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SORAYA RODRIGUES MARTINS – UFF/RO

ANDRESSA MARTINS RAMOS DE AZEVEDO – UFF/RO


EDILANE ALMEIDA XAVIER – UFF/RO
JULIANA ASSUNÇÃO DO NASCIMENTO - UFF/RO
JULIA COELHO BARENSE – UFF/RO
LETÍCIA FREITAS DE CARVALHO – UFF/RO
NATASHA OHANNA CUNHA DIAS ABREU – UFF/RO
PAULINA SICUPIRA RODRIGUES – UFF/RO
• Público Alvo: Estagiários de clínica médica do curso de graduação em Nutrição UFRJ/
Macaé”

• Parceria entre Serviço de Psicologia Aplicada da UFF/RO e Curso de Nutrição da UFRJ


/Macaé.

• De agosto à dezembro de 2017 foram realizadas quatro oficinas, com dois encontros
cada, onde participaram no total 17 estagiários de nutrição em clínica médica.

• Oito sessões coletivas de aproximadamente duas horas.

• As oficinas foram coordenadas por duas a três estagiárias de Psicologia da UFF/RO.


 Método clínico pautado na fala compartilhada e na escuta clínica das vivências
relacionadas ao trabalhar como estagiários de nutrição no contexto hospitalar e
ambulatorial, apoiado nos pressupostos de Dejours (2011), com adaptações e
contribuições de outros autores brasileiros (Mendes & Araújo, 2011; Martins, 2015).

 A ação foi realizada em forma de “oficinas” conduzidas por estagiários de Psicologia,


integrantes do coletivo de pesquisadores (supervisão), sendo dividida em pré-
pesquisa, pesquisa e validação/refutação; com elaboração de memorial para
restituição após cada sessão coletiva e relatório final validado para discussão com
supervisores.

 Entre dispositivos clínicos utilizados destacamos: escuta arriscada, observação clínica,


análise e interpretação direcionada ao coletivo, discussão ampliada no coletivo de
pesquisadores e restituição.
• Atualmente são reconhecidas pelo Conselho Federal de Nutricionistas seis grandes
áreas de atuação profissional, sendo elas 1) Nutrição em alimentação coletiva; 2)
Nutrição Clínica; 3) Nutrição em esportes e exercícios físicos; 4) Nutrição em saúde
coletiva; 5) Nutrição na cadeia de produção, na indústria e no comércio de Alimentos e
6) Nutrição no ensino, na pesquisa e na extensão (CFN, 2018).

• Durante as oficinas, ao serem questionados sobre o que faz um nutricionista, é um


consenso entre os estagiários de que “[...] A nutrição é um espaço de cuidado.”:

“[...] O que faz um nutricionista? Bem, a nutrição tem várias áreas,


mas o que todas têm em comum é o cuidado, não importa onde
você estiver, na cozinha de uma escola, fiscalizando um alimento
na indústria, no consultório ou no hospital: o seu trabalho ali é cuidar.”
 Sentem-se pouco preparados para lidar com a perda dos pacientes, o afeto parece
circular de forma distinta, levantando falas de receio, medo e resignação por parte do
coletivo.

 Apesar de nem todos terem presenciado a morte de algum paciente, ela se fez
presente na vivência de todos em seu trabalho no hospital:

“[...] Faz parte do trabalho no hospital, uma hora vai acontecer, não dá pra se apegar muito [...]”.

“[...] A gente acompanha a vida do paciente, fica querendo saber se melhorou e quando não vê fica com
medo dele ter morrido [...]”.

“[...] Nós ficamos tristes, é ruim ver o pânico dos familiares com a possibilidade de perder o familiar [...]”.
 A dificuldade de interação com a equipe multidisciplinar e a desvalorização da nutrição
dentro do hospital, marca da hierarquização focada no saber médico também se faz
presente no dia-a-dia dos estagiários de nutrição clínica:

 “[...] É o saber médico acima de tudo e o Médico acima de todos!”

“[...] Tem médico que não olha na cara da gente”;


“[...] A medicina manda e o resto obedece”;
“[...] É muito difícil estabelecer uma comunicação pois eles não se importam com o nosso
trabalho, os próprios médicos transcrevem as dietas;
“[...] Algumas enfermeiras não deixam a gente modificar a dieta, elas chamam nossa
atenção dizendo que ‘o médico passou tal coisa, não pode mudar o que o médico passou’”;
“[...] Alguns técnicos e enfermeiros ficam perguntando ‘o que tem de almoço hoje’ em tom
de deboche”, “Pior que a gente vê que os próprios nutricionistas não se importam muito
em passar a visita nos pacientes” “O próprio comportamento da Nutricionista desanima a
gente em seguir na área hospitalar”.
 Entrelaçadas ao desejo de cuidar, a sobrecarga física e
emocional de não conseguir separar de forma efetiva o
sofrimento dos pacientes no contexto hospitalar de sua vida
pessoal ao chegar em casa:
“[...] Eu não consigo chegar em casa e falar com minha esposa depois que chego do hospital [...] ”.
“[...] Quando eu volto do hospital eu já começo a trocar de roupa assim que entro em casa, é um
sentimento de que preciso deixar aquilo do lado de fora, só consigo relaxar depois que tomo um
banho longo [...] ”.
“[...] É muito ruim ver aqueles pacientes que não recebem visitas e estão sempre sozinhos [...] ”.
“[...] Os idosos geralmente são os que mais ficam sozinhos [...] ” .
“[...] A gente se preocupa, às vezes em casa se pega pensando como tá aquele paciente [...] ”.
“[...] Os que ficam sozinhos são os que mais conversam com a gente”, “[...] É muito triste de ver assim
[...] ”.
 O profissional de nutrição no hospital recebe uma remuneração que não compensaria a
carga exaustiva de trabalho, as condições precárias de exercício da função, além da
própria desvalorização do nutricionista frente aos demais profissionais do hospital:

“[...]A gente vê o corre, corre... e o cansaço delas [nutricionistas], a desvalorização pelos outros profissionais,
meio que não vale a pena [...] ”.

“[...] a área da saúde a gente entende que é uma área que o profissional busca por vocação, então pretendo
segui-la mesmo sabendo das dificuldades, e são muitas [...] é um trabalho exaustivo, que exige muito da
gente fisicamente e emocionalmente, não compensa [...] ”.

“[...] a nossa profissão, por ser muito fácil ter informações sobre ela, pesquisando na internet e tal, as pessoas
meio que não levam a sério e não valorizam [...] ”.

“[...] é muita responsabilidade e muita burocracia [...] “


“[...] o salário baixo já me fez desanimar e pensar em largar o curso de nutrição [...] ”.
 Relataram sobrecarga pelo acúmulo das tarefas acadêmicas, pelo próprio trabalho no
hospital e pelos relatórios extensos do estágio.

 A prática de estagio aliada as exigências das atividades acadêmicas inerentes ao final do


curso de graduação são vividas como sobrecarga pelo coletivo de graduandos de nutrição:

“[...] É muito difícil dar conta, tem nosso TCC, tem as tarefas no hospital, eu chego com os pés doendo de
passar o dia andando/em pé no hospital e ainda tenho uma pilha de relatórios pra fazer e levar pra
supervisão [...] ” .

“[...] como a gente dá conta de tudo? Eu, por exemplo, estou com mais de três relatórios da supervisão
atrasados [...] ”.

“[...] é desesperador saber o tanto de coisa que tem pra fazer, e ainda tem o TCC! [...] ” .
Cabe destacar que as oficinas se caracterizaram por um espaço de
discussão e escuta qualificada no qual os membros do coletivo
puderam ampliar as percepções acerca de seu fazer (real do
trabalho e trabalho real), refletindo sobre a relação com os
pacientes e com os demais profissionais.

A fala compartilhada e reflexiva das vivências e afetos,


possibilitaram a visibilidade e reconhecimento do trabalhar, do
sofrimento, promovendo a mobilização subjetiva para a
cooperação e mudanças nas formas de trabalhar, como forma de
lidar melhor com as pressões do ambiente de trabalho.
DEJOURS, C. Addendum: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. In Lancman, S., &
Sznelwar, L. I. (Orgs.) Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. (3a
ed.). Rio de Janeiro: editora Fiocruz. pp. 57-123 (2011a).
MENDES, A. M; ARAUJO, L. K. R. Clinica Psicodinâmica do Trabalho: o sujeito em ação.
Curitiba: Juruá, 2012.
MARTINS, S. R. Metodologias e dispositivos clínicos na construção da clínica psicodinâmica do
trabalho. Em A. C. L. Vasconcelos; R. D. de Moraes (ORG) Trabalho e Emancipação – A Potência
da Escuta Clínica. Juruá Editora, 2015, pp. 87-112.
MARTINS, S.R; MENDES, A. M. Espaço coletivo de discussão: a clínica psicodinâmica do
trabalho como ação de resistência. Rev. Psicol, Organ. Trab. [online], vol.12, n.2, pp. 171-183,
2012 ISSN 1984-6657.
CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 600, De 25 de Fevereiro de 2018.
Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica
parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos
serviços prestados à sociedade e dá outras providências.

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