(Livro 2) Os Lobos Do Milênio

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Sumário

1. Tradições
2. Ninguém Humilha a Matilha
3. Visitantes Inesperados
4. Quanta Audácia
5. Entrando na Fila
6. Aumentando as Apostas
7. Controle de Danos
8. Fricção Aquecida
9. Lavagem de Roupas
10. Hora do Almoço
11. Declarações
12. Pânico no Paraíso
13. Um Tempo a sós
14. Arte Nebulosa
15. O Elevador do Êxtase
16. Perguntas
17. Deixe-me entrar
18. Mémoire
19. Spotlight
20. Restrições
21. Mente Aberta
22. Inseguranças
23. A Ópera
24. Yuletide
25. Correndo
26. Caminhos da Mente
27. Marionetistas
28. Cortado
29. Desperta
30. Família
Capítulo 1
TRADIÇÕES
Sienna

A água batia contra nossos corpos nus enquanto estávamos de frente um


para o outro na chuva quente do verão.
Nossas silhuetas brilhantes foram banhadas por uma luz âmbar que
bronzeou todo o pasto.
Os olhos dele vagavam pelas minhas curvas num desejo descarado.
Corei, não acostumada à atenção.
A corrida durou horas e nos levou ao topo de uma colina com vista para
toda a ilha. Ao longe, mal se viam as torres brilhantes do resto no horizonte.
Só paramos quando tivemos certeza de que estávamos completamente
sozinhos.
— Venha aqui, — ele acenou, estendendo sua mão.
O meu coração disparou enquanto eu andava em sua direção. O vapor
subia por seus ombros salientes.
Senti sua mão áspera contra minha bochecha enquanto ele me puxava
para um beijo.
Logo ele estava em cima de mim, nossos corpos deslizando um contra o
outro sobre a grama macia, como se estivéssemos tentando incendiar o lugar.
O volume dele se esfregava contra o exterior do meu sexo em um ritmo
tentador, abrindo meus lábios, mas recusando-se a entrar
Foi uma tortura que eu não pude suportar
Puxei-o para dentro de mim, ofegando de prazer e um pouco de dor. Ele
estava mais fundo do que eu jamais havia sentido antes.
Gemi de alegria, chamando seu nome, implorando para que ele não
parasse enquanto a chuva caía sobre nós.
Eu fechei o registro, deixando os últimos rastros de água escaparem pelo
meu peito.
Era inverno, e nossa lua-de-mel havia terminado há muito tempo,
mas os banhos quentes ainda me lembravam aquele dia na ilha com
Aiden.
O vapor abraçou minha pele como um cobertor quente quando eu saí
do chuveiro.
Foi engraçado pensar que, um ano atrás, eu tinha ficado no mesmo
banheiro, furiosa por ter sido enganada para ficar com Aiden, mas agora
aqui estava eu, acasalada ao Alfa da Matilha da Costa Leste e não
querendo estar em nenhum outro lugar a não ser nesta casa com o
homem que eu amava.
— Você precisa de ajuda aí dentro?, — perguntou ele através da porta
com sua voz grave.
— Não, sou perfeitamente capaz de me secar sozinha, muito
obrigada, — respondi, sorrindo para mim mesma.
Nos últimos doze meses, ele havia se tornado mais brincalhão,
baixando sua guarda e me mostrando um lado que era diferente daquele
Alfa dominante que ele tinha que exibir para o resto da matilha.
— Fico feliz em ajudar, — continuou ele, com uma persistência
encantadora que me fez rir. — Não é problema algum.
— Senta, rapaz, — disse eu, me embrulhando em uma toalha e rindo.
— Mas eu tenho sido tão bonzinho, — protestou ele.
— Quem espera sempre alcança, — respondi, limpando o vapor do
espelho e desembaraçando meus cabelos úmidos.
Abri a porta e dei um passo à frente, pressionando meu corpo
molhado contra seu peito aberto, envolvendo meus braços em torno
dele, e agarrando suas costas musculosas.
Ele inclinou a cabeça como se quisesse me beijar, e eu me afastei. —
Eu disse que quem espera sempre alcança... e você não esperou.
Eu o afastei e mergulhei dentro do meu armário, garantindo que ele
tivesse uma boa visão da minha bunda. Quando fiz a curva, tirei minha
toalha para que ele visse que eu estava nua e fechei a porta de correr.
Eu mal tinha vestido minha roupa íntima quando a porta se abriu e
me vi envolta nos braços de Aiden, seus lábios nos meus em uma paixão
ardente.
Eu senti ele me puxando de novo, e caímos no colchão cheio de
travesseiros. O peso de Aiden pressionado contra mim com um forte
desejo. Eu podia sentir como ele estava duro, e eu já estava ficando
molhada.
Ele rasgou sua camisa, revelando seu tronco definido e seus braços
salientes. Seu peito pesado de desejo e seus olhos verde-ouro cintilavam
de luxúria.
Eu me inclinei e beijei meu Alfa. Seus lábios estavam macios e
quentes, e cada vez que eu os tocava, parecia que eu estava derretendo
neles.
— Eu quero começar uma família com você, Sienna, — disse ele de
repente.
— Eu sei, — eu respondi. — Nós vamos.
— Quero dizer, agora mesmo. Eu quero começar a tentar.
As palavras de Aiden me pegaram desprevenida. Eu sabia que
eventualmente teríamos que falar sobre isso, mas nos últimos seis meses
eu tinha esquecido desse assunto.
Havia tanto para se acostumar depois de acasalar com o Alfa da
segunda matilha mais poderosa dos Estados Unidos. Eu não podia mais
me vestir como antes, não podia sair em público sem guarda-costas, e
estava constantemente sob vigilância.
Chega de encontros espontâneos com as garotas na Winston's.
Chega de tardes tranquilas no parque, onde eu poderia ficar sozinha
com meu caderno de rascunho e meus pensamentos.
Eu tinha tarefas agora, como a que eu tinha que cumprir esta tarde.
Era o primeiro dia do Festival de Fertilidade, e a tradição da matilha
exigia que eu me transformasse com Aiden na frente da matilha inteira e
o deixasse montar-me.
Pensei que Aiden estava brincando quando ele me contou pela
primeira vez, mas acho que quando você é criado como um Alfa, não
questiona o status quo e as cerimônias ultrapassadas.
Mas eu não vim da realeza da matilha. Antes de ser sua cônjuge, eu
era uma garota adotada de dezenove anos com um pai humano e uma
enorme aversão aos holofotes.
A ideia de ser tão vulnerável em um ambiente tão público era
absurda, para não dizer humilhante.
Eu havia tentado confrontar Aiden sobre isso, mas toda vez que eu
tocava no assunto, ele desconversava dizendo que isso não era grande
coisa, mas que era importante para a matilha.
Não estávamos fazendo sexo nem nada, mas ainda assim o
considerava como um caso bastante íntimo e privado.
— Sienna? — perguntou Aiden, agarrando minha coxa.
— Sim, desculpe. Eu estava viajando.
— Você quer continuar?
— Aiden, ainda não sei se estou pronta.
— O que você quer dizer? Já faz um ano. Alfas e seus companheiros
devem começar a tentar os filhotes no início da primeira Bruma depois
de terem se acasalado. É uma tradição.
Houve essa palavra novamente. — Tradição.
Deus, como eu estava começando a odiar o som dela. E a Bruma,
aquela loucura luxuriosa que possuía todos os lobisomens durante a
época do Acasalamento, estava prestes a piorar dez vezes a situação.
— Podemos falar sobre isso mais tarde? — perguntei, tentando
resgatar o momento romântico, que estava rapidamente escapando.
— Claro, podemos conversar após a cerimônia, — respondeu Aiden,
olhando para mim com seus olhos suaves e inocentes. Quanto mais eu
olhava para eles, porém, mais confiante eu ficava de que não poderia
continuar com o ritual esta tarde.
Me matava fazer isso com ele, e eu sabia que era minha culpa por ter
deixado passar tanto tempo, mas algo dentro de mim não me parecia
certo.
— Isso é algo mais que eu queria falar com você, — disse eu,
interrompendo o olhar dele.
— O que você quer dizer? Você está nervosa?, — perguntou ele,
acariciando meu braço.
Por que ele tem que ser tão doce logo agora?
Mas eu não poderia voltar atrás. Não havia mais tempo para adiar. Eu
tinha que dizer a ele como me sentia.
— Aiden, eu não quero fazer isso.
Um olhar confuso lhe passou pelo rosto, e eu esperava que
pudéssemos resolver isso sem que isso explodisse em uma briga.
— Por quê? E apenas uma pequena exposição para a matilha para que
eles possam nos dar suas bênçãos enquanto tentamos conceber.
— Se é só para a bênção da matilha, então por que precisamos nos
transformar e fazer todas as outras coisas?
— É simbólico.
Eu esperava que Aiden tirasse um momento para ouvir a si mesmo e
perceber o quão fraco era o seu argumento, mas sua expressão era tão
sincera que me fez soletrar minha objeção.
— Talvez para você, mas eu acho que é degradante.
— Minha mãe o fez, assim como a mãe de meu pai. Você é minha
companheira, Sienna. Ninguém vai te julgar...
— Não é o que as outras pessoas pensam, Aiden. É com o que me
sinto confortável.
— Escute, — disse ele, saindo de baixo de mim e sentado em cima da
cama. — Isto só acontece uma ou duas vezes na vida. Vamos nos
transformar por menos de um minuto. A tradição é o que mantém a
matilha unida. Sem ela, perdemos nossa identidade.
Lá vem aquela palavra estúpida de novo. — Sinto que estou perdendo
minha identidade por ter que seguir todas essas regras estúpidas, — eu
retruquei.
Coloquei um olhar severo no meu rosto, deixando-o saber que eu não
mudaria de ideia — Olhe, Sienna, esqueça a matilha. Você pode fazer isso
por mim? E eu juro que nunca mais te pedirei para fazer algo assim.
Aiden era meu mundo, e eu faria qualquer coisa para fazê-lo feliz,
mas neste momento eu odiava que ele não estivesse me ouvindo. Como
um Alfa, ele não estava acostumado a comprometer-se, mas se nosso
relacionamento continuasse a crescer, ele precisaria descobrir como fazer
isso.
— Você realmente não entende o meu lado?
— É só desta vez, Sienna, — respondeu ele. — Depois disto, você é
que manda, meu amor. — Eu tinha certeza de que ele não ia ceder.
— Preciso terminar de me preparar, — disse eu, saltando da cama e
voltando para o armário.
— Você precisa de ajuda? — ele disse com um tom lúdico.
— Não, eu consigo me virar sozinha, — respondi sem entusiasmo.
— Não demore muito, — disse Aiden, pegando sua camisa e me
mandando um beijo antes de sair do quarto.
Vesti o vestido do festival e me olhei no espelho, pensando em todas
as companheiras de Alfas que suportaram isso antes de mim e me
perguntando se elas se sentiam ou não tão enojadas quanto eu.
É menos de um minuto, Sienna. É menos de um minuto.

O palco foi construído em uma clareira na floresta. Árvores gigantes


tinham sido derrubadas e seus corpos unidos para criar a gigantesca
plataforma em que Aiden e eu agora estávamos. Atrás de nós estava o
resto do conselho e um convidado surpresa, Raphael Fernández, o Alfa
do Milênio.
Não admira que Aiden não quisesse cancelar o festival.
Em todos os lugares, olhando para nós com excitação, estava
praticamente toda a Matilha da Costa Leste
Por um momento eu pensei ter visto um par de olhos roxos, mas deve
ter sido apenas minha imaginação.
Eu não tinha visto Eve desde que ela passou pela minha galeria há
mais de seis meses. Tampouco tinha recebido algum esclarecimento
sobre aquele aviso vago sobre meus pais biológicos com os quais ela me
deixou.
Se meus pais realmente tivessem sido Alfas, eu me perguntava se eles
também teriam que participar deste ritual horrível.
Quando as declarações de abertura foram feitas, meu coração
começou a bater. Eu não podia acreditar que ia fazer isto. Eu fiquei
pensando nisso dezenas de vezes enquanto dirigia para o festival.
Senti a mão de Aiden agarrar a minha e apertá-la com tranquilidade.
Ele então retirou seu manto, revelando sua figura escura e estatuária, e
começou a transformação.
É isso. Não tem mais volta.
Eu fiquei no lugar, sem me mover. Um suspiro ondulou através da
multidão como uma onda.
O enorme lobo de Aiden agora estava ao meu lado, olhando com
expectativa para a minha forma humana.
Fui até o microfone e examinei os rostos estupefatos na multidão.
Minha mão tremeu enquanto eu puxava o microfone para baixo,
apontando-o para meus lábios.
Não é tarde demais. Você ainda pode se transformar.
Não, você consegue, Sienna.
Eu tentei forçar as palavras, mas elas se recusaram a ceder. Minha
adrenalina estava aumentando, apertando minha garganta e todos os
músculos do meu corpo.
Você também é uma Alfa, Sienna. Comece a agir como tal.
Fechei meus olhos, bloqueando o mar de pessoas e acalmando meus
nervos. Minha garganta relaxou, e as palavras saíram antes que eu tivesse
a chance de pensar.
— Estarei com meu companheiro, mas apenas como sua igual, não
como seu prêmio. Ainda peço a sua bênção, mas não vou me
transformar.
Houve um momento de silêncio enquanto minhas palavras surtiam
efeito, mas uivos furiosos logo romperam em um tumulto crescente. Eu
me afastei do pódio, sem saber o que fazer agora que havia feito meu
protesto.
Os gritos se intensificaram, e os rostos dos espectadores estavam
repletos de malícia. Eu comecei a me sentir assustada, ameaçada.
Teria eu acabado de cometer um grande erro?
Capítulo 2
NINGUÉM HUMILHA A MATILHA
Sienna

Eu senti um empurrão nas costas, me virei e vi Aiden ainda em forma de


lobo.
— Sinto muito, não posso, — disse eu, colocando minha mão em seu
focinho. — Esta é uma tradição que me recuso a manter.
Até mesmo os olhos de lobo do meu companheiro estavam cheios de
desapontamento. Aquilo apunhalou-me no coração como uma faca
afiada. Era demais para aguentar. Tive que fugir antes de me despedaçar
completamente.
Virei e saí do palco o mais rápido que pude, sem correr.
Quando cheguei ao chão, Jocelyn estava lá esperando para me
interceptar.
— Sienna, espere!
— Jocelyn, não consigo. Eu preciso sair daqui.
— Certo, — disse ela, olhando para mim e percebendo que eu não
estava em condições de ouvir nada do que ela tinha a dizer. — Venha
comigo.
Ela pegou minha mão e me puxou para além das vans dos jornais. Já
os repórteres e operadores de câmera tinham começado a se aglomerar
ao meu redor, com lentes e microfones.
Quando minha equipe de segurança nos alcançou, já tínhamos
chegado aos carros da matilha. Um dos seguranças abriu a porta de uma
limusine e colocou nós duas lá dentro.
Fecharam a porta, e os sons do lado de fora foram instantaneamente
silenciados. Enquanto aceleramos, olhei para fora das janelas escurecidas
para a multidão de lobos furiosos gritando para o nosso carro. Acho que
nunca havia me sentido tão odiada em minha vida.
Felizmente, eu ainda tinha a Jocelyn.
Como curandeira, ela não apenas curava feridas físicas, mas também
emocionais.
Tínhamos nos tornado como irmãs no ano passado, e seu
relacionamento anterior com Aiden significava que ela o conhecia tão
bem quanto eu, se não melhor.
Dito isto, eu tinha mantido minhas apreensões em segredo. Ela tinha
sido criada no mesmo mundo centrado em matilhas que Aiden, e se ela
estava do lado dele, bem, eu decidi que preferia continuar sozinha a
correr o risco de perder nossa amizade.
— Si, por que você não veio até mim?
— Achei que você não entenderia. Pensei que você me diria o mesmo
que Aiden.
— O que ele disse?
— Que não era nada demais. Que é importante para a matilha. Que
eu estou exagerando. Mas agora vejo como foi estúpido manter tudo
entalado. E agora vocês dois me odeiam.
— Eu não te odeio, Sienna, e nem Aiden.
— Você não olhou nos olhos dele como eu olhei, — respondi, com
lágrimas nos olhos.
— Tenho certeza de que ele se sentiu envergonhado, — respondeu
Jocelyn. — E certamente a presença do Alfa do Milênio não ajudou.
— Obrigada por me lembrar, — eu chorei, enterrando meu rosto em
minhas mãos.
Jocelyn colocou seu braço ao meu redor e acariciou meus cabelos,
tentando me acalmar. Eu só podia imaginar com o que Aiden estava
lidando neste momento. Eu o havia abandonado ali, com a multidão,
com Raphael.
Eu era uma companheira horrenda.
— Posso dizer que se trata de mais do que apenas o ritual, — disse
Jocelyn em sua voz calmante de curandeira.
Às vezes eu odiava como ela era boa em seu trabalho, mas acabara de
testemunhar o que aconteceu quando guardei as coisas para mim
mesma.
Além disso, eu não tinha motivos para ter medo do julgamento de
Jocelyn. Ela era minha melhor amiga. Sentime envergonhada de que o
pensamento tivesse sequer entrado em minha mente.
— Aiden quer começar a tentar uma família agora, e eu não estou
pronta de jeito nenhum.
— O que a faz sentir que não está pronta?
— Eu não sei. É esta sensação que está pairando sobre mim. Eu não
consigo explicar.
— Tem a ver com o Aiden?
— Com certeza ele é uma parte importante. É como se ele só quisesse
filhotes porque a tradição diz que devemos começar agora. Isso é uma
loucura, certo? Você deveria querer ter filhos porque quer ter filhos, não
porque algumas regras ultrapassadas dizem que você deveria.
— Você disse isso a ele?
— Não quero que ele pense que sou ingrata ou que não quero ter
filhos com ele. O que eu quero dizer é que acho que uma grande parte do
mundo em que ele foi criado é uma grande bobagem.
— Talvez não deva usar essa palavra, — respondeu Jocelyn, rindo, —
mas todo relacionamento saudável é baseado na comunicação aberta.
Sim, mas isso só funciona quando seu cônjuge está disposto a ouvir.
Me encolhi no banco frustrada, pensando na minha conversa com o
Aiden antes de sairmos para o festival, amaldiçoando-me por não ser
mais assertiva.
— E a outra parte? — perguntou Jocelyn.
— O quê? — Eu respondi, voltando de meus pensamentos.
— Qual é a outra parte da sensação que está pairando sobre você?
Eu não tinha certeza se sabia sequer, apenas que estava ali, pairando
ameaçadoramente acima de mim sempre que a conversa de ter filhos
surgisse.
— É como este medo escondido no fundo da minha mente.
— Medo de quê?
— Eu não sei. O desconhecido, eu acho.
É
— É normal ficar apreensiva quanto ao futuro. Si. Especialmente
quando se trata de começar uma família.
— Não, não se trata tanto do futuro, mas sim do passado de onde eu
venho.
— Você quer dizer sua família?
— Sim, mas não minha família adotiva, minha família biológica. Eu
não sei nada sobre eles.
— E quanto isso te assusta?
— Quero dizer, fui encontrada em uma carruagem. Eles podem ser
qualquer um. Antes de passar seus genes, você não acha que deveria
saber o que eles estão carregando?
— A família é mais do que genética, Sienna. Olhe para seus pais
adotivos. Você acha que eles se importaram com quem eram seus pais
quando a levaram para casa?
— Isso é diferente, — eu protestei.
— Mas será?, — respondeu Jocelyn.
— Claro que é. Fui literalmente empurrada nas mãos deles. Eles
deveriam esperar por uma checagem de antecedentes de meus pais antes
de me trazerem para casa?
— Si, eu acho que você está obcecada demais com isso. Qualquer
criança que você tenha com Aiden ficará bem. Você é uma loba
perfeitamente saudável, amorosa, e ele é um Alfa. Eles também recebem
metade dos genes dele.
— Isso é fácil para você dizer. Você nem sequer acasalou.
Lamentei imediatamente ter deixado sair as palavras da minha boca.
Não ter acasalado era algo que importava para Jocelyn, e embora eu não
tenha dito por mal, eu sabia que tinha soado mal.
— Jocelyn, eu não queria dizer isso. Eu estava tentando...
— Está tudo bem, Sienna. Eu sei que sua cabeça está em um milhão
de lugares. — Seu sorriso reconfortante me fez saber que ela não tinha
levado isso a sério. Eu respirei um suspiro de alívio.
— Você precisa falar com o Aiden, no entanto... sobre as duas coisas.
Como sempre, Jocelyn estava certa, mas como eu deveria abordá-lo
depois do que acabara de fazer?
— Bem, esse é o seu conselho sobre como reatar a relação com meu
companheiro. O que você prescreveria para reparar minha imagem com
o resto da matilha?
— Sou uma curandeira, não uma milagreira, — respondeu Jocelyn,
levantando suas mãos em protesto.
Eu tinha silenciado meu telefone quando entramos no carro,
ignorando uma enxurrada de notificações, mas olhei para baixo e vi que
tinha novas mensagens de minha mãe e Selene.
Além de Jocelyn, elas eram as únicas pessoas em minha vida com
quem eu me sentia à vontade para falar naquele momento. Eu sabia que
elas não me julgariam pelo que eu tinha feito.
— Fale com elas, — disse Jocelyn. — Acho que já dei todos os
conselhos que tenho, seja como for.

Mãe: Querida, me ligue.

Mãe: Eu não estou com raiva. Eu só quero saber se você está


bem.

Mãe: Não escute o que as pessoas horríveis da mídia estão


dizendo.

Mãe: Si?

Sienna: Oi
Sienna: Obrigada por perguntar, mãe

Sienna: Eu estou bem

Mãe: O que você fez foi tão corajoso.

Mãe: Seu pai e eu estamos aqui para você se precisar de nós.


Nós te amamos.

Sienna: Obrigada. Isso significa muito

Mãe: Tudo isto está me mostrando muitas coisas sobre meus


amigos.

Mãe: Patty veio na hora e começou a dizer algumas coisas não


muito agradáveis.

Mãe: Acho que não vou mais falar com ela.

Minha mãe estava perdendo amigos por causa do que eu havia feito?
Essa era a última coisa que eu queria que acontecesse.
Eu não tinha a intenção de dividir a matilha. E o que a mídia estava
dizendo sobre mim?
Selene: Irmã, todas as garotas no trabalho pensam que você é
incrível

Selene: Estou tão orgulhosa de ser sua parente!

Selene: Não que eu não fosse antes rs

Sienna: Obrigada, mana 😅 (emoji de


carinha rindo)

Sienna: Agradeço o apoio

Selene: Estou começando uma nova coleção

Selene: se chama "foda-se o matriarcado"

Selene: exagerei?

Sienna: Muito bem, Cachinhos dourados

Então, eu estava destruindo amizades e liderando movimentos


sociais.
Ó
Ótimo.

O carro nos deixou na Casa da Matilha. Pensei em ir para casa, mas as


inúmeras mensagens de Aiden deixaram claro que ele tinha que lidar
com aquela situação e que estaria lá pelo resto do dia.
Aiden estava ao telefone quando cheguei em seu escritório. Ele
ergueu um dedo para me avisar que estaria livre em apenas um
momento.
Fiquei confortada com o fato de que ele me olhou com o rosto de um
homem mergulhado no trabalho, não de um companheiro enraivecido.
Ainda assim, sua distância me aborreceu.
Comecei a pensar no que eu diria a ele quando ele desligasse o
telefone. Como eu começaria? E se ele dissesse que estava trabalhando
até tarde e que eu deveria ir para casa sem ele?
— Olá, garotinha.
Ele já estava pronto? Eu ainda não tinha ideia de como deveria
começar.
— Ei, Sr. Wolf, — eu disse, empatando. — Eu queria saber se você
precisava de uma carona para casa hoje à noite.
O que? Uma carona para casa? Não, eu quero saber se podemos falar
sobre como eu acabei de virar nossa vida de cabeça para baixo.
— Depende de quem está dirigindo, — respondeu ele, caminhando na
minha direção com uma sensualidade que me deixou com água na boca.
Foco, Sienna.
Ao invés de me beijar como eu queria, ele parou alguns passos e
cruzou os braços, esperando uma resposta.
Eu não podia suportar esta tensão entre nós. Era como se
estivéssemos cada um esperando que o outro tomasse uma atitude. Os
flertes brincalhões daquela manhã pareceram como se fosse um milênio
atrás.
— Aiden, quero falar sobre esta tarde.
— O que que tem?
— Não faça isso.
— O quê?
— Não me faça soletrar. Você sabe que eu sinto muito por tudo isso.
Não era minha intenção...
— Olhe, Sienna, eu entendo porque você não se transformou.
— Então por que você está agindo com tanta frieza?
— Eu não disse que concordava com isso, — respondeu ele, mudando
sua expressão para uma de desdém.
Não conseguia descobrir o que me machucava mais, o fato de que ele
entendia quanta dor aquilo me causaria, ou que, mesmo após o fato, ele
estava chateado com minha decisão.
Qualquer sentimento de reconciliação começou a evaporar e foi
imediatamente substituído por uma raiva fervente.
— Por que é tão difícil para você deixar de lado suas estúpidas
tradições? — Eu gritei. — Você não vê que eles estão nos despedaçando,
Aiden? E para quê? Para que a matilha possa dormir feliz, sabendo que
seu Alfa e sua companheira estão em casa fodendo todas as noites,
tentando conceber o próximo Alfa?
Eu não podia acreditar que ele quisesse deixar isso de lado como se
fosse um item trivial em sua agenda. Sua indiferença só alimentou o fogo
que jorrava da minha boca.
— Ou falamos sobre isso agora ou você encontra outro lugar para
dormir hoje à noite!
Certamente ele saberia que eu estava falando sério agora.
— Vejo você pela manhã então, — disse ele, sem hesitar.
Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.
O que foi que eu fiz?
Capítulo 3
VISITANTES INESPERADOS
Sienna

A noite anterior foi a primeira que passei sozinha desde que nos
acasalamos.
Eu mal conseguia dormir, fiquei deitada na cama lembrando do que
tinha acontecido no escritório de Aiden. Eu queria poder voltar atrás e
lidar com tudo de outra maneira.
Eu me sentia incompleta quando acordei naquela manhã. Eu mal
conseguia comer. As pontadas de arrependimento suprimiram qualquer
apetite que eu pudesse ter.
Eu não conseguia nem mesmo me obrigar a ir para a Casa da Matilha.
Em vez disso, passei o dia na casa dos meus pais pintando.
Quando eu precisava endireitar minha cabeça, geralmente recuava
para o estúdio anexo à minha galeria, mas esses dois lugares eram
presentes de Aiden, e eu não queria mais deixá-lo perturbar minha
mente.
Mas eu sabia que não poderia evitá-lo para sempre. Não só porque ele
era meu companheiro, mas porque naquela noite era o chá de bebê da
minha irmã.
Ela e seu marido, Jeremy, estavam esperando seu primeiro filho, e
Aiden e eu éramos os padrinhos lunares, então nós dois tínhamos que
comparecer.
Uma hora antes de termos que estar no restaurante, ele parou em
nossa casa. Eu tinha voltado para casa mais cedo, com a intenção de
consertar as coisas e estava esperando por ele na cozinha.
A porta da garagem se abriu e ele entrou com a mesma expressão
indiferente de ontem à noite, antes de eu sair de seu escritório.
Ele me olhou, nem um pouco surpreso em me ver ali. — Você pintou
alguma coisa de que gostou?
— Como você... — Então eu olhei para baixo e vi as pequenas
manchas de tinta seca em minhas calças. — Olha, Aiden, vamos só passar
por essa noite?
— Não acho que vamos ter problemas. Eu adoro bebês.
— Eu nunca disse que não queria um filho. Claramente, você não
ouviu nada do que eu disse.
— Ser minha companheira significa que nossa família não é só você e
eu; é a Matilha toda.
— Isso é engraçado vindo de um homem que nem fala com os
próprios pais. Quanto tempo se passou desde que eles navegaram em
direção ao pôr do sol? Dez anos?
— É complicado, Sienna.
— É isso não é? Acho extremamente hipócrita da sua parte querer
uma família, considerando o pouco esforço que faz para manter contato
com a sua. Eles nem mesmo vieram para a nossa cerimônia de
acasalamento.
— Não vou cometer os mesmos erros que eles. — Ele fez uma pausa,
suspirando. — Se é assim que vai ser, eu não acho que devo ir esta noite.
Você pode dizer a eles que estou ocupado com o trabalho.
— Eu não vou fazer isso porque, ao contrário de você, eu me
preocupo em estar presente com a família, e você vai ser o padrinho
lunar da minha futura sobrinha, então você vai estar lá esta noite, goste
ou não. A Matilha pode ser minha família agora, mas vale para os dois
lados, e Selene é sua família agora também.
Eu não tinha notado até agora, mas minhas mãos estavam fechadas e
minhas unhas estavam cravadas nas minhas palmas.
Não tinha percebido até então que talvez a relação complicada de
Aiden com seus pais fosse a razão de ele ser tão inflexível sobre começar
um relacionamento para o bem da Matilha.
Eles eram a coisa mais próxima de uma família que ele tivera até eu
aparecer.
Talvez esta noite fosse algo bom para ele. Ele podia ver como uma
família saudável funcionava unida.
Eu só esperava que Selene e minha mãe não fossem tão loucas por
bebês a ponto de ficarem do lado de Aiden quando o assunto surgisse, o
que eu sabia que aconteceria.
Nós dois nos transformamos em silêncio. Um contraste gritante com
nossa brincadeira de duas manhãs atrás.
Eu não pude deixar de olhar furtivamente enquanto ele puxava a
calça por cima das coxas rasgadas e da bunda forte e musculosa. Posso ter
ficado com raiva dele, mas ele ainda era meu companheiro, e essa
distância estava me matando.
Eu o queria muito. Cada parte de mim ansiava por seu toque,
fantasiava sobre o gosto de seus lábios.
Quando a Bruma chegou, eu não sabia o que fazer. Aquilo nos
transformou em animais selvagens e completamente enlouquecidos por
sexo. No ano passado, meu sexo praticamente explodia sempre que
Aiden olhava para mim.
— Você vai ficar me olhando a noite toda ou vai terminar de se
arrumar? — ele perguntou, tirando-me do meu devaneio.
— Não se iluda. Eu só queria ter certeza de que sua roupa estava
bonita.
— Então agora sou um tirano e ainda por cima não me visto bem?
— Pare com essa maldade — eu disse, ficando um pouco chateada.
— Ei, Sienna, — disse ele, arrumando a gravata.
— O quê? — Eu disparei, esperando pelo próximo comentário
sarcástico.
— Você está linda.
Por mais que tentasse, não pude evitar de corar. Meu deus, ele era um
idiota, mas eu o amava por isso.
— Depressa, vamos nos atrasar, — eu disse, pegando meu casaco. —
Vejo você no carro.

O lugar era um restaurante tailandês divertido, que, de acordo com


Selene, ficava na cidade onde ela e Jeremy conceberam minha futura
sobrinha. Um fato que minha irmã fez questão de me dizer quando ela
estava planejando esta noite.
Selene estava sempre me dando informações demais, provavelmente
porque ela sabia o quão desconfortável me deixava ouvir sobre sua vida
amorosa. Mas acho que irmãos são assim mesmo.
Aiden tinha um irmão mais velho também, Aaron, que morreu onze
anos atrás depois que sua companheira foi morta em um acidente de
trabalho.
Esse era o poder do vínculo de acasalamento. Se um do par morresse,
o outro o seguia logo após. Um coração não poderia bater sem seu
parceiro.
Isso foi na época em que ele parou de falar com seus pais.
Pelo que Aiden me disse, a morte de Aaron os afetou demais, os
fazendo mergulhar em viagens e extravagâncias para se distrair.
No que me dizia respeito, não me importava em não os ter por perto.
Se eles foram capazes de fazer uma lavagem cerebral em Aiden para
seguir todas essas tradições idiotas da Matilha, só deus sabe o que mais
eles poderiam manipulá-lo a fazer.
Do lado de fora do carro, os postes da rua passavam e as luzes da
cidade cortavam a noite como aglomerados de vaga-lumes, congelados
em prisões geométricas.
Virei-me para Aiden, seu rosto recém-barbeado piscando para dentro
e para fora das sombras enquanto avançávamos pela rua.
Ninguém me preparou para esse tipo de amor — o tipo em que você
pode olhar para seu parceiro por horas sem dizer uma única palavra e
ficar totalmente satisfeito.
Fui dominada pelo desejo de tocá-lo, de me conectar com ele.
Eu deslizei minha mão sobre a dele enquanto ela descansava no
câmbio.
Ele pareceu ignorar isso, e eu imediatamente me senti uma idiota.
Comecei a me afastar quando ele me parou.
— Continua, — disse ele, suavemente, deixando meus dedos caírem
entre os dele.
Antes que eu percebesse, estávamos no restaurante. Aiden deu ao
manobrista a chave e nós entramos.
Eu podia ouvir minha mãe antes de vê-la; sua risada foi
imediatamente reconhecível e carregada por pelo menos 400 metros.
Ela e Selene eram bem mais extrovertidas do que eu, mas acho que
fazia sentido, visto que Selene é sua filha biológica.
São pequenas coisas como essa que me deixam tão hesitante em ter
meus próprios filhos.
O que será que eu vou passar para meus filhotes? Eu precisava saber.
— Sienna! Ah, você está tão linda, — gritou minha mãe quando
entramos na sala de jantar. — Aiden, você está perfeito, como de
costume.
— Tudo por você, Melissa, — ele respondeu, beijando-a na bochecha.
— Calma aí, — disse meu pai, aproximando-se e dando um abraço em
Aiden. — Eu posso ser humano, mas ainda posso sentir quando alguém
está dando em cima da minha companheira.
— Como vai, Robert? Ansioso para ser avô?
— Sim, mas não tanto quanto Melissa está ansiosa para ser avó. Ela já
transformou o antigo quarto de Selene em um berçário e agora está
adaptando a casa inteira para proteger os bebês.
— Ah, pare, — minha mãe respondeu, batendo no braço do meu pai.
— Você me faz parecer uma pessoa maluca. Gosto de planejar com
antecedência, só isso. Falando nisso, quais são as novidades em relação
ao bebê com...
— Melissa, por que você não vem me ajudar com os presentes? —
disse meu pai, agarrando-a pelo braço. — Deixe-a dizer olá para Selene.
— Aí, tudo bem. Continuaremos isso mais tarde, — minha mãe disse,
tomando outro gole de vinho.
Meu pai me lançou um olhar compreensivo e agradeci a ele por
garantir que evitássemos uma conversa desconfortável. Ele sempre teve
uma maneira estranha de saber como eu me sentia, mesmo sem eu dizer
nada.
— Mana! — gritou Selene, aproximando-se com sua barriga grande.
Ela estava simplesmente radiante. — Estou tão feliz por você estar aqui.
Desculpe pela mamãe. Eu não estava controlando quantos copos ela
tomou.
— Está tudo bem, — eu disse, rindo. — Deixe-a aproveitar a noite.
— Bem, ela vai poder fazer tudo de novo quando você tiver o seu. Não
importa quando for.
— Obrigado por esclarecer. — Eu revirei meus olhos.
A conversa na mesa era obviamente sobre bebês, e nas poucas vezes
que começou a se desviar em minha direção, Selene era hábil o suficiente
para se intrometer.
Eu sabia que todos queriam perguntar sobre o festival, e acho que a
única razão pela qual eles não perguntaram foi porque Aiden estava
sentado ao meu lado.
Os lobos fofocavam tanto quanto os humanos, mas era praticamente
sentença de morte falar sobre a companheira do alfa bem na frente dele.
Apesar de tudo que estava acontecendo entre nós, Aiden estava com
seu jeito encantador de sempre. Apreciava o esforço que ele fazia para
sempre garantir que a minha família viesse em primeiro lugar nesses
eventos, nunca deixando-a ser superada por sua fama.
— Eu gostaria de fazer um brinde, — disse Jeremy, pondo-se de pé. —
A minha adorável esposa, Selene, a futura mãe de nossa linda garotinha.
Eu te amo, querida, e mal posso esperar para criar essa lobinha tão
especial com você.
— Olha só! — disse uma voz desconhecida.
Virei-me e dei de cara com um homem e uma mulher de meia-idade
parados na porta.
Ela tinha cabelos pretos ondulados que iam até os ombros e usava
calça pantalona vermelha e um blusa azul-marinho despojada. Ele era
enorme e usava um blazer xadrez com um ascot lilás horroroso.
Havia algo em seu rosto que parecia familiar, mas não tinha ideia do
que era.
— O que eles estão fazendo aqui? — disse Aiden.
— Você os conhece? — Eu perguntei um pouco confusa.
— Sim, — respondeu ele, enrolando o guardanapo. — São os meus
pais.
Capítulo 4
QUANTA AUDÁCIA Sienna
Enquanto preparava o café, esforcei-me para ouvir qualquer boato que
eles pudessem deixar escapar enquanto eu estava fora da sala. O chá de
bebê de Selene estava bem mais quente do que eu imaginava.
Após o choque inicial, todos trocaram gentilezas; afinal, eles eram
meus sogros.
Aiden, no entanto, rapidamente os levou para longe.
Ele queria me manter longe, mas eu queria ir junto. Eles claramente
tinham um motivo para aparecer do nada, e eu não queria ficar de fora.
Terminei de preparar a bandeja e levei para a sala, onde todos se
sentaram. Eu sorri para a mãe de Aiden, e ela retribuiu meu gesto com
um sorriso educado. Eu sabia que ela estava me julgando.
— Charlotte, se você não se importa que eu pergunte, como você e
Daniel souberam sobre o chá de bebê da minha irmã?
— Ah, querida, que pergunta mais boba, — ela respondeu com uma
risada tolerante. Ela bateu seus óculos escuros de grife contra os lábios
enquanto ria, como se ela achasse que isso a fazia parecer pensativa.
— Nós sempre sabemos onde Aiden está, — ela continuou, pegando a
caneca de café como se nunca tivesse visto uma antes. — Aiden, toda a
sua porcelana está lavando?
Eu queria gostar dessa mulher, queria mesmo, mas com ela agindo
desse jeito, não tinha certeza de quanto mais eu aguentaria.
— Onde vocês estão hospedados? — perguntou Aiden, tentando
mudar de assunto.
— O que você quer dizer? — respondeu Daniel. — Você ainda tem a
casa de hóspedes, não é?
Nem por cima do meu cadáver Eu sutilmente movi meu pé sobre o de
Aiden e pressionei seus dedos.
— Não tenho certeza se está de acordo com os padrões da mamãe, —
ele rebateu.
Bom menino.
— Ah, nós podemos cuidar disso, — respondeu Daniel, tomando um
gole de café. — Além disso, ficar em outro lugar iria anular o propósito de
nossa visita.
— E qual seria o propósito? — Eu perguntei o mais inocentemente
possível.
— Ora, para conhecê-la, querida, — respondeu Charlotte. — Eu
queria ver que tipo de mulher estava acasalada com meu filho.
— Se você estivesse tão interessada, você poderia ter vindo para a
nossa cerimônia de acasalamento, — disse Aiden severamente.
— Não se irrite, Addy. As cerimônias de acasalamento são um monte
de pompa e lengalenga. Não é como se você tivesse que se transformar
ou algo assim.
Charlotte deixou as últimas palavras pingarem de sua língua como
ácido.
Mas que bela vagabunda.
Então, tudo isso tinha a ver com o festival da fertilidade. Eu tinha
causado um escândalo, e agora ela queria ver quem tinha bagunçado o
mundinho alfa e perfeito de seu filho.
— Você mesmo decorou este lugar ou contratou alguém? — Charlotte
perguntou enquanto examinava a sala.
— Eu mesma decorei, — eu disse.
— Foi o que pensei, — respondeu ela, levando a caneca aos lábios. —
Hm, — disse ela, sentindo o cheiro.
— Algo está errado? Posso trazer outra coisa para você beber — eu
ofereci.
— Não, isso está maravilhoso, — respondeu ela, pousando a caneca.
— Só acho que não estou mais com disposição para líquidos. Addy, o que
deu em você para comprar aquele quadro? É um pouco amador, ou era
essa a intenção?
— Sienna pintou, na verdade, — respondeu Aiden. — Ela tem sua
própria galeria.
— Então, é isso que você faz quando não está nas manchetes, —
comentou Charlotte, ainda mastigando seus estúpidos óculos de sol.
— Aiden, que tal você colocar esses músculos para trabalhar e me
ajudar a trazer nossas malas, — disse Daniel, pondo-se de pé.
Aiden me lançou um olhar como se dissesse que não havia nada que
ele pudesse fazer, e eu respondi com um sorriso forçado.
Eu assisti ele e seu pai saírem da sala, e parecia que eu estava sendo
abandonada em uma ilha com uma leoa faminta.
— Você não tem ideia da sorte que tem, — disse Charlotte,
recostando-se na cadeira. — Eu tinha vinte e quatro anos quando
acasalei com Daniel. Quantos anos você tem mesmo?
— Vinte.
— Então você tinha apenas dezenove anos? Que beleza, — ela disse,
entusiasmada. — Agora tudo faz sentido. Dezenove, meu deus.
— Desculpe?
— Eu estava tentando descobrir por que você sentiu que era
importante fazer o meu filho e toda a nossa Matilha de bobos. Mas agora
está claro que você não sabia de nada. Não se preocupe, vamos esclarecer
tudo agora mesmo.
— Na verdade, eu sabia exatamente o que estava fazendo, —
retruquei.
— E o que você achou que era, querida?
— Protestar contra um ritual arcaico que me deixou extremamente
desconfortável.
— Você já se perguntou por que, nos milhares de anos em que a
Matilha existe, você foi a primeira a recusar a se transformar?
— As coisas mudam.
— Sim, minha querida, elas mudam, mas as pessoas não.
— Claramente, — eu murmurei baixinho. — Talvez eu deva ir ver se
Aiden e Daniel precisam de ajuda.
— Não precisa, — respondeu Aiden, carregando duas malas de couro
ridiculamente grandes.
— Tem certeza? Posso colocar lençóis na cama.
— Não, eu posso fazer isso quando eu deixar essas malas, — disse
Aiden.
— Bem, nesse caso, se não precisam mais de mim, acho que vou
dormir.
— São apenas nove e meia, — protestou Daniel. — Eu estava prestes a
fazer Manhattans para todos nós.
— Podemos adiar para amanhã?
— Claro. Vejo você de manhã, minha querida — ele respondeu.
— Quanto tempo você e mamãe vão ficar? — perguntou Aiden.
— Você já se cansou de nós? — disse Charlotte, brincando com seus
óculos de sol novamente.
Eu juro que queria pegar aquele negócio idiota da mão dela e parti-lo
ao meio. A audácia dessa mulher, entrando em nossa casa e me dizendo
que meu protesto era infantil.
Eu não me importava se ela era minha sogra; ela iria descobrir que
tipo de mulher eu era.
— Sienna e eu temos muitas coisas para cuidar, — disse Aiden. —
Vocês sabem como é liderar a Matilha. Só quero ter certeza de que vocês
entendem que não estaremos por perto o tempo todo.
— Não se preocupe conosco, Addy. Seu pai e eu não precisamos de
babá. Nós sabemos que você já está cansado disso — ela disse, piscando
seus olhos para mim.
Essa vaca está pedindo para apanhar.
— Boa noite a todos. Charlotte e Daniel, vejo vocês pela manhã.
— Eu te encontro daqui a pouco, — disse Aiden. — Vou tentar não te
acordar.
— Aiden, não se preocupe comigo, querido, — eu respondi,
agarrando-o pelo rosto e cravando meus lábios nos dele. Eu fiz de tudo
para que minha língua explorasse toda a sua boca antes de deixá-lo ir. —
Não demore muito.
Eu lancei um olhar presunçoso para Charlotte, que estava fervilhando
silenciosamente.
Quando fechei a porta do quarto, sabia que não havia nenhuma
maneira de ficar em casa no dia seguinte.
Eu precisava encontrar uma desculpa para sair.

Sienna: O que você vai fazer amanhã?

Michelle: nada demais, na real

Michelle: pq?

Sienna: Os pais do Aiden apareceram no


chá ontem

Michelle: O QUÊ?????

Michelle: mds, quer me ver agora?

Michelle: como eles são?

Sienna: Não, pode ser amanhã

Sienna: Pego você às 9


Sienna: O pai parece legal

Michelle: e a mãe?

Sienna: Te conto amanhã

Michelle: 😮 (emoji de boca aberta) AFF

Michelle: mal posso esperar

Sempre que Michelle e eu precisávamos de um momento só nosso,


tínhamos que dispensar os guarda-costas que me acompanhavam
quando eu saía da minha casa ou da Casa da Matilha.
Eu achava que ter seguranças era bobagem, considerando que eu era
uma loba dominante que podia cuidar de mim mesma, mas agora que
havia literalmente uma multidão fora da Casa da Matilha querendo
acasalar, eu não me importava de tê-los por perto.
Desde que Michelle se acasalou com o Beta de Aiden, Josh, nós duas
tivemos que lidar com a adaptação às nossas novas vidas. A transição dela
foi muito mais fácil do que a minha, no entanto. Michelle adorava todas
as roupas elegantes e regras de etiqueta.
Ao contrário de mim, ela sempre gostou de ser o centro das atenções.
Na manhã seguinte, enquanto calçava os sapatos, preparei uma
desculpa para não poder ficar para o café da manhã, mas quando desci,
Aiden me informou que seus pais já tinham saído, o que para mim era
ótimo.
Para mim, a mãe dele nem precisava voltar.
Quando cheguei à casa de Michelle, ela já estava esperando do lado de
fora. Ela era movida a fofoca e sabia que estava prestes a receber o
suficiente para mantê-la satisfeita por um mês.
Ela se amontoou no banco de trás e imediatamente jogou os braços
em volta de mim.
— Si! Eu literalmente não consegui dormir ontem depois das suas
mensagens.
— Não é nada demais.
— Você está brincando? Isso é melhor do que quando Mia descobriu
que estava grávida de gêmeos!
— Todo mundo só quer saber de crianças?
— Desculpe, desculpe! Eu esqueci.
— Para onde, senhoras? — perguntou meu guarda-costas. Eu gostaria
muito que eles não fossem trocados com tanta frequência, para que eu
pudesse lembrar seus nomes.
— Na parte alta da cidade, por favor, vamos experimentar alguns
vestidos, — respondeu Michelle.
— Compra de vestidos? Não dava para ser mais criativa?
— Você me avisou de última hora, Si. Fazer o quê.
— Vai ter que servir, — eu disse, sarcasticamente.
A loja de vestidos que Michelle escolheu era a mais feminina de todas.
Meu guarda-costas estava claramente desconfortável em pé entre as
decorações floridas e os manequins extravagantes.
— Vamos experimentá-los, — disse Michelle, pegando alguns vestidos
de verão aleatórios da prateleira.
Depois que sumimos de vista, uma das garotas que trabalhava lá se
aproximou e Michelle entregou-lhe os vestidos e uma nota de cinquenta
dólares.
— Jas, finja que está pegando vestidos para nós, e depois de dez
minutos, você pode dizer a eles que desaparecemos para que você não
tenha problemas.
— Não é um problema, — respondeu a adolescente corajosa.
Eu normalmente me apressava sempre que estávamos prestes a
escapar, mas desta vez tive um mau pressentimento.
— Michelle, talvez devêssemos ficar com meu guarda-costas desta
vez. Irritei muita gente no festival. Eu não me importo se ele nos ouvir
conversar.
— Si, por favor, — respondeu Michelle, tirando da bolsa um gorro,
um cachecol e um grande par de óculos de sol.
— Você não achou que eu levaria sua segurança em consideração? A
gente vai por apenas uma hora ou duas. Não seja uma gatinha assustada,
Madame Alfa.
Uma voz dentro da minha cabeça estava me dizendo para não ir, mas
talvez eu estivesse sendo cautelosa demais.
— Você está certa, vamos embora, — eu disse, colocando o disfarce.
Jas nos conduziu pelo corredor e destrancou a saída de emergência.
— Ok, estou impressionada, — disse eu enquanto corríamos para fora
da loja, até a traseira de um táxi em marcha lenta.
— Viu? Deixa comigo, garota.
— Mal posso esperar para que tudo isso passe.
— Eu que o diga. Josh ficou superirritado com isso, mas eu o acalmei.
— Você não precisava fazer isso, Michelle.
— Você está brincando? Quer dizer, se eu estivesse no seu lugar, teria
deixado Josh montar a noite toda em mim. Quanto mais pessoas,
melhor. Eu gosto desse tipo de coisa. Mas cada um com seu lobo. Isso
que importa, certo?
— Isso também, — respondi, rindo. — Como estou?
— Está acabada, — disse Michelle com um sorriso.
Quando saímos do shopping, não pude evitar a sensação de que
estávamos sendo seguidos.
Olhei pela janela traseira, mas não vi nada fora do comum.
Você está sendo paranoica. Relaxe.
— Então, Michelle, para onde estamos indo?
— Onde você acha que vamos antes das onze em um dia de semana?
mi-mo-saaaaas, caralho!
Capítulo 5
ENTRANDO NA FILA
Aiden

Eu não era idiota. Eu sabia que meus pais não tinham vindo para a cidade
com o desejo de se reconectar.
Depois que Aaron morreu, eles deixaram claro quais eram suas
prioridades. Claro, eu era tão culpado quanto eles por não manter
contato, mas tinha dezoito anos quando eles começaram sua jornada
pelo mundo.
Eu havia perdido meu irmão e precisava deles mais do que nunca. Em
vez de se certificarem de que eu estava bem, eles me entregaram à
Matilha e, ao mesmo tempo, me disseram adeus.
Posso ter sido o alfa, mas não significava que tinha todas as respostas.
Foi um alívio quando acordei e vi que o carro deles havia sumido.
Depois que Sienna foi para a cama ontem à noite, eu esperava algum
tipo de conversa séria, inferno, talvez até um pedido de desculpas. Em
vez disso, acabamos de falar sobre suas viagens e ouvi suas críticas e
elogios a pessoas que nunca havia conhecido antes.
Por que eu estava ficando nervoso com isso? Não é como se eles
fossem ficar para sempre. Dei a eles uma semana no máximo antes que
fossem obrigados a viajar novamente.
Talvez eu os visse novamente em mais dez anos. Até então, eu estava
mais do que satisfeito em receber um ou dois cartões postais aleatórios
que eles mandariam.
Eu poderia lidar com tudo isso mais tarde esta noite, no entanto.
Agora eu estava finalmente sozinho e podia começar a trabalhar na
montanha de papelada que estava na minha mesa.
Quando abri a primeira pasta da pilha, ouvi uma batida suave na
porta do meu quarto.
— Sim? Entre — eu disse.
— Espero não estarmos interrompendo nada, — começou minha
mãe, entrando com meu pai como se fossem os donos do lugar. —
Quando você se livrou das secretárias? Eu me sinto tão rude em aparecer
sem alguém para me anunciar.
— Gosto do que você fez no escritório, filho, — disse meu pai,
examinando a sala. — Você contratou alguém ou fez o trabalho sozinho?
— Eu mesmo fiz. Acho que o papel de parede e as tapeçarias não
combinavam muito comigo.
— Você não jogou fora as tapeçarias, jogou, Addy? Aquelas eram peças
inestimáveis da herança da Matilha.
É claro que essa foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Foi ela
quem fez com que eu crescesse conhecendo cada pedaço da tradição e
história da Matilha.
Quando eu era pequeno, ela me fazia recitar os nomes dos últimos
vinte alfas e o que cada um deles tinha feito para contribuir com nossa
Matilha antes que eu pudesse jantar.
— Onde está aquela sua esposa cabeça quente? — perguntou Daniel.
— Não sei, — respondi.
— Eu a controlaria com mais vontade se fosse você, — respondeu ele.
— Ela tem o pavio curto, e não há como adivinhar que outras
'declarações' ela possa fazer
— Eu não sou o dono dela, pai. Ela é uma mulher adulta.
— Bem, de acordo com as notícias, você deve ser o único que acha
isso, — interrompeu minha mãe. — Aquela façanha no festival foi
inescrupulosa. Mesmo estando do outro lado do mundo, nós ficamos
sabendo, pelo amor de deus.
— Ela e eu estamos conversando sobre isso, mãe. Eu não preciso que
vocês interfiram.
— Pelo contrário, acho que é exatamente o que você precisa que
façamos. É claro que ela não tem conceito de dever ou tradição. Daniel,
ajude a explicar ao nosso filho a importância do que está acontecendo.
— Aiden, você tem que perceber que Sienna não cresceu como você.
Sabemos que você não pode escolher com quem acasalar, então não
estamos dizendo que nada disso é culpa sua, mas ela é muito jovem,
filho.
— Ela simplesmente não entende o que significa estar à frente do
grupo. Quando o deixamos no comando, sabíamos que tudo estaria em
boas mãos. Você foi preparado para isso. Ela não foi.
— E daí? Você está dizendo que as coisas não estão em boas mãos? —
Eu perguntei, perplexo.
— Sinceramente, Addy, não estão. Esta família tem sido a cabeça da
Matilha por cinco gerações, e essa garota qualquer pode acabar
manchando todo o nosso legado.
Eu estava farto de seus insultos. Eles eram meus pais, mas havia um
limite que eu não os deixaria ultrapassar.
— É da minha companheira que você está falando, mãe.
— Sim, tenho plena ciência disso. Suas origens humildes são de
conhecimento comum, querido. Não há necessidade de ficar irritado.
— Estamos aqui para ajudá-lo com esse pequeno problema, Aiden. Se
você, sua mãe e eu nos sentarmos com Sienna, sei que podemos fazê-la
entender que a união da Matilha é mais importante do que seus
protestos fantasiosos.
— Pai, eu já disse, estamos trabalhando nisso juntos.
— E você acha que está dando certo? — minha mãe respondeu. —
Você tem 29 anos, Addy. O que você acha que acontece quando o alfa de
uma Matilha chega aos trinta e ainda não tem filhotes? As pessoas
começam a ficar preocupadas. Outros alfas começam a observar seu
território.
— Você precisa colocá-la sob controle e tentar criar uma família,
Aiden. É sua responsabilidade como alfa.
Antes que eu pudesse dizer outra palavra. Josh entrou pela porta, sem
saber da briga que eu estava tendo com meus pais. Ele os viu e então
olhou para mim.
— Eu volto depois — ele disse, começando a recuar.
— Não, eles já estavam saindo, — respondi, feliz por encerrar a
conversa.
— Josh, é você? — perguntou minha mãe, radiante. — Ah, que
homem bonito você se tornou. Eu também ouvi que você acasalou.
— Olá, Sra. Norwood, Sr. Norwood. Sim, já faz um tempo. Na
verdade, é por isso que estou aqui. Aiden, nossas amáveis esposas
escaparam do segurança de Sienna. Meus rapazes estão meio que
perdendo a paciência.
Ótimo, isso era exatamente o que eu precisava agora.
Olhei para minha mãe, que estava prestes a proferir algo presunçoso,
como: "Eu te avisei". Nós nos olhamos, e eu soube imediatamente que ela
não ficaria em silêncio. O momento era bom demais para ela desperdiçá-
lo.
— Sim, parece que você tem total controle sobre sua companheira —
ela disse, mordendo a ponta de seus óculos de sol. — Bem, já que tudo
está sob controle por aqui, acho que podemos encontrar um lugar para
almoçar, Daniel. Você não acha?
— Sim, vamos deixar Aiden em paz. Veremos você e Sienna esta noite,
filho. Manhattans às oito. Sem desculpas.
Fiz questão de acompanhá-los até a porta e a fechei prontamente
após sua saída.
Minha vida estava indo de mal a uma merda completa, mas a primeira
coisa a fazer era ter certeza de que Sienna estava segura.
Esta foi a quarta vez que ela e Michelle escaparam de seus guarda-
costas. Insisti neles desde que aquela mulher estranha, Eve, apareceu no
Baile de Inverno do ano passado e disse a Sienna que ela estava em
perigo.
— Eu não sabia que seus pais estavam na cidade, — disse Josh.
— Eu também não, até ontem à noite. E mal posso esperar que eles
saiam.
— Você... quer falar sobre isso? — disse Josh, claramente se sentindo
um pouco estranho, mas também obrigado a perguntar. A comunicação
interpessoal nunca foi seu ponto forte.
— Está tudo bem, — respondi, para grande alívio de Josh. — No
momento, precisamos descobrir onde nossas esposas estão.
— Como é o horário nobre do brunch, e estamos em uma quinta-
feira, tenho um bom palpite de onde Michelle levou Sienna.
— Ótimo, você pode ir buscá-las? Preciso resolver algumas coisas
aqui.
— Sim, sem problemas. Eu as trarei de volta aqui imediatamente.
— Mande Sienna direto para o meu escritório. Vou ter uma longa
conversa com ela.
Sienna

A doçura borbulhante da mimosa era exatamente o que eu precisava.


Mais um motivo para eu estar feliz por não estar grávida.
— Então, como ela é? — perguntou Michelle.
— Ah, a Charlotte é um anjo, — eu respondi. — Ela basicamente falou
na minha cara que acha que sou muito jovem para estar com seu filho e
que eu estava sendo imatura por não seguir o ritual. Quem ela pensa que
é para me julgar sendo que foi ela quem basicamente abandonou seu
filho por dez anos?
— E eles vão ficar aqui?
— Sim, na casa de hóspedes, embora eu duvide que eles vão ficar só lá.
— E o pai do Aiden?
— Ele não é tão nojento quanto a mãe, mas tem uma mente muito
fechada. Ela é literalmente a pior.
— Caramba, lembre-me de dar um grande abraço na mãe de Josh
quando eu a vir. A pior coisa que Nancy já fez foi me dizer que achava
que minhas batatas precisavam de mais sal.
— Eu nem quero ir para casa. Para você ver como é ruim, Michelle.
Não há como aguentar essa mulher. Ela está presa em uma máquina do
tempo. É como se ela tivesse sofrido tanta lavagem cerebral pela tradição
que não tem ideia de como ela é louca.
— Por que não juntamos as garotas e fazemos uma viagem neste fim
de semana? Isso manteria você fora de casa.
— Não, ela vai pensar que estou fugindo. Eu não posso dar esse
motivo para ela.
— E Aiden? O que ele pensa?
— Na real, não tivemos um momento a sós desde que eles chegaram
aqui.
— Sienna, querida, você precisa falar com ele, — respondeu Michelle,
virando outro copo. — Você ainda nem resolveu toda a situação das
crianças. Quanto mais você esperar, mais difícil vai ficar.
— Eu sei, eu sei, — respondi, servindo-me de outra mimosa. — Eu só
preciso que a Bruma aguarde mais alguns dias.
— Fale por você, — disse Michelle enquanto passava manteiga em um
bolinho. — Mal posso esperar pela minha primeira temporada com Josh.
Tenho todos os tipos de surpresas sensuais planejadas para ele. Coitado,
mal vai ter tempo de dormir.
— Ai, Michelle, para, — eu disse, rindo. — Minha imaginação é fértil.
— Quem sabe, você aprende alguma coisa, — respondeu Michelle,
dando uma mordida sedutora em seu bolinho.
Eu estava me divertindo com Michelle, mas, ao mesmo tempo, não
pude deixar de sentir que estava passando a manhã inteira provando que
Charlotte estava certa.
Uma mulher forte não teria fugido de seu guarda-costas para fazer
um brunch. Uma mulher forte a enfrentaria de frente, e era exatamente
isso que eu pretendia fazer.
Michelle

Sinalizei para o garçom trazer outro jarro.


Eu amava Sienna, de verdade, mas às vezes ela tornava sua vida mais
complicada do que precisava ser.
No fim das contas, ela ainda estava acasalada com o alfa da matilha.
Tipo, olá, quão ruins as coisas podem realmente ser?
Claro, eu não poderia dizer isso a ela.
Agora, animá-la era a prioridade número um.
Razão pela qual eu me certifiquei de ficar longe de tudo relacionado à
Matilha esta manhã. Além disso, o suco de laranja e o champanhe curam
todas as feridas.
— O que você está fazendo? — Eu perguntei, pegando Sienna
olhando por cima do ombro.
— Nada, é só...
— O que? Fale, garota. — Sienna se inclinou sobre a mesa como se
estivesse prestes a me contar um segredo da Matilha. O espírito de
fofoqueira que habita nela começou a surtar de empolgação.
— Desde que saímos da loja, estou com uma sensação estranha...
como se estivéssemos sendo observadas.
Capítulo 6
AUMENTANDO AS APOSTAS
Michelle

— Espera aí, você quer dizer que alguém está nos espionando? — Eu
perguntei. — Tipo, agora?
— Não tenho certeza, mas não consigo me livrar dessa sensação
sinistra que começou assim que entramos no táxi.
Eu examinei a área atrás de Sienna e não pude ver nada incomum
além de uma mulher usando tons pastéis fora da estação.
— Si, eu acho que você está sendo paranoica. Além disso, é impossível
reconhecê-la com essa roupa.
Antes que Sienna pudesse responder, meu telefone explodiu com
notificações.
Porra, é o Josh.
Ele não é dos mais espertos, mas ele tinha uma habilidade incrível de
saber quando eu estava aprontando.
— Me dê um segundo. Acho que fomos pegas.
— Nossa sorte ia acabar uma hora, — respondeu Sienna, virando sua
taça de champanhe.
Sienna

Peguei o morango do fundo do copo e coloquei na boca, rolando-o na


minha língua e deixando as últimas gotas de suco de laranja e álcool
vazarem antes de esmagá-lo entre os dentes.
A polpa doce tinha um gosto bom.
Pelo menos no meio de todo esse drama, eu ainda estava me
lembrando de tomar minha vitamina C.
Uma leve brisa agitou os guardanapos sobre a mesa e beijou meu
nariz exposto. Apreciei o ar fresco do inverno que envolvia a cidade nesta
época do ano. Sempre me pareceu mais saudável por algum motivo.
Observei as pessoas passando por trás de minhas lentes coloridas. Eu
me perguntei se algum deles tinha ideia de quem eu era. Todo o conceito
de ser uma figura pública ainda me confundia.
Por que eu tive que mudar quem eu era para me conformar com este
padrão que significava ser a companheira de um alfa? Eu não me
importava se todos me amavam. Não amo todo mundo e não acho que
seja natural.
Se as pessoas cuidassem de seus próprios negócios e gastassem tanto
tempo focando em suas próprias vidas quanto gastam na minha, o
território seria preenchido com muitos lobos e humanos mais felizes.
Pelo canto do olho, percebi uma figura se movendo mais rápido do
que o resto das pessoas na rua. Ele estava vestindo um sobretudo e
escondendo algo em suas dobras.
Meu coração começou a acelerar e a adrenalina disparou em todos os
cantos do meu corpo.
Eu me senti uma idiota por deixar Michelle me convencer a
abandonar meu guarda-costas, mas não podia perder tempo.
— Michelle, levante-se.
— Tá, espera.
— Não, levante-se agora! — Eu gritei.
Todos do lado de fora se viraram para olhar para nós, mas eu não tive
tempo para me importar. Havia uma pequena cerca separando a mesa da
rua, então não pude confrontá-lo. Ele estava olhando diretamente para
mim agora, seu rosto contorcido em um sorriso diabólico.
Tudo entrou em câmera lenta quando ele puxou o casaco e eu me
enrolei em Michelle.
Clique! Clique!
Clique! Clique! Clique!
— Sorria, Sienna! — chamou o homem por trás de sua câmera,
tirando dezenas de fotos.
Levei um segundo para perceber o que estava acontecendo e, antes
que eu percebesse, todos no restaurante estavam com o telefone na mão
e tirando fotos de Michelle e eu.
Eu ouvi o rugido alto de um motor quando um carro da Matilha
parou, e Josh saltou com dois homens. Eles empurraram a multidão e
ergueram as mãos sobre as lentes do paparazzo.
— Entre agora! — ordenou Josh.
— Não grite conosco como se fôssemos crianças, — rebateu Michelle.
— Onde está Aiden? — Eu perguntei.
— Ele disse que falaria com você quando chegarmos à Casa da
Matilha. Espero que vocês duas percebam quantos problemas vocês
criaram.
Eu acho que Josh não queria parecer pouco profissional com os
outros dois homens no carro, então ele não falou muito no caminho.
Mas pelos olhares que ele e Michelle trocavam, era óbvio que uma
discussão silenciosa estava ocorrendo dentro do carro.
Quando chegamos à Casa da Matilha, eu saltei do carro e marchei
direto para o escritório de Aiden. Parecia que eu estava me reportando ao
escritório do diretor por faltar às aulas, mas, neste caso, eu é que queria
dar uma bronca nele.
— Tem um minuto para a sua companheira? — Eu disse, me
intrometendo.
— Acho que posso dispensar dois ou três, na verdade, — respondeu
ele, deixando de lado alguns documentos.
— Chega de brincadeiras, Aiden. Por que você não veio com Josh esta
tarde?
— Eu não vi a necessidade.
— Eu sou sua companheira. Eu não preciso de outra pessoa me
repreendendo por estragar tudo.
— Então você admite que deixar sua segurança para trás foi um erro?
Caramba. Eu não queria falar disso. Foi o que ganhei por deixar meu
temperamento controlar a conversa.
— Olha, acho que você não lembra de tudo que desisti para ficar com
você, Aiden. Quando nos acasalamos, sua vida não mudou. Você
continuou sendo o alfa. A minha foi virada de cabeça para baixo. De
repente, todos se importam com o que eu visto, como eu falo. Têm
guarda-costas me seguindo sempre que eu saio de casa.
— Eu tive que desistir de ser uma pessoa normal. E caso você não
tenha notado, não sou do tipo que gosta de holofotes. Esta... esta nova
vida é muito difícil para mim. E quando você me pressionou com o
festival e todas as coisas de família, foi demais para mim. Preciso de
tempo para me ajustar.
— Você teve um ano, Sienna, — Aiden disparou de volta. — Quanto
tempo mais você precisa? Toda matilha está revoltada com o que
aconteceu no festival e agora meus pais estão aqui fungando no meu
cangote. Enquanto você estava bancando a coitadinha com a Michelle,
sabe com o que eu estava lidando?
— Meus pais decidiram fazer uma pequena inquisição aqui e me
informaram que é meu dever colocá-la na linha antes que você destrua a
Matilha da Costa Leste e manche o nome Norwood, — ele rosnou. — E
pensar que defendi você. Eu disse a eles que você era uma mulher adulta
e não precisava ser controlada, mas me parece que eu estava errado.
Coitadinha? Ele só podia estar brincando. Se seu plano era me deixar
ainda mais irritada, estava funcionando.
— Você realmente acha isso? — Eu perguntei, prestes a entrar em
colapso.
— Eu acho que se você realmente se importasse comigo, você saberia
que minha vida é a Matilha, então quando você a desrespeita e as
tradições sobre as quais ela se baseia, você me desrespeita. — Eu não
podia acreditar que ele estava virando o jogo para sair como a vítima. Isso
só pode ser resultado de qualquer conversa que ele teve com seus pais
naquela manhã.
— Sienna, você está me ouvindo?
— Sim, eu ouvi cada palavra, Aiden.
— Isto não é um jogo, Sienna. A Matilha precisa saber que tem um
herdeiro.
— É você falando ou é sua mãe?
— Ei, também não gosto da maneira como ela tratou você, mas ela
tem razão. Eles podem ser indelicados, mas são sinceros. Eles só querem
o melhor.
— Para nós ou para a Matilha?
— Isso é o que você não entende, Sienna. E tudo a mesma coisa.
Eu estava cansada dessa conversa. Estava claro que ele não iria ceder,
especialmente depois de ser influenciado por seus pais.
Eu me virei e comecei a sair pela porta.
— Aonde você está indo?
— Vou voltar para nossa casa. Eu prometi a seu pai que provaria os
Manhattans.
— Eu acho que você deveria se acalmar antes de ir lá.
— Eu não vou arranjar uma briga com sua mãe, se é isso que você
quer dizer — eu disse, irritada.
— Mesmo? Porque você explodiu comigo facilmente, e tudo que eu
fiz foi tentar dialogar com você.
Eu não estou acreditando nisso!
— Você chama isso de diálogo? Se não fosse por essas regras
arbitrárias, você gostaria de ter filhos? Quando foi a última vez que você
realmente fez algo porque queria e não porque foi ditado por algum livro
empoeirado?
Aiden fez uma careta para mim, e eu podia ouvir sua respiração
aquecida escapando por suas narinas dilatadas.
Ele se aproximou. Tive que inclinar minha cabeça para trás para
poder olhar nos olhos dele. Nos encaramos por um minuto inteiro,
ambos esperando que o outro falasse, até que finalmente Aiden quebrou
o silêncio.
— Cresça, Sienna.
De todas as coisas que Aiden poderia ter dito, essa deve ter sido a que
mais doeu.
Eu poderia lidar com seus pais e a mídia pensando que eu era uma
criança mimada, mas ouvir isso de meu companheiro, a única pessoa que
pensei que sempre me amaria e me respeitaria, me magoou demais.
Estava claro para mim agora que eu nunca o convenceria apenas com
palavras. Eu precisava fazer algo que chamasse sua atenção. Eu teria que
cutucar a ferida.
Quando percebi seu olhar vagando pelo meu decote, eu encontrei a
ferida.
— Escuta aqui. Eu me recuso a tolerar o desrespeito de seus pais por
mais uma noite. Ou você diz a eles para se adaptarem ou eu os quero fora
de nossa casa. E se você acha que estou brincando, é melhor se preparar...
Espero que você esteja pronto, garotão.
— Até que você e eu cheguemos a um acordo sobre começar uma
família e seus pais decidam se atualizar ou permanecer no passado e nos
enviar um cartão-postal de vez em quando, não faremos sexo.
Aiden tentou manter a compostura enquanto olhava para mim,
avaliando se eu estava falando sério ou não.
— Você tá blefando. A Bruma vai chegar a qualquer momento.
— Eu passei por duas estações antes de te conhecer, Aiden. Tenho
certeza de que aguento uma terceira.
— Isso foi antes de você ter acasalado. A Bruma me permite fazer
coisas com você, que você não poderia imaginar.
— Você não me intimida. Fazemos amor há um ano inteiro. Mesmo
se você tiver alguns truques novos, eles não serão o suficiente para me
encantar.
Aiden se inclinou para que seus lábios estivessem a centímetros da
minha orelha. — Veremos, então, — ele sussurrou.
— Cai dentro. — eu respondi, cerrando meus dentes.
Capítulo 7
CONTROLE DE DANOS
Aiden

Então, isso é o que significa amar alguém...


Se qualquer outra pessoa tivesse criado tantas dores de cabeça quanto
Sienna na semana passada, eu já a teria chutado para fora da Matilha,
mas não importa o que Sienna parecesse fazer, esta pequena brasa de
devoção ainda brilhava dentro de mim.
Olhei para o outro lado da mesa. Josh, Jocelyn, Rhys, Nelson e, claro,
Sienna. Nossa, ela estava bem mais gostosa, e eu sabia que era de
propósito.
Todos os outros pareciam inquietos e evitaram fazer contato visual
comigo. Eles podiam sentir a tensão que pairava no ar.
Eu tinha convocado essa reunião de emergência depois que o jornal
da tarde saiu. Eu sabia que todos já tinham lido a notícia, mas arranjei
uma cópia física, que agora estava enrolada em meu punho cerrado.
Eu a bati contra a mesa e deslizei sobre a superfície de carvalho polido
para que todos pudessem ler a manchete impressa em negrito na
primeira página:
COMPANHEIRA DE ALFA FOGE DE GUARDA-COSTAS E FAZ
BRUNCH ALCOÓLICO.
— Você está saindo pior do que a encomenda! — Eu rugi, olhando
diretamente para Sienna. — Agora temos que lidar com as consequências
do festival e deste fiasco.
— Não é tão horrível assim, Aiden, — disse Rhys hesitante. — O
título é sensacional, mas se você ler o artigo...
— Quantas pessoas você acha que realmente leram o artigo? — Eu
gritei. — E é horrível, sim, Rhys. Deixe-me ler algumas linhas.
Dei a volta na mesa e peguei o papel, quase rasgando-o em dois
quando o abri.
— Abre aspas: "Tal desrespeito flagrante pelo protocolo da Matilha
levaria qualquer lobo racional a acreditar que Sienna Norwood não tem
interesse em cumprir suas responsabilidades como companheira de
nosso alfa e, em vez disso, prefere passar seu tempo cedendo às
vantagens de sua posição." Fecha aspas.
— Este artigo inteiro faz Sienna parecer uma loba qualquer, obcecada
por festas e em gastar o dinheiro da Matilha. Essas acusações não apenas
destroem a imagem de Sienna, mas também prejudicam todo este
conselho. Cada um de vocês deveria estar tão furioso com isso quanto eu.
— Nós trabalhamos muito duro nesta Matilha, e eu não vou deixar
um jornalista qualquer manchar nossa reputação. Não é sobre Sienna ser
minha companheira. É sobre como a nossa matilha é vista pelo público.
— O que você acha que devemos fazer? — perguntou Josh.
— Não sei. E por isso que convoquei esta reunião, — respondi,
cruzando os braços. Eu odiava a raiva que esse artigo estava me dando,
mas foi a gota d’água que me levou ao limite.
Entre meus pais, a obstinação de Sienna e a confusão do festival, eu
estava pronto para derrubar uma parede no soco.
— A Matilha precisa saber que você apoia sua companheira. Você
deve fazer uma declaração defendendo as ações de Sienna — respondeu
Jocelyn. — Se você ataca o jornal, só dá mais credibilidade à história.
Claro que era isso que Jocelyn iria querer. Seria bom para Sienna e
para mim, mas pioraria as coisas com a imprensa.
Eu tinha evitado propositalmente fazer qualquer declaração que
pudesse dar a eles uma pista de como eu me sentia sobre as ações de
Sienna no festival.
Isso deixaria tudo muito claro.
— Se ele fizer isso, vai parecer que Aiden é facilmente influenciado, —
rebateu Nelson.
Ele era um lobisomem magro e pálido que, apesar de sua estatura
moderada, sempre defendia qualquer opção que projetasse mais força. —
Acho que você deveria negar as acusações e, simultaneamente, anunciar
algum projeto importante do qual Sienna se encarregará.
— Talvez possamos matar dois coelhos com uma cajadada só, —
acrescentou Josh. — Faça com que eles acreditem que Sienna teria se
encontrando com Michelle para anunciar secretamente que vocês dois
vão começar a tentar ter um filhote ou algo assim, sabe?
— Todos vão esquecer a história assim que souberem que você está
tentando formar uma família. As pessoas são loucas por bebês, então
apenas dê a eles o que eles querem.
Josh tinha razão. Pelo menos isso acabaria com toda a pressão
pública. Ou talvez apenas mudaria seu foco. Dava para ver vans de
noticiários fora de nossa casa, esperando para obter qualquer pista de
que estávamos transando. Até parece.
— Então, você quer que Aiden minta? — respondeu Jocelyn.
— Eu disse que eles vão 'começar a tentar'. Não que Sienna já está
grávida — respondeu Josh, irritado. — Além disso, foram esses tabloides
que começaram. Por que não dar a eles um gostinho de seu próprio
remédio?
— Vocês estão tentando? — perguntou Rhys. — Isso faria todo esse
problema desaparecer em um instante.
Sienna pigarreou com raiva. — Eu acho que tudo o que eu tenho a
dizer não importa?
Lá vamos nós. Eu não estava a fim de brigar.
— Eu não preciso que você ou qualquer outra pessoa fale por mim —
ela continuou. — Companheira de Alfa ou não, eles não têm o direito de
se intrometer em nossa vida.
— Não funciona assim, — respondi, cerrando os dentes.
Os olhos azuis de Sienna acenderam quando ela me encarou. Eu
tinha certeza de que ela estava prestes a explodir pelo jeito que ela
umedeceu os lábios. Como um velocista se alongando antes de uma
corrida, ela estava os lubrificando antes de descarregar uma torrente de
insultos em minha direção.
Os outros podiam sentir o que estava por vir e imediatamente se
calaram, desviando os olhares, sem saber se deveriam sair ou ficar.
Jocelyn, que normalmente mediava qualquer desavença entre os
membros do conselho, ficou em silêncio como o resto. Este era um
confronto entre companheiros, e apenas Sienna e eu poderíamos resolver
isso.
As dobradiças da porta do conselho rangeram atrás de mim.
— Volte mais tarde. Estamos em reunião! — Eu lati.
— É isso que você chama de decoro? — cantou a voz da minha mãe.
Ótimo. Era a última pessoa que eu precisava nessa porra de sala.
— Mãe, você pode esperar por mim em meu escritório. Temos alguns
negócios para terminar.
— Se refere a como você vai responder a esse artigo terrível? Seu pai e
eu já cuidamos disso.
— O que você quer dizer?
— Ainda temos contatos no jornal, então ligamos para eles e
tomamos a liberdade de divulgar um comunicado em seu nome e de
Sienna, — ela respondeu, girando os óculos de sol contente.
— O que você disse? — Eu perguntei, enquanto um buraco começava
a se formar no meu estômago. Eu olhei para Sienna. Ela estava fervendo.
Isso não ia acabar bem.
— Dissemos a eles que Sienna iria emitir um pedido público de
desculpas por seu comportamento recente e que ela concordou em
refazer o ritual do festival da fertilidade durante a próxima lua cheia.
O buraco no meu estômago se transformou em um desfiladeiro
enquanto ela falava.
Eu sabia que ela e meu pai tinham um plano, mas nunca pensei que
eles iriam passar por cima de mim dessa forma. Eles podem ser meus
pais, mas eu ainda era o alfa, caramba.
— Você deveria ter falado comigo primeiro, — respondi, ansioso para
interromper Sienna que estava prestes a explodir.
— Sabemos como é importante agir rapidamente nessas situações,
querido.
— Você não pensou em ligar, talvez mandar uma mensagem?
— Ah, Addy, você sabe que nunca vou entender como mexer nesses
smartphones. Por que parece tão chateado? Você se opõe a algo que
dissemos?
Ela lançou um olhar confuso e inocente, mas ela sabia exatamente o
que estava fazendo. Ela estava me forçando a escolher lados na frente do
meu conselho, na frente da Sienna.
Nos últimos dez anos, tornei-me indiferente em relação à minha mãe,
mas nunca pensei que ficaria ressentido com ela como eu estava.
Mesmo que nós dois quiséssemos as mesmas coisas, seus métodos
para obtê-los eram baixos e desonestos.
— Você não vai me oferecer um assento? — ela perguntou.
Eu podia sentir os olhos de Sienna em mim, como adagas pairando
em volta da minha cabeça. Não ousei olhar para ela.
— Claro, — eu respondi. — Você pode sentar onde quiser.
Sienna se levantou, sua cadeira praticamente voando para trás contra
a parede.
— Eu não vou sentar na mesma mesa que aquela mulher. Se você
deixá-la sentar, você está validando tudo o que ela fez para minar sua
posição nesta matilha.
— Sienna, — disparei de volta, — não tivemos a chance de discutir...
— Não parece que nada do que ela disse está aberto para discutirmos,
Aiden. Não vou emitir nenhum pedido de desculpas e certamente não
tenho intenção de seguir com o ritual de fertilidade na próxima lua cheia.
Sienna voltou sua atenção para minha mãe, que calmamente fixou os
olhos nos dela. — Quem você pensa que é?
— Alguém que está cuidando do bem-estar desta matilha, minha
querida.
— Se isso é o que você realmente se preocupa, você não estaria
tentando sabotar meu relacionamento com seu filho, — respondeu
Sienna friamente. — Caso você tenha esquecido, sempre estarei
acasalada ao Aiden, então você pode aceitar isso ou dar o fora desta Casa
e de nossas vidas.
— Só estou aqui por causa das escolhas erradas que você continua a
fazer, querida. Talvez eu não seja a única que tem dificuldade em aceitar
os fatos. Sem esta matilha, você não é nada.
Os olhos de cada membro do conselho se voltaram para mim,
implorando para que eu fizesse alguma coisa antes que aquelas duas
voassem na garganta uma da outra.
— Mãe, por que você não volta para casa. Podemos conversar sobre
isso esta noite, em família.
— O jornal espera que Sienna faça uma declaração esta tarde, Addy.
— Sienna e eu cuidaremos disso.
— Não precisa, querido, eu já tenho um rascunho. Tudo que ela
precisa fazer é ler — respondeu Charlotte, puxando um pedaço de papel
dobrado do bolso de seu casaco curto.
— Obrigado. você já fez o suficiente por um dia, mãe. O conselho tem
outros negócios que precisamos discutir.
— Oh, entendo, — respondeu ela, visivelmente descontente. — Bem,
vou deixar isso aqui para você examinar. Acho que você descobrirá que
não requer nenhuma alteração.
Ela colocou o papel na mesa e se virou para sair. Apenas mais alguns
passos e ela estaria fora do meu alcance por algumas horas enquanto eu
controlava a Sienna.
— Pensando bem, — ela disse, parando na porta, — você pode
precisar fazer alguns ajustes para dar conta de sua maneira rústica de
falar. Ciao querido.
A porta se fechou com um clique gracioso da trava, mas o veneno de
suas palavras agarrou-se a todas as superfícies da sala.
Um olhar para Sienna e eu poderia dizer que as coisas iam ficar feias.
— Eu preciso de um momento a sós com Sienna.
— É claro, — respondeu Josh, ansioso por qualquer desculpa para ir
embora.
— Sim, estaremos em nossos escritórios, — acrescentou Rhiys. —
Vamos, Nelson.
— Tem certeza de que não quer que eu fique? — perguntou Jocelyn.
Seus instintos de cura sabiam quanta discórdia minha mãe havia
semeado, mas este não era o momento de trazer uma terceira pessoa
para o nosso conflito.
— Sim, eu tenho certeza. Voltaremos a nos reunir depois do almoço.
Todos saíram da sala em ordem rápida, exceto Sienna, que
permaneceu em pé na frente de sua cadeira.
A chama em seus olhos havia diminuído, mas o resto de seu corpo
estava tenso de agitação.
— E então? — ela perguntou, olhando para o papel e de volta para
mim. Ela estava esperando para ver se eu pegaria, esperando para ver de
que lado eu ficaria.
Ambos eram complicados. Ambos exigiam sacrifícios.
Eu ponderei minhas opções, soltei um longo suspiro e fiz minha
escolha.
Capítulo 8
FRICÇÃO AQUECIDA
Sienna

Eu assisti calada e com ódio quando a mão de Aiden alcançou o papel


que Charlotte tinha deixado sobre a mesa. Só o fato de ele estar curioso
para ler fez meu sangue ferver.
Ele estava realmente escolhendo sua mãe em vez de mim? Ele sabia
que estaríamos acasalados para o resto da vida, certo?
Com sorte, Charlotte tinha apenas mais alguns anos antes de bater as
botas.
Dei um passo em sua direção e separei meus lábios, mas antes que
uma única palavra pudesse escapar, ele ergueu um dedo e caminhou até a
cesta de lixo, deixando o papel dobrado cair dentro dela.
— Isso não significa que eu tenha ficado do seu lado, — disse ele
friamente.
Fiquei atordoada, mas principalmente aliviada. Talvez ele não tenha
sofrido uma lavagem cerebral como eu pensava. Ainda assim, o fato de eu
ter dúvidas sobre qual de nós ele apoiaria me deixou furiosa. Eu precisava
saber o que ele estava pensando.
— O que isso significa? — Eu perguntei.
— Sienna, eu te entendo, mas aquele artigo não te ajudou em nada.
— E nem seus pais, — eu disparei.
— Deixe que eu cuido deles, — ele disse, entrando no meu espaço.
Está bem, Aiden. Não é como se eles estivessem fazendo você de gato e
sapato.
Era típico dele pensar que poderia me intimidar dessa maneira. Foi
como ele lidou com qualquer outra pessoa que o questionou, mas não
funcionou comigo. Eu o conhecia por quem ele realmente era.
Eu sabia de sua compaixão, sua doçura, e era por isso que todo esse
drama entre nós estava me matando.
Talvez se eu explicasse o meu ponto de vista, ele entenderia por que
fui tão hostil com sua mãe.
— Aiden, você está sob o controle deles. Dê um passo para trás e veja
todas as coisas que eles estão pressionando você a fazer.
— Eu não acabei de jogar fora a declaração da minha mãe? — ele
protestou. — Você acha que eu gostei quando minha mãe me acusou de
ser incompetente na frente de todo o meu conselho?
Fala sério. Eu não conseguia acreditar que depois de toda aquela
palhaçada, ele se preocupou mais com a sua aparência na frente de seus
amigos.
Talvez eu estivesse errada sobre haver esperança de que ele pudesse
ver as coisas através da minha perspectiva.
— Então, você acha que esse foi o problema? Não toda aquela história
de prometer me submeter a você na próxima lua cheia?
— Ainda estou esperando que você proponha uma solução para esse
problema, — respondeu ele. — Concordar em reagendar isso me
pouparia muita dor de cabeça.
— Tirar seus pais da nossa cola pouparia nós dois de muita dor de
cabeça, — eu disse friamente. — Não entendo por que você os deixou
escapar impunes de tudo isso.
— No fim das contas, eles ainda são meus pais, Sienna. Achei que
você, entre todas as pessoas, entenderia isso.
É sério que ele estava me chamando de hipócrita?
Se seus pais fossem pessoas adoráveis e eu fosse uma companheira
louca e ciumenta, tudo bem, mas o relacionamento de Aiden com
Charlotte e Daniel era tóxico. Me deixou completamente perplexa saber
que ele não percebia isso.
Aiden estava redondamente enganado se pensava que sua mãe
merecia sair impune simplesmente porque ela era da família.
— Me desculpe, eu entendo o que significa ter um relacionamento
saudável com os pais. Um baseado no respeito e na empatia, não em
legados e política. Não é assim que famílias saudáveis tratam umas às
outras, Aiden.
Eu percebi que o estava deixando desconfortável. Talvez eu tenha
pegado pesado demais.
Ele não tinha crescido em um lar amoroso como eu, e apesar do fato
de eu não compartilhar uma gota de sangue com o resto da minha
família, eu sabia que eles me amavam de uma maneira que Aiden não
conseguia entender.
Quando nos acasalamos pela primeira vez, nosso relacionamento foi
dominado pela luxúria e paixão, mas conforme as semanas se
transformaram em meses, descobri o vazio emocional que existia no
coração de Aiden.
Eu tinha feito o meu melhor para preenchê-lo, mostrando a ele o que
significava ter alguém que o amava incondicionalmente, que ele era
valorizado e desejado por algo além de ser o alfa.
Talvez eu não tivesse feito um bom trabalho remendando ele. Ou
talvez eu tivesse que enfrentar o fato de que nunca poderia substituir o
amor que ele buscava em seus pais.
Após meus últimos comentários, Aiden cruzou os braços e olhou
pensativamente para seus sapatos.
O silêncio estava começando a me incomodar.
— Sienna, desde que comecei a andar com seus pais e sua irmã, vi
como uma família deve funcionar. De certa forma, parece que seus pais
também me adotaram.
— Eles me lembram da família que eu costumava ter, aquela antes de
Aaron morrer. E agora que meus pais estão aqui de novo, quero tanto
fazer funcionar. Eu quero tê-los de volta na minha vida.
Eu podia ver a dor em seus olhos enquanto ele lutava para se abrir. Eu
sabia que não era fácil para ele.
Falar sobre rompimentos e paixões com as meninas era uma coisa,
mas isso era um trauma emocional sério. Eu me senti completamente
perdida.
— Aiden, eles o abandonaram, — respondi, decidindo ser franca. — O
que o faz pensar que pode fazer com que eles mudem agora?
— Naquela primeira noite, quando você foi para a cama cedo, eles me
disseram que queriam estar aqui para cuidar de nossos filhos. Então, eu
pensei que se eu dissesse a eles que estávamos tentando...
— Espere, você disse a eles que estávamos tentando engravidar para
ganhar seu afeto? Aiden, por que você não me disse isso?
— O que você quer dizer? — ele respondeu amargamente. — Se eu te
contasse, você teria surtado. Achei que poderia ganhar tempo suficiente
para fazer você mudar de ideia, mas então este artigo foi publicado e
virou tudo uma grande bagunça.
Ok, eu tinha que admitir que provavelmente teria surtado, mas ele
não deveria estar fazendo promessas por nós dois.
Deveríamos ser parceiros e, agora, eu me sentia mais como um
aborrecimento do que como uma parceira. Uma linda garota jovem que
ele mantinha por perto para dar à luz bebês e ficar bonita em eventos
especiais.
— O amor não é condicional, Aiden. Você não deveria precisar
prometer netos aos seus pais para ganhar o afeto deles.
— Porque você não... — Aiden parou abruptamente, segurando o
peito. Sua respiração ficou pesada e ele virou a cabeça para o lado. —
Droga, está acontecendo.
Meu rosto ficou pálido quando o terror me atingiu.
O que ele quis dizer?
Ele estava tendo um ataque cardíaco?
— Aiden, o que está acontecendo? Diga-me! — Eu implorei, mas
antes que ele pudesse responder, eu tive minha resposta.
O calor pulsante e fundido da Bruma se acendeu dentro do meu peito
e se espalhou por todo o meu corpo como um incêndio. Minhas pernas
formigaram e meus seios incharam. Quando o cheiro de Aiden atingiu
meu nariz, foi como derramar gasolina em chamas.
Eu olhei para ele com um desejo enlouquecido.
Eu precisava ter ele.
Eu ansiava por ele estar dentro de mim.
A maneira como ele olhou para mim, aqueles olhos verde-dourados
em chamas de luxúria, me mostraram que ele estava lutando contra os
mesmos impulsos primitivos.
Seus músculos flexionaram e tensionaram enquanto ele tentava lutar
contra isso, mas com cada respiração, ele sentia mais e mais dos meus
feromônios, tomado por uma fome violenta induzida pela Bruma.
— Ainda quer tentar um desses truques de mágica? — Eu perguntei,
tentando firmar minha respiração.
— Pelo que parece, eu não preciso, — ele disse com um sorriso
irônico.
— Fale por si mesmo, — eu disparei de volta, lutando com o desejo do
meu corpo de me jogar contra seus músculos protuberantes e começar a
rasgar suas roupas.
Ele diminuiu a distância entre nós, para que eu pudesse sentir sua
respiração no meu rosto.
Corri meus dedos por seus cachos negros bagunçados antes de torcer
sua cabeça para o lado. Ele cerrou os dentes em êxtase.
— Sinto muito, doeu? — Eu perguntei, de pirraça.
— Só fez cócegas.
— E isso aqui? — Eu disse, deslizando minha mão até sua virilha. Ele
mordeu a língua e bateu com o punho contra a parede.
— Isso é tudo que você tem? — ele gritou.
Eu sabia que tinha que ter cuidado com o quão longe eu levaria isso.
A sensação de seu membro rígido em minha mão estava quase me
deixando louca também. Ele latejava com o meu toque e eu o imaginei
deslizando dentro de mim, me alargando.
— Você não vai mesmo fazer nada? — Eu perguntei, apertando com
mais força.
— Você não é a única teimosa... nesta rela... relação, — ele conseguiu
falar entre as respirações.
Quanto mais eu olhava para ele, mais perigoso meu jogo se tornava.
Senti que estava ficando molhada e o ar em meus pulmões esquentou. Eu
mal conseguia respirar enquanto minhas roupas apertavam contra meu
corpo.
Mas eu não podia recuar agora. Para isso funcionar, ele tinha que dar
o braço a torcer.
— Você está bem? — perguntou Aiden, soprando contra meu pescoço.
— Você parece meio febril.
— Estou perfeitamente bem, — respondi, com a voz trêmula.
— Tem certeza de que não precisa de uma mão? — ele perguntou,
guiando sua mão para baixo, entre as minhas pernas, segurando meu
sexo. — Porque você está meio quente.
Seu toque enviou tremores pelo meu corpo e minhas coxas se
apertaram em torno de sua mão. Eu estava praticamente ofegante
enquanto a Bruma me devastava.
— Não se iluda, querido. Isso é normal para a primeira onda da
temporada.
Eu precisava virar o jogo antes de perder todo o controle. Comecei a
esfregá-lo através das calças.
Seu aperto na minha virilha afrouxou quando ele se dobrou sob o
estímulo.
— Essa é apenas a minha mão. Imagina como seria bom com a minha
boca — eu disse, lambendo atrás de sua orelha. Senti sua mão começar a
deslizar de volta para o meu sexo, mas não iria deixá-lo lutar. Eu o tinha
nas mãos; era hora do nocaute.
Em um movimento rápido, eu levantei sua camisa e mergulhei minha
mão em suas calças. Não havia barreira agora.
Meus dedos envolveram sua base lisa, deslizando suavemente para
cima e para baixo em seu comprimento.
O toque da minha pele contra a dele nos deixou em um frenesi. Aiden
agarrou meu braço, me empurrando contra a parede. Ele trouxe seus
lábios para um beijo, mas eu me afastei.
Ele tentou colocar as mãos em meus seios, minha bunda, em
qualquer lugar que pudesse ganhar a vantagem, mas eu apenas acariciei
cada vez mais rápido até que pude sentir que ele estava à beira do clímax.
Só mais um pouquinho.
Aiden estava respirando com dificuldade, perdido no prazer da minha
obra. Qualquer luta restante nele havia desaparecido, e ele se entregou
completamente à sua Bruma. Ele estava exatamente onde eu o queria.
— Já é o suficiente — eu disse, puxando minha mão para fora de sua
calça.
— É o melhor que você tem? — perguntou Aiden, o suor escorrendo
pelo rosto.
— Nem perto, amor, — eu respondi. — Estou apenas aquecendo.
Capítulo 9
LAVAGEM DE ROUPAS
Jocelyn

Desde aquela viagem de carro com Sienna, minha cabeça tinha virado
uma teia emaranhada de pensamentos e emoções. Tentei meditar, mas
não consegui clarear minha consciência. Sempre que ficava assim, tinha
que apelar pros velhos hábitos.
Eu precisava de uma bebida.
O Housman's era o meu lugar preferido quando eu precisava fugir.
Era um antigo bar escondido em um beco. Não tinha nada do brilho e do
glamour dos bares e clubes populares, mas isso que eu amava nele.
Eu nunca tive que me preocupar com um lobo da Casa da Matilha
entrando pela porta ou qualquer outra pessoa que pudesse me
reconhecer.
A mulher atrás do bar era uma doce senhora chamada Clementine.
Ela me tratava como uma filha, sempre fazendo questão de me agarrar
pela mão e me perguntar como eu estava.
Ela sabia que eu só a visitava quando precisava resolver alguma coisa,
e cara, eu tinha muita coisa para resolver.
Sienna era como uma irmã mais nova para mim. Eu via muito de mim
mesma nela, e quando ela se acasalou com Aiden, meus sentidos de cura
me disseram que ela precisava de alguém para ajudá-la a viver na
Matilha.
Eu cresci naquele mundo e podia ajudá-la de uma forma que sua mãe
e sua irmã não conseguiam.
Claro que a ironia não passou despercebida. Eu tinha 25 anos e não
estava acasalada, praticamente uma solteirona nos anos de lobisomem,
aconselhando uma garota de 20 anos sobre como planejar uma família e
lidar com seu companheiro.
Depois de minhas aventuras fracassadas com Aiden e Josh, eu estava
impaciente para encontrar meu companheiro. A cura era um trabalho
solitário. Fui a quem todos procuraram, mas para onde a Curandeira
deveria ir quando tinha problemas?
Era isso que eu estava tentando descobrir no Housman’s.
Tomei um gole da minha bebida.
Escorreu pela minha garganta e espalhou seu fogo pelo meu peito.
Mas em vez de parar ali, seu calor continuou descendo pelo meu corpo,
estabelecendo-se entre minhas pernas em um inferno inesperado.
Porra, a Bruma está perto.
Enquanto as explosões pulsavam na minha virilha, examinei o bar.
Nenhum dos homens estava me olhando.
A Bruma pode deixar as lobas com tesão, mas ainda deve haver
alguma atração entre os amantes.
Eu me virei e examinei as cabines. O frio na barriga começou a
percorrer todo o meu estômago. Isso não poderia estar certo.
Eu estava olhando para um casal que estava se tocando. Eles não eram
amigos, eu sabia disso, mas por que minha Bruma estava me puxando em
direção a eles?
Eles devem ter sentido o quão excitada eu estava ficando porque a
mulher parou de beijar o pescoço de seu parceiro e olhou em minha
direção.
Nós nos olhamos, e então ela sussurrou no ouvido de seu homem. Ele
me deu uma olhada e sorriu antes de dar sua resposta.
A mulher se levantou e caminhou em minha direção. Ela tinha
cabelos crespos e ruivos e uma linda pele cor de café. Seus quadris
balançavam de um lado para o outro em um ritmo hipnotizante.
Talvez ela queira apenas pedir uma bebida no bar. Olhe para a sua
bebida. Não faça contato visual.
— Meu parceiro e eu não pudemos deixar de notar você.
Merda.
Meu rosto corou quando me virei para encará-la. — Eu sinto muito.
Eu não queria ficar olhando.
— Gostou do que viu? — ela perguntou com um sorriso brincalhão.
Espere, o que ela quer dizer?
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, minha Bruma
explodiu.
Eu agarrei o balcão para me manter de pé. Algo nessa mulher e no seu
homem fez meu corpo derreter. Olhei para o parceiro dela, um
dominante alto e musculoso com cabelos castanhos esvoaçantes e barba
áspera.
Eles eram tão lindos e sexy. Eu nunca tinha feito nada assim antes,
mas nada sobre isso parecia errado.
— Gostei muito, — respondi, tocando a mão da mulher.
Nós três caímos na cama, arrancando as roupas um do outro em um
frenesi acalorado. Eu agarrei o homem e comecei a beijá-lo, mas a
pressão quente dos lábios da mulher em meus seios me fez ofegar.
Antes que eu percebesse, entreguei meu corpo às suas mãos e lábios.
Eu me torci e flexionei sob o intenso prazer que agarrou cada músculo e
terminação nervosa.
Eles se revezaram entrando em mim. Ele com seu pênis e ela com
seus dedos e sua língua.
Senti tudo apertar e uma pressão começar a crescer dentro de mim.
Eu estava com tanto calor, quase delirando. Minha pele estava coberta
de suor e eu mal conseguia recuperar o fôlego.
— Eu vou gozar! — Eu gritei.
Eu agarrei a mulher e puxei seu rosto para o meu. Nós fechamos os
lábios, nossas línguas se tocaram alegremente, sensualmente.
Naquele instante, tudo foi liberado em uma violenta erupção e ondas
de contrações quentes sacudiram meu corpo. Todo o ar saiu correndo
dos meus pulmões e minha boca se abriu, mas não consegui gritar.
Agarrei-me a ela e ela me abraçou, olhando para mim com seus olhos
escuros e reconfortantes.
O orgasmo me deixou completamente mole. Eu me sentia como se
tivesse acabado de correr uma maratona e as únicas partes de mim que
ainda funcionassem eram o coração e os pulmões.
— Você se divertiu? — ela perguntou.
— Você está brincando? — Eu disse, ainda recuperando o fôlego. —
Sim. Eu me diverti muito.
— Bom. Nós também, — ela respondeu, sorrindo. Ela e seu parceiro
deitaram-se um de cada lado meu e acariciaram meu corpo suavemente
com a ponta dos dedos.
Fiquei lá por meia hora e os observei fazer amor enquanto recuperava
minhas forças. Por alguma razão, eu me sentia à vontade com eles de
uma maneira que nunca havia experimentado com nenhum de meus
amantes anteriores.
Quando saí, os dois ofereceram um beijo de despedida.
— Talvez a gente volte a ver você, — disse a mulher, puxando-me para
seu abraço.
Eu a cheirei uma última vez.
Eu não queria ir embora.
— Sim, eu adoraria, — respondi, segurando-a com força.
Josh

Eu não me importava de ter Sienna no conselho. Como companheira do


Alfa, ela tinha todo o direito de estar envolvida na governança da
Matilha. O que me incomodava mesmo era todo o drama que isso estava
gerando.
Eu sempre me achei um Beta bem tranquilo, mas ainda precisava
fazer a Matilha funcionar da maneira mais tranquila e eficiente possível.
Não apenas porque era meu trabalho, mas também porque Aiden era
meu melhor amigo, e se eu me saísse bem, isso tornaria a vida dele um
pouco mais fácil. Isso era o que os melhores amigos faziam um pelo
outro.
Toda essa sobreposição entre sua vida doméstica e a vida da Matilha,
entretanto, estava causando alguns problemas importantes.
Isso não quer dizer que eu achasse que Aiden e Sienna deviam varrer
suas diferenças para baixo do tapete, mas dado o arranjo atual, quando
eles brigavam, a Matilha sofria.
— Aiden, você tem um minuto? — Eu perguntei, alcançando-o no
corredor.
— Claro, Josh. O que aconteceu?
— Eu estava procurando a lista de instituições de caridade para as
quais vamos doar neste feriado, e não consigo encontrar.
— Sienna está cuidando disso.
Isso ia ser mais difícil do que eu pensava. Como eu deveria dizer a ele
que sua companheira estava deixando a peteca cair sem irritá-lo?
— Ótimo, mas eu meio que preciso da lista até quarta-feira. Caso
contrário, as doações não serão entregues a tempo. Eu posso cuidar
tranquilamente disso se ela estiver ocupada.
— Não, vou lembrá-la esta tarde.
Ele ainda não estava entendendo. Se ele tratava a Sienna assim, eu
entenderia por que ela estava chateada com ele. Acho que precisava ser
mais direto.
— Acho que você a sobrecarregou com coisas demais, Aiden.
Especialmente quando está claro que a Matilha não é necessariamente
sua prioridade número um. Se ela quiser reduzir seu envolvimento, posso
assumir o trabalho. Eu estava fazendo tudo antes de qualquer maneira.
Prendi a respiração, esperando para ver qual versão de Aiden eu
estava prestes a encarar.
— Josh, ela precisa aprender que os negócios da Matilha são tão
importantes quanto qualquer outra coisa que ela faça. Ela é minha
companheira, e isso faz parte de suas responsabilidades.
— Certo, mas dado tudo o que está acontecendo entre vocês dois...
— Eu disse que vou falar com ela sobre isso esta tarde. Você receberá
sua lista.
Eu sabia que não devia pressioná-lo quando ele ficava assim. Eu disse
o que queria e saí antes que ele explodisse.
Sienna

Winston's sempre foi o lugar onde meus amigos e eu frequentávamos


antes de Michelle e eu nos casarmos.
Era um restaurante mediano, sem nada demais, a não ser o fato de
que era consistentemente mediano.
No momento, Michelle e eu estávamos dividindo uma cesta de
batatas fritas enquanto cada uma de nós bebia um milk-shake. Depois de
pintar no parque, decidi que precisava de Michelle para minha dose de
besteirol diária.
— Ter esses espantalhos por perto acaba com o clima, — comentou
Michelle enquanto balançava uma batata em direção à nossa equipe de
segurança. — Vocês querem um pouco? — ela perguntou, oferecendo a
cesta gordurosa de batatas fritas. — Se você vai ficar aí, é melhor entrar
na conversa.
— Estou bem, senhora, obrigado, — respondeu friamente um dos
guarda-costas através de um drone.
— Como quiser, — disse Michelle, revirando os olhos. — — Então, Si,
você e o Aiden já passaram pela Bruma? Josh e eu perdemos o controle
enquanto ele dirigia, então tivemos que parar e fazer ali mesmo, na beira
da estrada. Não sei se foi o espaço confinado, o fato de que as pessoas
podiam nos ver, ou apenas o fato de que eu estava montando no meu
companheiro, mas foi o melhor sexo que já fiz.
— Meu deus, Michelle, estamos em público.
— E daí? Quando você se tornou tão santa?, — disse ela, sorrindo.
A campainha pendurada acima da porta tocou, eu olhei para cima e
encontrei um homem elegante olhando ao redor curiosamente. Ao ver
Michelle e eu, ele imediatamente se animou e se dirigiu para a nossa
mesa.
Pela primeira vez, fiquei grata por ter segurança. O homem mal
conseguiu chegar a dez pés antes de uma grande mão surgir e agarrá-lo.
— Nossa, sou apenas um mensageiro. Tenho uma carta para entregar
a Sienna Norwood de sua sogra, — disse ele, segurando o envelope.
Ótimo, o que Charlotte queria comigo agora? O segurança pegou a
carta e me entregou. Rasguei a tampa e quase vomitei com o convite
ostentoso.
— O que a velhota quer? — perguntou Michelle, saboreando o último
pedaço de milk-shake de seu copo.
É
— É um convite para um almoço amanhã à tarde, — eu disse
cautelosamente. — Ela quer que eu seja a convidada de honra.
Capítulo 10
HORA DO ALMOÇO
Aiden

— Mãe, este é exatamente o tipo de coisa que eu pedi para você não
fazer.
— Não tenho a menor ideia a que você está se referindo, Addy. Estou
simplesmente organizando um bom almoço para sua companheira e
alguns de seus amigos e familiares.
Ela sempre fez isso, reformulando as coisas para se adequar a sua
visão, sua versão da realidade. Ela fez isso quando Aaron morreu, e ela
estava fazendo de novo agora.
Às vezes eu pensava que ela realmente acreditava, mas sempre houve
uma parte de mim que permaneceu cética. Ela era muito astuta para ser
vítima de tais delírios obstinados.
O almoço foi uma completa surpresa para mim.
Depois que Sienna e eu tivemos nosso momento na câmara do
conselho, conversei com meus pais e eles concordaram em se mudar para
um lugar na cidade. Certamente aliviou a tensão em casa, mas também
significava que eu não poderia controlá-los.
Naquele momento, eu estava observando o refeitório da Casa da
Matilha se transformar com talheres extravagantes e comidas que fariam
você pensar que o Alfa do Milênio estava vindo nos visitar.
— Isso fica aqui, querida, — chamou minha mãe, apontando para um
dos funcionários. — Quem colocou esta colher? Você não viu que está
manchada?
Ela estava tramando alguma coisa, eu tinha certeza disso.
— Addy, xô! Este almoço é só para nós, garotas. Vá cuidar de sua
Matilha.
Eu dei a ela uma última olhada, na esperança de flagrar qualquer
truque que pudesse estar escondido em seus olhos. Sienna pareceu
estranhamente receptiva quando me contou sobre o almoço, então talvez
as duas estivessem dispostas a seguir em frente.
Se fosse esse o caso, eu não iria atrapalhar.
Sienna

Corri minhas mãos sobre minha saia, alisando-a antes de seguir pelo
corredor em direção ao refeitório.
Eu queria usar calças, mas Michelle me convenceu de que seria muito
casual, então coloquei uma meia-calça e encontrei o vestido de inverno
mais pesado que eu tinha.
Ajudou o fato de Aiden manter a Casa da Matilha quentinha durante
os meses de inverno, mas eu ainda estava irritada sabendo que tinha me
trocado por causa de Charlotte.
— Boa tarde, Sra. Norwood, — disse a funcionária ansiosa parada do
lado de fora da porta. Ela era uma jovem garota de olhos arregalados com
cabelo loiro escuro trançado em um coque elegante e duas pintas em sua
bochecha esquerda.
— Existe uma senha? — Eu perguntei depois que ela permaneceu
imóvel.
— Aí, eu sinto muito, eu sou tão boba. Eu estava distraída com seu
vestido. É tão bonito. Ai, meu deus, será que falei demais? Eu sinto
muito. Eu nunca sei quando calar a boca.
— Tudo bem. Não tem problema — eu respondi, sorrindo. —
Obrigada pelo elogio. Eu adorei seu penteado.
— Mesmo? — ela disse, radiante. — Obrigada. Sra. Norwood. É uma
honra conhecê-la. Você é minha ídola.
— Como assim?
— Tudo o que você está fazendo por jovens lobas. Informando-nos
que podemos tomar nossas próprias decisões. É empoderador ver nossa
senhora alfa assumir a postura que você assumiu no festival.
Eu não tinha certeza de como responder. A ideia de ser um modelo
me pegou de surpresa. Selene tinha brincado comigo sobre isso, mas eu
nunca pensei em nada disso.
Além do mais, essa garota deveria ser só alguns anos mais nova do
que eu. Como ela poderia me admirar?
— Obrigado pelas adoráveis palavras, — disse eu, — mas não quero
deixá-los esperando ali.
— Claro, sinto muito ter atrasado você, Sra. Norwood, — ela
respondeu, abrindo a porta.
Eu esperava ver apenas Aiden e seus pais, mas em vez disso fui
recebida por uma mesa cheia de todas as minhas amigas mais próximas e
familiares.
Minha mãe, Selene, Jocelyn, Michelle, Mia... até Erica estava lá.
— Bem, não fique aí parada como um poste, querida. Venha e tome o
seu lugar como nossa convidada de honra.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Eu perguntei, caminhando em
direção à mesa.
— Agora que somos uma família, achei que seria bom para todas nós,
garotas, nos conhecermos. Afinal, todos nós sabemos quem realmente
comanda as coisas na Casa da Matilha — disse Charlotte com um sorriso
brincalhão. — Aqui, sente-se, — disse ela, puxando minha cadeira.
Fiz uma careta para Michelle como se perguntasse — o que é que está
acontecendo, — mas ela apenas deu de ombros.
— Agora, gostaria de fazer um brinde à minha nora, — disse
Charlotte, erguendo o copo.
— Sienna, querida, você passou por tanta coisa na semana passada, e
eu admito que a chegada de Daniel e eu foi... um pouco chocante.
— Eu gostaria de me desculpar por isso. Acho que todos poderíamos
ter nos comportado melhor, por isso organizei este encontro. Acho que é
hora de começarmos do zero, Sienna. A novos começos e ao futuro desta
família.
Todos aplaudiram e brindaram com as taças. Eu acho que Aiden
estava certo; talvez Charlotte tivesse um lado sincero, afinal.
— Selene, querida, quando é o parto? — continuou Charlotte. — Você
está uma grávida tão radiante.
— Ah, obrigada, Charlotte, — Selene respondeu, corando. — Eu dou à
luz em três semanas. Então teremos mais uma mocinha para se juntar a
nós na mesa.
— Tenho certeza de que você também está ansiosa, Melissa.
— Ansiosa é pouco, — disse Selene.
— Ei, tenho sido muito boa em não meter o nariz nas coisas.
— Mãe, você almoça com meu obstetra três vezes por semana.
— Somos amigos médicos, Selene. Nem tudo gira ao seu redor — ela
respondeu com um sorriso culpado. — Mas, para responder à sua
pergunta, Charlotte, mal posso esperar pela chegada da minha primeira
neta.
— O primeiro bebê de muitos, tenho certeza, — respondeu Charlotte.
Quando os garçons saíram com o primeiro prato, Charlotte
continuou sua conversa.
— E, Mia, você já tem um filhotinho, não é?
— Sim, gêmeos, na verdade. Eles estão com quatro meses agora.
— Você deveria tê-los trazido, — disse Michelle. — Eles são os bebês
mais fofos que eu já vi na vida.
— Eles estão com o pai durante a tarde, então se eu estiver checando
muito meu telefone, é por isso.
— É muito corajosa por deixar Kyler e Emmett sozinhos com Harry.
— Eu sei, é por isso que estou voltando em duas horas. Estamos indo
aos poucos.
— E você, Michelle? — disse Charlotte. — As crianças estão no seu
radar?
— Veremos. Josh e eu queremos muito, e agora que a Bruma chegou,
eu não ficaria surpresa se tivesse um anúncio a fazer antes do ano novo.
— Meu Deus, parece que pode haver um bando de pequeninos
correndo por aqui em breve. Erica, quais são seus planos?
— Não estou acasalada, — respondeu Erica, um pouco na defensiva.
— Entendo, — respondeu Charlotte. — Bem, a temporada está
chegando, minha querida. Talvez este seja o seu ano de sorte. Jocelyn,
querida, o que você estava me contando outro dia sobre como a saúde de
uma Matilha se baseia na preservação de sua posteridade?
Eu lancei a Jocelyn um olhar interrogativo.
Ela tinha falado com Charlotte pelas minhas costas? Por que ela não
mencionou nada quando fui vê-la outro dia?
— Eu acho que você está interpretando minhas palavras um pouco
fora do contexto, Charlotte, — respondeu Jocelyn calmamente. — O que
eu disse foi: a consciência coletiva de uma Matilha é melhorada quando
eles sabem que o futuro é estável, e parte dessa estabilidade envolve a
criação de um grupo saudável de filhotes.
— Sim, sim, mas resumindo, ter bebês é bom para a Matilha. Acho
que todos nesta mesa concordam. Você não acha, Sienna?
Eu estava começando a ficar incomodada. Todo esse almoço não era
para nos conhecermos, mas sim para me lembrar de que todas ao meu
redor estavam tendo bebês.
— Claro, — respondi com cautela. — Estou feliz que minhas amigas e
irmã tenham escolhido ter filhos. É uma decisão bem significante.
— Eu concordo plenamente, — respondeu Charlotte. — Muita coisa
pode mudar quando você decide ter filhos ou não.
Ela fez uma pausa para se certificar de que tinha toda a minha
atenção, e de repente eu me senti como se fôssemos as únicas duas
pessoas na sala.
— Outras áreas da sua vida que você pode nem pensar que estão
relacionadas podem ser afetadas. Seu trabalho, seus hobbies... seu
companheiro. Sim, começar uma família é uma decisão muito
significante.
Aquela foi a gota d’água. Eu podia ver que atrás daquela pele de
cordeiro, havia uma loba.
Era impossível um mundo onde ela e eu nos reconciliássemos.
Mesmo se eu engravidasse amanhã, ela não daria a mínima para mim. Ela
só queria ter um neto, um neto Norwood.
— Charlotte, você não precisa fingir que gosta de mim.
— O que você quer dizer querida?
— Este teatrinho não vai funcionar. Você não vai me pressionar a ter
um bebê me cercando de mulheres que querem ser mães. Amo cada uma
dessas mulheres de todo o coração e respeito suas escolhas, mas elas
nunca me pressionariam para começar uma família como você está
tentando fazer agora.
— Quando você vai parar de me ver como uma vilã, Sienna?
— Quando você parar de agir como tal e começar a me respeitar.
— É difícil respeitar uma pessoa que só pensa em si mesma, querida.
— Engraçado — eu respondi. — A única razão pela qual você voltou
aqui foi para se certificar de que o legado de sua família não fosse
manchado por uma novata que não tem medo de ser sincera.
— Sienna. Charlotte, por favor, parem com isso, — implorou Melissa,
pondo-se de pé.
— Tudo bem, você pode pensar que sou horrível, mas sempre serei a
mãe de Aiden e sempre o colocarei em primeiro lugar.
— Isso é o que significa ser acasalado, senhorita. Você faz sacrifícios.
Aiden está fazendo de tudo para atender às suas frívolas exigências, e o
que você fez em troca? O envergonhou na frente de toda a Matilha e o
privou da maior alegria que um lobo pode ter. Você não merece meu filho
e nunca vai merecer.
As palavras de Charlotte me consumiram como ácido enquanto meu
coração afundava em meu estômago. Eu não ia dar a ela a satisfação de
me ver chorar.
— Com licença, senhoras, mas acho que não posso continuar aqui.
Assim que saí do refeitório, corri para o meu escritório e tranquei a
porta.
As lágrimas derramaram e eu deslizei para o chão, incapaz de
controlar a dor que me dominou. Eu não pude evitar, mas senti que havia
um fiapo de verdade nas palavras de Charlotte.
Naquele momento, eu não queria ver ninguém, exceto Aiden. Eu
queria senti-lo e ouvi-lo me dizer que eu era o suficiente, que era sua
companheira e que ele me amaria para sempre.
Capítulo 11
DECLARAÇÕES
Sienna

Meu telefone vibrou sem parar pelo resto da tarde. Todo mundo estava
tentando falar comigo depois que eu fugi do almoço de Charlotte.
Achei que queria ficar sozinha, mas estava completamente enganada.
Eu precisava falar com alguém.
Pensei em Jocelyn, mas ainda não tinha certeza de qual era sua
conexão com Charlotte, e Michelle e Mia não entenderiam o que eu
estava passando.
Eu precisava da minha mãe.

Sienna: Oi, mãe, posso passar aí?

Mãe: Sim! Claro!

Mãe: Eu vou estar em casa o dia todo.

Sienna: Obrigada. Em 20 minutos tô aí

Mãe: Combinado!
Mãe: Te amo, Si. Bjs

Antes mesmo que eu pudesse alcançar a porta, ela e Selene já estavam


lá fora me abraçando.
— Aí. Si, eu sinto muito. Não tínhamos ideia de que isso iria
acontecer. A gente tinha certeza de que seria um almoço normal.
— Eu briguei com ela depois que você saiu, mas mamãe me fez parar,
— acrescentou Selene.
— Tudo bem, — respondi. — Eu sei que você ficou tão surpresa
quanto eu.
— Entre querida, e saia do frio. Tenho uma caneca grande de
chocolate esperando por você.
A familiaridade de estar dentro da casa da minha infância já bastava
para me fazer sentir melhor. Não tinha que pensar duas vezes antes de
falar ou olhar ao redor, como fazia na Casa da Matilha.
Eu me enrolei no sofá, e minha mãe me trouxe o chocolate e um
prato de biscoitos enquanto Selene me cobria com um cobertor.
— Pronto, maninha. Bem quentinha.
— Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você? — Minha mãe
perguntou.
— Não. Está perfeito. Eu só preciso saber que vocês duas não me
odeiam.
— Nossa, Sienna, por que nós odiaríamos você?
— Não sei. Eu vejo como você está animada com o bebê da Selene, e
eu sinto que seria perfeito se nós duas tivéssemos filhos na mesma época
para que eles pudessem crescer juntos e...
— Si, você está falando a maior bobagem — interrompeu Selene. —
Você não deveria ter filhos porque acha que seria fofo nossos bebês terem
mais ou menos a mesma idade. Há um motivo pelo qual Jeremy e eu
esperamos até que o fizéssemos. Tínhamos outras coisas que queríamos
fazer antes de nos estabelecermos.
— Sim, e não pense que eu te amo menos porque você não está me
dando um neto. Tudo o que me importa é que você seja feliz com
qualquer caminho que tomar na vida.
— Sim, não deixe aquela velha enrugada te perturbar, Si. Seu corpo,
suas regras.
Eu estava muito grata por ter aquelas duas em minha vida. Passamos
o resto da tarde assistindo a filmes e sem falar nada sobre crianças ou a
Matilha.
Aiden

Sienna voltou para casa com um humor incomum. Pela primeira vez
desde o Festival, ela parecia à vontade.
Jocelyn já tinha me contado o que aconteceu no almoço, e eu
esperava que Sienna me desse outro ultimato em relação à minha mãe,
mas em vez disso, ela rastejou em meus braços e me perguntou sobre o
meu dia.
Eu não conseguia entender.
Simplesmente deitamos nos braços um do outro e conversamos.
Conversamos sobre tudo e qualquer coisa. Conversamos até o sol nascer.
Foi tão simples e fácil. Era como se reconectar com um velho amigo
depois de passar décadas separados.
Isso me lembrou o quão louco eu era por ela, que companheira
perfeita ela era. Depois de ontem à noite, eu nunca poderia imaginar
uma vida sem ela ao meu lado.
Uma batida forte na minha porta me distraiu dos meus devaneios.
— Addy, a imprensa está aqui para você atualizá-los sobre o novo
Festival.
— Sim, já vou, mãe.
— Bom. É péssimo manter a imprensa esperando. Mentes ociosas
escrevem histórias fantásticas.
Ela sempre tinha que transmitir um pouco de sua sabedoria? Ela sempre
tinha que dar a palavra final?
Caminhei em direção à sala de imprensa com o conflito se formando
em minhas entranhas. Eu não tinha certeza do que queria dizer, mas o
que quer que eu dissesse, precisava aguardar. Um alfa nunca vacila com
suas palavras.
Cheguei para ver minha mãe, meu pai, Sienna e o resto do conselho
flanqueando o pódio em uma linha organizada. Os repórteres se
amontoaram na sala como sardinhas.
Senti seus olhos em mim, rastreando todos os meus movimentos e
expressões faciais.
Minha mãe e meu pai sorriram como se nada tivesse acontecido entre
nós. Então eu flagrei o olhar de Sienna, sua expressão mais reservada,
mas dez vezes mais genuína.
Ia doer, mas eu já tinha decidido.
Coloquei minhas mãos em cada lado do pódio e inclinei-me para o
buquê de microfones apontado para meu rosto.
— Bom dia, — comecei. — Há alguns dias, Sienna e eu anunciamos
que concordamos em reagendar o ritual do Festival da Fertilidade para a
próxima lua cheia. Desde então, divulgamos muito poucas informações a
respeito.
Com o canto do olho, vi minha mãe balançando a cabeça. Tudo
estava indo como ela havia planejado.
— Bem, a razão para isso é porque eu decidi respeitar a decisão de
minha companheira e adiar indefinidamente o ritual.
— Quando Sienna e eu estivermos prontos para começar a ter filhos,
nós avisaremos a Matilha, mas por ora, nossa decisão de começar uma
família não será ditada por nada, exceto por nossos próprios desejos
pessoais. Obrigado.
Uma ladainha de objeções disparou da multidão junto com mãos
ansiosas, mas eu não tinha intenção de responder às suas perguntas.
Tudo o que me importava naquele momento era estar com minha
companheira.
Eu me virei para Sienna, que estava radiante. Ela murmurou um
silencioso "eu te amo" que me encheu de orgulho e alegria.
Todos, incluindo meu conselho, ficaram pasmos. Eu podia ver meus
pais inquietos, seus olhos tremendo, tentando não perder o rumo na
frente das câmeras.
— Encontre-me no meu escritório em dez minutos, — eu disse,
beijando minha mãe na bochecha. — Pai, você também está convidado.
— Os dois estavam furiosos demais para proferir uma resposta adequada,
mas eu não me importava se eles aparecessem.
Peguei Sienna pela mão e dei um beijo suave em seus lábios. — Sinto
muito por ter demorado tanto.

— Ah, Addy! Eu não posso acreditar que você foi tão tolo!
— Esta não é a decisão de um alfa forte, filho. Você está estabelecendo
um precedente perigoso.
Sentei-me em minha cadeira, encarando-os com uma alegria
inesperada. Havia algo de engraçado em como todas as críticas que eles
estavam guardando, acabaram sendo disparadas de uma forma
desesperada.
— O que quer que aquela garota tenha feito com você, — censurou
minha mãe, apontando o dedo para Sienna, — é o resultado de
motivações egoístas. Ela não se importa nem um pouco com a Matilha e
com esta família.
— Sua mãe e eu tentamos tirar você da bagunça que ela criou, mas
você simplesmente mergulhou de cabeça dentro dela. Diga alguma coisa,
inferno.
Eu contemplei as duas figuras fumegantes na minha frente.
Nada que eles pudessem fazer ou dizer me deixaria tão feliz quanto
Sienna.
Nada que eles pudessem fornecer me faria sentir tão completo
quanto eu me sentia quando estava com ela.
— Mãe. pai, desde que vocês chegaram aqui, deixaram uma coisa bem
clara para mim: sua prioridade sempre será proteger o legado de nossa
família. Achei que isso poderia ter mudado quando mamãe ofereceu
aquele almoço, mas estava claramente enganado.
— Vocês estão tão envolvidos com o que é melhor para a família que
não têm ideia do que significa ser família. Sienna é minha companheira.
Ponto final. Fim da história.
— Não há mais ninguém neste mundo com quem eu queira viver. E
nada vai comprometer nossa parceria. Nem vocês, nem a matilha, e
certamente nem se tivermos filhos ou quando tivermos.
— Não espero que vocês entendam, então direi de outra forma: Eu
não quero ver nenhum de vocês mais.
O rosto de meu pai ficou sério e ele apertou a mandíbula. Eu não me
importei se ele estava chateado. Ele mesmo havia causado isso; ambos
tinham.
— Entendo perfeitamente, — disse Daniel, colocando as mãos nos
ombros de minha mãe. — Estou feliz que Aaron não está por perto para
ver que tipo de lobo você se tornou.
Os olhos da minha mãe lacrimejaram enquanto ela me olhava
incrédula, balançando a cabeça. — Addy... Aí, Addy. Estou tão
desapontada.
Eles deixaram a sala rapidamente, mas fizeram questão de fechar a
porta atrás deles com um barulho frio e sem cerimônia.
Qualquer gota de culpa que eu pensei que pudesse ter falhou em se
materializar. A tentativa de meu pai de usar a morte de Aaron em seu
benefício apenas tornou a decisão mais fácil.
Voltei minha atenção para Sienna, que, pela primeira vez na memória
recente, estava sem palavras.
— Eu não fiz isso apenas por você, — eu disse, desconfortável com o
silêncio dela. — Já faz muito tempo que preciso enfrentá-los.
Sienna caminhou em minha direção e deslizou a mão em volta da
minha cintura, puxando-me para um beijo apaixonado. Fechei meus
olhos e me perdi em seu abraço.
Sienna

Eu senti seu cheiro enquanto nossos lábios se apertavam em uma fricção


feroz.
Eu me afastei, ainda saboreando seu sabor.
Eu estava pronta para cumprir minha promessa. Eu raspei sua
bochecha com meus dedos, deixando meu polegar descansar em seus
lábios escuros e deliciosos.
Ele abriu os olhos, silenciosamente implorando para libertá-lo dessa
agonia.
Ele cedeu. Eu não precisava ouvi-lo dizer isso. Nós dois sabíamos.
Pressionei meu polegar em seus lábios e ele o deixou mergulhar em
sua boca. Sua língua quente engolfou meu dedo, enviando tremores pelo
meu corpo.
Senti meus mamilos endurecerem e todo o meu corpo começou a
formigar. Minha visão ficou turva e senti minhas pernas cederem.
Quando desabei, senti seus braços fortes me envolverem, me
puxando com força contra seu corpo esculpido.
Cada centímetro de mim estava gritando por ele, e meu sexo doía em
antecipação.
Ele passou a mão pelo meu cabelo, em seguida, puxou minha cabeça
para o lado, expondo meu pescoço nu. Eu engasguei quando seus dentes
morderam minha pele e sua boca massageava a dor.
Eu me perdi no êxtase do toque de Aiden, rasgando sua camisa e
espalhando os botões pelo chão.
— É agora ou nunca, — ordenei.
Aiden nunca teve problemas em seguir ordens desse tipo.
Ele agarrou a parte inferior da minha blusa e puxou pela minha
cabeça. Tirando sua própria camisa, ele me ergueu sobre a mesa de modo
que minhas pernas pendessem para o lado, montando nele.
— Anda logo — eu gemi.
— Paciência. Quem espera sempre alcança.
— Foda-se, — eu protestei.
Uma de suas mãos agarrou minha perna e a outra puxou minha
calcinha para o lado. Ele se abaixou e pairou sua boca acima do meu sexo,
seu hálito quente batendo contra a superfície.
Fechei meus olhos, esperando, ansiando.
Eu não aguentava mais. Eu o queria dentro de mim.
Agarrando-o pelos cabelos, puxei sua cabeça para trás para que
travássemos os olhos.
— Venha aqui e me foda.
Sem dizer uma palavra, ele tirou as calças e subiu na mesa. Ela rangeu
sob seu peso, mas não importava se ela desmoronasse embaixo de nós.
Ele agarrou minha mão e a prendeu na minha cabeça. Antes que eu
pudesse protestar, o senti afundar em mim. A respiração voou para fora
dos meus pulmões e minha boca se abriu, ofegando por ar.
Suas estocadas poderosas me sacudiram e eu afundei meus dentes em
seu ombro para não gritar.
Eu podia sentir ele ficando mais duro dentro de mim, e eu sabia que
ele iria gozar.
Os golpes de Aiden ficaram cada vez mais rápidos enquanto nós dois
crescíamos em um orgasmo atômico que parecia que iria me dividir em
dois. Aiden rugiu quando chegou ao clímax, e eu gritei de tanto prazer.
Depois de me recompor, olhei para seu rosto suado e afastei o cabelo
grudado em sua testa.
Eu não podia acreditar que este homem lindo e sensível era meu
companheiro, e eu não via a hora de passar o resto da minha vida com
ele.
Capítulo 12
PÂNICO NO PARAÍSO
Sienna

O encontro na câmara do conselho ajudou Aiden e eu a redefinir nossa


comunicação. Depois que seus pais fizeram as malas e deixaram a cidade,
passamos a semana seguinte reacendendo a paixão que tínhamos antes
de todo o drama do festival.
Deixamos nossas Brumas correr soltas, fazendo amor em todos os
lugares que podíamos. Realmente parecia que tinha meu companheiro
de volta.
Uma coisa era certa; não podíamos usar sexo para resolver discussões.
Não apenas porque éramos loucos um pelo outro, mas não
funcionou. Isso só fez Aiden e eu nos ressentirmos.
Toda a experiência com o festival e os pais de Aiden realmente me
forçou a crescer.
Seguindo em frente, se tivéssemos uma diferença de opinião, o
consenso teria que vir de uma compreensão verdadeira e a mudança
tinha que vir do coração. Nada de ameaças maldosas.
Aiden tinha saído cedo, mas eu escolhi dormir. Meu corpo ainda
estava dolorido das atividades da noite anterior.
Eu comecei a adormecer novamente quando o som do meu telefone
me acordou de repente.

Aiden: Acorda, dorminhoca

Sienna: Você não me beijou quando saiu


Sienna: Maldade 😒

Aiden: Você estava tão relaxada

Aiden: Além disso, sei como você fica quando acorda

Aiden: 😈 (emoji de diabo)

Sienna: Experimenta

Aiden: Claro. Adoro te experimentar 😋(emoji de língua)

Sienna: Não é o que eu quis dizer, idiota rs

Aiden: Vem logo, minha linda

Sienna: Quem espera, sempre alcança...

Aiden: emoji
Sienna: Não me faça voltar com a castidade

As mensagens de Aiden me deixaram com vontade de tomar uma


dose matinal de Bruma. Definitivamente não havia como voltar a dormir
agora.
Ele iria se ver comigo. Eu ia garantir isso.
Saí da cama e fui ao banheiro escovar os dentes. Eu olhei para o
relógio digital na prateleira. Eram quase dez e meia.
Você precisa ir para a cama cedo esta noite, garota.
Cuspi minha pasta de dente e estava limpando minha boca quando
olhei para o relógio novamente e o horror tomou conta de mim.
A data. Isso estava certo? Não pode ser. Fui para o quarto e peguei
meu telefone. A mesma data apareceu na minha tela de bloqueio.
Meu estômago embrulhou e uma onda de pânico tomou conta de
mim.
Minha menstruação estava atrasada.

Sienna: Você estará no seu escritório?

Jocelyn: Sienna, posso ir agora mesmo se precisar de mim

Sienna: Não, não se preocupa

Sienna: Não é uma emergência


Sienna: Só é meio pessoal, só isso

Jocelyn: Ok, se você diz

Jocelyn: Vejo você às 2 então! bjs

Sienna: Eu preciso pedir um favor

Jocelyn: Claro, o que é?

Sienna: Podemos falar pessoalmente?

Jocelyn: Estou livre depois das 2

Jocelyn: Quer passar aqui?

Sienna: Sim

Sienna: Você estará no seu escritório?


Jocelyn: Sim

Essa era a verdadeira beleza de Jocelyn. Ela podia olhar através do


exterior das pessoas e focar no que eles estavam passando por dentro.
Naquele momento, enquanto eu estava do lado de fora da porta de
seu escritório, eu precisava de seus serviços em dobro. Eu tinha muita
coisa na cabeça que precisava botar para fora, e também precisava que ela
visse se alguma criaturinha havia pegado uma carona dentro de mim.
A porta se abriu e o cheiro reconfortante de incenso e jasmim fluiu
em minhas narinas.
A ansiedade que tomou conta de mim durante toda a manhã
começou a se dissipar quando Jocelyn pegou minhas duas mãos nas dela
e olhou para mim com seus olhos cor de avelã esfumaçados, procurando
o que poderia estar me incomodando.
— O que te traz a mim, deusa? — ela perguntou, me conduzindo para
dentro. — Suas mensagens me preocuparam.
Certifiquei-me de que a porta estava fechada antes de dizer a ela o
motivo da minha visita.
— Minha menstruação atrasou, Jocelyn.
— Por quantos dias? A Bruma pode atrapalhar às vezes.
— Estou seis dias atrasada.
Jocelyn ficou quieta por um momento, então me convidou para
sentar no sofá. — Eu estou supondo que você e Aiden fizeram sexo
recentemente.
Eu dei a ela um olhar como se dissesse: Mentira, menina!
— Ei, eu tenho que fazer essas perguntas, — ela respondeu, sorrindo.
— Estou feliz em saber que vocês dois conseguiram consertar as coisas.
— Eu também. Quero dizer, estou feliz por Aiden ter progredido em
toda a questão da família, mas posso dizer que é difícil para ele. Ele ainda
tem que lutar contra a vontade de brigar comigo às vezes.
— Na verdade, sinto que há mais pressão agora porque ele é muito
compreensivo. Eu quero dar a ele o que ele quer, mas ainda tem toda
aquela história sobre meus pais biológicos atrapalhando.
— Claro, — respondeu Jocelyn, — você não é a primeira loba que veio
até mim se sentindo pressionada a começar uma família. O vínculo de
acasalamento é uma coisa linda, e quando acontece pela primeira vez,
ambos os parceiros chegam a um pico de felicidade.
— E depois?
— Depois os casais às vezes podem discordar sobre como manter essa
emoção. Um pode levar alguns anos para se ajustar ao acasalamento
antes de começar uma família, enquanto o outro vê os filhos como uma
nova aventura maravilhosa.
— E em alguns casos, um deles pode não querer filhotes de jeito
nenhum. O que estou tentando dizer é que os dois querem o melhor para
o relacionamento, mas podem não concordar sobre o que é.
— Eu quero começar uma família com Aiden, Jocelyn, eu quero de
verdade. Ele vai conseguir o que quer. Eu só me sinto culpada por estar
esperando o momento certo.
— Você não deveria. Aiden não está tentando enganar você.
— Eu sei, — eu disse, me sentindo estúpida por ter sugerido que era
esse o caso.
— Então, o que acontece com seus pais biológicos que você quer
saber? Se eles realmente são o único obstáculo à sua frente, o que lhe
daria a paz de espírito que você está procurando?
Eu tinha pensado na pergunta de Jocelyn mil vezes na semana
anterior. Havia muito que eu queria saber sobre eles, mas tudo se
resumia a uma pergunta.
— Eu quero saber por que eles fizeram aquilo, Jocelyn. Preciso saber
por que eles me abandonaram naquela carruagem.
— E por que essa é a pergunta mais importante para você?
— Olhe para os pais de Aiden e como eles o abandonaram. Veja como
isso o deixou emocionalmente confuso e olhe para mim. Não consigo
nem me sentir confortável tendo filhos por causa dos meus problemas.
Se eu não descobrir por que eles me abandonaram, tenho medo de
acabar fazendo o mesmo.
— Sienna, você não vai abandonar seu filho, — respondeu Jocelyn,
apoiando a mão no meu joelho. — Ao mesmo tempo, não vou mentir
para você. Ser pai traz incertezas.
— É como qualquer outra decisão que você toma na vida. O resultado
nunca pode ser garantido. Então, se é isso que você está esperando, acho
que nunca se sentirá pronta para começar uma família.
Será que era isso? Eu estava usando meus pais como desculpa?
Mesmo se estivesse, não poderia evitar o fato de que a ideia de ter um
filho não parecia certa para mim. Não agora, pelo menos.
— Você acha que estou pronta? — Eu perguntei, captando o olhar de
Jocelyn.
— Você é a única que pode responder a essa pergunta, Sienna.
— Mas você me conhece, Jocelyn. E se eu estiver grávida? Preciso
saber se estou pronta.
— Está tudo bem se você não estiver, — ela disse de forma
tranquilizadora.
— É isso? E se minha mãe não estivesse pronta? E se for por isso que
ela me abandonou?
De repente, a ideia de ter um filho crescendo dentro de mim tornou-
se assustadora. E se foi assim que minha mãe ficou grávida de mim? Eu
ficaria com ele? O que eu diria a Aiden?
As coisas estavam começando a melhorar.
Tudo isso estava errado.
Parecia errado.
Eu deveria estar muito feliz por estar grávida. Mas por que eu estava
sentindo aterrorizada em vez disso?
Isso não era normal. Por que eu não podia simplesmente me sentir
feliz como deveria?
Comecei a hiperventilar.
— Calma, Sienna, — Jocelyn disse, esfregando minhas costas. —
Respire lentamente pela boca. Respire fundo, enchendo sua barriga.
— Não estou pronta, Jocelyn, não estou. Vou ter esse bebê e não estou
pronta.
— Você não precisa ter se não quiser, Sienna.
— O que você quer dizer? Eu não tenho escolha.
— Você sempre tem uma escolha. É o seu corpo.
Ela estava dizendo o que eu pensei que ela estava? Eu olhei em seus
olhos para ter certeza.
— Como eu disse, você não é a primeira loba que veio até mim sem
querer começar uma família. — Eu agarrei a mão de Jocelyn. Eu estava
pronta para que ela me contasse o que eu já havia me convencido de que
era verdade. — Diga-me se estou grávida, Jocelyn.
— Tudo bem, deite no sofá, — respondeu ela, colocando um
travesseiro atrás da minha cabeça. — Você precisa ficar quieta.
Observei enquanto Jocelyn levantava minha camisa e colocava as
mãos logo abaixo do meu umbigo. Suas mãos pareciam suaves e limpas
contra minha pele. Eu tremi, não acostumada a ser tocada tão
clinicamente.
— Tente não se mover, — ela repetiu, profundamente concentrada.
Senti a área sob suas mãos ficar dormente. Logo depois, um calor
desconfortável irradiou entre meus quadris.
Olhei para o teto, esperando que ela dissesse as palavras que eu temia,
mas sabia que viriam.
Fiquei lá pelo que pareceu uma eternidade, minha mente pensando
em tudo o que podia mudar na minha vida.
Eu odiava a Bruma, odiava o que ela tinha feito comigo, o quão fraca
eu tinha sido.
Quando percebi, Jocelyn estava enrolando minha camisa.
Ela olhou para mim e agarrou minha mão, seus olhos cheios de
emoção.
Capítulo 13
UM TEMPO A SÓS
Sienna

Não importa como eu me envolvia nos lençóis, eles se agarravam a mim


como uma centena de mãos indesejadas.
Mas quando os tirava, me sentia nua e com frio.
Eu vim direto para casa depois de deixar a casa de Jocelyn, na
esperança de encontrar conforto na minha cama. Mas tudo que eu fiz nas
últimas horas foi vagar a esmo.
Eu não conseguia afastar a preocupação de que alguma parte da
minha constituição biológica pudesse ter predeterminado meu fracasso
como mãe.
De repente, ouvi o carro de Aiden estacionar na garagem.
Eu não esperava que ele estivesse em casa até mais tarde. Eu não
queria que ele me visse reagindo dessa maneira.
E eu estava preocupada em não ser capaz de me comunicar direito
porque estava sentindo esse mal-estar.
Assim que ele abriu a porta, ele chamou meu nome.
— Estou aqui em cima, — gritei, tentando me recompor antes que ele
me visse.
Quando ele entrou na sala, olhei para ele e fiquei impressionada com
o quão escultural e bonito ele parecia.
Sua camisa de colarinho engomada se agarrava ao peito e se esticava
ao redor de seus braços, estreitando-se perfeitamente até a cintura fina.
Seus cabelos negros selvagens descansavam perfeitamente em cima de
sua cabeça, implorando para que eu corresse meus dedos por eles.
E o rosto dele, aquele rosto único que era tudo que eu queria ver
quando acordasse e antes de ir para a cama... E eu estava completamente
bagunçada, agarrada aos lençóis como uma criança.
— Você chegou em casa cedo, — eu disse, tentando mantê-lo no foco.
— Você não estava atendendo ao telefone. Jocelyn disse que você
poderia estar aqui.
— Eu precisava de um tempo sozinha. Me desculpe se preocupei você.
Aiden caminhou até a cama e se deitou ao meu lado, sua mão
poderosa pousando no meu quadril. — Diga-me o que há de errado,
Sienna.
Aquele era o momento. Eu tinha que ser honesta com ele.
— Minha menstruação atrasou.
Seu rosto ficou em branco por um momento antes de processar as
implicações. — Espere, você está dizendo que...
— Eu pensei que eu estava. Eu fui para Jocelyn. Ela não viu nada. Ela
disse que é a Bruma atrapalhando meu ciclo.
— Tem certeza? Quer dizer, talvez fosse muito pequeno para ela ver.
— Tenho certeza, Aiden.
A luz em seu rosto se apagou e ele olhou para o meu travesseiro.
Percebendo as manchas de lágrimas ali, ele disse: — Está tudo bem.
Você não precisa ficar chateada. Podemos tentar novamente.
— Não é por isso que estou chorando, Aiden. E se for minha culpa? E
se eu não for mãe? Você já desistiu de tanto por mim, eu não quero que
você tenha que sacrificar crianças também.
— Claro, adoraria ter filhos com você um dia. Mas você é a coisa mais
importante para mim. Além disso, acho que você está esquecendo que
somos companheiros, Sienna. Você está presa a mim para o resto da vida.
— Eu sei. E por isso que estou tão assustada, Aiden. E se houver algo
na minha família biológica que signifique que não posso ter filhos?
— Não faria diferença, Sienna — — respondeu ele, sentando-se. —
Você é minha principal prioridade. Achei que tinha deixado isso bem
claro.
Ele tinha, e eu sabia que era bobagem da minha parte pensar o
contrário.
— Sei que você está nervosa por ter filhos, mas não estará sozinha,
Sienna. Estou aqui; sua família está aqui. Honestamente, também estou
com medo, mas sei que mãe maravilhosa você será e que, juntos,
podemos resolver tudo.
Como ele poderia ter tanta certeza? Não havia como saber. Ele estava
apenas me dizendo o que eu queria ouvir para me acalmar?
Acho que ele percebeu a dúvida que pairava na minha expressão,
porque ele estendeu a mão para acariciar meu braço.
— Sienna, você não sabe o que levou seus pais a deixar você. Você
nem sabe se foi decisão deles.
Ele tinha razão. Eu meio que parti direto para a pior hipótese possível.
Eu simplesmente odiava sentir que estava decepcionando Aiden.
— Você tem razão. Sinto muito, — eu respondi.
Aiden deitou-se novamente e aninhou-se ao meu lado.
— Você não acha que eu sou como meus pais, acha? — ele perguntou.
— Claro que não! — Eu respondi, quase rindo de quão ridícula era
essa pergunta.
Claro, ele tinha a mesma testa severa de seu pai e o gênio forte de sua
mãe... mas Aiden não era nada parecido com seus pais.
— Então, veja, — disse ele, parecendo presunçoso, — não importa
quem são seus pais biológicos ou por que eles a deixaram. Você não é eles
e vai ser uma mãe incrível, não importa quando isso acontecer.
Eu rolei e beijei sua bochecha.
— Interessada em tentar isso agora? — disse ele, levantando uma
sobrancelha.
Eu bati nele de brincadeira. Ele sempre tinha que estragar um bom
momento com seus comentários pervertidos.
— Era um momento fofo! — Eu disse, rolando para o outro lado.
Por um tempo, apenas ficamos ali deitados, com os braços
pressionados um contra o outro.
Eu sabia que ele estava certo. Quem quer que fossem meus pais
biológicos, não definia quem eu era, ou que tipo de mãe eu seria.
Mas eu ainda sentia aquele espaço vazio em meu coração.
Eu ainda queria saber quem eles eram.
Nessa época do ano, as árvores do parque haviam perdido as folhas. Tudo
o que restou foram aglomerados de esqueletos finos amontoados para se
aquecer.
Enquanto estava sentada pintando no parque, também me senti nua.
Selene sempre me disse que relacionamentos exigem trabalho duro, mas
eu pensei que ela estava sendo dramática.
Ela e Jeremy eram constantemente felizes e agora, com o bebê a
caminho, eles teriam a família que sempre quiseram.
Eles esperaram, no entanto. Ela e Jeremy estavam casados há três
anos antes dela engravidar. Talvez isso fosse tudo de que eu precisava
para acalmar meus medos: um certo tempo para respirar.
Perdi-me nas pinceladas da minha aquarela. Foi relaxante ver os
pigmentos se misturarem e secarem.
Eu poderia escolher quais cores eu queria e os limites de onde elas se
espalhavam, mas sempre havia um grau de imprevisibilidade na forma
como elas se misturavam.
Eu nunca estaria totalmente no controle.
Mas a pintura ainda era linda.
Talvez eu precisasse ser mais parecida com minhas aquarelas.
Eu ainda podia ditar as coisas maiores, mas tinha que aceitar que
sempre haveria uma parte da minha vida que eu não conseguia controlar,
uma mistura de possibilidades.
A pintura à minha frente provou que nem sempre isso era ruim, que
poderia levar a belos resultados.
— Uau, seu trabalho é excelente, — disse uma voz atrás de mim.
Eu me virei, esperando ver um dos muitos aposentados que visitavam
o parque durante a semana, mas em vez disso estava um homem bonito e
bem-vestido.
Seu cabelo loiro-branco imaculado estava penteado para trás e seus
penetrantes olhos cinza quase me colocaram em transe.
Ele não podia ser muito mais velho do que Aiden, mas havia alguma
característica nele que me fez sentir como se ele já tivesse vivido uma
vida inteira.
— Perdoe minha intrusão, — disse ele, exibindo um sorriso arrojado.
— Eu estava passando e algo sobre a sua pintura me impressionou. Você
é uma profissional?
Este não foi o primeiro estranho a me elogiar, mas de alguma forma
seus comentários pareciam meio exagerados e propositais.
— Eu sou, — eu respondi. — Quer dizer, eu vendo algumas peças de
vez em quando.
— Mesmo? Onde posso ver mais do seu trabalho?
— Eu tenho uma galeria em que você pode passar.
— Eu adoraria, — ele respondeu calorosamente. — Este estará à
venda?
— Este? — Eu disse, corando. — Isso não é nada. Não é tão bom.
— Eu achei incrível, — ele comentou. — Meu nome é Konstantin, a
propósito.
— Sienna, — respondi.
— Sienna, que nome adorável, — disse ele, estendendo a mão
enluvada.
Eu estendi a mão e sacudi.
— Acabei de me mudar para a cidade e tenho um apartamento com
muitas paredes vazias. Eu adoraria marcar uma visita à sua galeria algum
dia.
— Aqui está meu cartão, — disse ele, colocando a mão no bolso do
casaco e tirando um pedaço de papel cartão branco e elegante com letras
em relevo. — Você encontrará meu número na parte inferior.
— Sim, claro, — respondi, sem saber o que fazer com seu intenso
interesse pelo meu trabalho.
— Bom. Estou ansioso para ver o resto de sua arte, se for como este
quadro.
Ele me deu um sorriso e saiu pelo caminho.
Havia algo estranho nele que eu não conseguia identificar, e isso me
fez querer saber mais.
Ele se portava de uma maneira tão refinada, mas também tinha um ar
misterioso.
Eu olhei para o cartão que ele me entregou e fiquei surpresa com o
que estava impresso lá:
Konstantin, Doutor em Psicologia, Terapeuta.
Especialização em conexão de mentes e mapeamento de memória.
Sem dúvidas, parecia impressionante.
Eu tracei a borda de seu cartão com meu dedo indicador, pensando
no que eu faria. Foi emocionante ter um cliente potencial interessado no
meu trabalho.
Mas havia algo estranho nele que eu não conseguia identificar...
Algo me diz que verei Konstantin novamente em breve.
Capítulo 14
ARTE NEBULOSA
Sienna: Bom dia, Konstantin, aqui é Sienna

Sienna: A artista do parque

Konstantin: Claro! Como você está?

Sienna: Estou bem, obrigada

Sienna: Ainda tem interesse em passar na


galeria?

Konstantin: Com certeza. Que horas é melhor para você?

Sienna: Hoje às 4?

Sienna: 1071 5th Ave


Konstantin: Perfeito. Até mais tarde, Sienna.

Sienna

Fiquei animada por conhecer um novo cliente, especialmente um com


bom gosto. Era uma boa distração de todos os meus pensamentos em
torno de meus pais biológicos.
Dito isso, eu ainda tinha que pôr em dia todas as tarefas
administrativas que havia atrasado, como a lista de caridade que Josh
sempre me pedia.
Ele era um cara muito legal fora do trabalho, mas quando se tratava
de negócios da Matilha, acho que ele levava seu trabalho um pouco a
sério demais.
Eu tinha acabado de revisar as propostas e estava prestes a começar a
minha lista quando senti um formigamento estranho na minha coxa.
Parecia um espasmo muscular, mas não me lembrava de ter batido
em nada no início do dia e não fazia exercícios havia mais de uma
semana.
Abaixei minha mão e comecei a massagear o local.
Ai, merda, então é isso.
O toque da minha mão contra a minha coxa desencadeou uma
explosão de prazer que se acumulou dentro do meu sexo e disparou pelo
meu núcleo e em meus seios, endurecendo meus mamilos e encurtando
minha respiração.
Porra, cadê o Aiden? Não importa, eu não tenho tempo.
Eu voei para fora do meu escritório e me dirigi para as escadas,
firmando-me contra a grade enquanto seguia para os banheiros do
porão. Não havia escritórios naquele andar e, a essa hora do dia, todos
haviam saído para almoçar.
Eu precisava de privacidade urgentemente, e esse era meu melhor
plano.
Eu pensei em resolver isso no meu escritório, mas eu estava exalando
hormônios, e toda a Matilha levaria dois segundos para saber o que
estava acontecendo atrás da minha porta.
O peso de cada passo foi ficando cada vez mais pesado, até que tive
certeza de que desabaria no chão.
Meu deus, essa escada ficou maior?
Eu tropecei no corredor e olhei para os dois lados do corredor de
mármore silencioso. A área estava limpa.
Naquela hora, minha pele estava em chamas, e todas as minhas partes
sensíveis estavam pulsando de tesão.
Encontrei o banheiro mais próximo e atravessei a porta.
— Olá?
Perfeito, não havia ninguém aqui e, pela aparência e cheiro das coisas,
todo o lugar tinha sido limpo há menos de uma hora.
Eu me esforcei para entrar na cabine mais próxima e a fechei, então
me esforcei para puxar meu vestido para cima e tirar minha calcinha do
caminho.
Merda, merda, merda.
Abrindo minhas pernas, mergulhei meus dedos profundamente em
meus lábios molhados e gemi na mesma hora.
Comecei a movimentar meus dedos para frente e para trás,
acariciando meu clitóris. Eu me segurei no vaso, massageando meus
seios e imaginando Aiden em cima de mim, empurrando para dentro,
seus lábios dançando em meu pescoço.
Fechando meus olhos, eu poderia jurar que comecei a sentir o cheiro
dele, seu almíscar flutuando em meu nariz, me excitando ainda mais. Eu
acelerei minha mão, esfregando-me desenfreadamente.
Isso! Porra! Isso!
— Eu sinto seu cheiro, mulher.
Minha mão parou. Prendi minha respiração. Aquilo era real?
Eu ouvi seus passos pesados se aproximando da porta.
— Você vai me deixar entrar?
— Você vai ter que assoprar e assoprar se quiser que a porta se abra.
— Muito bem.
Em um instante, a porta foi arrancada de suas dobradiças e diante de
mim estava Aiden, enorme, as veias saltando de seus braços.
— Você está atrasado. — eu disse em um tom sexy. — Espero que não
se importe por ter começado sem você.
Um sorriso malicioso se espalhou pelo rosto de Aiden. — Tenho
certeza de que posso encontrar algo que me satisfaça.
Ele se lançou para frente, mas eu fui mais rápida e o joguei contra a
parede do box.
Eu estava com muita vontade.
Abaixei-me e agarrei seu volume. — Vejo que você veio preparado.
— Isso é um problema?
— De jeito nenhum. — Eu puxei seu cabelo e pressionei meus lábios
contra os dele, prendendo seu lábio inferior entre meus dentes e
mordendo.
Senti seu aperto em mim mais forte enquanto ele sentia a dor. Ele
devolveu na mesma moeda mordendo meu pescoço. Soltei um gemido e
puxei sua cabeça para trás.
Agora era ele quem tinha me jogado contra a parede. Toda a estrutura
estremeceu com o impacto do meu corpo, mas não me importei.
Prazer e dor eram a mesma coisa para mim.
— Tire a camisa, — eu ordenei, e enquanto Aiden a puxava pela
cabeça, eu caí de joelhos e desafivelei seu cinto.
Eu já podia ver sua ereção lutando contra suas calças, esperando que
eu a libertasse.
Ele puxou minha cabeça para trás pelo meu cabelo, enquanto eu
tirava sua calça e cueca. Eu o agarrei pela base e coloquei sua ponta
contra meus lábios. A respiração de Aiden estremeceu e eu o senti
enrijecer ainda mais em minha mão.
Eu o provoquei com minha língua, correndo ao longo de seu mastro,
deliciando-me em como seu rosto se contraiu sob a tortura.
Então eu coloquei tudo em minha boca, deslizando meus lábios para
frente e para trás enquanto acariciava com minha mão.
É
— Caralho, Sienna. É assim mesmo.
Eu adorava quando ele mostrava que estava gostando, mas não o
deixaria terminar. Eu ainda precisava dele para outras atividades.
Eu me levantei e lambi seu rosto. Ele rosnou e me empurrou de volta
para a cabine.
Ele me levantou no corrimão e deslizou a mão entre minhas pernas.
Apoiei um pé contra o vaso sanitário enquanto ele enterrava seus dedos
profundamente dentro de mim. Soltei um suspiro quando ele começou a
balançá-los para dentro e para fora.
— Mais forte, — eu sussurrei em seu ouvido.
Eu estava ficando tão molhada que mal podia sentir seus dedos
deslizando dentro de mim.
Aiden pegou o ritmo, pressionando seus dedos firmemente contra as
paredes do meu sexo enquanto seu braço inteiro balançava para frente e
para trás.
Cada vez que sua palma batia contra meu clitóris, eu deixava escapar
um grito de alegria.
Eu agarrei sua garganta.
Ele não vacilou.
Eu apertei com mais força.
— Isso é tudo que você tem? — ele gritou.
Enfurecida com o desafio de Aiden, eu empurrei seus dedos para fora
de mim e o joguei na tampa do vaso sanitário.
Eu joguei minha perna sobre seu colo, então eu estava montada nele e
me agarrei aos corrimãos que ficavam nas laterais da cabine. Comecei a
balançar meus quadris, esfregando meu sexo molhado contra o dele.
A cabine inteira começou a tremer e eu tinha certeza de que a parede
iria cair.
Ele estava muito dentro de mim, nunca tinha estado tão profundo
antes. Meus músculos se contraíram enquanto eu me sentia cada vez
mais perto de gozar.
Os dedos de Aiden cravaram em meus lados, e eu sabia que ele não
estava muito longe também.
A pressão continuou a crescer dentro de mim, fervendo pelo meu
corpo.
Meu coração disparou e senti minha pele começar a formigar.
Eu o montei ainda mais forte, jogando todo o meu peso contra ele em
uma fúria estúpida.
— Aiden, não pare. Não pare!
O orgasmo me rasgou como um raio.
Meus braços se transformaram em geleia e eu desabei sobre meu
companheiro.
Aiden saiu com um grunhido e disparou seu fluido quente na minha
coxa.
Ele pressionou seus lábios macios contra os meus e eu segurei seu
beijo, não querendo que acabasse.
Nós dois ficamos sentados ali, ofegantes, o suor escorrendo de nossos
corpos exaustos.
Aiden colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e sorriu.
— Devemos voltar ao trabalho.
— Claro, — eu respondi, deslizando para fora dele. — Eu não gostaria
de privar a Matilha de seu alfa. Vejo você mais tarde esta noite.
Eu dei um último beijo em sua bochecha e puxei meu vestido, então
olhei no espelho e ri.
Eu definitivamente precisava ir para casa e me limpar antes de
encontrar Konstantin na galeria.

Eu ainda estava organizando pinturas na parede quando ele entrou


vestindo um sobretudo azul-marinho elegante e um Fedora cor de
carvão.
Cada vez que eu o via, ele parecia ter acabado de sair de um catálogo
caro de roupas masculinas.
— Não cheguei cedo demais, certo?
— Não, de forma alguma. Estou atrasada. Por favor, entre.
Sua colônia cheirava a rosas e especiarias e tinha um odor quase
inebriante.
Eu não sabia o que este homem tinha, mas ele não era como a maioria
dos lobisomens que eu conhecia. Na verdade, eu nem tinha certeza se ele
era um lobisomem.
— Este seu pequeno espaço é adorável.
— Obrigado, foi um presente do meu companheiro.
— Sim, ouvi falar dele. O estimado alfa.
Bem, parece que ele está por dentro do mundo dos lobisomens...
— Como você...
— Você esteve em todas as notícias. A menos que eu esteja lendo
sobre sua irmã gêmea.
Claro, o que eu estava pensando? Eu tinha me desligado tanto
daquela zona que tinha esquecido que os jornais e blogs ainda estavam se
recuperando da coletiva de imprensa de Aiden.
Ser instantaneamente reconhecida era algo com o qual ainda
precisava me acostumar.
— Deve ser difícil, — disse ele, lançando-me um olhar simpático. —
Ter seu histórico familiar examinado, ser desprezada, liderar uma
Matilha sendo tão jovem; é demais para uma pessoa só.
De repente, lembrei-me de que o cartão de Konstantin dizia que ele
era psicólogo e eu estava começando a me sentir meio examinada.
Eu queria mudar de assunto.
Mesmo que sua análise estivesse certa.
— Eu tento ignorar os tabloides, — eu disse, evitando contato visual.
Ele deve ter percebido meu desconforto com o assunto porque não o
forçou mais.
— Você administra este lugar por conta própria? — ele perguntou.
— Por enquanto, — respondi. — Talvez se eu começar a dedicar mais
tempo, eu contrate ajudantes. Agora é uma espécie de santuário pessoal.
— Adorável, — ele respondeu, começando a caminhar ao longo da
parede.
— Então, que tipo de peças você está procurando?
— Como mencionei no parque, tenho uma cobertura que preciso
decorar e estou procurando algumas peças de destaque, — respondeu ele,
tirando o casaco e o chapéu para revelar um terno preto ajustado.
Ele se aproximou de mim e começou a inspecionar as telas que eu
acabara de pendurar na parede.
— Você está procurando uma natureza-morta ou uma paisagem? —
Eu perguntei.
— Espero algo mais abstrato. Provocante. Assim, — disse ele,
apontando para uma pintura no canto posterior da galeria.
Fiquei surpresa com sua escolha.
A pintura era uma que eu tinha feito há algum tempo: uma linda
mulher etérea com cabelos negros e olhos roxos assustadores.
Eve.
Eu não a via desde aquela noite, mais de um ano atrás, quando ela
passou na minha galeria. Eu não conseguia nem me lembrar do que
tínhamos falado.
— Por que esse aqui? — Eu perguntei.
Ele acariciou o queixo ao se aproximar da pintura e ficar na frente
dela.
— Ela fala comigo, — ele respondeu enigmaticamente. — Acho que
consigo ver um pouco de mim mesmo nela.
Eve era a pessoa mais misteriosa que eu já conheci, então isso me
deixou ainda mais curiosa.
— Como assim?
Konstantin se virou para mim e sorriu. Quando vi seus dentes,
engasguei.
Presas.
— Pode-se dizer que há uma espécie de relação de sangue entre nós.
— Você... você é... um... — gaguejei.
Os olhos cinzentos de Konstantin brilharam entusiasmados.
— Eu sou um vampiro.
Capítulo 15
O ELEVADOR DO ÊXTASE
Sienna

Fiquei parada na minha galeria, boquiaberta, enquanto Konstantin


reprimia uma risada.
De repente, todas as peças daquele misterioso quebra-cabeça se
encaixaram no lugar.
Seu comportamento atemporal...
Seu senso de estilo...
Seu nível de intuição quase psíquico...
Konstantin era um VAMPYRO.
— Vejo que deixei você sem palavras, — disse ele, incapaz de conter a
risada por mais tempo.
Corei, me sentindo uma tola.
— Desculpe, eu só... nunca conheci ninguém como você antes, — eu
respondi.
Konstantin olhou para trás, para a pintura de Eve. — Você tem
certeza disso?
— Espere, você quer dizer... ela era uma vampira também?
Isso certamente explicaria muita coisa...
Konstantin assentiu. — Sim, mas ela é uma vampira com um i, não
um y como eu.
— Qual é a diferença? — Eu perguntei, percebendo que não sabia
quase nada sobre o mundo fora da minha bolha de lobisomem.
— Os vampiros nascem com o gene, enquanto os vampyros são
transformados por vampiros, — explicou ele.
— Então alguém transformou você, — eu disse, pensando em longas
presas afundando em meu pescoço.
Eu imaginei que fosse uma experiência muito diferente de ser
marcada por seu companheiro.
Konstantin sorriu melancolicamente. — Há muito tempo.
Eu estava morrendo de vontade de saber quantos anos ele tinha, mas
não tive coragem de perguntar. Eu não conhecia a etiqueta dos vampiros,
e poderia ser uma pergunta rude.
Ainda assim, eu tinha muitas outras perguntas a fazer.
— O que te trouxe aqui?
Os olhos cinzentos de Konstantin quase pareceram prateados por um
momento, pois brilharam com intensidade. Ele parecia estar
considerando a resposta à minha pergunta, mas então ele finalmente
falou.
— Estou abrindo meu consultório aqui, — disse ele. — Viajei por todo
o mundo em busca de conhecimento e agora só quero ajudar outras
pessoas a encontrar o que procuram.
Ah, certo... Eu sempre esqueço que ele é um médico.
— Eu uso meus poderes para o bem, — disse Konstantin. — Eu posso
desbloquear coisas na mente das pessoas que elas nem sabiam que
estavam lá. Posso agendar uma sessão com você, se desejar.
Meu coração começou a bater mais rápido.
Havia tanto sobre meu próprio passado que eu ainda não sabia.
Tantas perguntas pairando sobre a minha cabeça. De onde e de quem
eu vim.
Será que Konstantin poderia me ajudar a descobrir as respostas?

Deitei na cama olhando para o teto. Não conseguia parar de pensar na


minha conversa com Konstantin ontem.
Ele se ofereceu para me ajudar a resolver meus problemas como meu
terapeuta, mas eu estava meio insegura.
Eu nunca tinha pensado em fazer terapia.
Mas Konstantin não era um terapeuta comum...
Será que ele realmente poderia me ajudar a encontrar as respostas
que eu estava procurando?
Suspirei, tirando as cobertas e saindo da cama. Eu precisava me
preparar para uma reunião da matilha.
Coloquei meu vestido da noite anterior, que estava largado no chão, e
puxei-o sobre o meu corpo. Aiden entrou exatamente quando eu estava
fechando o zíper.
Ele se aproximou de mim por trás e puxou o zíper de volta para baixo.
— Aiden, — eu disse em tom de censura. — É um milagre eu
conseguir me arrumar tendo você como meu companheiro.
Ele puxou a parte de cima do meu vestido para baixo e eu deixei meus
braços caírem nas mangas.
— Não vamos nos atrasar para a reunião?
— Eles podem esperar, — disse ele, colocando as mãos sobre meus
seios expostos. Eu não estava usando sutiã, e a sensação de suas mãos
quentes contra meu corpo acendeu minha Bruma.
Seus dedos brincaram com meus mamilos, circulando-os, esfregando-
os.
Senti minha pele sendo apertada e o calor envolvente da Bruma
começou a me dominar.
Aiden trancou sua boca na minha e deixou nossas línguas dançarem
uma com a outra. Ele começou a me levar em direção à nossa cama.
Não tínhamos tempo para isso, mas meu corpo não deu a mínima
para o que eu estava pensando.
— Nós vamos nos atrasar, — eu disse novamente.
— Vai ser rápido, — respondeu ele, apertando minha bunda.
Meu vestido caiu no chão formando uma pilha novamente, e eu
estava de volta ao ponto de partida.
Em um movimento rápido, ele me empurrou para a cama e me
prendeu sob seu corpo. Senti o peso de seus quadris pressionando contra
meu sexo.
Ele colocou sua boca em meus seios, sugando suavemente meus
mamilos. Eu gemi em êxtase.
Meu deus, por que a Bruma sempre me faz perder a cabeça?
Envolvi minhas pernas em torno de Aiden enquanto ele distribuía
beijos pelo meu abdômen até chegar ao meu sexo.
Sua língua me lambeu e eu ficava mais molhada a cada segundo.
Então seus dedos começaram a brincar com meu clitóris e meu corpo
parecia que estava voando através das nuvens.
— Aiden... nós... temos... que... ir. — Eu mal conseguia falar entre
meus gemidos incontroláveis de prazer.
Ele finalmente afastou o rosto do meu sexo e olhou para mim.
— Amor, quando a Bruma chega, não dá para ignorar.
— Olha, a Bruma vai ter que esperar desta vez porque eu realmente
quero levar meus deveres a sério, — eu disse. — A matilha está
finalmente começando a confiar em mim, e eu não quero perder isso.
Aiden suspirou, sentando-se e apertando minha coxa com ternura. —
Certo. Mas não diga que não te avisei.
Aiden

Eu não gostava dessas reuniões inúteis. Eu preferia agradar minha


companheira.
Josh, no entanto, insistiu nessas recapitulações semanais, onde todos
no conselho atualizavam uns aos outros sobre o que haviam conquistado
durante a semana e mencionavam todos os tópicos que gostariam de
discutir com o grupo.
Eles eram normalmente monótonos e não tinham muito valor para
mim, e era por isso que eu não ligava se Sienna e eu estivéssemos alguns
minutos atrasados.
Eu os tolerava porque podia sentir que Josh estava tentando provar a
si mesmo.
Essas reuniões deram a ele um pouco de controle — algo que ele
poderia possuir.
Eu não agi com nenhuma má vontade. Suas motivações faziam
sentido.
Por grande parte de nossas vidas, ele era aquele a quem eu recorria
quando precisava de um conselho ou de alguém com quem desabafar.
Mas isso mudou no ano passado, quando ele me traiu.
Agora eu tinha Sienna para preencher esse papel e percebi que às
vezes ele se sentia posto de lado.
— Sienna, você terminou a lista de caridade? — questionou Josh,
erguendo os olhos da planilha.
Por todos nós, Sienna. Por favor, diga sim.
— Eu estava prestes a mandar para você, acabei me distraindo. Mas
está praticamente pronta. Amanhã cedo eu te entrego.
— O que te distraiu? — perguntou Josh.
Sienna corou e me lançou um olhar tímido. — Não me lembro
exatamente.
— Tudo bem. Consegue enviá-la hoje antes de sair?
— Claro.
— Se você precisar de ajuda para colocar em dia qualquer coisa, é só
me avisar e eu te ajudarei.
— Combinado. Josh. Obrigada.
Eu tinha que dar o braço a torcer. Sienna havia aprendido a
ambiguidade passivo-agressiva da Casa da Matilha mais rápido do que o
esperado. Era estranhamente atraente, na verdade.
— Terminou, Josh? — Eu perguntei, tentando acelerar as coisas para
que eu pudesse levar Sienna para casa e continuar de onde paramos.
— Sim, não tenho mais nada na minha lista, a menos que alguém
tenha outros tópicos, — respondeu ele, olhando em volta. — Ótimo,
nesse caso, reunião encerrada.
Josh

Achei que estava sendo bastante razoável, mas Sienna me irritou. Eu não
sabia como ser mais legal.
Eu dei a ela uma saída fácil. Por que ela não aceitou?
Era como se ela não levasse sua posição a sério.
Uma posição que costumava ser preenchida por mim.
Eu precisava de Michelle. Ela sempre soube como me acalmar quando
eu ficava assim.

Josh: Ela ainda não tinha terminado a lista


😠(emoji de raiva)

Michelle: Ah, relaxa rs

Josh: Foi mal, eu precisava desabafar

Josh: É como se Aiden nem se importasse

Josh: Eu tô dando o maior duro e ela não


consegue fazer uma lista

Michelle: Muita coisa rolou com ela nos últimos meses

Josh: Eu sei, mas ela é a LUNA

Josh: Aparentemente, Aiden quer que ela


seja sua nova beta também...
Josh: Eu gostaria que ele apenas dissesse

Michelle: você não foi o único que teve que se ajustar

Michelle: Si sempre foi quietinha, mas agora tá famosinha

Michelle: Eu basicamente vivo na sombra dela

Josh: Isso não é verdade

Josh: Você sempre será meu raio de sol

Michelle: para de graça

Josh: Você adora

Michelle: Vem logo pra casa. Eu tenho uma surpresa para você

Sienna

Eu não conseguia acreditar que estava fazendo isso. Josh não iria nem
olhar para isso até de manhã.
Na verdade, pelo jeito que ele estava me importunando, eu não tinha
tanta certeza. Ele realmente se importava em doar para instituições de
caridade ou estava tentando me dar uma bronca na frente de todos.
Tudo porque ele errou e estava tentando fazer as pazes.
Antes de Aiden e eu termos acasalado. Josh e eu já estávamos meio
brigados. Eu o achava um idiota, e ele me achava uma cabeça de vento.
Mas depois que passamos mais tempo juntos, aprendemos a tolerar
um ao outro. Quer dizer, nós fomos obrigados a isso.
Josh não era apenas o melhor amigo de Aiden, mas também estava
acasalado com minha melhor amiga, Michelle. Em outras palavras,
nossos relacionamentos pessoais dependiam de nós dois nos darmos
bem.
E Josh não entendia que eu estava lidando com muitas dúvidas e
inseguranças.
Ninguém entendeu, realmente — eu incluída.
Eu estava dando o meu melhor para ser uma boa Luna, mas precisava
começar a aceitar ajuda.
Razão pela qual decidi que precisava finalmente confrontar meus
problemas em vez de varrê-los para debaixo do tapete.

Sienna: Oi Konstantin

Sienna: Sua oferta de agendarmos uma


consulta ainda está de pé?

Konstantin: Claro!
Konstantin: Quando você pode?

Sienna: Você está livre agora?

Dentro do elevador, pressionei o botão da cobertura.


A julgar pelo hotel, o apartamento de Konstantin deveria ser mais
luxuoso do que eu imaginava.
Quando o elevador começou a subir, comecei a sentir uma sensação
de formigamento nas coxas.
Será que eu estava nervosa por causa da minha primeira sessão de
terapia?
Você consegue, Sienna. Não há nada com que se preocupar
Além, é claro, do calor lento que começou a me derreter enquanto
rastejava pelo meu corpo. Meu estômago tremia e eu estava com
dificuldade para respirar.
O rosto de Aiden brilhou diante de mim e eu o senti. Senti suas mãos
acariciando meu pescoço, meus seios, minha barriga... meu sexo.
Que porra é essa?
O elevador continuou subindo, chegando cada vez mais perto do
apartamento de Konstantin.
Para meu horror, meu corpo abraçou o toque fantasma de Aiden.
Comecei a transpirar e me senti à disposição de suas carícias. Seu
cheiro encheu meu nariz e seu rosto preencheu minha imaginação. Eu
não pude escapar disso. Eu não queria escapar disso.
Eu estava queimando em minhas roupas. Se eu não as tirasse, iria
sufocar.
Eu desabotoei minha blusa enquanto desabava no chão, ofegando por
ar.
As pontas dos dedos de Aiden dançaram ao longo da minha coxa e
traçaram o lado de fora dos meus lábios.
Eu estava ficando louca de desejo e não conseguia parar o que estava
acontecendo.
Aiden estava certo antes...
Quando a Bruma chega, não dá para ignorar.
E agora minha Bruma estava ainda mais forte do que antes.
Tentei apertar minhas pernas o mais forte que pude, lutando contra a
sensação do toque de Aiden, mas minha calcinha estava ficando
molhada.
O fogo estava ameaçando me consumir, e eu precisava de um alívio
antes que eu explodisse.
Aqui não! Agora não, cacete!
DING!
Ai, meu deus...
O elevador chegou ao último andar e as portas se abriram.
E Konstantin estava bem na minha frente.
Capítulo 16
PERGUNTAS
Sienna

Eu estava sentada no chão do elevador, minhas pernas abertas, a blusa


desabotoada, o suor escorrendo pelo meu peito e em meu decote.
E meu novo terapeuta estava parado ali na minha frente,
completamente confuso.
Tem como estar mais desesperada do que isso?
— Sienna... você está bem? — ele perguntou.
Eu me levantei, tentando ignorar as ondas de prazer implacáveis que
ainda estavam me balançando.
— Estou bem, — eu disse rapidamente. — Posso usar seu banheiro?
Mantenha a calma!
— Claro, fica no final do corredor, à esquerda, — respondeu ele, ainda
parecendo preocupado.
Passei por ele imediatamente, mas cada passo me deixava mais tonta.
Concentre-se em outra coisa!
A entrada da cobertura era adornada com estátuas de mármore grego,
que pareciam ter sido realmente importadas do Partenon.
Na verdade, todo o seu apartamento estava repleto de arte rara de
diferentes épocas ao longo do tempo.
Como ele conseguiu tudo isso?
Acho que ser um vampiro tem suas vantagens.
Virei à esquerda no final do corredor e dei de cara com o banheiro.
Depois de entrar, fechei a porta e tranquei-a.
A Bruma se espalhou por cada centímetro do meu corpo, me fazendo
desistir.
Eu precisava de Aiden ao meu lado. Eu precisava de Aiden — dentro
de mim.
Era difícil demais aguentar.
Eu deslizei para o chão e respirei fundo.
Tudo que eu queria fazer era mergulhar meus dedos no meu sexo e
fazer ali mesmo, mas resisti.
1, 2, 3... e respira.
1, 2, 3... e respira.
1, 2, 3... e...
A Bruma finalmente começou a diminuir e, com ela, minha
ansiedade.
Meu corpo parecia que tinha acabado de retornar da guerra — uma
guerra que quase perdeu.
Essa é a ÚLTIMA vez que vou adiar o sexo durante a temporada.
Eu vim aqui para fazer terapia, não para criar mais razões para
precisar dela.
Konstantin deve achar que sou louca.
Levantei-me e endireitei minhas roupas enquanto caminhava até o
espelho. Eu estava completamente bagunçada.
Eu rapidamente abotoei minha camisa e amarrei meu cabelo em um
rabo de cavalo.
Dá pro gasto.
Eu destranquei a porta e voltei para o corredor. Eu vi Konstantin
sentado no que parecia ser um escritório. Era tão impressionante quanto
sua entrada.
Quadros e artefatos adornavam as paredes. Os móveis pareciam ter
vindo do Palácio de Buckingham. As prateleiras estavam cheias de
centenas de livros grossos.
— Você realmente leu tudo isso? — Eu perguntei, entrando no
escritório e passando meu dedo pelas lombadas do livro.
— Sou mais velho do que pareço, — disse ele com uma risada. — Tive
muito tempo.
Konstantin apontou para uma cadeira em frente a ele e eu me sentei.
— Você está... melhor? — ele perguntou hesitante.
— Sim, é que eu precisava muito fazer xixi, — eu respondi, tentando
me esquivar.
Konstantin sorriu para mim e juntou os dedos. — Desculpe pela
inconveniência. Eu não tive a chance de montar meu escritório ainda,
então estou conduzindo minhas sessões em casa por enquanto.
— Não precisa se desculpar. Este lugar é deslumbrante, — eu disse.
Houve um momento de silêncio enquanto Konstantin me estudava.
Era como se ele estivesse tentando me ler, como se eu fosse um de seus
livros.
— O que a traz aqui, Sienna?
Bom, acho que vamos direto ao assunto.
Eu me sentia um pouco estranha por não saber como as sessões de
terapia funcionavam.
— Eu... eu não tenho certeza, — eu disse.
Konstantin assentiu. — Tudo bem. Não há respostas certas ou
erradas. Na verdade, você não precisa ter respostas. É por isso que você
está aqui.
Isso me fez sentir um pouco melhor, mais à vontade.
— Acho que... me sinto perdida, — eu disse.
— Como assim?
— Bem, você meio que acertou em cheio quando estava na minha
galeria outro dia.
Konstantin não falou, apenas ouviu, então continuei.
— Tornar-me Luna, forçada a ser o centro das atenções, sem saber
quem são meus pais biológicos...
— Seus pais, — disse Konstantin, me detendo. — Diga-me sobre eles.
— É esse o problema... eu não posso. Não sei nada sobre minha
origem.
— Você não tem nenhuma memória deles?
— Nenhuma, — respondi. — Eu tentei cavar o mais fundo que pude
para encontrar nem que seja um fragmento de memória, mas nunca
consegui.
— Isso deve ser frustrante, — Konstantin disse, em um tom
simpático.
— Eu sempre quis saber quem eram meus pais biológicos, mas não
pensava muito nisso, — disse eu. — Mas quando me tornei Luna, esse
meu desejo só aumentou.
— Você acha que esse desejo veio à tona como resultado de sua
relação com a mídia? — Perguntou Konstantin.
Eu concordei. — Quando eles começaram a fazer perguntas...
surgiram todas aquelas que eu tinha medo de fazer a mim mesma.
Konstantin já estava começando a chegar à raiz dos meus problemas.
Eu deixei isso me afetar por muito tempo, e só falar sobre isso já
estava me deixando mais leve.
Inclinei-me para a frente e olhei Konstantin diretamente nos olhos.
— Você disse antes que usa seus poderes para ajudar a desbloquear a
mente das pessoas. Para encontrar coisas que eles nem sabiam que
estavam lá.
— Sim, — disse ele. — Mas não é tão fácil assim. O processo pode ser
um pouco... intenso. Não é para todos. Você deve ter certeza absoluta de
que pode lidar com isso.
Eu não queria que isso me impedisse mais.
Eu precisava da verdade.
Mas será que eu estava pronta de verdade para isso?
Aiden

Minhas patas batiam no chão lamacento enquanto eu ziguezagueava


para dentro e para fora da floresta densa.
Adorei a sensação do vento soprando em minha pele.
A sensação dos meus sentidos em seu ponto máximo.
A emoção da caça.
Eu sempre tinha pressa em sair em patrulha com meu beta, mas ainda
mais quando envolvia uma perseguição — e esta noite, não tínhamos a
menor ideia do que estávamos perseguindo.
— Josh, você está vendo alguma trilha? — Eu perguntei, me
comunicando através de nossa conexão mental.
— Nenhuma — respondeu ele, disparando de um arbusto próximo e
se juntando a mim em minha perseguição. — Não acho que essa coisa
esteja a pé — se é que ela tem pés.
— Estou sentindo o cheiro de alguém logo à frente. Há mais de um cheiro,
— eu disse, farejando o ar. — Um é definitivamente um lobisomem. Mas o
outro...
No ano passado, eu me tornei ciente da existência de outras criaturas,
algo anteriormente conhecido apenas pelos Lobos do Milênio, e com o
que Raphael me contou sobre o quão perigosos os vampiros podem ser...
Eu estava pronto para tudo.
Seguimos em direção a uma clareira. — Estamos quase che...
De repente, um raio de luz explodiu em toda a floresta, nos cegando
completamente. Foi como se o sol tivesse parado bem em cima de nós.
Perdi o equilíbrio e bati em uma árvore, rolando no chão. Eu ouvi
Josh uivando; deveria ter acontecido o mesmo com ele.
— Que porra foi essa? Josh, continue uivando para que eu possa te
encontrar!
O flash sumiu de repente, mas minha visão ainda estava se ajustando.
Quando meus olhos finalmente voltaram ao normal, eu vi que Josh já
havia se transformado, ele estava nu e deitado no chão. Me transformei
na forma humana e o ajudei a se levantar.
— Você se machucou, amigo?
— Apenas alguns arranhões. — Josh sorriu. — Acho que precisamos
informar que é proibido tirar fotos com flash por aqui.
— Mantenha seus sentidos alertas. Podemos estar sob ataque — eu
rosnei quando comecei a me transformar novamente.
— Aiden, espere! — Josh me parou. — Atrás de você.
Eu me virei para ver o que Josh estava olhando.
Uma mulher, deitada sozinha na clareira, gravemente ferida e mal
conseguindo sobreviver.
Jocelyn

Na maior parte do tempo, não me deixava desconfortável ver meus dois


ex-namorados juntos.
Mas quando eles atravessaram a porta do meu escritório na Casa da
Matilha completamente nus, carregando uma mulher igualmente nua,
eu fiquei mais desconfortável do que nunca.
— Jocelyn, precisamos de sua ajuda, — Aiden gritou, colocando a
mulher machucada e ensanguentada na minha mesa. — Ela não está se
movendo.
— O que foi que aconteceu? — Eu gritei.
— Não há tempo para explicar, — respondeu Josh. — Ela está
gravemente ferida. Ela não vai sobreviver se você não fizer algo agora.
Ele estava certo. Não era hora de explicações. Eu entrei em ação e
coloquei minhas mãos acima de seu coração, transferindo um pouco da
minha energia para ela.
Ok, pelo menos há batimento cardíaco.
Quem quer que a tenha atacado assim deveria ser um verdadeiro
monstro.
Ao examiná-la em busca de mais ferimentos, percebi que, apesar de
sua aparência selvagem, essa mulher era incrivelmente bela.
Quando abri suas pálpebras para verificar suas pupilas, engasguei de
surpresa. — Meu deus, ela é...
— O quê? — Aiden questionou.
— Ela é uma loba ômega.
Uma ladra. Uma loba sem Matilha.
Capítulo 17
DEIXE-ME ENTRAR
Jocelyn

Terminei de colocar as folhas de sálvia em volta da loba ômega e coloquei


um cristal de quartzo na base de seus pés.
Minha mãe me ensinou esse ritual quando eu era apenas uma
criança. Ela disse que se eu estivesse perdida ou sozinha, isso me guiaria
de volta a um lugar seguro.
Eu não sabia se o ritual dela se aplicava a esta situação, mas eu tentei
de tudo nas últimas vinte e quatro horas, e nada funcionou.
Aquela loba ômega estava muito sozinha, e eu estava tentando trazê-
la de volta à consciência, então talvez isso bastasse. Ou talvez eu acabasse
fazendo papel de tonta.
Os lobisomens se curavam rápido, mas esta havia levado uma surra.
Eu não conseguia imaginar o que tinha feito isso, mas Aiden e Josh
estariam esperando respostas de mim, e agora, tudo que eu tinha eram
perguntas.
— Quem é você? — Expressei meu pensamento em voz alta. — Eu
não posso simplesmente continuar chamando você de loba ômega, posso?
Aposto que você tem um nome lindo.
Esta mulher misteriosa me encantou. Eu me perguntei como ela
soaria se pudesse falar.
Como ela corria em forma de lobo.
Qual era sua refeição favorita.
Sua flor favorita.
Deus, o que há de errado comigo? Talvez eu mesma precise ir ver um
curandeiro.
Comecei a arrumar minhas coisas. Já estava tarde, ou melhor, cedo
demais. Eu já estava delirando.
— Se eu continuar falando com pacientes inconscientes, posso ter
meu status de curandeira revogado, — disse a ninguém em particular.
— Bem, isso seria uma merda. Quem me faria companhia?
Deixei cair minha bolsa, fazendo com que minhas ervas medicinais e
pomadas se espalhassem por todo o chão.
— Ai, meu deus, você é... você é... — gaguejei.
— Nina, — disse ela, lutando para se apoiar em um cotovelo. — Ou
você ainda prefere loba ômega?
Nina. Que nome lindo.
O lençol fino que a cobria começou a deslizar por seu torso nu, e isso
me fez corar.
Sua pele era escura e brilhante, como o céu noturno, e seus mamilos
como estrelas cintilantes — eu queria me perder em suas galáxias.
— Olá, chamando a Doutora Distraída. Meus olhos estão aqui — ela
disse vacilante.
— Eu só estava... apenas examinando suas feridas — eu gaguejei
rapidamente, tentando me recompor. — Escute... você não deveria tentar
se sentar. Você ainda está muito ferida.
— Ah, isso? É só um ferimento na carne — ela disse, apontando para
um enorme corte em sua coxa. — Nada que eu não possa...
Nina estremeceu de dor ao tentar sair da cama e suas pernas se
dobraram, mandando-a diretamente para meus braços.
Eu tinha certeza de que todo o sangue em todo o meu corpo havia se
deslocado para o meu rosto enquanto eu segurava Nina em meus braços.
Não tinha como ela não perceber o maldito rosto cor de morango
olhando para ela.
— Eu gostei do seu atendimento, doutora. — Nina cerrou os dentes
enquanto transferia seu peso para mim e me permitia colocá-la de volta
na cama.
— Você sempre faz piadas, mesmo quando está prestes a sangrar? —
Eu perguntei em tom de censura.
— Isso ajuda a esquecer da dor, — ela respondeu. — Você tem alguma
outra maneira de me distrair da dor?
Eu cruzei meus braços. — Se você está sugerindo drogas, saiba que eu
não…
— Eu ia sugerir que você se sentasse aqui e falasse comigo por um
tempo. — Nina sorriu.
— Ah, bem, ok. Acho que posso fazer isso, — eu disse, me sentindo
uma idiota.
Falar não era uma ideia tão ruim. Eu precisava descobrir quem era
essa mulher pelo bem de Aiden e pela segurança da matilha.
Ou eu estava apenas dizendo isso a mim mesma para justificar minha
curiosidade? Eu não conseguia tirar meus olhos de Nina desde que ela
havia chegado.
— Então, quem começa? Você prefere verdade ou desafio? — Nina
perguntou, felizmente se cobrindo com um cobertor grosso.
— Eu começo, Nina, mas isso não é um jogo. Se você quer que eu
continue tratando você, precisa me dizer o que aconteceu, — eu disse em
um tom sério. — Você quase morreu. Preciso saber o que fez isso com
você e se ainda está por aí.
Nina rolou, evitando contato visual comigo. — Caçadores, — ela
murmurou.
— Caçadores Divinos?
— Sim, eles estavam me rastreando... quase me pegaram. Seu alfa
deve tê-los assustado, — disse ela. — Qual o nome dele?
— Aiden, — respondi, já querendo falar sobre qualquer coisa além do
meu ex. — Conte-me mais sobre os Caçadores.
— Apenas humanos comuns que odeiam o que não entendem, — ela
rosnou. Este foi o primeiro indício de raiva que vi em Nina.
Sentei-me na beira da cama, de repente sentindo uma atração
emocional por ela.
— Colocando minhas funções de curandeira de lado por um
momento, posso te perguntar algo pessoal?
Nina parecia intrigada. — Claro, manda ver.
— O que aconteceu com sua mochila? Por que você está sozinha?
Quer dizer, sozinha na selva. Sem matilha.
Ela suspirou, parecendo desapontada.
Droga, eu poderia ter formulado isso de uma forma muito mais
eloquente. Eu tinha mesmo que perguntar a ela por que ela estava
sozinha? Era uma pergunta que eu tinha que responder com muita
frequência.
— O que você está realmente tentando perguntar é por que fui
exilada, certo? Os lobos não correm por aí sozinhos, a menos que sejam
forçados.
— Se você não se sentir confortável em dizer, não vou me intrometer,
— eu disse, pensando em como Aiden provavelmente a estaria
interrogando em uma cela agora se soubesse que ela estava consciente.
— Não, está bem. Eu serei honesta. Eu fui pega roubando. Eu sou
uma ladra, — ela disse abruptamente. — E das boas. Não me orgulhoso
disso… Ah ok, talvez me orgulhe um pouco, mas fiz o que tinha que fazer
para minha própria sobrevivência.
— Eu aprendi há muito tempo que ninguém vai cuidar de você, então
é melhor você aprender a fazer isso sozinho.
— Você não tinha alguns membros da família a quem pudesse
recorrer para pedir ajuda? — Eu perguntei, me aproximando dela.
Nina franziu a testa com a menção de família. — Eu estava morta
para meus pais anos atrás, e eles estão mortos para mim também. Eu não
tenho família.
Aiden

Meu estômago roncou de expectativa com a propagação de macarrão e


pães assados colocados diante de mim.
A mãe de Sienna era uma cozinheira muito boa e, embora eu tenha
protestado contra esses jantares semanais em família inicialmente, sua
família se tornou algo importante para mim.
Comecei a considerá-los como parte da minha.
Eu iria devorar o espaguete, mas Melissa bateu na minha mão.
— Calma, Aiden, temos que esperar por todos, — disse ela com
firmeza. — Selene e Jeremy ainda não chegaram.
Se for para comer mais cedo, posso dar menos trabalho para o Jeremy na
Casa da Matilha.
Eu me virei para Sienna, que estava perdida em pensamentos. Ela
tinha estado assim o dia todo. — Você está se sentindo bem? — Eu
perguntei, colocando minha mão na dela.
— Estou bem. Apenas repassando algumas artes para um cliente na
minha cabeça — ela disse, forçando um sorriso.
Os sons da porta da frente batendo e de saltos altos batendo no chão
de madeira ecoaram pelo corredor.
— Pronto, chegamos. Desculpe pelo atraso — bufou Selene, puxando
Jeremy para a sala de jantar e sentando-se em sua cadeira sem respirar.
Jeremy me deu um aceno estranho. Ele ainda não havia se
acostumado com o fato de seu chefe estar no jantar de família.
— Tudo bem, eu declaro oficialmente esta refeição iniciada. — Robert
sorriu. — Mandem ver!
— Finalmente, — eu rosnei. — A culinária da Melissa é uma obra de
arte que necessita ser apreciada.
— Ah, pare, — ela riu. — Você devoraria qualquer coisa que fosse
colocada na sua frente.
Eu olhei para Sienna novamente. Ela mal tocava na comida.
O que diabos está acontecendo com ela hoje?
— Ei, mãe, pai, eu tenho uma pergunta, — disse Sienna, falando com
cuidado. — O que aconteceu naquele dia em que você me encontrou
abandonada do lado de fora do hospital?
A sala ficou desconfortavelmente silenciosa e os pais de Sienna se
entreolharam com apreensão.
— Por que perguntou isso do nada, querida? — Robert questionou.
Eu me perguntei o mesmo. Eu sabia que Sienna tinha pensado muito
em seus pais biológicos ultimamente, mas eu não tinha certeza se um
jantar com sua família inteira era o lugar certo para perguntar sobre eles.
— Eu só queria saber mais sobre de onde eu vim… de quem eu vim, —
ela disse calmamente. — Meus pais... eles deixaram um bilhete? Eles se
arrependeram de me abandonar? Você nunca me contou detalhes.
Observei Melissa ficar tensa após Sienna usar a palavra pais para se
referir a outras pessoas.
— Por que isso importa? — Eu perguntei, irritado. — Quem quer que
tenham sido, eles foram uns merdas abandonando você, e eles merecem
morrer de arrependimento.
Os olhos de Sienna brilharam como um vulcão.
Foda-se.
Na verdade, esperava que as chamas começassem a sair de seus olhos
a qualquer segundo.
Selene e Jeremy trocaram olhares.
— Você não sabe nada sobre eles — gritou Sienna. — Só porque seus
pais biológicos são um pesadelo, não significa que os meus sejam.
Sienna empurrou a cadeira para trás, raspando-a no chão, e se
levantou furiosa.
— Onde diabos você pensa que está indo? — Eu rosnei com raiva.
— Terapia! — ela gritou.
TERAPIA?!
Levantei-me para segui-la, mas ela já estava na metade do corredor.
— Sienna, espere!
Ela parou, mas não se virou. Quando coloquei minhas mãos em seus
ombros, a senti relaxar ao meu toque.
— Sinto muito, — eu disse. — Não sabia que era um assunto tão
delicado.
Sienna se virou para mim e ela tinha lágrimas nos olhos.
Eu a puxei para perto do meu corpo, segurando-a com força. — Diga-
me o que se passa.
— Há muito tempo que estou lidando com essa dor sozinha, — disse
ela.
— E é por isso que você vai para a... — Foi difícil para mim dizer a
palavra em voz alta por algum motivo.
— Terapia, — disse ela calmamente.
— É algo que eu fiz? — Eu perguntei. — Porque se eu …
— Não, Aiden... não é sobre você. Eu prometo.
Seu tom era reconfortante, mas eu ainda sentia que estava falhando
com ela de alguma forma.
— Eu só preciso trabalhar alguns problemas e acho que a terapia é a
melhor maneira, — disse ela.
Eu levantei o queixo de Sienna para que eu pudesse olhar em seus
olhos.
Eu queria tirar toda a sua dor e tristeza sozinho. Jamais queria ver
lágrimas naqueles lindos olhos, a menos que fossem de felicidade.
Mas talvez eu precisasse dar um passo para trás desta vez — deixar
Sienna lidar com isso do seu próprio jeito.
Suspirei e dei um beijo na testa dela. — Eu vou te apoiar, se isso é o
que você acha melhor para você.
Sienna agarrou meu colarinho e ficou na ponta dos pés, pressionando
seus lábios contra os meus.
Depois que ela finalmente se afastou, ela sorriu. — Obrigada.
Sienna

Eu estava sentada em frente a Konstantin em seu escritório novamente,


mas desta vez eu sabia por que estava aqui.
Eu sabia o que queria.
— Você tem certeza disso? — Perguntou Konstantin. — Eu já avisei,
isso vai ser intenso. Você pode não gostar do que encontrará — mesmo
estando na sua própria cabeça.
— Tenho certeza, — respondi. — Ajude-me a desbloquear minhas
memórias. Quero saber quem são meus pais biológicos.
Konstantin assentiu e então fixou seu olhar no meu. Seus olhos
brilharam com aquele prata intenso que surgia quando ele estava focado.
— Muito bem, vamos começar. Primeiro, você deve abrir sua mente
para mim.
Quase caí da cadeira quando a voz de Konstantin de repente ecoou
em minha cabeça.
— Você tem que me deixar entrar.
Capítulo 18
MÉMORIE
Sienna

A Torre Eiffel parecia absolutamente deslumbrante do meu ponto de


vista do Rio Sena — a estrutura magnífica brilhando no céu noturno.
Eu imaginei que o ar estava realmente fresco naquela noite. Todo mundo
estava embrulhado em seus casacos e cachecóis.
Eu estava apenas de jeans e uma camiseta, mas não conseguia sentir
nada de qualquer maneira.
Ou cheirar.
Ou experimentar.
Foi uma sensação estranha, ser capaz de ver tudo, mas não ser capaz de
sentir nada. Essa era a desvantagem de estar na memória de outra pessoa.
Eu assisti enquanto Konstantin passeava de braço dado com uma bela
mulher próximo ao Sena. Eu me perguntei quem ela era.
Uma modelo?
Uma atriz?
Uma ex-amante, talvez?
Quando eles entraram em um beco, comecei a segui-los. Para onde eles
poderiam estar indo, tão tarde da noite?
Antes que eu pudesse descobrir, fui arrancada do chão novamente e
senti a terrível sensação de ser forçada a passar por um buraco de
fechadura.

— Por que você me tirou tão cedo? — Eu perguntei, aborrecida, quando


me vi sentada em frente a Konstantin em sua poltrona de veludo. — Eu
queria ver mais de Paris. Foi incrível.
— Sim, sempre posso mostrar mais, Sienna. Posso mostrar a você
quase qualquer lugar que você possa imaginar. Existem poucos lugares
neste mundo que eu não tenha conhecido, — disse Konstantin.
— Onde você estava indo com aquela mulher? — Eu perguntei. — Ela
era linda.
— Ah, apenas uma festa, tenho certeza, — disse ele, acenando com a
mão como se não fosse nada.
— Parecia tão real, — eu disse, ainda hipnotizada pela memória. — É
assim que vai ser quando eu entrar em minhas memórias?
— Sim, — Konstantin assentiu. — Eu queria mostrar a você como
seria. Posso usar meus poderes para ajudar a trazer memórias à vida, mas
quando estivermos em sua cabeça, você será a única no controle.
— Como vou saber que memória devo procurar?
— Isso pode parecer bobagem, mas você seguirá seu coração —
literalmente. Sua mente criará um guia que assume a forma de alguém
em quem você confia e que a levará ao que seu coração mais deseja.
Minha cabeça estava girando. Essa coisa de vampiro era muito nova
para mim, e mesmo para um lobisomem, era meio fantástico.
— Eu nunca soube que vampiros eram tão... mágicos.
Konstantin riu da minha escolha de palavras. — Nem todo mundo
pensa assim. Por anos, os vampiros tiveram que viver nas sombras.
— Mesmo? Por quê?
— Os lobos do milênio não se importavam muito com a minha
espécie, — respondeu ele.
Os lobos do milênio? Isso incluía Raphael?
— Ninguém deveria ter que esconder quem é, — eu disse.
— As pessoas geralmente odeiam o que não entendem. Tem sido
assim há séculos. Mas você não é como a maioria das pessoas, não é,
Sienna?
Konstantin sorriu para mim e eu sorri de volta.
Ele me entendia porque ele também sabia como era se sentir
excluído.
— Espero poder ajudá-la a encontrar as respostas que está
procurando, — disse ele.
Eu estava nervosa, mas também animada para finalmente descobrir
de onde vim.
Eu precisava saber quem eles eram...
Meus pais.
Eles foram a razão de eu estar aqui em primeiro lugar. As viagens para
Paris eram uma boa fuga momentânea, um truque de mágica, mas não
era isso que eu procurava.
— Estou preparada, — eu disse. — Vamos examinar minhas
memórias.
— Na hora certa, Sienna. Mas você deve ser paciente neste processo.
Não será bom se você agir de maneira muito rápida ou intensa.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que a chave para encontrar seus pais está nas
profundezas do seu subconsciente, — explicou ele. — E mergulhar tão
fundo será difícil. — Konstantin se levantou e se aproximou de mim,
passando suavemente o dedo pelo perímetro da minha cabeça, como se
estivesse me marcando para uma cirurgia.
— Por favor, me mostre outra memória, — eu disse. — Não me sinto
nem um pouco exausta.
— Muito bem, se você insiste, — ele disse, suspirando.
Konstantin colocou a mão no topo da minha cabeça, com o polegar
pressionando minha testa.
A sala começou a girar novamente, mas apenas por um momento,
porque Konstantin de repente desabou no chão, gritando em agonia.
— Konstantin, — gritei, ajoelhando-me ao lado dele. — O que
aconteceu? Você está bem?
— Estou bem, estou bem... não precisa se preocupar comigo. É que...
só consigo usar uma certa quantidade de energia de cada vez, e hoje,
infelizmente, estou esgotado.
Sua pele parecia mesmo mais pálida do que o normal. Eu o ajudei a
sentar, desculpando-me.
— Eu sinto muito. Eu não teria insistido tanto se soubesse.
— Não, não se desculpe, — disse ele. — Eu deveria saber meus limites.
— Espero que isso não o desencoraje de outra sessão, — eu disse.
Konstantin balançou a cabeça e sorriu. — Não, claro que não. Eu
prometo a você que da próxima vez que nos encontrarmos... vamos
investigar sua mente.
E espero encontrar as respostas de que preciso...
Aiden

— Ela não tem ninguém a quem recorrer. Ela está completamente


sozinha, — Jocelyn gritou na minha cara. — Você só vai jogá-la de volta lá
para se defender sozinha?
— Ela se saiu bem sozinha até agora, — eu rosnei. — De jeito nenhum
vou deixar uma ladra correr solta em meu domínio.
— Correr? — Jocelyn empacou. — Ela nem consegue andar direito.
— Esta é uma casa de Matilha, não um ponto de passagem para lobos
solitários em busca de esmola.
— Falou como um verdadeiro líder, — Jocelyn disse sarcasticamente,
me encarando. — Desde quando a Matilha da Costa Leste se tornou tão
egoísta?
— Cuidado com o que fala, — eu rosnei.
— Jocelyn, você confia facilmente nas pessoas. Não estou dizendo que
isso é uma coisa ruim — não mesmo — mas às vezes você acaba
confiando demais, e esta pode ser uma dessas vezes, — Josh interrompeu.
— Não venha falar comigo sobre confiança, Josh. Ou você se esqueceu
de quando chamou o Alfa do Milênio porque não confiava em seu Alfa
para fazer o trabalho dele? — Jocelyn retrucou.
Droga, ela estava com as garras de fora esta noite.
Eu tinha perdoado Josh por seu erro, mas com certeza não tinha
esquecido disso. Ele me olhou nervosamente, verificando minha reação.
— Sim, Josh pode ser um idiota, isso não é novidade para nenhum de
nós, mas não tem nada a ver com agora.
— A loba ômega precisa ir embora, — disse Josh.
— O nome dela é Nina, — Jocelyn rosnou.
Eu nunca tinha visto Jocelyn expor suas presas antes.
Nunca.
Isso era importante para ela.
— Nenhum lobo é exilado sem uma boa razão, você sabe disso. É um
risco mantê-la aqui.
— É um risco pelo qual estou disposta a assumir a responsabilidade,
— disse Jocelyn, mantendo-se firme.
— Como curandeira, tenho a obrigação de fazer o juramento de
reabilitar qualquer lobo que venha a mim e precise de ajuda, da melhor
maneira possível.
Não adiantava discutir com ela depois da cartada do juramento. Eu
tinha muito respeito por Jocelyn, embora discordasse dela em relação a
isso.
— Tudo bem, ela pode ficar, mas apenas até que ela esteja saudável o
suficiente para ir embora. E espero um relatório diário sobre esse
progresso, junto com qualquer outra informação que você possa obter.
— Combinado — ela respondeu, balançando a cabeça.
Espero que saiba o que está fazendo, Jocelyn.
Nina

— É um risco pelo qual estou disposta a assumir a responsabilidade, —


Jocelyn declarou enquanto eu estava no corredor escutando sua conversa
com o alfa.
Ah, Jocelyn por que você é tão inocente? Isso torna as coisas muito mais
difíceis.
Doía muito saber que ela confiava tanto em mim, sendo que eu era
completamente indigna dessa confiança. Não tinha como ser mais baixa
do que eu.
Aquele anjo merecia o mundo, mas tudo que eu poderia dar a ela
eram mentiras.
Eu escapei de volta para o meu quarto e estiquei meus membros.
Nossa, ficar deitada na cama o dia todo realmente deixa você dolorida.
Os poderes do meu benfeitor fizeram um bom trabalho. Esses
ferimentos falsos pareciam reais. Eles eram o suficiente para enganar até
mesmo uma curandeira talentosa e um alfa.
Eu mesma teria acreditado que estava perto da morte, se esses
hematomas e fraturas não fossem completamente indolores.
Na verdade, gostaria que fossem reais.
Era o que eu merecia em reparação pelo que fui enviada para fazer
aqui.
Mas eu não tinha escolha, não importa o que eu quisesse. Aquele era
um trabalho que eu precisava acompanhar até o fim.
E eu estava ficando sem tempo.
Capítulo 19
SPOTLIGHT
Michelle

Michelle: noite das garotas!!!!!

Mia: Nossa, eu preciso disso

Mia: Vocês vão ter que me carregar de volta pra casa

Erica: Nem a pau!

Erica: A gente prometeu se comportar, lembra?

Erica: 🚫(emoji de proibido) balada

Michelle: só vinho e jantar no Château

Erica: Ahhhhh, Château! Magnifique


Mia: Ok, em primeiro lugar

Mia: Se acham que não consigo dar P.T. com vinho

Mia: melhor se prepararem

Mia: Em segundo lugar

Mia: Vocês estão loucas achando que vamos entrar no Chateau


em uma sexta-feira

Erica: Pois é, eles não estão com agenda lotada, tipo, por vários
meses?

Michelle: relaxem

Michelle: Eu tenho meus contatinhos

Mia: Cadê a Sienna? Tá viva, miga?


Sienna: Foi mal, galera

Sienna: Acabei de ver as mensagens

Sienna: Beleza, estarei lá, mas talvez eu atrase

Michelle: tá bom, gata, melhor não furar


com a gente de novo!

Sienna: Não vou, prometo!

Michelle: chateauuuuu!!!!

— Como assim não têm? — Eu disse desesperada.


— Como eu disse, não temos assentos disponíveis esta noite, — disse
o anfitrião, sorrindo por entre os dentes. Apenas reservas — Eu te disse, —
Mia suspirou, reaplicando o batom pela quarta vez.
— Acabei de ver você deixar um casal entrar sem reserva, — gritei.
— Ah, por que você não me disse que era o primeiro-ministro da
França? Por aqui, senhorita, — ele zombou.
— Acho bom você saber que estou acasalada com o beta — eu sorri.
Isso sempre funcionava.
O anfitrião colocou a mão sobre os olhos e semicerrou os olhos por
cima de mim. — Ah sim, onde ele está? Porque tudo que vejo são três
lobas bêbadas.
— Não estamos bêbadas, — Erica respondeu, indignada.
— Fale por você mesmo, — Mia arrastou.
— Se meu companheiro, Josh, ficar sabendo disso, ele... ele fará com
que você seja despedido.
— Bem, então você beta vá buscá-lo.
Eu queria socar aquele atrevido, mas aí é que não entraríamos.
Não grite.
Não dê show.
Respira fundo.
Eu me virei para as meninas, murchando. — O que fazemos agora? Eu
tinha certeza de que a gente iria entrar.
— Desculpe pelo atraso, pessoal!
Sienna, saltando de um carro com chofer, correu até nós parecendo
uma beldade sem fôlego.
Seu vestido estava coberto com strass requintados, e o colar que
ficava em sua clavícula dizia: Ei, pessoal, agora estou rica pra caralho.
Ela está usando um original Wolfric? Aquela vadia.
— Sienna, garota, você está linda! — Eu gritei, provavelmente um
pouco alto demais.
— Obrigada, você também, Michelle! Adorei seus brincos, — ela
respondeu. — Podemos entrar? Estou faminta.
— Então, sobre isso... — Erica começou.
Sienna passou por nós e se aproximou do anfitrião. — Reserva para
quatro, Sienna Mercer-Norwood.
— Ah sim, Sra. Mercer-Norwood, seu nome está bem aqui. Siga-me,
— ele disse, lançando um olhar de soslaio para mim.
— Você tinha uma reserva? — Eu perguntei, pasma.
— Eu liguei no caminho até aqui e eles disseram que nos
acomodariam em uma mesa da varanda. Que sorte, não é? — ela disse
com total sinceridade.
— Nossa, sim, quanta SORTE, — eu disse.
Sra. Mercer-Norwood.
É difícil desfrutar de uma comida cinco estrelas quando seu estômago
está embrulhado.
Ouvir como Mia e Erica bajulavam cada palavra que saía da boca de
Sienna me deixava ainda mais enjoada.
— O Baile de Inverno deste ano será o seu primeiro como
companheira de Aiden. Vocês vão descer a grande escadaria juntos! —
Erica suspirou.
— Sua vida é tão romântica, Sienna. Eu não consigo lidar com isso, —
Mia jorrou.
Nem eu.
Não é que eu não estivesse feliz por Sienna. Ela era minha melhor
amiga. Claro que estava.
Mas ser completamente ofuscada pela minha melhor amiga enquanto
ela nem ligava para o seu tratamento especial era totalmente frustrante.
Eu tinha conquistado muitas coisas no ano passado também, mas
minhas realizações sempre ficariam em segundo lugar ou como vice-
campeãs em relação às de Sienna — até mesmo meu marido, o beta.
Sienna nem apreciava a atenção. Ela ficou com os olhos grudados no
telefone a noite toda, mandando mensagens de texto para alguém,
provavelmente para Aiden. Não poderia nem mesmo ter uma noite longe
dele.
Sienna se levantou abruptamente, me assustando. Por um momento,
pensei que talvez ela pudesse ler minha mente, e fiquei vermelha.
— Sinto muito interromper os trabalhos mais cedo, meninas, mas
tenho uma reunião com um cliente, — desculpou-se Sienna.
— Você faz reuniões a esta hora? — Eu perguntei, levantando minhas
sobrancelhas.
— Vá, seja brilhante, faça sua mágica, — disse Erica, mandando beijos.
— Estou orgulhosa de você, amiga.
Acho que vou vomitar.
Meio bêbada, larguei minha bolsa no chão enquanto entrava
cambaleando em casa. Josh estava assistindo o Jornal da Matilha e nem
mesmo ergueu os olhos quando entrei.
Típico.
Aposto que quando Sienna chegou em casa, Aiden encheu a calçada
com rosas e a pegou em seus braços na entrada, beijando-a, como em um
conto de fadas do caralho.
Era completamente irracional para mim ficar com raiva de Josh, mas
agora, eu não estava pensando racionalmente.
— Josh, você vai apenas me deixar parada aqui? Me segura, caramba!
Josh se virou, meio confuso. — Espere, o quê?
— Por que você não faz algo. Porra, faça alguma coisa... Você sempre
deixa os outros te deixarem de fora, — eu gritei.
— Ah, você só está bêbada, — disse ele, Virando-se e me ignorando.
Eu marchei na frente da TV e encarei Josh. — Você está realmente
contente em ser sempre o segundo melhor? Sendo pisoteado enquanto
outra pessoa o substitui?
— Ah, já entendi. Isso nem tem a ver comigo. Tem a ver com você e
Sienna, — Josh respondeu presunçosamente.
— Não, não tem — eu recusei. — Tem a ver com você virar homem e
dizer ao Aiden que não quer que Sienna assuma todas as suas
responsabilidades, agora que ela está no conselho.
Josh saltou da cadeira, enfurecido. — Sabe de uma coisa, Michelle?
Você é uma hipócrita do caralho. Você está latindo para mim sobre
confrontar Aiden quando você nem mesmo fala com Sienna sobre como
você se sente ofuscada. — Ele estava certo. Nós dois estávamos nos
sentindo eclipsados e nenhum de nós estava fazendo nada a respeito.
De repente, o fogo e a raiva que eu sentia por Josh começaram a
descer pelo meu corpo. Agarrei meu sexo enquanto sentia um desejo
ardente pelo meu companheiro.
Ele também sentiu — eu já podia ver que ele estava ficando excitado
através das calças.
A Bruma estava nos chamando e não poderia ter vindo em melhor
hora.
Eu queria que Josh me pegasse? Bom, ele me pegou pra caralho, me
tirando do chão e me empurrando contra a parede.
Ele levantou minha saia sobre meus quadris e pressionou seu pau
enorme entre minhas pernas.
— Sem calcinha? — Josh sorriu.
— Cale a boca e coloca dentro de mim, — eu rosnei, cravando minhas
unhas em suas costas.
Quando ele deslizou dentro de mim, gritei em êxtase. Nossa, era tão
bom. Eu não conseguia nem lembrar por que estávamos brigando.
Com cada impulso, a Bruma se tornou mais intensa e meus gemidos
ficaram mais altos. Os braços volumosos de Josh me prendiam, e tudo
que eu queria era que ele metesse.
— Mais forte!
— Deixa comigo, amor — Josh disse enquanto começava a foder mais
forte e mais rápido.
Isso.
Isso, porra.
Josh podia ser um beta, mas fodia como um alfa.
Sienna

— Você está pronta?


Os olhos penetrantes de Konstantin olharam através de mim
enquanto eu me sentava em frente a ele na cobertura. Parecia que ele
podia me ver de uma outra maneira que ninguém mais podia.
Será que eu estava pronta?
Parte de mim sentia que isso era errado — deixar alguém entrar em
minha mente, meus pensamentos mais íntimos que nem mesmo Aiden
sabia.
Mas Konstantin era meu terapeuta e eu precisava aceitar que havia
algumas coisas que eu não poderia fazer sozinha.
Nada estava claro, mas se eu quisesse encontrar meus pais, tinha que
confiar nele.
— Estou pronta, — eu disse. — Me diga o que fazer.
— Feche os olhos.
Ele estava falando comigo telepaticamente novamente. Eu segui suas
instruções.
— Agora, pegue minhas mãos.
Eu gentilmente agarrei suas mãos.
— Lembre-se... siga seu coração.
Sem nem mesmo uma ondulação, meu ambiente mudou completamente.
Eu estava no que parecia ser um castelo, vestindo um manto transparente
sem nada por baixo.
Eu estremeci, meus mamilos endureceram sob o manto. Esta era
definitivamente minha mente.
Na mente de Konstantin, eu não conseguia sentir nada, mas na minha,
tudo parecia real... real até demais.
Comecei a descer uma escada à luz de velas, mas o caminho estava
bloqueado por uma porta trancada. Quando minha mão deslizou para o
bolso do manto, encontrei uma chave.
Achei que essa fosse a minha mente. Por que eu não teria a chave?
Eu destranquei a porta e empurrei, tropeçando direto em um par de
braços musculosos.
Eu olhei para cima e engasguei.
— Aiden?
— Ah, aí está você. — Ele sorriu. — Eu estava me perguntando quando
você viria me buscar.
Mas aquele não era o Aiden real, era o guia que minha mente havia
criado, a pessoa em quem eu mais confiava.
Eu olhei ao meu redor...
Estranho, esta sala parecia uma masmorra; a porta destrancada era a
única saída.
— Para onde vamos? — Eu perguntei.
Aiden acenou com a cabeça silenciosamente em direção às escadas.
Enquanto subíamos a escada em espiral, percebi como meu manto era
transparente.
Amaldiçoei minha mente por projetar essa roupa. Por que diabos eu
escolhi isso? Eu estava praticamente nua.
Aiden não pareceu se importar, a julgar pela maneira como senti seus
olhos seguindo minha bunda.
A escada parecia não ter fim, e de repente percebi que não tinha
demorado tanto para descer.
— Sienna, acho que você está se segurando. Vamos continuar em um loop
se você não se abrir.
— Sinto muito, minha mente está uma bagunça. Eu não sei como
controlar...
Meu corpo foi sacudido por uma onda de choque de eletricidade que se
espalhou por cada centímetro da minha pele.
Ah não...
Não aqui.
Como isso está acontecendo aqui?
A Bruma me atingiu como um trem de carga. Ou alguma versão disso na
minha cabeça.
Como eu poderia estar tão desconfortável e tão excitada ao mesmo
tempo?
Meu manto começou a afrouxar e meu peito começou a arfar. Meu sexo
ansiava por alguém estar dentro dele.
Aiden pareceu surpreso. — Sienna, o que está acontecendo? O que você
está sentindo? Diga-me.
Eu estava sentindo...
Tudo.
E era bom pra caramba.
Capítulo 20
RESTRIÇÕES
Sienna

Acordei de repente, suando e ofegante. Konstantin ainda estava


segurando minhas mãos, e eu rapidamente as afastei e coloquei sob meus
braços para aquecê-las.
Eu estava bem molhada, mas não por causa de um orgasmo. Fora da
minha mente, eu estava úmida e encharcada de suor frio.
Konstantin correu para o meu lado, jogando um cobertor sobre meus
ombros.
— F-foi a Bruma, — eu disse, batendo os dentes. — Não entendo o
que aconteceu.
— Fascinante, — disse Konstantin, me estudando. — Então, é assim
que isso se manifesta em sua mente.
— O que você quer dizer?
— Aquela não era a Bruma, pelo menos não a real. Sua mente vai
tentar lutar com você. É natural. Seu cérebro tem uma espécie de
mecanismo de defesa — como glóbulos brancos do sangue — para
impedir que você vá longe demais.
— Não consigo controlar, — tossi.
— Eu sei. É por isso que trabalharemos juntos, disse Konstantin com
calma. — Este mecanismo de defesa se manifesta de maneira diferente
para cada indivíduo e, no seu caso, deve estar se manifestando como uma
Bruma.
É claro. Isso significava que toda vez que eu tentasse acessar minhas
memórias, iria sentir uma versão superintensa da Bruma.
Porra, que maravilha.
A última coisa que eu queria era ficar desconfortável e com tesão
durante a terapia.
É
— É importante lembrar que, embora pareça muito real, nada do que
está acontecendo em sua mente está realmente acontecendo fisicamente
no mundo real. Está tudo na sua imaginação.
— Por hoje já deu. É muita coisa para lidar.
— Eu entendo; amanhã continuamos. Eu não quero a pressionar se
não estiver pronta, — ele disse, pegando minha jaqueta e me guiando até
o elevador.
— Obrigada pela compreensão. — Eu sorri fracamente. — Eu me
sinto envergonhada.
— Absurdo. Vá para casa e descanse um pouco. Tentaremos
novamente amanhã.

A água quente rolou pelas minhas costas enquanto eu estava no


chuveiro, tentando entender o que estava acontecendo comigo.
Por que minha mente me colocou em uma posição tão vulnerável?
O que eu estava escondendo de mim mesma?
Seja lá o que fosse, estava enterrado profundamente.
Enquanto eu espirrava água no rosto, ouvi a porta do chuveiro se
abrir atrás de mim.
— Quer companhia?
Eu me virei para encontrar Aiden, nu e totalmente ereto, sorrindo
para mim com antecipação.
Era a Bruma.
O tipo real de Bruma.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me prendeu contra a
parede e estávamos nos beijando.
Ele mordeu meus lábios e sua língua começou a se mover pelo meu
pescoço, depois meu torso, até que ele estava de joelhos e sua cabeça
estava no meu sexo.
Eu estremeci de prazer quando sua língua sacudiu dentro de mim.
Fechei meus olhos e cedi ao meu desejo quando minha Bruma apareceu.
Aiden conseguia trazê-la à tona apenas olhando para mim da maneira
certa, mas seu toque era ainda melhor.
— Você adora quando estou dentro de você, não é, Sienna? — Aiden
disse, olhando para mim.
— Nossa, sim, — eu gemi.
Aiden se levantou e a cabeça de seu pau roçou meu sexo.
— Faz um tempinho que a gente não sente a Bruma — Aiden
sussurrou em meu ouvido.
Tirando a Bruma que tinha aparecido na minha cabeça.
— Desculpa, tenho trabalhado tanto, — disse Aiden, seu pau
começando a violar meu sexo. — Deixe-me compensar isso.
Eu gemia em aprovação quando sua ponta escorregou.
Aiden se afastou, então me agarrou pelos ombros e me virou,
pressionando-me contra a parede.
Ele de repente entrou em mim por trás, e eu engasguei quando senti
sua masculinidade me preenchendo.
Caralho!
Eu coloquei minhas mãos na parede para me segurar quando Aiden
começou a meter em mim com sua força de alfa.
— Isso, me fode! — Eu gaguejei enquanto cada impulso me atingia
exatamente no lugar certo.
Meu corpo inteiro tremia de desejo, implorando por mais.
Eu senti como se estivesse prestes a desmaiar de prazer.
Era exatamente o que eu precisava para limpar minha mente — ser
fodida pelo meu companheiro.
Jocelyn
Aiden: Você não me deu atualizações hoje
Aiden: Ela já está saudável o suficiente para ir embora?

Aiden: Eu quero uma data e hora

Jocelyn: Aiden, estou cuidando dela, mas


ela não vai se curar da noite para o dia.

Jocelyn: Você precisa me deixar fazer meu


trabalho.

Aiden: E você precisa me deixar fazer o meu hoje

Aiden: Ela já está saudável o suficiente para ir embora?

Aiden: Eu quero uma data e hora

Jocelyn: Aiden, estou cuidando dela, mas


ela não vai se curar da noite para o dia.

Jocelyn: Você precisa me deixar fazer meu


trabalho.
Aiden: E você precisa me deixar fazer o meu

Aiden: Não podemos confiar nela

Exasperada, coloquei meu telefone virado para baixo na minha mesa.


Nina me lançou um olhar curioso.
— Problemas com o namorado? — ela perguntou provocativamente.
— Ex-namorado, na verdade.
— É o beta ou o alfa que está fazendo você parecer que acabou de
provar algo amargo?
— Alfa, — eu ri. — Espere, como você sabia sobre...
— Você acha que não percebi toda a tensão no ar quando vocês três
estão juntos em uma sala? O clima fica tão tenso que não dá nem para
respirar — disse Nina, segurando seu pescoço e fingindo engasgar-se.
— Isso é passado. Não deu certo com nenhum deles.
— Alfa, beta... talvez você precise é de um ômega — Nina sorriu.
Eu me vi corando novamente. Por que isso sempre acontecia comigo
quando eu estava perto dela?
Ajudei Nina a se levantar e mancar até as barras paralelas para que
pudéssemos trabalhar em sua fisioterapia. Meu rubor só aumentou
quando ela agarrou meu braço com força.
— O alfa não gosta que eu esteja aqui, não é? Ele quer que eu vá
embora.
— Aiden é muito protetor com sua matilha, como um bom líder deve
ser, — eu respondi. — Ele nem sempre é a pessoa mais aberta, mas
geralmente se torna mais gentil com o tempo — Foi o que aconteceu
com sua companheira? Qual era o nome dela? Ouvi dizer que eles têm
um romance de contos de fadas.
— Sienna — e onde você ouviu isso? Nos tabloides? — Eu perguntei
cautelosamente.
— Quem me conhece sabe que eu leio umas revistas inúteis, —
admitiu Nina. — Então, qual é o problema de Sienna? Eu não a vi na Casa
da Matilha até agora. Ela não trabalha aqui?
— Normalmente, sim, mas ela não veio nos últimos dias. Por que você
está fazendo todas essas perguntas sobre Aiden e Sienna? — Eu
perguntei.
Nina de repente perdeu o equilíbrio e caiu no chão com um baque,
gritando de dor.
— Nina! — Eu me joguei no chão e a ajudei a se levantar,
inspecionando seu tornozelo; estava roxo.
— Acho que o torci. — Ela estremeceu.
— Nós tentamos muito cedo. Eu não deveria ter te pressionado tanto,
— eu me desculpei.
Nina colocou a mão na minha e olhou para mim com seus olhos
encantadores.
Meu coração começou a bater no meu peito, mas eu não movi minha
mão.
Por que é que eu não estou movendo minha mão?
Eu finalmente consegui me afastar e recuperar minha compostura.
— Eu acho que devemos continuar amanhã, — eu disse, limpando
minha garganta.
— Tudo bem, — disse ela, desapontada. — Mas, Jocelyn, às vezes é
bom insistir. Às vezes, você precisa tentar para descobrir se está pronta.
Sienna

Depois que Aiden ajudou a limpar minha mente e lidar com a minha
Bruma, me senti muito mais confiante em tentar outra sessão com
Konstantin.
— Você está pronta para tentar novamente? — ele perguntou,
sentando na minha frente em seu escritório.
— Acho que sim.
Eu respirei fundo.
— Eu tenho certeza.
— Aconteça o que acontecer, não lute. Entende? Você tem que ceder,
— disse Konstantin. — É a única maneira de descobrir o que sua mente
esconde.
— Vou fazer o meu melhor.
— Me dê suas mãos.
Um exuberante jardim cheio de arcos floridos e fontes jorrando abriu o
caminho para uma linda mansão de tijolos. Eu levantei meu vestido
enquanto caminhava em direção a ele, tentando não sujá-lo.
Espere, o que eu estava fazendo? Isso não era real.
Enquanto eu acelerava meu ritmo, meus seios praticamente derramaram
do corpete apertado que os estava impulsionando.
Mais uma vez, isso foi obra da minha própria mente. Tudo na minha
cabeça foi projetado por mim. Da última vez, foi um castelo assustador,
desta vez, uma encantadora propriedade rural no período vitoriano.
Sinceramente, eu preferia este lugar
Quando cheguei à mansão, encontrei Aiden dentro, vestido com um terno
elegante e gravata.
Minha mente, de alguma forma, o tornava ainda mais bonito.
— Para onde? — Eu perguntei, examinando a enorme mansão.
— Este é o seu cérebro, — respondeu ele. — Siga seus instintos. Onde está
dizendo para você ir?
Sem pensar, comecei a subir a grande escadaria, com Aiden seguindo
atrás. Passei por dezenas de portas, mas sabia que nenhuma delas era a que
eu estava procurando.
Corredores tortuosos.
Escadas mais estreitas.
Papéis de parede mudando constantemente.
Este lugar era mais um labirinto do que uma mansão. Eu estava
começando a sentir como se algo estivesse faltando até que me vi parando
abruptamente no meio de um corredor.
— Acho que está aqui, mas não sei por quê, — disse eu, confusa. — Não
há nem portas neste corredor.
Eu instintivamente olhei para o teto e encontrei uma porta do sótão,
ligeiramente entreaberta.
— É muito alto para alcançar. Dê-me um impulso.
Eu esperava de verdade que minha mente tivesse sido cortês o suficiente
para me dar roupas íntimas desta vez.
Quando Aiden me levantou, comecei a sentir um formigamento por todo
o meu corpo.
A maldita Bruma de novo, o mecanismo de defesa do meu corpo. Isso
significa que devemos estar perto.
— Está acontecendo de novo, — choraminguei.
O rosto de Aiden estava perigosamente perto da minha bunda.
— Não lute contra isso. Ceda a tudo o que sua mente lhe disser para fazer
quando entrarmos naquela sala.
Consegui puxar a escada para baixo e subi-la, tentando não pensar em
como estava me sentindo extremamente excitada.
Quando vi o que havia dentro do sótão, meu queixo caiu.
— Que porra é essa?
Acessórios BDSM artigos de madeira enchiam a sala, junto com muitos
chicotes e correntes.
Eu tinha acabado de nos levar a uma maldita masmorra de sexo —
exceto que era no sótão.
A Bruma se espalhou pelo meu corpo como um incêndio. Eu queria
arrancar minhas roupas, e quando olhei para Aiden, parecia que o mesmo
pensamento passava por sua cabeça também.
Aproximei-me de uma das engenhocas de madeira, sem controle do meu
próprio corpo, como se estivesse sonâmbula.
Minha mente prendeu as alças em volta dos meus pulsos.
— O que você está fazendo? — Aiden perguntou com um sorriso
malicioso.
— Sinceramente, não sei, — eu disse, tentando não entrar em pânico.
Outra onda de Bruma me atingiu, e tudo que eu queria era sentir algo.
Sentir qualquer coisa.
— Pegue um chicote, — ordenei.
Capítulo 21
MENTE ABERTA Sienna
Aiden desamarrou meu vestido até que minhas costas estivessem expostas,
enquanto minhas mãos permaneciam amarradas. Minha Bruma, ou melhor,
meu subconsciente, queria tanto isso que doía.
Seus dedos traçaram minhas costas nuas. Havia luxúria em seu toque.
Suas unhas estavam cravadas em minha pele. Eu estava sedenta por algo
maior do que apenas um leve arranhão.
Eu precisava sentir algo real.
— O chicote, — eu disse novamente.
Aiden examinou a variedade de chicotes na parede e escolheu um com
várias tiras. Ele brincou com meu corpo antes de dar uma leve chicotada na
minha bunda.
Ainda não era suficiente.
— Mais forte, — exigi.
— Com prazer, — respondeu ele, com um brilho diabólico nos olhos.
Ele bateu o chicote contra minha carne novamente. Doeu dessa vez, mas
meu corpo queria mais.
— MAIS FORTE, — gritei.
Quando ele desceu o chicote novamente, eu estremeci.
O que eu estava fazendo?
Isso não parecia certo. Aquela não era eu.
E aquele também não parecia Aiden.
O que estava acontecendo na minha cabeça?
Meus desejos mudaram. De repente eu não queria mais isso.
— Aiden, pare, — eu disse, lutando contra as amarras em que me
coloquei.
Mas ele não parou.
Ele me chicoteou com o chicote novamente.
E de novo.
— Aiden, — eu gritei. — Ouça-me!
— Não, não podemos parar.
CHICOTADA
— Temos que continuar...
CHICOTADA
— Precisamos saber
CHICOTADA
Eu estiquei meu pescoço para olhar para Aiden, e não pude nem
reconhecê-lo.
Ele parecia tão intenso e determinado, mas seus lábios estavam curvados
em um sorriso perturbador.
Ele estava gostando disso.
— Não lute contra isso, — ele gritou.
Eu senti algo uivar dentro de mim — meu lobo interior. Ele começou a
ficar cada vez mais alto até abafar todo o resto.
A sala começou a girar Então tudo desapareceu.

— Que porra foi essa? — Eu perguntei, voltando à realidade.


Eu me levantei e me afastei de Konstantin.
— Sienna, acalme-se. Eu entendo que você esteja incomodada, mas
não era real. Estava tudo na sua cabeça, e só você tem o controle lá, —
disse Konstantin, erguendo as mãos e me dando espaço.
— Não me pareceu assim, — disse eu.
— Esta foi apenas a sua maneira mental de pedir que você se
submetesse. Se vamos descobrir o que está nos recessos mais profundos
do seu subconsciente, você terá que ceder a tudo o que está se pedindo
para fazer, mesmo que pareça insano.
Eu balancei minha cabeça, não querendo ouvir nada disso. — Ele... ele
se transformou em algo... vil, — eu disse, com lágrimas nos olhos. — Eu
nem o reconheci.
— Seu companheiro? — Perguntou Konstantin. — Aquilo era apenas
sua imaginação.
— Já chega.
— Sienna, estamos tão perto. Eu posso sentir isso.
— Não, eu não posso fazer isso.
Konstantin tinha me avisado que seria intenso, mas o que eu tinha
acabado de experimentar estava em outro nível. Eu não fui feita para
isso.
Peguei meu casaco e corri para o elevador, apertando o botão de
descer até que a porta se abriu.
— Sienna, não fuja disso de novo, — Konstantin gritou atrás de mim.
Quando o elevador fechou, jurei que esta seria a última vez que
colocaria os pés na terapia.

Konstantin: Sienna, estou preocupado com você.

Konstantin: Já se passaram três dias.

Konstantin: Se você não retornar às nossas sessões, todo o


nosso progresso será perdido.

Konstantin: Eu entendo que você se sentiu vulnerável.


Konstantin: Mas a verdade sempre nos faz sentir assim.

Konstantin: Não desista ainda.

Eu olhei para a sequência de mensagens e as ignorei, assim como


tinha feito nos últimos dias.
Eu sabia que ele tinha razão, mas simplesmente não conseguia voltar
atrás.
Talvez eu não fosse tão forte e dominante quanto pensava...
Minhas sessões com ele exigiram mais de mim do que eu imaginava.
Elas minaram minha energia, meu impulso sexual e meu apetite e
substituíram tudo por melancolia.
Eu fiquei na cama a maior parte dos últimos dias, me recuperando.
Aiden até fez Jocelyn fazer uma visita domiciliar, mas ela não conseguia
perceber nada de errado comigo.
Eu não tinha como explicar que eu só estava com uma ressaca mental
muito forte.
Eu ouvi uma batida suave na porta, e Aiden entrou e sentou-se na
ponta da cama.
— Está se sentindo melhor hoje?
— Estou me sentindo ótima. — Eu sorri.
— Bom, porque eu tenho uma surpresa para você, — disse ele,
lançando-me um sorriso de lobo.
Aiden

— Para onde você está me levando? — Sienna perguntou enquanto eu a


conduzia pela floresta. — Você não tem que trabalhar esta noite?
Trabalho — eu estive profundamente envolvido ultimamente. E isso
estava afetando Sienna. Eu nunca a tinha visto tão emocionalmente
distante antes.
Eu me sentia fraco pra caralho sabendo que eu não pude ajudá-la e
ela teve que recorrer à terapia.
Eu sabia que de alguma forma eu tinha culpa. Então talvez isso nos
desse a chance de nos reconectarmos.
— Tecnicamente, estou trabalhando. E você também, — eu disse. —
Estamos em patrulha.
— O que você quer dizer? — ela perguntou, cética. — A patrulha não
é algo que você só faz com o seu beta?
— Normalmente, mas eu quero começar a fazer isso com você. Quero
envolvê-la mais na minha vida profissional.
Para minha surpresa, Sienna começou a tirar as roupas. Ela se virou e
sorriu para mim.
— Bem, é melhor nós irmos então. Tire suas calças.
Ninguém teve que me dizer duas vezes para ficar nu. Eu amei a
sensação de me livrar das roupas antes de transformar.
Enquanto eu observava Sienna remover sua calcinha tão casualmente,
comecei a ficar excitado. Ela não tinha mais vergonha de seu corpo há
um ano. Agora ela estava toda confiante e sexy pra caralho.
Ela se virou e me deixou ver sua silhueta sob o luar.
Sua pele branca e macia.
Seus seios perfeitos e mamilos rosados.
— Pensei que era uma patrulha, — ela riu, vendo que eu estava
excitado. — Ou você está apenas nos apontando em que direção
devemos ir?
Nós dois nos transformamos e começamos a nos comunicar por meio
de nossa conexão.
— Tente acompanhar, — incitei.
Sienna correu para a floresta em um piscar de olhos.
— O que você estava dizendo?
Tudo bem, se era assim que ela queria brincar.
Corri atrás dela, alcançando-a e beliscando seus calcanhares, mas ela
conseguiu manter um passo à frente.
Ela correu mais rápido — muito mais rápido.
Lembrei-me de nossa primeira corrida enquanto ziguezagueávamos
pela floresta. Eu nunca esquecerei aquela perseguição emocionante — o
jeito que Sienna me fez caçá-la por horas.
Agora, estávamos correndo lado a lado — companheiros alfa — e era
perfeito.
De repente, Sienna me abordou com todo o seu peso e eu perdi o
equilíbrio, rolando por uma colina e caindo com toda força dentro de um
rio.
Fiquei submerso por um momento e vi Sienna acima de mim,
olhando para baixo.
Minha cabeça surgiu na superfície e eu remei até a costa. — Que porra
foi essa? — Eu rosnei.
Sienna mudou de volta para a forma humana e começou a rir
histericamente.
— Vingança, pela nossa primeira corrida.
Eu sacudi meu pelo molhado na direção dela antes de também me
transformar.
— Ei, você está me molhando, — ela gritou.
— Ainda não, não estou, — eu disse, levantando-a e prendendo-a
contra uma árvore. — Mas vou te molhar pra caralho.
Começamos a nos beijar e morder como animais enquanto ela
colocava as pernas em volta da minha cintura.
Meu pau pressionou contra seu sexo, fazendo-a gemer, e isso me
deixou louco.
A Bruma estava forte pra caralho, e tudo que eu queria era fazer ela se
sentir tão bem quanto eu.
— Tá sentindo? — Eu olhei para ela, esperançosamente.
Sienna me empurrou para o chão e começou a montar em mim sem
qualquer hesitação.
— Tô, — disse ela com um sorriso.
Porra, foi incrível. Ela sabia exatamente como se mover quando
estava em cima de mim.
— Aiden... Isso! — ela gritou.
Ela balançava para frente e para trás no meu pau, assumindo o
controle.
Cravei meus dedos no chão enquanto ela deslizava pelo meu membro
com precisão.
Isso, porra!
Ela estava louca de tesão.
E eu ia fazê-la sentir tesão...
A noite toda.
Jocelyn

Nina não estava progredindo da forma que eu esperava. Lobisomens


curam muito mais rápido do que humanos, mas os ferimentos de Nina
me deixavam perplexa.
Por fora, os hematomas e cortes pareciam terrivelmente doloridos,
mas meus sentidos me diziam que algo estava errado.
Eu estava ficando mais perto de Nina a cada dia, mas não pude evitar
de sentir que ela não estava sendo completamente honesta comigo.
Havia uma maneira — uma técnica de cura arriscada — que eu
poderia usar para descobrir a verdade...
— O que você está pensando? — Nina perguntou, mancando
lentamente até mim.
— Só estou tentando descobrir como podemos acelerar sua
recuperação. — Eu sorri, mas Nina não retribuiu.
— Ih, você está ficando cansada de mim, né?
— Não, não estou me cansando de você. Eu só quero que você
melhore, — eu a tranquilizei. — Sinto que não tenho feito tudo o que
posso.
Ajudei Nina a se sentar à minha frente e agarrei suas mãos.
— Eu gostaria de tentar algo novo, se você me permitir.
Nina sorriu, interessada. — Estou sempre disposta a experimentar
coisas novas.
Merda, esta pode ser a pior ideia que já tive, mas preciso saber.
Havia uma técnica antiga que permitia aos curandeiros absorver a dor
de outro lobo em seus próprios corpos.
Era perigoso, mas se ela estava realmente ferida, então talvez isso
pudesse mudar as coisas, e se ela não estivesse...
Coloquei minhas duas mãos em sua perna quebrada e concentrei
toda a minha energia em seu ferimento.
Em seguida, inverti o fluxo de sua energia em meu corpo.
As veias dos meus braços começaram a brilhar e me preparei para a
dor excruciante que estava prestes a se infiltrar dentro de mim, mas...
Nada.
Sem dor.
Eu olhei para Nina, permitindo que a traição aparecesse em meus
olhos.
— Você mentiu para mim, — eu disse, chocada. — Você nem mesmo
está ferida. Você nem está com dor, porra.
— O que você quer dizer? É claro que estou...
— Não... sem mais mentiras, Nina. Você só vai piorar as coisas. Eu
posso sentir o que está dentro de você.
— Merda, Jocelyn. Eu queria te dizer, — ela disse, enquanto seus
olhos se arregalavam. — Por favor, estou te implorando, não me odeie.
Sobre o que mais ela estava mentindo? Qual o real motivo de ela estar
aqui?
— Você precisa ir embora, — eu disse, as lágrimas começando a rolar
pelo meu rosto. — Vá agora, antes que eu conte a Aiden.
— Jocelyn, por favor, me escute, — ela gritou, mas eu já estava
pegando meu telefone.
Nina se lançou sobre mim e eu vacilei, fechando os olhos, mas
congelei quando senti seus lábios encontrarem os meus.
O que estava acontecendo?
Por que eu estava deixando isso acontecer?
Quando seus lábios macios se fecharam sobre os meus, senti uma
onda de emoção.
Em vez de me afastar, inclinei-me e ela me beijou ainda mais forte.
Cada pingo de raiva que eu sentia um momento atrás desapareceu.
Abri os olhos e Nina também tinha lágrimas nos olhos.
— É por isso que eu não disse que já estava curada, — ela disse,
colocando a mão no meu rosto.
— Eu não queria que você me mandasse embora. Não antes de ter a
chance de dizer o que realmente sinto por você. Há uma conexão entre
nós, é forte. Você sente isso também?
— Sim, — eu respondi, enxugando suas lágrimas. — Eu também
sinto.
Capítulo 22
INSEGURANÇAS
Sienna

Depois de um tempo longe de Konstantin, minha Bruma estava correndo


solta, e Aiden e eu estávamos mais próximos do que nas últimas semanas.
A questão dos meus pais ainda me incomodava, mas minha mente
estava tão confusa que eu precisava limpá-la para tentar tomar qualquer
decisão racional.
Se meus pais estivessem por aí, eu encontraria uma maneira de
rastreá-los — uma maneira que não envolvesse exercícios mentais.
Claramente minha mente não ajudou, não importa o quanto eu
quisesse.
Konstantin havia tentado o seu melhor, mas eu simplesmente não
consegui.
Aiden girou em sua cadeira e passou os braços em volta de mim, me
puxando para seu colo.
— O que podemos fazer hoje? — Aiden perguntou. — Que tal um
encontro?
— Aiden, esta é a primeira vez que trabalho no escritório durante
toda a semana. Não posso sair toda hora. As pessoas vão pensar que estou
recebendo tratamento preferencial.
— Você é a companheira do alfa. Claro que você está recebendo
tratamento especial. Na verdade, acho que vou dar isso a você agora, —
ele disse, deslizando a mão pela minha perna e por baixo da minha saia.
— Para, Aiden, agora não. Tenho tanta papelada para preencher, — eu
disse, mas não fiz nenhum esforço para impedi-lo de puxar minha
calcinha até meus tornozelos e calcanhares.
— Há algo que precisa ser preenchido bem aqui, — ele rosnou,
lentamente mergulhando seus dedos profundamente no meu sexo.
Porra, era tão bom, e minha Bruma começou a atacar, deixando tudo
ainda melhor.
Estava ficando tão quente no escritório de Aiden que comecei a
desabotoar minha blusa, revelando meu sutiã de renda.
Eu dei a ele um olhar de aprovação e, em um movimento rápido, ele
limpou tudo de sua mesa e me deitou.
Aiden rastejou sobre mim e começou a puxar para baixo suas calças,
pronto para realizar sua fantasia de escritório, mas eu tinha a minha
própria.
— Espere. — eu exclamei. — Eu quero tentar algo.
Virei Aiden e subi em cima dele, sentindo meu domínio emergir pelo
meu corpo.
Inclinando-me o mais próximo possível de seu ouvido, sussurrei...
— Sou eu quem manda.
Michelle

— É um absurdo, — gritei, andando de um lado para o outro no


escritório de Josh. — Como ele pode fazer isso com você?
Josh apenas balançou a cabeça. — Ele a levou em patrulha quase todas
as noites esta semana. Era uma coisa nossa.
Ok, eu tive que admitir que o bromance do Josh com seu melhor
amigo e subsequente reclamação sobre ser deixado de lado era meio
broxante...
Mas eu tinha meus próprios problemas com Sienna.
E agora ela estava interferindo no trabalho do meu companheiro
também?
De jeito nenhum isso iria continuar.
— Josh, você tem que falar com Aiden hoje. Você é o beta dele, não
Sienna, e tem se esforçado tanto para mostrar seu valor. Você merece o
melhor.
— Tudo bem, farei isso hoje, se você concordar em falar com Sienna e
parar de ser tão passivo-agressiva, — disse Josh, cruzando os braços.
— Não sou passivo-agressiva, — zombei.
Eu tinha que admitir que queria que as coisas melhorassem entre
mim e Sienna, mas queria que ela viesse até mim primeiro. Eu mal tinha
ouvido falar dela nas últimas semanas.
Às vezes eu me perguntava se estava sendo mesquinha, mas
realmente doía ver minha melhor amiga de toda a vida se distanciando
cada vez mais de mim.
Uma batida forte no escritório de Aiden na porta ao lado me tirou dos
meus pensamentos e Josh pulou da cadeira.
— Estamos sob ataque? — ele deixou escapar, rasgando sua camisa,
pronto para se transformar.
Os sons inconfundíveis de gemidos e grunhidos começaram a sangrar
pela parede como se ela fosse feita de papel.
Meu queixo caiu. — Espere um segundo... eles estão?
— Aiden.
— Ai, Aiden.
— Isso. Isso. Isso.
— AIDEN.
— Josh, temos que superá-los, — gritei.
Ok, talvez eu fosse um pouco passivo-agressiva às vezes.
Empurrei Josh contra a parede e baixei suas calças. Ainda bem que ele
estava literalmente sempre pronto para agir.
Eu agarrei seu rosto e olhei profundamente em seus olhos.
— Eu quero que você me faça uivar, porra.
— Pode deixar, — disse ele, rasgando minha camisa para que meus
seios se espalhassem em seu rosto. Comecei a gemer o mais alto que
pude, bem contra a parede que dividia os escritórios de Josh e Aiden.
— Michelle, ainda nem estou dentro de você, — disse Josh, confuso.
— Bem, então se apresse, — eu gritei impaciente.
Sério que ele não estava entendendo o que estávamos fazendo?
Graças a deus ele era lindo.
Eu cravei minhas unhas no abdômen de Josh enquanto ele metia e a
gente gemia loucamente.
Foi alucinante.
Quem diria que a foda competitiva induzida pela Bruma seria tão
boa?
Saí do escritório de Josh, ofegando bastante, no momento exato em
que Sienna saiu do de Aiden.
— Ótimo, — eu murmurei baixinho.
— Ah, Michelle... oi, — Sienna gaguejou.
Nós duas nos olhamos de cima a baixo, ficando vermelhas. Estávamos
completamente bagunçadas — cabelos amassados, roupas rasgadas,
ambas sem fôlego.
Percebi que minha calcinha estava pendurada no bolso da jaqueta e
tentei escondê-la discretamente.
Sienna ajustou a alça do sutiã que estava exposta por causa de vários
botões faltando em sua blusa.
Antes que eu percebesse, Sienna caiu na gargalhada e eu fiz o mesmo.
— Isso é estranho pra caralho. — Eu estava chorando de rir.
— Não, é por isso que você é minha melhor amiga, — respondeu
Sienna.
Aquelas palavras me tocaram.
Talvez Josh estivesse certo. Era só eu falar com ela.
— Ei, e se a gente fosse...
O telefone de Sienna tocou e ela o puxou, deixando escapar um
suspiro pesado.
— Si, o que foi? — Eu perguntei, estendendo a mão para tocar seu
ombro, mas ela se afastou.
— Desculpe, não é nada. Apenas uma coisa com um cliente. Só estou
sendo dramática — disse Sienna, se atrapalhando para puxar as chaves da
bolsa. — Eu tenho que ir para a galeria.
Algo estava claramente errado.
Sem nem mesmo se despedir, Sienna entrou no elevador, os olhos
grudados no telefone.
Eu olhei para a escada ao lado.
Eu estava cansada de segredos.
Eu iria descobrir o que estava acontecendo, quer Sienna quisesse
confiar em mim ou não.

Konstantin: Sienna, você pensou no que eu disse?

Konstantin: Você estava tão perto de fazer uma descoberta.

Konstantin: Não quero que você jogue fora todo o seu


progresso.

Sienna: Acho que não posso continuar com


nossas sessões

Sienna: Não é saudável para mim

Sienna: Tem que haver outra maneira

Konstantin: Enfrentar seus medos é a única maneira.


Konstantin: Você não pode continuar correndo deles.

Konstantin: Prometo que se você voltar...

Konstantin: Farei tudo ao meu alcance para ajudá-la a encontrar


as respostas de que precisa.

Sienna: Não sei se sou forte o suficiente...

Konstantin: Você é.

Konstantin: Confie em mim.

Sienna: Ok...

Sienna: Vou tentar de novo. Mais uma vez.

Konstantin: Isso é tudo que você precisa

Josh
Bati na porta de Aiden e entrei em seu escritório. Tudo que estava em
cima de sua mesa estava espalhado pelo chão, e o almíscar do sexo
pairava no ar.
Ele ainda não tinha vestido a camisa e a gravata estava frouxa no
pescoço.
Pelo menos ele estará de bom humor. Ele acabou de transar.
— Ei, podemos conversar? — Eu perguntei hesitante.
Esses momentos com Aiden sempre foram estranhos. Eu não sabia se
deveria cumprimentá-lo ou me curvar e chamá-lo de meu alfa.
Minha amizade com Aiden começou muito antes de ele se tornar o
alfa da Matilha da Costa Leste, mas na casa da Matilha, a linha entre
nossa amizade e relacionamento profissional era confusa.
— Parece que nós dois tivemos tardes produtivas. — Aiden sorriu.
— Pois é, acho que sim, — eu disse, coçando minha nuca. — Na
verdade, é sobre isso que eu queria falar com você, minha produtividade.
— O quê, vai me dizer que está sobrecarregado? — Aiden riu. —
Porque parece que Michelle estava mantendo você bem ocupado.
— Você fez de Sienna seu novo beta, — eu gritei, incapaz de segurar
mais.
Aiden parecia atordoado.
Ele claramente não esperava aquela explosão.
— Isso tem a ver com a patrulha? — Aiden perguntou.
— Sim, mas não tem a ver só com a patrulha. Eu me um sinto inútil
do caralho quando venho trabalhar e vejo todas as minhas tarefas nas
mãos da Sienna.
— Josh, para falar a verdade, tenho tentado envolver Sienna na minha
vida profissional porque ela tem estado distante ultimamente. Mas ela
também tem sido um grande trunfo para a Casa da Matilha.
— Eu tenho trabalhado tanto para mostrar a você que ainda me
dedico a esta matilha e a você.
— Eu sei, Josh. E eu agradeço. Mas depois do que aconteceu com a
Sienna no festival, preciso provar que esses fanáticos estão errados e
mostrar à matilha o quanto Sienna pode brilhar quando tem a
oportunidade.
Ele suspirou profundamente e recostou-se na cadeira da
escrivaninha.
— Com Sienna, estou começando a ver um novo caminho para nossa
Matilha que eu nunca teria visto por conta própria.
— Claro, mas onde me encaixo nessa visão do futuro? — Eu
perguntei.
Houve um silêncio tenso entre nós.
Não importa se Aiden me perdoou ou não, as coisas estavam
diferentes agora. E isso era difícil de aceitar.
Michelle

Todas aquelas corridas com Aiden devem ter trabalhado bastante as


pernas da Sienna, porque as minhas estavam pegando fogo tentando
acompanhar aquela garota.
Minha melhor amiga definitivamente estava guardando segredos. Ela
não apenas não foi à galeria, mas chamou um táxi em vez de usar o
motorista de Aiden.
E de repente eu estava assistindo Sienna entrar no hotel mais caro da
cidade, tentando passar despercebida.
Graças a deus essa perseguição finalmente acabou, porque eu não fui
feita para essa merda.
Eu me agachei atrás de uma cadeira no saguão enquanto a observava
entrar no elevador. Eu queria ter visto pelo menos para que andar essa
vadia sorrateira estava indo.
— Que merda, — eu murmurei para mim mesma quando a luz parou
na cobertura.
Por que diabos ela estava encontrando alguém em um hotel, a
menos...
Sienna
Mal pude conter minha ansiedade enquanto esperava o elevador do hotel
de Konstantin. Eu finalmente obteria as respostas que estava procurando.
Fechei meus olhos e respirei fundo.
Eu finalmente saberia de onde vim.
De quem eu vim.
E eu poderia perguntar na cara deles por que eles me abandonaram...
Mesmo que fosse doloroso, eu precisava saber...
Porque eu não era boa o suficiente.
Capítulo 23
A ÓPERA
Aiden

Faltando apenas alguns dias para o Baile de Inverno, eu estava preso


trabalhando até tarde no escritório novamente.
Meu único consolo foi que não teríamos nenhum convidado surpresa
este ano. O Alfa do Milênio ficaria na Costa Oeste para as festividades
deste ano.
Sienna me mandou uma mensagem dizendo que estava indo para
uma sessão de terapia e depois indo para a galeria, o que pelo menos me
fez sentir menos culpado, mas eu não queria que essa fosse a nossa vida
— ambos trabalhando até tarde em lados opostos da cidade.
Eu não conseguia parar de pensar no que Josh havia me dito. Foi
chocante ver meu amigo, que sempre estava tranquilo, tão chateado e,
embora eu não quisesse admitir, muito do que ele disse fazia sentido.
Havia uma energia ruim no ar. Ela estava presente nas últimas
semanas.
Não era algo que eu pudesse cheirar ou ver, mas podia sentir em meus
ossos.
E estava afetando todos com quem eu me importava.
Talvez o Baile de Inverno fosse a coisa certa para tirar todo mundo
desse clima. Ou talvez acabasse sendo um desastre ainda maior do que o
do ano passado.
Pelo menos uma coisa era certa: Sienna estaria linda.
Peguei uma caixa de vestido debaixo da minha mesa. Selene projetou
isso exclusivamente para a estreia de Sienna no Baile de Inverno como
minha companheira.
Eu não sabia absolutamente nada sobre vestidos, mas Selene tinha me
garantido que ela adoraria.
Quando apaguei as luzes do meu escritório, lembrei-me de que
Sienna tinha saído correndo. É melhor eu verificar se ela deixou alguma
coisa para trás.

— Preciso de mais tempo.


Ao me aproximar do escritório de Sienna, percebi que a porta estava
entreaberta, apesar das luzes terem sido apagadas.
Havia alguém lá dentro, conversando, mas eu só conseguia ouvir uma
voz, e não era a de Sienna.
Eu preparei minhas garras e rastejei silenciosamente até a borda da
porta para ouvir.
— Isso não fazia parte do acordo... Faça seu próprio trabalho sujo...
Por favor, deve haver outra maneira... eu entendo.
O que era aquela baboseira? Era hora de acabar com aquilo.
Eu irrompi pela porta e encontrei Nina parada no meio da sala,
sozinha.
Ela se virou para olhar para mim, assustada.
— O que diabos você está fazendo no escritório da minha
companheira, loba ômega? — Eu rosnei.
— E-eu deve ter sido meu sonambulismo, — ela balbuciou.
— Com quem você estava falando? Quem mais está aqui? — Eu
cheirei o ar, mas o único cheiro na sala era o de Nina.
— Juro, não sei como vim parar aqui, — disse ela, começando a
tremer.
— Mentira, — eu cuspi, circulando-a. — Você é uma ladra. Então, o
que você veio roubar aqui?
— Cometi erros na minha vida, mas não sou assim, — disse ela,
chorando.
Eu não acredito nessas lágrimas de crocodilo nem por um segundo.
— De qual matilha você foi exilada? — Eu investiguei.
— A matilha da Colômbia, — ela divulgou. — Você não faz ideia...
você não sabe como era lá. Eu só roubei para me manter viva.
Eu duvidava que fosse uma coincidência ela ter escolhido uma das
matilhas mais distantes e remotas possíveis. Levaria uma semana para
verificar sua história.
— Volte para seus aposentos, — eu rosnei. — Mas não se acostume.
Você não vai ficar aqui por muito mais tempo.
Enquanto ela mancava para fora do escritório de Sienna, ela se virou
para mim. — Lamento ser um inconveniente, meu alfa.
— Eu não sou seu alfa, — eu cuspi. — Você pode ter enganado
Jocelyn, mas sei quem você é de verdade.
Sienna

Mais uma vez, encontrei-me sentada em frente a Konstantin enquanto


ele olhava através de mim, embora eu tivesse jurado nunca mais voltar
aqui.
Ele conhecia meus medos mais profundos.
Meus maiores arrependimentos.
Meus desejos mais profundos.
Eu estava em desvantagem naquele jogo e nunca estive tão vulnerável
quanto ficava em suas sessões, mas se o que ele havia me dito fosse
verdade, eu finalmente descobriria quem eram meus pais.
— Você está pronta para entrar em suas memórias? — ele perguntou.
— Não, mas vamos fazer isso antes que eu mude de ideia, — eu disse,
suspirando. — Se eu der a você acesso às minhas memórias, esta será a
última vez.
— Sim, eu posso te prometer isso. Eu sei como isso deve ser cansativo
para você.
Konstantin se inclinou e segurou minhas mãos. — Tudo bem, vamos
descobrir a verdade...
Comecei a perder a consciência.
—... juntos.
Uma casa de ópera italiana desta vez — um teatro do tamanho do
Coliseu.
Eu estava em um camarote olhando o espetáculo no palco. Um caçador,
em uma paisagem de inverno, estava de pé ao lado de seu prêmio, berrando
uma enxurrada de palavras melódicas que eu não entendia.
O simbolismo, entretanto, era dolorosamente claro — o prêmio daquele
caçador?
Um lobo morto, sangrando de lado.
Meu cérebro não era sutil.
Senti meu lobo interior queimando dentro de mim. Isso me salvou da
última vez que me perdi em minha própria cabeça; talvez me protegesse desta
vez também.
Usei meu mini binóculo para examinar a multidão, procurando por
Aiden. Eu o localizei na primeira fila. Ele estava indo para os bastidores.
Eu levantei meu vestido de baile magnífico e desci correndo as escadas
enquanto ele se arrastava atrás de mim.
Quanto mais perto eu chegava do palco, mais começava a sentir a
Bruma.
Força, Sienna. Lembre-se, isso não é real.
Enquanto eu tentava me convencer de que era apenas minha imaginação,
o prazer avassalador que crescia em meu sexo me dizia o contrário.
Eu preciso ser tocada agora.
Atrás do palco, passei por fileiras de figurinos e adereços detalhados, em
busca de Aiden. Ele apareceu por trás de uma cortina, usando uma máscara
meia face dourada.
— Sua mente sempre traz você para mim. Toda vez, — ele disse
suavemente. — Você sabe o que você quer, o que tem que ser feito.
Aiden estalou os dedos e a cortina de veludo gigante caiu, deixando-nos
expostos no palco na frente de milhares de pessoas.
Os atores haviam sumido; éramos apenas nós.
Meu lobo interior tentou uivar, como se quisesse me avisar de algo, mas a
orquestra começou a tocar e meu lobo foi afogado.
Aiden estendeu a mão e nós dois começamos a dançar quando a neve caiu
do teto e cobriu o palco.
Eu estava em transe, sem controle do meu próprio corpo, mas parecia
uma adorável canção de ninar. Eu não queria que acabasse.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo...
Nós nos beijamos.
Sob as luzes.
Na neve.
Com milhares de olhos em nós.
Era mágico.
— Você é realmente linda, Sienna. Agora, deixe-me entrar nessa bela
mente.
Aiden me deitou suavemente em algumas peles escuras no meio do palco.
Corri meus dedos por sua maciez enquanto ele estava em cima de mim.
— Isso é real? — Eu perguntei, mergulhando mais fundo no meu
subconsciente. — Parece um sonho.
— Sim, minha querida, é apenas um sonho, — Aiden persuadiu,
desabotoando as calças e rastejando em cima de mim.
Ele começou a beijar meu pescoço, mas isso estava errado.
— Deixe-me entrar.
Eu não queria.
Ele não se parecia com Aiden. Seu toque era estranho.
Esses não poderiam ser meus desejos com ou sem Bruma.
Eu virei minha cabeça para evitar seus beijos e...
Ai, meu deus.
Gritei a plenos pulmões.
Eu estava deitada sobre a pele de um lobo.
O lobo de Aiden.
Sua língua estava pendurada grotescamente para fora de sua boca, e seus
olhos mortos me encararam com o vazio.
Quando me virei para Aiden, meu sangue gelou.
Meu coração afundou profundamente no buraco negro sem fim em que
meu estômago se tornou.
Porque não era mais Aiden deitado em cima de mim...
Era Konstantin.
Suas presas estavam estendidas e ele estava se movendo em direção ao
meu pescoço.
— Dê-me o que eu quero, — disse ele nervoso e irritado.
Eu lutei embaixo dele, mas ele me prendeu.
— Pare com isso! — Eu gritei. — Por que você está fazendo isso?
— Apenas me deixe entrar! — ele gritou. — E tudo isso vai acabar.
— Saia de perto de mim, — gritei.
Mudei e saltei sobre Konstantin, afundando meus dentes em seu ombro.
Enquanto ele gritava, não fomos apenas arrancados do chão. Fomos
jogados no que parecia um furacão.
Eu rompi nossa conexão.

Assim que recuperei a consciência, puxei minhas garras e passei-as pela


pele de Konstantin.
— Desgraçada, meu rosto! — ele gritou.
Eu deveria ter mirado mais baixo entre suas pernas.
— Esse tempo todo era você, — eu disse com minha voz tremendo. —
Minha mente nunca criou Aiden como meu guia. Sempre foi você.
Nunca senti uma traição tão profunda e condenatória.
Minha cabeça estava girando. Tive vontade de vomitar.
— Você estava apenas me usando, — eu disse.
Konstantin deu um passo em minha direção e eu imediatamente
recuei.
— Por quê? — Eu perguntei enquanto meus olhos se enchiam de
lágrimas.
— Porque você tem algo que eu quero, — respondeu ele. — Bem no
fundo de sua mente.
Sua voz e comportamento mudaram completamente, e eu sabia que
não estava segura aqui.
Corri para o elevador enquanto ele tentava me seguir.
— Você não sabe o que está fazendo.
— Isso é porque você está mexendo com a minha cabeça, me
manipulando, — eu gritei, quase me transformando.
As costuras do meu vestido começaram a estourar.
Enquanto Konstantin caminhava em minha direção, soltei um rugido
tão poderoso que o desequilibrou.
Como diabos eu fiz isso? Eu nunca tinha visto nem mesmo Aiden
derrubar alguém antes.
— Nunca mais chegue perto de mim de novo, — eu disse, com
lágrimas escorrendo pelo rosto.
Assim que a porta do elevador estava para fechar, vi o rosto
normalmente bonito de Konstantin se contorcer em uma carranca feia,
cheia de ódio.
Michelle

Finalmente, lá está ela!


Eu estava prestes a adormecer esperando para emboscar Sienna no
hotel, mas pulei quando a vi correndo para fora do elevador.
Espere, por que ela está correndo?
E... ela está chorando?
Ela passou correndo, sem nem mesmo me notar...
Um homem bonito e de aparência distinta saiu correndo de um
elevador imediatamente depois, limpando o sangue da boca e olhando ao
redor do saguão com uma raiva selvagem nos olhos.
Que porra é essa?
Não era difícil de somar dois e dois.
Eu não me importava com os problemas que estava tendo com
Sienna. Este homem tinha feito algo à minha melhor amiga e ele iria se
arrepender.
Eu marchei até o homem, as garras em punho, pronto para uma luta.
Ele me olhou de cima a baixo com um sorriso sedutor. — Quem é
você?
— Que merda você fez com Sienna? — Eu rosnei.
— Por quê você se importa? — ele perguntou, divertido.
— Ela é minha melhor amiga, idiota. Agora me diga por que você a fez
chorar, ou você é quem vai chorar.
Ele sorriu calmamente e cravou as unhas no meu ombro, dando-me
um olhar hipnotizante.
— Por que eu não mostro a você?
Capítulo 24
YULETIDE
Sienna

— Sienna, aqui!
— Não, aqui, Sra. Norwood!
— Esse vestido é lindo. Quem o desenhou?
— Dê-nos um sorriso!
Um sorriso.
O tapete vermelho se estendeu na minha frente, parecendo que
continuava por um milhão de quilômetros.
Flashes ofuscantes, perguntas invasivas, observadores cobiçando.
Eu poderia lidar com tudo isso.
Sorrir parecia impossível agora.
O que aconteceu com Konstantin estava me consumindo por dentro,
sua presença ainda persistia em minha mente.
Ele estava me usando.
Por quê, eu não tinha certeza, mas ele era poderoso e tinha exercido
algum nível de controle sobre mim que eu nem tinha percebido.
Eu precisava contar a Aiden o que tinha acontecido, mas o Baile de
Inverno não era o lugar. Ou talvez fosse e eu estava com muito medo de
reviver aquilo...
Aiden apertou minha mão. — Sienna, você está bem? Eu sei que isso é
um pouco demais, mas estaremos lá dentro antes que você perceba.
— Não, está tudo bem — você está certo, — eu disse, forçando um
sorriso. — Vamos.
Eu praticamente puxei Aiden ao longo do tapete vermelho, parando o
mínimo de vezes possível. Talvez se apenas entrássemos, tudo seria...
Dez vezes pior.
Quando entramos no Casa da Matilha no topo da escada, todos
pararam o que estavam fazendo e olharam para nós.
Todos.
Eu vi minha mãe puxando a manga do meu pai e apontando para
mim e Aiden, parecendo que ela estava prestes a ter um derrame de
emoção ao ver sua filha fazer sua grande entrada no Baile de Inverno.
Selene sorriu para mim. Eu esperava estar fazendo justiça ao vestido
dela. Honestamente, foi a peça de roupa mais elegante que eu já vi.
Um vestido decotado, longo com lantejoulas douradas, que deve ter
levado semanas para ser feito. Ela até fez para Aiden uma gravata
dourada combinando.
Você realmente deveria ter passado mais tempo no tapete vermelho. Por
que você é tão egoísta, Sienna? Apenas pensando em si mesma.
Meu olhar começou a disparar para frente e para trás entre Mia, Erica,
Josh e Michelle. Eu senti como se todos eles pudessem ler minha mente,
como se conhecessem meus segredos.
Do jeito que Konstantin fez.
Aguenta firme, Sienna.
Eu joguei minha cabeça para o alto e acenei para a multidão,
segurando a mão de Aiden com força com a minha outra mão enquanto
descíamos a escada.
Eu sabia que poderia superar isso com ele ao meu lado.
Ele só está ao seu lado porque não sabe a verdade.
Que pensamentos horríveis que continuavam rastejando em minha
cabeça? Minha ansiedade estava gritando.
Quando chegamos ao fim da escada, a multidão voltou a tagarelar. Eu
tinha que contar a Aiden sobre Konstantin antes de explodir.
— Aiden, eu tenho algo para contar.
— Sienna, tenho que cumprimentar todos os dignitários e resolver
alguns assuntos antes do banquete. Você ficará bem por conta própria
por um tempo?
— Claro, — eu disse, tentando sorrir. — Vou encontrar minha família.
Enquanto ele se afastava, a voz voltou:
Veja, ele não consegue nem ficar perto de você. Ele odeia a maneira como
você tira toda a diversão e festividade da festa com o seu desespero.
— Pare... pare de me atormentar, — eu murmurei, segurando minhas
mãos na minha cabeça.
Quando me virei, Michelle estava parada a poucos centímetros de
mim e quase gritei.
— Ai, meu Deus, Michelle, você me assustou. Mas estou muito feliz
em ver você, — eu disse, aliviada. — Estou quase enlouquecendo.
— Sienna, você esta uma maravilha, — disse Michelle, acariciando
meu cabelo. — E esse vestido - ouro puro.
— Selene que fez. Ela provavelmente faria algo para você se...
— Sua irmã sabe que você é uma vagabunda? — Michelle perguntou
abruptamente com um sorriso meio estranho.
— Como é? — Eu disse, recuando.
— E quanto ao Aiden? Ele sabe onde você tem passado as noites?
— Michelle, não sei o que você viu, mas posso explicar. Na verdade,
eu preciso contar para alguém.
— Me poupe, Sienna. Eu sei quem você realmente é. Seus segredos
não permanecerão assim por muito tempo. Em breve, todos conhecerão
sua verdadeira natureza, — disse ela.
Estreitando os olhos, ela apontou para a festa lotada cheia de minha
família e amigos.
Por que ela estava sendo tão cruel? Aquilo não parecia ser minha
melhor amiga de forma alguma.
A sala começou a parecer que estava se fechando sobre mim.
Todo mundo se tornou um borrão de lágrimas.
Eu não poderia estar ali. Eu não aguentaria.
Então eu corri.
É o que você faz de melhor.
Jocelyn
Tentei conter minha risada quando Nina me empurrou para a biblioteca
e nosso champanhe espirrou no chão.
— Nina, tenha cuidado. Este é um tapete persa. Você sabe como são
caros? — Eu disse, rindo enquanto tentava enxugá-lo com meu vestido.
— Não sabia. Obrigado pela dica. — Nina sorriu. — Mas como vou
colocá-lo na minha bolsa antes de sair?
— Para seus dias de ladra acabaram, — eu disse, puxando-a para baixo
no tapete ao meu lado. — Você está no caminho de Deus agora.
— Hmm, definitivamente isso não é de Deus, — disse ela, puxando-
me para um beijo.
Cada vez que seus lábios tocavam os meus, parecia mágica. Eu
gostaria de poder engarrafar aquele sentimento e usá-lo como um
remédio, porque parecia tornar tudo melhor — pelo menos naquele
momento.
— Tive uma ideia, — anunciei, embriagada. — Aqui, me ajude com
isso.
Arrastei o tapete persa para perto da lareira crepitante e agarrei o
máximo de almofadas e travesseiros que pude encontrar, criando um
covil macio para desabarmos.
Nós seguramos as mãos e caímos para trás, caindo na pilha de
travesseiros em um ataque de risos.
— Obrigado por abandonar a festa comigo. — Eu sorri. — Estou meio
de saco cheio com os bailes de inverno.
— Você não tem que me agradecer. Não sou uma garota que curte
muito multidões — afinal, eu sou uma ladra.
Nós nos viramos e olhamos uma para a outra. Os olhos ômega de
Nina brilhavam com as chamas dançantes e fizeram meu coração
palpitar.
— Meus pais eram ambos ladinos, — eu disse de repente. — Eu nunca
disse isso a ninguém antes.
— É sério? — Nina perguntou, surpresa. — Por que eles foram
exilados?
— Eles eram soldados na milícia da matilha. Eles discordaram de seu
alfa, pessoas inocentes estavam sendo feridas e não podiam mais ser
cúmplices.
— Então eles escolheram ser lobos ômega. Eles passaram a vida
inteira tentando compensar os erros do passado.
— Eles parecem pessoas boas, não como eu, — disse Nina, virando-se.
— Todos cometemos erros, mas eles não nos definem. A Matilha da
Costa Leste reconheceu isso e os acolheu. Eles podem fazer o mesmo por
você.
Pressionei meu corpo contra o de Nina e a beijei novamente.
— Você não precisa mais ficar sozinha.
— Nem você, — disse ela, beijando-me apaixonadamente de volta.
Minha Bruma se acendeu com desejo e comecei a morder seus lábios
enquanto suas mãos acariciavam meus seios.
Eu montei nela e puxei meu vestido pela cabeça enquanto ela tirava o
dela.
O calor do fogo no corpo nu de Nina aqueceu sua pele, e quando
minha própria carne nua tocou a dela, desejei que nos fundíssemos em
um único ser.
Eu belisquei e chupei seus mamilos, provocando um gemido suave.
Eu estava por cima, mas não por muito tempo. Nina gostava de me
dominar...
Ela assumiu o controle, me virando, deitando-me de costas e
afastando meus joelhos.
Ela foi beijando minha barriga até chegar no meu sexo e começou a
sacudir sua língua dentro de mim com tal habilidade que
instantaneamente me deixou molhada.
Comecei a gemer alto, incapaz de me controlar. Eu torcia para que
ninguém estivesse passando lá fora, ou eles poderiam ouvir.
Nina mergulhou seus dedos dentro de mim e começou a massagear
partes do meu sexo que a maioria dos homens nem sabia que existiam.
Enquanto ela movia os dedos ritmicamente, minha Bruma explodiu e
comecei a ter um orgasmo.
— Porra! — Eu gritei em êxtase.
Naquele momento, toda a maldita festa provavelmente poderia me
ouvir.
E eu não me importava nem um pouco.
Aiden
Embora Raphael tenha perdido o evento deste ano, muitos outros alfas
notáveis estavam presentes.
Normalmente ficávamos bêbados com as melhores garrafas de uísque
e trocávamos histórias de caça a noite toda, mas este ano foi diferente.
Eu estava acasalado, e era Sienna, não esses dignitários, com quem eu
queria passar a noite.
— Aiden, seu cachorro velho, finalmente sossegou, hein? — George, o
alfa da matilha canadense, me deu um tapa nas costas. — Eu já estava
ficando preocupado com você sozinho chegando perto dos trinta.
Eu não estava com humor para aturar aquele idiota.
Notei Josh socializando com os outros betas, e uma ideia me ocorreu.
— Você me daria licença por um momento? — Eu disse,
abandonando George e correndo até Josh.
— Josh, precisamos conversar sobre as coisas que você disse no meu
escritório outro dia.
— Ah, Aiden, ouça... Eu estava errado quando disse que você fez de
Sienna seu novo beta, — Josh se desculpou.
— Não, tenho pensado muito sobre o que você disse, e você está
certo. Tenho tirado suas responsabilidades a fim de tornar Sienna mais
envolvida.
Josh parecia atordoado.
— Agora que estou acasalado, não posso viajar tanto quanto antes.
Quero que você seja meu novo embaixador — meu dignitário, que posso
enviar ao exterior em meu lugar quando surgir a oportunidade. O que
acha disso?
— Aiden, não sei o que dizer, seria uma honra, — respondeu Josh,
boquiaberto.
— Ótimo, — eu disse, apertando seu ombro. — Porque eu preciso que
você comece agora. Vá se embebedar com todos aqueles dignitários
estrangeiros em meu lugar e mantenha-os distraídos.
— Se esse é meu dever, então acho que não tenho escolha, — Josh riu.
Enquanto eu inspecionava os alfas, um deles em particular chamou
minha atenção — um homem mais velho com pele marrom e uma túnica
cerimonial amarela. Havia algo familiar sobre ele, mas eu não conseguia
identificá-lo.
— Josh, quem é aquele alfa de manto amarelo?
— Aquele é Mateo, líder da matilha Colombiana.
A matilha Colombiana.
— Josh, venha comigo, — eu disse, imediatamente marchando até
Mateo.
— Mateo, já faz algum tempo que não vejo você no Baile de Inverno,
— cumprimentei-o, esperando que não fosse óbvio que tinha esquecido
quem ele era.
— Aiden, sim, é bom ver você. E uma grande jornada para mim com
nossas Matilhas tão distantes uma da outra, — Mateo disse, apertando
minha mão.
— Eu coincidentemente tive um encontro recentemente com um
membro da sua matilha — bem, um ex-membro na verdade. Eu queria
saber se você poderia esclarecer algo para mim.
Mateo ergueu as sobrancelhas: — Um ex-membro? Um lobo ômega
então. Qual é o nome dele?
— O nome dela é Nina, uma loba. Você a exilou por roubo.
— Receio que você esteja enganado, Aiden... Ninguém com esse
nome, ou por esse crime, jamais foi exilado da matilha colombiana.
Capítulo 25
CORRENDO
Sienna

O ar gelado do inverno feria minha pele nua enquanto eu corria pela rua
com meu vestido e salto alto. Estava difícil de respirar, mas era mais fácil
do que no Baile de Inverno.
Lá, eu não conseguia respirar de jeito nenhum.
Minha mente estava me sufocando e eu precisava clarear a cabeça.
Aquelas vozes... as coisas horríveis que me disseram. Será que estavam
certas? Eu fui a causa da miséria de todos?
O que Michelle disse me assombrou mais — e a maneira como ela
disse, com aquele sorriso estampado no rosto.
Ela não era ela mesma. Não poderia ser...
Ou talvez você simplesmente não queira admitir que ela estava certa.
Você é uma vagabunda.
— PARE, — eu gritei. — Saia da minha cabeça.
As luzes da rua piscaram assustadoramente ao meu redor quando
parei e segurei minha cabeça.
Eu acabei de fazer isso acontecer?
Eu não sabia mais o que era real e o que era fantasia.
Eu estava perdendo o controle da realidade.
A neve começou a cair enquanto eu prosseguia pela rua
inquietantemente silenciosa. Aquilo era real ou era outro truque que
minha mente estava pregando em mim?
Eu me lembrei daquele pesadelo horrível na minha cabeça:
Dançando com Konstantin.
Debaixo das luzes.
Deitado sobre as peles — o lobo de Aiden.
Eu fiquei tonta. Olhei para cima e todas as luzes da rua pareciam estar
me iluminando. Eu estava de volta ao palco.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Aquilo não era real.
Mas parecia real.
Eu precisava estar em algum lugar seguro. Em algum lugar onde eu
pudesse me esconder. Minha galeria.
Corre, Sienna.
Meus calcanhares começaram a bater na neve recém-caída.
Continue correndo.
Nina

Apenas.
Continue.
Correndo.
Não pare. Não olhe para trás.
Meus pés estavam ficando cansados. Eu poderia correr muito mais rápido
se estivesse transformada, mas não poderia fazer isso enquanto carregava um
artefato inestimável.
Merda, o corredor à minha frente estava começando a fechar. Que sorte a
minha.
Eu fui extremamente estúpida por pensar que roubar de uma divindade
seria uma tarefa fácil.
Foda-se. Eu não tinha escolha.
Me transformei em loba, arrancando minhas roupas.
Peguei minha mochila em minhas mandíbulas e corri enlouquecidamente
até a luz no fim do túnel.
Eu estava por um triz.
Pressionei minhas patas traseiras no chão e saltei pela abertura, assim que
as paredes se fecharam atrás de mim.
Eu rolei pela terra e caí em uma pilha na borda de uma floresta.
Eu me transformei em um humano e me levantei, olhando para trás, para
o templo que quase tirou minha vida.
Sorrindo, levantei meu dedo do meio para o céu e mostrei minha língua.
— Chupem, deuses. Sobrevivi para roubar ainda mais.
O ar úmido parecia pegajoso contra meu corpo nu enquanto eu olhava ao
redor, procurando por minha mochila descartada. Eu a encontrei alojada em
um arbusto próximo, enquanto o artefato captava o reflexo da luz do sol
dentro dela.
— Ai está você, — eu disse, puxando meu prêmio.
A Balança de Llinos. Ela não parecia nada demais, mas era feita de ouro
maciço. Uma balança como qualquer outra.
Ela custaria um preço alto no Covil, o maior mercado negro para
lobisomens da América do Sul.
Era um objeto sagrado, supostamente contendo algum tipo de poder
divino, mas eu não acreditava nessa besteira.
Eu acreditava no que eu podia ver. No que eu poderia gastar.
O poder do dólar todo-poderoso foi o que me manteve viva, não orações a
divindades.
Eu coloquei a balança em uma pedra e comecei a incliná-la para frente e
para trás.
— Você vai determinar meu destino? — Eu perguntei ironicamente.
— Não, criança, mas eu vou, — retumbou uma voz profunda, mas
feminina atrás de mim.
Uma figura alta, esguia e encapuzada pairou sobre mim. Embora seu
rosto estivesse obscurecido, seu corpo e características eram andróginos.
— Quem... quem diabos é você? — Eu perguntei, segurando a balança no
meu peito nu.
— Sou eu quem mantém este mundo equilibrado, você alterou esse
equilíbrio, — explicou ela.
As escamas dispararam de meus braços para a mão da mulher e fiquei
paralisada. Não importa o quanto eu tentasse, eu não conseguia me mover.
Será que era uma...
Ela colocou uma pedra em cada lado da balança. — A balança vai
determinar se você viverá ou morrerá.
Eu assisti com horror quando eles balançaram para frente e para trás, até
que finalmente o lado direito caiu.
Meu corpo descongelou e eu caí no chão. — O que... o que isso significa?
— Significa que vou lhe conceder um favor. Você vive, por enquanto.
Mas, para restaurar o equilíbrio, você permanece em dívida comigo até
que cumpra um favor em troca, — ela respondeu.
— E que tipo de favor você está sugerindo? — Eu perguntei, tremendo.
— Qualquer indulgência que atenda às minhas necessidades. Vou visitá-
la novamente quando chegar a hora, — ela disse enquanto desaparecia no ar
denso, me deixando sozinha.

— No que você está pensando? — Jocelyn perguntou, acariciando meu


rosto enquanto deitamos perto da lareira. — Parece que você está em
algum lugar longe.
— Eu estava por um minuto, mas estou de volta, — eu disse,
aconchegando-me ao lado dela. — Não há nenhum lugar que eu prefira
estar do que aqui, perto de você.
— Nina, aquele sexo foi...
— Incrível? Surpreendente? O melhor que você já experimentou? —
Eu disse, terminando a frase dela.
— Que presunçosa, — Jocelyn riu. — Eu ia dizer que... foi perfeito.
— Também achei, — eu corei. Eu nunca corei.
— Sabe qual a melhor parte de ser mulher? — Jocelyn perguntou
timidamente.
— Talvez, mas me diga mesmo assim.
— Orgasmos múltiplos, — respondeu ela. — E sabe o que mais?
Minha Bruma ainda está queimando.
— O que você está sugerindo, doutora?
Jocelyn subiu em cima de mim e me deu um beijo longo e profundo
— do tipo em que parecia que sua alma estava deixando seu corpo por
um plano superior.
Droga, como aquela garota beijava bem.
— Você está pronta para a segunda rodada? — ela perguntou, olhando
nos meus olhos.
Porra, claro que estou.
Eu peguei Jocelyn enquanto ela colocava seus braços e pernas em
volta de mim. Caímos de costas em uma estante, derrubando dezenas de
livros históricos no chão.
Comecei a dedilhar seu sexo, deixando-a ainda mais molhada
enquanto continuava a empurrá-la contra a prateleira. Jocelyn agarrou
minhas costas e engasgou de alegria.
— Ai, meu Deus. Nossa. Esta é a melhor... a melhor sensação de todas,
— ela gritou.
Tá aí algo que eles podem adicionar aos livros de história da Matilha da
Costa Leste.
Jocelyn se soltou de meus dedos e ficou de joelhos.
— É a sua vez, — disse ela, beijando meu umbigo.
Ela colocou a língua no meu sexo e começou a movê-la como se
estivesse falando a mil por hora.
Ela está recitando o maldito juramento hipocrático do curandeiro lá
embaixo?
O que quer que ela estivesse fazendo, era incrível.
— Não pare — continue, — eu disse, agarrando seu cabelo.
Jocelyn começou a brincar com seu sexo enquanto me estimulava, e
nós duas gritamos de prazer em orgasmos simultâneos.
Caímos de volta no chão, rindo e respirando pesadamente ao mesmo
tempo.
— Eu vou ter um ataque cardíaco, — Jocelyn ofegou enquanto
colocava sua calcinha de volta.
O jeito que ela me olhou com desejo enquanto eu prendia meu sutiã
de volta no lugar... Eu nunca tinha visto alguém me olhando assim antes,
como se eu fosse realmente desejada.
Ela era tão linda, e eu não a merecia. Eu me perguntei o que ela diria
se soubesse por que eu realmente estava aqui.
Talvez fosse melhor se eu apenas concluísse minha tarefa esta noite — e
desaparecesse como a covarde que sou...
Não importa o que eu fizesse, eu iria machucá-la.
— Nina, venha sentar-se comigo, — Jocelyn me persuadiu com o
sorriso mais fofo do mundo.
Sentei-me em frente a ela, e ela agarrou minhas mãos, corando em
um tom forte de vermelho.
— Eu... eu quero, porra... eu não sei como dizer isso, — ela disse,
tropeçando em suas palavras.
Espere um segundo, ela estava prestes a dizer...
Jocelyn

Meu deus, eu parecia uma idiota. Por que eu ficava tão nervosa perto
dela?
É que... eu nunca disse essas palavras a ninguém antes.
E se ela não retribuísse?
A verdade é que eu nem sabia se Nina era minha companheira. Não
tínhamos tido aquele momento de confirmação ainda — aquele
momento de certeza.
Mas, apesar disso, havia uma coisa que se tornava cada vez mais clara
para mim.
— Jocelyn..., — ela começou.
— Nina, acho que estou me apaixonando por você, — deixei escapar.
Ela estava atordoada, completamente silenciosa e imóvel.
Aí, diga alguma coisa — qualquer coisa. Isso é insuportável.
— Eu... eu, bem... — Ela trouxe seu olhar para o meu.
A última coisa que eu queria fazer era assustá-la, mas nossa conexão
era tão forte que eu sabia que ela também sentia.
Quando eu estava com Nina, era como se eu estivesse realmente viva.
Ela acendeu um fogo em meu coração, e estava queimando mais forte a
cada dia.
Ela colocou a mão sobre a minha e apertou. — Jocelyn, eu estou...
A porta da biblioteca se abriu e Aiden invadiu com Josh e um enxame
de soldados.
— Jocelyn, saia de perto dela — Aiden rosnou. — Ela não é quem diz
ser.
— Aiden, que merda você está falando? — Eu exigi. — Você não pode
simplesmente invadir aqui e...
— Ouça, Jocelyn, — Josh avisou. — Ela está mentindo para nós esse
tempo todo.
Dois soldados agarraram Nina e amarraram suas mãos atrás das
costas enquanto eu olhava com horror, incapaz de parar aquela loucura.
— Nina, o que está acontecendo? — Eu disse, engasgando.
— Sinto muito, Jocelyn. Sinto muito, — ela disse, com lágrimas
escorrendo pelo rosto.
Eles a arrastaram para fora da sala enquanto eu me sentava em nossa
pilha de travesseiros, soluçando.
Aiden olhou para mim enquanto fechava a porta, me deixando
sozinha.
Eu sempre acabo sozinha.
Capítulo 26
CAMINHOS DA MENTE
Sienna

Trancada com segurança em minha galeria, me retirei para meu estúdio


pessoal nos fundos para trabalhar em uma nova peça. Pintar sempre foi a
melhor maneira de clarear minha cabeça.
Coloquei um avental sobre o vestido para evitar respingos de tinta
nele. Selene me mataria se soubesse que eu estava a menos de quinze
metros do meu estúdio usando um de seus originais.
Com meu telefone desligado e sem janelas ao meu redor, me senti
realmente isolada do resto do mundo, e era exatamente disso que eu
precisava agora.
Todas as minhas pinturas representavam memórias felizes, não toda
aquela merda que estava passando pela minha cabeça ultimamente.
Era bom ter um lembrete de que as coisas iriam melhorar
eventualmente.
As coisas só vão piorar.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Isso não é verdade.
Ok, eu só precisava me concentrar, sair da minha própria cabeça.
De repente, estar em uma caixa isolada com apenas meus
pensamentos para me fazer companhia parecia a pior ideia que eu
poderia ter.
Meu telefone começou a vibrar, mas era impossível. Ele estava
desligado.
Eu cautelosamente estendi a mão até ele e abri as mensagens.
Konstantin: Estou na sua cabeça, Sienna.
Konstantin: Eu gosto bastante daqui.
Konstantin: Acho que vou ficar mais um pouco...
Joguei meu telefone longe e me virei, mas ainda estava sozinha.
— Saia da minha cabeça, — gritei. — Eu não te dei permissão.
— Ah, mas você deu. Muitas vezes. E você ainda não me deu o que eu
preciso.
— Então, vou ter que tomar à força.
Eu tropecei para trás, tropeçando em algumas telas e caindo em um
balde de tinta.
Meu lindo vestido estava arruinado - manchado em um tom escuro
de vermelho.
Mas aquilo não era tinta...
É sangue!
Eu gritei enquanto tentava enxugá-lo, mas momentos depois, não
havia nada em mim.
— Você nem sabe mais o que é real.
A risada de Konstantin ecoou em minha cabeça.
— Isso tudo vai acabar se você me deixar ter o controle. Vou desbloquear
partes de você que você nem sabia que existiam.
— Nunca, — gritei. — Esta é a MINHA mente e NÃO vou dar-lhe
acesso a ela.
— Eu tentei ser bonzinho, Sienna, mas agora acabou. Você não tem
escolha.
A sala começou a girar e minhas pernas ficaram bambas.
Não, não vou deixá-lo entrar de novo.
Pense, Sienna... como você pode bloqueá-lo?
São suas memórias.
São SUAS memórias.
As pinturas. Talvez se eu me concentrasse nas memórias das minhas
pinturas, isso o forçaria entrar em minhas boas memórias - e me
manteria no controle.
Comecei a correr pelo estúdio, reunindo pinturas que representavam
os melhores momentos da minha vida e colocando-as lado a lado contra
a parede.
— Você é fraca e está sozinha. Seja qual for seu plano tolo, não
funcionará. Você apenas falhará de novo.
Dada a maneira como Konstantin começou a chiar, percebi que ele
estava ficando nervoso.
Peguei a primeira pintura, minha casa de infância, e fechei os olhos.
Meu deus, espero que funcione.
— Você quer entrar? — Eu gritei. — Então venha, porra.

Eu estava no meu antigo quarto na casa da mamãe e do papai. Eu me vi


sentada na cama chorando enquanto meu pai me confortava.
De quando é essa memória? Foi no ano passado?
— Está tudo bem, — disse papai, acariciando minhas costas. — É
perfeitamente normal sentir-se assim.
— Não, não é, — eu me ouvi dizer com raiva. — Eu sou uma dominante.
Dominantes não permitem que coisas estúpidas como essa os afetem.
Agora eu me lembrei - a noite em que Aiden me deixou sozinha na
floresta.
— Eu não acho que o que você está sentindo é estúpido, Sienna, — papai
disse. — E dominante ou não, todo mundo tem um coração.
— Sabe, quando trouxemos você para casa, eu pude perceber
imediatamente que você era especial. Você tinha essa confiança em tudo o
que fazia, mesmo quando era bebê.
— Assistindo você crescer, eu vi essa confiança se manifestar em tudo,
desde como você se comporta até a sua arte. Chorar não tira isso de você,
Sienna. Você ainda é a lobisomem mais forte que conheço.
Uma sensação de calor começou a irradiar por todo o meu corpo. Era boa
- não, não apenas boa, era poderosa. Eu nunca senti esse poder antes.
A sala se transformou em aquarelas e, à medida que ela foi sumindo, eu
me vi vagando para outro lugar.
A Casa de Aiden. O quarto em que eu estava antes de nos acasalarmos.
— Há algo entre nós. Nenhum de nós pode negar. Eu senti quando te
marquei, mas eu até senti na primeira vez que te vi, na margem do rio, —
Aiden disse, me puxando parei seu colo.
Fiquei com ciúme ao vê-la sentindo seu caloroso abraço, mas só de ver
essa memória se desenrolar me fez sentir mais poderosa.
— Você se lembra disso? — Meu eu da memória perguntou, um pouco
incrédulo.
— Claro que sim, — Aiden disse calmamente. — Eu senti seu poder desde
então. Seu cheiro irradiava uma força e sensualidade que eu não pude resistir.
— Eu não irradiei nenhuma força esta noite. Eu estava fraca.
— Pare. O que eu disse um minuto atrás... eu estava errado. Deixe-me te
contar algo. Seu cheiro me atingiu no momento em que entrei naquele jantar
Não é algo que acontece na forma humana, então você me desequilibrou.
— A Bruma me atingiu, e eu tive que segui-la, para descobrir mais sobre
você, apenas para estar em sua presença.
— Eu nunca fui tão dominado por algo mais poderoso em minha vida.
Essa é a sua força, o tipo de poder que você tem sobre mim. É por isso que te
marquei.
As palavras de Aiden me atingiram como um raio e fui catapultada
através da tinta pingando que começou a formar uma nova paisagem.

Eu estava em uma clareira iluminada pela lua na floresta. Um riacho


silencioso correu por ele enquanto dois lobos lutavam um com o outro de
brincadeira.
Ai meu Deus, isso foi...
Nossa primeira corrida.
Eu assisti quando Aiden soltou um uivo visceral e afundou seus dentes no
ombro do meu lobo, bem onde minha marca estaria em forma humana - o
ato final de uma corrida entre parceiros em potencial.
Lembrei-me daquela noite como se fosse ontem. Cada detalhe.
Foi a noite mais íntima e intensa de toda a minha vida.
Eu assisti enquanto Aiden e eu nos transformamos e entramos na água
para lavar um ao outro. Aquele momento foi perfeito.
O mesmo sentimento que eu tinha em meu coração então... eu sentia
agora.
O momento em que me apaixonei por Aiden pela primeira vez.

De repente, eu estava de volta à galeria.


Acabou?
Onde estava Konstantin?
As paredes - estavam todas vazias. As telas tinham sumido.
Não, deveria ser outra memória.
Um sino tocou quando a porta da galeria se abriu e eu me observei
entrando no espaço vazio com Aiden.
— Aiden Norwood, o que estamos fazendo aqui?
— Sienna Mercer-Norwood, achei que você gostaria de ver sua nova
galeria.
Eu me vi gritar de alegria e começar a correr pela galeria, me
atravessando eventualmente.
— Feliz aniversário de uma semana, Sienna. — Aiden sorriu.
— Eu não posso acreditar que você fez isso... por mim, — eu disse.
— Eu faria qualquer coisa por você.
Eu murmurei as palavras junto com ele, e meu coração se encheu de poder
Foi como se eu tivesse desbloqueado algo profundo dentro de mim.
Eu estava de repente em outro espaço, algum tipo de laboratório, e
Konstantin também, mas ele estava vestido de forma diferente - e agindo
como se eu não estivesse lá.
Isso era outra memória? Havia algo diferente das outras.
Uma porta se abriu e uma mulher entrou na sala, cumprimentando
Konstantin.
— Quase deciframos as runas. Então vamos entender. Saberemos como
aproveitar o poder.
— Isso é motivo para comemorar, Vanessa. — A boca de Konstantin se
curvou em um sorriso.
Soltei um grito quando me virei para olhar para a mulher, mas ninguém
teria ouvido de qualquer maneira.
Por um momento, pensei que estava olhando para mim mesma. Aquela
mulher tinha cabelo vermelho-fogo, assim como o meu, e os mesmos olhos
intensos. Com a maneira como ela se movia pela sala, eu tinha certeza que
ela era uma dominante como eu também.
Seus olhos não eram mais ferozes. Eles estavam cheios de tristeza.
De repente, ocorreu-me - esta mulher... será que era minha...
— Mãe? — Eu gritei para o ar vazio.
— O que estamos fazendo... é uma blasfêmia. As divindades vão
destruir a todos nós se não abandonarmos essa loucura, — disse ela.
Minha mãe caminhou direto em minha direção, e eu vacilei quando ela
passou por mim como se eu fosse um fantasma.
Quando me virei, ela estava balançando algo na frente dela. Enquanto
me movia para olhar mais de perto, eu engasguei.
Era um bebê, em um berço.
Era eu.
Esta ERA minha memória.
— Vanessa, as divindades não podem nos tocar se tivermos sucesso, —
Konstantin rebateu, esgueirando-se ao redor dela como uma cobra. —
Teremos tanto poder quanto eles.
— Não vou arriscar a vida da minha filha, — afirmou ela. — Nenhuma
quantidade de poder vale a vida dela.
Fui até minha mãe, um reflexo meu, e tentei segurar sua mão, para
confortá-la, mas simplesmente passei por ela novamente.
— O seu companheiro - o pai dela - tem algo a dizer sobre isso?
— Konstantin... ele não é o pai, — disse ela, sufocando as lágrimas.
— Então... quem? Quem é? — ele perguntou, horrorizado.
— O pai dela é... Rowan.
A reação de Konstantin foi extrema. Ele derrubou uma prateleira de
frascos de vidro no chão quando quase caiu.
— Não, eu nunca vou deixar ela se envolver nisso. — Ela olhou feio. —
Nunca.
Eu estava de volta ao meu estúdio - de verdade dessa vez. Todas as
pinturas que reuni ainda estavam encostadas na parede.
Que porra foi essa?
Eu finalmente fui capaz de alcançar as memórias que eu estava
suprimindo?
Uma coisa era certa - Konstantin conhecia minha mãe. Ele estava
mentindo para mim desde que me conheceu.
Eles estavam trabalhando juntos em algo, mas ela não queria
continuar.
Ela queria me proteger.
Mas de quem?
Meu pai?
Quem era Rowan?
Aproximei-me de uma pintura caída no chão e coloquei-a sobre um
cavalete.
Quando eu pintei isso? Quando eu estava em minhas memórias?
Era o retrato de uma linda mulher com cabelo vermelho-fogo caindo
sobre os ombros - minha mãe biológica.
Fechei meus olhos mais uma vez e ouvi sua voz.
— Não vou arriscar a vida da minha filha, — afirmou ela. — Nenhuma
quantidade de poder vale a vida dela.
Abri meus olhos e senti como se eles estivessem brilhando. Eu estava
irradiando um nível de poder que nunca senti antes.
Eu não sabia o que era, mas não era comum para um lobisomem. Eu
tinha certeza disso.
Quando voltei meu olhar para o retrato de minha mãe, seu rosto
começou a derreter. As tintas a óleo que usei estavam pingando no chão
em uma poça e, à medida que sua carne derretia, seu rosto foi substituído
por um esqueleto apodrecido.
A risada de Konstantin começou a ecoar em minha cabeça
novamente.
— Essa viagem por suas memórias deveriam me enfraquecer de alguma
forma? Ou você só queria me mostrar momentos patéticos de sua curta vida?
— Honestamente, Konstantin... aquilo não foi para você.
Eu convoquei todo o poder que pude reunir - toda a força que eu
obtive das pessoas que acreditaram em mim, me protegeram, me
amaram - e eu o libertei como um ciclone.
Minhas pinturas voaram ao redor da sala quando senti a presença de
Konstantin finalmente deixar meu corpo.
Eu o vomitei em uma tela em uma pilha de lama preta.
— Você acha que ganhou? Vou voltar e tornar as coisas ainda mais
difíceis. E não apenas parei você - parei seus amigos e familiares também. Vou
fazê-los sofrer.
— SAIA! — Um vento soprou pela minha galeria devastada e, depois
de um momento, só havia silêncio.
Minha mente parecia ter sido purgada de um veneno.
Eu desabei no chão, significativamente mais leve, mas ainda
sobrecarregada por uma sombra escura.
Konstantin finalmente se foi...
Mas por quanto tempo?
Capítulo 27
MARIONETISTAS
Nina

— Esse é seu melhor, bonitão? Tem medo de me bater com mais força e
quebrar uma garra?
TOMA!
Merda.
Ok, essa realmente doeu.
Não achei que o beta tivesse coragem.
O sangue escorria pelo meu queixo enquanto eu olhava para Josh.
Aiden estava atrás dele, encostado na parede, deixando sua cadela fazer o
trabalho sujo.
— Quando você vai pular no ringue, Alfa? Não quer sujar as mãos? —
Eu cuspi.
— Por que você não me desamarra e a gente cai no mano a mano.
Uma luta real - não essa besteira de tortura no porão. Alfa versus ômega.
Eu sabia que não deveria provocá-lo - eu era tecnicamente o inimigo,
afinal - mas não pude evitar. Falar demais fazia parte da minha natureza.
Aiden sorriu como um idiota arrogante.
Ele começou a me circundar com as mãos atrás das costas,
perfeitamente composto. Ele estava no controle e sabia disso.
— Você não vai querer deixar isso chegar ao ponto em que eu entre
no ringue, — Aiden desafiou. — Seria uma luta mortal.
Eu me perguntei se esse alfa já havia matado alguém que o cruzou
antes. Sinceramente, eu não queria descobrir.
— Qual era o seu objetivo aqui? — Josh interrompeu. — Por que você
estava manipulando Jocelyn?
— Eu não estava...
Porra, não dê a eles nenhuma informação.
— Jocelyn não teve nada a ver com isso, ok? Ela só me ofereceu uma
boa foda ao longo do caminho.
Sua mentirosa imunda. Você é a pessoa mais baixa de todas, Nina.
— Sua vadia de merda, — Josh gritou, ecoando meus próprios
pensamentos.
Ele balançou o punho para mim novamente, mas desta vez, Aiden o
bloqueou antes que ele pudesse se conectar.
— Que merda é essa? Josh gritou.
— Que merda é essa — digo eu. Desta vez, foram meus pensamentos
ecoando os de Josh.
Por que Aiden parou aquele soco?
Será que ele percebeu que eu estava mentindo sobre meus
verdadeiros sentimentos por Jocelyn?
— Por quê você está aqui? — Aiden perguntou, seu rosto pairando a
apenas alguns centímetros do meu.
— Bem, eu certamente não vim pelas acomodações, — eu disse
sarcasticamente, olhando ao redor para a cela úmida da prisão em que eu
estava algemada. — Vou dar uma estrela pra vocês no Uivo.
— Você é uma ladra, o que significa que ninguém virá atrás de você.
Ninguém se importa se você vive ou morre, — Aiden rosnou. — Então é
melhor você começar a falar, ou vai passar o resto de sua vida solitária e
miserável nesta prisão.
— Vocês servem pelo menos um café da manhã básico?
Aiden chegou perto de me bater, mas em vez disso soltou um rugido
monstruoso e socou a parede de tijolos, deixando um buraco em forma
de punho.
Certo, acho que falei cedo demais sobre entrar no ringue com ele.
Provavelmente estamos em diferentes classes de peso.
— Vamos ver se você tem vontade de conversar depois que eu te
deixar aqui embaixo por dois dias na sua própria sujeira, como a rata
fedorenta que você é, — ele rosnou.
— Parece divertido, — gritei quando ele saiu da cela.
Antes de Josh trancar a porta, ele se inclinou para trás e me encarou.
— O que você fez com Jocelyn... você é realmente desprezível. Espero
que apodreça aqui.
A porta se fechou, deixando-me isolada.
Plateia exigente. Mas ele não estava errado sobre Jocelyn.
Estava me consumindo por dentro saber que eu havia a machucado e
não havia nada que eu pudesse fazer para consertar.
— Eu elogio você por sua resiliência, Nina. Você não é do tipo que se
desestabiliza sob pressão.
Uma figura alta encapuzada emergiu das sombras.
— Ah, ótimo, é você, — eu gemi. — Se estes são os tipos de visitas
conjugais que vou receber, gostaria de revogar meus privilégios de
visitação.
— Seu trabalho ainda não está completo. Você não deve deixar de
manter nosso acordo. Se você perturbar o equilíbrio, seus grilhões aqui
não serão páreo para as correntes que prenderão sua alma na vida após a
morte, — ela respondeu sem se abalar.
Eu balancei a cabeça, cerrando meus dentes. Ela não estava me dando
escolha. Estaríamos unidas até que minha tarefa fosse concluída.
— Você tem as ferramentas necessárias para completar sua missão,
então preste atenção ao meu aviso, não falhe de novo, — ela disse,
desaparecendo no ar.
Senti algo se materializar em meu bolso.
A chave para minhas algemas.
Jocelyn

Eu sentia a dor de Nina. Mesmo que não estivéssemos acasaladas, eu a


sentia fluindo em minhas veias. Tínhamos algum tipo de conexão, um
ligação que não compartilhei com mais ninguém.
Eu também sentia sua força. Ela era uma baita sobrevivente. O que
quer que Aiden e Josh estivessem fazendo com ela lá embaixo, ela havia
lutado contra.
E o que exatamente aqueles dois idiotas teimosos estão fazendo lá
embaixo?
Eu nunca perdoaria meus ex-namorados se eles machucassem minha
namorada.
É isso que ela é?
Nossa, isso era complicado e fazia minha cabeça doer.
Eu só sabia que Nina era alguém por quem eu lutaria.
Aiden veio marchando pelo corredor e eu saí e bloqueei seu caminho.
— Aiden, que merda você fez?
— Agora não, Jocelyn, — ele rosnou.
— Agora, sim, — eu rosnei de volta. — Eu mereço uma explicação.
— Ok, você quer que eu explique para você? — Aiden disse, furioso.
— Vou te dar uma dica, Jocelyn. Você foi usada. Por quê, eu não sei,
porra, porque ela se recusa a falar. Mas ela não dá a mínima para você.
Você era apenas um alvo fácil para ela.
Lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos.
— Isso... isso não é verdade, Aiden. Você não a conhece.
— Não. Jocelyn, você não a conhece — apenas as mentiras que ela lhe
contou. Talvez se você não tivesse pensado com sua buceta, não teríamos
uma maldita espiã em nosso meio durante o evento mais importante do
ano.
Eu não conseguia parar. Comecei a soluçar descontroladamente.
Aiden estava sendo cruel, e ele sabia disso. Sempre odiei esse lado dele.
Ele parou de me atacar e pareceu genuinamente arrependido quando
viu o quão afetada eu estava.
— Jocelyn, escuta... eu não tive a intenção de ser tão duro. Não é sua
culpa.
— Vá embora, Aiden. Eu quero ficar sozinha, — eu disse bruscamente.
Enquanto caminhava pelo corredor, ele parou e se virou por um
momento.
— A loba ômega, ela nos contou muitas mentiras, mas acho que uma
delas foi quando ela disse que não se importava com você. Eu podia
sentir isso. Aquilo não era verdade.
Eu não sabia em que acreditar. Esses sentimentos ainda eram novos,
mas eu precisava ver Nina novamente e ouvir essas palavras por mim
mesma.
Aiden

Eu sabia que o Baile de Inverno seria um desastre. Sempre foi.


Eu teria que voltar e fingir que estava tudo bem — que eu não tinha
acabado de descobrir uma espiã em uma festa cheia de alfas mais
importantes do mundo.
Se alguém descobrisse, seria outro pesadelo de relações públicas para
a Matilha da Costa Leste. Sem falar no prejuízo que causaria às parcerias
estrangeiras.
Aquela loba ômega poderia ter estado aqui para assassinar qualquer
um deles.
Eu me senti horrível por partir para cima de Jocelyn daquele jeito.
Meus nervos tinham me dominado. Eu só queria que ela tivesse sido
mais cuidadosa.
Ainda assim, não importa o quanto aquela ladra desgraçada me
enfureceu, eu realmente senti que ela se importava com Jocelyn. Havia
mais sobre ela do que eu sabia, mas, por enquanto, estava feliz por ela
estar trancada em uma cela.
Enquanto eu voltava para o baile, examinei a sala em busca de Sienna.
Mais do que qualquer outra coisa, eu precisava ter certeza de que ela
estava segura.
Eu já a tinha negligenciado por muito tempo, e ela fazia parte do
conselho agora também. Ela precisava saber o que estava acontecendo.
Avistei Selene perto do bar, cuidando de sua mãe embriagada.
— Ei, meninas, viram Sienna? — Eu perguntei, certificando-me de
esconder qualquer preocupação em minha voz.
— Pensando bem, não, — respondeu Melissa. — Ela está perdendo a
chance de beber com a mãe dela.
— Selene? Alguma ideia?
— A última vez que a vi, ela estava conversando com Michelle, —
respondeu Selene, levando embora a bebida da mãe.
Antes mesmo de começar minha busca por Michelle, ela me
encontrou.
— Aiden, o alfa da noite, apenas o homem que eu preciso, — disse ela,
passeando, balançando os quadris.
Algo estava errado com Michelle esta noite e, pela maneira como Josh
estava olhando para ela, ele notou.
— Onde está Sienna? Você viu ela?
— Ah, eu a vi, sim. Eu vi a prostituta da sua companheira saindo da
cobertura de outro homem na noite passada, — Michelle disse, batendo
seus cílios.
— Michelle, que merda você disse? — Selene perguntou com raiva.
Melissa parecia branca como um fantasma.
— Você quer dizer que nenhum de vocês sabe que Sienna tem
recebido tratamento especial de seu terapeuta? — Michelle estava
saboreando cada palavra.
Essa não era a Michelle que eu conhecia.
— Amor, você está bêbada? Que merda é essa que você está dizendo?,
— Josh perguntou, estupefato.
— Melhor ter cuidado com o que vai dizer a seguir, Michelle, —
avisei.
— Qual é, Aiden, você não é um idiota. Você notou como ela estava
distante. As madrugadas na galeria. A falta de vontade de transar com
você no caso.
— Você é uma puta mentirosa — eu rosnei. — Lobisomens não
podem quebrar o vínculo de acasalamento.
Por que ela está tentando me provocar?
Michelle sorriu de uma forma que fez meu cabelo se arrepiar.
— Tem certeza? — ela perguntou em uma voz profunda que não era a
dela.
Que porra é essa...
Melissa largou a taça de champanhe e gritou quando Selene cobriu a
boca de horror.
Eu agarrei Michelle, ou quem quer que seja, e comecei a sacudi-la.
— Onde está Sienna? Fala logo!
Josh tentou me impedir, mas eu o empurrei.
— Ela está sozinha, — provocou a voz, falando através de Michelle. —
Mas não por muito tempo.
— Michelle, o que está acontecendo com você? O que é isso no seu
pescoço? — Josh perguntou, agarrando-a.
Havia dois pequenos pontos — como picadas de cobra — na lateral
do pescoço de Michelle.
Algo a marcou, e não era um lobisomem.
— Você gostou? — A boca de Michelle começou a espumar. — Talvez
Sienna faça como eu e consiga também.
Não.
Meu coração começou a bater no meu peito.
— Michelle, onde diabos está Sienna? — Eu gritei.
Seus olhos rolaram para a nuca e ela começou a ter convulsões nos
braços de Josh.
— MICHELLE! — Josh gritou.
Quem quer que tenha feito isso com Michelle, iria atrás de Sienna em
seguida.
Então, eu tenho que chegar até ela primeiro.
Capítulo 28
CORTADO
Jocelyn

O calabouço da Casa da Matilha era um resquício de outra época.


Enquanto os alfas anteriores o usavam sempre que alguém olhava de
maneira errada para eles, eu nunca tinha visto isso ser usado durante
minha vivência na Matilha da Costa Leste.
Eu vaguei pelos corredores mal iluminados, deixando nossa conexão
guiar o caminho através dos túneis sinuosos que ficavam sob a Casa.
Os sentimentos que eu tinha por Nina em meu coração ainda eram
fortes, embora minha cabeça estivesse me dizendo que tudo o que eu
sabia sobre ela era baseado em uma mentira.
Quando fiz a curva em um corredor, encontrei Nina algemada à
parede de uma cela, coberta de sujeira e sangue seco.
Passei os dedos pelas barras quando meus olhos começaram a
lacrimejar. Eu odiava vê-la nesse estado.
Eu não me importava com os motivos ocultos que ela tinha; ninguém
merecia ser tratado assim.
Ela ergueu a cabeça e sorriu fracamente ao me ver.
— Jocelyn? Pensei ter sentido você aqui embaixo, mas não acreditei.
Achei que você nunca mais iria querer me ver...
— Eu queria dar a você uma chance de me dizer como você realmente
se sente. Nina, seja honesta comigo, o que Aiden disse é verdade?
— Ele disse que eu sou uma canalha, uma causa perdida da escória da
terra? Porque se sim, então sim, é verdade.
Normalmente Nina teria dito algo assim como uma piada, mas não
havia nenhum pingo de humor em sua voz. Apenas dor.
— Estou entrando, — eu disse, destrancando a porta.
Ajoelhei-me na frente de Nina e tirei um pano e um antisséptico da
minha bolsa de suprimentos médicos.
— Deixe-me tratar este corte em seu rosto, — eu disse, enxugando
seu queixo enquanto ela estremecia. — Quem fez isto com você?
— Jocelyn, você sabe que eu não sou dedo-duro, — brincou Nina.
Nada nessa situação era engraçado, mas seria melhor mesmo eu não
saber quem tinha sido. Eu deveria tirar as pessoas do hospital, não
colocá-las nele.
— Eu imaginei que minha primeira vez usando algemas com você
seria de uma forma muito mais sexy do que essa, — disse Nina, forçando
um sorriso.
— Então, eu seria a dominante? Estou intrigada. — Coloquei minhas
mãos acima do coração de Nina. — Eu posso?
Ela acenou positivamente com a cabeça.
Fechei meus olhos e foquei minha energia. Comecei a absorver a dor
de Nina em meu corpo, e desta vez realmente funcionou.
Minhas veias ficaram pretas e meu corpo começou a doer como se
tivesse acabado de cair de um penhasco.
— Pare, já chega, — gritou Nina.
Eu caí para trás, esgotada, mas Nina parecia já estar em melhores
condições. A cor estava voltando a suas bochechas rosadas, e ela parecia
tão selvagem e linda como sempre.
— Por que foi que você fez isso?
— Porque você vai precisar de sua força... Estou te libertando.
— Jocelyn, não. Você vai ser presa por isso, — ela protestou.
Coloquei minha mão no rosto de Nina.
— Você ainda não percebeu que eu faria qualquer coisa por você? —
Eu a beijei suavemente e ela me beijou de volta.
— Eu só preciso encontrar algo para quebrar essas correntes, — eu
disse, procurando na cela.
— Na verdade... — Nina puxou uma chave do bolso.
— Espere... como? Por que você ainda esta aqui? — Eu suspirei.
— Não é óbvio? — ela perguntou. — Eu não ia sair sem te dar uma
explicação.
— Nina, eu não preciso disso, — eu disse, destravando suas algemas.
— Por favor, Jocelyn, eu tenho que te dizer.
Eu cruzei meus braços e desviei o olhar. — Certo, vá em frente.
— Primeiro, você tem que saber que meus sentimentos por você
sempre foram reais. Nunca menti sobre isso, nem por um segundo. Mas
eu sou uma espiã. Fui enviada aqui... por alguém muito poderoso, — ela
disse em um tom sério.
— Quem? Outra matilha?
— Não, não é uma matilha, mas eu não posso dizer o nome. É para
sua própria segurança. Mas Jocelyn... sua amiga, Sienna... ela atraiu o
interesse de alguém com quem não se brinca.
— Espere... Sienna? Você foi enviado aqui para espionar Sienna? — Eu
perguntei, chocada.
— Sim, eu deveria vigiá-la e... se certos eventos acontecessem, eu
deveria eliminá-la. Essas foram as minhas ordens.
— Quem iria querer machucar Sienna? Que ameaça ela poderia
representar?
— Jocelyn, prometa-me que você vai ficar longe disso. Não suportaria
ver você se machucar. Eu já te machuquei o suficiente.
Nina me puxou para seus braços e colocou sua testa contra a minha.
— Eu tenho que ir, Jocelyn. Eu nunca poderia fazer o que me pedem,
especialmente não para alguém próximo a você. Mas quando eu quebrar
meu vínculo com meu benfeitor, terei que enfrentar as consequências.
— Então eu as enfrentarei com você. Nós iremos juntas, — eu disse
com firmeza.
— Eu tenho que enfrentar isso sozinha. Mas, Jocelyn, saiba que... —
Nina ergueu meu queixo e pressionou seus lábios contra os meus com
toda sua paixão. — Você merece o mundo — e eu só queria poder dá-lo a
você.
— Não vá, Nina, — eu disse, minha voz falhando.
Ela saiu da cela com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Isto não é um
adeus. Nós veremos novamente.
Nina era uma boa mentirosa. Mas ela não podia mentir para mim.
Ela se foi.

Quando voltei para o Baile de Inverno, enxugando minhas lágrimas, ouvi


barulho e gritos vindos do salão de baile, ressaltados por Josh gritando a
plenos pulmões.
— MICHELLE!
Que merda estava acontecendo lá?
Eu me recompus e corri para o salão de baile para encontrar o caos.
Todos os convidados estavam se dispersando enquanto Michelle — Meu
deus.
Ela estava suspensa no ar, meio deslocada, com mesas, cadeiras e
talheres flutuando em um vórtice ao seu redor.
Eu tinha lido histórias raras como essa em diários restritos de
curandeiros, mas nunca pensei que veria em toda a minha vida.
Possessão.
Corri até Josh, que estava tentando falar com ela.
— Michelle, ouça minha voz. Você pode lutar contra isso. Eu sei que
você está aí, — disse ele, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Josh, cuidado, — eu gritei, empurrando-o assim que uma mesa
voadora se chocou contra o local onde ele estava.
— Jocelyn, eu não sei o que fazer, — ele disse, desesperado.
— Eu acho que tenho uma ideia... mas você vai ter que me manter
perto.
Sienna

Eu não poderia ficar aqui. Eu não estava segura.


Konstantin sabia minha localização, e só porque eu o bani da minha
cabeça não significava que ele não viria me procurar novamente.
Eu precisava chegar até Aiden na Casa da Matilha. Ele nem tinha
ideia de que um vampiro estava em nosso meio.
Um vampiro que eu convidei.
Konstantin era uma ameaça para a matilha, e ele esteve bem na
minha frente o tempo todo.
Enquanto corria pela minha galeria, as luzes começaram a piscar.
Já era tarde demais.
Konstantin apareceu em uma nuvem de fumaça negra, bloqueando
minha saída.
— Sienna, minha querida, você estava indo embora? Acabei de chegar
aqui.
— Você está doente, eu nunca deveria ter confiado em você! — Eu
cuspi.
— De que outra forma você iria encontrar seus pais? — ele zombou.
— Eu os encontrarei sozinha. Eu não preciso de você ou de seus
poderes.
Konstantin soltou uma risada maligna e se materializou bem na
minha frente.
— Eu tenho mais um presente para você, Sienna, — disse ele, tocando
minha testa antes que eu pudesse impedi-lo.

Eu estava na floresta à noite, mas não era nenhuma floresta que eu


reconhecia.
Esta não era minha memória; era de Konstantin.
Eu ouvi galhos quebrando à distância e me preparei.
Eu tinha certeza de que Konstantin não poderia me machucar fisicamente
quando estávamos mentalmente ligados — caso contrário, ele já teria feito
isso. Mas tudo o que ele quisesse me mostrar seria projetado para me
machucar psicologicamente.
Passos. Eles estavam se aproximando.
Minha mãe irrompeu na clareira, ofegante e sem fôlego. Ela estava
fugindo de alguma coisa.
Uma nuvem familiar de fumaça negra desceu sobre a clareira, tornando
impossível ver qualquer coisa, até que se materializou em Konstantin.
Ele avançou em direção a minha mãe com uma intenção ameaçadora.
— Onde ela está? Onde está a criança, Vanessa?
— Você nunca a encontrará, Konstantin. Eu tenho certeza disso.
— Mulher tola. Você permitiu que seu amor por uma criança anulasse seu
bom senso. Poderíamos ter um poder incalculável.
— Não, Konstantin. Você deixou seu desejo de poder destruir tudo o que
havia de bom em você, se é que já houve alguma algo bom.
— Vanessa, não há necessidade de você ter o mesmo destino que seu
companheiro. Ele também não queria cooperar e você viu as consequências
disso.
— Eu mereço qualquer destino que as divindades considerem adequado
para mim depois do que fizemos. Aceito minha penitência, mas minha filha
não será um peão para você ou para eles. Ela merece uma vida normal.
Do que diabos ela estava falando? Eu estava tremendo.
Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser assistir; Eu não conseguia
sair dali.
— Você me decepcionou, Vanessa. Você tem sangue de alfa. O poder corre
por ele. Mas se você se recusa a reconhecer isso...
Konstantin desapareceu e reapareceu atrás de minha mãe com uma
lâmina em sua garganta.
— Não, seu desgraçado! — Eu gritei.
Ela fechou os olhos, um olhar pacífico em seu rosto.
Tudo que eu podia ver era vermelho.
Nossa conexão foi interrompida e eu caí no chão.
— Tudo o que você me disse era mentira, — falei, sem fôlego.
Parecia que minha própria garganta tinha acabado de ser cortada.
— Você julgou mal minhas intenções. Eu sou o único tentando levá-la
à verdade.
Konstantin se ajoelhou e ergueu meu queixo, então fui forçada a
encontrar seu olhar. Eu estava chocada demais para lutar.
— Você não tem ideia de quem realmente é, do poder que detém.
Existem aqueles muito mais perigosos do que eu que procuram destruí-la
antes de desbloquear esse poder. Eu simplesmente quero te ajudar.
Uma fumaça negra saiu da capa de Konstantin e me envolveu.
— Deixe-me aliviá-la de seu fardo.
Capítulo 29
DESPERTA
Aiden

Se ele a machucar, eu vou...


Meu carro desviou na estrada gelada enquanto eu acelerava em
direção à galeria de Sienna.
Era o primeiro lugar para onde ela iria se precisasse de espaço.
Ela tinha que estar lá.
Mas e se eu chegasse tarde demais? E se ele tivesse controle sobre ela
como fez com Michelle?
Não, não havia como.
Sienna era forte. Ela resistiria. Ela lutaria com ele.
Mas esse poder... Eu nunca tinha visto nada parecido. Que tipo de
criatura poderia fazer isso?
Conforme me aproximei da galeria de Sienna, pude senti-la. Ela ainda
estava viva e ainda era ela mesma.
Mas também senti outra coisa.
Algo escuro.
Ele já está dentro.
Fiz uma curva fechada e a rua congelada me fez girar
descontroladamente na frente da galeria.
Eu bati em um hidrante e fui arremessado para frente, batendo
minha cabeça no para-brisa.
Quando a água jorrou do hidrante e começou a vazar pelas frestas da
janela, lutei para me manter consciente.
Tudo estava embaçado. O sangue escorria pelo meu rosto.
— Porra.
Sienna.
Chutei a porta do passageiro com tanta força que ela voou, raspando
a calçada.
Sua galeria estava cheia de algum tipo de fumaça negra que
obscurecia minha visão.
Estou indo atrás de você, filho da puta.
Eu dei um passo para trás e comecei a saltar para frente, meus
músculos rasgando minha camisa quando comecei a me mover.
Eu pulei e me transformei no ar, batendo na fachada de vidro grosso.
Um homem — não, algum tipo de demônio — pairava sobre o corpo
de Sienna. Ele se virou quando eu entrei rugindo e sibilou, revelando
suas longas e protuberantes presas.
Era um vampiro; Eu tinha certeza disso. Raphael tinha me avisado
sobre essa espécie.
Eu abri minhas mandíbulas, expondo minhas próprias presas, e uivei
com todas as minhas forças.
Eu ia mandar esse pálido filho da puta de volta para o inferno.
Jocelyn

Eu não tinha ideia se era forte o suficiente para fazer isso, mas tinha que
tentar. Eu fui capaz de absorver a dor de Nina, mas Michelle...
Ela não estava apenas com dor.
Ela estava possuída.
Os curandeiros eram resistentes à possessão — pelo menos foi o que
eu li — mas a teoria era diferente da prática.
Eu olhei para o vórtice rodopiante de móveis da Casa da Matilha que
protegia Michelle de nós chegarmos muito perto.
Selene e alguns outros ficaram presos atrás de um pódio do outro
lado da sala, sem rota de fuga.
Fiz sinal para ela correr quando dei o sinal.
— Josh, preciso que você distraia Michelle enquanto tento chegar
perto.
— Estou cuidando disso, — ele gritou, avançando em direção a ela,
usando suas garras para rasgar qualquer coisa que voasse para ele.
— O beta finalmente deu um passo à frente, — zombou o possuidor
de Michelle. — Mas será que está à altura da ocasião?
Ela ergueu os braços no ar e Josh saltou contra um lustre, quicando
como uma boneca de pano e caindo no chão.
Selene correu para a porta com seu grupo, tentando colocá-los em
segurança.
— Todo mundo corre. Não olhem para trás, — Selene gritou.
— Onde você pensa que está indo?
Selene gritou ao ser puxada para trás, deslizando pelo chão em
direção a Michelle. Eu mergulhei para frente e agarrei a mão dela.
— Jocelyn, por favor, não deixe ir, — ela chorou.
Michelle era muito poderosa. Não tínhamos chance.
Precisamos de um milagre.
Aiden

Eu agarrei o vampiro por sua capa e o joguei contra a parede, arrastando-


o pelas pinturas de Sienna e jogando-o em uma escultura.
Quando eu era capaz de agarrá-lo, eu conseguia causar algum dano
de verdade, mas ele estava tão escorregadio, desaparecendo e
reaparecendo em segundos.
Eu me lancei contra ele, e ele se dividiu em dois, me dando um olhar
presunçoso. Antes que eu pudesse decidir qual deles mutilar primeiro,
eles se transformaram em minha mãe e meu pai.
— Você é um idiota. Você não sabe fazer nada certo, — Charlotte
chiou.
— Eu gostaria que você tivesse morrido em vez de Aaron, — Daniel
sussurrou em meu ouvido enquanto ele girava ao meu redor.
Que merda! Como ele sabe tanto sobre mim?
— Sienna revelou todos os seus medos e desejos mais profundos para
mim e os seus também. — Ele riu.
Ele se multiplicou em uma dúzia de versões de si mesmo, todas rindo
em uníssono.
Este idiota era apenas um aspirante a mágico, cheio de truques
baratos. Eu não cairia em seus jogos mentais.
Peguei um balde de tinta com minhas mandíbulas e respinguei em
toda a sala em todas as suas cópias. Só ficou presa a um deles...
Eu aproveitei minha chance. Me lancei contra ele e mordi seu lado.
Jocelyn

Michelle gritou de dor, como se algo dentro dela estivesse pegando fogo.
Todos os móveis flutuantes caíram no chão, e ela própria começou a cair
em queda livre.
Josh entrou em ação e a segurou, dando uma cambalhota e
segurando-a com força.
Podemos não ter outra chance.
Eu corri em direção a Michelle. Seu corpo estava se contraindo e ela
estava tentando se livrar de Josh.
— Jocelyn, se apresse. Eu não posso segurá-la por muito mais tempo,
— Josh gritou.
— Selene, tire todo mundo daqui e tranque as portas atrás de você, —
eu ordenei.
Ela assentiu e começou a conduzir os convidados restantes até a
saída.
Eu agarrei o rosto de Michelle enquanto Josh a segurava.
— Tudo bem, garota, vamos trazê-la de volta.
Comecei a absorver o que quer que estivesse dentro de Michelle em
meu corpo. Puta merda, isso é estranho.
Minhas veias começaram a ficar pretas de novo e eu suguei toda a
escuridão até que a energia se infiltrou ao longo do meu cérebro.
Meus olhos escureceram e de repente não consegui ver nada.
Comecei a vomitar, minha fisiologia de curandeira rejeitou o
convidado indesejado.
De repente, cuspi um monte de gosma preta por todo o chão e minha
visão voltou ao normal.
Que merda.
Parecia que tinha acabado de beber um galão de alcatrão.
Michelle estava deitada pacificamente nos braços de Josh.
— Eu... acho que ele se foi.
— Jocelyn... ela não está se movendo, — Josh disse calmamente.
Eu imediatamente senti seu pulso. Ela estava...
Viva.
Graças a deus.
Viva, mas sem vida.
Tentei transferir minha energia para ela, mas seu corpo não aceitava.
A escuridão se foi, mas Michelle estava em coma e eu não tinha ideia
de como trazê-la de volta.
Aiden

O vampiro estava ferido, mas eu senti que seu poder tinha ficado ainda
mais forte. Ele não estava brincando.
— Eu tentei estar em dois lugares ao mesmo tempo. Esse foi meu
erro, mas não se engane, estou por completo aqui agora, — ele fervia.
Eu olhei para o corpo inconsciente de Sienna no meio da galeria. Eu
precisava mantê-lo longe dela a todo custo.
— Sienna.
— Sienna, você tem que acordar.
— Eu preciso de você.
Eu esperava que ela não estivesse muito longe, mas nossa conexão
permanecia estática.
O vampiro disparou em minha direção como uma flecha, me
derrubando e me fazendo derrapar no chão.
Enquanto eu tentava ficar de pé, ele investiu contra mim
repetidamente.
Minhas costelas quebraram com os golpes rápidos e eu gritei de
agonia.
Ele me deixou caído no chão e voltou sua atenção para Sienna.
Não, não o deixe chegar perto dela!
Eu mudei de volta para minha forma humana e lutei para ficar de pé,
segurando meu torso.
— Ei, idiota, se você quer mexer com a cabeça de alguém, por que não
tenta a minha? No momento, estou tendo ótimas ideias sobre como vou
rasgá-lo ao meio.
Ele se virou e zombou de mim por tentar enfrentá-lo em minha
forma humana ferida.
— Se você insiste, Alfa, vou matá-lo primeiro com prazer. Então,
posso repetir a memória de arrancar sua cabeça na mente de Sienna,
várias vezes.
Enquanto o vampiro avançava em minha direção, um lobo rosnou
atrás dele.
Sienna.
Ela o agarrou e cravou suas presas profundamente em seu ombro em
um movimento rápido.
Ele gritou quando ela puxou com toda a força e arrancou um pedaço
de seu corpo, fazendo-o evaporar no ar.
O resto dele começou a desaparecer também, e estava claro que ele
não tinha controle sobre sua desestabilização repentina.
— Não, ainda não, droga. Eu estava tão perto! — Sienna se mexeu e
correu para mim, colocando meu braço em volta do ombro dela,
ajudando-me a me equilibrar. Nós dois o encaramos enquanto ele virava
pó.
— Não vou desaparecer para sempre, Sienna. Eu sempre estarei
dentro de você. Você me convidou para entrar e eu voltarei... —
Konstantin berrou.
Seu corpo evaporou antes que ele pudesse terminar seu discurso.
Sienna me abraçou e se aninhou em meu ombro. Estremeci com as
costelas quebradas, mas não me importei.
Era tão bom abraçá-la, saber que ela estava segura em meus braços.
Sienna

Eu usava um avental de artista e um par de jeans e botas velhas de Aiden


enquanto caminhávamos para casa. Ele conseguiu salvar suas roupas
depois da transformação, mas meu vestido dourado não teve tanta sorte.
E nem o carro de Aiden.
Caminhamos em silêncio, mas eu sabia que Aiden tinha um milhão
de perguntas. Eu estava pronta para respondê-las.
Eu desenterrei tantos segredos enterrados, e agora eles estavam me
assombrando.
Havia muito para contar.
Sobre Konstantin.
Seus poderes.
Meus poderes, que eu ainda não compreendia.
Minha mãe.
Meu pai, Rowan, que ainda pode estar por aí em algum lugar.
Mas naquele momento, estava feliz por ele ter apenas segurado
minha mão e caminhado em silêncio.
Ele estava lá para me ajudar, e eu estava lá para ajudá-lo. Era assim
que sempre seria.
Eu contaria tudo a ele quando estivéssemos sãos e salvos em casa.
Ao nos aproximarmos da casa, começou a nevar novamente, mas
parecia quente demais para neve.
A luz no horizonte estava laranja e percebi que não era neve...
Era cinza.
— Aiden...
Ele correu na minha frente, sobre a ponte de paralelepípedos e por
entre as árvores.
Eu sabia o que estava prestes a ver, mas quando a casa apareceu, eu
ainda cobri minha boca em descrença.
Nosso Lar.
Aceso, um inferno furioso.
Capítulo 30
FAMÍLIA
Sienna

Depois do incêndio, nossa vida ficou um caos absoluto.


— Aiden, saia do maldito banheiro. Eu tenho que urinar! — Selene
gritou, batendo na porta. — Eu tenho um bebê inteiro pressionado
contra minha bexiga, todo dia.
— Selene, você pode por favor não gritar com meu chefe? — Jeremy
disse cautelosamente.
— Ele não é seu chefe aqui, Jeremy. Ele é família, — minha mãe disse
em um tom alegre enquanto ela passava por mim com três cargas de
roupa suja.
— Não, quando ele está no banheiro, ele é meu inimigo mortal, —
Selene amuou. — Aiden, SAIA.
Era um bom tipo de caos.
A porta do banheiro se abriu e Aiden estava parado na porta, recém-
saído do chuveiro, vestindo nada além de uma toalha, as gotas de água
ainda grudadas em seu abdômen brilhante.
Graças a Deus, a Bruma passou.
— Minha nossa senhora dos lobos, — Aiden rosnou. — Pronto. Dá
pra relaxar?
— Essa não, — murmurou Jeremy baixinho. Os olhos de Selene
saltaram tanto de sua cabeça que pareciam que também estavam
grávidos.
— Nunca. Diga a uma mulher grávida. Que está prestes a explodir.
Para relaxar, — ela quase uivou, passando por ele e batendo a porta do
banheiro atrás dela.
Aiden apenas encolheu os ombros. — Ah, Melissa, pode adicionar isso
à sua pilha, — disse ele, puxando a toalha e jogando-a no cesto que ela
carregava.
Ele caminhou pelo corredor completamente nu enquanto eu olhava,
mortificada.
Era um caos bom, sim, mas eu não via a hora de nossa casa ficar
pronta.
A casinha dos meus pais tinha ficado completamente lotada desde
que Selene e Jeremy decidiram ficar até o bebê nascer, o que aconteceria
a qualquer momento.
— Sienna, venha me ajudar com os sanduíches, — meu pai chamou
da cozinha.
Quando me juntei a ele, ele me lançou um olhar de preocupação. Ele
tem feito muito isso desde que nos mudamos.
— Como você está, querida? Está tudo bem? Estamos tornando nossa
casa confortável para você e Aiden? Porque se você precisar de alguma
coisa, apenas...
— Pai, estou bem, de verdade. Vocês têm sido incríveis, abrindo sua
casa para nós enquanto reconstruímos a nossa.
Não tinha contado à minha família tudo o que aconteceu com
Konstantin, mas eles sabiam o suficiente.
Eu deixei de fora os detalhes sobre meus pais biológicos porque sabia
que isso iria quebrar seus corações e, honestamente, ainda não estava
pronta para falar sobre isso.
Aiden, por outro lado, sabia de tudo.
Foi difícil no início reviver o que havia acontecido comigo. Eu me
senti tão violada e traída pelo que Konstantin fez.
Ele tinha me usado. Ele tentou me manipular, me destruir
mentalmente, destruir Aiden fisicamente, e ainda incendiou nossa casa
inteirinha, mas no final das contas, nosso vínculo de acasalamento era
mais forte.
Não seremos destruídos tão facilmente; ele sabia disso agora.
E ele estava lá fora em algum lugar — em um estado enfraquecido,
talvez, mas ainda escondido nas sombras. Isso fazia meu sangue gelar.
Josh havia estabelecido uma força-tarefa anti-vampiro depois de tudo
o que aconteceu.
Era uma quase obsessão para ele caçar Konstantin, mas até agora,
haviam se passado quatro semanas sem nem mesmo uma pista.
A vigilância de Josh me fez sentir mais segura, mas também triste. Ele
costumava ter muito tempo livre antes...
Enquanto eu silenciosamente cortava vegetais ao lado de meu pai,
isso me fez pensar sobre o paradeiro de meu pai biológico, seja ele quem
for. Mas apenas por um momento.
Eu sorri para meu pai e apertei sua mão. Não precisei procurar meu
pai. Ele estava bem do meu lado.
Aiden entrou na cozinha, felizmente totalmente vestido, e abriu uma
cerveja. — Quer uma, Robert?
Ele parecia mesmo estar gostando de todo esse tempo forçado em
família. E eu não poderia culpá-lo. Ele nunca tinha vivido isso.
— Eu adoraria, — disse ele, pegando a cerveja e batendo contra a de
Aiden.
— Ei, não me deixe fora disso, — eu disse, pegando minha própria
cerveja.
Selene entrou arrastando os pés com a ajuda de Jeremy e afundou na
mesa.
Mamãe trouxe uma torta de maçã da sala de jantar que fez Aiden
começar a babar.
— Resfriada recentemente no peitoril da janela, assim como minha
mãe costumava fazer, — disse Aiden.
— Aiden, coloque essa língua de lado, — eu ri. — Você não olha nem
para mim desse jeito, a menos que esteja sob efeito da Bruma.
— Todo mundo tem uma bebida?, — meu pai perguntou enquanto
levantávamos nossas garrafas no ar.
— Eu bem que queria, — suspirou Selene, segurando seu estômago.
— A que devemos brindar? — Aiden disse, olhando ao redor da sala.
Eu não sabia o que faria sem essas pessoas incríveis em minha vida.
Eles me ancoraram e me trouxeram de volta à costa quando Konstantin
tentou me afogar.
As pessoas nesta sala eram de onde vinha minha verdadeira força.
— À família. — Eu sorri.

Enquanto me arrumava para dormir, olhei para meu reflexo no pequeno


espelho que meus pais haviam comprado para mim quando era uma
garotinha. Eu me senti infantil ao usá-lo agora.
Tanta coisa mudou nos últimos dois anos.
Eu ainda não tinha me acostumado a ficar no meu quarto de infância
com Aiden também, mas ele estava totalmente fascinado por tudo isso...
Minhas pinturas em aquarela desleixadas da escola primária.
Minha extensa coleção de troféus de atletismo.
Os bichinhos de pelúcia que eu rasguei em pedaços quando era
apenas um filhote.
Eu o peguei lendo um dos meus antigos diários quando nos mudamos
pela primeira vez, e ele quase se juntou àqueles pobres brinquedos de
pelúcia em sua morte.
Mas agora, ele estava deitado na minha cama de samba-canção,
olhando para o mural de estrelas que eu pintei no teto quando tinha
quinze anos. Sua sincera expressão de admiração me fez amá-lo ainda
mais.
Eu rastejei em cima dele e dei-lhe um beijo apaixonado.
A Bruma pode ter passado, mas eu ainda tinha necessidades.
— Tem gente procurando encrenca, — ele rosnou, sorrindo e me
erguendo contra a cabeceira da cama.
— E eu sempre consigo encontrar — eu rosnei de volta, agarrando a
tenda levantada em sua cueca.
Ele me jogou na cama e não perdeu tempo em puxar minha calcinha
para baixo e espalhar minhas pernas.
A barba por fazer de Aiden esfregou contra a parte interna das minhas
coxas enquanto ele mergulhava em meu sexo com sua língua.
— Isso, vai, — eu murmurei, agarrando meus lençóis.
Aiden se sentou e empurrou minhas pernas abertas ainda mais,
batendo seu pau duro contra a minha entrada.
Ele provocou meu sexo, empurrando a ponta, em seguida, puxando
de volta.
— Mais, — eu disse sem fôlego.
— Você quem sabe — Aiden rosnou, colocando a mão levemente no
meu pescoço.
Soltei um gemido suave, que se transformou em um grito agudo
quando ele entrou em mim, alargando e acertando todos os pontos
certos.
Uma vez que ele entrou no ritmo, suas estocadas pareciam o paraíso.
Minha boceta estava prestes a explodir de prazer.
— Aiden, eu vou... porra... eu vou...
Meu abdômen se contraiu e minhas costas arquearam enquanto eu
gritava.
— Tô gozando. Caralho, tô gozando…
— ESTÁ VINDO, — minha mãe começou a gritar, batendo na porta
do meu quarto.
— O BEBÊ ESTÁ NASCENDO!!!
Apesar de minha sobrinha escolher o momento mais estranho
possível para entrar neste mundo, eu estava muito animada para
conhecê-la.
Meus pais ansiosamente agarraram as mãos um do outro enquanto
sentavam com Aiden e eu na sala de espera. Já haviam se passado duas
horas desde que Selene entrou em trabalho de parto.
— Sabia que a sala do zelador fica ali virando o corredor? — —
sussurrou Aiden, deslizando a mão pela minha perna. — Poderíamos
terminar o que começamos.
Eu dei um tapa na mão dele. Homens. Sempre pensando em foder.
Embora eu tivesse que admitir que não seria a pior maneira de matar
o tempo.
Jocelyn de repente empurrou as portas duplas de uniforme, sorrindo
de orelha a orelha.
— Quais as novidades? — Minha mãe saltou da cadeira.
— Uma menina feliz e saudável. Ela está pronta para conhecê-los
agora, — Jocelyn disse, nos levando para o quarto de Selene.
Jeremy pairava sobre sua esposa e filha com absoluta admiração e
devoção em seus olhos. Selene segurou sua linda garotinha — minha
primeira sobrinha — nos braços. Seu rosto estava molhado de lágrimas.
Eu caí no choro. Dominância que se dane. Fiquei muito feliz por ela.
Aiden agarrou minha mão. Ele quase parecia ter os olhos um pouco
embrumados. Quase.
— Qual é o nome dela? — minha mãe arrulhou, observando o lindo
pacote de uma neta na frente dela.
— Meu deus, não pensamos em nenhum ainda, — Selene disse,
abruptamente explodindo em lágrimas. — Ela não tem nome!
— Querida, está tudo bem, não chore. Vamos pensar em um. Temos
tempo, — ele disse, nervosamente tentando consolá-la e entender seus
hormônios erráticos.
Uma visão de repente surgiu em minha mente — cabelos ruivos
esvoaçantes, olhos ferozes. Alguém importante, que merece ser
homenageado.
— E se fosse... Vanessa? — Eu sugeri.
Os olhos de Selene brilharam. — Isso... esse é perfeito. É lindo. Mas
por que Vanessa?
— Por nada, — eu disse enquanto Aiden me olhava, entendendo tudo.
— Eu só acho que combina.
— Eu também, — ela respondeu, bocejando, suas pálpebras ficando
pesadas.
— Certo, a mamãe e a pequena Vanessa precisam descansar um
pouco, — Jocelyn ordenou. — Todos nós podemos admirar a bebê de
manhã.
Jocelyn tocou levemente meu ombro quando eu estava prestes a sair.
— Tenho outro paciente que preciso verificar, se você quiser se juntar a
mim.
Eu balancei a cabeça enquanto meu estômago se retorceu em nós.
Ela parecia tão tranquila dormindo — exceto que ela não estava
realmente dormindo, pelo menos não por vontade própria.
Ah, Michelle, isso é tudo culpa minha.
Enquanto Michelle permanecia imóvel em sua cama de hospital, uma
onda de culpa tomou conta de mim. Se não fosse por mim, ela nunca
teria ido para a casa de Konstantin em primeiro lugar e ele nunca a teria
usado para tentar me machucar.
Jocelyn agarrou minha mão quando comecei a chorar.
— Não se culpe, — disse ela. — Às vezes, as pessoas entram em nossas
vidas e mentem, e essas mentiras contaminam todos ao nosso redor.
— Mas e se eu tiver ajudado a espalhar essa doença?
— Você estava apenas tentando encontrar respostas sobre o seu
passado. Tenho certeza que Aiden entende isso, — ela respondeu,
olhando para longe. — Ele não quer nada mais do que proteger você.
— Talvez ela só estivesse tentando proteger você também, — eu disse
delicadamente enquanto observava Jocelyn enrijecer.
— Não, — Jocelyn respondeu vagamente. — Mas prefiro não falar
sobre isso.
A porta se abriu e Josh entrou pesadamente, com uma expressão
triste e cansada. Ele estava com a barba cheia e olheiras.
Ele não havia desistido de procurar Konstantin por um momento
sequer, desde que Michelle entrara em coma.
— Ah, eu achei que não tinha ninguém aqui, — Josh murmurou, sem
fazer contato visual comigo.
— Nós vamos sair, — Jocelyn disse suavemente. — Me avise se você
precisar de alguma coisa.
Enquanto Jocelyn me conduzia para fora da sala, me virei por um
segundo para ver Josh encostar sua testa na de Michelle.
Eu não vou deixar você fazer isso sozinho, Josh. Nós o encontraremos. E
nós a traremos de volta.
Aiden colocou o braço em volta do meu ombro enquanto caminhávamos
pela garagem para a casa dos meus pais. O sol estava começando a nascer
sobre as copas das árvores.
— As coisas vão voltar ao normal, Sienna. Sua família sempre estará lá
para ajudar, com as coisas boas e ruins. Nossa família sempre estará lá
para nos ajudar, — Aiden me assegurou.
— Claro, — eu disse, forçando um sorriso e inclinando minha cabeça
em seu peito.
Nada dentro de mim parecia normal desde que Konstantin havia
invadido minha mente e corpo, mas eu não queria preocupar Aiden.
Eu sentia um poder desconhecido dentro de mim, um que eu não
entendia...
E estava crescendo a cada dia.
Rowan

Quando os raios do sol nascente caíram sobre sua cabeça, seus


magníficos cabelos ruivos ficaram em chamas. Ela era linda, quase uma
imagem espelhada.
Eu a observei caminhando com seu companheiro, e isso despertou
em mim uma emoção que estava adormecida há muito tempo.
— Ela se parece... com a mãe.

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