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LAMPIÃO ABSOLVIDO
LAMPIÃO ABSOLVIDO
( .
Moreira de Acopiara .
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Lampião absolvido
Moreira de Acopiara
Reencontrei um amigo,
Por sinal um veterano,
Conversador, destemido,
Descendente de cigano,
Morador em Cabrobó,
No solo pernambucano.
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Primeiro, vendo a desgraça,
Lampião respondeu: "Não!
Fiquei de cabeça tonta.
Eu sempre gostei de missa!
Assim resolvi fazer
Mas ainda muito jovem
Justiça por minha conta
Necessitei da Justiça
E assassinei aquela
Para punir uns aigozes,
Gentinha de pouca monta.
E ela me foi muito omissa.
Aí foi quando a Justiça
Na terra na qual nasci
Rebelou-se contra mim;
Muito contente eu vivia
Não ouviu meus argumentos,
Com meus pais e meus irmãos,
Disse que eu era ruim,
Mas, quando foi certo dia,
E os poderosos se uniram
Uns elementos roubaram
Desejando ver meu fim.
O que a gente possuía.
Diante desse dilema
Até então eu levava
Precisei me defender
Uma vidinha tranqüila,
E me escondi dos Milicos,
Sempre de casa pra roça,
Pois gostava de viver.
Sem encrenca, sem quizila,
Só que dali em diante
E aos domingos inda ia
Era matar ou morrer."
Olhar a feira, na Vila.
Lampião prosseguiu com
Eu nessa época nem
Inteligentes respostas:
Pensava em ser cangaceiro.
"Diga ao bom Deus que não fui
Mas vendo a justiça falha,
Homem de feias propostas,
Apesar de eu ser romeiro,
Não desrespeitei mulheres
Senti um abalo grande E nem matei pelas costas.
E me tornei justiceiro.
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E digo e posso provar:
Lutei muito por mudança! E foi assim que embarquei
Mas sem obter resposta . Nessa viagem sem volta,
Perdi de vez a esperança. Sabendo que essa cadeia
Mesmo assim respeitei sempre Quando prende não mais solta.
Velho, mulher e criança. Mas contra injustiças grandes
Qualquer homem se revolta.
Garanto que nesses três
Jamais encostei a mão. Mas quem enfrenta o poder
Por outro lado fuita Com certeza se destrói.
Do Padre Cícero Romão, Por isso eu me destruí,
A quem sempre visitava E é isso o que mais me dói.
Para uma confissão. Para alguns eu fui bandido,
Mas pra muitos fui herói.
Padre Cícero inclusive
Foi meu bondoso padrinho! Acho que não ser covarde
Com ele em meu coração Foi minha grande virtude,
Não me sentia sozinho. E embora tenha perdido
E mais! Só ele deixava A liberdade e a saúde
Suportável meu caminho. Não pude mudar o mundo,
Mas resisti quanto pude.
Meu ódio mortal foi contra
Grandes latifundiários, Não fui rebelde querendo,
Detratores dos direitos, Não merecia castigo.
Perversos e mercenários, Com quem comigo era bom
Coronéis embrutecidos Eu era bom e amigo.
E malditos sanguinários. Infelizmente o destino
Foi muito cruel comigo."
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Terminada a sabatina
O anjo disse: "No Céu
Tem um lugar pra você,
Que não considero réu."
E os dois para o Céu se foram
Protegidos por um véu.
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L
MOREIRA DE ACOPIARA é como Manoel
Moreira Júnior assina seus trabalhos.
Nasceu em 1961·, no município de Acopiara,
Ceará, onde viveu até os 20 anos de idade, entre os
trabalhos da roça, a leitura de bons livros, a
convivência com os cantadores repentistas da
região e a literatura de cordel.
Escreve desde adolescente e é autor de dezenas
de Cordéis. Transita pelo teatro, gravou um CD com
poemas de sua autoria e tem trabalhos gravados
por vários artistas, inclusive Jackson Antunes. Tem
três livros editados, dentre eles Ai Que Saudade
Que Tenho.
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ACOPIARA
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Preleita: SI1eiIa Diniz • 2000 • 2004