Você está na página 1de 34

Ferramentas simples para sistemas complexos:

Revisitando as classificações líticas brasileiras

Ministrante:
Tatiane de
Souza
Doutora
MAE/USP
Pós Doutoranda
IGc/ USP

Foto: T. Souza. (2014). Coleção lítica Abrigos Vermelhos, MT.


Eixos da apresentação
1. Evolução + tecnologia + ferramentas: sofisticação ou simplicidade?

2. O que nos torna humanos: as técnicas do corpo.

3. Tradições líticas Brasileiras: formalidade e informalidade

4. Reflexões a partir do repertório lítico brasileiro: retomando a


sofisticação e a simplicidade em indústrias líticas .
Bibliografia em diálogo com este eixo
• Neves, W. A. Junior, M. J. R. Murrieta, R. S. S. Assim caminhou a Humanidade. Palas Athenas.
2015

• TATTERSALL, I. Como nos tornamos humanos? edição especial – Scientific American Brasil – Ed. nº
17. 2007

• KLEIN, R. G. O despertar da cultura: A polêmica sobre a origem da criatividade humana. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2004.

• FOLEY, R. Os Humanos Antes da Humanidade: Uma Perspectiva evolucionista. São Paulo: Ed.
UNESP, 2003.

• MITHEN, S. A pré-história da mente − uma busca das origens da arte, da religião e da ciência.
São Paulo: Unesp, 2002.

• LEROI-GOURHAN, A. Técnica e Linguagem. Edições 70, 1964.


Evolução + tecnologia + ferramentas: sofisticação ou simplicidade?

KLEIN, Richad G. O despertar da cultura: A polêmica sobre a origem da criatividade humana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2004.
LEROI-GOURHAN, André. Técnica e Linguagem. Edições 70, 1964.

• 4 grandes eventos:

• 1 - 2,5 milhões de anos atrás - Criação da tecnologia da pedra lascada (Olduwainense) pelas
primeiras criaturas do gênero Homo, com cérebros ligeiramente maiores que os dos
Australopithecus;

• 2 - 1,7 milhão de anos atrás - Criação de artefatos de pedra mais sofisticados, como os
machados de mão. As proporções corporais já eram mais parecidas com as dos humanos atuais

• 3 - Foi a partir da utilização do subproduto dos bifaces, que nasceu a técnica levallois. O bloco
inicial era destinado a tornar-se um utensílio na forma de amigdalóide, torna-se a fonte de
lascas pré determinadas que serão os utensílios.

• 4 - 50.000 anos atrás. Revolução Cultural. Os humanos passaram a ter o poder de criar e
manipular a cultura, que entrou em contínuo aperfeiçoamento.
O que caracteriza a integração técnica?

LEROI-GOURHAN, André. Técnica e Linguagem. Edições 70, 1964.

• 5 elementos:

• Limitações locomotoras: a organização mecânica da coluna vertebral e dos


membros;

• Suspensão craniana: Orifício occipital dos vertebrados ou forame magno;

• Dentição: O papel dos dentes na captura, defesa e na preparação alimentar;



• Mão: Integração do campo técnico;

• Cérebro: Locatário de todo o dispositivo corporal.
A integração técnica do corpo

Figura 1 – Klein, R.G. O despertar da cultura. Jorge Zahar. 2004, p.44 . À esquerda, o esqueleto 40% completo de Lucy.

Figura 2 e 3 - LEROI-GOURHAN, André. Técnica e Linguagem. Edições 70, 1964.


Biface: 1.700.000 AP
Talhador Olduvaiense 2.500.000 AP A manufatura de um mach ado pressupõe a escolha sobre o ponto o qual num bloco, será destacado uma lasca grande cujo negativo constituirá o bordo vivo do futuro machado: além disso, é indispensável o trabalho de destaque secundário para talhar o núcleo.

Pressupõe dois seixos, um com o papel do percutor e o outro recebedor do choque. O choque é aplicado num dos bordos, perpendicularmente à superfície e destaca uma lasca que deixa no seixo um negativo bem delimitado, duas ou três lascas que deixa no seixo um negativo mais longo e sinuoso.
Produtos Laminares:
Espanha e Portugal (37 a 29 AP, Portugal á
Europa do sul e central e Solutrense , 21 a
16.500 AP. Presença de numerosas lascas
especialmente longas, ou lâminas quase
Levallois Mouteriense:....
Percussão tangencial nos bordos do biface fez destacar uma matriz de grandes lascas, largas ou sempre retiradas de núcleos preparados de
estreitas, que passaram a ser utilizadas como utensílios cortantes. Foi a partir deste
desenvolvimento , isto é, da utilização do subproduto dos bifaces, que nasceu a técnica, levallois. modo especial e pela abundância de
ferramentas em forma de talhadeiras,
conhecidas como buris. O termo buril.
designa uma ferramenta moderna que serve
para gravar madeira ou entalhar ossos,
marfim e chifres.
Evolução + tecnologia + ferramentas: sofisticação ou simplicidade?

LEROI-GOURHAN, André. Técnica e Linguagem. Edições 70, 1964. pranchas consecutivas: 46,47,48
A igualdade técnica dos primatas superiores versus a intenção técnica humana.
Argumentos em favor da superioridade técnica humana Argumentos contrários à superioridade humana.
LEROI-GOURHAN, André. Técnica e Linguagem. Edições 70, FOLEY, Robert. Os Humanos Antes da Humanidade: Uma Perspectiva
1964. p.117 evolucionista. São Paulo: Ed. UNESP, 2003

• A noção de cadeia operatória - • Crítica ao conceito de progressão

• ligação entre técnica e linguagem. • Os últimos achados seriam representantes de classes mais
evoluídas, com isso, o ser humano foi posto num patamar de
superioridade em relação a todas as espécies anteriormente
• A técnica é gesto ou utensílio , estudadas,
organizados em cadeia por uma
sintaxe que dá às séries operatórias
• Esse padrão da progressão também se caracteriza pelo
a sua fixidez e subtileza.
registro dos fósseis, que insistiram no uso de uma
hierarquização, seja pelo tamanho do cérebro, ou pela
• A sintaxe operatória proposta pela localidade em que o achado foi encontrado,
memória e tem origem entre o
cérebro e o meio. • Os conhecimentos que possuímos sobre a evolução técnica
desde os estádios mais antigos até o começo do período atual,
• Utensílios , possuíam , sem dúvida , são essencialmente fundamentados na utensílios de pedra
elos operatórios já muito lascada,
complexos e a linguagem
provavelmente limitada ainda à • Traçar a evolução técnica da humanidade através dos
expressão de situações concretas. utensílios de pedra talhada, é utilizar uma imagem cultural
limitada aos objetos cortantes.
Contraponto ao fato de apenas humanos fazerem ferramentas. Isto significa cultura?

“O que geralmente acontece


é que a cada vez que um
traço é identificado como
especificamente humano se
descobre que os chimpanzés
possuem-no também”

FOLEY, Robert. Os Humanos Antes da Humanidade:


Uma Perspectiva evolucionista. São Paulo: Ed.
UNESP, 2003.
Fonte: Grupo de Estudos em Ciências do Comportamento.
Macaco-prego (Cebus sp).
Eixo 2 - O que nos torna humanos: As técnicas e o corpo.

• Em 1936, Mauss assinava no Journal


• O objetivo de Mauss era
de Psychologie um artigo intitulado
“As técnicas do corpo” , em que lançar luz sobre um domínio
procurava estabelecer as bases para até então oculto pela noção
um estudo antropológico do tradicional de tecnologia:
comportamento corporal.

• A intenção era demonstrar o caráter


cultural das condutas corporais,
explicando as diferenças observadas • o corpo é o primeiro
etnograficamente (as várias formas instrumento a dominar,
de nadar ou de manter-se
aquele que intermedeia a
agachado, por exemplo).
relação com todos os demais.
Bibliografia em diálogo com este eixo
• BEAUNE, Sophie A. de. Pour une archéologie du geste. Paris: CNRS Editions, 2000.
• ______.; appréhender les outils simples en contexte préhistorique. Artefact, 2014.

• FULLAZAR & FIELD. 1997. Pleistocene seed-grinding implements from the Australian arid zone. Antiquity
71: 300–307, 1997.

• JONES, C. “Archaeochemistry: Fact or fancy?” in The prehistory of Wadi Kubbaniya, vol. 2, Stratigraphy,
paleoeconomy, and environment. Edited by F. Wendorf, R. Schild, and A. Close, pp. 260–66. Dallas:
Southern Methodist University Press, 1990.

• MAUSS, Marcel. Les techniques du corps. Journal de Psychologie, v. 32, n. 3/4, 1936. (reeditado em:
MAUSS, Marcel. Sociologie et anthropologie. Paris: PUF, 1985. p. 365-86.)

• REDE, Marcelo. Estudos de cultura material: uma vertente francesa. Anais do Museu Paulista. São Paulo.
N. Sér. v. 8/9. p. 281-291 (2000-2001).

• ROCHE, Daniel. Histoire des choses banales. Naissance de la consommation, XVIIe -XIXe siècle. Paris:
Fayard, 1997.
Em que medida o corpo se relaciona aos traços deixados na cultura material?

•Sempre houve uma atribuição da categoria ferramenta a uma forma modificada.

•Problema – sempre existiu um repertório pouco modificado atrelado a um


repertório modificado.

•Como interpretá- lo hoje?

•(1) a quebra de materiais orgânicos (comuns aos homens e macacos)

•(2) lascamento em pedra , característica humana mas que pode ter sido inventado por
australopitecíneo

•(3) Paleolítico superior - marcas visíveis e invisíveis. Trabalharemos com as invisíveis


relativas aos materiais pouco modificados.
Há simplicidade nos objetos líticos pouco modificados quando observados à luz das técnicas do corpo?

Uma série de blocos de moer tem sido identificados há 18.000 AP em Arbhen Land, Austrália. Uma série de outros instrumentos se
espalham - instrumentos de alisamento, polidores, ferramentas para polir e alisar a superfície de outras ferramentas, triturar material
orgânico, moer semente secas.

Todos os gestos técnicos foram realizados a partir de artefatos encontrados em Isturitz, Pirineus (data)
Deste modo: O que os instrumentos invisíveis podem nos dizer?

• Não há razões para n assumir que a moagem de plantas, tal qual o


processamento animal ou mineral já n estivesse sendo praticado;

• Mais recentemente análises tem demonstrado que a moagem de grãos


selvagens tem sido praticada na Austrália há 30.000 AP (Fullagar & Field
1997).

• Análises de espectrometria de massa tem permitido a identificação de


resíduos orgânicos ricos em celulose e pobres em proteínas (JONES, C. 1990)

• Estes artefatos são blocos sem bordas ou cantos, o que significa que cestos
ou folhas deveriam serem colocados para coletar os produtos de moagem.
ROUBERT, C. 1990.
Conclusão:
Embora não necessitem de qualquer investimento técnico, estas ferramentas simples
são parte integrante de um sistema operativo complexo.

• Os artefatos são modificados? não!

• Há modificação na postura corporal: sim!

• Neste ponto aparece uma nova ação que interfere na


maximização do ganho:

• – o movimento de vai e vem –

• com ambas as mãos , implica uma nova postura ajoelhando-se


antes de moer.
Implicações:
1. Simplicidade é mais aparente que real;

2. A noção de simplicidade é problemática porque depende do jeito que é


visto;

3. A ferramenta é considerada simples em relação a outra, elaborada;

4. As ferramentas simples foram consideradas produtos in natura em oposição


aos transformados;

5. E por fim, o problema das ferramentas expeditas:

– resposta rápida a uma necessidade (Binford 1977,1979)


Bibliografia em diálogo com este eixo
• CALDERÓN DE LA VARA, V. Nota prévia sobre a arqueologia das regiões central e sudoeste do Estado da Bahia. PRONAPA,
Resultados Preliminares do 2 ano, 1966-967. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, Publicações avulsas, n.10, 1969. p.135-147.
• ________.; As tradições líticas de uma região do baixo médiosão Francisco (Bahia). Estudos de Arqueologia e Etnologia. Salvador,
Universidade Federal da Bahia, Coleção Valentin Calderón, v.1, 1983, p. 37-52.
• DIAS, A.S . Sistemas de assentamento e estilo tecnológico. Uma proposta interpretativa para a ocupação pré-colonial do alto Vale
do rio do Sinos, Tese, Mae, 2003.
• DIAS, A.S.; HOELTZ, S.E. Indústrias líticas em contexto: O problema Humaitá na arqueologia sul brasileira. Revista de Arqueologia ,
volume 23, número 2, 2010.
• LOURDEAU, Antonie. Le technocomplexe Itaparica. Définition Techno-functionelle des industries à pieces façonnées unifacialement
à une face plane dans le centre et le nord- est du Brésil pendant la transition Pléistocène- Holocène ancient. Tese (Doutorado em
pré história), 2010. Paris Ouest Nanterre, Nanterre, 2010.
• _____ .A pertinência de uma abordagem tecnológica para o estudo do povoamento pré histórico do planalto central do Brasil.
Habitus, Goiânia.v.4, n.2. p. 685-710. jul/dez.2006.
• OKUMURA,M.M.; ARAUJO,A. Desconstruindo o que nunca foi construído: pontas bifaciais Umbu do Sul e Sudeste do Brasil. III
Semana Internacional de Arqueologia MAE/USP, 2013.
• RODET et al. Reflexões sobre as primeiras populações do Brasil central “ Tradição Itaparica”. Habitus . Goiânia , vol 9 , n.1 , 2011.
• SCHMITZ, Pedro Ignácio; ROSA, André Osório; BITENCOURT, Ana Luisa Vietti. Arqueologia nos cerrados do Bra, sil Central:
Serranópolis III. Pesquisas, Série Antropologia, São Leopoldo, RS: Instituto Anchietano de Pesquisas, n.60, 2004.
• _____.Caçadores antigos no sudoeste de Goiás, Brasil. Estudios Atacamenõs. Chile: Universidade del Norte, San Pedro de Atacama, n.
8, p.16-35, 1987.
• _____ .;Caiapônia: Arqueologia nos Cerrados do Brasil Central. RS. Instituto Anchietano de Pesquisas, Unisinos. 1986. (Publicações
avulsas, n.8).
• ______. La evolucíon de la cultura em el centro y nordeste de Brasil em 14.000 y 4.000 antes del presente. Pesquisas (série
antropológica), v.32, p.7-39, 1981.
Tradição Itaparica – Brasil Central
Datas 12/11.000 AP até 9/8.000 AP
• A tradição Itaparica - caçadores e coletores da pré-história brasileira – Valentin
Calderón/1969;

• Estratos mais profundos da Gruta do Padre (BA/PE) - predominam os raspadores líticos


plano-convexos, semicirculares, ou com tendência trapezoidal, lascas sem retoques ou com
pouco retoques, pontas-faca, pontas-raspador e buris; (ABORDAGEM TIPOLÓGICA)

• Pesquisas recentes (década de 2000) demonstram que os vestígios atribuídos a esta


tradição não são os mesmos para diferentes partes do Brasil central (ABORDAGEM
TECNOLÓGICA)

• A variação observada é no investimento técnico.


• retoque unifacial e seu posterior desaparecimento) - transição, da Fase Paranaíba à Fase
Serranópolis em GO.
• Reserva de matéria prima na peça,
• Diversificação das formas.
Artefatos da Tradição Itaparica

Fonte: www.comciencia.br, artefatos provenientes da região de Serranópolis GO


A Tradição Umbu
• Segundo Okumura (...)

• Tradições e fases - Miller (1967,1974) enquanto trabalhava na região do


vale dos Sinos – 3 fases pré-cerâmicas (Camuri, Umbu e Itapuí);

• Pontas bifacias – Tradição Umbu, independente da região ou da


morfologia;

• Problemas: extensa distribuição geográfica e enorme período
abrangido.

• Datações:
• (SP) 9250+- 50 AP sítio Capelinha I (Alves, 2008).
• (Sul) 10.500 até 575 AP (Dias, 2003).
Artefatos da Tradição Umbu
Eixo 4 - Reflexões a partir do repertório lítico brasileiro: retomando a sofisticação e a simplicidade em indústrias líticas.

Bibliografia em diálogo com este eixo

• ARAUJO, A. G. M; PUGLIESE Jr, F. The use of non-flint raw materials by Paleoindians in Eastern South America: a
Brazilian perspective. In: Farina Sternke; Lotte Eigeland; Laurent-Jacques Costa (org). Non-Flint Raw Material Use
in Prehistory – Old prejudices and new directions. Oxford: Oxbow Books, 2009, v.1939, p.169-175.
• BINFORD, L R. Pursuit of the Past: Decoding the Archaeological Record. New York: Thames and Hudson, 1983.
• ______ . The Archaeology of Place. Journal of Anthropological Archaeology. v.1, 1982. p.5-31
• _______ . Organization and formation processes: Looking at curated technologies. Journal of Anthropological
Research. v. 35, n.3, p. 255-273, 1979.
• ______ . Forty-Seven Trips: A case study in the character of some formation processes of the
archaeological record. Ottawa: Musée Nationaux du Canada, Mercury Series, 1976.
• ______ . Interssemblage variability: The mousterian and the functional Argument. In: RENFREW, Colin (ed.). The
explanation of Culture Change: Models in prehistory, Proceedings of a meeting of the research seminar in
Archaeology and related subjects held at the University of Sheffield. London: Duckworth, 1973. p. 227-254.
• MILLER JUNIOR, T. Onde estão as Lascas? Revista Clio Arqueológica, n.24, vol.2, 2009.
• ______ . An archaeological perspective. New York: Seminar Press, 1972.
• SCHMITZ, P. I ROSA, A. O.; BITENCOURT, A. L. V. Arqueologia nos cerrados do Brasil Central: Serranópolis III.
Pesquisas, Série Antropologia, São Leopoldo, RS: Instituto Anchietano de Pesquisas, n.60, 2004.
• SOUZA,T. Pedras e Tintas que contam histórias: Os caçadores-coletores tardios dos Abrigos Vermelhos, MT.
Dissertação de Mestrado, MAE/USP, 2015.
Os complexos tecnológicos líticos antigos e as teorias de degeneração das técnicas: Interpretações

PROBLEMAS - Ao lado destes sistemas tecnológicos formalizados há industrias baseadas em formas e volumes naturais (Lourdeau,
2010).

Processos de regionalização: O que não se encaixa dentro destes complexos tecnológicos foi denominados processos de
regionalização (Bueno, 2009).

Figura 1 -Artefatos da Tradição Itaparica RN segundo Martin, 1997. Figura 2 – Artefatos da tradição Umbu, Paraná
( MILLER JUNIOR, Tom. Onde estão as Lascas? Revista Clio Arqueológica, n.24, vol.2, 2009.
Regionalização: As classificação fragmentárias e o olhar do outro sobre as
coleções

O PESAR DAS TIPOLOGIAS:

“Consideradas lascas irregulares com


poucos retoques, largas e grossas, com a EXCLUSÃO DA CATEGORIA ARTEFATO:
presença discreta de lâminas e sem face “ Aleatoriedade de aproveitamento de detritos de
externa facetada por um trabalho anterior de lascamento e fragmentação da debitagem para a
núcleo” (Schmitz et al. 2004, p. 172). produção de suportes improvisados ou ocasionais
(Fogaça 1997, p.74-77).”
As influências sobre as classificações líticas brasileiras: A escola Americana e Francesa
A escola Americana: Principal modelo utilizado na explicação da mobilidade de grupos

Definição de expediência lítica


“ artefatos com pouca especificidade formal e pouca elaboração técnica, de uso circunstancial de objetos conforme a necessidade, disponibilidade
e aproveitamento de matérias-primas” (BINFORD, 1979, p.264-266).

Síntese: oposição entre expediência e curadoria

Curadoria: valor positivo – ferramentas ou conjuntos tecnológicos utilizados para diversas tarefas seriam manufaturados em antecipação de uso,
transportados de local para local e reciclados para outras tarefas que não a de projeção inicial

Expediência: valor negativo - utilizadas para a necessidade do momento e no registro arqueológico deveriam produzir conjuntos tecnologicamente
mais simples e formalmente menos padronizados

Contribuições: Estes modelos obtiveram o êxito em substituir a intepretação destes artefatos como fruto de uma involução técnica ou
degeneralização das habilidades dos artesãos (Parry & Kelly, 1987, p.295).

Problemas: considerar este tipo de registro arqueológico oportunístico e extrapola para realidades brasileiras modelos de interpretação de
formação do registro arqueológico a partir de estudos entre os Nunamiut (Canadá).

A Escola Francesa - Principal influência na formulação de classificações líticas brasileiras.

Síntese: racionalidade na produção tecnológica lítica conforme o olhar do arqueólogo sobre extensas cadeias operatórias de modo que é muito
forte a tradição arqueológica da evolução das técnicas.

Contribuições – Substituir uma visão em que os passos evolutivos das técnicas são únicos

Problemas – Sem a detecção dos suportes de produção, admite-se que estes processos não são tecnologicamente eficientes, criando-se
assimetrias entre os repertórios líticos altamente formalizados e não formalizados.
•  
Onde estão as lascas? (MILLER, 2009:7)
Características da maioria das indústrias líticas brasileiras durante o holoceno médio e recente:

• As técnicas de lascamento são curtas seqüencias e são pouco estudadas;

• Algumas técnicas não exigem treinamento ou prática e relativamente pouco esforço são consideradas inferiores;

• Peças diferentes selecionadas a partir da mesma pilha para tarefas diferentes não é consideradas tecnologia,

Problemas:
• A tradição arqueológica evolucionista não funciona para nossa realidade. De fato a maior parte dos artefatos em conjuntos arqueológicos consistem em
curtas seqüencia de produção;

• O conceito de curadoria versus expediência lítica viciou o olhar do arqueólogo sobre como classificar as indústrias líticas, descartando tudo que não fosse
considerado curado.

• Pesquisadores olham ou esforço empreendido na elaboração de um artefato lítico ou a maior facilidade de enquadrá-lo em tipologias prontas.

Necessidade:

• Não encaixar o instrumento numa tipologia formal já convencionada na Europa, E.UA, África ou qualquer lugar. (Miller, 2009, p.34-35);

• Discutir as causas ou razões da existência deste tipo de repertório artefatual a partir de sua própria composição.

• Considerar o contexto local de produção em que o instrumental lítico está contido;

• Necessidade de estudos etnoarqueológicos voltados para contextos de produção deste tipo de repertório artefatual no Brasil.
DETALHE DE MICROSEQUÊNCIAS DE LASCAMENTO

A – Arenito rico em óxido de ferro B – Sílex com nódulos / incrustações

C- Seixos com reserva cortical D- Sequências, não se encaixam


Conclusões sobre o estudo da tecnologia em contexto:

• De uma área externa (4.000 AP), a maior parte das atividades começam a
se desenvolver em uma área interna com a visualização dos signos
parietais a partir de 3.400 (AP) (datação das estruturas de combustão)

Interpretação e as relações com a expediência lítica:


Não se trata de:
Decréscimo marcado pelas condições ambientais;
Má qualidade de matéria-prima;
Decréscimo de mobilidade territorial,

Hipótese - modificações na produção material em função das modificações


simbólicas do lugar.
Por que processos simbólicos de alta performance coexistem ao
lado de sistemas tecnológicos de baixa performance simbólica?

Foto: Denis Vialou, S/D


Coleção Lítica do Abrigo de Itapeva (SP)

Foto: Tatiane de Souza, 2016


Testando uma hipótese: A interação entre
registros arqueológicos diferentes.
• Hipótese de que haja
interação entre
registros arqueológicos
distintos
• Lítico como parte de
aproveitamento de
processamento de arte
rupestre

Fotos: Tatiane de Souza, 2016.


Agradecimentos
• CAPES e FAPESP incentivo à pesquisa.

Você também pode gostar