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Pós-Graduação em Psicologia, Aconselhamento e Psicoterapia

UNIDADE CURRICULAR –
PSICOTERAPIAS COMPORTAMENTAIS E COGNITIVAS

A Psicofisiologia da
Ansiedade e Stresse

Paulo José Costa


Assistente de Psicologia Clínica
Serviço de Pediatria do HSA, EPE (Leiria)

paulojosecosta@gmail.com

www.paulojosecosta.com
A Psicofisiologia do Stresse

“Para percebermos a
resposta do Stresse,
teremos de reconhecer
um conjunto de
conhecimentos
fundamentais , não só do
domínio psicológico, mas
também, do âmbito da
psicofisiologia”
George Everly
A Psicofisiologia do Stresse

Hans Selye, considerado por


muitos como o pai do estudo do
Stresse, desenvolveu a ideia de
que existe uma relação directa
entre o Stresse crónico e o
excesso de carga/ tensão, que
conduz ao esgotamento e à
ruptura do sistema fisiológico
A Psicofisiologia do Stresse
Uma possível descrição da condição de
STRESSE, passa por considerarmos a
reacção fisiológica corporal aos stressores
percepcionados, o que sugere que a
resposta de stresse é um fenómeno “corpo-
mente”
A Psicofisiologia do Stresse

CÉREBRO HUMANO: TRÊS NÍVEIS

NÍVEL VEGETATIVO

SISTEMA LÍMBICO

NÍVEL NÉOCORTICAL
A Psicofisiologia do Stresse
SISTEMA NERVOSO

SNC SN PERIFÉRICO

SN SOMÁTICO SN AUTÓNOMO

SN SIMPÁTICO SN PARASIMPÁTICO
(Armazena Energia/ Compensa Energia)
Disponibiliza e liberta energia para
lidar eficazmente com situações
indutoras de stresse
(Queima/ Disponibiliza e
Descompensa Energia)
A Psicofisiologia do Stresse
SN SIMPÁTICO SN PARASIMPÁTICO
Disponibiliza e liberta energia (Armazena Energia/
para lidar eficazmente com Compensa Energia)
situações indutoras de stresse
(Queima/ Disponibiliza e
Descompensa Energia)

DILATA PUPILAS CONTRAI


INIBE SALIVAÇÃO ESTIMULA
DILATA BRÔNQUIOS CONTRAI
ACELERA RÍTMO CARDÍACO REDUZ
INIBE SIST. DISGESTIVO ESTIMULA
RELAXA BEXIGA CONTRAI

CARDIOPATIA
A Psicofisiologia do Stresse
SISTEMA ENDÓCRINO DO STRESSE – Estes 2 eixos são comandados
em consonância com as nossas emoções (respostas emocionais)
SNC SN SIMPÁTICO
Sistema hipotálamo-hipófiso-supra-renal Sistema simpático-supra-renal

HIPOTÁLAMO GLÂNDULA SUPRA-RENAL


Corticolibrina – Segrega Adrenalina e
Noradrenalina
GLÂNDULA PITUITÁRIA (HIPÓFISE) (Catecolaminas)
Adrenocorticotrofina
Aumenta a actividade cardiovascular
Córtex supra-renal
Aumenta a respiração
Corticosteróides (Cortisol)
Aumenta a libertação de energia Aumenta a sudação

Suprime a resposta inflamatória Desvia o sangue para os músculos

Inibe a resposta Imunológica /IMUNOSUPRESSÃO Estimula a Actividade Mental

(Descargas Químicas e Hormonais) Aumenta o metabolismo

COPING NÃO ACTIVO COPING ACTIVO


(Org. mais suj. às agressões internas e (Esforço/ Motivação)
externas)
A Psicofisiologia do Stresse
SISTEMA IMUNOLÓGICO – Responsável pelas defesas do corpo,
sendo o terceiro sistema do organismo envolvido na fisiologia do
stresse.
Funciona segundo 2 tipos de resposta imunitária:
1. RESPOSTA HUMORAL
2. RESPOSTA MEDIADA POR CÉLULAS

O SISTEMA IMUNOLÓGICO depende do SISTEMA ENDÓCRINO, em


especial do sistema hipotálamo-hipófise-supra-renal

Existem evidências empíricas que demonstram que elevados


níveis de stresse reduzem o tamanho da Glândula Timo
(responsável pela secreção das Células T, inibindo a secreção de
anticorpos.
A Psicofisiologia do Stresse

Consequências do Stresse

 O Stresse pode actuar de muitas formas, causando


consequências biológicas e psicológicas.

A reacção mais imediata ao Stresse é biológica


► A exposição aos Stressores produz um aumento de
certas hormonas segregadas pelas glândulas
supra-renais, um aumento do ritmo cardíaco e da
pressão sanguínea e alterações no modo como a
pele conduz os impulsos eléctricos.
A Psicofisiologia do Stresse
 Consequências a Curto Prazo:

As respostas podem ser adaptativas porque


originam uma reacção de emergência, na qual
o organismo se prepara para se defender
através da activação do Sistema Nervoso
Simpático (SNS) → lidar de forma mais eficaz
com a situação de Stresse.
A Psicofisiologia do Stresse
► Efeitos do Stresse na Bioquímica

Cortisol no sangue aumenta


Corticosteróides no sangue e urina aumentam
Catecolaminas na urina aumentam
Ácidos gordos no sangue aumentam
Hormona de crescimento no sangue aumenta
Glucose no sangue aumenta
Colesterol no sangue aumenta
Ácido úrico no sangue aumenta
Testosterona no sangue diminui
A Psicofisiologia do Stresse

Consequências a Longo Prazo:

► Declínio do nível geral de funcionamento biológico


do corpo devido à constante secreção de
hormonas relacionadas com o Stresse.

► Pode originar-se deterioração de tecidos do corpo


como os vasos sanguíneos e o coração.

► Supressão da resposta imunitária → Maior


sensibilidade à doença, dado que a nossa
capacidade de lidar contra uma infecção diminui.
A Psicofisiologia do Stresse
► Efeitos do Stresse a Longo Prazo

Aumento da pressão sanguínea.


Associado a ataques cardíacos e trombose.
Bloqueio do crescimento.
Crianças expostas continuamente a Stresse não
atingem o crescimento máximo.
Inibição da resposta inflamatória.
Mais difícil ao corpo curar-se a si mesmo.
Nova evidência indica que pode causar danos nas
células cerebrais, especialmente no hipocampo (em
associação com a idade).
A Psicofisiologia do Stresse

 Para além da maior parte dos problemas


de saúde, muitos dos sofrimentos e dores
de menor importância podem ser
causados ou piorados devido ao Stresse
(ex., dores de cabeça, dores nas costas,
erupções cutâneas, indigestão, fadiga e
prisão de ventre).
A Psicofisiologia do Stresse

 Acresce que toda uma classe de problemas


físicos (perturbações psicofisiológicas
somáticas) resultam frequentemente do
Stresse.
 Causa destes problemas médicos →
interacção entre dificuldades psicológicas,
emocionais e físicas.
 Perturbações psicofisiológicas mais comuns:
dores de cabeça, problemas de pele e
hipertensão arterial.
A Psicofisiologia do Stresse
O Stresse continuado origina:

Distúrbio afectivos como os que estão ligados


à ansiedade, cólera e à depressão.
Distúrbios motores como tensão muscular
elevada, perturbações na fala, expressão
facial e postural tensas, perda de controlo
dos esfíncteres.
Alterações cognitivas como alterações na
percepção, dificuldades de raciocínio,
dificuldade de memória, dificuldade na
atenção.
A Psicofisiologia do Stresse
Mudanças fisiológicas, podemos mencionar
a sudurese, arritmias, dores ou
irregularidades menstruais
Para além disso as pessoas sobre Stresse
têm maior risco de: ter acidentes,
hipertensão, enfartes, diabetes tipo 2,
úlceras, consumo de bebidas alcoólicas,
tabaco, estupefacientes e alterações no
apetite seja aumento seja diminuição.

 NOTA: Por exemplo veteranos da II Guerra Mundial que


foram prisioneiros, têm níveis de trombose oito vezes mais
elevados que os veteranos que não estiveram em tal
situação.
A Psicofisiologia do Stresse
 Consequências a Nível Psicológico:

Níveis elevados de Stresse impedem as


pessoas de enfrentar convenientemente a
vida.
A visão do mundo torna-se confusa e
desajustada.
Quando se verificam os maiores níveis de
Stresse, as respostas emocionais podem
conduzir a incapacidades de acção.
A Psicofisiologia do Stresse

► Percepção do Controlo:
A percepção do controlo pode definir-se
como a expectativa que uma pessoa tem
relativamente ao controlo dos
acontecimentos, sejam eles internos ou
externos.
Por ex., o facto de ter apontamentos para
estudar para um exame aponta a
percepção do controlo.
A Psicofisiologia do Stresse

► Ilusão do Controlo:

Podemos acreditar que temos percepção


de controlo e de facto não temos. No
entanto, o que interessa é o saber que
pensamos que temos esse controlo.
A Psicofisiologia do Stresse
► Relação entre factores pessoais e factores
gerais ou do meio
Não é toda a situação que é Stressante;
Têm de haver características pessoais de
natureza histórica, a maneira como o
indivíduo aprendeu a lidar com diversidade,
com circunstâncias emocionais, como
aprendeu a lidar com a ansiedade, medo,
tristeza, frustrações, fracassos.
A Psicofisiologia do Stresse

► Alostase

A moderna visão do Stresse perspectiva


este de uma forma global, envolvendo
simultaneamente os conceitos de
Homeostase (que está patente na
concepção de Selye) e de Alostase.
A Psicofisiologia do Stresse

A teoria de Selye basicamente propõe a existência


de um sistema que tende para o equilíbrio, para
um ponto ideal de actividade, como a tensão
arterial, ou a actividade hormonal.

Assim sendo, quando somos sujeitos a Stresse, o


sistema procura regular por ex. a pressão
sanguínea de forma a mantê-la dentro de níveis
estáveis. Mas esta concepção de Stresse é muito
passiva, no modo como concebe o corpo, o
organismo, enquanto um todo, não contemplando
a existência de Stresse relativo ao passado ou ao
futuro.
A Psicofisiologia do Stresse

A Alostase, diferentemente, defende a


existência de uma adaptação geral dos
vários sistemas corporais simultaneamente
através de diversas circunstâncias da vida.

Este processo é realizado à custa do


consumo de energia e de produção de
mediadores do Stresse como os
glucocorticóides e as catecolaminas que,
naturalmente, promovem essa adaptação a
curto prazo, mas cujo prolongamento
poderá originar problemas de saúde.
A Psicofisiologia do Stresse
► Alostase (cont.)
Neste contexto, reconhece-se que grande parte da
regulação interna é uma antecipação do futuro e que por
conseguinte, os mediadores do Stresse produzem-se em
resultado de ansiedade antecipatória que pode conduzir a
um desgaste e quebra no organismo se for mantida
durante muito tempo.

A Carga Alostática é o preço por silêncio que o corpo


paga por este desgaste. A carga alostática acontece
quando existe Stresse frequente, Stresse repetido ou
impossibilidade de anular os mediadores do Stresse de
forma eficaz em resposta a esse mesmo Stresse.
A Psicofisiologia do Stresse
► Alostase (cont.)

De acordo com esta hipótese, a carga alostática é


muito elevada por uma pessoa que tenha um emprego
com elevadas exigências e pouca capacidade
decisória.

A falta de controlo no trabalho tende a produzir elevada


pressão sanguínea, não apenas no trabalho mas
também em casa, já que o corpo não pode baixar essa
pressão sanguínea à noite.

Isto sucede, lenta e gradualmente, ao longo de muitos


anos, essencialmente, afectando o ventrículo esquerdo
do coração, tornando-o mais largo e causando
aterosclerose progressiva. O resultado é então a
doença coronária.
A Psicofisiologia do Stresse
► Factores Mediadores do Stresse

Há que referir os Acontecimentos Vitais (controláveis vs.


incontroláveis). Estes definem-se como acontecimentos
que sucedem na vida de uma pessoa, que à medida que
se acumulam vão provocando danos.

 ACONTECIMENTOS INCONTROLÁVEIS: A morte de um


familiar próximo; ser-se despedido de um emprego; etc.;
 ACONTECIMENTOS CONTROLÁVEIS: divórcio; separação;
conflitos; hábitos de saúde e de alimentação; etc.;

Por ex., pesquisas têm mostrado que pessoas que sofreram


de ataques cardíacos tiveram um aumento significativo de
acontecimentos vitais nos 6 meses que antecederam o
ataque.
A Psicofisiologia do Stresse

► Algumas Variáveis Preditoras

Por outro lado, variáveis ligadas à


Personalidade, têm sido identificadas
como importantes (por ex. a resiliência e o
optimismo).
O primeiro é constituído por uma ideia
forte sobre si, um forte sentido de vigor. O
optimismo relaciona-se com expectativa
de que tudo vai acabar bem.
A Psicofisiologia do Stresse
Personalidade tipo A – Elevada
probabilidade de Doença coronária do
coração. Foi estabelecida há várias
décadas por 2 cardiologistas
americanos (i.e. Friedman e Rosenman,
1959). Características:
 Potencial para raiva; necessidade de
controlar; ambição; urgência de tempo;
hostilidade; desespero; frustração; reacção
prolongada; “Stressados por Natureza”
A Psicofisiologia do Stresse
Personalidade tipo A
- Elevada Ambição
- Orientação Feroz para os objectivos
- Extrema competição
- Agressividade e Competição com os outros
- Baixa Tolerância à Frustração (“Impossível perder”!)
- Hostilidade – propicia o risco cardíaco
- Impaciência constante
- Necessidade elevada de sucesso
- Alta reactividade às situações indutoras de stresse
- Descargas Neurovegetativas Intensas

RISCO CARDÍACO
A Psicofisiologia do Stresse
Robustez de Carácter (Susan Kobasa)
- CONTROLO – Confiança nas capacidades pessoais
para influenciar o curso dos acontecimentos
- COMPROMETIMENTO – Abordagem curiosa e
interessada da vida, concebida como sendo repleta
de significado
- DESAFIO – Mudança aceite como normal e
estimuladora do crescimento pessoal
A Psicofisiologia do Stresse
Sentido Interno de Coerência (Antonovsky)
- COMPREENSIBILIDADE – Crença de que as
experiências da vida são estruturadas e previsíveis e
não aleatórias e confusas (controlo cognitivo)

- MANEJABILIDADE – Crença de que os recursos de


que se dispõe são adequados para corresponder às
exigências que se enfrentam (Coping Instrumental)

- SIGNIFICABILIDADE (SENTIDO) – As experiências de


vida fazem sentido e vale a pena investir na resolução
de problemas e de conflitos (Motivação)

SALUTOGÉNESE
A Psicofisiologia do Stresse
► Algumas Variáveis Preditoras

Existem profissões cuja natureza


apresenta características mais
favoráveis ao desenvolvimento de
Stresse, e são aquelas profissões
que tendem a associar 2
condições: elevada exigência e
baixa capacidade de controlo.
A Psicofisiologia do Stresse
►BURNOUT – Quadro clínico de Stresse
desadaptativo; estado clínico de exaustão física
e emocional
SÍNDROME PSICOLÓGICO que afecta
particularmente os sujeitos que têm profissões
que assentam na relação interpessoal
(específico do trabalho)
EXAUSTÃO EMOCIONAL (Recursos emocionais
esgotados)
DESPERSONALIZAÇÃO
FALTA DE REALIZAÇÃO PESSOAL
Stresse & Doença
Stresse
ESTILO COGNITIVO – (IN)FLEXÍVEL
(Modo como são interpretados e lidos os acontecimentos da vida)
ESTILO E ESTRATÉGIAS DE COPING
(Enfrentamento ou Evitamento)
CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE
- Locus de Controlo
- Auto-Estima
- Auto-Eficácia
- Sentido Interno de Coerência
- Robustez de Carácter
SUPORTE SOCIAL
PADRÃO COMPORTAMENTAL TIPO A (PERSONALIDADE)

SAÚDE / DOENÇA
Stresse e a Acção das Variáveis Individuais
(Adaptado de Cohen & Edwards, 1989)

Variáveis Individuais
(Recursos)

Potencial Avaliação Percepção de


situação Cognitiva transacção de COPING
Stressora stresse

SAÚDE/
DOENÇA

As características de Personalidade, o estilo de Coping e o Suporte Social, são as


principais variáveis envolvidas na determinação das diversas respostas e
consequências de stresse; são os principais recursos que cada pessoa dispõe para os
encontros de stresse com o mundo
Variáveis Individuais que influenciam o Stresse

PERSONALIDADE
LOCUS DE CONTROLO
AUTO-ESTIMA
EXPECTATIVAS DE AUTO-EFICÁCIA
ROBUSTEZ DE CARÁCTER
SENTIDO INTERNO DE COERÊNCIA
PADRÃO DE COMPORTAMENTO DE TIPO A
AFECTIVIDADE NEGATIVA
AVALIAÇÃO COGNITIVA
ESTILOS DE COPING
SUPORTE SOCIAL

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