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Vinicius de Carvalho Araújo – doutorado

Maria Arlinda da Silva – doutorado


Virgínia Maria Castro de Almeida - mestrado
Seminaristas e textos
 Vinicius de Carvalho Araújo – doutorado
 HEINZ, Flávio (Org.). Por outra história das elites. Rio de
Janeiro: FGV, 2006, p. 17-54 e p. 77-97.

 Maria Arlinda da Silva – doutorado


 STONE, Lawrence. Prosopografia. Curitiba, Revista de
Sociologia e Política, v. 19, n. 39, jun. 2011, p. 115-137.

 Virgínia Maria Castro de Almeida – mestrado


 LEVI, Giovanni. Usos da biografia. In: FERREIRA, Marieta de
M.; AMADO, Janaína. História oral. Rio de Janeiro: Getúlio
Vargas, 2006, p. 167-191.
Capítulo do livro

 Como anda a história social das elites e da


burguesia? Tentativa de balanço crítico da
historiografia contemporâneo (p. 17-54).

 Christophe Charle
Tentativa de balanço historiográfico

• 2ª metade da década de 1960 – novas


interpretações da Revolução Francesa introduzem a
noção de elites em detrimento do conceito marxista
de classe. (Furet/Richet x Soboul).
• Reminiscências paretianas.
• Elite ou elites?
• Introdução de novas ferramentas de análise numa
História em vias de abrandamento, depois de
Lefevbre e Labrousse.
Investidas das elites (anos 1970)
 Emergência dos trabalhos sobre as elites e a burguesia
como viveiro das elites floresceu na década de 1970.
 Diferenças com o método atual. Não tenta construir
“biografias sociais” e a caracterização dos indivíduos é
sumária.
 Ainda é a fonte que comanda o ponto de vista e as
questões formuladas. Não há cruzamento de dados nem
análises exaustivas de todos os aspectos.
 A 2ª geração de trabalhos – abandono de uma
problemática política por um recorte sociológico em
termos de corpos administrativos e instituições escolares.
Profissões burguesas
 As pesquisas abandonaram os modelos labroussianos
por recortes sociológicos mais próximos daqueles
utilizados nos estudos de elite;
 Elites públicas x grupos profissionais ou burgueses;
 Hierarquias internas ao meio burguês (horizontais);
 Análise da burguesia econômica para compreender o
processo de industrialização na França;
 Recorte vertical x horizontal. Onde começam e
terminam as elites?
 Última corrente não define a burguesia como objeto,
mas as relações sociais (Foucault).
Questões de método
 Fatores de crescimento da prosopografia:

1 – Analisar as elites é penetrar fundo num meio que detém o


poder e conhecer seus mecanismos concretos;
2 – Combinar abordagem objetivista e um estrato
individualizado (teoricista/sociologizante x
empirista/monográfico);
 3 – Desenvolvimento de softwares e hardware.
Contribuição dos novos métodos
 Reduzir o determinismo econômico (visão de mundo);
 História cega dos dominantes pode ser reinvestida
graças a esse aporte de mediações finais entre posição
social, posição ideológica e dinâmica social.
 Definirredes que ligam as elites, delimitar grupos de
pressão e movimentos de criação de sociedade e
partidos;
 Elite aberta x elite fechada;
 História das elites preencheu programa da História
Social;
 Mal sucedida em compreender a articulação entre o
individual e o coletivo.
Capítulo do livro

 A prosopografia ou biografia coletiva: balanço e


perspectivas (p. 41-54).

 Christophe Charle
Aportes e limites
A partir de 1971 surgiram as primeiras críticas à
prosopografia, formuladas por Lawrence Stone. Os
vieses das fontes oficiais das biografias induzem uma
visão parcial da realidade.
O historiador arrisca menos quando trata de períodos
recentes, pela variedade de fontes.
O historiador prosopógrafo navega entre a biografia
indefinida de indivíduos e o da ampliação das grandes
amostras.
Rumo à prosopografia comparada
1 – Grupos sociais começam a ver sua história social se
renovar por meio das biografias coletivas;
 2 – Historiografias europeias apresentam descompassos
que pedem pesquisas complementares para gerar uma
visão homogênea de grupos comparáveis;
3 – Biografia coletiva dispõe do campo da biografia
comparada. Seu objetivo é apreender o funcionamento
real das instituições ou dos meios onde agem os
indivíduos isolados.
Capítulo do livro

 Elites regionais (pg. 77-98)

 Joseph Love e Bert Barickman


Elites regionais

 Lideranças políticas dos Estados de Pernambuco, Minas


Gerais e São Paulo dentre os anos de 1889-1937;
 Capítulo traça comparações entre as três e analisando
uma elite ampliada resultante.
Contornos da elite ampliada
Característica %
Pessoas com idade relevante que apoiaram a abolição 15
Republicanos “históricos” 42
Cumprimento da orientação política do partido nas 86
eleições presidenciais de 1910, 1922 e 1930
Identificação com o tenentismo após 1930 8
Bacharel em Direito 70
Militares 2
Exerciam uma profissão 91
Fazendeiros 25
46
Pais proprietários e/ou profissionais liberais
Comparações internacionais
Característica %
Pais de classe média ou alta (Brasil) 95
Alemanha – República de Weimar (1919-1933) 53
Alemanha nazista (1933-1945) 41
República Federal da Alemanha (1949-1990) 46
Ocupação de postos reg. ou fed. antes dos 40 (Argent.) 89
Ocupação de postos reg. ou fed. antes dos 40 (Brasil) 35
Ministros da Holanda com parentesco (1848-1935) 43
Deputados da França com parentesco (1870-1940) 14
Congressistas norte-americanos (1790-1960) 10
Lawrence Stone
Prosopografia

 Os trabalhos iniciais.

 Charles Beard (história)


 Lewis Namier (história)
 Robert Merton (sociologia)
 Origens:
 O autor inicia o texto dizendo sobre o grande
desenvolvimento da biografia coletiva...
 Conceito: “é a investigação das características comuns
de um grupo de atores na história, por meio de um estudo
coletivo de suas vidas”.
 Método: Constitui-se em estabelecer um universo de
estudos e investigar um conjunto de questões uniformes (a
respeito do nascimento e morte, casamento e família,
origens sociais e posição econômica herdada, lugar de
residência, educação, tamanho e origem da riqueza
pessoal, ocupação, religião, experiências em cargos e
assim por diante).

 Os vários tipos de informações sobre os indivíduos no
universo são então justapostos, combinados e
examinados em busca de variáveis significativas.
 Objetivo:
 Encontrar tanto correlações internas, quanto
correlações com outras formas de comportamento ou
ação.
A prosopografia é usada como ferramenta para atacar
dois básicos problemas da história:
1º PROBLEMA – ORIGENS DA AÇÃO POLÍTICA

Desvelamento dos interesses


A análise das afiliações
mais profundos sobre a
sociais e econômicas dos
retórica política;
agrupamentos políticos

Revelação do
funcionamento de uma
máquina política
2º PROBLEMA – ESTRUTURA E
MOBILIDADE SOCIAIS

Determinação do grau de mobilidade


Mudança no papel social de grupos de status social pelo estudo das origens familiares
específicos (usualmente da elite), (sociais e geográficas), dos novatos de
possuidores de títulos, membros de um certo status político ou posição
associações profissionais, ocupantes de ocupacional.
cargos, grupos ocupacionais ou classes
econômicas.

Correlação de movimentos
intelectuais ou religiosos com
fatores sociais, geográficos,
ocupacionais ou outros.
O propósito da prosopografia: “é dar sentido a ação
política, ajudar a explicar a mudança ideológica ou
cultural, identificar a realidade social e descrever e
analisar, com precisão a estrutura da sociedade e o grau
e a natureza dos movimentos em seu interior.
Inventada como um instrumento da história política, ela
é agora, crescentemente empregada pelos
historiadores sociais”.
AS DUAS ESCOLAS DA PROSOPOGRAFIA
ESCOLA ELITISTA ESCOLA DO ESTUDO DAS MASSAS

“Preocupam-se com a dinâmica de Estatisticamente orientada e inspirada pelas


pequenos grupos ou com a interação, em ciências sociais.
termos de família, casamento e laços
econômicos, de um número restrito de
indivíduos”.
“investigação meticulosamente detalhada  
sobre a genealogia, os interesses
comerciais e as atividades políticas do
grupo, os relacionamentos expostos por
meio de detalhados estudos de caso”.
De maneira geral, ignora as teorias  
sociológicas e psicológicas.
Pressupõe a política como uma “questão de Pressupõe “que a história é determinada
interações entre pequenas elites dirigentes mais pelos movimentos da opinião popular do
e seus clientes do que com os movimentos que pelas decisões dos assim chamados
de massa”, a história seria a feroz ‘grandes homens’ ou pelas elites”.
competição “pelo poder, pela riqueza e  
pela segurança”.
 As duas escolas se diferenciam significativamente
em seus objetos de estudo, objetivos, meios, mas
são similares em seus interesse comum – o grupo.
 Tanto a escola elitista quanto a de massas
tornaram-se primeiramente identificáveis na
profissão durante as décadas de 1920 e 1930.
 Fontes:
 Listas simples de nomes de ocupantes de certos
cargos ou títulos ou qualificações profissionais ou
educacionais, genealogias de famílias, dicionários
biográficos inteiros, que são usualmente elaborados
em parte com base nas duas primeiras categorias e
em parte com base em uma variedade de fontes
infinitamente mais ampla.
CHARLES BEARD – 1º HISTORIADOR A ADOTAR O
MÉTODO ELITISTA DA PROSOPOGRAFIA

 Determinismo econômico: (1913) – ofereceu uma


explicação para a Constituição Federal estadunidense, a
partir de uma análise cerrada de interesses econômicos
e classistas dos Founding Fathers.
 Trabalhavam somente sob a orientação de princípios
abstratos de Ciência Política?
 Ou tratava-se de um “pequeno e ativo grupo de
homens imediatamente interessados, em função de
suas posses, no resultado de seus trabalhos?
 
 Apesar do reducionismo e do dogmatismo, “A
contribuição de Beard para a prosopografia elitista foi
uma curiosidade suspeita a respeito das finanças de um
ator político e a hipótese de que elas eram importantes.
O que lhe escapou foi o papel dos vínculos sociais e de
parentesco que seriam tão importante nos estudos
posteriores de Sir Lewis Namier e outros”.
UMA INTERPRETAÇÃO QUE IGNORA IDEOLOGIAS

 “Um aspecto chave da interpretação elitista do


processo histórico é a remoção deliberada e sistemática
tanto dos programas partidários como das paixões
idológicas do centro do palco político e sua substituição
por uma complexa rede unindo a seus clientes e
dependentes”.
PERIGOS E LIMITAÇÕES DO MÉTODO

 “Omero fato de que mais que o usual foi registrado a


respeito das vidas e das carreiras de uma pequena
minoria indica que elas eram de alguma forma atípicas.
Em um grau que não pode ser medido, pesquisas
baseadas em tais evidências fragmentárias tenderão a
exagerar, e talvez de incorrigível a distorcer, o status, a
educação, a mobilidade vertical e assim por diante a
respeito do grupo sob exame”.
1. A deficiência de documentação

 “É auto-evidente que as pesquisas biográficas de


números substanciais de pessoas somente são possíveis
para grupos razoavelmente bem documentados e que e
que a prosopografia é assim limitada pela quantidade e
pela qualidade dos dados acumulados sobre o passado”.
 Além das elites do poder e das minorias perseguidas, os
grupos que se “prestam mais facilmente a tal
tratamento são membros de certas categorias de alto
status, oficiais da marinha, alto clero, intelectuais e
educadores, advogados médicos, membros de outros
corpos profissionais e empresários industriais e
comerciantes”.
A terceira limitação imposta pelas evidências surge do
fato de que elas são abundantes para alguns aspectos
da vida humana e quase inexistente para outros. Os
registros sobreviventes referem-se antes de mais nada
ao montante, ao tipo, a titularidade e à transmissão da
propriedade. (...) Assim, há um forte viés nos sentido de
tratar os indivíduos como homo economicus e de
estudá-los primariamente à luz de seus interesses e
comportamentos financeiros, pois é isso que os
registros iluminam com enormes claridade e detalhe”.
1. Erros na classificação e interpretação dos dados.
2. Limites da compreensão histórica.
 “A concentração no estudo das elites é em parte e em
parte efeito de uma tendência a ver a história
exclusivamente em termos da classe governante, em
que os movimentos populares desempenham um
pequeno ou nenhum papel”.
 No entanto, “estudos cerrados das manobras políticas
das elites podem obscurecer mais que iluminar as
profundezas do funcionamento dos processos sociais.
Grandes mudanças nas relações de classe, na
mobilidade social, nas opiniões religiosas e nas atitudes
morais podem estar ocorrendo nos estratos inferiores,
as quais a elite será afinal obrigada a responder – isso
caso não seja varrida por uma revolução violenta.
VANTAGENS DA PROSOPOGRAFIA
 A pesquisa detalhada de grupos (burocratas, monges,
bispos, gentry) fui muito útil para separar a verdade do erro
nas hipóteses tanto de pesquisadores como Trevor-Roper
quanto de historiadores marxistas sobre as causas e o papel
de diferentes sujeitos na Revolução Inglesa.
  
 “O método funciona melhor quando é aplicado para
grupos facilmente definidos e razoavelmente
pequenos, em um período limitado de não muito mais
que 100 anos, quando os dados são obtidos de uma
grande variedade de fontes que complementam e
enriquecem umas às outras e quando a pesquisa é
dirigida para solucionar um problema específico [...]
Pesquisas ambiciosas sobre muitas centenas de
indivíduos, durante períodos temporais muito amplos,
usando apenas as fontes materiais escritas mais
facilmente acessíveis e aplicando uma abordagem no
estilo ‘metralhadora giratória’ aos problemas que
podem ser formulados são muito menos prováveis de
produzir resultados convincentes”.
É uma abordagem muito “adequada aos requisitos de
artigos de pesquisa e de teses de doutorado. Ela
apresenta ao estudante novato uma grande variedade
de fontes, ensina-lhe a avaliar as evidências e a aplicar
seu julgamento para resolver contradições, demanda
acurácia meticulosa, a organização das informações de
maneira metódica e oferece um tópico que pode ser
facilmente expandido ou reduzido pela modificação do
tamanho da amostra de modo a adequar-se aos
requisitos dos recursos e dos prazos disponíveis.
DADOS BIOGRÁFICOS:
 Nasceu em Milão (Itália) em 1939.
 Historiador italiano, membro de uma família judaica.
 Seu pai Ricardo Levi foi militante antifascista na 2ª
Guerra.
 Escreveu diversas obras, dentre elas: Microhistória
italiana e entrevista; História dos Jovens; Da
Antiguidade à era moderna; História da Família.
 Participou da Escola historiográfica de: Jacques Ravel,
Carlo Ginzburg e outros.
 Pierre Bourdieu - sociólogo francês do século XX.
Nascido na França em 1930. Em 1954, formou-se em
Filosofia e iniciou sua vida profissional como professor
em Moulins. Sua carreira sofreu uma interrupção em
função do serviço militar obrigatório que o enviou para
a Argélia.
 De volta a Paris, foi asistente de Raymond Aron,
importante filósofo, sociólogo e comentarista político
da França na Faculdade de Letras de Paris. Pierre
Bourdieu destacou-se por propor uma crítica sobre a
formação do sociólogo, buscando o que ficou
identificado como “Sociologia da Sociologia”.
Argumentava que há estruturas objetivas no mundo
social que podem coagir a ação dos indivíduos. Todavia
essas estruturas são construídas socialmente. Por outro
lado, Pierre Bourdieu rejeitava a dicotomia
subjetivismo/objetivismo nas ciências humanas,
dizendo que as relações sociais estão numa relação
dialética.
Capítulos 12 – Usos da Biografia e 13 - A
Ilusão Biográfica
 

Levi inicia citando Queneau (1945) que na obra Le histoire dans le
romance menciona que “houve épocas em que se podia narrar a vida
de um homem abstraindo-se de qualquer fato histórico” e outras “em
que era possível relatar um fato histórico abstraindo-se de qualquer
destino individual”.

Levi (1989) analisa que “atualmente vivemos uma fase intermediária
onde a biografia é o centro das preocupações dos historiadores” e
chama atenção para as suas ambiguidades: 1 – Considera a experiência
vivida; 2 – Idealiza experiências para provar hipóteses científicas.

Menciona Momigliano (1974), para quem a “biografia tem
ao mesmo tempo ambiguidade e a fecundidade”, pois o
historicismo torna as formas de história política e social
complexas, enquanto a biografia permanece simples.

Sobre esse papel ambíguo da biografia, Levi (p. 168) lança
um questionamento: “Os historiadores serão um dia
capazes de enumerar os incontáveis aspectos da vida?” A
biografia pode ser um instrumento de pesquisa social ou ao
contrário”.
Bourdieu
 (1986) critica a biografia e a chama de “história de vida”
que para ele “é uma dessas noções do senso comum que entraram
como contrabando no universo científico”. Segundo este, trata-se de
“uma sequência de acontecimentos de uma existência individual
concebida como uma história e o relato dessa história”. Assim, a
história de cada indivíduo tem um começo e um fim, seria Historie (a
história como mestra da vida, como era antes do século XVIII, que
significava relato do historiador) e não Geschichte (alterada após o
iluminismo, onde está implícita a ideia de relato histórico)
(KOSELLECK, 2006).

Levi apresenta alguns pressupostos:

p.168 – As relações entre história e narrativa. “A BIOGRAFIA
constitui na verdade o canal privilegiado através do qual os
questionamentos e as técnicas peculiares da literatura se
transmitem à historiografia”.

Alguns obstáculos documentais são apresentados por Levi:

p. 169 – Ex: os atos e pensamentos da vida cotidiana, as duvidas e
incertezas, o caráter dinâmico e os momentos contraditórios do
biografado. Então questiona: Pode-se escrever a vida de um
indivíduo? E a questão das fontes históricas como ficariam?

Para Levi, “essa não é a única e nem a principal dificuldade”.

Criticaos historiadores que imaginam que “os atores históricos
obedecem a um modelo de racionalidade anacrônico e limitado”,
personalidade coerente e estável, cronologia ordenada, ações
sem incertezas e inércias. Nesse sentido Levi concorda com
Bourdieu, quando chama a biografia de “ilusão biográfica”

p. 170 – Desde o século XVIII – ventou-se sobre a possibilidade de
escrever a vida de um individuo e o inicio foi através do romance.
Ao longo dos séculos se elaborou “não a percepção do “eu” mas
a noção, o conceito, o que ainda ocorre hoje.

(p. 171) Para Diderot e Sterne, “a biografia era incapaz de captar a essência de um
individuo”. Tinha uma função pedagógica, onde apresentava personagens célebres,
com virtudes públicas e vícios privados” Ex: de autobiografia: As confissões de
Russeau. Este acreditava que era possível narrar a vida de um homem e que esta
poderia ser verídica.

p. 173 – Com o advento da psicanalise, as pessoas assumem sua individualidade, a
responsabilidade por si e seus atos, suas contradições. Os historiadores também
passam a abordar o “problema biográfico” e formas diversas na perspectiva
biográfica:

p. 174 – 1 - Prosopografia e biografia modal -não se trata de biografias verídicas, mas
ligadas as aparências sociais. Ex: o habitus individual só era igual ao habitus do grupo
quando do mesmo grupo social. Estilos pessoais eram tidos como desvio. Ex: hippies

p. 175 – 2 – Biografia e contexto – a época, o meio e a ambiência
são muito valorizados, que pode ocorrer com fragmentos. Porém,
“uma vida não pode ser compreendida unicamente através de
seus desvios e singularidades”.

p. 176 – 3 – A biografia e os casos extremos – quando são
utilizadas para esclarecer o contexto, como um estudo de caso.

p.178 – 4 – Biografia e Hermenêutica – O material biográfico fica
discursivo, baseado no ato dialógico de perguntas e respostas que
constroem a comunicação. Deve ocorrer de forma narrativa.

p. 179 – Os principais tipos de orientação procuram utilizar a
biografia como instrumento de conhecimento histórico e
substituir a tradicional biografia linear e factual, que mesmo
assim continua a existir.

Os debates a serem feitos hoje são em relação: 1 – entre
normas e praticas, entre indivíduos e grupos, entre
determinismo e liberdade, entre racionalidade absoluta e
racionalidade limitada.

Ressalta 4 orientações nesse sentido: 1 – papel das
incoerências entre as próprias normas; 2 – o tipo de
racionalidade atribuído aos atores quando se escreve
biografia; 3 – a relação entre um grupo e os indivíduos que o
compõem.
  

A vida constitui um projeto, como na noção sartriana de “projeto original” –
com ordem cronológica, com inicio e fim. O relato biográfico ou autobiográfico
tem uma preocupação em ter sentido, cronológico, com acontecimentos
significativos e cumplicidade entre entrevistado e entrevistador.

Para Levi (p.185), o abandono da estrutura do romance moderno como relato
linear coincidiu com o questionamento pelas pessoas sobre a visão da vida. O
mundo se move e a individualidade biológica é valorizada através de um nome
para os agentes sociais: o dono da empresa, o deputado, etc. O nome próprio é
atestado visível do portador, da sua família. Esse nome e sobrenome atestam “a
identidade da personalidade”, o rito de instituição inaugural que passa a ter
acesso a existência social e civil”.

p. 188) O relato de vida tende aproximar-se da apresentação
oficial de si mesmo, curriculum, carteira de identidade, biografia
oficial, que permite investigação judiciaria e policial.

Na sua análise, “os acontecimentos biográficos se definem como
colocações e deslocamentos no espaço social” (...). Se define na
relação objetiva entre o sentido e o valor. EX: o envelhecimento
social que é independente do envelhecimento biológico.

(p. 190) - Não podemos compreender uma trajetória sem que
tenhamos construídos os estados sucessivos onde esta se
desenrolou, as ações objetivas que ficam na superfície social,
com a descrição da personalidade designada pelo seu nome
próprio. Ex: conjunto de posições socialmente ocupadas em dado
momento pelo individuo que esta sendo biografado ou tendo a
sua vida relatada.
Aqui
 Levi chama atenção para a distinção entre “o individuo
concreto e o individuo construído”, como nos casos de investigações
sobre as elites.
Propõe que seja realizada avaliação rigorosa , uma construção prévia

da personalidade, como quem planeja uma viagem: Quem pensaria
em evocar uma viagem sem ter ideia da paisagem na qual ela se
realiza?
p. 191 - Chama atenção dos pesquisadores para o fato de que o

indivíduo, a pessoa biografada passa a ser uma personalidade.
 

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