Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
antologia-fenix-de-ficcao-cientifica-e-fantasia-volume-iii
antologia-fenix-de-ficcao-cientifica-e-fantasia-volume-iii
Natal
Alexandra Rolo • Álvaro de Sousa Holstein • Ana Luiz • Anton Stark • Carina
Portugal • Carlos Alberto Espergueiro • Carlos Silva • Carol Louve • Daniel
Libonati Gomes • Francesc Barrio • Gabriel Martins • Inês Montenegro • João
Rogaciano • Joel Lima • Luís Corujo • Manuel Mendonça • Marcelina Leandro •
Nuno Almeida • Ricardo Dias • Rui Bastos • Rui Ramos • Samir Karimo • Vitor
Frazão
Antologia Fénix de Ficção Científica e Fantasia – vol. III
Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem
transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo electrónico,
mecânico, fotocópia, gravação, sistema de armazenamento e disponibilização
de informação ou outros, sem prévia autorização escrita da fanzine e dos
autores.
Por decisão dos autores, os textos poderão não seguir o novo Acordo
Ortográfico.
Índice
[Álvaro de Sousa Holstein] - Um conto [Joel Lima] - Diálogo no Polo Norte. .34
Frio..................................................14 colonização.....................................41
*****
Era dia 23 e o ano estava quase terminado. Gunfar sabia que era este o
momento. Não tinha sido fácil arranjar a poção transformadora, mas agora
tinha-a nas suas mãos. Esta era a sua oportunidade. Acreditava que apenas
com magia poderia existir uma hipótese de mudança. Em breve começaria
outro ciclo e ele duvidava que o conseguisse suportar.
Saclaus nunca saberia o efeito destas palavras. Durante 150 anos, a sua
reprimenda povoou a mente de Gunfar. Mas um dia, o eco silenciou-se, e em
substituição começou a ouvir duas palavras apenas:
“Poção aniquiladora…poção aniquiladora….poção aniquiladora…”
[ANTON STARK] - UM ÚLTIMO PRESENTE
Emília deu um salto assustado, quando ouviu a janela a correr para trás.
Espreitou para fora dos lençóis, deparando-se com algo peculiar. Um urso de
peluche perscrutava o quarto. Febre, era isso. As enfermeiras tinham dito que
quando era demasiado alta poderia dar-lhe alucinações.
Hesitou, antes de afastar a coberta para trás, sentando-se. Mal a viu, o
urso escondeu-se, ficando somente a espreitá-la com dois olhinhos negros,
como se a temesse.
Era a primeira vez depois da última grande depressão que a cidade via
iluminações e que o espectro de mais carestia pareceu longínquo. Claro que a
realidade era bem outra, mas animar os espíritos é uma forma de terapia que
não pode ser subvalorizada, pois os seus efeitos são, o mais das vezes,
efectivos.
A campanha de Natal com os Pai Natal em trenós alados estava a
contribuir também para a melhoria da disposição geral.
Para as meninas, as vermelhuças figuras, entregavam bebés que
pareciam crianças reais, aos rapazes, pistolas e carabinas com design
futurista, aos papás tablets e às mamãs reluzentes telemóveis.
A euforia era geral.
Com o espalhar da notícia, todos afluíram para os locais de entrega.
Uma confusão generalizada instalou-se e mesmo as forças de segurança se
juntaram à mole humana que tentava obter um dos presentes.
Não foi necessária uma hora para que todo o aparelho produtivo
estivesse completamente parado.
Depois de obterem as respectivas prendas, em vez de voltarem ao local
de onde tinham vindo: escritórios, escolas, fábricas, hospitais, etc., cada um
dos presenteados sentiu o impulso de voltar directo para casa e assim durante
longas horas imensas filas se criaram e entupiram as estradas de todo o
planeta.
Pai! Pai! – gritava João – Olha como a minha espingarda lança raios.
Manuel agastado pela gritaria do filho, lá teve de tirar os olhos do seu
tablet novo, onde se começara a desenhar uma imagem de uma criança.
– Espera! –gritou em resposta.
No écran um João azul e escamudo olhava para ele de arma em punho.
Estanho – pensou – e nesse momento olhando para o filho, uma luz banhou-o.
***
- Caro comandante, a frota já pode desembarcar a infantaria. O recurso
a um arquétipo benigno e universalmente conhecido, resultou às mil
maravilhas. O planeta é nosso.
A cauda reptilínea mudou de azul para um verde intenso, demonstrando
o prazer de GougNuMat, ao ouvir as palavras do subordinado.
[CARLOS SILVA] - NATAL NO ABRIGO
Chegado o fim do dia, a salamandra foi mais uma vez cheia de toros e
todos se apressaram a enfiar no respectivo molho de mantas remendadas.
Todos excepto Simão, que foi encher as meias de lã, para que a sua família
possa encontrar os presentes do dia seguinte.
Na rua, um dos seus filhos lutava pela vida contra uma horda de
mutantes selvagens, gritando por uma ajuda que nunca viria. Não importa. É
só uma noite. No dia seguinte calhará a Fava a outro.
E assim, nessa tarde, ele comprou um presépio. Viu um que lhe pareceu
muito engraçado à vinda para casa, muito barato também. Estava numa
banquinha de rua, no meio de uma miríade de outras traquitanas natalícias. O
vendedor, enrolado num capote e num grande cachecol, olhara-o
desconfiadamente. Depois sorriu e vendeu-lho. “Aproveite bem!” dizia ele
“Aproveite bem!”
Ele estava certo, ela adorou. Sempre que passava por ali sentia um
arrepio, mas ela estava feliz e era isso o que interessava mais. Rapidamente
chegou a véspera de Natal. Estava tudo preparado, a árvore, as bolas
coloridas, as prendas debaixo da árvore, os laços brilhantes rodeando cada
objecto. E o presépio. Ainda lá estava. Nada naquela noite o poderia fazer
sinistro, mas a verdade é que ele se sentia desconfortável com as figuras a
olhar para ele.
“Meu amor. Tenho uma notícia para te dar que vai ser o teu presente
de Natal preferido. Dentro de nove meses… Seremos três!”
Ele iniciou um sorriso, aquele que deveria ser o maior dos últimos
tempos. Mas, sem se aperceber dessa fatalidade, o seu olhar desviou-se para
o presépio. Todas as figuras estavam viradas para ele. Os seus olhos de barro
estavam fixos nos seus. E todas elas se riam dele. O sorriso desfez-se.
“Maria, responde-me!”
Começou a abaná-la pelos ombros. Quem era o pai daquela criança? Ela
chorava, os seus olhos já não eram estrelas, ela chorava e dizia “Meu deus,
meu deus”, ela tentava pará-lo, mas nada o podia parar.
“Foi Deus? Foi Deus, Maria? Porque fizeste isto ao teu José?”
“Jesus não vai nascer!” diziam eles “Jesus não vai nascer!”
[DANIEL LIBONATI GOMES] - A REVOLUÇÃO POLONÓRTICA
A noite prosseguia fria mas acolhedora. A lua exibia-se cheia e abraçava todos
os seus caminhantes, como se estivesse a desejar-lhes a tal noite feliz que se
espera numa véspera de Natal. A maioria apressava-se para chegar a casa e
festejar a consoada em família, mas alguns apenas caminhavam para quebrar
o gelo que se apoderava dos seus corpos, com receio de adormecerem nas
ruas uma última vez. Muitos dirão que para eles este é um dia como todos os
outros, mas muitos estarão enganados.
Por entre a multidão caminhante, havia apenas uma figura que se encontrava
imóvel, ou melhor, imutável. A sua presença não era notada e nem o vento
glacial era capaz de lhe arrancar um suspiro ou tremor, por mais pequeno que
fosse. Silencioso mantinha o seu olhar fixo numa janela. Sorrateiramente uma
voz surgiu-lhe nas costas.
— Desconhecia que eras um entusiasta das épocas festivas.
O vigilante moveu-se, não por curiosidade, mas por cortesia. Não existe face
que lhe seja desconhecida, neste ou noutro mundo qualquer. Quem se
aproximava na sua forma de criança, irrequieta e falsamente cândida, era o
espírito dos sonhos.
— Boa noite Sonho. Por aqui tão cedo? Esta noite todos se deitam mais tarde.
— Há sempre alguém no meu mundo e os passeios nocturnos daquele que tudo
sabe intrigam-me sempre. A que devemos a honra, Destino?
Enquanto respondia, Sonho deixava-se perder no olhar do seu conhecido.
Destino não possui olhos, mas antes vários universos dentro de si. Ao abrir as
pálpebras, a luz das estrelas e do cosmos, emanavam com um poder tal que,
se ficássemos muito tempo a olhar para eles, poderíamos ir a qualquer lado.
Sonho adorava a sensação.
— Conhecer e viver são duas coisas diferentes, tu que mexes com a fantasia
devias saber a distinção — respondeu-lhe Destino voltando novamente a sua
atenção para a janela que observava. — Estás a ver esta casa à nossa frente?
Está quase a acontecer.
Sonho virou a sua atenção para a mesma janela, onde, sentada, uma mãe
conversava seriamente com o seu filho.
— Está a contar-lhe que o Pai Natal não existe — disse Destino com um olhar
brilhante.— Presta atenção, o seu olhar está a ficar cristalino, a sua face
vermelha, mas não chora. Está zangado não porque lhe mentiram, mas porque
neste momento se apercebeu que não há mais nada no mundo, não existe
magia, não há o impossível — aproximou a sua face da de Sonho, envolvendo-o
quase por completo. — Por vezes gosto de sair e ver a chama nos seus olhares
apagar, porque são estes pequenos momentos que os aproximam de mim e do
caminho que vão seguir.
Sonho ouvia sossegado, a sua face era serena e imperturbada, ele conhecia a
entidade com quem conversava e sabia que ela não tinha qualquer poder
sobre ele. A criança sentava-se agora sozinha a olhar para a janela e enquanto
a sua mãe abandonava a sala, também Destino abandonou Sonho, sem uma
despedida, ou uma nota final.
Enquanto caminhava em direcção à janela, Sonho ouviu uma nova voz
familiar, gritando pelo seu nome ao longe. Era o espírito da floresta que
saltava e rodopiava na sua direcção.
— Alguma ocasião especial para te encontrar pela cidade? — questionou-o
Sonho.
— Ouvi que ia nevar hoje — disse alegremente enquanto, despenteava, com as
mãos castanhas o seu farto cabelo verde — Não é todos os dias que neva em
Lisboa.
Não, não é todos os dias, mas acontece. Pensou Sonho sorrindo.
— Então e tu, a trabalhar?
— Ainda não — respondeu-lhe Sonho encostando a mão na janela. — Por vezes
gosto de vir aqui ver a chama no olhar dos deuses iluminar-se, é nesse
momento que eles acreditam que tudo sabem, que tudo controlam, não
imaginando que um dia vão estar enganados, porque eu vou estar sempre
aqui.
A criança do outro lado espreitava para fora. Não podia vê-lo - ainda estava
acordada - mas por alguma razão encostou a palma da sua mão onde Sonho
tinha a dele. Começou a nevar.
[INÊS MONTENEGRO] - O ANJO
O Pai Natal cofiou as longas barbas brancas. Como deveria celebrar aquele
seu novo centenário? Já muitos haviam decorrido desde que fora investido no
cargo e sempre assinalara a efeméride de modo original e adequado às
circunstâncias. A última vez, recordava-se, acontecera poucos anos depois do
Grito do Ipiranga naquele enorme país da América Latina em que lhe
chamavam “Papai Noel” e, como habitualmente, comemorara o centenário
com uma prenda muito especial; na circunstância, duas bonecas de porcelana
– uma branca, outra de cor - para uma mulatinha de seis anos que vivia em
Salvador da Baía.
Agora, porém, os tempos eram outros; desde que surgira a Fada
Electricidade, os prodígios sucediam-se: o telégrafo, o cinema, a telefonia, a
estonteante cavalgada dos transportes em terra, no mar, no ar...O armazém da
mansão polar também sentira o Progresso. Vinte anos antes, só quase lá havia
bonecas e bonecos de todos os tamanhos e feitios. Depois do Armistício, fora a
invasão dos soldadinhos de chumbo e, em seguida, as inovações tinham passado
de excepção a regra costumeira. Continuava a haver carros de corda, mas eram
cada vez mais os comboios eléctricos com as suas vias férreas, as suas
passagens de nível, as suas estações miniaturais.
Porque não utilizar um daqueles recentes inventos do Homem para fazer
feliz uma criança? Por exemplo, o telefone, instalado havia pouco, porque fora
preciso recrutar centenas de cães e de trenós para que os postes e as linhas
chegassem até ao Polo.
Decidido, o Pai Natal pegou no aparelho – um modelo muito especial que
até permitia chamadas automáticas – e compôs um número ao acaso. O acaso
era de regra naquelas ocasiões; tanto poderia ir parar a França como à
Cochinchina ou até mesmo à Zululândia, se já lá houvesse algum telefone. A
ligação não foi fácil e o bom velho teve de esperar mais de meia hora antes
que, do outro lado, alguém respondesse. O Pai Natal estava com sorte: pela
voz, o seu interlocutor parecia ser muito jovem e falava Inglês – o que sossegou
o ancião que, embora poliglota, receava os dialectos e amontoara, à sua volta,
dezenas de dicionários da Biblioteca Boreal.
- Daqui fala o Pai Natal - apresentou-se. - Que idade tens tu, rapaz?
- Dez anos.
- Excelente. Então é mesmo contigo que eu quero falar. Vives numa
cidade?
- Não, vivo no campo. O meu pai é fazendeiro.
- Muito bem. Foste o escolhido para uma prenda especial e, por isso,
quero oferecer-te um presente de arromba. Que me dizes a uma
bicicleta para passeares pelas redondezas?
- Não, não preciso.
- Não precisas? ... Que querias tu?... Um automóvel? Um avião? Um
dirigível?...
- Nada disso. Também não preciso.
- Ah, já percebo...Os outros miúdos andam a meter-se contigo e tu
gostavas de lhes fazer frente. As armas são proibidas pelo regulamento,
mas posso dar-te um capacete de couro e um peitilho de esgrima... Ou
até umas luvas de boxe.
- Não, Pai Natal. Também não preciso.
- Essa agora... Afinal que queres tu?
- Umas botas... A minha mãe já me fez o fato e a capa, mas ainda faltam
as botas encarnadas.
- Botas encarnadas?... O Carnaval ainda vem longe, mas seja...Queres
umas botas encarnadas e é isso que irás ter... Diz-me lá como te chamas.
- Os meus pai são os Kent e eu chamo-me Clark. Clark Kent.
[LUÍS CORUJO] - PINHEIRINHO
1008 dC
De casaca e calças de lã ruiva com rebordo de pêlo branco e botas pretas, o
rubicundo Ingmar Haraldsson Barba Branca foi dos primeiros a sair do Drakkar
rumo à colina sobre o rio. E lá vai ele de longo barrete na cabeça e grande
saco às costas. Mais uma temporada de comércio, rapina e conquista! - Por
Loki, aqueles escurinhos lá em cima vão dar belos escravos! A menos que lhe
parta os crânios! Muahahahahaha!
O seu riso ecoou nos ouvidos da milícia de Menendo Gunsalvis.
Os portogalaicos já conheciam a fama dos vikings e já os tinham avistado no
farol de Brigantia. Deus, na Sua Misericórdia, pacificou os Maometanos e fez
com que os moçárabes da Estremadura beirã viessem em apoio aos cristãos do
Norte. Nenhum queria ser escravo, ou ver os seus filhos tornados eunucos e as
filhas rameiras. Haveria luta!
As forças vikings, cegas de avidez, descuraram enviar batedores e puseram-se
em marcha, num desafio aos cristãos. Hoje iriam dormir cheios do vinho do
sul e satisfazerem-se com trigueiras fêmeas!
O arauto levantou a bandeira do Dragão, ex-libris do Conde, e seixos e
varapaus começaram a voar em direção aos elmos nórdicos. Em breves
momentos, as machadas, gládios, lanças, martelos, chuços, mocas e escudos
entrelaçavam-se entre si e a carne, ossos e entranhas. O sangue jorrava e
todos o recebiam como um baptismo!
Menendo, apeado do cavalo à força por uma brigada de berserks, foi logo
trucidado. Vendo a morte do seu líder, os galaicoportucalenses, com raiva no
coração, saltam em recuperação do corpo.
Ingmar tenta forçar a linha de combate para alcançar o cavalo do morto, uma
bela prenda para o Rei da Skania. Isso só enfurece mais os cristãos, que o
identificando na garupa, lhe dão caça.
A intentona de pilhagem correu mal, e os vikings começam a tentar fugir de
regresso para o drakkar. São agora os portogalaicos que pilham os Vikings
caídos e fazem prisioneiros os que ficam para trás.
Ingmar é levado prisioneiro à Condessa Viúva, que pega na espada para o
matar.
A cabeça do viking rola pelo terreno mas ainda consegue amaldiçoar, sob o
céu que se enegrece - O MEU SANGUE ESPALHA-SE NESTA TERRA E EU
RENASCEREI EM YGGDRASIL. Nenhum humano se me conseguirá opor!!!!!
Hoje
O pinheiro de Natal trazido para casa foi logo decorado. Entretanto a noite
vem e cobre com sono os seus habitantes.
As luzes piscam e reflectem-se nas bolas e fitas de Natal. Ofélia passeia-se
pela sala, saltando de um lugar para outro em busca de petiscos. Mas aquela
coisa triangular de cheiro estranho e com brilhos multicolores intriga-a. Os
seres que lhe dão comida fazem coisas estranhas, comentava ela para os seus
longos bigodes. Já a Zuzu fica parada a olhar para lá. Ou será que já está em
transe? Essa lanzuda sempre foi dada a longas contemplações, só
interrompidas pelos donos ou pelas tropelias das outras malucas. A Julieta,
atolambada, foi logo cheirar a árvore e ver se era coisa comestível... E cuspiu
parte para o chão.
De repente a árvore assume um halo de luz malévolo à sua volta. As luzes e
enfeites caem pelo chão, enquanto no meio dela surge uma imagem envolta
em fumo electrizante. É Ingmar Haraldsson, agora com a cabeça debaixo do
braço que comanda a Yggdrasil que destrua todos os que se puserem à sua
frente, no meio de inúmeros impropérios.
Ofélia vê aquilo e reage prontamente, mostrando as garras e soprando para o
mostrengo. Julieta já se põe a ladrar e tenta atirar-se contra o viking, talvez
em busca de festinhas ou lhe dar umas lambidelas. Zuzu, mais sabida da vida,
rosna à árvore e tenta fazê-la tombar.
Ofélia passa à iniciativa e atira-se feita pantera, rasgando o tronco enquanto
afia as unhas. Julieta colecciona agora os ramos que vai mordendo e
arrancando.
Ingmar, impotente e resignado, é atirado assim de volta para o submundo.
Não contou com a resistência de duas cadelas e uma gata.
Quanto aos humanos, quando acordaram apenas viram a sala toda de
pantanas!
[MANUEL MENDONÇA] - FILHÓS E AZEVINHO
Mesa que é mesa, no Natal, tem filhós e azevinho. Se minhota terá também
formigos e demais guloseimas da região e um Alvarinho para “regar”. Claro
que o bacalhau, o polvo e o capão não podem faltar. Assim como um Porto ou
Madeira antes da deita à lareira. Mas na aldeia, nesta aldeia, mais uma
iguaria é comum, apesar de absolutamente desconhecida fora dela. Mesa de
Natal sem o “sangue do bicho”, não é mesa. Com ele faz-se um excelente
empadão que se acompanha com boa broa de milho amarelo e um Vinhão que
vem lá dos lados dos Arcos.
***
A agitação é sempre comum quando chega a hora de ir ordenhar o
filisteu que é como todos alcunharam, Ygort, demónio-mor do 5º grau da
Legião Cinza, das legiões Infernais. Para este dignatário, o Natal, é sempre o
pior dia do ano.
***
- Anda António. Está na hora de ir mugir o bixo. – disse Carlos para o
cunhado.
- Já bou. - Raio de home que não tem trambelho - Tem calma home que
o bixo não fuge.
- Pois não fuge, mas sem o sangue não fazes o empadão e o ano não
será bô. Serão pragas atrás de pragas. Parece que já te não lembras como era
dantes de o apanhar.
- Lembro sim e ainda hoje dou graças ao Senhor por no-lo ter dado. Mas
a pressa não nos leva a lado algum. Tem calma que já lá o vamos mugir.
***
Desde que o tinham capturado que Ygort andava a magicar como havia
de se livrar daqueles malditos humanos. Uma coisa era certa, nunca mais
entraria em apostas estúpidas como a que o tinha levado ao cativeiro: encher
um frasquinho de água benta na pia baptismal da Igreja da Paróquia. Ao
princípio tudo parecia estar a correr de feição, até que uma gota do líquido
lhe caiu num dos cascos e ficou logo ali paralisado. Depois uma longa noite
que culminou na sua captura pela manhã, não sem antes estar sujeito a tratos
de polé pelas beatas que foram abrir a Igreja. Nem o abade o conseguiu salvar
às garras daquelas megeras.
Hoje estava preparado para retaliar e se tudo corresse como planeado,
deixá-lo-iam em paz e poderia regressar aos Infernos.
***
- Carlos que raio se passa com o bixo?
- Sei lá António. Mas que não lhe sai sangue das tetas, não sai.
- Estamos desgraçados Carlos.
- Tem calma home que tudo se ajeita. Isto com porrada já esguicha de
novo.
Ygort, ao ouvir a palavra porrada e vendo Carlos a ir buscar o
marmeleiro, de imediato se arrependeu da brilhante ideia que teve.
Ao longe ouviu-se uma voz gritar: - Então o sangue?
Nem teve tempo de ouvir mais nada, tal a paulada que levou nos
cornos.
***
- Hoje ainda está melhor que o costume.
- Eu bem te disse António que não existe mal que uma boa cacetada
não cure.
- Tenho de te dar razão. O maldito bixo bem que estava capaz de nos
estragar o Natal e as colheitas.
***
Ygort, com uma enorme dor de cornos, rogava pragas e prometia que
quando voltasse para junto do seu Senhor Lucifer havia de o convencer a
acabar com aqueles labregos e sobretudo com o Natal.
Ao longe os cânticos, amaciados pelo vinho, não o deixavam esquecer a
noite em que se encontrava.
[MARCELINA LEANDRO] - MISSÃO DE COLONIZAÇÃO
- Sabes que não há escolha. Este momento foi projectado há muito. Chegou a
hora de o concretizar.
- Mas sabes o que te espera? Vai ser muito duro, não poderemos proteger-te.
- Revolta-me saber que tudo será em vão. A mensagem irá ser adulterada,
desprezada e, por fim, esquecida. O nosso sacrifício será inútil.
- Devias ser mais confiante. Sabes que este universo foi criado com defeito, é
como um disco riscado, condenado a repetir sempre o mesmo trecho da
música, num ciclo interminável. As nossas visitas são um empurrãozinho para
que consigam avançar para a faixa seguinte.
- Porque o disco é de fraca qualidade, está todo riscado, logo, são precisos
muitos empurrões para chegarem ao final.
- Qual seria a piada disso? E além do mais, há sempre alguém que merece ser
salvo. No meio do caos, alguns conseguirão quebrar os grilhões deste mundo e
inspirar os outros à liberdade. São necessárias muita paciência e persistência
para ensinar aos que ficaram por cá aprisionados, o caminho da Salvação.
- Ah, pensei que era por seres masoquista que insistias em regressar.
Uma estrela surgiu no céu, brilhante como nunca vira na sua vida. Apressado,
o velho sábio consultou os seus papiros e cartas celestes, mas nenhuma dava
conta daquele novo astro irradiante. Seria possível? A estrela da profecia?
- Não tens vergonha na cara! Como te atreves a invadir de novo o meu reino?
Quantas vezes terei que te escorraçar, até que aprendas a lição?
- Claro, sempre que vens, causas a maior das confusões e acabas por me
roubar umas tantas almas.
- Vá Lu, não sejas desmancha-prazeres. Vais dizer-me que estás com medo de
perder contra mim, ainda por cima, jogando em casa?
- Conheço bem de mais as tuas manhas para me deixar levar pela tua conversa
mole.
- Fazemos assim, deixas-me passar sem mais contendas entre as nossas forças
e prometo que desta vez me deixo capturar, torturar e matar. Até te deixo
escolher o método de execução.
- Fica descansado, deixo à tua imaginação. Faz de mim o que quiseres, desde
que me deixes nascer mais uma vez no teu mundo. Temos negócio?
- Aos teus pés, nos prostramos, Menino Deus, Salvador do Universo. Trazemos-
te um presente que foi confiado à guarda da nossa Ordem.
Santa Claus estaba pilotando su nave Laponius cuando le avisan que estaban
acercándose al arbolado Planeta NAVIDATE.
Poco tiempo después, él y sus compañeros bajan del buque flotante y ven una
torre igual a la que los indios veneraban. Ésta tenía una sustancia amarillenta
– era ácido aguafiestero sulfúrico.
Tras un momento de estupefacción donde la admiraban, se espabilaron y
vieron dicha pócima descomponiendo los espíritus navideños humanos. Pero
uno de ellos estaba bien vivo y le dijo a Santa: ¡Buscad la gota de oro
navideña!
Entonces Claus se acordó de esta leyenda que su padre, Jasón, le había
contado y así fue a por ella.
Por el camino se enfrentó a un monstruo con cabeza de murciélago y torso de
serpiente, a unas aladas sirenas vampiras cuyos besos eran mortales y sus
miradas letales.
Sin embargo en el planeta Nochebuena encontró a Sinbad Nadal, el
astromarino contador de historias, que le indicó el camino hacia el
Archipiélago orbital de las Reinas Mágicas, primas de los Reyes Magos.
En cuanto llegó, habló con Nadia, Hubb y Amnd. Estas tres magas conocían el
secreto necesario para hacer la Gota de Oro Navideña.
Nadia tenía un bote de Esperanza, Hubb un tarro de Amor y Amn una caja de
Seguridad.
Las tres echaron estos ingredientes en una marmita, los mezclaron bien e
hicieron un embrujo. De pronto tenían en sus manos la gota de oro navideña.
Se la dieron a Santa Claus. Éste y sus amigos gnomos se marcharon de este
planeta. Llegaron al NAVIDATE donde vertieron ese líquido exquisito y así el
espíritu navideño volvió a ser lo que era, acabando con la maldición del Brujo
Antinoeleskko.
[VITOR FRAZÃO] - O ÚLTIMO NATAL