resultado esperado desobrigará o profissional
Não se deve esquecer que o contrato entre profissional e paciente não
precisa ser escrito. Pode ser verbal, e geralmente o é, e até mesmo tácito.
Nessas condições não será difícil compreender a importância adquirida
na condução do esclarecimento do paciente acerca das eventuais limita-
ções sofridas pelo tratamento odontológico. Este se destina, sempre, à
tentativa de restauração de urna saúde bucaJ perdida ou comprometida
pelas afecçõe5 dentárias, não se podendo, jamais, olvidar que o paciente
nasce com, ou adquire, determinadas características bucodentárias. A
função precípua da odontologia é a de preveni-las, tentar corrigi-las,
quando possível. ou minimizá-Ias, se irreversíveis.
O exercício de uma profissão, da odontologia por exemplo, é permiti-
do ao agente que adquiriu, regularmente, um determinado volume de
conhecimentos técnicos e cientillcos. O dever profissional é o exercício
de realizar o trabalho convencionado de acordo com esses conhecimen-
tos.
Há que se considerar, porém, e é muito importante que o façamos
neste momento, o exame das condições socioeconômicas vividas pela
população brasileira, das suas condições bucais e da interpenetração
dessas duas realidades na condução do tratamento odontológico, tendo
em vista as alternativas oferecidas pela odontologia no que tange 3 mul-
tiplicidade de técnicas e de materiais restauradores.
Para ilustrar as nossas palavras, trazemos à colação exemplo lembra-
do pelo eminente mestre da odontologia legal, Prof. Moacyr da Silva, em
suas preleções, e que ilustra perfeitamente o que estamos afirmando.
Imaginemos uma jovem, de baixa condição socioeconômic3, portado-
ra de ausência dos incisivos centrais superiores, que procure um cirur-
gião-dentista para recompor essa falha.
Transpostos os passos iniciais da anamnese e do exame clínico, diante
dos conhecimentos técnicos e científicos altamente diferenciados da odon-
tologia, o profissional poderia recomendar a realização de implantes ou
confecção de prótese em metalocerâmica. Ao apresentar o custo do trata-
mento, a jovem declina sua impossibilidade financeira de arcar com ele.
O profissional poderá, então, optar pela execução de prótese metaloplás-
tica, cujo custo é menor, tendo em vista o material utilizado. Novamente
a jovem informa que o montante está acima de suas possibilidades
financeiras. E, assim. o profissional vai lançando mão de alternativas téc-
nicas e de materiais utilizados em odontologia, na tentativa de poder
atender àquela paciente necessitada de cuidados odontológicos. Ne-
nhuma delas estaria ao alcance da referida jovem, que relata depender
404 ASPECTOS RELAnVOS A ATUAÇAo PROFISSIONAL

da "recomposição de seu sorriso" para adequar-se às exigências de ofer-


1'a de emprego que recebera.
Diante desse dilema, o drurgião-dentista resolve confeccionar uma
" perereca" •, que lhe permitiria, diante das circunstâncias, remediar de
imediato o problema da paciente, informando-a de que. tão logo fosse
possível, ela deveria buscar realizar o tratamento adequado.
A jovem, como tantos outros pacientes, resolvido o problema imedia-
H
to, ., esquece-se de que deveria retomar para a realização da prótese
adequada (talvez até pela impossíbiUdade econômica), até que, pela sua
própria temporariedade, a prótese quebra, ou ocorre qualquer outro
problema decorrente da precariedade da solução. Como em tantos
outros casos, quando isso acontece, a jovem em questão procura outro
profissional, omitindo as condições especialíssimas em que o tratamento
fooa realizado, quando não, criticando a "durabilidade" da prótese.
Ora, examtnnndo-sc a prótese em termos de adequação às normas da
odontologia, é evidente que ela será considerada inadequada e, na even-
tualidade de ser intentada ação contra o profissional que a confeccionou,
se este não tiver tido o cuidado de anotar no prontuário da paciente,
detalhadamente, as condições em que o tratamento foi realizado, colhen-
do a sua assinatura para comprová-las, pode ser bastante prováve1 que
seja considerado culpado pela inadequação do trabalho.
Essas considerações são necessárias porque a odontologia brasileira
vive um paradoxo (assim como a medicina). Ao mesmo tempo em que
são divulgadas pelos meios de comunicação as mais avançadas conquis-
tas para a recuperação da saúde bucal (em geral, bastante onerosas), e os
próprios profissionais assim anunciam para granjear clientela, cria-se
uma expectativa exagerada em relação às reais possibilidades da popu-
lação. que não tem acesso aos mais comezinhos cuidados odontológicos,
gerando frustrações que nâo têm sido devidamente consideradas pela
odontologia, e mesmo pelo direito.
A obrigação contratual do cirurgião-dentista, portanto, compreende o
dever de executar o serviço convencionado obedecendo à adequação téc~
nica e científica. Mas, o dever pode, ainda, ser imposto pela norma, que
passará a constitujr parte integrante da obrigação, seja ela contratual ou
exlracontrntual, como é O caso, por exemplo, das disposições relativas às
medidas de prevenção contra as radiações ionizantes e, mais recente-

•Artifício utilizado para resolver problemu imediillos de {alta de elementos den-


l'ári05, enquanto a prótese efetiva esti sendo confeccionilda. ~ um recurso tem-
porário. nlio apresentando condições de resistência e retençlo adequados.
RESPONSABIliDADE PROFISSIONAL 00 CIRURGIÂO-OENTIST A 405

mente, das normas de biossegurança, permeando o tratamento em todo


o seu desenvolvimento, pelo dever de cuidado, inafastável de toda perqui-
rição de culpa profissional.
Finalmente, por muito tempo, e ainda hoje, isso ocorre de maneira a
mais rudimentar até a forma mais sofisticada: uma certa camada de pro-
fissionais odontológicos anuncia garantir os seus serviços, e até promete
fazê-lo, por escrito.
~ evidente que essa prática, condenável, que deve ser erradicada de
maneira drástica pela comunidade odontológica, poderá influenciar a
expectativa do paciente em relação aos resultados do tratamento odonto-
l6gico.
Oportuno referir, quando se levanta a questão da publicidade inade-
quada dos serviços odontológicos, a dimensão que o tema assume quan-
do analisado sob o ponto de vista das novas teorias do contrato, exami-
nadas sob o prisma do Código de Defesa do Consumidor, e que foi abor-
dado no capítulo anterior.
O paciente tem na ação pessoal, que protege os direitos de crédito
(direitos obrigacionais), o instrumento para haver a reparação de even-
tual dano decorrente de tratamento odontológico.

O Código Civil, em seu Artigo 177, estabelece que:

~ Art. 177 . As ações pessoais prescrevem ordinariamente em vinte


anos, as reaIs em dez entre presentes e, entre ausentes, em quinze,
contedos da data em que poderiam ser propostas ."

Ora, é na documentação odontológica, incluidos ai o prontuário do


paciente, os livros de agendamento, modelos, radiografias etc., que o
cirurgião-dentista poderá procurar as provas do que alegará em sua
defesa e, se o pacie1lte tem 20 ar/os para txigir rept1raç/fo, parece claro e cris-
talino que a documer/taçifo que poderá afastar a imputação devertf ser bem
guardada pelo mesmo prazo pelo profissional.
Única exceção quanto a esse prazo é o que se refere às ações em que a
Fazenda Pública esteja envolvida, incluídas aí as indenizatórias, quando
então, consoante o disposto no Art . 178, §10, VI, do Código Civil, a pres-

, crição ocorrerá em cinco anos.


A necessidade de elaboração de documentação adequada, apta, inclu-
sive, a respaJdar as alegações do profissional em eventual processo, tem
sido enfatizada (Ramos e cols., 1994; Silva, 1995; Ramos e Calviellí,
1991), na bibliografia odontológica.
406 ASPECTOS RELA.TIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

As provas a serem apresentadas pelo profissional são pré·amstituldas,


isto é, ou são produzidas oportunamente, ou não servirão para esse fim .
Ou O profissional elabora, ao longo do tempo, o prontuário do paciente,
ou a ficha que apresenta em Juízo, forjada no ato da defesa ou trazendo
apenas anotações re1ativas a custo e pagamentos, entremeadas de pou-
cas e ~arsas informações acerca do tratamento, será imprestável.
O prontuário odontológico deverá conter todas as ocorrências e suas
conseqüências, verificadas ao longo do atendimento, bem como as pro-
vidências tomadas.
A relação que se estabelece entre o profissional e seu paciente, atual-
mente, nem sempre é baseada na confiança (França, 1975), em função
das próprias modificações verificadas no mercado de trabalho . Fre-
qüentemente, não é o paciente quem procura o profissional porque tem
confiança nele ou porque sabe por informações de terceiros que ele é
confiável proHssionalmente. Este é que é indicado para atendê-Io (con-
vênios. credenciamentos, serviços odontológicos colocados à sua dispo-
sição etc.). Por isso, e com maior ênfase na clínica privada, a relação
paciente/ profissional deve ser inluativa, no sentido de que o desenvol-
vimento do tratamento se distribua entre ações de competência do pro-
fissional e açÕC5 atribuídas ao paciente.
O comparecimento às consultas não se fará obrigatório apenas por
que se o paciente faltar deverá pagar por elas, mas porque será conscien-
tizado de que o processo doença / saúde bucal é dinâmico e que o não
comparecimen to poderá agravar esse processo.
Com relação à higienização, de nada adiantará a alegação de que ela
nâo foi adequadamente realizada, se o profissional sequer demonstrou
como ela deve ser feita , e mais, se não acompanhou com o paciente, ao
longo do tratamento, a melhoria ou não dessa higienização. com a anota-
ção no prontuário das observações acerca desse ponto.
Alegar que determinado elemento da pr6tese (oi fraturado em razão
de uma hipotética mordida em "alimento duro" é irrelevante diante de
um quadro geral que demonstre outros pontos de inadequação do trata-
mento realizado. O paciente dificilmente volta ao consult6rio para recla-
mar de todo um tratamento quando s6 ocorreu uma fratura devido ao
fato de ele ler mordido inadvertidamente um caroço de azeitona ...Há
todo um processo dt lllsallsjaçao com o tratamento penn61lldo essa rrclamação.
Se, durante o tratamento, vinham ocorrendo desentendimentos entre
o profissional e o paciente quanto ao que vinha sendo conseguido em
relação aos resultados, o porquê deverá estar contido no prontuário, e
está na dependência direta daquilo que o paciente tinha em mente ao
contratar o cirurgião-dentista. Se ele tem uma expectativa estética que
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 00 CIRURGIAo·DENTISTA 407

não (oi captada e trabalhada convenientemente pelo profissional, muito


provavelmente este enfrentará problemas futuros.
Finalmente, quanto aos " pacientes neuróticos"', não há profissional
que não tenha tido algum contato com eles. Não é raro encontrarmos
relatos de profissionais que foram procurados por determinado paciente
que se queixava de haver tentado a solução de seus problemas odontoló-
gicos com dois ou três outros cirurgiões-dentistas, mas que estes apenas
teriam agravado os seus problemas.
O "sucessor" estará profundamente enganado se imaginar-se possui-
dor de uma tal capacidade que o fará resolver um problema que tantos
que o antecederam não conseguiram solucionar. Geralmente, ele será
considerado O próximo incompetente da lista .
As anotações dirão respeito às ocorrêndas, como, por exemplo, quan-
do o paciente solicita que naquele dia não seja aplicada a anestesia
necessária; que determinado ato operatório não seja realizado porque
"está mUIto nervoso" etc.
Quando, apesar de todos os cuidados, ou na falta deles, o cirurgião-
dentista se vir envolvido em uma pendência judicial com o seu paciente,
é a hora de escolher um assistente técnico acostumado às lides periciais.
Não basta ao perito ou assistente técnico o conhecimento, ainda que
bastante aprofundado, da ciência odontológica (Calvielli, 1993). É neces-
sário o conhecimento processual; a prática das lides forenses. O conheci-
mento do processo e de todos os possíveis desdobramentos decorrentes
da atuação pericial é fundamental para que o perito possa fornecer ao
Juizo OS esclarecimentos técnicos de que este necessita, sob pena de se
estar praticando dupla injustiça: para com o drurgiãCKientista e para
com o paciente.
Mas, se afinnamos no decorrer deste capítulo, que a odontologia vive
um paradoxo, representado pelas conquistas odontológicas no campo da
recuperação da saúde bucal Q!7SllS o acesso da população às mesmas, é no
campo da responsabilidade penal profissional que ele mais se evidencia.
A extração de elemento dentário pa.ra a qual não haja indicação tera-
pêutica, isto é, quando ainda não foram esgotadas todas as possibilida-
des para a sua preservação, pode constituir lesão grave, mormente quan-
do se trata, por exemplo, de dente-chave de oclusão, situação na qual a
fun ção mastigatória pode Rcar comprometida.
No entanto, é notória a exigência (eita a alunos de graduação em
odontologia para que providenciem bateria de dentes, preferentemente
hfgidos. para o treinamento de procedimentos terapêuticos. Quando se
levanta esse problema, a resposta ouvida é a de que referidos dentes são
oriundos de "clínicas populares", nas quais as extrações imotivadas são
408 ASPECTOS RELATIVOS À ATUAÇÃO PROFISSIONAL

fato corriqueiro. Se é verdade que, para a população brasileira, a inevita·


bilidade da perda dos elementos dentários é um fato e que os próprios
pacientes, muitas vezes, diante dessa crença (somada ao desconforto e
ao ônus econômico representado pelo tratamento dentário), chegam a
"exigir" a exodontia de lodos os dentes para colocação de prótese total,
assim pensando resolver todos os seus problemas dentários definitiva-
mente, sabe-se, também, que o produto da venda desses dentes. na
situação mencionada, às vezes sobrepuja os valores cobrados pelas pró-
prias extrações.
A indiferença em relação a esses fatos coloca-nos diante de uma dúvi-
da: será que os dentes representam "saúde" apenas para uma parcela
dos cidadãos? Será que os pacientes mais favorecidos economicamente
teriam seus dentes extTaJdos com tanta facilidade?
As consideraçOcs acima não são despiciendas diante do incremento
das reclamações contra essa prática. Temos tido a oportunidade de
atender pacientes que, conscientes agora dos prejuízos causados por
extrações não indicadas, na sua infância, consultam-nos sobre a possi-
bilidade de intentarem ações contra 05 cirurgiõe5-dentistas que os aten-
deram .
Há pouco tempo tivemos conhecimento de um caso que ilustra bem o
que estamos comentando: uma criança foi levada à clínica de uma insti-
tuição de ensino porque eslava com Hdor de dentes" . Diante do quadro
de pulpite, foram realizados os procedimentos normais para o tratamen-
to endodôntico e colocado um curativo, seguidos de um amplo esclareci-
mento à mãe sobre a importância da preservação dos dentes e dos cuida-
dos que deveriam ser tomados para que não ocorressem prejufzos à
saúde bucal. Como o atendimento (oi realizado às vésperas das férias de
julho, período no qual não eram prestados atendimentos de rotina, dian-
te de novo quadro de dor, a criança foi levada pela mãe ao posto de
saúde, c esta foi impedida de acompanhar a criança durante o atendi-
mento (procedimento adotado até recentemente pela odontopediatria).
Como acontece cotidianamente, diante da falta de condições para a reali-
zação de tratamento menos radical. o profissional simplesmente extraiu
o dente que estava doendo. Pode-se imaginar a reação da mãe, plena-
mente conscientizada da necessidade de preservação daquele dente,
diante da extração consumada.
No Capítulo 18, que trata da avaliação médico-Iegal das lesões do
complexo maxilomandibular, Cardozo faz análise minudente sobre os
parâmetros a serem utilizados para a quantificação das lesões dentá-
rias em âmbito penal e a avaliação das perdas dentárias em âmbito ci-
vil.
RESPQNSABIUOAOE PROFISSIONAL 00 CIRURGIÃO·DENTISTA 409

Os dentes passam, assim, a ocupar o lugar que lhes cabe na escala de


valores relativos à saúde, ao mesmo tempo em que, seguramente, a
argüição de culpa profissional será bem mais acurada .
Ainda no campo da responsabilidade penal profissional do cirurgião-
dentista, há que lembrar que a sua atuação, invasiva por excelência,
acrescida ao fato de manusear instrumental cortante, contundente, corto-
contundente etc., pode ocasionar lesões as mais variadas, que poderão
acarretar denúncia de infração ao Artigo 129 e seu §6G (lesões corporais
culposas) e, embora não tão freqüentemente, ao Artigo 121 (homiddio
culposo), ambos do Código Penal.
Oportunas, neste momento, algumas considerações sobre as altera-
ções introduzidas no sistema processual pela Lei nl 9.099, de 26 de
setembro de 1995, que determinou a competência dos Juizados Especiais
Criminais para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações
penais de menor potencial ofensivo, transferindo para a sua esfera de
competência a conciliação, o julgamento e a execução dos casos de lesões
corporais leves e lesôes corporais culposas.
Os prazos prescricionais, no caso das ações penais, dependem da
pena que é cominada, em abstrato, para os crimes, e encontram-se deter-
minados no Artigo 109 do Código Penal. No caso da lesão corporal cul-
posa, a pena máxima cominada no parágrafo 61 do Artigo 129, do Có-
digo Penal, é de um ano, portanto, a extinção da punibilidade ocorrerá
em quatro anos, segundo estabelece o inciso V, do citado Artigo 109, do
Código Penal. Entretanto, ao transferir para a competência dos Juizados
Especiais Criminais o exame das lesões corporais leves e das lesões cor-
porais culposas, passando a exigir a representação do ofendido, ou do
seu representante legal, para a propositura da ação penal pública, esta
passou para o rol das ações penais públicas condicionadas, atrelando-a,
por conseguinte, ao prazo decadencial previsto no Artigo 38, do Código
Penal, ou seja. o ofendido tem o prazo de seis meses para exercer o direi-
to de queixa, findo o qual ocorrerá a extinção da punibilidade nos ter-
mos do inciso Iv, do Art. 107, do Código Penal.
Para o homicídio culposo (cujo julgamento continua sendo de compe-
tência do juiz singular). a pena cominada em abstrato é de 12 a 20 anos, e
a prescrição ocorrerá somente em 20 anos.
Por outro lado, embora não pertença ao tema que estamos versando,
não podemos deixar fugir a oportunidade de esclarecer que as modifica-
ções trazidas pela Lei na 9.099/ 95, no que se refere às lesões corporais
culposas, abrangem mais do que o prazo de decadência: introduzem a
possibilidade de conciliação, quando o ofendido exercitar o seu direito
de representação.
41. ASPECTOS RELATIVOS A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Isto significa que o ônus da ação penal para o cirurgiã<Hientista que


se vê denunciado pela prática de lesões corporais foi significativamente
atenuado, uma vez que entre os objetivos rolimados pela instituição dos
Juizados Especiais releva apontar a solução dos conflitos pela concilia·
ção, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena
não privativa de überdade.
Na realidade, quando o paciente ingressa em uma delegacia para
apontar lesão sofrida em decorrência de atuação de cirurgião--dentist3,
muitas vezes a sua pretensão é apenas a de punir o profissional, até por-
que, para processá-lo na esfera civil. necessitaria arcar com o ônus pro--
cessual (custas processuais, honorários de advogado, honorários peri-
ciais etc.), e, assim, até por razOes econômicas, o paciente escolhe a via
criminal.
Aberta, hoje, com a edição da Lei nl 9.099/95, a possibilidade do pro-
fissional discutir com maior liberdade a eventual existência de lesão, ou
mesmo a extensão do dano, e, quando for o caso, a conseqüente repara-
ção (escopo geralmente perseguido pelo paciente), os Juizados Especiais
Criminais poderão mostrar-se uma eficiente via para a solução desses
conflitos.
Além disso, hoje, na conformidade da referida lei, reparado o dano
pelo profissional, antes ou na fase da conciliação, haverá renúncia ao
direito de representação com o conseqüente arquivamento do processo.
Mesmo quando não ocorre a conciliação, ainda pode o Ministério
Público, preenchidas as condições estabelecidas na lei, propor a suspen-
são do processo, quando, então, o juiz imporá as condições que vigora-
rão durante a suspensão.
Das considerações acima depreende-se que, em matéria criminal, a
situação do ciru,rgião-dentista ficou muito mais confortável.
Não será preciso insistir na importância assumida pela documentação
odontológica, quando adequadamente realizada, para corroborar a defe-
sa do profissional tanto em âmbit,o civil como penal, demonstrando a
inexistência de culpa profissional.

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PARTE VI

PERíCIAS
ODONTOLÓGICAS
CAPíTULO 24

DAS PERíCIAS
OOONTOLEGAIS

M OACYR DA S ILVA

INTRODUÇÃO
A Lei Federal n l 5.081, de 24 de agosto de 1966, que regula o exercício da
odontologia, estabelece:

"An.6t - Compete ao cirurgião-dentista:


IV - proceder" perfcia odontolegal em toro civil, criminal, 8 tra-
balhista e em sede administrativa;
IX - utilizar, no exerclcio da funçAo de perito-odontólogo, em caso
de necropsía, 8S vias de acesso do pescoço e da cabeça ...

Por sua vez, a Resolução CFO-I85, de 26 de abril de 1993, estabelece.


no seu artigo 39. O elenco das especialidades odontol6gicas, entre as
quais a odontologia legal, cujas atribuições encontram-se definidas nos
artigos 54 e 55, nos seguintes termos:

"Art. 54. Odontologia Legal é li especialidade que tem como objetivo li


pesquisa de fenOmenas pslquicos. flslcos. qulmicos e biológicos que
podem atingir ou ter atingido o homem, vivo. morto ou a ossada. e
mesmo fragmentos ou vestlgios, resultando lesões parCiais ou totais
reversfvels ou Irreverslvels .
Parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal restringe-se i análi-
se, perlcia e avaliação de eventos relacionados com a área de compe-

415
416 PERrCIAS ODONTOLÓGICAS

tAnela do cirurgião-dentista. podendo, se 8S circunstancias o exigirem.


estender-se li outras 6reas, se disso depender li busca da verdade, no
estrito interesse da Justiça e da administração.

Art. 55 . As áreas de competência para atuação do especialista em


Odontologia Legal incluem:
a) identificação humana;
b) perlela em foro civil, criminal e trabalhista;
c) perlcia em área administrativa ;
di pericia, avaliação e planejamento em infortunrstica;
ai 18n810109;8 forense ;
f I elaboração de:
1) lIutos, laudos e pareceres ;
2) relatórios e IItestados;
gl traumatologia odontolegal;
h) ballstlca forense;
Il perlcill toglstica no vivo. no morto. Integro ou em suas partes em
fragmentos;
j) perida em vestfgios correlatos, inclusive de manchas ou Irquidos
oriundos da cavidade bucal ou nela presentes;
I) el(ames por imagem para fins periciais;
ml deontologia odontológica:
n) orientação odontolegal para o exercfcio profissional, e,
01 el(ames por imagens para fins odontolegais.·

Fica, assim, estabelecida a competência do cirurgião-dentista para rea-


lizar tarefas periciais.

CONCEITO GERAL DE PERÍCIA


"Perícias, de um modo geral, são operações destinadas a ministrar escla-
recimentos técnicos à Justiça", podendo-se admitir, portanto, a possibili-
dade de realização de perícias em tantos campos quantos os que advêm
da atividade humana, ou seja, na medicina, odontologia, engenharia,
contsbilidade, filatelia, numismática. pintura etc.

CONCEITO MÉDICO-LEGAL DE PERÍCIA


Para Souza Lima (1933), a perícia médico--Iegal é uma diligência, isto é. o
alo promovido por ordem judicial para que se cumpra uma exigência
processual ou se averigüe a respeito da questão ajuizada, e, como tal,
DAS PERICIAS ODONTOLEGAIS 417

para esse autor: " DiLigência médiarlegal é toda sindicância promovida


por autoridade policial ou judiciária acompanhada de exame, em que,
pela natureza do mesmo, os peritos são ou devem ser médicos",
Essa definição é perfeitamente aplicável à atividade pericial ooontol6-
gica para a qual os peritos são ou devem ser cirurgiõe5-dentistas.
Da atividade pericial resultará um laudo que, em maté.ria de direito, é
considerado uma prova técnica . Segundo Vicente de Azevedo (1958),
provas em direito "são os meios pelos quais a inteligência busca a con-
quista da verdade" . Essa verdade que é buscada pela Justiça obriga o
perito a possuir algumas qualidades, dentre as quais, conhecimento,
espírito jurídico, juízo crítico, experiência e autocensura.

TIPOS DE PERÍCIAS
Perícias na Área Civil
De Ressarcimento de Danos

a . Nos casos de responsabilidade profissional.


b. Em casos de acidente, notadamente os de trânsito, em que a vítima
necessita de trabalhos odontológicos em virtude de lesões que atingi-
ram a face.
c. Em casos de agressão, em que a vitima sofre lesões na face, com com-
prometimento dos órgãos dentários.
d . Em casos de erro profissional.

Arbitramento Jud icial de Honorários Profissionais


a. Nos casos de cobrança judicial p romovida por ci rurgião-dentista,
quando as partes não tiverem chegado a acordo sobre os honorários
profissionais.

Exclusão da Paternidade

Geralmente essa perícia é realizada no campo médico-Iegal através da pes-


quisa do DNA, porém, pode ocorrer que, sendo esta impossível por algu-
ma razão, o juiz determine a realização de perícia de caracteres dos arcos
dentários, o que somente será possível se existirem caracteres teratológicos
ou doenças de transmissão genética dominante no campo bucodentário.
418 PERJCIAS OOONTOLOGICAS

Estirrtativa da Idade
a. Em casos de adoção de menores.

Avaliação de Equipamentos Odontológicos


a. Em casos de lides contratuais.

Perícias na Área Criminal


Identificação:

a . No vivo:
• em casos de dentadas ou mordeduras na vitima ou no agressor;
• em casos de dentadas ou mordeduras em alimentos;
• em casos de delinqüentes com idade não-comprovacla;
• outros casos de identificação humana .
b. No cadáve.r:
• em adiantado estado de putrefação, em que a identificação dactilos-
cópica é impossível;
• afogados nos quais as polpas digitais tenham sido destruídas por
peixes ou outros animais;
• de desconhecidos que dão entrada nos Institutos Médic~Legais;
• de carbonizados;
• nos casos de grandes catástrofes em que um grande número de
pessoas perde a vida, dificultando o reconhecimento;
• nos casos de dilaceração do corpo.

c. Peridas antropológicas (no crânio esqueletizado):


• espécie animal;
• estimativa do sexo;
• estimativa da idade;
• estimativa da estatura;
• estimativa do bi6tipo.

Lesões Corporais (Perícias de Traumatologia)


a . Nos casos de acidentes em que a face é atingida, provocando fraturas
em maxilares, mandíbulas e dentes.
DAS PER[CIAS ODONTOLEGAIS 419

b. Nos casos de crimes, em que a vítima ou o agressor sofre lesões na


face etc.
c. Em casos de erros profissionais.

Detenninação da Idade

\I Nos casos de delinqüentes e vítimas sem idade comprovada.

Perícias de Manchas

\I Em casos de diagnóstico diferencial entre manchas de saliva, espenna


e mucosidade vaginal etc.

Determinação da Embriaguez Alcoólica

\I Pelo exame da saliva.

Outros Exames Periciais

Perícias Trabalhistas (Infortúnios do Trabalho)

a . Acidente-tipo, quando a face e a boca são atingidos.


b . Doenças profissionais com manifestação bucal.

Em Sede Administrativa

'lJ'erícias" de Convênios

Estas, devido à situação atual da odontologia, merecem atenção especial.


Assim, na Lei nll 5.081/66, ficou estabelecida a chamada perícia em sede
administrativa, que se refere a exames procedidos nessa esfera . No
entanto, na prática diária, tratando-se de exames ligados às relações
decorrentes dos convênios, seria melhor e mais prudente utilizannos os
420 PERrCtAS ODONTOLÓGICAS

termos "avaliação", "auditoria" etc., para não serem confundidas com a


perícia em âmbito jurídico, cuja realização somente pode ser determina-
da por autoridade policial ou judicial, possibilitando ao perito a utiliza-
ção de todos os meios necessários para o esclarecimento da justiça.
Para O acautelamento dos interesses das partes envolvidas nesse tipo
de " perícia", deve-se ter o cuidado de deixar bem claro, desde logo,
entre conveniantes e conveniados, que ela será realizada, comprometen-
do-se o profissional, expressametlte, a acatar o seu resultado dentro dos
padrões previamente estabelecidos.
Por outro lado, esse tipo de trabalho deverá ser realizado por cirur-
gião-dentista afeito às atividades periciais, haja vista que nem sempre o
melhor "especialista" é o melhor perito. Ao realizar as referidas vistcr
rias, o cirurgião-dentista auditor jamais deverá colocar-se no lugar do
°
clínico. ou seja. raciocinar que "se til fosse profissional faria isso ou
faria aquilo".
Sempre é importante lembrar que o consultório não é um tribunal
onde se deve julgar O trabalho de um colega.
Cabe verificar, em um exame inicial, se o plano de tratamento está
adequado aos padrões do convênio e, em um exame final, se o plano de
tratamento foi cumprido.
Caso haja um problema técnico. este deverá ser resolvido entre os pro-
fissionais. e nunca na presença do paciente ou de terreiros .
O Capítulo IV, do Código de ~tica Odontológica. em seu Art . 5", inci-
sos I e U, estabelece que constitui infração ética:

- I - deixar de atuar com absoluta isanção quando designado pllra ser-


vir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites de suas
atribuições e de sua competência;
1I - Intervir, quando na qualidade de auditor ou perito, nos atos de
outro profissional ou fazer qualquer apreciação na presença do exami-
nando, reservando suas obServações, sempre fundamentadas, para o
relatório sigiloso e lacrado. "

Para melhor compreendermos a realização de auditorias em convê-


nios é necessário que se esclareçam alguns conceitos.

Profissional Liberal
O cirurgião-rl.entista é, e sempre será, um profissional liberal, mesmo tra-
balhando como empregado, uma vez que, nessa condição. são seus direi-
tos fundamentais fazer o diagnóstico e o prognóstico e estabelecer a tera-
DAS PERrelAS ODONTOLfGAIS 421

pêutica indicada para cada caso, e ninguém poderá dizer como ele deve
proceder para fazer uma incisão, para preparar uma cavidade etc., desde
que esta esteja tecnicamente adequada. Essas decisões são de competên-
cia exclusiva do cirurgião-dentista, porque ele responderá pelos seus
atos .

Profissional A utônomo
É o cirurgião-dentista que trabalha por conta própria em seu consultório
particular, sem nenhum vínculo empregatício. É, portanto, um profissio-
nalliberal autônomo.

CONDUTA NA TRAMITAÇÃO DAS "PERÍCIAS"


D E EMPRESAS

A fim de evitar desgastes desnecessários no relacionamento entre cre-


denciante e credenciado, convém que as cláusulas acordadas sejam obje-
to de contrato escrito circunstanciado. Nesse contrato, voltamos a insisti r
na necessidade de estar expresso que o colega envolvido no sistema tem
conhecimento de que o seu trabalho poderá ser avaliado.
Na eventualidade de ocorrência de qua lquer irregularidade, como
proceder?

a. Se essa irregularidade disser respeito à forma, ou seja, o cirurgião-


dentista deixou de fazer ou fez fora dos padrões contratuais, estará
o mesmo sujeito à rescisão contratual.
b. Quando a irregularidade for quanto ao mérito, ou seja, o trabalho
está tecnicamente incorreto, deverá haver sindicãncia em âmbito
administrativo da empresa, ocasião em que deverá ser concedido
amplo direito de defesa ao p rofissional.

Esse é um aspecto que requer um estudo mais aprofundado, e a nossa


opinião é a de que se faça um trabalho envolvendo as diversas especiali-
dades odontológicas, para que se tente defmir "o que i aceitdvel eo que nlÜJ
i aceitávtl em odontologia".
Enquanto esse trabalho não existir, a nossa recomendação é a de que,
nas empresas, haja reuniões entre os " peritos" e os cirurgiões-dentistas
operacionais, para que, juntos, discutam e estipulem o que, naquele sis-
tema empresarial, será considerado aceitável ou não.
422 PERlelAS ODONTOLOGICAS

Essa maneira de agir diminuirá ou evitará sérios problemas éticos que


estão surgindo entre HperitOS" e cirurgiões.dentistas operacionais.
Outra situação que tem gerado muitos problemas é a da circulação do
parecer do "perito", tanto o inicial como o final, nas mãos de pacientes.
Infelizmente, dentro de nossa cultura, o paciente tem a tendência de vio-
lar o parecer, mesmo que este esteja lacrado. Isto tem permitido o surgi·
menta de sérios pmblemas entre o "perito" e o profissional operacional,
razão pela qual se faz necessário estudar, em cada empresa, como os lau-
dos, inicial e final, podem chegar intactos ao seu destino para aprecia-
ção, evitando que circulem nas mãos do paciente, ou seja. estabelecer-se
comunicação direta entre o "perito" e o cirurgião-dentista operacional.
Caso haja problema técnico, este deve ser resolvido entre os profissio-
nais e nunca na presença do paciente ou de terceiros.
As normas da "perreia" propriamente dita serão aquelas disciplinadas
na legislação vigente, e a metodologia técnica, aquela recomendada em
cada tipo de exame.

CAUSAS DO MAU RELACIONAMENTO


ENTRE "PERITO" E ClRURGIÃO-DENTISTA
OPERACIONAL
• Normatização inadequada de procedimentos técnicos por parte da
entidade conveniadora .
• Desconhecimento dos preceitos éticos.
• Desconhecimento da legislação aplicável.
• Deficiente fonnaçio técnica do perito e / ou credenciado.
• Experiência profissional incipiente.
• Insuficiente fonnação em relações humanas.
• Discernimento e bom senso eventualmente ausentes.
• Ausência, muito comum, de responsável técnico formal pelo convênio.
• Diversidade de códigos e nomenclaturas, bem como modificações
constantes de normas relativas aos convênios.
• Falta de isenção por parte do perito (Art . S-, inciso r, C.E.O).
• Extrapolação dos limites de atribuições e competência por parte do
perito (Art. 5-, inciso 1, C.E.O).
• Intervenção indevida nos atos de outros profissionais (cirurgião-den·
tista conveniado) ou apreciação crítica na presença do examinando,
sem a guarda da devida reserva e sigilo (Art. S-, inciso D, C.E.O) .
DAS PERlclAS ODONTOLEGAIS 423

CASUÍSTICA

Os laudos peridais, como já ficou dHo, são documentos destinados a


prestar esclarecimentos de natureza técnica à Justiça. O perito, seguindo
um método que assegure clareza e exatidão, procura observar e relatar
com fidelidade os fenômenos existentes. Por vezes, no entanto, o exame
pericial é realizado somente após um atendimento de caráter emergen-
cial. Esta situação é bastante freqüente nos casos que envolvem trauma-
tismos dentários, quando o pronto atendimento é realizado no consultó-
rio ou na clinica. Os relatos desses procedimentos emergenciais devem
ser minuciosos, posto que deles poderão ser extraídos, pelo perito, infor-
mes que caracterizem o quadro clínico anterior. Graça Leite (1962), quan-
do faz referência à descrição das lesões motivadoras da perícia, afirma:
"Diga-se, de logo, que se houve lesões profundas, o perito deverá trans-
crever o que se contém nas fichas do hospital ou do facultativo que tenha
prestado socorro ao paciente. de vez. que não deve ter praticado quais-
quer sondagens." Assim, nos casos descritos a seguir. foi possível estabe-
lecer o nexo de causalidade entre as lesões decorrentes dos eventos que
deram causa à instauração dos inquéritos policiais e a quantificação dos
danos, com base na documentação fornecida pelos cirurgiOes-dentistas
que realizaram os ditos atendimentos emergenciais, ou tratamentos rea-
bilitadoteS.
Por outro lado, não são raras às vezes em que, diante da necessidade
de reconhecimento de cadáveres, de parte deles. ou de restos esqueleti-
zados, a tarefa dos peritos oficiais só foi possível com o auxUio dos pro-
fissionais que teriam prestado atendimento odontológico ao identifican-
do.
Serão apresentados a seguir alguns casos da atuação pericial de odon-
tolegistas e de peritos da área civil, com o fac-símile dos laudos originais.
com a finalidade de propiciar aos cirurgiões-dentistas. que eventualmen-
te necessitarem de prestar auxílio à Justiça a familiarização com os as-
l

pectos (onnais desse documento legal. Por outro lado, a leitura dos casos
demonstra a importância adquirida pela correta elaboração da docu-
mentação odontológica pelos cirurgiões-dentistas que atenderam os
pacientes, seja nos casos de reconhecimento, seja naqueles em que estes
tenham sido vítimas de lesões bucomaxilofaciais.
Os casos trazidos para exame foram cedidos pelo Prof. Jorge de Souza
Lima , do Instituto Médico-Legal de Belo Horizonte, Minas Gerais, e
representam o trabalho da equipe que lidera naquele Instituto; peJo Prof.
Carlos Ferreira Valério Filho, Diretor da Divisão Técnica Odontológica
424 pERlCIAS ODONTOLÓGICAS

do Instituto Médico-Legal do Estado de São Paulo; e pelo Pro f. Dr.


Oalton Luiz de Paula Ramos, Professor Doutor do Departamento de
Odontologia da Faculdade de Odontologia da USp, aos quais, penhora-
damente, agradecemos .

1" caso: NNJ. de 42 anos d e idade, do sexo masculino, comerciante, foi


vítima de atropelamento no qual sofreu várias lesOes, entre as quais,
"fratura maxilar com perda de elementos dentários", Com relação a esta
última, retomou para exame de corpo de delito complementar, odonto-
lógico, dois anos após o acidente.
Tendo em vista o tempo decorrido entre as lesões sofridas e o exame
pericial odontológico, o nexo de causaUdade e a quantificação do dano
somente poderiam ser estabelecidos mediante o exame da documenta-
ção relativa ao atendimento odontológico prestado, cuja solicitação foi
encaminhada ao profissional através da autoridade policial.
Ao exame pericial odontol6gico, os peritos constataram "a presença
de prótese fixa de cinco elementos envolvendo os dentes 12, 11. 21, 22 e
23" .
o cirurgião-dentista encaminhou, então, declaração com firma reco-
nhecida, na qual relata os aspectos clínicos e radiográficos do atendi-
mento: "Dilaceramento da gengiva vestibular; extrusão do dente central
superior direitoi fratura dos dentes central, lateral e canino esquerdos e
lateral direito; fratura do alvéolo ósseo do central direito; comprometi-
mento da câmara pulpar dos dentes central e lateral esquerdo"; situação
clínica cujo desdobramento é compatível com o quadro apresentado ao
exame pericial odontológico complementar, permitindo a caracterização,
pelos peritos, de "debilidade permanente da função mastigatória, no que
diz respeito ao corte e à apreensão dos alimentos" .
2- caso: APCB, 15 anos, sexo feminino, recepcionista, vítima de aci-
dente de trânsito no qual alega ter sofrido fraturas e perdas dentárias.
Tal como no caso anterior, o exame peridal complementar odontológi-
co {oi realizado tempos após li ocorrência do fato (três meses).
Apresentada a fi cha clInica odontol6gica e, posteriormente, o relatório
do atendimento, foi possível a caracterização de debilidade permanente
da função mastigat6ria .

No terceiro e qUólrto casos, ambos cedidos pela equipe do Instituto


Médico-l.egal e Antropologia Forense do Estado de Minas Gerais, apre-
senta-se no primeiro um caso de responsabilidade penal profissional e,
no segundo, trata-se de identificação da existência , entre fragmentos
ósseos carbonizados e calcinados, que se encontravam misturados a
DAS PERICIAS ODONTOlfGAIS 425

terra e cinzas, de elementos dentários, com vistas à possibilidade de rela·


cioná-Ios com o desaparecimento de menor. Esses trabalhos podem ser
observados na reprodução dos laudos inseridos a seguir.

51 caso: Trata·se de ação interposta contra cirurgiOes-dentistas, na área


civil, iniciada por medida cautelar preparatória de produção antecipada de
prema, em que a paciente foi assistida pela Procuradoria de Assistência
Judiciária, por ser pobre no sentido jurídico do termo, embora o trabalho
realizado fosse de um nrvel técrlico diferenciado. O tratamento tinha por
objetivo a confecção de "cinco coroas em cinco dentes superiores", e
foram confeccionadas em metalocerâmica. A paciente alegou que Hape-
nas o tratamento de um dente foi bem-sucedido. Os demais dentes estão
com infiltração, havendo sangramento da gengiva". Designado o Prol.
Dr. Dalton Luiz de Paula Ramos como perito do Juízo, e realizada a peri-
cia, foi ofertado o laudo apresentado a seguir, firmado, inclusive, peJo
assistente técnico do réu, ficando nele evidenciado que a autora teria
concorrido para o resultado indesejado do tratamento.
Proposta a competente ação de indenização conseqüente à medida
cautelar, já instruída com o laudo acima referido, foi pedida a reconven-
ção para que a autora fosse condenada a pagar os honorários não pagos.
A sentença, na sua fundamentação, alude a que: "Da prova técnica
não restou demonstrado, portanto, a culpa dos profissionais para o caso;
ficando outrossim comprovado o serviço, o que justifica a cobrança pela
reconvenção, já que a autora assinou as notas promissórias cobradas,
estas são títulos hábeis para a cobrança, são devidas."
lnconformada, a autora, pelos seus patronos da Assistência Judiciária,
interpôs recurso de apelação e os réus, as suas contra-razões, indo os
autos para a Segunda Instância.
No Acórdão que resultou na reforma da sentença de Primeira instân-
cia, há que se relevar as considerações do Eminente Relator, porque
representativas, mais uma vez, do ponto de vista jurídico sobre o trata-
mento odontológico. Afirma O citado Relator: "Profissio"ais como OS réus
são contratados e remunerados e.xatame"te porque daJem possuir os couhed-
mel/tos técnicos adequados, que não se podem exigir dos leigos, 11110 se podendo
atribuir à au tora, por6bvio, a respollsabitidnde pelos problemas que apresenta na
gengiva ou IIOS dentes. Se não fazia a higie"e adequada, droeria ter sido orienta·
da, sem que fosst possfVf!1 isentar os profissimlais que remuntradamente se pr0-
puseram a prestar aqueles serviços." Mais adiante, complementa: "Tratando-
se, pois, de obrigaçifo de resultado, frustrada, a responsabilidade civil i de rigor.
monnente em Jaa do que dispõe o art. 1.545 do C6digo Civil."
426 PERfCIAS ODONTOLÓGICAS

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DEPAUAMLNTO DTADUA.l. DE POUCA OU01RCA
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DAS PERICIAS ODONTOLf.GAIS 427

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42. PERICIAS ODONTOLÓGICAS

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INSTITUTO MÊDICO-LECjAl

FICHA O DONTOLEGAl

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432 PERlclAS ODONTOLOGICAS

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DAS PERlelAs ODONTDLEGAIS 433

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436 PERfclAS ODONTOLÓGICAS

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DAS PERfC1AS DDONTOLEGAIS 437

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Ii~acllo oa A~:
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3.- . 4. 0. " . 7.4.8.

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~, ~.c.ltuarlO ao .... aU.l. u tllir.Co. pala IUS.
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~ •• ~danta. a. ,.Ii: •• ".'''1 • di.t.l ~j ~_~cei,.'O -OI.,.. in-
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dioul •. c:a,..ct.,.i~and'O f ... tu,.. ca.olet •.
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. .dlndo c.rca da 3 . . . c:a. 11'11cl'O n'O aoic:a r.dl~I.~ o. rall
...1.1 .egulnde .. . a1,..ca:o 10'0 bondo ."ndtoula,. . . . . tlnql-lo
I f~atu,.a tnc:oeol_tll.
'fI! ta-.d ....dloc,..flca ... 111> • • tacla . .
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t .. u _
'."10" d.r. i to l • ."Itr.ndo 1•• V" ,.adloOICW U & H'Vil 1JIG
43. PERlclAS ODONTOLOG1CAS

TRANSCRIÇIIIIJ DOS ILESITOS OFICIAIS. !J-~.t~."I II\""j.H : ....... 1 .. I


... U" 1I,,"t,l 2l- 1111. i • • I,......' .. 1111 ........" •• ""'111 JR- • lI ..... ,,, ....""
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RESPOSTAS AOS OLESITOS OFICIAIS. Ao .12. Ib" ao ~ l .,.,.. f u,.o-


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DAS PERICIAS ODONTDLEGAlS ..9

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PERlClAS ODONTOLÓGICAS
440

stC""""IA DE UTAOCI O" SftiUllAAlç,I. F'Ú8~ICA DE "INAS GU"'~


fOLR:IA CIVil _ 'Ope: - UTC
INSTI TUTO M~O I C') LEGAL
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~. aconte~ o detà~ir. Dr li ~ ~:~t=~o r.a ::"::0 d::nt.;ri::. =. d~

:aClll t o1J. Cc dactM.llçlo dçs clUllcntoll c!lmtoil':'c.:: doc!:!\lc;s. c.==o: ;:~-

r.l."f'O.

Par. aeta ld.nLl!~coc60. cl a ool f iciJoc'o • dutenAincclo da !~~s

0111 ~nt.olealsto.s roeer.crUl 6. bibI1oQ:-,:;!1 0 ,,,pec:lo1 !:Slb.

outro.: ~r.otomi. Dcnt.!rill do

1:.011 11::oroo!J. '" Hedici ,"Uho; • d .. 1..:0;.0:' ~ 511,,0. .i~r.lor . olt.o:a.r. ~('r

(;U!.lbcr=lI O=t<'!ll:1o A.rb::-..;. Cl t.:JU l1YTO ~ t!.:.!!c!...a '-e:,;!ol o "_':'~7-

lc~i~ fore~5C: ~~iu e~~~ con!~~~=~ r:.~~o~~~:i:05_

IL! f: OSSAt.A
DAS PERfelAS ODONTOLEGArS 441

sr.:n(TÃnlà I\C (Sí,voa DA U:'~II\I\HÇA n'lfIur.JI I\r UINA$, r.(MI~


I'OLk,a CIVIL _ 50" _ S' Te
iNSTITUTO ME:DIC0 lC:GAl

f~.= ~~o~~~icac ô, e~ ! ~nccs C~~ idc~, 3~t~o 5 e l !2 jeinco ~~~~ o

eo.al li S.la (~ls &mil! o . . 10 ), cc.:l.l.':>C.í! 1'010 Oclo::-;;ep!<:;!. ..-:rs

I'ra(c;:N~

Al'~ d~
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õ)Quto r J1l11 o Corloll lIo r on!\lIo .
o~p~rlonci o adquirido polcc oeont ole~ic~; ~ CQ ~=~i;i~~

Con.~d.cu.ndo todos OClICS a.cpectOIl e::.:JI'.!.:-.:.doo :ünu.:!.osolO I!I c u ld.!ldo-

SECUNDO tiOl..'\R SUl'ERIOR DrP.lUTO. !iiiaI!!DJ 1:01.......'1 lMÇ!õll\lf. DIIZl&'O

--; 11; ;orollO cunt;5rlt..e :'t;-w.n.,=cnt.c.1 I-:>'::::n:.: .. c=ac'.:= ~ lo:'!.;::~ !.;,


Conl.o:: per:cr.nont.c.II. quo n50 U::cr.t..e O:-ule:io, ~r~to O~r.c:". co c=:;-

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442 PERICIAS OOONTOLÓGICAS

.CAn•...,u .... OI mAGO o... IlOUAANÇ4 I'OIUCA OI MINAI GIM.II


I'OIJÔbA CIYlL - .a r e _ . 'Te
I r~STITUTO M~ D ICO LEG AL
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- o.ntl"ll &li ra.dloara.f 1a:a exaalr.a4&a .. ~ c.~ . .nt.cN -.!~r

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T.adlbsio. 286
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ao Ju . zo pel o ,lo,,:: a .. ts~ 'J ...... .... .... 1 do Foro ..... "",., dOI 1.....,. 1..1,

PROVA que l1l(I .. 0 conl, ..

• P...... ,.pre •• ntar Oseu laLloo

r_pondendo os "' ~Ulllt . . . "1..1 _ ' tOS I . - . - .-. - . - . - . - . -.- . - . - . - . -.- . - . - .

QUESITOS DA ~IUkUI.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. - .-. -. -. -.-.-.-.-.-.- .-.- . -

.. ue instrUI ao .n.c •• l ; - .• - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - . -

~- Ou. tiPO oe tr.c . . .nta fal reallz.ool- . - . - .-. - . -.- . - .-. - . - .-.-.-
444 PEAfclAS OOONTOlÓGICAS
-----------

.;:- ........ 1 1:1 ... ce, ... 1 ... 1;.1. :; .. 0.;;1 .,.... co'o.... .-ca• .., ...... (,..,to .... r_.

-,-.-.- .-.-.-.-
,- O br. F o r.,o lfoaO ClS;<;;j .. ,oc;or

ou .. .... O. _Iha, qu.I'CI_. to Q DIlI _'0' ,-u.~Q·-.-.-.-.-.-

P odo D .., . ~.rIUI Inta r .... ' •• _ . . . . n t . l t r .oc::ilU ali_ .... CIo f.a l h .. ao

c .... c ....nto ..... 111::: .."0 ou. CIO "'.terl.1 1,1(,1':::&00 " ,-.-,-.-, - .-.-. - ,-.-.

0 - H. ~nQr . . . nto d. a.nq . . . . . . ,WQ.6e. Q r~~I _ • • 0. dene ••


trat.aos; pelo ~r E. C•• O POSItiVO. ~ • • • •"nQr . . .nco p~.r •• C.r

•• to rl.l u •• oo~-_-_-.-.-.-.-.-.-.-.- . - . - .-.-_-.-.-. - .-. - .-.-_-.',' ,

a CuQ". _ Qu.,r. O ~r. ~.r.to .ntar . . . . . . n. riSCO oe 110..0. oe .Iqu.

ou todoa O. aonto. t .. at .. oo. "alo ~.-.-.-.-_- . - . - . - . - . - . - . - . - . - . - .

1I,- 6t ... . . . aroo.a_ '-.-.-.- .- .-.- .-.-.- .-.-.-.- .-.-.-.-.-.-.-.- .-.-.-

QUESI TOS DO ReUI . - .-.- .- .- . - . -.- .-.-.-.-. -.- . -.- .-.- .-.-.-. - . - .-. - .
..c.a.no 11, OU

","- . -.-.-.- ,'. -.-,-.-,-.-

.... . ... t I \ t ..... co • • • '0'-' t; .. na .... __ r.o;a .-.-.-.-. - .-.-. - . - . - . - .- . - . -.- . -. -.

hrqUereno;e .- . - , - . - . - . - . - .-.- .- .-.-.- .-.-.-·-.-·-·-·-·-· - , - .- . -.- . - .


DAS PERlclAS ODONTOlEGAIS 445

" .. op U; •• In •• 1 t,. .. CÕ .. II ·- ,-,-, - ,- , - , -,-, - , - . - , - , - , - , ~ , - , - , - , - , - ,- ,-, _

.. efe .. I o .. c: I,~u .. q ,,, ; - , - , -, - , -, - , -, - , -, - , - . - . - , - . - , - , - , - , - , - , - . -. - , - . -

0- "R... u .... ente te .. p r o<>en~ao .. te, . ",, ~ . ·, I\.~ - ,- ,-. - .-,-,-,-,-.-,

N"dJ" i - . - . -.-,-,-.-,-,-,-.-,-,- . - . - . - . -.- . -.- . - . - . -. - . -,- . -,- . - . -,~

C:lr u .. " •• ""c:> .... C:o:MW>l~ ~OIJ PU, <lU.,. "" . . . '" <ouu. " ou o .. ", .. rtc "'.te~IC:"

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10- ES1;e. di •• te",... PO,.",I1;o,,, que o Dol o


qenql". p"e ,Ol."ost . . . u ... Qenql Yltll' I!. o ca.o . a .. ke .. u.,.en1;e ' - , - . -

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• of ... u o 101 " 0 d • t .... t . . . nto da R.... u..... nt . . ... to ...... p .. l o ...nos o •

• • , • • •• ,11 . . . . ." . . .o oent •• t . . . T •• De .01 YGri f'C:" " •• c:onGlcoe ..

Do p"c: •• nt •• -,- . -.- . - . - . -, ',- , - .- -,-.- . -.-,- -.-.- .-,-.-, - . -.- . - . -


446 PERIC\AS ODONTOLOGICAS

1.:1. uu... I .... cana,COQlS

I:ontr.culr&~ g&r ~ .5 Inlll tr. cO ... " v/OU ,,_n Qr.mRnt O~ . - _ - . - .-.- . -.-.­

... . l'Ieq ... e r- õ;e' "1,1'" O "'''' I ":i .!'I<l .."UO a .... ...""U(I.or.u.... ~I>(,(C .. _ QUe Te::

O ultImo trata me nto .nt.. Ou ",roe u... .. ~. n~uur.Oo • . o .~ COMO <;>

nOfllI t . enae ...co 00 o",,, ~,,. ~ _ . - . - . - . -.- . - . - .-.-.- . -.-.- .-.-.-.- .- . - . -

HlSTQRlCO. - . - .-.- .- .- . - .-. - . - . - . - . - .- .-.-.- .-.- . - . - . -.- . -.- . - .-.-.-


E ... ... ~ a .. ,UMO do 1'1"'1 ... '''''\.IV '.0 ..... . . 00 1:0""..,11:0 •• 0 Olll'n1: .. l",o ao

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o ~Q r I ~CI p.,,"u nt ou.. .......lOT li <>uAocO

n~v.a real .: ",uo ••u Ultl~o tr. t",~.nto ouon t o l0Q1 CO . ao QU. ..t A

. .na... que "'PO. ter o kOU ~ on~lu .u o .eu. tr ... balhos. nec ••• ,tou

par ", &$ coroa ~ DO.

liuPior. or .. s. se sgl~.r.", t Ong O ~ ldo ,QC."oO .. t .. OA~.-.- . -.-.- . -.-.-.-. -

r I!Qul. , .... ntE" ... e u . .1.,)\ •••


DAS PERrCIAS OOONTOLEGAIS 447

... ..
".n ... v.l no .. oan\" .. <lu," .<>.g,svnt. ..... O~ ' .r;o" .. 1110~ , ..... : ... 00 .. "0111,1

~ .1.. • ..cov. <= ...... nç .. ~IC • ..Iroa ...


... n.'DII.o.o o .. o t r Io '" oor "-........,,tO oC) '''C I''I ~e l.u<>.rIQr ""4U.'UO

ru o<>orcunlo.ao ......... :au-........... CI, ,HCO 0(10"'0,0" IC:O

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448 PERlc lAS ODONTOLOGICAS

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450 PERfclAS ODONTOlÓGICAS

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DAS PER(C1AS ODONTOLEGAIS 451

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452 PERlelAS ODONTOLÓGICAS

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DAS PERICIAS OOONTOLEGAIS .53

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454 PERfCIAS ODONTOlOGICAS

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DAS PEAIC1AS DOONTOLEGAIS '55

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456 PERfCIAS ODONTOLÓGICAS

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t.oron.llri .. - co. o .. - do dlln~o ) , .. ub ... ~ luta.õl . po r .. r i!ol0505 un , t . ... . . .

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QUESITOS CO R~U •• - -.-.-.- ,-.- .- .-.-.- -. -,-. -.-.-.-.-


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2- s. ~ositl v" .. r .sPolit: .... n t .. r ior. d .. t<t.lh .. r o ioc: .. 1 o,'W:I .. oc:or r o

.. li I nfl I tr .. c::ó ...."01.0 lIen'ilr .. _n"o . R •• po .. t ... \,. Ide O~s.: ...... 30- . -. -. -. - . -

3!- 'E:.cLar"c: .. o Par. to ." C:Ontl.c::ó.s P .. r'OdOnt.11i <:: .. t",d .... boc:.o. d ..

Ali>qu"".nt e , R" .." ost .. : 'l i de Dese,- I c::ioo. -. - . - .-. -. - . - - - .-. - .-.-.-.-

U",. " . ' U l" gl" per,odf;or,l ... 1 cOOllP let .. p_'. ' l~, _1110. "li .. O "dl ""~ "" d.
DAS PERICIAS ODONTOLEGAIS 457

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45. PERrCIAS ODONTOLÓGICAS

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1~ . Req u e r-se que g perito Ind ague da Requ.~."t • • opaca •• que fo :

na.e g . n dore~o dO dent •• ta . R•• =osta,V i do Hlstnr.co . -.-. - .- . -.- . - . -

SJo Paulo . 30 de .g~ t o de IQql- . - . - . -.-. - . - .-.-.-.-.- .-.-.-. -.-

CROSP ~.~7 - Perito do J UI:O

WANDERLEV DONI:I

CROSP 3 1. ~~7 - ~ •• :.t.n t e Técn I CO do Reu


DAS PERlclAS OOONTOLEGAIS 459

Viram-se, assim, os cirurgiões-dentistas condenados a indenizar a


paciente na quantia pedida na inicial, além de danos morais, consisten-
tes no pagamento de indenização mensal, da data do ténnino dos servi-
ços executados até a reparação, além das cominações legais de praxe.

CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL


AO "CASO MENGELE"

Carlos Ferreira Valhio Filho·


Moacyr da S,100"
Muito se tem divulgado a respeito da atividade pericial que cercou o
reconhecimento de Josef Mengele. Para dirimir eventuais dúvidas que
tenham restado sobre a participação da equipe brasileira nesse rumoroso
caso, o fac-simile do Laudo original é introduzido a segu ir. A participação
dos autores no caso teve início no dia 7 de junho de 1985, com a finalida-
de de atender à requisição do Or. Romeu Tuma, na época Delegado do
Superintendente da Políca Federal em São Paulo.
Os peritos nomeados e compromissados na forma da lei foram os
seguintes: Dr. José Antonio de MeUo, Or. Daniel Romero Mui\oz, Dr.
Ramon Sabaté Manubens, Dr. WiLmes Roberto Gonçalves, Or. Marcos de
Almeida (médicos legistas), Dr. Carlos Ferreira Valéria Filho e Dr.
Moacyr da Silva (odontolegistas).
A finaHdade da determinação legal era o procedimento de exame
antropológico na ossada referente ao laudo de exumação nl 4.016/85,
realizado no cemitério de N. S. do Rosário, no município de Embu,
Estado de São Paulo, no qual figu rava como inumado, no registro cor-
respondente à sepultura n 321, o nome de Wolfgang Gerhard, que,
Q

segundo informações, seria o próprio Josef Mengele, que se teria utiUza-


do de falsa identidade para pennanecer no Brasil.
O exame antropológico foi também acompanhado por peritos estran-
geiros, na condição de observadores. São eles os Ors. LoweU Levine
(cirurgião-dentista), Ellis R. Kerley e Ali Hameli (médicos), enviados pejo

"Diretor da Divisão Técnica Odontológica do Instituto Médico-Legal da Secretaria de


Segurança Pública do Estado de Sio Paulo e Professor da Disciplina de Odontologia
Legal da Paculdade de Odontologia da Universidade de Santo Amaro - lJl'.TtSA
··Professor Titular da Paculdade de Odontologia da USP. Atuou como membro da
equipe nomeada oficialmente para a realização da perícia, na qua lidade de Professor
de Odontologia Legal.
460 PER/elAS ODONTOlOGICAS

DEl'ARTA!.~ITO ESTIIDUAl DE POlIe:', C[l1TF!cA

1) l!1!õTO.:ICO:- rec:oarr.n. )lllr .• 0:11" ,..., \1111 c:..~nl0 pertencente. UI:!;

"tu.lato o~do paIo ln,U luto ~lco-Lec::l.l . no Ca21llúrl0 1101.

SI 6cnhor~ da Ãoo5'1 0, no ~c!pl0 do &3bu, Est~do d~ sjo P.ulo.

lI) Dt.SCRIÇ~O.- 1) bit.'1l clínicOI . 1.1) ~... II-1) fnUL ._ llo.uorco lnt'l.

rlor dlrol~o,- ineS.lvo centr.l !ntocrO l lnelilYQ llltor~l oxlbln-

bordo incluI (cl .... o IV) I canino port.ando r . . tlj.llroç;o dhto-Ull

lU,.). "11 _te rl;à branco (d_nto do .Wcttlto ou rodNll coe 'bar.

do. 1 rrOlulElI"BI o .olhnto,! pr1_1ro pré _eoobr o.un~o coro..

pol1lMrlr.ado .. 'lIonto CCI:I OIlU 1ntor10r 0111 IHl,.l ..1:1:1.1"010) I •• cl/,

J. r .. u ocl\:all"l noUl- •• pr-poro prodUco d.stln~do li rocobor OI

CCEI rCllbsorçio total do proc ... o .. 1.lob!" . hOMarco inforior o.·

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"oallbul!11' o l1n,u 'lll; canino oltont. .. n::Io cor03 ·yonoor" (f acetw
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DAS PERICIAS ODONTOLEGAIS
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protôl1co, junt.o ii. prox1l11:1h, deatlnndo 11 roceb"r o apoio 11n-

gual do raspooUvo IIr~lI'Ipo tipo "Ro:och"l prll1Qlrn 11 secUlldo pr4_

.al"r!;!s , o prl~!rQ. SOlumo a terc:airo .al~ros ausontel coe re_

bord o ;.l"olll "r tot81mont.o rO:lbsorvldo. lo;!) W,Xl1.... - lierniareo s],l.

perio r dirlllto._ lne1l1vo. centro1 e Lter;;l, c"nll1o,prll:101ro e

scgunrfo pré_mo14ru aUlonte. ooe rebo rdo " lveola r totlll".,nte Te;:.

t:o em suo race oclus.l; tercolro mo13r lIuse nte coe proceslo alveo_

lar t.ot..~nte l'O .. blo"ido. "'oo1"rco .uperior esquerdo._ lncl.1 _

vos central e lioterc.l, c :.n1no e p r l .. lro • ,".,umo pr4-mol ,re.

~u.ent •• eGO rebordo a lveolar totalmente reubsorvldo;prl=-lro r~

se t:!1 ro.poetlv.l.', notlOnlo-ae lntilt ' ''liio dI! o~rle ont r o os t'ouet&.

p:.l.,,;J.l14 e dist.a1.1 ,ocundo e teree.lro oob!"el .. usentos COl:l re.:.bso:"_

çüo tot~l do proco •• o olveolar . Z) ~ Rrnt~tle~._ Z.l)ront~ ~6_


- 'alUo-
... ·OK"
462 PfRICIAS ODONTOLOGICAS

OIJ'AflTM'.E11TO ESTADUAl DEPOÚCIA CIINTÍfJCA

L:l.urlo nO ta01G/85 - Ex ,_ Odonto- Lc,,,,l-c:o ntlnu .ç:o da n. núoaro dol ~. '.

do ,oll clomnt.os dant,li:r1ot1l ap611o_~e Olllllllbo, o, prll11o.1ro. pré.

o r.DO d. dirüt.a eon&t. do prl _ 1ro a ..cunda pré-aoar., 1) la -

llOfl1&to G. metllal • o do •• ~uord. con.ta do primeiro e s.,undo

PJ'6_lIIOlu ro. a prl . . 1ro a 'oaundo Il101.1''' (1.z;;:.do" tal:lblim, 111. ,.n.-
11vll .. rt1!lc11t.l r elU do catu1..tl ntro Hl'lClonado . Z . Z) ~1II6.

elemonto. d.n~rlo" lt,~ndo o pr~lro I secundo -oL.ra. dlrll-

meio contorno) =-dia nte barra ~tí ll c. ~ circundo o p~to

co, por .obra :. .utloll'"ll u .. ll.Iver •• cio. 0.. 0. pal.atino. ( linhA pa-

do mola r . uplrlor d1relto •• t~ rr.LuTado In. IUl .109io v"tlbul~r,

Undo .1do ,'... ld.,..n.t1 polido no l~l du çulbr., o• •acumo. pré -

6 , no "ont.1!to da ,IN 10",0 e1xoI ob.orvaoos, tam.é.m, uo ~ , ol'll:l .. ~

~ rtl rlcl~ pD$,ul , no .eu l~do lntcrno, 10&0 acl~

--_ ....-
d03 lnc1 31yos


DAS PERICIAS ODONTOLEGAIS •• 3

D8'ARTAI~EmO ESTADUAl DE POLIcIA CI8I'1ÍF1CA

cllnl. r.1II Irtlnell1l::;, u"a fOluta do~t.ln;)dQ li aeODOdal' • papila

9(nova) .1 1t.otrOI. 3) ExDmc [~dlot[árlço:- 3.1) 16,ni$31 ~'~locr,

~~:_ periapleal (paralel1c.o) li Pllnor~clI (e ltpcopantomocrllrl~

tincla, no 1.do direito, dOl: lnc111Yol cllntl'al 11 lQ te~ e canino;

lar ""uordo nota-.e a prelença de re.t.ur.çõ.. _tó.l1c •• ,.. ra -

cu odula! 11 di.tll, Geparlldllfrlllntei no prlmeiro molar dirlllto ob-

le""Il-I. tl'Ota.=-nto e n1od ó ntlco, .endo pIIrcl.1 lU ...11 ClÍI10-'u lt1

bular, 'U. tllMbÍD Ilprllllill1t:1 dilllcerac;io radtellUr, notamo-.e a..1n-

dQ l~CO~ r~dl0 1úeldll no raelmo ellrvlcal (dl.tal) IUCllrlndo le"o

de clÍr lllj um;)" • pro ..nça do re.tnuraçio lI!etlÍllel do tipo IIlIi'llo-

- oe1u.11; no IlIlI:undo lIIobr diroito nada d1eno de nota, li nio leI' -

UMa rO ltaurlçio . .tlÍtica


.oc·."'·
ri:!.
10CUI
I :u:o oe1wal .
----
464 PERICIAS ODONTOLOGICAS

U:CJII:.TARIA!lA IE<iURANÇA I'I,)IIUC/o

DB'MTA~(!ifTO ESTIIlJUAl DE I'OÚCIA as-'liRcA

~tcrl~l oxaa1~40 (~rco. dentÁrios , mandíbula. UQxl1a) 11 3 fl~

eha QdontolÓC1cti. roc:eblda do Con~lado AIDmão de são Paulo, IIot r .-

1., • pro,onça d. '.te dante., quai ••• ,am, o. incisiYo, contrais,

do pflDGlro ~lnr •• ~u.rdo no. tUAt. foram v.:1flc:~d • • rastaura-

tataç:to, unto ttllnlçt eolllO 1':UUoc rút1ea , da e.:;!stene :I de WII • .1;.

pelattno (ou oral) ••!imo 5, 6 alllmetroll .:a lUa Uma • .;'Iato:! -

a1 (convôm tri.ar rUI • ponte móvel superior pO.lui ~ coooa.1-

~do . -= lUU ,flnJ1Y& .rtlrl cl~l , 1010 aclE3 d. Lnserç:to do lnct-

&11) entre o. lneldyo, centroll natu_i. quand.o prBlontlls no ar -

co dontário; a re.tnuração de .~C.=a do prata exi.tenta no pr1-

--- •• ,uo ••.• _ _ 00-


DA S PERICIAS ODONTOLEGAIS 465

O!JIMTM'.ENTO 6TADUAL DE pOLiciA CIENmCA

r1rlcll4o trat.-nto crdodefltico ~aao chmttl quo poa.ul . o.1zz1;l.. pequ!

prata) (I .alor do quo aq\1oh do tecido dontárto ro .. nc!lcente. o <lu.

~cldoll , dooo~ . U6Il14oG ' UOl'ltCI I) caró (Turuhatn A 'llU:l,ll'llOto) ; ob.er-

1. rol montado ~a · 11",UIl1, com a a,ravante de ~UO o apolo oc lu ••1

u:tstel'lte antro oa ,r•• pos de meio-contorno ela ponta _e1 auJMi r ior,

l.r luparlor a.ruerdo exibo , dl,no 4e nota , t r ês obturaçõs. 0111 am::l

à elti~tlv. da idade , louvD~-no. em doia -'todo. 1 1) No lnt . r na -

.... -.... IOGI10 ••••


-_.... .-
... PERICIAS ODONTOLÓGICAS

DEPIIRTAMlNTO ESTADUAl DE potlc1A CI'NTiflcA

e1on:;hl(lIIt:t e<lnhacldo r.lÓtodo do Ou.tM'lon (Osutlltcon , C.> 02) n:l

loito dctanU"" na l"ocllld ndB do Odontol.otio. d, UnlvorsldAo do Slia

Paul., (Dl.clplJn:l d. Radlo1OCi.)(MIIlUrt, D. ). C;U3nto ao pr1::lelro

çio proeonl~D paIo lIutor! corw'rs trlr-r (!\lo • ut1l1~çiio dOI

don: ·1:1 plurlrrllc\lcularo. "010 dir1lrlr a dúvida eOf'a4A pelo. relu,!.

tIldos pouco cOl1'l'lneont•• eonse,u1dol no •• tudo do. manorr.jI!lcula -

rOl f Çaonto ao sOEundo , qUI l.va 00 elnlldor.çio o. âncu1o, candl

.nál.he d.o "'"ri.nel. , .,tI.lU.r I ldad.~ JIo q\W 41. r O.;J4Ilto à •• tJ.

tu"". ba.ea.o-no • • ~ CUlRFA (. rb.n~ , 0 . 0 . ) . ruo 011 leu I:IÕtodo ut1.

u •• o. denta. c.nino, lnc.1s1.,o tAt .... l • lne111.,.0 eentrsll I:Iedoln.

do a d1Jtónc"l. euo .,.. 1 d. flIee d1S~ do eanlno .. r.eo _l1al do

1ncl.1vo c.ntr~l. consOlue-• • ~ di.tinel0 quo co rro. penda li; WQ

.otl'lonto Ih dre-.1lo ( o c,uo na. por:rlt ••• t1Qr a .~t.:Itur1l I:'<árllb);

ut111~ndo-.O a eordn deiS • • el~ento da e!reulo , ter~1 o est3C-


_._.... lacue ••• • _ _ 00'-
DAS P€RlcIAS ODONTOLEGAIS 467

D8'IIlITA!.:S.'!O ESTADU/Il DE POÚCIA CIlN11iICA

tAUOO 1111 ItOlG/85 er:,.., O:!.onto-lecal cont1nu.tç:;o dI!. n. mieo ro .eto

1':1 nín11r..l1 Ct"'l O.l>e. dol. dados IIova11a_., 4 e,tatl1ra &311.:1 do t~l

.,{duo. lV) coocUJS4'Ot- A. colncldôncl a a acltr.:1. rarerld:a, a .:."lY.lr:

1) a pre.:;cnça dOlldanta. ruturais inforio":s ( lncJ.:I1vo. contr::.1c, _

inc.l.sivlXl 1atarl..ts, c.:lnlnot o prll!1Oiro pré-I!!~r intarior direito);

ta no~ trQ' molgre •• uporiore, ( con!i~du pela richa odontoló;l-

da WlI diactema antro o, incl.iYO. cantrai. supariore" li) o dUPli

te vl.ive1 d~. r.,taurlçõe, da amál&am3 de prata (prlncipaLo.nta ~

aquela da prs...lro IIOlar .uparior dlrolto) que , .abellC', , ocas1o-

nado palo mcldo lÁctleo (livre) aumentado no maio bucll , , rua

ocorre poli Inca.tio lIIU1 to INlrde de doea. , da'l:lIta tue , COllp'

flhAdo de alteração cr_tioe (cinl'a COII nuance. aarrons) o c;ua da-

nota, t:lll1bÓm, prorariinc1.1 por l1"uldo, IIIU1to quantes, COla0 Cllre, ..

,op,' , etc •• , h3bito contir~o pal•• ta.te~as por nó. anLravlL

CM D. H:. 1l4rt) que so titllOU ontre 65 a 70 ,no. o , d, IICÔrdO com

C.Custar.on, e'Ulrla entr. 50 e 55 ano. ( dentes IIIOnorradlcularas)

o 65 a 70 ano. (donto~ plurlrradlcu1.1To,); 6) • o,,~iaç~o da •• Ls-

• "" •• uo
.acuo • • •
468 PERICIAS ODONTOLÓGICAS

IlB'AKTI\I.eNTO ESTADUAl DE PDÚCIA CIEN1iRcA

t.Uf3 C do ac:õ rdo eoII CAflREA) , o~t1._4a . . e~t.o ••• tent."!. I lob ..

t~ o ~UAt,o centl.atro. , u .~ ~ do c~to • olt.uta • olto coa

t1r.zc,; ras) I, 7 ) If. tIIIncM,If de nicotina oblorTlld• • • qua denota. o

hábito di fural' Unt'onação eon.t&nt. do 4 i .. 1' ruebldo do ,errt r-

roalç:1da pola eo.,n.tato.çiio, d, ..... 11!1JlOTtÂnch , 4u. uhtincla do

dUilll:\o1f o diar;nó,tloo), o que no. parJ:Úte d"ufir dI uhtlÍndl

d, u= ,rarda prollabl11dada da ~. OI arcos dent. riol , I:IaX1la •

undíbult. parhnçall la lrdJv1ó.uo cuja 1.hnUdada .,tá •• pNtendan

do •• tl;l.belltCar. ,..., o que no. cllbi. 1nt0M!l8r.

são Pllulo , Ol dI lulllo d. 1985.

,9--... ~
,.". m:-nUA
l-L. '--'-" :;-'

Dl'. Carlos T.rra1ra Valéria Filho


0M0I,.
,rote ...., <I. a..,al hrlto Odontolóc:lco _· caosP 092
11' ' ' : ' 1 1


.. ,
ta:l!u Ilagaz
110 scalo.

_.- "'I!I"

--_.-
DAS PERICIAS ODONTOLfGAIS .6.
DEPN!TAMBlTD ESTIIIllJAL DE POUCiA CImTifICA

U,UOO NO bOlf./85 Es:1ma Q1onto-l q.11 COntlnu&çnO 4a n. h.ÍJ:;Dro rmre

1) Furuhllh .t Yall\ollllOlo Cl'or ondc Q1ontoloey - Charle. t'h0L'l.:' Publ.


- .9pr1nc.t'lald - 01. - USA - 1967)

z) lbU.IIrt , D. CDeterai,.çio 4:. IU4. Onea atrm. 40 •• tu4o pan-


to-srátlco 4as "arl:açÕct. _nlSibuluaa e posições -
4 01 t or~ns lIentontanoa - Faculdada 4e Odontolocla
da USP _ Ta~ do M.. t,ra4o - são PIIIllo - 19B1t)

3) ou.tar.on, G.CTorenalc 04ontolony - A.~l~n ElJJa".lar Publ.Co.-


Ifov York - !f.l. - USA - 1966)

11) Carre l! , J.O . à 04ontol ocll Lt


apu4 J.rbanz, O. O. ( Intl"O:Sllção
,al - aio Paulo - 1959).

,
c.Ç-..-.~~ r-,~;'
Dr. Carlos Farreira Valéria Pilho
Perlto Q1ontolollcO - CROSP 09Z

flor.
Mi~J-.u.v.
111. . lIDotoCft Dto
Pl'Of... o~ •• I)<Iaatol ... ie u,e1

Iv.

~ . ...,... --_...-
470 PERlc lAS ODONTOLÓGICAS

S!OU:TAIUA DA SU;U1tANÇA I'llIlUCA

DEPARTAMEHTO ESTADUAL DE PDLiclA CIEi'lTlFICA


INST ITUTO MEDICO L(GAl

La udo n9 4 016/85 f l. 26

dill!lnô~ticoIIntropolõ!J1c:o da identidaoe procurada. Por S Ul


"'el. o ProL Dr. Richard Hel.e,. . utl1iundo a t êcnic.: de .1 -
U\lcm ele trônica dI.' l.a~l!ns. constatou tia ... !!: .. uln total coin-
c:idt!l\ch ene .. !! U CJ.rac:terhtlcas lIIorfológlcls "'15T'I1I1I no
, .. inIO e nas fotografias, &nlll 1:0110 UII"" cobertura tot., e n-
t re O~ tecidOS .oles quo aplrCtUIII nas fotOllr ... f hs e o 1II0llelo
das partes aD ies aplicado la crinl0 (vid e rehtório n9D2) , o
que indita h.ver elevada probabilidade do c râ nio UI/tudo tr!
trH-se do til! JOStF HH!CCLE. 3 , 6) Conslder.,õe s dos peritos "
I!str. ,~ gelrus:-As considerações dos peritos estrangelrv$ I rl!~
pCllO do exame antropolõgico do caso ell tel.: , nos fora Cl e:nc!
fIIll\had~s em Dl reh. l"'~ iol pr~llminllres resu midos/que se~l/ rn·
co anexo) .sendo que um ii dos peritos da R~piiblic~ I'adenl da
fitem nha c o outro, ur: In forme conjunto dos pqrlto~ do Oa pa!
tll lllll nto de Justlca deIS Estados Unidos dll AIairlca e do Centro
Si fllon IHesenthal . 4) tONC!.IISII J; . A soltlltória des cMcld iinc l,.
verifi cadas neste eXIme antropológ ico , Indic/! . que ii .1taltle!!
te provivel que o esqueleto exumado nja c de JOSEF HENGElE.
Por outro lado. é .lu.ente improvável que outra pessoa ti.
vesse t odOlo5 essas caracteríSticas coincidentes e . sl ll ultlne!
CIente , nio apresentasse ponto! conflitantes nos e lemento s 1-
de:nt l flcatõrlos Inalludos ell todos os tellpos e procedlllen .
tos efttuados nesta per;c!,. lI,d, mais h'vendo I Icrescent,r,
foi o prC!5C!nte LAUDO encerrado aos 05(clncoldlu do .. és de '
julh o de 1985. Eu , Fábio Yldal Ramos(OAB 34541) que o dltll~
graf(;I.·.· •••• , •••• • ..• • ..... • .•.••• , . ,.,., • • ' . • , - . . . . . -. - ,'.
-.'.-, . .. . -...' , - . - ,-, . . . . . .. .. ,-.- .-.- .-, -.-.- .. ,., - .-,-, ' .-

1,.,.1 ~,g9Ú.W'h
Pro .Or.~osr AnTONIO O[ MEllO
Hl!djco · Legls t ,
)w!hi . "

Prol. Or:.IDAHIEL MKERO HUNOZ


Hédlco.lJgista
DAS PERICIAS OOONTOLEGAIS .71

:u:cuTAalA DAUGUIlANÇA NI\UC4

DEPARTAMENTO ESTADUAl DE POÚCIA CIEllTiACA


INSTITUTO MEDICO LEGAL

'rof.O r .R O~o~tOAT[ MA" OE"S


'.......... Méd t ,-eghU

c..t&,·~/pt-C? .
Pro r .Or.WI'lMÊSRÕ8êiTO G TE IX EI RA
Hidtco -Leghu

,g..z ... "J~..,


Dr . CARLOS fERR[lRA VALERIO· FILHO
Odonto-Leg 1st.

Prof. Dr':""'MCíÃCYR DA SILVA


ProfulOr de Odontol ogh leg. l

0 00
472 PERfClAS ODONTOLÓGICAS

Governo dos Estados Unidos . Pelo Centro Simon Wiesenthal, os Drs.


Leslie Lukash e JOM Fitzpatrick (médicos) e, pejo governo alemão os
D"" Richard Helmer (médiCO) e RoU Endris (cirurgião-dentista),
De acordo com informações de membros da Superintendência
Regional da PoUcia Federal em São Paulo, foram recebidos, sob custódia,
relatórios, fotografias e "dossiê" do Governo dos Estados Unidos da
América do Norte contendo vários documentos relativos à genealogia e
aptidão social de ]osef Mengele, em sua versão original. em alemão, e
em sua tradução para o inglês.
Trazidos também depoimentos da S~ Gita Stammer e do Sr. e Sr"
Bossert, com quem o pesquisado teria convivido no Brasil, e informes
verbais do Or. Rolf Endris, tomando possível estabelecer 05 seguintes
elementos históricos relacionados com a perícia em questão: (1 ) a ossada
exumada no cemitério N. S. do Rosário, no município de Embu, Estado
de São Paulo, poderia ser de Josef Mengele; (2) ele teria vivido no Brasil
de 1961 a 1979, tendo falecido por afogamento em fevereiro de 1979,
sendo que, de 1961 a 1974, esteve relacionadõ com a farnllia Stammer e,
de 1974 até sua morte, com a família Bossert; (3) o supramencionado
"dossiê" continha fotos tiradas em 1938, uma das quais evidenciava um
típico diastema entre os incisivos superiores, constando, ainda, seu nas·
cimento na Bavária, em 1911, a estatura de 1,74 m , ficha dentária etc .; (4)
documento relatando que, em 21 / 06/ 43, às 16 horas, no Campo de
Auschwitz, sofrera um acidente de motoi (5) segundo depoimentos,
sofria de reumatismo (sic) nas mãos, pernas e coluna vertebral; (6) o
casal Bossert referiu também que Josef Menge1e submetera·se a trata·
menta dentário dois anos antes de sua morte, tendo extraido alguns den·
tes e colocado uma prótese superior e outra inferior.
Além de todos os exames realizados pelos demais membros da equipe
oficial referida no inicio dessas considerações, o fac~imift do laudo resul·
tante dos exames relativos à área odontológica (inserido no laudo geral)
é publicado a seguir, bem como o fac--similt das duas últimas folhas do
Laudo 4.016/ 85, Hnal, onde, além da conclusão final, encontram-se as
assinaturas dos membros da equipe oficial que atuou naquela que tem
sido considerada como a perícia do século.
Muitas dúvidas acerca dos resultados foram levantadas por diversos
setores, nao obstante a convicção dos membros da equipe acerca de suas
conclusões. Posteriormente, exame do DNA realizado na Inglaterra
esclareceu que a ossada realmente era de Josef Mengele. e o acerto das
conclusões dos peritos oficiais brasileiros.
DAS PERfclAS ODONTOL.E:GAlS 473

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Vicente de Azevedo VP. Curso dt Dirtito Judici4rio Penal. 510 Paulo: Sara.iva, 1958.
Witkop CW. CÀlttiCS and DePltaI Health. McCraw·HiIl, Toronto, 1961.
CAPíTULO 25

MARCAS DE MORDIDAS

RODOLFO FRANCISCO HALTENHOFF MELANI

INTRODUÇÃO

Uma significativa área de estudo e análise no campo da odontologia


forense é a do reconhecimento e interpretação de marcas e lesões produ-
zidas por mordidas humanas. Trata-se, na verdade, de um campo ainda
a ser estudado e desenvolvido. As marcas de mordidas têm sido tratadas
geralmente como entidades individuais; no entanto, poucos são os traba-
lhos científicos que indicam parâmetros claros de classificação, como
ocorre em outras áreas das ciências forenses, como a datiloscopia ou a
baHstica, o que. sem dúvida alguma, dificulta seu estudo. A individuali-
dade da dentição e a singularidade da mordedura, quando claramente
evidenciadas, conferem a possibilidade do estabelecimento de identifica-
ções criminais, posto que estas marcas podem apresentar correspondên-
cia com as impressões dentais da vftima, agressor ou suspeito.
Inúmeras são as superfícies onde as mordidas são aplicadas. Podemos
destacar a pele humana e, entre os chamados objetos inanimados, os ali-
mentos, encontrados na cena do crime, como os "suportes" mais fre-
qüentes.
No caso das mordidas, o mecanismo de ação que resulta na impressão
dos dentes sobre a pele foi descrito, de modo esquemático, por
Beckstead. Rawson e Giles (1979) como uma combinação de for~as. Ini-
cia-se com o fechamento mandibular, scguindo-se a sucção (pressão ne-
gativa) da pele e a a~ão de uma (orça no sentido contrário, impulsionada

475
476 PERfCIAS ODONTOLOG1CAS

figure 25· ' . MarCI da mordidl. 1.1Ht1e. 2. mirei nl pele, 3. sucçlo, 4. prasslo dlUngul.

pela Ungua; teríamos assim sua projeção nas superfícies incisais e lin-
guais dos dentes (Fig. 25-1 .)
Alguns aspectos importantes surgem na interpretação dessas lesões.
As mordeduras têm sido detectadas em quase todas as partes do corpo
humano e nem sempre reproduzem, com fidelidade, o sinal deixado
pela pressão dos d entes na pele. Assim, o exame deve analisar, muitas
vezes, precedendo o estudo espedfico da lesão, os seguintes fatores:

o DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE


MORDIDAS HUMANAS E NÃO-HUMANAS
As mordeduras humanas são identificadas pelo seu formato e tamanho,
ap resentando características elípticas ou formato ov6ide, contendo o
MARCAS DE MORDIOAS 4n

dente e as marcas dos arcos . Quando as marcas dos caninos maxilares


sâo identificáveis, a distância entre esses elementos den tários deverá
medir entre 2,5 e 4,5 COl. Caso a medida seja inferior a 3,0 em, a morde-
dura pertence, provavelmente, a urna criança com a primeira dentição.

A CONSISTÊNCIA DA PELE E A LOCALIZAÇÃO


DAS IMPRESSÕES
A espessura da pele varia segundo a constituição física do indivíduo e a
região anatômica em que se encontra, podendo oscilar de 0,5 a 2 mm . A
estrutura da derme cutânea é, essencialmente, constituída por tecido
conjuntivo, fibras elásticas, fibras musculares lisas e tecido adiposo. A
estes diversos elementos dispõem-se vasos sangüíneos e nervos. O teci-
do conjuntivo é o elemento predominante e, juntamente com as fibras
elásticas, confere resistência à pele, sendo esta firme ou frágil. Além das
estruturas anatômicas citadas, o tecido ósseo, devido à sua resistência,
deve ser observado como um apoio que pode ter influência nas caracte-
rísticas da marca .
A mordedura em uma superfIcie plana não é exatamente a mesma do
que em vma superfície curva (côncava ou convexa). Nesses casos, a
inclinação dos dentes varia, podendo ser observadas impressões nítidas
das faces vestibulares e linguais. As superfícies côncavas raramente são
sujeitas às dentadas, graças à dificuldade de ação sobre elas do aparelho
dentário. O mesmo, porém, não acontece em superfícies convexas, como
as que se notam no nariz, em orelhas, braços, seios etc.

AS MUDANÇAS DO TAMANHO E DA FORMA


DA MARCA CAUSADA POR ALTERAÇÃO DA
POSIÇÃO DO CORPO
A elasticidade e a retratilidade dos tecidos, em razão da posição do
corpo, podem, respectivamente, quando da mordida, aumenta.r ou dimi-
nuir o tamanho da impressão deixada, causando distorção. Recomenda-
se ao perito o reposicionamen to do corpo para a documentação fotográ-
fica e o estudo do caso.
478 PERlclAS ODONTOlOmCAS

APLICAÇÃO ANTES OU DEPOIS DA MORTE


No cadáver não há, obviamente, os processos de reação vital. Nesses
casos, a área lesada tende a apresentar um aspecto coriáceo ou de aper-
gaminhamento, pelo aumento da evaporação cutânea (Carvalho, 1987).
Em seguida, ocorrem os fenômenos putrefativos, que vão desagregando
os tecidos, causando modificações na impressão dentária. Por outro
lado, os tecidos vitais podem apresentar, quando lesados, edemas e
hemorragias que dificultam a interpretação das características. Nesses
casos, registros com intervalos de tempo podem fornecer imagens mais
apropriadas para a comparação.

UMA ÚNICA OU MÚLTIPLAS MORDIDAS


Em certos casos, podem-se observar lesões múltiplas na mesma região
do corpo humano (sede do dano), o que dificulta a avaliação da marca .
No estudo das energias de ordem mecânica, a classificação médico-
legal dos agentes pressupõe, invariavelmente, como primeira etapa, a
análise da lesão para sua denominação. Embora os arcos dentários pos-
sam produzir vários tipos de feridas, didaticamente encontram-se duas
classificações na literatura; os arcos dentários como instrumento contun-
dente (Carvalho, 1987; Sonnet, 1975) ou instrumento cortocontundente
(Arbenz,1988).
A divergência de classificação talvez se explique pela descrição atri-
bufda a Thomot,;'1 Bonnet (1975) que, ao citar os instrumentos contun-
dentes, inclui os órgãos naturais de defesa ou ataque, mencionando,
entre outros, os elementos dentários. Contudo, o modo de ação do meca-
nismo vulnerante dos instrumentos corto-contundentes, onde seu desli-
zamento (penetração) se faz pela força que a aciona (pressl'io), é também
compatível com a dinãmica da mordida humana, o que reforça o prind-
pio técnico de se classificar a lesão por suas características, para se apon-
tar o agente que a produziu.
Uma referência importante para o estudo da marca é a localização da
linha média dos arcos dentários, que pode indicar a posição da mord.ida
e se a pressão mandibular foi uniforme ou maior em um dos hemiarcos
inferiores.
A American Doard of Forense Odontology - ASFO (1986) - sugere
como itens de um protocolo de procedimento para a coleta de evidências
os seguintes procedimentos:
MARCAS DE MORDIDAS 479

1. o registro do quadro clínico odontológico do suspeito e o tempo


decorrido entre a produção do ferimento e o exame;
2. o registro fotográfico, incluindo várias tomadas extra e intra-orais,
observando-se os arcos em oclusão e a máxima abertura da boca;
3. exame clinico extra-oral dos tecidos, da estrutura óssea e dos mús-
culos. Esta análise colabora no entendimento da dinâmica da mor-
dida;
4. registro e exame clinico intra-oral completo, que pode incluir: sali-
va, llngua e as condições periodontais do suspeito;
5. as moldagens dos arcos dentários;
6. registro da mordida em placa de cera, observando--se as diversas
relações interoclusais, para estudo da posição da mordida;
7. obtenção dos modelos de gesso a partir das moldagens realizadas.

Sem o propósito de impor um método específico de análise, a ABFO


apresenta, em seu guia sobre marcas de mordidas, uma tabela para a
quantificação dos aspectos encontrados (Quadro 25~1).

REGISTROS DA MARCA DAS MORDIDAS E


COMPARAÇÃO COM OS DENTES DO SUSPEITO

o estudo especifico das lesões produzidas pelas mordidas humanas


requer urna análise apurada, e, embora não haja uma metodologia
padrão, o perito deve seguir algumas etapas fundamentais . A utilização
de técnicas avançadas e sofisticadas, tais como microscopia eletrônica de
varredura, análise por imagens de videoteipe, técnicas de radiografias,
incluindo as xeronadiografias, esteriometria gráfica e a digitalização das
imagens através de computadores, proporciona, sem dúvida alguma,
um aumento da credibilidade, contribuindo para a demonstração das
características da marca da morclida . No entanto, fixar~nos~os nas téc-
nicas mais simples e com possibilidade de utilizaç:lo por um maior
número de profissionais em diversas regiões do país.
Freqüentemente, as marcas apresentam formatos ovais, elípticos ou
circulares. Sua singularidade depende do tipo do deslocamento, da pro-
fundidade da incisão, da laceração. do grau de rotação dos elementos
dentários (giroversão), presença de anomalias ou patologias em cada
marca do dente, fratura da porção incisal, descontinuidade de arco pela
ausência de elementos dentários etc. Em alguns casos, essas formas não
480 PERlclAS ODONTOLOGICAS

Quadro 25-1.

Caractarr.Üca. N" d. ponto.

Aspectos Gereis
Todo. o. dente. prenntu Um/lrco
T.manno do alco denÚtlo Um/arco
FOlml do "CO dent',io Um/aICO
Po$lçlo do$ dente!l
Ve.tibulllrilllÇAo ou pllllltiniZllçlo Um/dlnte
Girovers6e. Um/dente
Espaço. Um/upaço
CIIT8CterlStk.s dMtais
Medida meslodl.tel Um/dente
Medida vestibulollngua. Trls'denl8
Curvltura do boldo inclui T,A./dente
o Incontro de uma callCterlstlca plrtlcular T,I.,dente
C.rfJCtfNlstic8s v.rilHi.s
Arco lIdentado T<t,

sâo nítidas. Os estudos sobre o assunto normalmente promovem a con-


cepção de individualidade, incluindo múltiplos dentes em ambos os ar-
cos, situação nem sempre encontrada na prática pericial. Stonn (1963)
cita um estudo envolvendo a comparação entre 100 registros de mordi-
das, obtidas em condições ideais, onde foi passível a exata superposição
individual do dente e sua marca. No entanto, ressalta que a técnica de
sobreposição, para ser precisa, necessita da avaliação simultânea de to-
dos os elementos presentes no arco e conclui não ser possível a identifi-
cação positiva sem ao menos a presença de quatro ou cinco marcas de
dentes.
A fonna de registro mais usual das marcas na pele humana é a foto-
grafia. Imobilizando O momento, captando as características, suas di-
mensões e dando, inclusive, noções da profundidade da ferielal essa ima-
gem é o parâmetro para a comparação com as dos arcos dentários do sus-
peito ou da vítima. Tecnicamente, a captação da imagem na proporção
real, 1:1, conseguida com lentes objetivas tipo macro de 100 ou 105 mm,
é a mais indicada. Machado (1982) afirma que a utilização deste tipo de
lente permite a aproximação (close-up) sem distorções, com bom controle
de iluminação, proporção e enquadramento, a wna distância de 44 an do
objeto fotografado, indicando o uso defoJsh de baixa potência, de nÚDle-
ro-guia 18 a 20 para ASA 100 metros/ cor. Quanto à abertura da lente (f:),
devem-se fazer testes anotando OS resultados obtidos para a conclusão
MARCAS DE MORDIDAS 481

de qual a melhor para a reprodução mais fiel. A cor da pele, mais clara
(Ieucoderma) ou mais escura (melanoderma), é um fator que deve ser
avaliado no teste. Para se evitarem distorções, a marca da mordida deve
ser fotografada em posição paralela ao plano do filme, sempre acompa-
nhada de uma escala, essencial para a completa análise das marcas. A
escala na 2 da ABFO é considerada como padrão; quando não estiver dis-
ponível. duas réguas centesimais, uma posicionada verticalmente e
outra horizontalmente, ambas próximas à lesão, fornecerão as referên-
cias de escala. Nos casos de lesôes em superfícies curvas, a segunda
régua deve ser flexível, de tal forma que se ajuste à curvatura do tecido.
Sempre que possível, indicam-se novos registros fotográficos, 24 ou 36
horas após as primeiras fotografias, quando podem aparecer, nesse
intervalo de tempo, detalhes adicionais e importantes para a interpreta-
ção.
Uma vez obtida a fotografia da marca na pele, o perito passa ao regis-
tro das características dos arcos dentários para a respectiva comparação.
Nesse tipo de téOlica, o importante é o registro do contorno das superfí-
cies incisais e oclusais dos dentes, feito em folha transparente (acetato)
para sobreposição com a fotografia da lesão. Ressaltaremos duas possibi-
lidades de obtenção dos contornos.

1. A partir da fotografia do modelo de gesso do arco do suspeito: usando-se


técnica semelhante à descrita, obtém-se a fotografia do modelo de
gesso do arco do suspeito. Sobre essa imagem coloca-se a folha de
papel transparente ou de acetato, passando-se ao registro do con-
torno das superfícies incisais, com caneta própria. Com o propósito
de evidenciá-Ias, alguns autores recomendam o clareamento dos
bordos incisais dos modelos de estudo com tinta branca, antes da
tomada fotográfica.

2. A partir dns marcas do modelo de gesso, diretamente sobre a folha trallspa-


retlte 011 de acetato: este segundo método de registro é obtido pelo
contato direto das superfícies oclusais do modelo de gesso do sus-
peito com a folha transparente. As superfícies são pintadas com
tinta ou lápis carbono e sua impressão é contornada para que,
assim como na primeira técnica descrita, seja sobreposta à fotogra-
fia da marca da mordida.

Uma interessante variação foi proposta por McKinstry (1995), suge-


rindo o preenchimento do molde do arco dentário com resina transpa-
rente, química ou fotopolimerizável, o que, em razão da sua transluci-
482 PERfCIAS OOONTOlOG1CAS

dez, permitiria a visualização através dos dentes. condição desejada, em


certas circunstâncias, quando se analisam as marcas de mordidas.
Esta metodologia de comparação simples e que sintetiza propostas de
diversos autores apresenta limitações, sem, no entanto, negar necessaria-
mente os resultados. Com propriedade, acerca do assunto, Bernstein
(1993) ensina: A arte da evolução do estudo das marcas de mordidas
H

complica-se desnecessariamente quando toda a recomendação, precau-


ção, prejuízo e técnica esporádica se transformam em doutrina, gerando
urna norma que é insustentável e excede o que é realmente necessário
para a obtenção das conclusões. Atualmente, os pontos deficientes na
análise das marcas de mordidas são a variabilidade da pele como super-
fície de suporte e a falta de dados estatfsticos sobre a qualidade dos
padrões de mordida, particularmente do segmento anterior. Os pontos
mais sólidos devem ser tratados cientificamente, e, em certos casos,
quando as marcas estão bem caracterizadas e concordam de maneira
inquestionável, o perito pode chegar com O grau de certeza à conclusão
definitiva ,"

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