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Análise Da Proposta Do Governo para A Categoria Docente
Análise Da Proposta Do Governo para A Categoria Docente
Aquiles Melo
Professor EBTT – IFCE
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https://sinasefe.org.br/site/carreira-docente-governo-repete-proposta-feita-aos-taes-greve-continua/
Figura 1 - Visualização da proposta do governo realizada no dia 19 de abril de 2024
Tal proposta repercutiu de forma muito negativa sobre a base docente. Primeiro
porque os valores estariam muito aquém das perdas históricas da categoria, as quais
totalizam um percentual de 39,82% referentes ao período de 2010-20232. Em segundo
lugar, o governo não contemplou o conjunto de propostas que visavam a reestruturação
da carreira tais como o estabelecimento de um piso para a categoria, a estruturação da
malha salarial com 13 níveis com steps de 5% em cada regime de trabalho, a exclusão
das classes, a isonomia das retribuições por titulação (RT), bem como a possibilidade de
todos os docentes progredirem até o último nível independentemente da titulação3. Tal
reestruturação seria importante uma vez que ajudava na recomposição das perdas
históricas acima citadas da categoria. Além disso, a realização de uma reestruturação
permitiria a criação de um patamar de vencimento mais alto na entrada da carreira, de
forma que este tivesse um efeito sobre toda a malha salarial ao passo que tornaria a
carreira mais atrativa.
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https://www.andes.org.br/diretorios/files/renata/2023/Agosto01/Anexo1-Circ279-23.pdf
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Ver em: https://sinasefe.org.br/site/download/4a-mesa-temporaria-e-especifica-da-carreira-docente-
informe-da-cnd/
Esta nova reunião iniciou logo pela manhã do dia 15/05. Não tardou muito para a
frustração atingir em cheio a base docente que ansiava por alguma mudança de postura
do governo nas negociações. Novamente o governo ofereceu 0% de reajuste para 2024
e manteve os percentuais de reajuste para 2025 em 9% e de 3,5% para 2026. Quanto à
reestruturação, o governo propôs uma alteração gradual dos steps para 2025 nos quais
os Padrões C 2 a 4 e D 2 a 4 passariam de 4,0% para 4,5%, bem como os Padrões C 2 a 4
e D 2 a 4 passariam de 4,5% para 5,0%. Além disso, o padrão D 1 e DIV 1 seria diminuído
de 25,0% para 23,5%. Em 2026, os padrões C 2 a 4 e D 2 a 4 passariam de 4,5% para 5,0%;
o padrão C1 passaria de 5,5% para 6% e o padrão D 1 e DIV 1 seria diminuído para 22,5.
Figura 3 - Comparativo entre as propostas dos dias 19/04 com a do dia 15/05 –
Fonte: adaptação de planilha do Prof. Henrique Jr (IFCE).
Aqui fica claro que a “nova proposta” é apenas um simulacro da proposta anterior.
Podemos ver nitidamente que os ganhos desta nova versão são pífios quando
comparados. No nível DIV-I, inclusive, é possível observar uma perda entre a primeira
e a segunda proposta! Mas a cereja do bolo está na forma como o governo manipula os
dados de forma a alcançar tais patamares nestes indicadores. Para isso, uma armadilha
foi proposta pelo PROIFES e encontrou apoio no governo. Na nova proposta de
reestruturação apresentada encontramos a seguinte novidade: a aglutinação das classes
iniciais (A/DI e B 1/DII 1 na categoria B 2 /DII 2) que teria, segundo o governo, o intuito
de garantir maior atratividade e reajuste nessa etapa. Ou seja, ao invés de o governo
trabalhar com a proposta de criação de um novo piso para a carreira docente, de forma
que este se tornasse um atrativo para a carreira e tivesse repercussão sobre toda a malha
salarial, o governo optou por eliminar os níveis iniciais da carreira. Tal eliminação vem
sendo propagandeado pelo governo - e replicado acriticamente pelos sindicatos - como
se este tivesse garantido um reajuste de 31%!!!
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Após a escrita deste artigo o SINASEFE lançou uma nota através de seu Comando Nacional de Greve
sobre as distorções feitas pelo governo sobre a remuneração dos professores. Tal nota pode ser acessada
através do link: https://sinasefe.org.br/site/governo-federal-distorce-informacoes-sobre-remuneracao-
de-professorases-federais/
E aqui entramos no ponto nevrálgico de nossa situação. No ano de 2009 o
SINASEFE entrou com uma ação judicial (ação registrada na Justiça Federal sob o nº
0051246-35.2012.4.01.3400) solicitando que fosse cumprido o valor do piso do magistério
para a carreira docente5. Pasmem, o processo teve ganho na primeira instância e
encontra-se parado na justiça desde 2014! Além disso, caso apenas lei fosse cumprida, o
reflexo dela na malha salarial para um professor 40h com dedicação exclusiva seria de:
Figura 5 - Malha salarial atual da carreira EBTT caso apenas o Piso do Magistério fosse respeitado
Elaboração: Movimento PisoJá
Ou seja, a mera aplicação da Lei pelo governo – e que deveria ser a exigência de
nosso sindicato – já garantiria em nossa carreira a estruturação de um piso atrativo bem
como seus efeitos sobre toda a malha salarial. Além disso, ela contemplaria,
praticamente, toda as reivindicações de reajustes desde o ano de 2010 (algo em torno de
39,82%).
Existe ainda um fator a ser explorado quanto à questão da manipulação dos dados
pelo governo. É sabido que sua máquina de propaganda é muito forte. E a forma pela
qual ele divulga suas informações tem um propósito específico: à medida que anuncia
que atendeu às reivindicações docentes, ao mesmo tempo, ele joga com opinião pública
no sentido de construir um ideário de que qualquer manifestação contrária ao fim da
greve se daria por parte de um exagero das exigências feitas pelos profissionais da
educação. Quem não lembra do discurso de Lula no último dia 07/05, onde ele colocou
que “mas negociação é sempre assim... Eu pedia 10, sabe? E me ofereciam 2, e eu não queria. Mas
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https://sinasefe.org.br/memoria/2014/03/13/sinasefe-derrota-a-uniao-em-processo-sobre-o-piso-
nacional-dos-professores/
entre 10 e 2 tem 3, tem 4, tem 5, tem 6”6. Tal construção tem o sentido de dizer que o governo
está disponível para negociação, mas que os professores precisariam ceder em suas
reivindicações!
Figura 6 - Anúncio do MGI replicado pelo Ministério da Educação com dados falsos sobre a proposta para os
docentes. Fonte: https://www.instagram.com/p/C7ALsIernTE/
Observemos a tabela abaixo. Nela projetamos os valores dos salários atuais para
um docente graduado 40h sem Dedicação Exclusiva, para um docente com nível de
Doutorado 40h no regime de Dedicação Exclusiva e os valores propostos para este
último em 2026. O que temos é que a jogada do governo de eliminar os níveis iniciais
gerou um efeito estatístico no qual, mesmo sem implicar em qualquer reflexo na carreira,
o valor de início desta aumentou em torno de 43%. Sem este efeito, podemos perceber
que a proposta do governo que efetivamente tem algum impacto sobre malha salarial
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https://www.youtube.com/watch?v=lcw9198gamY
varia entre 23% (DIII-2) e 28,2% (Titular). E estes números só são alcançados se
somarmos o valor do reajuste de 2023 e ainda os ganhos em virtude da reestruturação
(ganhos que não serão necessariamente sentidos agora).
Figura 7 - Planilha com salários da carreira docente, variação do reajuste proposto pelo governo, ganho real no
período 2023-2026 e as perdas efetivas da carreira desde 2016. Fonte: Elaboração própria.
Mas devemos olhar com um pouco mais de detalhe esse valor inicial propagado
pelo governo. A propaganda (figura 6) indica um valor inicial da carreira saltando de
R$9.916 (sic)7 para R$13.753 em 2026. O intuito aqui é, nitidamente, manipular a opinião
pública. O DADO É FALSO! O salário docente inicial para a carreira do Magistério
Federal 40h sem Dedicação Exclusiva é hoje R$3.142,63 que, como já ressaltamos
anteriormente, sequer alcança o piso do magistério. Em 2026 esse valor será de R$5.037
e não de R$13.753. O que o governo fez foi pegar o salário inicial para um professor 40h,
em nível de doutorado e com Dedicação Exclusiva e colocar como se este fosse o inicial
da carreira. Neste sentido, o governo toma para exposição midiática o salário da carreira
mais valorizada sendo que este não corresponde efetivamente à realidade dos docentes.
A mesma falsa informação foi replicada para o teto da carreira. Se observarmos
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O governo comete um erro no número. O valor real do salário inicial em 2022 correspondia a R$9.616,18,
e não a R$9916,00 conforme exposto.
novamente a tabela 7, veremos que um professor titular, em nível de graduação no final
da carreira atingiria apenas R$7.285,77 e não os R$26.326 anunciados.
Tendo como base a inflação registrada em 2023 (4,62%), bem como as projetadas
para 2024 (3,8%), 25 (3,6%) e 26 (3,5%), teremos uma inflação acumulada projetada em
16,44% ao final do governo Lula. Assim, o ganho real com a proposta atual do governo,
já somando aqui com os 9% de reajuste dados em 2023, garantiria uma variação entre 5%
e 10% de ganho real ao longo de toda carreira – lembrando que nossas perdas computam
algo em torno de 39,82%.8 Vale ressaltar que os números de inflação acima são apenas
projeções que podem variar rapidamente a depender da evolução da política econômica
do governo. Caso haja aumento nos índices de inflação projetados, os ganhos reais
podem ser reduzidos.
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Aqui optamos por excluir o valor de entrada em virtude de este ser fruto do achatamento da carreira.
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https://oglobo.globo.com/blogs/ancelmo-gois/post/2024/05/o-que-os-brasileiros-pensam-sobre-as-
greves-nas-universidades-federais.ghtml
representam a real força deste movimento. Cabe às bases destes sindicatos rejeitarem a
proposta do governo e intensificar as ações de rua. Não podemos, neste momento, cair
no conto de que uma vez que PROIFES assine, a greve acaba. ISSO É FALSO! A greve
acaba quando nós desistimos da luta e este não é o momento para tal. Só para efeito de
ilustração, a greve dos servidores da Receita Federal (RF) só conseguiu seu reajuste após
81 dias de greve! Lembremos que a RF é a carreira de Estado responsável pela
arrecadação do governo. A greve dos servidores do IBAMA segue já com 4 meses de
duração. Vale lembrar que nenhuma greve da educação foi solucionada no primeiro mês
de negociação. Ou seja, ainda há muita água para rolar e muita luta a ser feita.
Neste sentido, não nos resta outra alternativa que não seja a recusa da proposta
do governo e a luta por uma maior recomposição salarial! Precisamos repor nossas
perdas históricas e essas só serão possíveis de serem sanadas com medidas que
repercutam sobre toda a categoria, nesse caso, com o aumento dos índices de
recomposição propostos pelo governo. Lembremos que, recentemente, foi dado aos
servidores do Banco Central um reajuste de 10,9% em 2025 e 10,9% em 2026. Se nossas
perdas são maiores que a deles, qual o sentido de não podermos chegar pelo menos a
esses percentuais?