Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Reerguimento Da Rússia, Os EUA - OTAN e A Crise Da Ucrânia - A Geopolítica Da Nova Ordem Mundial
O Reerguimento Da Rússia, Os EUA - OTAN e A Crise Da Ucrânia - A Geopolítica Da Nova Ordem Mundial
Confins
Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
25 | 2015 :
Número 25
O reerguimento da Rússia, os
EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a
Geopolítica da nova Ordem
Mundial
Le retour de la Russie, les États-Unis / OTAN et la crise en Ukraine: géopolitique du Nouvel Ordre Mondial
The new uplifting of Russia, the US / NATO and the crisis in Ukraine: the Geopolitics of the New World Order
W M C
Resumos
Português Français English
Este texto examina aspectos importantes do cenário internacional deste início do século 21 do
ponto de vista da geopolítica, com destaque para o processo em curso de reerguimento da Rússia
como Grande Potência. A abordagem articula conhecimentos da geografia regional, geopolítica,
história e teoria das relações internacionais e procura concentrar-se na análise de aspectos
relevantes da trajetória russa, desde o período czarista, passando pelo socialismo no âmbito da
URSS, o declínio após 1991, o reerguimento a partir de 2000 e a atual política e estratégia de
poder regional e mundial, na qual são destacadas suas rivalidades com os EUA/OTAN e os
conflitos com a Ucrânia. Além da análise desse percurso, procura compreender o modo particular
de atuação das grandes potências em sua incessante luta para manter e ampliar parcelas do poder
mundial, especialmente nas duas últimas décadas. Enfatiza, ao mesmo tempo, o notável
renascimento da perspectiva geopolítica e da sua contribuição para desvendar a complexa trama
de relações da política internacional no contexto da atual transição de uma Ordem Mundial para
outra, aqui preliminarmente designada como tripolar.
Ce texte examine des aspects importants de la scène internationale en ce début de 21e siècle du
point de vue géopolitique, mettant en évidence le processus de retour de la Russie comme grande
puissance. L'approche combine la géographie régionale, la géopolitique, l'histoire et la théorie des
relations internationales et cherche à se concentrer sur l'analyse des aspects pertinents de
l'histoire russe, de la période tsariste, via le socialisme de l'URSS, la déclin d'après 1991, le retour
à partir de 2000 et la stratégie de pouvoir politique régional et mondial actuelle, qui sont mis en
évidence dans sa rivalité avec les États-Unis / OTAN et le conflit avec l'Ukraine. En plus de
l'analyse de ce parcours, il cherche à comprendre le mode d'action particulier des grandes
puissances dans leur lutte constante pour maintenir et agrandir des aspects de leur puissance
mondiale, surtout dans les deux dernières décennies. Il souligne dans le même temps la
renaissance remarquable du point de vue géopolitique et sa capacité à démêler le réseau
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 1/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
complexe des relations internationales de la politique dans le contexte de la transition actuelle
d'un ordre de monde à l'autre, préalablement désigné comme tripolaire.
This paper examines important aspects of the international scene in the early 21st century from a
geopolitical point of view, highlighting the process of return of Russia as a great power. The
approach combines regional geography, geopolitics, history and theory of international relations
and seeks to focus on the analysis of relevant aspects of Russian history, from the Tsarist period,
via the socialism of the USSR, the decline after 1991, the return from 2000 and the current
regional and global political power strategy, which is highlighted in its rivalry with the US /
NATO and the conflict with Ukraine. In addition to the analysis of this journey, it seeks to
understand the particular mode of action of the great powers in their constant struggle to
maintain and extend aspects of their world power, especially in the last two decades. He points at
the same time to the remarkable revival of ther geopolitical point of view and its ability to
untangle the complex web of international relations policy in the context of the current transition
from one world order to another, previously designated as tripolar.
Entradas no índice
Index de mots-clés : géopolitique, politique internationale, grande puissance, retour de la
Russie, crise de l'Ukraine, nouvel ordre mondial, conflits et guerres
Index by keywords : geopolitics, international politics, great power, Russia's new uplifting,
Ukraine crisis, new world order, Conflicts and War
Índice geográfico : Rússia, Ucrânia
Índice de palavras-chaves : geopolítica, política internacional, grande potência, reerguimento
da Rússia, crise da Ucrânia, nova ordem mundial, guerras e conflitos
Texto integral
Visualizar a imagem
Créditos : http://voyage.gentside.com
1 O renascimento da geopolítica clássica como inspiradora de estratégias nacionais,
rivalidades e conflitos envolvendo, sobretudo, as grandes potências com impactos em
praticamente todas as regiões e povos do mundo é um dos aspectos destacáveis da
transição em curso em direção a uma nova ordem nas relações internacionais.
2 A restauração da Rússia como grande potência com projeção regional e mundial e os
rumos dominantes da sua estratégia de poder e de influência na política internacional,
como o formidável reaparelhamento das forças armadas, a recente reaproximação com
a China, a calculada movimentação que visa contrastar a hegemonia dos EUA/OTAN e
a ousada e ostensiva intervenção política e militar na atual crise da Ucrânia, são
processos e eventos emblemáticos das aceleradas mudanças do mundo deste início do
século 21 e que nos inspiram a examiná-los pondo em relevo as concepções da antiga e
sempre renovada geopolítica.
3 Neles se expressam elementos e padrões de comportamento característicos das
antigas, emergentes ou restauradas grandes potências quando protagonistas de
disputas em torno dos seus valores e interesses nacionais assentados nos seus
respectivos territórios e áreas de domínio, controle ou influência. Expressam, ao
mesmo tempo, a complexidade das eras de transição de uma ordem mundial para outra
e neste caso da bipolaridade para a multipolaridade ou polaridades ainda indefinidas.
Trata-se de eventos envolvendo fricções, tensões, crises e conflitos impulsionados pela
competição de largo espectro por hegemonia e pelos movimentos por afirmação
política, emancipação, autonomia e soberania de estados, nações, nacionalidades e
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 2/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 4/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
aliança liderada pelos EUA, formado pela OTAN (no Ocidente) e ancorado nos acordos
bilaterais de segurança com seus mais tradicionais aliados da Ásia e do Pacífico, casos
do Japão, Coréia do Sul, Singapura e Austrália8.
23 Em suma, é a vigência da antiga e agora revigorada rivalidade entre o Poder
Terrestre e o Poder Marítimo neste início do século XXI, cuja natureza é sistêmica e de
larga escala e está moldando a nova Ordem Mundial na qual a repartição do poder
político e militar entre as grandes potências a configura cada vez mais como Tripolar.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 6/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
http://www.maquetland.com/v2/images_articles2/images/5_1689_1900.gif
27 O processo de formação nacional-territorial russo tem seu ponto de partida na
segunda metade do século XV, sob o comando do Imperador Ivan III, quando este põe
fim ao domínio do Império Mongol, na região que passa a ter Moscou como sua capital
esta se constitui no núcleo original para a posterior expansão do seu ecúmeno
geopolítico10.
28 Esta trajetória de expansão territorial ganha intensidade, sobretudo, nos reinados de
Pedro o Grande (1682-1725) e Catarina a Grande (1761-1796) e é caracterizada por
diversos elementos de singularidade que a diferenciam ainda mais das demais
experiências imperiais (ou imperialistas) da Europa. O primeiro e mais importante é
que desde o início tratou-se da formação de um Estado nacional transicional e
ambivalente, pois posicionado territorialmente na imensa e estratégica região entre a
Europa e a Ásia.
29 No período que vai de meados do século XVII ao final do século XIX o Estado russo
expandiu continuamente suas fronteiras, primeiro em direção ao Oeste até o litoral do
Mar Báltico, um movimento que se fez à custa de conflitos com a Polônia e a Suécia11.
Em seguida, e principalmente ao longo do século XIX, expandiu-as em direção ao Sul e
ao Leste, alcançando primeiro a Ásia Central e, em seguida, os confins da Eurásia já na
borda do Oceano Pacífico e, nesse estágio, teve que confrontar-se inicialmente com a
Mongólia e posteriormente com a China e o Japão.
30 A segunda característica peculiar desse processo é que ainda que se refiram de modo
geral à forma dominante de expansão dos impérios, há distinções de uma perspectiva
propriamente geopolítica que devem ser enfatizadas. Enquanto os mais poderosos
impérios europeus – casos de Inglaterra e França – focaram a sua expansão territorial
nos séculos dezoito e dezenove fazendo uso do que Alfred Mahan denominaria mais
tarde de Poder Marítimo, estendendo seus domínios na África, Ásia e na América, a
Rússia o fez a partir de experiência baseada essencialmente no Poder Continental ou
Terrestre, na acepção de Halford Mackinder.
31 O terceiro aspecto destacável no processo de consolidação desse imenso império
decorre justamente da sua particular posição nessa enorme massa terrestre entre a
Europa e a Ásia. Até meados do século XVIII, quando seus governantes ainda definiam
como principal horizonte estratégico a expansão e consolidação dos seus domínios
sobre os territórios europeus, a Rússia assemelhava-se nos seus traços gerais às demais
experiências históricas do período no continente, inclusive porque nessa trajetória teve
que enfrentar a resistência de outras potências que com ela disputavam as mesmas
áreas de influência12.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 7/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
32 Desde então, o percurso histórico do país tendeu a expressar essa sua natureza
transicional e ambivalente que o induz a adotar uma recorrente estratégia tipicamente
pendular nos processos de expansão imperial. Em sua faceta ocidental, o país assumia
plenamente sua condição de potência europeia, quando fixava seu olhar na direção do
Ocidente e dele incorporava não só a cultura, o modo de vida e até os sistemas
burocráticos de gestão pública, como também os projetos de hegemonia – ou coloniais -
no continente e fora dele13.
33 Esse processo de europeização que iniciara no século XVI com Ivan, o Terrível, teve
notável impulso sob o comando de Pedro, o Grande, no século seguinte, e de Catarina, a
Grande, a partir do início do século XVIII. Essa trajetória em direção ao Oeste deu-se,
sobretudo, durante o reinado de Pedro I, autoproclamado Czar (em alusão aos
imperadores romanos) e que foi de fato o criador do que seria conhecido como o
Império Czarista russo. Primeiro, com a criação de São Petersburgo no Golfo da
Finlândia, para a qual é transferida a Capital do país, viabilizando assim sua estratégia
de criar uma “porta para a Europa” pela qual pudesse intensificar suas interações com
seus vizinhos ocidentais. Segundo, com as guerras de expansão e as vitórias sobre o
Império Turco-Otomano e a Suécia e as anexações da Lituânia, Estônia e Letônia no
Báltico. Conquistas significativas que moldaram a Rússia Moderna e a definiram como
império europeu de fato.
34 Essa tendência tem continuidade durante o reinado de Catarina II, que além da
conquista da Criméia e a consolidação dos territórios do Báltico e do Cáucaso, mantém
o ímpeto colonizador de Pedro I com a extensão dos seus domínios para a Sibéria e o
Ártico e para além dos Urais em direção à Ásia Central e o Extremo Oriente. Nesse
percurso, e comportando-se neste aspecto específico à semelhança dos impérios
coloniais da França e da Inglaterra e, em certa medida, da Prússia, o Império Russo
atribuiu-se papel “civilizador” no processo de incorporação seguido de abrangente
política de russificação dos territórios e dos “povos bárbaros” da Ásia (os “não
europeus”), definindo-os de fato como os seus “territórios coloniais”14.
35 Por outro lado, a faceta oriental da sua natureza ambivalente impulsionou-o na
direção dos territórios meridionais tendo como rumo, primeiro, o Grande Cáucaso,
onde contrastará ali o tradicional domínio do Império Turco-Otomano e, em seguida, o
leste e o norte com o Volga-Urais, a Sibéria e o Ártico. Em seu avanço em direção à Ásia
Central e Meridional e mais especificamente quando atinge o Afeganistão, confronta ali
o domínio e a influência do Império Britânico nas fronteiras ocidentais dos territórios
da Índia colonial que então incluíam o atual Paquistão. Na progressão rumo ao Leste,
alcança o Extremo-Oriente e o Pacífico, definindo assim os confins do seu ecúmeno
político-territorial e consolidando formidável expansão territorial simbolizada pela
instalação da cidade litorânea de Vladivostok em 1860, centro portuário comercial e
base da sua frota naval do Pacífico. Finalmente, na passagem do Século XIX para o XX,
confrontar-se-á nessa região com o Japão - a potência marítima emergente da Ásia do
Pacífico - com o qual entrará em guerra em 1905 na disputa pelas ilhas Sakalina e da
qual sairá derrotado e perderá não apenas o arquipélago como também Vladivostok,
territórios que só serão retomados em 1945, com o fim da Segunda Guerra e a derrota
japonesa.
36 No final do século XIX o Império formava um poderoso Estado continental
dominando imensa massa terrestre com mais de 10 mil km de extensão no sentido
Leste-Oeste, cuja coluna vertebral mais emblemática é a formidável ferrovia
Transiberiana, concluída em 1901 e que interliga de fato o Báltico ao Pacífico (e
posteriormente a China). Define-se assim a configuração geopolítica fundamental da
grande potência que emergirá da Revolução Soviética de 1917 e que representará
cabalmente uma nova modalidade de poder mundial, isto é, a conjunção de um sistema
político de novíssimo tipo e ultracentralizado – o estado socialista - com o poder
terrestre na sua mais eloquente expressão.
uma dezena de províncias que se tornarão repúblicas socialistas soviéticas, num total de
14 (após as anexações da Lituânia, Estônia e Letônia em 1940 no contexto do acordo
Ribbentrop-Molotov) e um total de sessenta nacionalidades oficialmente reconhecidas.
Formou-se com isso um imenso território com 22 milhões Km² desde o Báltico,
passando pelo Cáucaso, a Ásia Central e a Sibéria, até os confins da Ásia do Pacífico. É
nesse período que a Antiga Rússia, agora U.R.S.S., atinge o ápice do seu processo de
consolidação política e geopolítica e, sob o comando de Lênin e depois de Stalin, o
ultracentralizado Estado Soviético persegue a todo custo o pleno uso das forças de
coesão nacional-territorial mediante a implantação de abrangentes redes de controle,
vigilância e gestão no imenso território multiétnico e multi-regional sob seu domínio.
38 Ao mesmo tempo, Moscou promove um vigoroso processo de russificação em todos
os seus domínios com as suas dezenas de povos, retomando de forma ampliada
processo similar posto em prática durante o reinado de Catarina, a Grande. Além disso,
e apesar de ter sido formalmente assegurada pela Constituição de 1936, a autonomia
das repúblicas soviéticas e demais “regiões autônomas” da Federação Russa não era
efetiva. Afinal, a natureza essencial da centralização imposta pelo regime instalado em
Moscou não se resume à sua dimensão política ou seu correspondente sistema de
gestão, mas estende-se para as outras esferas relevantes da vida social, como a cultura
em geral, a exemplo da imposição da língua russa como idioma oficial, a proibição do
exercício religioso e a propagação maciça dos valores e práticas definidos pelo partido
único.
39 Além disso, e mediante os conhecidos Planos Quinquenais, a URSS procura a todo o
custo superar seu atraso em relação ao Ocidente capitalista, notadamente no que se
refere à precariedade da sua agricultura e às insuficiências nos estágios mais avançados
da estrutura industrial, além do fato de que esse esforço de superação era claramente
impulsionado pelo seu objetivo estratégico mais importante, isto é, de tornar-se
rapidamente uma Superpotência capaz de rivalizar com as potências ocidentais e
destacadamente os EUA. O período da acelerada modernização foi deflagrado pelos
dois primeiros planos (1927-1936) que priorizaram o transporte ferroviário e a
construção de grandes hidroelétricas na Sibéria Oriental, a expansão da agricultura
mecanizada na Ucrânia (40 milhões de hectares de solos cultiváveis), nos Urais e na
Sibéria Oriental e o desenvolvimento da indústria de bens de produção (siderurgia,
metalurgia, química e petroquímica) e de máquinas e equipamentos em geral15.
40 Especialmente no caso do forte impulso à industrialização, o processo foi beneficiado
pelas descobertas de enormes reservas de petróleo e gás, além de importantes jazidas
de carvão e de minérios como o ferro, manganês, alumínio, níquel e urânio, bastante
concentrados nos Urais (a mais importante região industrial do país durante a Segunda
Guerra), mas também distribuídos pela Sibéria Oriental, Cazaquistão e Azerbaijão.
41 Durante os anos 1930 Moscou também prioriza o povoamento do Extremo-Oriente,
isto é, a Sibéria Oriental e as regiões do rio Amour e da borda do Pacífico, cuja
imensidão contrastava com o fraco povoamento e o baixo nível de desenvolvimento. Até
o início dos anos 1940 essas regiões receberam um contingente com cerca de dois
milhões de imigrantes livres atraídos pelos programas de atração do governo (salários
diferenciados e benefícios), 500.000 militares e cerca de 300.000 prisioneiros16.
42 Esse esforço modernizante foi crucial para enfrentar e derrotar a invasão alemã na
Segunda Guerra, ainda que essa vitória tenha sido obtida à custa de estimados 20
milhões de mortos, entre civis e militares, a quase destruição da agricultura e de muitas
das suas cidades e de pesados danos à sua infraestrutura em geral. A heroica resistência
e a contraofensiva das forças armadas soviéticas à invasão nazista a partir de meados de
1944 e a sua entrada triunfal em Berlim em maio de 1945, inaugura um novo ciclo de
consolidação e expansão do poder do país. Daí porque antes mesmo do final da guerra,
na Conferência de Yalta (fevereiro de 1945), Stalin explicitou enfaticamente suas
exigências nas partilhas da Europa centro-oriental e do Báltico.
43 Cristalizada a derrota alemã, a partilha entre os vencedores foi formalizada na
Conferência de Potsdam (julho de 1945), pela qual ficou acordado que ficaria na órbita
da U.R.S.S. o domínio (ou a influência direta) de praticamente todos os países da
Europa de Leste – desde a porção oriental da Alemanha - e dos Bálcãs, nos quais
incentivou e apoiou a implantação de estados socialistas alinhados com Moscou.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 9/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 10/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 11/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
para uma economia de mercado, isto é, capitalista. Após dois séculos e meio, estava em
curso mais uma tentativa de ocidentalização ou europeização da velha Rússia que
impactaria não apenas o universo da cultura e da burocracia como ocorreu durante sua
afirmação como potência imperial, mas agora em um sentido mais abrangente e
profundo, isto é, ideológico e político.
57 A reviravolta na configuração geopolítica do poder mundial decorrente do colapso do
Pacto de Varsóvia e do drástico encolhimento da influência russa teve como
contrapartida principal o fortalecimento estratégico-militar dos EUA e seus aliados
ocidentais que se consubstanciou no revigoramento da OTAN, cuja estratégia principal
passou a ser o alargamento do seu espaço de atuação direta e indireta até as últimas
fronteiras dos antigos territórios da ex-União Soviética. E essa expansão ocidental
sobre as regiões e países lindeiras da Rússia não se restringiu ao campo especificamente
estratégico-militar, como é sabido.
58 Com sua institucionalização em 1994, a União Europeia inicia vigoroso processo de
expansão no Continente, passando de 15 Estados-membros em 1990 para 25 em 2004
(total de 28 em 2013), durante o qual integrou praticamente todos os antigos países
socialistas do Leste Europeu, com destaque para as três repúblicas do Báltico (Lituânia,
Letônia e Estônia) que faziam parte da URSS. Além disso, a expansão do seu raio de
ação ainda se faz mediante acordos e bilaterais com os países da região, como os
Tratados de Livre-Comércio celebrados com a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia em
meados de 2014, ou o ultrassensível pacote de ajuda financeira à Ucrânia no início da
sua turbulenta crise com a Rússia.
59 Da sua parte, a OTAN deu curso à sua estratégia de alargamento a partir de 1999 no
qual também incorporou a maior parte dos países do Leste Europeu e, portanto, da
órbita do antigo Pacto de Varsóvia20. Sob esse aspecto, os casos que melhor ilustram o
grave e potencial quadro de fricções que se estabeleceria nas relações dos EUA/OTAN
com a nova Rússia com a consequente deterioração das condições de segurança
europeia, foram a incorporação das mencionadas três repúblicas Bálticas, os ostensivos
convites à Geórgia e à Ucrânia para ingressarem na organização e a decisão de instalar
uma base de lançamento de antimísseis na Polônia. Além disso, os EUA/OTAN
estenderam essa estratégia de contenção ou confinamento do país para suas antigas
repúblicas e províncias situadas em direção ao sul, no Cáucaso e ao sudeste, na Ásia
Central. Utilizando-se da tradicional influência da Turquia nas duas regiões e,
sobretudo, após a invasão do Afeganistão pelos EUA/OTAN em 2001, abriu-se caminho
para a aproximação com Azerbaijão, Turcomenistão e Uzbequistão, países com os quais
foram estabelecidos acordos visando à exploração conjunta de petróleo e gás das ricas
jazidas da região do Mar Cáspio, ao lado da construção de oleodutos e gasodutos
atravessando o território turco (e não o russo) e, a partir daí, seu fornecimento à
Europa ocidental e aos EUA.
60 Em síntese, são movimentos combinados e de largo espectro inspirados pela
indisfarçável estratégia ocidental de fincar seus marcos nos confins do Leste Europeu e
nas circunvizinhanças da Ásia Central e assim conter e confinar o máximo possível o
atual e potencial poder de influência russa nos limites do seu território, isto é, a
Federação Russa stricto senso.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 12/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
país como fator de “estabilidade da Eurásia”, retomando assim sua posição de um dos
polos do “sistema geopolítico global”, concepção que expressa, ao mesmo tempo, “uma
ideologia, uma corrente de pensamento e um movimento político”21.
64 Essa inflexão nos rumos do país também é examinada criticamente por André Filler
que destaca, sobretudo, a restauração do fervor nacionalista em torno do novo líder
(especialmente na mídia) e a defesa de uma espécie de destino manifesto da nação
russa, assentado na sua “vocação milenarista” e na condição de “herdeira da URSS”,
rumo à retomada da sua posição como “polo de gravitação mundial”, enfim, os
ingredientes mais importantes da “doutrina” de Putin, explicitada por ele em seu
discurso de Munique, em 200722
65 Sob a liderança de Putin o país empreende grande esforço de reconstrução
econômica, no qual foi beneficiado pela elevação dos preços do petróleo e gás e das
commodities em geral. No caso do gás, especialmente, o país ocupa a posição de maior
fornecedor da Europa e este é escoado em uma densa rede de pipelines desde os
campos da Sibéria e o governo de Moscou sabe que a forte dependência europeia desse
combustível é fator crucial em conjunturas de crise como o atual. Na direção do Leste,
os recentes acordos celebrados com a China envolvendo o fornecimento de grande
volume de petróleo e gás em gigantescos pipelines (em fase de construção) têm
despertado a atenção do Ocidente pelo seu forte conteúdo geopolítico23.
66 O país também tem elevada competividade na produção de material bélico de todos
os tipos e níveis tecnológicos (é o segundo maior exportador do mundo) e esse seu
estratégico e lucrativo setor tem sido impulsionado não apenas pelas vultosas
aquisições recentes do governo na sua estratégia de reaparelhamento das forças
armadas, como também pelo reaquecimento do mercado internacional desse segmento
desde setembro de 200124.
67 Da perspectiva geopolítica, entretanto, o mais relevante nessa empreitada é a
retomada do crucial objetivo estratégico nacional que é o de conter por todos os meios -
e se necessário confrontar militarmente - os avanços dos EUA/OTAN e seus aliados
ocidentais e orientais na direção das suas tradicionais áreas de influência geopolítica,
isto é, seu Entorno Regional Estratégico, especialmente nas fronteiras das ex-
Repúblicas Soviéticas do Báltico, do Cáucaso e da Ucrânia e a intensa mobilização
diplomática e militar que visa dissuadir os EUA/OTAN do seu projeto de instalar
mísseis balísticos de interceptação na Polônia.
68 O governo passou também a dispensar atenção especial ao grupo de províncias e
regiões de países integrantes da antiga União Soviética, nas quais ainda vivem
aproximadamente 25 milhões de russos25 (cerca de metade disso nos países da Ásia
Central) e, em alguns casos, essas “minorias” estariam enfrentando hostilidades e
constrangimentos da parte das populações e dos governos. Em determinados casos,
como a Criméia e as províncias orientais da Ucrânia ou as rebeladas províncias da
Geórgia, esses conflitos constituem importante fator de desestabilização dos governos
locais, tendendo a desdobrar-se em movimentos separatistas de maior envergadura
que, segundo dirigentes dos países que as abrigam e boa parte dos analistas ocidentais,
seriam sistematicamente estimulados e apoiados por Moscou.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 14/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 17/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
Considerações finais
89 A política internacional tem sido examinada atualmente pelas perspectivas de uma
miríade de antigas, novas e novíssimas disciplinas, abordagens e mesmo pontos de
vista, disponíveis em inumeráveis publicações acadêmicas de especialistas e da mídia
em geral. A geopolítica é um dos mais antigos desses campos de estudos e claramente,
no caso brasileiro, ela não é atualmente uma área de pesquisa que desperta grande
interesse da comunidade que se dedica a esses temas, sobretudo, no que diz respeito ao
meio acadêmico institucionalizado, tendência observável especialmente na geografia, o
berço da geografia política e da geopolítica.
90 Daí nossa firme disposição de retomar no presente estudo o esforço que se faz
necessário para realçar o modo particular da geopolítica de examinar a política
internacional, mediante um particular viés conceitual e analítico que procura iluminar
uma ou mais das suas faces – neste caso, as relações entre o território e o poder - do
nosso poliédrico e complexo objeto de estudo e que por vezes não são sobrelevadas
pelos estudiosos da área.
91 A escolha do tema da restauração da Rússia como grande potência e a sua intensa
movimentação na cena internacional atual foi proposital, pois ele nos permite explorar
desde as questões de maior abrangência e significado para os rumos dominantes da
política mundial – a escala da ordem global -, como as estratégias e padrões de atuação
de um ator de primeira grandeza vis-a-vis seus principais antagonistas, até o exame de
eventos e de suas repercussões em outras escalas, isto é, nacionais, regionais e locais.
92 Finalmente, esse ensaio também contribui para reforçar a posição geral que temos
procurado defender no meio acadêmico e fora dele, fundada basicamente na convicção
de que não existe política internacional sem geopolítica e, especialmente, geopolítica
sem geografia.
Bibliografia
Alexander, J., The Petrine Era and After, in Freize, G.L. (ed.), Russia, a History, Oxford
University Press, N. York, 1997.
Banuazizi, A. e Weiner, M., (ed.), The New Geopolitics of Central Asia and its Borderlands.
Indiana University Press, Indianapolis, 1994.
Bassin, M., Geographies of Imperial Identity, in Lieven, D. (ed.), The Cambridge History of
Russia, Vol. II (Imperial Russia, 1689-1917), Cambridge university Press, N. York, 2006.
Bin, Y., China-Russia Relations: “Western Civil War Déjà-Vu?”, in Comparative Connections, A
Triannual E-Journal on East Asian Bilateral Relations, May, 2014.
Cohen, S. B., Geopolitics of the World System. Roman & Littlefield Publishers, Boston, 2003.
Costa, W. M., Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território e o poder. Hucitec-
Edusp, São Paulo, 1994.
Costa, W. M., Projeção do Brasil no Atlântico Sul: geopolítica e estratégia, in Revista Confins, Nº
22, 2014.
DOI : 10.4000/confins.9839
Dugin, A., A Geopolítica da Rússia Contemporânea, Versila, São Paulo, 2014, p. 3.
Filler, A., l’Identité Nationale Russe : anatomie d’une représentation, in Revue Hérodote,
(Dossier “Russie”), nº 138, 3º Trimestre, 2010.
Foucher, M., Obsessão Por Fronteiras. Radical Livros, São Paulo, 2009.
Fukuyama, F., The End of History and the Last Man. Free Press, New York, 1992.
George, P., Geografia da U.R.S.S., Difel, São Paulo, 1970.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 19/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
Itoh, S., Russia Looks East: Energy Markets and Geopolitics in Northeast Asia. CSIS - Center of
Strategic and International Studies, Washington, 2011.
Kissinger, H., Sobre a China, Objetiva, São Paulo, 2011
Kolmann, N. S., Muscovite Russia: 1450-1598, in Freize, G. L. (ed.), Russia, a History, Oxford
University Press, N. York, 1997.
Kolossov, V., Les Représentations de l’Eurasie en Russie, in Foucher, M. (Directeur), Asies
Nouvelles, Belin, Paris, 2002.
Martin, J., From Kiev to Moscow: the beginnings to 1450, in Freize, G. L. (ed.), Russia, a History,
Oxford University Press, N. York, 1997.
Mukaiyama, Y., Deciphering China’s Assertiveness in Cross-Border Incidents: Lessons for the
Japanese Police. CSIS (Japan Chair Platform), September, 10-2012.
Rosenau, J., Governance without Government: Order and Change in World Politics.
(Cambridge Studies in International Relations), Paperback, New York, 1992.
Shvedov, V. e Gras, C., Extrême-Orient russe, une incessante (re)conquête économique, in,
Revue Hérodote, (Dossier “Russie”), nº 138, 3º trimestre, 2010.
SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute. Annual Report, 2014.
Notas
1 Fukuyama, F., The End of History and the Last Man, Free Press, New York, 1992 e Rosenau, J.,
Governance without Government: Order and Change in World Politics (Cambridge Studies in
International Relations), Paperback, New York, 1992.
2 Um exame exaustivo do que aqui é denominado de geopolítica clássica ou tradicional, encontra-
se em Costa, W. M., Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território e o poder,
Hucitec-Edusp, São Paulo, 1992.
3 As diversas intersecções da Geografia Política com as principais escolas de pensamento da
Teoria das Relações Internacionais e, especialmente, com as obras mais destacadas dos pais
fundadores do realismo político são abordadas por Costa, W. M., Território e Política em Tempos
de Mudanças Globais, Tese de Livre-Docência, FFLCH-USP, São Paulo, 2005.
4 Esse notável movimento de aproximação entre os dois gigantes da Ásia após o início dos anos
1990 é destacado por Foucher, M., Obsessão Por Fronteiras, Radical Livros, São Paulo, 2009.
Uma das consequências dessas novas relações de cooperação entre a Rússia e a China é a
abertura das fronteiras nessas regiões comuns do Extremo-Oriente russo, incluindo a livre
circulação de mercadorias e pessoas e a criação de distritos especiais de comércio e de produção
industrial conjunta. Matérias da mídia de Moscou tem mencionado que devido ao acelerado
crescimento da economia do país vizinho nos últimos anos, estaria ocorrendo uma “invasão
chinesa” envolvendo levas de imigrantes e de mercadorias na região. Cf. Shvedov, V. e Gras, C.,
Extrême-Orient russe, une incessante (re)conquête économique, in Doissier “Russie”, Revue
Hérodote Nº 138, 3º trimestre, 2010.
5 A disputa por essas ilhas ocorre no contexto da retomada de antigas e profundas rivalidades
entre as duas potências asiáticas que remontam às invasões japonesas nos anos trinta e na
Segunda Guerra. O recrudescimento dessas rivalidades tem justificado movimentos recentes de
fortalecimento da aliança entre os EUA e o Japão (novo Tratado de Cooperação Militar foi
firmado neste ano) e um expressivo programa de investimentos na ampliação e modernização do
seu arsenal de guerra, tendo como focos a força naval e a aviação de caça. Ver a respeito
Mukaiyama, Y., Deciphering China’s Assertiveness in Cross-Border Incidents: Lessons for the
Japanese Police, CSIS (Japan Chair Platform), September, 10-2012.
6 Essa política de fortalecimento dos laços do país com a China e de ampliação da sua ação
diplomática com a Ásia e países emergentes de outros continentes também inspirou a criação dos
BRICS, em 2009, envolvendo, além dos dois países, a Índia e o Brasil e (a partir de 2011) a África
do Sul. Na reunião de cúpula de 2014, no Brasil, os cinco países decidiram criar um organismo
financeiro multilateral – o Novo Banco de Desenvolvimento – voltado para investimentos em
projetos de interesse nacional de países em desenvolvimento.
7 Esse atual estágio de relacionamento entre os dois países também se expressa no plano
simbólico, como nas recentes demonstrações públicas dos seus dois dirigentes nos Jogos
Olímpicos de Inverno de Sochi na Rússia, ou no inusitado evento após os Jogos, quando as
marinhas dos dois países promoveram a primeira manobra naval conjunta e justamente em
águas do Mediterrâneo. Sobre esse novo clima de relações, ver Bin, Y., China-Russia Relations:
“Western Civil War” Dèja-Vu?”, in Comparative Connections, A Triannual E-Journal on East
Asian Bilateral Relations, May, 2014.
8 Além do novo Tratado de Cooperação Militar com o Japão, assinado em de 2014, os EUA
também renovaram recentemente suas alianças militares com Austrália, Singapura e Filipinas.
9 Dugin, Aleksandr. A Geopolítica da Rússia Contemporânea, Versila, São Paulo, 2014, p. 3
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 20/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
10 Martin, J., From Kiev to Moscow: the beginnings to 1450, in Freize, G. L. (ed.), Russia, a
History, Oxford University Press, N. York, 1997
11 Essa expansão em direção ao Oeste ocorreu ao longo dos séculos XVIII e XIX e foi o resultado
de vitórias nas guerras travadas com a Suécia e a Polônia. Em 1721 formaliza as anexações da
Estônia e da Lituânia e em 1809 da Finlândia. Cf. Cohen, S. B., Geopolitics of the World System,
Roman & Littlefield Publishers, Boston, 2003
12 Entre o final do século XV e o final do século XVI a Rússia esteve envolvida em mais da metade
desse período em conflitos armados no Front Ocidental (ou europeu), nos quais teve que
enfrentar a resistência a esses avanços por parte da Suécia, da Polônia e da atual Lituânia. Cf.
Kolmann, N. S., Muscovite Russia: 1450-1598, in Freize, G. L. (ed), op. cit.
13 Cf. Alexander, J., The Petrine Era and After, in Freize, G.L. (ed.), op. cit.
14 Cf. Bassin, M., Geographies of Imperial Identity, in Lieven, D. (ed.), The Cambridge History of
Russia, Vol II (Imperial Russia, 1689-1917), Cambridge university Press, N. York, 2006.
15 Cf. George, P., Geografia da U.R.S.S., Difel, São Paulo, 1970
16 Cf. Shvedov, V. e Gras, C., Extrême-Orient russe, une incessante (re)conquête économique, op.
Cit.
17 Kissinger, H., Sobre a China, Objetiva, São Paulo, 2011
18 Cf. Costa, W. M., Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território e o poder
(Temas e Problemas Contemporâneos), op. cit.
19 O potencial de conflitos entre a Rússia e seus vizinhos do Cáucaso e da Ásia Central logo após
o colapso da URSS, é tratado por Banuazizi, A. e Weiner, M., (ed.), The New Geopolitics of
Central Asia and its Borderlands. Indiana University Press, Indianapolis, 1994.
20 A OTAN foi criada em 1950 e reformulada em 1999. Neste ano ingressam nela a República
Tcheca, Hungria, Estônia, Romênia, Eslováquia, Bulgária e Eslovênia. Em 2009, Croácia e
Albânia e mantém tratados de cooperação com Geórgia, Azerbaijão, Cazaquistão e Moldávia. Esse
renovado ambiente de fricções entre os EUA/Otan e a Rússia na Europa tem contribuído para
aumentar o sentimento de frustação e de apreensão dos analistas e da população em geral que
julgavam ter superado o quadro de permanente ameaça do período da Guerra Fria. Ver a respeito
o Dossier que a Revista Hérodote preparou sobre o tema (“Vers Une Nouvelle Europe de L’Est?”),
n° 128, 1° trimestre 2008.
21 Kolossov, V., Les Représentations de l’Eurasie en Russie, in Foucher, M. (Dirécteur), Asies
Nouvelles, Belin, Paris, p. 357. Para Kolossov, o mais destacado dos líderes desse movimento é o
geógrafo e geopolítico Alekandr Dugin, que além de ter publicado obra importante nessa área -
(Fundamentos da Geopolítica: o futuro geopolítico da Rússia, 1997), lançou a Revista de
Geopolítica “Elementy”
22 Filler, A., L’Identité Nationale Russe: anatomie d’une représentation, in Hérodote, op. cit.
23 Cf. Itoh, S, Russia Looks East: Energy Markets and Geopolitics in Northeast Asia, CSIS -
Center of Strategic and International Studies, Washington, 2011
24 Segundo o relatório anual do SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute, de
2014, a Rússia elevou substancialmente seus gastos militares a partir de 1999 e aprovou um
ambicioso programa de investimentos na modernização das forças armadas para o período 2011-
2020. Além disso, tem incrementado sua produção de equipamento militar e atualmente exporta
material bélico para um total de 52 países, dentre os quais se destacam China, Índia e Argélia e,
na América Latina, a Venezuela. Do total exportado, 28% são constituídos por material de
combate naval, aí incluída a venda de um Porta-Aviões para a Índia
25 Cf. Foucher. M., Obsessão por Fronteiras, op. cit.
26 Entre os argumentos dos separatistas pró-Rússia da Criméia que proclamaram a sua
independência é que, na verdade, essa província conquistara o status de autonomia desde as suas
origens. De fato, a província, então um território independente habitado pelos tártaros, havia
sido integrada pelo Império Russo em 1783, por Catarina II. Foi sob o governo de Joseph Stálin
que perdeu a autonomia que gozava dentro da Federação Russa (soviética), processo esse que foi
acompanhado pela deportação da maioria de sua antiga população de tártaros e a migração
maciça de russos para lá, de fato uma estratégia de russificação da província.
27 Observe-se que o enclave (a rigor um exclave) russo de Kaliningrado Oblast que sedia sua
frota naval do Báltico e o 11º Exército é uma ponta de lança das forças armadas do país
estrategicamente posicionada entre a Polônia e a Lituânia.
Créditos http://www.maquetland.com/v2/images_articles2/images/
5_1689_1900.gif
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/10551/img-
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 21/22
24/09/2018 O reerguimento da Rússia, os EUA/OTAN e a crise da Ucrânia: a Geopolítica da nova Ordem Mundial
1.png
Ficheiro image/png, 75k
Título Figura 2 – Expansão da OTAN
Créditos Master, J. (ed.), Council on Foreign Relations, february 27, 2015.
http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/10551/img-
URL
2.jpg
Ficheiro image/jpeg, 232k
Título Figura 2 – O Grande Cáucaso e suas nacionalidades
Créditos Fonte: John O’Loughin – University of Colorado at Boulder, 2007
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/10551/img-
3.png
Ficheiro image/png, 840k
Título Figura 4 – As Províncias Russófonas da Ucrânia
Créditos Wikimedia Commons, 2015
URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/10551/img-
4.png
Ficheiro image/png, 130k
Autor
Wanderley Messias da Costa
Professor Titular do Departamento de Geografia da USP e especialista em Geografia Política e
Relações Internacionais, wander@usp.br
Direitos de autor
Confins – Revue franco-brésilienne de géographie est mis à disposition selon les termes de la
licence Creative Commons Attribution - Pas d’Utilisation Commerciale - Partage dans les Mêmes
Conditions 4.0 International.
https://journals.openedition.org/confins/10551#text 22/22