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Setor Jurídico
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Sua equipe é composta por advogados e bacharéis em Direito, profissionais estes que podem
ser especializados em alguma área relevante para a empresa ou não.
Entretanto, existe, também, a possibilidade de se terceirizar o setor jurídico, hipótese esta que
deve ser considerada de acordo com o tamanho, necessidades e o cenário de cada empresa.
Para ela, o jurídico hoje, além de estar alinhado aos princípios de sustentabilidade – que não se
relacionam apenas ao meio ambiente, mas também à diversidade cultural –, precisa estar em
constante processo de aprendizado e anda lado a lado com a inovação. “Em um cenário de
inovação, o jurídico precisa ter a percepção de que o regulatório está sempre atrasado em
relação ao que acontece. A norma dificilmente antevê o futuro. Por isso, a gente acaba tendo
um papel, com base em princípios, no que seria o razoável, no que é a intenção que tem nas
normas anteriores, de pensar em qual a forma de se comportar”, diz.
Ela cita como exemplo a falta de regulação para dar segurança ao lançamento de novos
produtos, como foi o caso da Stella Artois sem glúten. “Não tínhamos no Brasil o balizador do
limite para considerar algo sem glúten. Foi aí que tivemos o cuidado de não afirmar de
imediato que era sem glúten. Optamos por dizer que era baixo em glúten e explicar o que isso
significa”, resume.
A gente tem o desafio de comunicar para além do que é a lei, para além do que é a regulação.
Temos que comunicar quais são os princípios, os valores que norteiam a companhia e quem a
gente é. Em um cenário de inovação, o jurídico precisa ter a percepção de que o regulatório
está sempre atrasado em relação ao que acontece. A norma dificilmente antevê o futuro. Por
isso, a gente acaba tendo um papel, com base em princípios, no que seria o razoável, no que é
a intenção que tem nas normas anteriores, de pensar em qual a forma de se comportar. Temos
que pensar no que nos norteia quando estamos inovando. O que é melhor para o consumidor?
O que é melhor para o cliente? O que vai me tornar uma escolha deles?
E sabemos que, pelo tamanho da Ambev, como nos comportamos influencia o que vai
acontecer no meio regulatório. A gente tem a responsabilidade de ser líder.
Para nós, como jurídico, também há o desafio de traduzir no nosso processo decisório a
influência que a gente tem sobre uma liderança mais diversa, não só dos aspectos mais claros,
como gênero, raça, orientação sexual, mas também sobre personalidades, perspectivas,
bagagens de vida.
Em que consiste esse atraso na regulação? Ele fica perceptível em quais momentos?
É tanto na definição de diretrizes quanto na definição de balizadores. Normalmente, as pessoas
enxergam o jurídico como um direcionamento do que pode ser feito. Mas temos o desafio de
ser um jurídico que aprende.
A mobilização que fizemos foi maior, com nutricionistas explicando os diferentes níveis de
intolerância ao glúten e qual era a quantidade presente em nosso produto. Isso não estava
estabelecido na regulamentação; foi um trabalho nosso pensar na melhor forma de apresentar
o produto.
A Ambev tem um conselho de administração que vai fazer 25 anos no próximo ano. Esse
conselho se formou no início por pessoas que tinham conhecimento do setor e de finanças.
Nos últimos anos, conseguimos evoluir bastante e trouxemos uma matriz de habilidades, com
pessoas com muita experiência, representatividade cultural, muito conhecimento do setor e
conhecimento financeiro. Fomos buscar pessoas que tinham conhecimento de
empreendedorismo e agilidade, conhecimento de sustentabilidade, visão de governança,
controles, clareza de informações ao mercado.
Buscamos pessoas novas, chegando no mercado, mas mantemos quem tem experiência. A
gente faz essa composição, que é a pessoa experiente no setor, que sabe o que já deu errado
mil vezes e pode fazer o contraponto.
Uma reforma que reduza burocracias e distorções, permitirá que as empresas foquem seus
esforços no que realmente importa, ou seja, na geração de empregos e renda para a
população. Somos uma das empresas que mais paga impostos no país e vamos continuar
trabalhando em prol do desenvolvimento do Brasil e dos brasileiros e brasileiras.
Estamos mais atentos à forma como a gente lida com eventuais divergências. Um exemplo são
as reclamações trabalhistas, que não são muitas comparadas ao tamanho da companhia. Se a
pessoa traz algo que achamos que faltou, já pagamos e fazemos um acordo.
Acho que a gente tem sido mais consciente nas decisões e temos tido uma posição de, sim,
procurar resolver o problema e também usado tecnologia, usado algoritmo para, por exemplo,
indicar se faz sentido fazer acordo se for dentro de determinado range. Também usamos data
analytics e predição para decisões de acordo e até para facilitar a governança.
Ainda sobre tecnologia, como a Ambev tem usado a inteligência artificial em seus processos?
A gente não tem uma regra restritiva, binária, do tipo que ninguém pode acessar uma
determinada plataforma, porém existe a regra de sempre preservar a confidencialidade das
informações da companhia.
Temos o cuidado de avaliar qual é o filtro para o que vai para o ambiente público. No fim, os
princípios são mais ou menos os mesmos: aquilo que você levaria para o ambiente público,
você pode levar para o ambiente de inteligência artificial.
Não usamos o ChatGPT ou essas ferramentas mais amplas de mercado, mas utilizamos uma
ferramenta interna que desenvolvemos. Optamos por um caminho menos voltado para
produtos de prateleira e mais na direção do que poderíamos ter nesse sentido, desenvolvido
com a minha equipe e a área de tecnologia, pois sem eles não faríamos a arquitetura disso.
Acredito que devemos trabalhar dessa forma para facilitar as respostas para as perguntas mais
recorrentes em uma linguagem comum à companhia.
Qual é a sua visão sobre as vantagens competitivas e desafios que o Brasil oferece para uma
empresa em termos de sustentabilidade e governança?
Para mim, ao mesmo tempo, oportunidade e desafio é a diversidade que o país tem. Tem
diversidade de origem de população, tem diversidade também no aspecto dos biomas, é um
país continental. Isso traz por definição muitas oportunidades e muitos desafios. A linguagem,
por exemplo, quando eu vou comunicar diretrizes para o aspecto da governança, tenho que
levar em consideração toda essa diversidade. Por outro lado, ela também me nutre com muita
informação com uma riqueza de base para inovação.
A governança entra em como a gente se comporta e lida com a nossa comunidade. Ser uma
companhia grande e livre traz como corolário uma responsabilidade.
Vou dar um exemplo de inovação. Estamos trazendo uma bebida que a gente viu que na África
foi um sucesso. Tínhamos consumidores que buscavam uma bebida que fosse um pouco mais
adocicada e com um apelo estético mais bonito e a gente trouxe.
Acho que o Brasil é muito rico nisso, em pessoas com histórias diferentes que vivem em
ambientes com climas diferentes. Como é que você lida com pessoas que têm necessidades
associadas ao ambiente em que elas estão e a riqueza de informação que a gente tira de tudo
isso é muito rica, é uma maravilha.
Carolina Ingizza – Repórter em São Paulo, cobre Justiça e política. Formada em Jornalismo pela
Universidade de São Paulo. Antes do JOTA, cobriu política, economia e negócios para o
Financial Times e a revista Exame. Email: [email protected]