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GOSTEI DEMAIS DESTAS AFIRMAÇÕES: Então, somos todos parcialmente criados por nossos genes, a natureza

funcional de nossos cérebros evoluídos e as circunstâncias sociais que coreografaram


nossos cérebros e nossa expressão genética (Belsky & Pluess, 2009; Slavich & Cole, VER COMPETIÇÃO POR PRESTÍGIO E REPUTAÇÃO, P. 32.
2013). Nós não escolhemos nada disso! PÁGINA 21. IMAGINAR O MELHOR SELF POSSÍVEL, P.38
COMECEI A LER EM 3/10/2022 E TERMINEI EM 13/10/2022, APROVEITANDO DIVERSOS TRECHOS PARA MEU CURSO DE
ESCRITA LITERÁRIA.
Este documento trata-se de uma tradução não-profissional do artigo “The origins and nature of compassion
focused therapy”, de Paul Gilbert. A tradução foi realizada por Carlos Alberto Dorneles Nonnenmacher,
estudante de Psicologia da Universidade Feevale. A tradução visa apenas a divulgação do conhecimento
científico e da TFC. Qualquer consideração: carlosdornelesn@gmail.com.

British Journal of Clinical Psychology (2014), 53, p. 6-41

As origens e a natureza da terapia focada na compaixão


Paul Gilbert
Mental Health Research Unit, Asbourne Centre, Kingsway Hospital, Derby, UK

A terapia focada na compaixão (TFC) está enraizada em uma análise evolucionista e funcional de
sistemas básicos de motivação social (e.g., viver em grupos, formar hierarquias e rankings, buscar
parceiros sexuais, ajudar e compartilhar com aliados e cuidar de iguais) e diferentes sistemas
emocionais funcionais (e.g., responder a ameaças, buscar recursos e estados de
contentamento/segurança). Além disso, cerca de 2 milhões de anos atrás, os (pré-)humanos
começaram a evoluir uma série de competências cognitivas para a racionalização, reflexão,
antecipação, imaginação, mentalização e criação de um senso de self socialmente contextualizado.
Essas novas competências podem causar grandes dificuldades na organização de motivações e
sistemas emocionais arcaicos. A TFC sugere que nosso cérebro evoluído é, portanto,
potencialmente problemático por conta de seu “design” básico, sendo facilmente induzido a
comportamentos destrutivos e problemas de saúde mental (chamamos isso de “cérebro
complicado”, “tricky brain”). Contudo, mamíferos e especialmente seres humanos possuem
também motivações e emoções evoluídas para o comportamento afiliativo, de cuidado e altruísmo
que pode organizar nosso cérebro de maneira a se distanciar significativamente de nossos
potenciais destrutivos. Assim, a TFC salienta a importância de desenvolver a capacidade das
pessoas de acessar (de maneira mindful), tolerar e direcionar motivações e emoções afiliativas
para elas mesmas e os outros, além de cultivar a compaixão interna como uma maneira de
organizar nosso “cérebro complicado” de formas pró-sociais e mentalmente saudáveis.

Pontos relevantes para o profissional


 O cérebro humano é altamente evoluído para o processamento social e esses
mecanismos estão sendo cada vez mais compreendidos e integrados em
psicoterapia.
 Entre os processos centrais que regulam a emoção e o senso de self, estão aqueles
ligados aos papéis sociais como status, senso de pertencimento e afiliação e
cuidado.
 Muitas dificuldades psicológicas têm raízes em problemas de relacionamento
social, especialmente em ser cuidado por outros, ter um cuidado e interesse pelos
outros e ter uma orientação cuidadosa/afetuosa e afiliativa consigo mesmo.
 Ajudar clientes nesses domínios possibilita trabalhar em problemas de humor,
comportamento problemático e uma série de dificuldades baseadas na vergonha e
autocriticismo.

Nossos problemas surgem do fato de que não sabemos o que somos e não
conseguirmos concordar sobre o que queremos ser. A causa primária dessa
falha intelectual é a ignorância sobre nossas origens. Nós não chegamos a este
planeta como alienígenas. A humanidade é parte da natureza, uma espécie
que evoluiu entre outras espécies. Quanto mais próximos nos identificarmos
com o resto da vida, mais rapidamente estaremos aptos a descobrir as origens
da sensibilidade humana e adquirir o conhecimento sobre o qual uma ética
duradoura e um senso de direção podem ser construídos. (E.O. Wilson, 1992,
p. 332)

Este artigo delineia a base científica e os princípios por trás do desenvolvimento da terapia
focada na compaixão (TFC). Ele não discutirá detalhes do processo terapêutico ou a
evidência para a terapia (mas veja Gilbert, 2010, 2012). A TFC surgiu do crescente
reconhecimento de que:

1. O cérebro humano é um produto da evolução e pode ser compreendido em


termos darwinianos da “seleção funcional” (Buss, 2009; Panksepp, 2010), da
mesma forma que muitos problemas de saúde mental (Gilbert, 1989, 1992;
McGuire & Troisi, 1998; Nesse, 2005).

2. O cérebro humano é particularmente formatado e evoluído para o


processamento social e é altamente coreografado através das relações, tornando
os antigos e atuais contextos sociais centrais para o entendimento dos problemas
de saúde mental. Relacionamentos baseados em afeto e carinho demonstram
muitos efeitos psicológicos e fisiológicos positivos, até mesmo quanto à expressão
de genes (Cozolino, 2007, 2008, 2013; Siegel, 2012; Slavich & Cole, 2013).

3. A relação que temos com nós mesmos, especialmente nas formas de vergonha
(Kim, Thibodeau, & Jorgensen, 2011) e autocriticismo (Kannan & Levitt, 2013),
sustentam uma alta gama de problemas de saúde mental (Gilbert & Irons, 2005).

4. Apesar das recentes capacidades cognitivas dos seres humanos poderem


desempenhar um papel fundamental nos gatilhos e na manutenção de problemas
de saúde mental (Beck, 1987; Beck, Emery, & Greenberg, 1985), a questão é
como tais competências influenciam e são influenciadas por motivações sociais e
emoções que evoluíram há muito tempo atrás (Buss, 2009; Gilbert, 1984, 1989,
1992, 1995, 1998b, 2013; Knox, 2003; Nesse, 2005).

5. O treinamento em compaixão pode ter uma alta gama de benefícios fisiológicos


e psicológicos (Desbordes et al., 2013; Jazaieri et al., 2013; Weng et al., 2013), e
muitos benefícios terapêuticos (Hoffmann, Grossman, & Hinton, 2011), incluindo
para pessoas com severas dificuldades de saúde mental (e.g., Braehler et al.,
2013).

Fatores evolutivos que corroboram com o surgimento de psicopatologias estão


relacionados a sistemas básicos de motivação (sexo, status, apego), que organizam a
mente e guiam animais a buscar recursos específicos e evitar ameaças ao longo do
caminho. Emoções como excitação e prazer ou medo, raiva, paranoia e depressão
fornecem direção para motivações e estão intimamente ligadas a elas (Buss, 2009;
Gilbert, 1989; Panksepp, 2010). Os sistemas motivacionais envolvem competências para
o processamento de informação de forma congruente às metas daquela motivação. Então,
por exemplo, para comer, os animais precisam detectar e distinguir entre comida e
veneno. Motivações sexuais requerem uma habilidade de perceber, rastrear e processar
sinais específicos que indiquem oportunidades sociais – ter um desejo sexual, mas
nenhuma ideia do que irá satisfazê-lo, não é realmente muito útil! Sistemas de apego
requerem mecanismos atencionais que sejam sensíveis à proximidade de cuidar de outros
e sistemas fisiológicos que reajam a sinais de carinho, como segurar, aconchegar e afagar,
ou a separação ou ausência dos mesmos. Os problemas de saúde mental estão comumente
ligados a diferentes sistemas de motivação social e seu processamento heurístico (Gilbert,
1989), por vezes referidos a partir de uma “especificidade de domínio” (Buss, 2009;
Nesse, 2005). Esses problemas podem estar relacionados à alta ou baixa ativação em
qualquer um desses sistemas, a forma como eles se co-regulam, misturam-se ou foram
maturados. Por exemplo, os desejos sexuais podem se misturar com afeto e carinho ou
com motivações mais dominadoras e baseadas em poder (Gilbert, 1989).

Sistemas motivacionais na relação interpessoal

Há um grande número de sistemas de motivação social, funcionalmente específicos, que


estão implicados nos problemas de saúde mental (Buss, 2009; Gilbert, 1989; Nesse,
2005). Por exemplo:

1. Competição e ranking social. A competição por recursos envolve motivações e


competências para envolver outros em interações de disputa/conflito, visando coisas
como território, alimento, oportunidades sexuais e posição/ranking social (Barkow,
1989; Johnson, Leedom, & Muhtadie, 2012). Entre elas, está o monitoramento de
competências em relação a outros e suas habilidades e intenções, de forma que “o
mais fraco” desista da competição e raramente instigue conflito com “o mais forte”
(Gilbert, 2000a). A comparação social é, assim, um dispositivo muito antigo no
processamento de relações baseadas em domínios de inferior-superior, e, no caso dos
seres humanos, está ligado a orgulho-vergonha, assertividade e autocriticismo
(Gilbert, 1992, 2009). Motivações competitivas bem-sucedidas estão ligadas a
assertividade/confiança social, e excitação com vitórias sociais/sucesso, mas, em
casos de fracasso ou perda, estão ligadas à disforia e ansiedade (Barkow, 1989;
Gilbert, 1992; Price, 1972). Estados de derrota estão associados a estados depressivos
de ameaça aumentada e emoções bloqueadas de drive em humanos e outros animais
(Gilbert, 1992, 2006; Gilbert & Allan, 1998; Sturman, 2011; Taylor, Gooding, Wood,
& Tarrier, 2011), indicando sistemas regulatórios de um “cérebro antigo” para esses
estados de humor e de relação social (Johnson et al., 2012).
Hierarquias e rankings socialmente construídos (e.g., ricos vs. pobres, opressão)
têm um enorme impacto na qualidade de vida e na saúde psicológica e física (Kraus,
Piff, Mendoza-Denton, Rheinschmidt, & Keltner, 2012; Sachs, 2012; Wilkinson, &
Picket, 2010). Atualmente, é reconhecido que problemas de saúde mental podem
surgir a partir da maneira como esses sistemas motivacionais focados em ranking
operam em certos contextos (Johnson et al., 2012; Wilkinson, & Picket, 2010), e que
tanto o contexto quanto o “sistema de motivação interna” podem ser problemáticos.
Grupos também competem entre si, o que pode influenciar no surgimento de
violência tribal e comportamentos destrutivos intensos para com pessoas de fora
(Sidanius & Pratto, 2004; Van Vugt & Park, 2009). A História humana está repleta
com episódios de intensa crueldade, limpeza étnica e escravidão. Novamente, não é
apenas o sistema motivacional competitivo que torna isso possível (Sidanius &
Pratto, 2004), mas a maneira como os contextos sociais podem hiperestimular esses
sistemas, até mesmo cultivando o “ódio por intrusos” (Gay, 1995). E, quanto ao
sentimento de baixo ranking social, perceber-se como parte de um grupo inferior,
excluído ou estigmatizado pode ser a fonte de medo, paranoia e vergonha (Gilbert,
2007). Com efeito, muitas formas de ostracismo estão associadas a emoções
dolorosas e uma variedade de efeitos fisiológicos prejudiciais (Wesselmann,
Williams, & Hales, 2013). Então, as motivações sociais e os mecanismos mentais
que possibilitam as relações através da hierarquia social em uma mão, e as relações
de dentro e fora do grupo em outra, são fontes potenciais de dificuldades humanas,
especialmente quando são ativadas e acentuadas por contextos sociais e a aquisição
de certas crenças pessoais.

2. Cooperação/compartilhamento. “Fazer as coisas juntos” e coordenar ações com


outros (como formigas construindo ninhos ou animais caçando) traz benefícios
evolutivos enormes. Essas motivações evoluídas e seus sistemas de monitoramento
são atualmente evidentes em humanos. Eles são experimentados como desejos de se
tornar membro de um grupo/time, com um senso de pertencimento e conexão
(Baumeister & Leary, 1995; Cacioppo & Patrick, 2008), com uma mudança do foco
do “eu” para o “nós” (Crosier, Webster, & Dillon, 2012). O desejo de ser prestativo
e contribuir na resolução de problemas para os outros começa em crianças pequenas
(Warneken & Tomasello, 2009). Aqui também, nós precisamos de sistemas de
processamento que possam monitorar nossas interações com os outros, sobre o que
pensamos que os outros precisarão de nós. Nós também monitoramos o dar-e-
receber, para evitarmos sermos explorados ou trapaceados, o que pode resultar em
desvantagem ou rejeição. Assim, a cooperação também cria desejos por
equidade/justiça, que são as bases para alguns códigos morais e éticos (Batson, Turk,
Shaw, & Klein, 1995). A cooperação afiliativa é a chave para as amizades, e as
amizades podem sucumbir quando as pessoas sentem que estão sendo exploradas ou
trapaceadas (Bagwell & Schmidt, 2013). Os seres humanos, dessa forma, possuem
interesse e diversos mecanismos para monitorar seu senso de pertencimento e
aceitação em relacionamentos. Quando nos sentimentos não desejados, não
pertencentes, ou perdemos sinais sociais indicativos de conexão e valorização,
podemos experimentar sérios problemas com um senso de ameaça, solidão,
ansiedade e depressão (Cacioppo & Patrick, 2008; Wesselmann et al., 2013).

3. Cuidado e alento. O autocuidado é central para a vida em si. Os indivíduos buscam


comida para si mesmos e protegem-se do perigo, além de cuidarem da higiene e da
aparência. Contudo, o cuidado que é especialmente importante aos humanos veio
com a evolução do apego mamífero – as motivações e competências por cuidar de
outros (Bowlby, 1969; Wang, 2005). Estas incluem ser sensível aos sinais de angústia
nos outros (e.g., crianças pequenas) e agir para aliviar essa angústia (Bowlby, 1969;
Fogel, Melson, & Mistry, 1986); prover as necessidades dos outros e expressar amor
e carinho (como para crianças/parentes; Heard & Lake, 1988); interessar-se pelo
bem-estar de outros com comportamentos pró-sociais (Eisenberg, 2002; Penner,
Dovidio, Piliavin, & Schroeder, 2005), altruístas e prestativos (Warneken &
Tomasello, 2009). Cuidar dos outros utiliza habilidades e competências similares
com o cuidar de si mesmo (Gilbert, 1989).

O cuidado humano utiliza competências de empatia/simpatia (Decety & Ickes,


2011; Loewenstein & Small, 2007), teoria da mente e mentalização (Fonagy,
Gergely, Jurist, & Target, 2002). O cuidado, então, envolve estar motivado para
proteger, resgatar, apoiar e ajudar, mas também nutrir o crescimento e florescimento
do self e dos outros (Fogel et al., 1986). Em muitas pesquisas, cuidar e ser prestativo
para os outros é visto como uma das mais importantes motivações e valores pessoais,
oferecendo fontes de significado e prazer na vida. Em contrapartida, o sentimento de
que não temos nada a contribuir e de que “não somos desejados por ninguém” pode
ser uma fonte de depressão (Gilbert, 1984). A evolução do cuidado também propiciou
o surgimento de mecanismos para monitorar falhas no cuidado ou prejuízos
causados. Se nós fomos (não intencionalmente) prejudiciais, podemos experienciar
culpa e remorso, que evoluíram como um sistema de evitação por “causar-mal” no
contexto de cuidado e é bastante diferente da vergonha (Gilbert, 2007). A capacidade
de processar e tolerar a culpa (tristeza, pesar e o remorso pelos prejuízos causados) e
se engajar em ações reparadoras são importantes para nossos relacionamentos de
afiliação (Gilbert, 1998a, 2007; Kim et al., 2011; Tangney & Dearing, 2002) e o
cultivo da compaixão (Gilbert, 2009).

As habilidades para ser sensível às necessidades dos outros variam enormemente


de pessoa para pessoa e estão ligadas a diversos fatores, como variações genéticas e
competências cognitivas (mentalização, processos empáticos, “mindfulness social”)
e dimensões da personalidade como amabilidade (agreeableness) (Van Doesum, Van
Lange, & Van Lange, 2013), relações de cuidado, dominância social e motivações
maquiavélicas (Niemi & Young, 2013). Pessoas com dificuldades do espectro de
Asperger podem ter muitas dificuldades no processamento desses tipos de sinais
sociais (Baron-Cohen, 2012). Problemas no processamento de necessidades ou da
angústia nos outros pode ter um efeito profundo nos relacionamentos sociais em geral
(Liotti & Gilbert, 2010). Pessoas com dificuldades psicopáticas, contudo, podem ter
competências sociais para a empatia, mas faltam-lhes a motivação para o cuidado.
Obviamente, esse sistema motivacional social de conceder cuidado, com suas
respectivas competências para a empatia, é essencial à compaixão (Gilbert, 2009).

4. Buscar e responder ao cuidado. Os benefícios de receber cuidados são tão grandes


que mamíferos, em particular, desenvolveram motivações e competências para
buscar e obter cuidados, além de serem responsivos ao serem cuidados, ajudados,
apoiados e encorajados por outros. Isso se relaciona a formas de apego e proximidade
interpessoal (Bowlby, 1969, 1973; Cozolino, 2007, 2013; Mikulincer & Shaver,
2007), afiliação e senso de conexão (Cacioppo & Patrick, 2008; Wang, 2005).
Atualmente, há evidências consideráveis de que o cuidado e o afeto recebidos no
início da vida têm uma enorme gama de efeitos na maturação de processos genéticos,
fisiológicos e psicológicos (Belsky & Pluess, 2009; Siegel, 2012; Slavich & Cole,
2013; veja abaixo). Ao receber ajuda de outros, o sujeito pode experienciar a
apreciação e a gratidão, no caso de recursos materiais, e também experienciar
reafirmação, sentimentos de segurança, calma e alívio ao receber cuidado afetivo
diante da angústia.

Análise Funcional Evolucionista (EFA)

Há outros sistemas motivacionais, como o sexual, e outros meios de descrevê-los,


mas o ponto principal é que, ao refletirmos sobre a motivação como produto da evolução
e os sistemas emocionais que guiam seu processamento, chegamos ao que é chamado de
EFA – a consideração das funções evoluídas de diferentes sistemas e como elas
respondem a diferentes contingências e contextos, o que acarreta em variações fenotípicas
(Belsky & Pluess, 2009; Buss, 2009; Confer et al., 2010). De fato, a maioria dos modelos
de psicoterapia são baseados em algum tipo de epistemologia funcional evolucionista.
Freud cunhou o termo “id” e descreveu funções de vários impulsos inatos, enquanto Jung
proclamou um “inconsciente coletivo” herdado e descreveu a função de vários arquétipos
significativos (Ellenberger, 1970; Knox, 2003). A abordagem da terapia comportamental
para a ansiedade foca nas funções e formas de estratégias defensivas inatas (Marks, 1987),
enquanto as terapias cognitivas discutem mecanismos subjacentes evoluídos de defesa à
ameaça (e.g., luta, fuga, congelamento) que podem ser estimulados e regulados via
cognição (e.g., Beck, 1987; Beck et al., 1985).
A terapia focada na compaixão adaptou e integrou conceitos da teoria junguiana
de arquétipos e conceitos evolucionistas de modularização e encapsulamento com teorias
da motivação para sugerir o conceito de mentalidades sociais (Gilbert, 1989, 1993,
2005b). Essa abordagem distingue entre sociais e não-sociais as nossas motivações,
estratégias e seu sistema de processamento principal. Então, por exemplo, há uma grande
diferença entre interagir com algo que é ameaçador mas não possui uma mente (como
uma onda se aproximando, a ausência de comida ou o escalar de uma montanha) e não
irá mudar de acordo com as suas ações, em contraste à interação e resposta a algo que tem
uma mente e mudará de momento em momento dependendo de como você agir, como se
estivesse em uma espécie de dança com você – como nas interações entre predador e
presa.

Em contextos sociais intraespécies, “processar a mente do outro” é mais complexo


do que a relação predador-presa (Baron-Cohen, 2012). Um submisso pode
inadvertidamente (e.g., com um olhar) estimular a agressão do dominador e deve, então,
tentar demonstrar uma postura submissa para acalmar o dominador. Ele(a) deve monitorar
cuidadosamente a efetividade da sua postura submissa e os comportamentos defensivos
subsequentes – conhecer as regras (Gilbert, 2000a). Posturas submissas não são úteis para
o predador. Uma criança demonstra aflição e o pai responde em maneiras designadas para
resgatar ou acalmar a criança; o pai pode, então, continuamente monitorar a efetividade
do seu comportamento de cuidado enquanto os sinais da criança mudam, para então
mudar seu próprio comportamento, se necessário. Então, sinais específicos do indivíduo
engatilham respostas no outro, como uma dança. Crianças com dificuldades do espectro
autista podem enfrentar dificuldades para interpretar sinais faciais e, particularmente, o
olhar como sinais afetivos, interpretando-os como ameaça e, assim, tendo menos
habilidades para processar e sentir segurança a partir desses inputs sociais. Foi justamente
para capturar essa ideia de mudança interna constante nos indivíduos, decorrentes das
interações e contextos sociais e que requerem monitoramento específico de sistemas de
processamento especializados, que eu cunhei o termo mentalidade social (Gilbert, 1989,
2005b, 2009).

As mentalidades sociais estão enraizadas em sistemas motivacionais inatos, os


quais, quando ativados, organizam uma gama de funções psicológicas como atenção,
emoção, cognição e comportamento para a busca de seus objetivos. Eles também
preparam o indivíduo para posturas comunicativas e interacionais e relacionamentos
recíprocos (Gilbert, 1989, 2005a, 2010). Por exemplo, a maneira como nossa atenção,
pensamento, emoções e comportamento estão organizados quando estamos buscando
uma oportunidade sexual será bastante diferente de quando estamos buscando o cuidado
de alguém, que por sua vez será diferente de quando estamos orientados para objetivos
competitivos, de “eu-primeiro”, ou buscando vingança de nossos inimigos. Indivíduos
motivados por “dominação social” podem demonstrar menos cuidado para com outros e
legitimar comportamentos abusivos (Sidanius & Pratto, 2004). Niemi e Young (2013)
descobriram que aqueles com maior motivação para a dominação social tendem a ser
menos pró-sociais e mais orientados à autoridade, em contraste a pessoas que estão mais
orientadas para o cuidado. Então, a organização daqueles sistemas motivacionais sociais
(mentalidades sociais) cria maiores diferenças individuais, com implicações para o
comportamento social e a vulnerabilidade para criar (nos outros e em si mesmo)
problemas de saúde mental. O principal em uma mentalidade social é que o self está
construído de uma forma e “o outro” está construído de acordo à mentalidade social sendo
almejada. Então, as emoções e cognições coordenadas pela mentalidade emergem do
fluxo (dança), factual ou imaginado, de interações entre os participantes. A TFC foca nos
sistemas de processamento contextual e relacional e reconhece que, às vezes, esses
sistemas motivacionais podem estar operando fora de nossa consciência. Alguns
exemplos são oferecidos na Tabela 1.

Assim, diferentes mentalidades sociais organizam nossas mentes de diferentes


formas e estão conectadas a sistemas de processamento especializados. Por exemplo, ver
uma pessoa chorar pode ser prazeroso se eu estou motivado a machucá-la, mas
angustiante se estou tentando cuidá-la; ver uma pessoa feliz por um sucesso é prazeroso
se eu me importo com ela, mas pode criar raiva invejosa se eu estou em uma mentalidade
competitiva. Então, nossas reações a eventos sociais dependem do contexto e da
mentalidade social a partir da qual estamos sentindo e nos relacionando com o mundo
social das mentes dos outros.

Problemas relacionados a competências sociais de comunicação, como a leitura


de expressões faciais ou de tons de voz, podem ser significativos para pessoas com
problemas de saúde mental. Ser capaz de interpretar acuradamente e responder
apropriadamente a esses sinais sociais é essencial para a maneira como regulamos nossas
próprias emoções, as emoções de outros e a relação em si. Compreender o impacto dos
Tabela 1. Um breve guia às mentalidades sociais

Associado com
Percebendo ou sentindo Percebendo ou ameaças/medos
o self como sentindo o outro como conscientes ou
inconscientes
Necessitando input de Fonte de: cuidado, Indisposição,
outros: cuidado, proteção carinhosa, retraimento, recusa de
Busca por cuidado proteção, reafirmação, reafirmação, cuidado, ameaça
estimulação, orientação estimulação e abusiva, relações nocivas
orientação

Fornecimento de Provedor de: proteção, Receptor de: cuidado, Esgotamento,


cuidado segurança, reafirmação, proteção, segurança, incapacidade de prover,
estimulação, orientação estimulação, orientação foco nas ameaças, culpa

Valorizado pelos outros, Valorizador das Trapaça, subvalorização


Cooperação compartilhador, contribuições, ou falta de reciprocidade,
apreciador, contribuidor compartilhador, rejeição/vergonha
e prestativo recíproco, apreciador

Inferior-superior, mais- Inferior-superior, mais- Subordinação


Competição menos poderoso, menos poderoso, involuntária, vergonha,
danoso/benevolente danoso/benevolente marginalização, abuso

Motivação Sexual Atraente, desejável Atraente, desejável Sem atração, indesejável

Adaptado de P. Gilbert (1992). The Evolution of Powerlessness. Londres, ING: Psychology Press.

nossos próprios sinais sociais na mente de outros é importante para o relacionamento


social adaptativo. Por exemplo, se estamos com raiva, podemos escolher por não
demonstrar isso na voz ou na expressão facial, por conta do impacto que pode ter em
outra pessoa. Isso está ligado a habilidades de mentalização, das quais algumas pessoas
podem enfrentar dificuldades em realizar (Fonagy et al., 2002).

Diferentes mentalidades sociais também apresentam diferentes padrões de


cognição. Por exemplo, a empatia é mais difícil quando as pessoas se sentem ameaçadas,
e nos sentimos ameaçados em diferentes papéis sociais (Liotti & Gilbert, 2010). Perceba
também que as pessoas podem se sentir mais ameaçadas quando não são empáticas (ou
lhes faltam habilidades de mentalização), de forma que as mentes das outras pessoas
podem parecer confusas e imprevisíveis – daí o valor do treino em mentalização (Fonagy
et al., 2002). A empatia e a mentalização desempenham papéis muito importantes no
funcionamento das mentalidades sociais, mas essas competências também podem variar
de acordo com o contexto. O sujeito que é capaz de mentalizar em um contexto
competitivo e conjecturar o que seu oponente pode estar pensando, sentindo ou prestes a
fazer pode ser bem menos competente no papel de oferecer cuidado ou receber cuidado
(Liotti & Gilbert, 2010). A compaixão também tem seus facilitadores e inibidores. É mais
fácil ser compassivo com aqueles que conhecemos, aqueles que são parecidos conosco e
aqueles de quem gostamos/amamos, em contraste com estranhos, aqueles que parecem
diferentes e aqueles de quem não gostamos ou até mesmo odiamos. Então, a maneira
como experienciamos nossos relacionamentos influencia não apenas nossas motivações
e sentimentos, mas também a maneira como processamos as necessidades e mentes das
outras pessoas (Loewenstein & Small, 2007).

Já que as mentalidades sociais são focadas em papéis sociais, elas são nucleares
para nossas identidades sociais. Além disso, a motivação subjacente à identidade pessoal
tem implicações no bem-estar. Há evidências de que diferentes objetivos/papéis da
identidade autofocada (compassiva vs. focada em objetivos egocêntricos) obtém
resultados bastante diferentes na qualidade das relações sociais (Crocker & Canevello,
2008) e em sintomas de depressão e ansiedade (Crocker, Canevello, Breines, & Flynn,
2010). Na teoria das mentalidades sociais, objetivos/papéis focados no self/ego fazem
parte do sistema competitivo e frequentemente focam na obtenção de reconhecimento e
na evitação da vergonha e subordinação involuntária (Gilbert et al., 2007). Um aumento
no materialismo, individualismo e competitividade às custas do interesse e zelo por outros
pode estar relacionado a problemas psicológicos e sociais, especialmente na juventude
(Twenge et al., 2010). As pessoas que endossam fortemente valores materiais também
tendem a experienciar menor bem-estar, mais conflitos com outros, se engajar em maior
comparação social, ser mais narcisistas e possuir menor motivação intrínseca (Kasser,
2002). A terapia pode por vezes resultar no surgimento de diferentes padrões
motivacionais – de fato, o foco no auto-treinamento compassivo procura parcialmente
fazer isso. A TFC sugere que padrões motivacionais ligados à identidade social têm
implicações para o bem-estar subjetivo.

O foco nas motivações sociais está relacionado a outras teorias motivacionais. Por
exemplo, há alguns anos, Deci and Ryan (1985; Ryan & Deci, 2000) integraram temas
sobre a motivação e chamaram isso de teoria da autodeterminação. Eles focaram em três
necessidades primárias, de competência, autonomia e relacionamentos, e fizeram
distinções entre a motivação intrínseca e extrínseca. Elas focam no processo motivacional
e não no conteúdo da motivação, mas o conteúdo (i.e., se é de cuidado, competitiva,
cooperativa ou sexual) influenciará em quais competências serão utilizadas para o
processamento da informação.

A motivação intrínseca está ligada àquilo que é inerentemente recompensador e


prazeroso de fazer, enquanto a motivação extrínseca refere-se ao valor instrumental das
ações – então, a tarefa em si pode não ser prazerosa de realizar, mas os resultados futuros
podem ser ou evitarão punição/prejuízos. Essas dimensões interagem claramente com as
mentalidades sociais. Por exemplo, quando o fornecimento de cuidado é percebido como
obrigatório, ou quando as necessidades do outro excedem os recursos que o cuidador quer
oferecer, ou quando parecem estar além de suas competências, ou quando pode haver
consequências negativas se não oferecer cuidado suficiente (e.g., criticismo de outros),
tudo isso pode ser estressante e prejudicial à saúde, além de construir uma base para a
fatiga de compaixão (Vitaliano, Zhang, & Scanlan, 2003).

A autonomia se sobrepõe com os conceitos evolutivos de ações e compromissos


voluntários e involuntários (Gilbert, 1992). Ser abraçado e amado por alguém que você
confia ou gosta é bastante diferente de receber isso de alguém que você não confia ou não
gosta, e cuidar de alguém que você gosta é diferente de cuidar de alguém que você não
gosta. Submeter-se e reconhecer sua posição inferior com relação a alguém gostado e
respeitado, ou até mesmo um deus adorado, é bastante diferente da subordinação
involuntária que é baseada em medo e ressentimento. Assim, essas dimensões são muito
importantes em uma análise de papéis sociais. É por isso que a maneira na qual o sujeito
escolhe e se identifica com papéis sociais pode ser importante. Por exemplo, se um papel
social é desejado, livremente escolhido, algo que o sujeito quer se tornar (e.g., um self
mais compassivo), combinado com o sentimento de que tem a habilidade ou competência
de desempenhá-lo, então isso terá um impacto diferente no comportamento, na emoção e
na cognição do que se o sujeito estivesse se sentindo forçado (ou no dever de) adotar um
papel no qual se sentisse despreparado. Então, é importante distinguir a compaixão como
um desejo livremente escolhido, mais do que um simples dever, e sem a presença de
punição (vergonha) por possíveis lapsos (Gilbert & Choden, 2013). A compaixão cresce
onde o sujeito tem uma compreensão sobre a natureza do sofrimento, das competências e
valor da compaixão, com oportunidades de praticá-la e ganhar confiança ao fazê-lo.
Para a TFC, a compaixão emerge de sistemas particulares e evoluídos de
motivação social e da forma como eles operaram e desenvolveram/cultivaram nas suas
interações (Gilbert, 1989, 2000a,b, 2009; Gilbert & Choden, 2013). Essas interações
podem ser com outras pessoas, mas também podem ser do self para self. Então, para
resumir, parte da base para a TFC é enraizada em:

1. A evolução de competências motivacionais, emocionais, comportamentais e


cognitivas que nos permite notar, se engajar e trabalhar para endereçar a angústia
e as necessidades do self e de outros.

2. A evolução de competências motivacionais, emocionais, comportamentais e


cognitivas sustentam a busca e a resposta ao cuidado, à ajuda, ao
compartilhamento e à gentileza.

Sistemas emocionais e compaixão

Emoções são, é claro, diferentes de motivações. Elas são mecanismos antigos que provêm
feedback de informações, momento-a-momento, para os indivíduos em situações sociais
sobre as interações entre suas motivações e o ambiente, e provêm o ímpeto para a
motivação e ação; as emoções fazem as coisas importarem (Izard, 2002; Panksepp, 2010).
As emoções têm grandes impactos no corpo, de uma maneira que as cognições sozinhas
não conseguem ter (Haidt, 2001). Seus impactos podem estar fora da consciência e elas
podem conflitar (e.g., as pessoas podem ter medo de sua raiva, e raiva/desprezo de sua
ansiedade/medo). Elas são aquilo que traz as pessoas para a terapia, aquilo nas raízes da
“experiência do sofrimento” e, em algumas abordagens, são o foco da terapia (Greenberg,
Rice, & Elliott, 1993). Muitas terapias reconhecem que é a evitação do sentimento e da
experiência das emoções (medo, raiva, tristeza ou até mesmo amor e alegria), chamada
de evitação experiencial, que contribui grandiosamente para os problemas de saúde
mental (Hayes, Follette, & Linehan, 2004). Mesmo que muitas terapias destaquem a
importância das relações (terapêuticas) no processo de mudança, a TFC destaca as
habilidades para facilitar e experienciar emoções afiliativas (via compaixão), porque elas
têm seus próprios perfis fisiológicos que facilitam a regulação de emoções temidas e
frequentemente fornecem a coragem para se engajar com as mesmas (veja abaixo).
As emoções são, é claro, mais do que experiências individuais, pois elas também
funcionam como comunicações sociais, veiculando informação sobre valores, intenções
sociais e orientações do sujeito para com outros em termos de segurança, ameaça e
necessidades (Keltner & Haidt, 1999). Então, as emoções influenciam não apenas o
comportamento da pessoa passando pela experiência, mas também aqueles que as
percebem ou recebem. Assim, emoções são parte da dança da comunicação social que
fornece a base para a co-regulação de um pelo outro.

A TFC faz uso de uma visão funcional-evolucionista da emoção – especialmente


as emoções afiliativas e suas competências. A TFC se foca em três principais funções das
emoções: (1) alertar para ameaças e ativar estratégias defensivas; (2) fornecer informação
sobre a disponibilidade de recursos e recompensas e ativar estratégias de busca-
engajamento; e (3) fornecer informação sobre segurança, permitir o repouso e a relativa
inação na forma de contentamento e abertura (openness). A maneira que esses três
sistemas regulam um ao outro é um tema central na TFC. Assim, a TFC utiliza uma
abordagem com três sistemas emocionais, baseados em uma revisão sobre as emoções
positivas e afiliativas feita por Depue and Morrone-Strupinsky (2005) e em estudos sobre
emoções baseadas em ameaça (LeDoux, 1998). Há, é claro, modelos mais complexos da
emoção (e.g, Panksepp, 2010), mas esse sistema de três partes é facilmente compreendido
por clientes que prontamente se identificam com ele e ajuda a guiar a compreensão sobre
o valor da compaixão. Nós chamamos de modelo do círculo triplo da emoção – mas
reconhecemos que é uma simplificação do que são os processos complexos da emoção
(ver Panksepp, 2010). A Figura 1 oferece uma simples representação.

O sistema de defesa-ameaça

Este é um sistema de regulação emocional que fornece habilidades de detectar e responder


à ameaça apropriadamente (LeDoux, 1998). As emoções de raiva, ansiedade e aversão do
sistema de ameaça (por vezes chamadas de “emoções negativas”) são relativamente bem
compreendidas, tanto em termos de coreografias neurofisiológicas quanto de
aprendizagem (como o condicionamento clássico, operante e aprendizagem sócio-
contextual; Panksepp, 2010). Atualmente é reconhecido que o sistema de ameaça é o
nosso sistema dominante e que ele cria o que chamamos de “viés de negatividade”
(negativity bias); ou seja, nós prestamos mais atenção, processamos e lembramos mais
facilmente de eventos negativos do que positivos – e há razões evolutivas para isso
acontecer (Baumeister, Bratslavsky, Finkenauer, & Vohs, 2001). Emoções de ameaça
podem também surgir quando uma motivação está sendo bloqueada. Por exemplo,
crianças são altamente motivadas a permanecer próximas aos seus objetos de apego, mas,
se seu acesso a ele está bloqueado, a criança se sente ameaçada e demonstra angústia (ou
o que chamamos de “aflição de protesto”). É comum as pessoas sentirem ansiedade
antecipatória em contextos onde acreditam que talvez não consigam ser bem-sucedidas
em algo que estão motivadas a conseguir. Humanos podem ser ameaçados por coisas
externas a eles, obviamente, mas também podem por fenômenos internos, como raiva,
ansiedade (ficar ansioso sobre ficar ansioso) ou fantasias intrusivas. Emoções aversivas e
estados de humor também podem surgir após a ameaça ter passado, quando o foco está
na perda ou no prejuízo causado. Observe também que os comportamentos baseados em
ameaça podem ser de ativação, como na luta e na fuga, mas também de desativação, como
o sentimento de derrota, desamparo e desespero (Gilbert, 1992; 2000a).

Drive, excitação e vitalidade Contentamento, segurança, conexão

Busca por coisas Foco na afiliação


agradáveis
Amparo/segurança
Realização e
Bem-estar
Ativação

Foco na ameaça

Busca por segurança


e proteção

Ativação/Inibição

Raiva, ansiedade, aversão

Figura 1. Os três tipos de sistemas de regulação do afeto. De P. Gilbert (2009). The Compassionate mind.
Com a gentil permissão de Constable Robinson.
Uma vez que as emoções relacionadas à ameaça são aquelas que as pessoas mais
apresentam e buscam ajuda, as terapias costumam explorar as origens e significados
ligados a essas emoções, com intervenções envolvendo algum tipo de insight,
reestruturação cognitiva, exposição, dessensibilização e/ou treino de habilidades (e.g.,
habilidades sociais). Portanto, a maioria das terapias tendem a trabalhar de maneira
relativamente direta com o sistema de ameaça em si (Gilbert, 1993). Contudo, no trabalho
com a compaixão, frequentemente precisamos trabalhar com outros sistemas de afeto
“positivo” que regulam a ameaça.

Os afetos positivos em buscar e adquirir (drive)

O que é menos comum de ser reconhecido é que há diferentes sistemas funcionais para
as emoções positivas, com funções quase diametralmente opostas! Além disso, eles
exercem papéis cruciais no processamento da ameaça e no seu enfrentamento. Depue and
Morrone-Strupinsky (2005) apontam que uma das formas de apresentação das emoções
positivas é como sendo estimulantes e ativantes – alegria, divertimento, excitação e
prazer. Uma mistura de ameaça com drive e senso de controle pode oferecer uma grande
carga de excitação (pulo de paraquedas). Geralmente, contudo, emoções positivas desse
tipo estão ligadas a maneiras de buscar e adquirir recursos (recompensas e habilidades)
que conduzem à prosperidade e ao bem-estar. Estão relacionados ao processo de “ampliar
e construir” (broaden and build), sugerido por Fredrickson (1998). Esse sistema também
está envolvido em motivações (e mentalidades sociais) competitivas, a busca pela
dominância e posição social. Está ligado ao sistema nervoso simpático. Quando
contingências ambientais são excessivas, a ativação desse sistema de emoção positiva
pode também ser excessiva ou até mesmo hipomaníaca. Então, por exemplo, ganhar uma
loteria de £10 vai proporcionar um efeito fisiológico bastante diferente do que ganhar
uma de £100,000,000! O ponto é que indivíduos (até mesmo indivíduos mindful) teriam
grande dificuldade de controlar a resposta dopaminérgica em seu corpo, de dormir por
alguns dias e de não ter pensamentos e flashes intrusivos de excitação sobre ser muito,
muito rico! A qualidade e a extensão dos recursos obtidos têm um impacto importante na
intensidade da ativação da emoção positiva. Terapeutas cognitivos apontam que o
significado pessoal desempenha um papel nesse caso, porque, se você já era um
bilionário, você provavelmente não ficaria tão hipomaníaco, e se você fosse paranoico,
sentiria que agora as pessoas planejariam a sua morte para pegar seu dinheiro e você
também não teria a mesma ativação.

Algumas pessoas, contudo, têm medo de sentimentos positivos, porque sentem


que, se ficarem felizes ou algo bom acontecer para elas, então algo de ruim estará prestes
a acontecer depois ou como consequência (Gilbert et al., 2012; Joshanloo, 2013). Em
muitos casos, durante a infância, alguma ameaça ou punição ocorreu no contexto de
desfrute/prazer, o que cria uma memória aversiva à emoção positiva, via
condicionamento clássico. Então, gerar esse tipo de emoção positiva nem sempre é
simples como talvez possa parecer. Processos comportamentais de dessensibilização e
exposição podem ser importantes antes que algumas pessoas possam acessar ou
permanecer com estados emocionais positivos de desfrute e excitação.

Há uma crescente preocupação de que sociedades Ocidentais (principalmente


capitalistas) estão hiperestimulando a competitividade baseada em “buscar”, “querer” e
com “foco no eu” e a ativação do sistema nervoso simpático geral (Pani, 2000),
possivelmente em detrimento de formas de vida afiliativas e comunitárias (Twenge et al.,
2010). Conceder uma grande importância à realização e aquisição pode aumentar a
vulnerabilidade a certos estados de depressão, ligados a problemas no sistema de procura
de recursos e recompensas (sistema de drive), especialmente quando as
motivações/objetivos ficam bloqueados ou quando as pessoas se sentem incompetentes
para atingi-los, o que gera sentimentos de exaustão, fadiga e desesperança – e a perda de
drive (Taylor et al., 2011).

Os afetos positivos de contentamento, segurança, paz e afiliação

Há todo um conjunto de emoções que não estão baseadas na ativação (ameaça ou fazer
algo e realizar algo), mas em acalmar e consolar/amparar (soothing), sentir-se seguro, em
paz e contente, que têm sido largamente ignoradas na psicologia clínica, possivelmente
pela noção de que esses sentimentos são apenas a ausência de ameaça. Contudo, Depue
e Morrone-Strupinsky (2005) demonstram que há um sistema de afeto positivo bastante
diferente e específico que está ligado à calma, descanso e contentamento – um estado de
tranquilidade no qual o sujeito não está sob ameaça nem em um estado mental de busca
e aquisição, representando uma tranquilização do sistema de ameaça e de drive. Uma vez
que o objetivo é atendido (e.g., a comida foi adquirida) e o animal não está sob ameaça,
os sistemas de drive precisam ser “desligados” para produzir a tranquilidade, descanso e
despesa balanceada de energia. Esse sistema está ligado a endorfinas e à ativação do
sistema nervoso parassimpático, que é por vezes chamado de sistema de “descanso e
digesta” (Porges, 2007). Com efeito, Depue e Morrone-Strupinsky (2005) sugerem que
nosso sistema de contentamento pode ser considerado como um sistema especializado de
regulação do afeto com seus próprios comportamentos reguladores, infraestruturas
fisiológicas e uma série de efeitos em outros sistemas, na atenção e na reflexão.

Então, a “não-luta” (non-striving), a aceitação e o estar no momento-presente


podem ser associados com um senso de bem-estar em contentamento, que é diferente da
resposta de relaxamento. É possível que a postura mindfulness acesse este sistema ao
posicionar a pessoa dentro do que é chamado “modo ser” (being mode) em vez do “modo
fazer” (doing mode). Assim, mindfulness pode estar relacionado com a redução da
atividade no modo-padrão (Brewer et al., 2011) e a mudança no balanço simpático-
parassimpático (i.e., melhorando a variação de batimentos cardíacos; Krygier et al., 2013;
veja também Mankus, Aldao, Kerns, Mayville, & Mennin, 2013), sendo que ambos os
efeitos podem estar ligados a este sistema de amparo-contentamento (soothing-
contentment). De fato, seus praticantes falam sobre sentirem-se mais conectados, menos
autoguiados, menos ameaçados e mais contentes e em paz consigo mesmos após a
meditação, especialmente após longos períodos, como após um retiro.

É importante ressaltar que há um número de clientes que podem ter dificuldades


com sentimentos de contentamento, segurança e compaixão (Gilbert, McEwan, Matos, &
Rivis, 2011). Por exemplo, quando você lhes ensina sobre mindfulness ou respiração
mindful, para permitir a diminuição do ritmo e sentimentos de calma, eles ficam
assustados, O sentimento de “diminuir o ritmo”, engatilha memórias aversivas. Uma
cliente descreveu sentir-se “segura e contente” como abaixar a guarda (vigilância). Ela
deu um exemplo de como se lembrava de ser criança, simplesmente estar relaxada,
olhando televisão e então sua mãe alcóolica simplesmente entrava em um estado de ira
por conta de algo e começava bater nela. “Você nunca pode se sentir segura ou
confortável, porque é aí que você será machucada”. Então, utilizando conceitos do
condicionamento clássico, podemos perceber que esses tipos de estados emocionais
podem ter histórias e memórias traumáticas associadas. Outros exemplos podem ser de
quando a criança estava descansando em seu quarto e um de seus pais entrou, abusou dela
e a deixou sozinha e com medo. Assim, trabalhar com medo da compaixão e medo da
segurança são pontos importantes para algumas pessoas (Gilbert et al., 2011, 2012;
Pauley & McPherson, 2010) e um foco central para a TFC (Gilbert, 2010).

O cérebro humano é “complicado”: relações entre cognição, emoção e motivação

A terapia focada na compaixão usa o conceito de “cérebro complicado” (tricky brain)


para retratar o fato de que nossos cérebros evoluídos vêm com um monte de “perde-e-
ganha”, comprometimentos e falhas – eles são incrivelmente complexos e fazem coisas
incríveis, mas não são “bem projetados” (Gilbert, 1998b, 2002; Nesse, 2005). Um grande
perde-e-ganha que causa sérios problemas humanos surgiu há cerca de 2 milhões de anos
quando humanos evoluíram capacidades cognitivas complexas (inteligentes), como
imaginação, antecipação e ruminação, além de um senso de self objetivo. Nós ficamos
inteligentes, aprendemos a falar, usar símbolos e abstrações e conseguimos solucionar
muitos problemas adaptativos através de “pensar nas soluções” e criar tecnologias. O lado
ruim, porém, é que ainda temos emoções e motivações de nossos cérebros antigos. Além
disso, podemos estimular esses sistemas com nossas novas capacidades de processamento
cognitivo e distorcê-las para o bem ou para o mal. Por exemplo, uma zebra fugindo de
um leão ficará rapidamente calma após ter escapado do predador, enquanto um humano
pode permanecer traumatizado por imaginar o que poderia ter acontecido se tivesse sido
pego (imaginar ser comido vivo e morrendo em agonia), o que poderia acontecer amanhã
caso houvesse dois leões, o pensamento de “o que acontecerá se...” e assim em diante.
Nossa capacidade para tal “reflexão” pode estimular emoções de ameaça e manter esses
sistemas fisiológicos em um estado de ativação no corpo – trazendo à tona tanto
problemas de saúde mental quanto de saúde física (Sapolsky, 1994).

Nossa inteligência pode ser utilizada para objetivos destrutivos, como construir
armas químicas ou nucleares (típico do tribalismo do nosso cérebro arcaico). Atualmente,
nós podemos propositalmente, com muita reflexão e planejamento, com grandes
intenções e propósitos cruéis, espalhar terror (como em crucificações, formas de tortura
e campos de concentração). Somos fascinados e nos deleitamos com a violência e
crueldade no entretenimento televisivo. Temos sistemas motivacionais de compaixão,
mas também temos de intenções prejudiciais, que podem usar a inteligência de nossos
novos cérebros para efeitos trágicos. Mas podemos utilizar nossa inteligência a serviço
de motivações/objetivos compassivos e aprender a superar nossas motivações destrutivas
e egoístas e ajudar uns aos outros (Loewenstein & Small, 2007).

Também acontece que nossa capacidade evoluída de criar um senso de self


objetivo, que podemos observar e julgar, traz à tona problemas de narcisismo (uma visão
elevada do self em relação aos outros), hipocondria, tipos de pânico e medo de morrer,
junto com vergonha, autocriticismo e autoagressão. As últimas estão ligadas a muitos
problemas de saúde mental, pois estão regularmente estimulando os sistemas de ameaça
(Gilbert, 2009). De fato, o autocriticismo é um poderoso estimulador do processamento
de ameaça no cérebro (Longe et al., 2010). Então, a mente humana é capaz de gerar laços
(loops) complexos e disfuncionais entre as motivações, as emoções e as cognições. Isso
não é nossa culpa, e é algo que gastamos um bom tempo discutindo com clientes como
parte das intervenções de desenvergonhamento (de-shamig) e despersonalização. Então,
se não estamos plenamente atentos (mindful) do que acontece em nossas mentes, e apenas
permitimos que nossa atenção e nossas ações sejam absorvidas por esses loops, por
qualquer emoção ou motivação engatilhada, podemos causar muito mal à nossa saúde
mental, sem mencionar aos outros e ao mundo em que vivemos.

As terapias cognitivo-comportamentais que focam nos processos de


racionalização e metacognição têm possibilitado muitas intervenções avançadas, mas elas
sempre foram mais baseadas em heurísticas úteis do que em uma ciência da mente.
Atualmente, contudo, a psicologia clínica pode ser mais clara sobre a forma como nossos
sistemas cognitivos recentemente evoluídos interagem com motivações e emoções mais
antigas, além do fato de que frequentemente precisamos trabalhar com sistemas de
motivação e emoção diretamente (Gilbert, 1992; Greenberg, et al., 1993 Haidt, 2001).
Ademais, nossos sistemas cognitivos recentemente evoluídos podem ser diferentes nas
formas de mentalização e de como realizamos o raciocínio lógico e matemático;
diferentes tipos de sistemas cognitivos podem exigir diferentes tipos de intervenção.

Moldado por contextos sociais

Nós também somos altamente contextualizados e coreografados com um senso de self


que nunca escolhemos. Aconselhamos clientes de que “Se eu fui sequestrado aos três dias
de idade e levado a uma gangue violenta do tráfico de drogas, então essa versão do Paul
Gilbert, como um terapeuta, certamente não existiria. Em seu lugar estaria uma versão
bem diferente de mim – um membro de gangue potencialmente agressivo, talvez com
pouca empatia”. Então, somos todos parcialmente criados por nossos genes, a natureza
funcional de nossos cérebros evoluídos e as circunstâncias sociais que coreografaram
nossos cérebros e nossa expressão genética (Belsky & Pluess, 2009; Slavich & Cole,
2013). Nós não escolhemos nada disso! Então, esses processos não podem ser abordados
apenas de uma visão cognitiva, mas precisam ser compreendidos em termos de como
nosso cérebro evoluiu para funcionar de determinadas maneiras, nem sempre úteis, e
como ele é altamente sensível à maturação de “diferentes versões de si mesmo”,
dependendo do nicho social em que está inserido (Gilbert & Choden, 2013; Siegel, 2012).
Nosso senso de self é uma construção genética e social. Muitos clientes consideram essas
perspectivas como uma revelação e validantes – e essa informação pode ser concedida
até mesmo em intervenções breves em unidades de cuidado psiquiátrico intensivo (veja
Heriot-Maitland et al., 2014). Esse entendimento inicia o processo de criação de uma
abordagem de despersonalização e “humanidade comum” frente as dificuldades.

Compaixão: as mentalidades sociais de cuidado, ajuda e compartilhamento

A terapia focada na compaixão utiliza uma abordagem integrada à psicologia humana, na


qual a compaixão é estimulada por sistemas nucleares de motivação e emoção e
competências cognitivas evoluídas. Assim, a TFC reconhece que os seres humanos têm
grandes potenciais para serem cooperativos, mas também para serem muito destrutivos
consigo mesmos e com outros. Olhando a História repleta de guerras, crueldade e tortura,
somos uma espécie potencialmente muito má (Gilbert, 2005a). Juntamente com nossas
motivações evoluídas que propiciam a compaixão, estão aquelas que propiciam egoísmo,
vício, ganância, tribalismo, violência, depressão e suicídio. Temos uma multi-mente que
não é sempre fácil de coordenar e regular. Como Buda apontou milhares de anos atrás, a
compaixão mindful nos permite compreender nossas mentes e uma orientação maior
(sistema de motivação básica) que nos auxiliará na organização de nosso cérebro
complicado (Gilbert & Choden, 2013).

A compaixão está ligada às motivações, emoções e habilidades/competências de


ser solidário, compreensivo, gentil e cooperativo com outros (Davidson & Harrington,
2002; Weng et al., 2013; www.compassion-training.org), e a ser socialmente mindful (que
é diferente de mindfulness geral; Van Doesum et al., 2013). Com suas raízes na evolução
do cuidado e do altruísmo, a compaixão tem recebido várias definições. Por exemplo, o
estudioso budista Geshe Thupten Jinpa, que desenvolveu o treinamento Stanford de
cultivo da compaixão (para o qual há crescentes evidências de eficácia; Jazaieri et al.,
2013), definiu compaixão em termos bastante típicos do budismo:

…um processo multidimensional composto de quatro componentes-chave: (1)


uma consciência (awareness) do sofrimento (awareness cognitiva/empática),
(2) interesse simpático relacionado a estar emocionalmente comovido pelo
sofrimento (componente afetivo), (3) um desejo de ver o alívio daquele
sofrimento (intenção), e (4) uma responsividade ou prontidão para o auxílio no
alívio daquele sofrimento (componente motivacional; Jazaieri et al., 2013).

De fato, os conceitos budistas da compaixão estão sendo cada vez mais integrados
à psicoterapia ocidental (Germer & Siegel, 2012). Apesar da compaixão ter sobreposições
óbvias a conceitos como “gentileza” (Phillips & Taylor, 2009), eles são ligeiramente
diferentes (Gilbert & Choden, 2013). Em TFC, também utilizamos uma definição budista
derivada dos escritos do Dalai Lama e de outros (1995; veja também Tsering, 2008): a
compaixão é: ‘uma sensibilidade ao sofrimento do self e dos outros, com um
compromisso de tentar alivia-lo e preveni-lo’.

Agora, essa definição aponta para duas mentalidades ou “psicologias” diferentes


que se ligam facilmente com as definições de Jinpa (Gilbert & Choden, 2013). A primeira
envolve as motivações, competências e prontidão para perceber, se engajar, direcionar,
tolerar e compreender o sofrimento – mais do que evitar, negar, ser sufocado ou dissociar-
se do sofrimento em si e nos outros. A segunda mentalidade envolve a habilidade e a
sabedoria de saber (ou descobrir) o que fazer a respeito disso (Germer & Siegel, 2012).
Estas competências são muito mais focadas na ação. Por exemplo, querer ser um bom
psicólogo para ajudar pessoas deprimidas seria parte da primeira mentalidade, mas
assegurar-se como um suficientemente treinado e habilidoso seria a segunda. Boas
intenções não são o suficiente. É como ver alguém cair em um rio com forte correnteza,
pular para salvá-lo, mas lembrar na metade do caminho que não sabe nadar! Então, ambas
mentalidades ou “psicologias” são integrantes da TFC.

A compaixão, como uma mentalidade social, pode “fluir” (flow) em três direções.
Primeiro, há a compaixão que podemos sentir por outro ou outros; há também a
compaixão que podemos sentir vindo dos outros para nós mesmos; e há a compaixão que
podemos direcionar para nós mesmos (autocompaixão). Cada uma pode ser um foco de
trabalho na TFC.

Cuidado e alento

Os elementos-chave do cuidado e do alento que se tornaram a base da compaixão na TFC


foram originalmente retirados do modelo de alento/nutrimento (nurturance) de Fogel et
al.’s (1986), mais do que de um modelo budista (see Gilbert, 1989). Eles definiram os
elementos nucleares do cuidado-alento como segue: “…a provisão de orientação,
proteção e cuidado para o propósito de promover mudança desenvolvimental congruente
com o potencial esperado de mudança do objeto do cuidado” (p. 55). Aqui, o cuidado não
está apenas focado no sofrimento, mas também no suporte e encorajamento da mudança
desenvolvimental para o bem do outro. De um ponto de vista evolutivo, o
cuidado/nutrimento é útil para o crescimento fomentado. Note que isso não é
especificamente focado no apego. De fato, podemos demonstrar cuidado a indivíduos que
talvez não estejamos apegados ou até mesmo que nem desejamos estar. Além disso, o
cuidado, definido dessa forma, pode ser direcionado a animais e plantas. Com efeito, essa
é a nossa habilidade cognitiva recentemente evoluída de reconhecer o que aliviará o
sofrimento e promoverá o florescimento que estende nossas habilidades de cuidado além
de um foco estreito, limitado e modularizado. Por exemplo, os chipanzés cuidam dos seus
filhotes, mas não conseguem usar um conceito abstrato de carinho para, digamos,
desenvolver agricultura ou pecuária. São profundas as habilidades cognitivas evoluídas
para compreender os princípios da relação necessidade-cuidado e ser capaz de aplicar
esses princípios a muitos domínios. Isso libera a mente humana de ser uma mente
modularizada e permite domínios de processamento mais amplos – o que Mithen (1996)
chamou de evolução da mente desmodularizada. Essas competências humanas são
essenciais para a TFC.

Evidências também sugerem que uma forma mais expansiva de cuidado surgiu há
cerca de 1 milhão de anos atrás. Dessa época, o registro fóssil sugere que os humanos
doentes ou machucados estavam sobrevivendo, e eles só poderiam ter conseguido isso se
estivessem sendo cuidados, confortados e apaziguados. Nenhum outro animal se importa
com seus velhos e doentes dessa forma (Spinks, Rutherford, & Needham, 2010). A
atenção arcaica para alguns procedimentos funerários, com posses ou joias, sugere
interesse pelos outros, estendido para algum tipo de “outra vida” futura. Isso sugere o
desenvolvimento da motivação para prover cuidado, as competências cognitivas para
entender o que o outro precisa e a capacidade de pensar sobre a natureza de suas vidas
em um mundo imaginário, desconhecido.

Fogel et al. (1986) ainda sugeriram que o cuidado/nutrimento envolve um número


de qualidades nucleares que começam com (1) a motivação para cuidar, (2) atenção e
consciência da necessidade de ser acalentador, que requer (3) um entendimento da
natureza da dificuldade e o que é preciso para ser acalentador, que leva à (4) expressão
de ações/sentimentos acalentadores, e (5) uma habilidade de corresponder com cuidado
ao feedback do impacto de nossas ações sobre o outro. Esse último aspecto é, claro, a
habilidade de mudar quase de momento-a-momento de acordo com a maneira que o
cuidado está acontecendo – como em uma mentalidade social.

A neurociência também começou a revelar alguns profundos sistemas cerebrais


envolvidos no comportamento de cuidado. Simon-Thomas et al. (2012) conduziu um
estudo com imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) para explorar a
diferença na ativação da compaixão versus orgulho. Eles descobriram que:

A indução da compaixão esteve associada com a ativação na matéria cinzenta


do mesencéfalo periaquedutal (PAG), uma região que é ativada durante a dor
e a percepção de dor nos outros, e isso esteve implicado em comportamentos
de cuidado parental. A indução de orgulho envolveu o córtex posterior medial,
uma região associada com processamento autorreferente.

Esses achados são importantes porque o indivíduo ativa sistemas cerebrais bastante
diferentes se estiver tentando ajudar pessoas autocríticas a se orgulharem de suas
realizações ou a serem compassivas com sua dor ou vergonha. Apesar de não ser
simplesmente “ou um ou outro”, Neff e colaboradores (Neff, Hsieh, & Dejitterat, 2005;
Neff & Vonk, 2009) demonstraram que o foco na autoestima e a luta por realização têm
seus próprios problemas no enfrentamento de derrotas e fracassos, enquanto a
autocompaixão auxilia as pessoas a enfrentarem essas situações de maneira adaptativa. E
se você for bem-sucedido hoje, mas amanhã falhar novamente? A autocompaixão nos
ajuda com as derrotas, fracassos e tempos difíceis (Neff, 2011).
Apego

Ao lado da psicologia do cuidado, está a psicologia do apego. A teoria do apego provê


uma explicação para a evolução dos relacionamentos pai-bebê como centrais à dinâmica
de certas formas de cuidado (Bowlby, 1969, 1973; Mikulincer & Shaver, 2007). Contudo,
o cuidado não é particularmente o foco da teoria do apego (Heard & Lake, 1988), mas
sim a busca por proximidade e a provisão de uma base segura/porto seguro que suporte
a sobrevivência e desenvolvimento da criança. Hrdy (2009) levantou a possibilidade de
que foi no processo de cuidado estendido onde os seres humanos ganharam uma vantagem
evolutiva, no momento em que tios e avós começaram a desempenhar um papel no
cuidado e proteção da criança. A maioria das mães primatas não permitem que outros
segurem seus bebês, enquanto humanos até mesmo encorajam esse suporte de outros. Isso
significa que bebês humanos estão interagindo com “muitas mentes” desde tenra idade, o
que pode ter sido um incentivo à intersubjetividade (veja abaixo). Há evidências de que
o cuidado e o afeto que recebemos em nossa infância não apenas influencia a expressão
genética e os tipos de cérebro que maturamos (Cozolino, 2007, 2013), mas também
estabelece a fundação para sermos cuidadores e compassivos (Gillath, Shaver, &
Mikulincer, 2005).

Comportamento pró-social

Por mais central e importante que a teoria do apego seja para a evolução das capacidades
de compreensão das necessidades dos outros, com um desejo de satisfazê-las e acalentá-
las, a compaixão não é unicamente estabelecida dentro de mecanismos de apego. Com
efeito, o “comportamento de ajuda” tem um amplo foco, ligado aos estudos do
comportamento pró-social (Bierhoff, 2005; Penner et al., 2005). Como as crianças
aprendem a compartilhar, se interessar umas nas outras e regular suas motivações
potencialmente egoístas-competitivas ou hostis (Eisenberg, 2002) é importante para o
desenvolvimento das habilidades de compaixão (Penner et al., 2005). Desde a tenra idade,
as crianças são capazes de compreender os objetivos que os outros estão almejando e, se
estão tendo dificuldades em alcançá-los, se oferecerão para ajudar. Então, por exemplo,
por volta dos 18 meses, uma criança que vê um adulto deixar cair algo pode correr,
recolher e devolver para ele. Também parece que crianças sorriem e regozijam com o ato
de ajudar, cooperar e compartilhar (veja Warneken & Tomasello, 2009; e para uma boa
demonstração veja http://www.youtube.com/watch?v=Z-eU5xZW7cU). Assim,
comportamento de cuidado e ajuda não estão evoluindo apenas no contexto do papel
parental, mas também através de vários domínios das relações sociais. Por exemplo, a
evolução do altruísmo talvez tenha sido encorajada por ser visto como um traço
sexualmente atrativo em um companheiro de longo prazo ou amizade (Goetz, Keltner, &
Simon-Thomas, 2010).

De uma perspectiva evolutiva, gerar felicidade para os outros é frequentemente


visto como recompensador ou, como comentado anteriormente, “é recompensador ser
recompensador para os outros" (Gilbert, 1984). De fato, Gilbert (1984) sugeriu que uma
das questões referentes à depressão é que as pessoas não se sentem recompensadoras ou
“inúteis” para os outros, e que um processo antidepressivo poderia ser ajudar as pessoas
a se sentirem com valor, ajudando-as a realizar contribuições que os outros apreciarão.
Há crescente evidência de que fazer coisas gentis para os outros e focar em ajudá-los pode
promover felicidade e reduzir a depressão leve (Lyubomirsky, 2007). Além disso, a
prática de criar sentimentos de gentileza (meditações de amor-bondade) por outros pode
mudar sistemas cerebrais (Lutz, Brefczynski-Lewis, Johnstone, & Davidson, 2008).

O desenvolvimento pró-social em crianças e o prazer subjacente em ajudar os


outros passa por estágios de empatia e teoria da mente. O comportamento pró-social surge
quando as crianças têm uma oportunidade de praticar, têm modelos, são recompensadas
e guiadas na prática de cuidado, compartilhamento e cooperação (Eisenberg, 2002).
Também é importante como as crianças vêm a entender suas próprias emoções, porque
isso é relevante na maneira como entendem as emoções de outros. Então, a compaixão
surge de uma complexa integração das motivações, emoções e competências evoluídas
para o cuidado parental das crianças e da evolução do comportamento de ajuda e pró-
social, onde até mesmo crianças pequenas podem se interessar nos objetivos e bem-estar
dos outros.

As competências e motivações para o cuidado são também conhecidas por terem


uma fisiologia específica. Por exemplo, a oxitocina e a vasopressina desempenham um
importante papel no apego e na intensidade na qual as pessoas tentam ajudar as outras e
estão abertas ao cuidado (por exemplo, confiam umas nas outras) (Carter, 1998; Insel,
2010). A adaptação do sistema nervoso parassimpático mielinado foi particularmente
importante na evolução dos comportamentos de cuidado (Porges, 2007). Isso criou
mudanças na regulação das respostas de luta-fuga, de forma que os indivíduos poderiam
não apenas ficar próximos um do outro, mas que essa proximidade poderia ser calmante.
Esses sistemas fisiológicos têm papéis fundamentais no comportamento afiliativo e de
cuidado (Carter, 1998; Insel, 2010; veja Andrew, Braehler & Macbeth, esta edição).
Porém, novamente, a mentalidade social na qual a oxitocina está operando é importante,
pois promove a afiliação apenas a alvos em particular, como de pessoas próximas ou do
mesmo grupo. A oxitocina pode, na realidade, aumentar a agressão de uma mãe a
potenciais ameaças a seu bebê e a indivíduos reconhecidos como estranhos, de fora de
seu grupo (De Dreu, Greer, Van Kleef, Shalvi, & Handgraaf, 2011). A mentalidade social
específica e o contexto funcional são centrais para a forma como um sistema
neurofisiológico atua. A oxitocina não é um sistema generalizado de “ser gentil com todo
mundo” – ela depende muito de como a relação self-outro é construída. De fato, até
mesmo a regulação da oxitocina em um contexto individual nem sempre produz efeitos
positivos – especialmente se o indivíduo tem um relacionamento crítico ou hostil consigo
mesmo (Rockliff et al., 2011; veja Gumley et al., esta edição).

Ser cuidado – O outro aspecto da terapia focada na compaixão

Ser capaz de gerar compaixão com as duas “psicologias” delineadas acima é apenas uma
parte da história da TFC, particularmente quando falamos de autocompaixão. Para a
terapia, muito depende de como as pessoas respondem e são mudadas por receberem
compaixão. Novamente, ajuda receber informações sobre evolução e como o cuidado
evoluiu para impactar aqueles que são alvo de cuidado.

Contentamento, cuidado e segurança

A psicologia da afiliação envolve tanto emoções ativantes (os prazeres do amor e do


compartilhamento) quanto aquelas calmantes e apaziguantes (soothing). De fato, há boas
evidências de que o sistema emocional que influencia a calma e o contentamento teve um
papel significativo na evolução do próprio apego, especialmente a maneira na qual um
pai é capaz de acalmar uma criança e criar um sentimento de segurança (Bell, 2001).
Porges (2007) escreveu extensamente sobre como as adaptações do sistema nervoso
autonômico (especialmente o nervo vago mielinado do sistema nervoso parassimpático)
surgiram para que os indivíduos pudessem não apenas ficar próximos sem estimular seus
sistemas de fuga-luta, mas que também experienciassem um ao outro de forma
recompensadora, apaziguadora e fisiologicamente regulatória, iniciando o
comportamento de aproximação.

De forma importante, a oxitocina e as endorfinas desempenharam papéis centrais


no dar e receber cuidado. Ser o recipiente de certos tipos de cuidado aumenta os níveis de
oxitocina e tem efeitos calmantes na amígdala. A oxitocina ajuda a nos sentirmos seguros
e oferece uma percepção de bem-estar (Carter, 1998; Insel, 2010). O toque afetuoso libera
endorfinas e oxitocina, estimula as propriedades tranquilizadoras do sistema nervoso
parassimpático (Porges, 2007) e baixa os níveis de cortisol (Field, 2000). Há cerca de 50
anos atrás, Harry Harlow demonstrou que quando macacos jovens ficam assustados eles
preferem recorrer a uma mãe artificial de tecido felpudo do que uma feita de arame e
provedora de leite (para uma revisão, veja Harlow & Mears, 1979). Assim, mamíferos
são altamente adaptados para o contato físico e para serem emocionalmente regulados
através do toque, o qual estimula a tranquilização (soothing) (Dunbar, 2010).

Field (2000) revisou a evidência dos efeitos benéficos da proximidade, afago e


toque durante o desenvolvimento, mostrando que até mesmo ratos de laboratório podem
crescer mais calmos se forem regularmente afagados (veja também Slavich & Cole,
2013). Assim, o contato físico cria um tipo particular de desenvolvimento fenotípico.
Como Sapolsky (1994) observou:

O toque é uma das experiências centrais de um bebê, seja roedor, primata ou


humano. Nós prontamente pensamos em estressores consistindo de várias
coisas desagradáveis que podem ser feitas ao organismo. Às vezes, um
estressor pode ser a falha em prover algo ao organismo, e a ausência do toque
é semelhantemente um dos mais marcantes estressores desenvolvimentais que
podemos sofrer. (p. 92)

Atualmente, há evidências de que esses comportamentos físicos podem também


influenciar a expressão genética através de um processo chamado metilação do DNA e
pode haver efeitos intergeracionais (Bick et al., 2012; Slavich & Cole, 2013; para uma
introdução fácil, veja Cozolino, 2013). Muitas pessoas com problemas de saúde mental
frequentemente falam sobre a falta de afeto físico em seus ambientes primários e atuais1.

1
Baseada na evidência sobre o papel do toque na regulação do estresse, particularmente na infância, a
psicologia clínica precisa levantar sérios questionamentos sobre a crescente ausência de “toque, afago e
abraço” para crianças em escolas, especialmente quando estão estressadas.
Então, um processo-chave no cuidado de uma criança é a forma como o pai é capaz de
regular a ameaça e o drive com o estímulo de tranquilização, através do toque, afago,
abraço, tons de voz e expressões faciais, o que é uma das razões para que esses elementos
sejam foco na TFC.

Apego

A importância extraordinária da evolução do cuidado para o desenvolvimento psicológico


da criança foi articulada pelo psiquiatra britânico John Bowlby, que chamou seus achados
de teoria do apego (Bowlby, 1969, 1973, 1980). Bowlby estava particularmente
interessado nos aspectos comportamentais do cuidado e nas maneiras que uma criança
desamparada enfrenta a ameaça. Isso estava ligado a três funções principais. A primeira
é a necessidade da criança de buscar proximidade de um cuidador. A segunda é a
habilidade do cuidador de atuar como uma base segura que regula a exposição à ameaça
para a criança, mantendo-a longe de danos, eliminando predadores ou recolhendo a
criança e trazendo-a para perto; ser apaziguador da aflição da criança e ser provedor
quando necessário (e.g., com comida ou calor ou limpeza). Assim, quando a criança está
aflita por causa de fome, frio, dor ou ameaça - todas podem ser reguladas com o cuidado
do outro – nesse caso, o pai/mãe; o genitor é um poderoso regulador fisiológico da criança
(Cozolino, 2007, 2013). Então, o pai é uma fonte de necessidade de satisfação, redução
de estresse e é capaz de induzir a criança a estados de melhor balanço parassimpático e
contentamento. Destes estados, a criança é capaz de descansar e dormir. Claramente, o
input de carinho do pai está estimulando o sistema de tranquilização (soothing), que então
regula o sistema de ameaça. Essas experiências afetam significativamente a maturação
cerebral e, claro, com o condicionamento clássico, constituem a base das memórias
emocionais para o soothing.

Bowlby também falou sobre a importância de uma base segura, da qual a criança
ganha a confiança para sair, brincar e explorar, desenvolver e adquirir habilidades para a
independência. Fenney e Thrush (2010) exploraram como uma base segura opera em
relacionamentos adultos com as funções de encorajar comportamento exploratório,
facilitação da confiança e autodesenvolvimento. Essas são funções mais típicas de drive,
a facilitação de comportamentos para a busca e aquisição de habilidades, recursos e
enfrentamento de desafios. Mas, importantemente, elas são melhores desenvolvidas no
contexto de segurança. Para essas funções, Fenney e Thrush sugerem que cuidar de outros
deveria ser algo disponível, não-interferente, encorajado e recompensador. Em termos de
TFC, esses processos são importantes para facilitar em terapeutas e são centrais na
compreensão da relação terapêutica.

Uma base segura também facilita a intersubjetividade, que permite que


compartilhemos nossos pensamentos e sentimentos (Trevarthen & Aitken, 2001). Por
exemplo, a criança não olha para o dedo apontado, mas para aquilo que está sendo
apontado; isso quer dizer que elas podem compartilhar a “perspectiva” e uma tomada de
interesse mútua no objeto apontado. Isso também cria a capacidade para “nossidade”
(“we-ness”), um compartilhamento da experiência, mais do que apenas a autorreferência
(“me-ness”). Essa harmonia de mentes e a experiência de segurança na harmonização das
mentes é fundamental para nossas habilidades de sentir segurança no mundo em geral.
Por exemplo, se eu estou assustado com aquele que está apontando, então a maior parte
da minha atenção estará focada nele como um “objeto temido” e não no “objeto
apontado”. Assim, o compartilhamento requer algum grau de segurança mútua.

Cortina e Liotti (2010) exploram as ligações entre apego, intersubjetividade e


exploração, sugerindo que “o apego refere-se a segurança e proteção, a intersubjetividade
refere-se ao compartilhamento e a compreensão social”, mas são interdependentes, no
sentido de que o medo provavelmente diminuirá a intersubjetividade. Esta é crucial para
o desenvolvimento sofisticado das mentalidades sociais e a maneira como começamos a
experienciar a vida em um mundo interpessoal de outras mentes. Ela permite que
tornemo-nos conscientes de que não estamos vivendo apenas em um mundo material de
potenciais predadores, mas também vivendo em um mundo de mentes que podem
mentalizar “nossas mentes” e julgarão, rejeitarão ou buscarão se relacionar conosco de
uma maneira socialmente (mentalmente) específica. Então, precisamos ser capazes de
mentalizar “a mentalização dos outros sobre nós”, para que possamos perseguir nossos
objetivos de vida social.

Observando nossas próprias mentes

Sentir-se cuidado, apoiado e compreendido também nos auxilia para entender nossas
próprias mentes, especialmente nossas emoções e como moldam nossas motivações
(Corrtina & Liotti, 2010; Trevarthen & Aitken, 2001). Ligada à intersubjetividade está a
forma como entendemos nossas próprias mentes, motivações e emoções e como usamos
esse entendimento para compreender os outros. Somos membros da mesma espécie com
basicamente as mesmas mentes, desejos, necessidades e medos – os outros não são
alienígenas insondáveis (Nickerson, 1999). E não são apenas nossas mentes, mas também
a natureza de nosso ser-no-mundo que compartilhamos: que somos todos geneticamente
criados e socialmente coreografados. Nós nascemos, florescemos por um tempo, estamos
suscetíveis a numerosas doenças e ferimentos, então envelhecemos e morremos – nada
disso nós realmente escolhemos. Mas o potencial em ver os outros como iguais também
abre o potencial para cometer erros (projeções) bastante significativos (Nickerson, 1999).
O cuidado compassivo requer que tenhamos alguma capacidade de empatia e
mentalização, permitindo que nos movamos fora de uma perspectiva egocêntrica e
vejamos a diferença entre o self e “o outro”. Então, a empatia torna-se parte de uma
“descoberta guiada” – tornar-se familiarizado com o não-familiar, fazendo esforços
deliberados para imaginar ser o outro e perceber que eles são (em algumas coisas) não
“exatamente como eu”. Se ninguém que eu amava profundamente já morreu, eu poderia
entender as profundas dores da perda e como isso pode tomar conta de todo o corpo?
Como o paciente experiencia os esforços empáticos do terapeuta ao criar uma relação
aberta, empaticamente exploratória e sem julgamentos pode influenciar o quão aberto ou
receptivo eles estão à compaixão.

Assim, as psicoterapias podem tratar parcialmente dos processos de maturação e


maneiras de estimular as motivações e competências autoidentitárias, fornecendo a elas
proeminentes inputs evolutivos. Por exemplo, a teoria do apego tem sido usada como uma
base para entender o amadurecimento psicológico que toma lugar na terapia e guia as
intervenções terapêuticas (Wallin, 2007). Com efeito, terapeutas de diferentes escolas
estão agora integrando a pesquisa baseada no apego em seus processos terapêuticos,
parcialmente por conta do crescente reconhecimento da importância dos processos
afiliativos e sociais que influenciam a saúde mental (Danquah & Berry, 2013). Terapias
de mentalização não buscam a correção de pensamentos ou esquemas desadaptativos ou
a diminuição da ruminação, mas envolvem o amadurecimento e cultivo de importantes
competências para reflexão, tomada de perspectiva, regulação do afeto e exploração
social (Fonagy et al., 2002). A TFC parte da mesma premissa básica de que algumas
formas de sofrimento surgem pelo fato do indivíduo não ter tido a oportunidade de
desenvolver ou amadurecer certas competências que são cruciais para a relação afiliativa.
O self positivo na mente do outro e a vergonha

Viver em um mundo de outras mentes, como fazemos, é algo preenchido com o desejo
de viver nessas mentes de maneiras que serão úteis e compreensivas para nós. Talvez
uma das coisas mais importantes é experienciar a nós mesmos positivamente na mente do
outro; ou seja, como “um indivíduo amado, valorizado e desejado”. Kohut (1977)
denominou isso como “espelhamento” e referiu isso como um “vislumbre no olho da
mãe” (para uma comparação entre Kohut e Bowlby, veja Gilbert, 1992, cap. 10). Além
disso, o espelhamento está ligado aos nossos desejos de mostrar-nos aos outros, tornarmos
atores, contar piadas e histórias, compartilhar informações de forma que nos tornamos
objetos de avaliação positiva em suas mentes. O estímulo de emoções positivas na mente
dos outros é claramente refletido na comunicação não-verbal (os sorrisos e expressões
faciais), o que estimula a emoção positiva em nós mesmos.

De fato, criar emoções positivas nas mentes dos outros sobre nosso self tem
enormes recompensas. Se somos apreciados, então as pessoas serão gentis e apoiadoras
conosco (em vez de rejeitadoras ou indiferentes) e formarão relacionamentos vantajosos
conosco, o que, por sua vez, estimula a mudança fisiológica positiva em nós, incluindo
no sistema imunológico (Cacioppo & Patrick, 2008). Porém, até certo ponto, esse também
é um papel competitivo. A ideia de que a competição humana (e o ranking social) tornou-
se focada no ato de influenciar positivamente as mentes de outros a seu favor já existe há
muito tempo, desde os conceitos do “self do espelho” (looking glass self) de George
Herbert Mead, em 1902. Ele foi desenvolvido posteriormente por Barkow (1989) em sua
discussão sobre a competição por prestígio e reputação e no conceito de Gilbert sobre o
poder da retenção da atenção social (social attentional holding power) (Gilbert, 1989,
2007). As pessoas com problemas de saúde mental frequentemente têm dificuldade com
essas questões, porque elas estão mais focadas no medo de (e nos esforços para evitação
de) criarem emoções negativas nas mentes dos outros e serem envergonhadas e
indesejadas ou mesmo machucadas por outros (Gilbert, 1998a, 2007). Se perdemos a
percepção de existir positivamente para os outros (valor de afiliação e cuidado), então o
mundo pode se tornar um lugar bastante ameaçador e assustador – e nós funcionamos a
maior parte do tempo com nossos sistemas de ameaça. Em contraste, sentir-se validado,
respeitado ou desejado estimula o sistema afiliativo e abre uma série de possibilidades
para o comportamento social com um senso de segurança no mundo social (Gilbert, 2007,
2009). Kelly, Zuroff, Leybman, e Gilbert (2012) concluíram que a segurança social e as
capacidades de se sentir seguro e conectado com outros eram melhores preditores de
vulnerabilidade à psicopatologia do que afeto negativo, afeto positivo ou necessidade por
apoio social. Em contraste, perder o senso de segurança e/ou de existir positivamente para
os outros está frequentemente por trás de sentimentos de desconexão e problemas de
saúde mental.

Conexão versus solidão

Relacionado à intersubjetividade, mentalização e senso de existir positivamente nas


mentes de outros está o senso de pertencimento, ser como outros, ser parte de um grupo
e sentir-se conectado com outros (Baumeister & Leary, 1995; Cacioppo & Patrick, 2008).
Kohut (1977) denominou esses sentimentos como necessidades do alter-ego. As
abordagens budistas sugerem que devíamos deliberadamente nos focarmos na criação de
um senso de “sermos todos os mesmos e, assim, pertencentes”, chamado de
“equanimidade” (fostering equanimity) (Dalai Lama 1995; Tsering, 2008). Quanto à
autocompaixão, Neff (2011) refere-se a isso tudo como sendo uma dimensão da
humanidade comum, que é uma de suas dimensões para a autocompaixão; a habilidade
de contextualizar o sofrimento de alguém como parte da condição humana, de forma
oposta a uma noção individual, pessoal e solitária. De fato, uma experiência comum de
pessoas com problemas de saúde mental é uma percepção de solidão e separação –
frequentemente baseada em vergonha, mas não sempre. A solidão tem uma variedade de
apresentações, apesar de ser comumente separada em solidão pessoal (como um
sentimento interno de desconexão/separação) e solidão social (como uma falta de
oportunidades para as relações). Em um número de estudos, até 20% dos indivíduos se
descreveram como pessoalmente sozinhos (Cacioppo & Patrick, 2008).

Sentimentos de desconexão são descritos de muitas maneiras, como estando


sozinho, alienado, separado, não-pertencente, perdido, sem morada e até mesmo vazio
(Cacioppo & Patrick, 2008). A solidão difere da solitude, que é um estado buscado e
apreciado, enquanto a solidão está associada com um anseio e busca por conexão, como
se o sistema de busca estivesse ativado. Em algumas religiões, há uma crença de que
temos um profundo anseio para retornar a deus, e é nossa separação de deus que é a fonte
de grande parte de nosso sofrimento. Algumas teorias psicodinâmicas veem esse anseio
e o sentimento de separação como um anseio para retornar ao estado simbólico do útero.
Contudo, uma explicação mais razoável é que isso está ligado à importância das relações
afiliativas e cooperativas, da vivência em grupo e pertencimento. Tem sido apontado por
muitos autores que nós viemos para esse mundo sozinhos e morremos sozinhos, e
essencialmente estamos sozinhos dentro de nossas próprias cabeças, apenas tocando uns
aos outros fisicamente ou por meio das palavras e expressões para aliviar esse sentimento
de solidão. A nossa realidade é uma de separação dentro de nossas peles. Então, os
sentimentos de solidão são um foco-chave na TFC.

TFC e as duas psicologias e mentalidades da compaixão

Então, a TFC tem suas raízes nesses processos sociais evoluídos. Trazendo à tona os
temas acima, podemos agora começar a pensar sobre os processos que podem estar
envolvidos nas duas “psicologias” ou mentalidades da compaixão – o engajamento com
e o alívio/prevenção do sofrimento. Cada uma dessas duas psicologias dependem de um
número de subcomponentes e competências que estão representados como dois círculos
de atributos de engajamento interconectados e habilidades transformadoras. Esses
elementos são representados na Figura 2.

Atributos de engajamento

Na TFC, a psicologia do engajamento com o sofrimento envolve seis elementos nucleares


(círculo interno) que incluem (1) o cuidado e a motivação/disposição para perceber e
direcionar-se para o sofrimento, em vez de evitá-lo; (2) a sensibilidade atencional como
habilidade para então encarar e ser atencioso ao sofrimento; (3) uma vez que estamos em
contato com o sofrimento, ter uma reação emocional apropriada, ou seja, a habilidade de
ser emocionalmente conectado, em harmonia e afetado pelo sofrimento, em vez de uma
postura fria ou dissociada (por vezes chamada de simpatia ou empatia emocional), que
levanta as questões de (4) como aprendemos a tolerar as emoções que são parte ou estão
associadas com o sofrimento; (5) quando somos capazes de nos engajarmos e nos
conectarmos emocionalmente, sustentar e tolerar o sofrimento, então nos tornamos
capazes de desenvolver a mentalização e ter insights empáticos; podemos alternar de uma
perspectiva egocêntrica e tomar a de outra pessoa ou até mesmo de uma parte diferente
de nós mesmos (por exemplo, a perspectiva de um self compassivo será diferente de um
self raivoso). Se evitarmos nos engajar com o sofrimento ou fazer isso superficialmente,
haverá pouca oportunidade de uma conexão empática – a habilidade de imaginar de
“colocar-se no lugar do outro” ou compreender nossa própria experiência/sentimentos;
(6) para todo o processo trazemos uma postura de aceitação, acrítica e de não-julgamento.

Figura 2. The duas psicologias da compaixão: atributos/engajamento e habilidades/alívio/prevenção. De


P. Gilbert (2009). The compassionate mind. Com a gentil permissão de Constable Robinson.

Obviamente, cada uma dessas competências tem uma complexa psicologia com
variações em seu desenvolvimento e regulação (para discussões mais aprofundadas, veja
Gilbert, 2009; Gilbert & Choden, 2013) e, claro, elas também são reconhecidas em outras
terapias. Por exemplo, a terapia comportamental dialética e a terapia de aceitação e
compromisso discutem em detalhe a questão de como inspirar um desejo para engajar-se
com a dor/dificuldade e construir a atenção plena (mindfulness), aceitação e tolerância
(Hayes et al., 2004). A entrevista motivacional pode explorar os bloqueios e facilitadores
para o desenvolvimento da motivação para ser compassivo.

Cada uma dessas seis qualidades é interdependente, de forma que se qualquer uma
delas fraquejar a empreitada compassiva pode enfrentar dificuldades. Por exemplo, se a
motivação para o cuidado falha ou o sofrimento torna-se intolerável ou se a empatia é
perdida ou nos tornamos críticos e julgadores, então nossa compaixão passará por
dificuldades. Nesse modelo, a empatia é uma competência da mentalidade social da
compaixão, mas não ela em si. De fato, a empatia pode ser usada para fins bons ou ruins.
Para a terapia, os clientes podem precisar de alguma ajuda no desenvolvimento de
qualquer um ou todos os atributos de engajamento.

As motivações por trás dos comportamentos cooperativos, contudo, não são


sempre baseados no cuidado/afeto. Por exemplo, alguns sugerem que ser gentil para ser
gostado pode ter sido uma um propiciador da evolução do altruísmo e da gentileza (Goetz
et al., 2010). Porém, como um processo pessoal, “ser gentil para ser gostado ou evitar ser
rejeitado” é uma forma de comportamento submisso, que pode não requerer habilidades
empáticas complexas e pode, de fato, estar ligado a dificuldades emocionais. Enquanto
algum grau de desejo pode ser, é claro, ser parte do cuidado (somos pessoas com
motivações mistas), devemos ser cautelosos se isso tornar-se o foco central. Nós
recentemente começamos a explorar o conceito de “compaixão submissa” – “o
engajamento em comportamento de ajuda com intenção de ser gostado e evitar a
rejeição”. Em uma análise preliminar, a compaixão submissa esteve significativamente
associada com depressão, ansiedade e estresse, enquanto a compaixão genuína não esteve
(Catarino, Gilbert, McEwan, & Baião, a ser publicado). Nossos próximos estudos buscam
explorar a compaixão submissa e a compaixão genuína em termos de empatia e outros
processos compassivos. A compaixão pode, portanto, ser explorada em termos de
motivação intrínseca ou extrínseca.

Alívio e prevenção: Habilidades transformativas

O alívio e a prevenção (o círculo externo) envolvem ser capaz de (1) prestar atenção ao
que é útil (envolverá o treino atencional, cultivo de mindfulness, e refocalização); (2)
capaz de racionalizar de maneiras úteis (envolverá muitas abordagens da terapia
cognitiva, como treino de reatribuição e reavaliação) e formas de tomada de perspectiva,
mentalização e foco na natura do que “será genuinamente útil”; (3) comportar-se de
maneiras úteis (que podem envolver a exposição a objetos temidos, fazer coisas para
ajudar a si mesmo e outros cada dia ou se engajar em exercícios de apreciação e gratidão);
(4) permitir sentimentos apropriados (que é comumente visto como gentileza ou
sentimento de conexão afiliativa, mas não sempre – e.g., pode ser ligado a emoções como
raiva e tornar-se raivoso frente a, digamos, uma injustiça); (5) usar praticas baseadas em
imagens mentais e meditação para estimular determinados sistemas emocionais (como de
afiliação ou confiança); e (6) trabalho sensorial, como práticas de respiração, tons de voz
e posturas corporais/faciais para gerar estados físicos (e.g., ativar o sistema
parassimpático), que propiciam a regulação do afeto e a compaixão. Nuclear a esses
aspectos está a disposição para descobrir, aprender, treinar e desenvolver. A intenção não
é o suficiente; precisamos de sabedoria para saber como tornar a intenção em ação efetiva
(Germer & Siegel, 2012; Gilbert & Choden, 2013).

Terapia focada na compaixão

O desenvolvimento e cultivo de uma parte compassiva de nossas intervenções


terapêuticas é agora reconhecida como uma importante inovação que requer mais
pesquisas e desenvolvimento (Hoffmann et al., 2011). Como discutido na introdução
(Gilbert, esta edição), a TFC começou de maneira bastante simples há mais de 20 anos
atrás, com o reconhecimento de que muitos indivíduos não conseguiam criar sentimentos
afiliativos consigo mesmos. Primeiramente, nós simplesmente auxiliávamos a prática da
geração de uma voz interna ou postura compassiva para o enfrentamento dos
pensamentos, com sentimentos de afeto, gentileza e apoio. Isso provou-se mais difícil que
o previsto e abriu caminho para uma jornada sobre o que está por trás das bases do
sentimento de afiliação e compaixão. Isso levantou perguntas sobre o porquê dessas
emoções serem tão importantes na origem e recuperação de problemas de saúde mental.
Desde aquela época, a TFC desenvolveu um número de temas nucleares, construindo as
evidências científicas citadas acima.

A compaixão como uma autoidentidade

Um dos importantes processos da TFC é o de tentar estimular mentalidades sociais


compassivas que se unam no desejo de cultivar um self compassivo e mente/perspectiva
compassiva (Gilbert, 2009). Isso é diferente de ter “esquemas” ou “valores” de
compaixão e está ligado ao conceito budista de bodhichitta (Gilbert & Choden, 2013;
Tsering, 2008) com práticas imaginativas (Ringu & Mullen, 2005). Na TFC, os
indivíduos são convidados a imaginar os potenciais benefícios em possuir certas
qualidades, particularmente a sabedoria (e.g., a compreensão sobre nossos cérebros
complicados), força, senso de autoridade e comprometimento para ser compassivo e
cooperativo, que envolve aspectos das duas “psicologias” da compaixão, como citado
acima (Gilbert, 2010; Gilbert & Choden, 2013). Esse processo, de se imaginar como um
“self” em particular que reflete, imagina, racionaliza e age está acumulando crescente
evidência de efetividade. Por exemplo, a prática de imaginar o seu “melhor self possível”
e endereçar as dificuldades relacionadas a esse senso de self está relacionada ao aumento
de otimismo e coping adaptativo (Meevissen, Peters, & Alberts, 2011; Peters, Flink,
Boersma, & Linton, 2010). A prática da compaixão pelos outros aumenta a
autocompaixão (Breines & Chen, 2013) e a prática do foco compassivo, incluindo tornar-
se um self compassivo, tem uma série de benefícios fisiológicos (Weng et al., 2013).

A TFC utiliza uma série de técnicas de respiração, postura, imaginação, de


lembrar a ser compassivo e dramatizações para auxiliar as pessoas a terem uma
experiência do que é ou poderia ser se tivessem um self compassivo (Cannon, 2012). Isso
é importante porque ajuda a criar “ideias” na mente da pessoa sobre o que gostariam de
almejar. Apesar de podermos praticar habilidades específicas como jogar golfe, tocar
piano, pintar ou fazer exercícios para ficarmos fisicamente em forma, a maioria das
pessoas não sabem que podem praticar o cultivo de uma autoidentidade em particular e
quais serão os efeitos em suas mentes (Jazaieri et al., 2013; Weng et al., 2013). As técnicas
de dramatização são uma das formas de criar insights sobre as qualidades compassivas e
praticar o monitoramento/experiência de seus efeitos. Você pode então mostrar como
esse aspecto da autoidentidade pode ser usado em muitos contextos. Por exemplo, ao lidar
com conflitos internos, o terapeuta poderia convidar a pessoa a explorar como diferentes
partes de si mesmos enxergariam um problema em particular. “Como o seu self raivoso
vê essa questão e como ele quer agir; como o seu self ansioso enxergaria essa questão e
agiria?”. Você pode então ativar a percepção de um self compassivo e perguntar: “Como
o seu self compassivo vê essa questão e como ele quer agir?”. Esses tipos de exercícios
ajudam as pessoas a reconhecer que têm potencial para muitas perspectivas diferentes,
dependendo de qual parte deles, qual (mentalidade social) aspecto motivacional ou
emocional eles estão identificados. Também, eles podem praticar como ser mindful sobre
“qual parte deles” está ativada e qual parte deles gostariam que idealmente estivesse
ativada e comandando, além de como acessar o “self compassivo” quando necessário
(veja Gilbert, 2012).

A TFC está contextualizada em uma visão básica da humanidade e nos problemas


sérios que o cérebro humano evoluído nos apresentou. Nossa capacidade para a raiva,
ódio e até mesmo sadismo com nós mesmos e outros não é patologizada, mas é vista
como potenciais humanos básicos que podem ser ativados em certos contextos e
condições. Quando os clientes começam a compartilhar dessa perspectiva, isso começa a
ajudar significativamente na despersonalização e desenvergonhamento (de-shaming) –
ver nossos problemas pessoais como parte da condição humana. A TFC também salienta
que nossas mentes são inerentemente cheias de conflitos – novamente, sem nenhuma
culpa nossa (Gilbert, 2000b). Entrar em contato com a tristeza da realidade do sofrimento
(por conta do que somos – com vidas curtas, vulneráveis a doenças e com cérebros
“complicados” – e nada disso nós escolhemos ser) pode ser um estímulo para a compaixão
e o desejo de realizar mudanças e tomar o controle da própria vida. A compaixão nos faz
querer tomar a responsabilidade de mudar e fazer o que podemos para nos engajarmos e
ajudarmos com nosso sofrimento e o dos outros. É importante, contudo, que enquanto
podemos entrar em contato com a realidade do sofrimento (a primeira mentalidade da
compaixão), nós não permanecemos nesse estado de uma maneira estanque e
dolorosamente ruminativa. A chave é desenvolver a motivação para trabalhar pela
mudança, e a alegria, significado e excitação daquilo que podemos fazer – e lidar com os
reveses no caminho.

A TFC se foca em ajudar as pessoas a acessar e estimular suas motivações,


emoções e competências afiliativas, que podem ser parte da experiência do self
compassivo. Isso inclui intervenções como o uso da respiração, postura, expressões
faciais, tons de voz e outros exercícios para nos ajudar a balancear o sistema nervoso
autonômico. Nós ensinamos uma série de exercícios de cultivo da compaixão que
envolvem o treino atencional e prática de mindfulness, mentalização, cultivo da
autoidentidade compassiva, uso de imagens mentais compassivas, escrita compassiva e o
ato de realizar comportamentos compassivos regularmente. Essas intervenções são
planejadas para estimular os sistemas de motivação, emoção e cognição que corroboram
na compaixão (e suas mentalidades sociais), de forma que possam se tornar mais
integradas ao senso de autoidentidade.
O self “compassivo” torna-se uma forte percepção ou posição estabelecida que
está associada a formas organizativas de direcionar-se, sentir, pensar e comportar-se.
Cultivar e desenvolver esse autofoco pode ajudar a balancear e orientar sistemas básicos
de motivação e emoção. Isso está representado na Figura 3.

Figura 3. O self compassivo como um processo organizacional interno.

Então, em essência, há um número de fases na TFC que não são necessariamente


lineares:

1. Uma fase de psicoeducação, desenvergonhamento e despersonalização que foca


no porquê nós temos um “cérebro complicado” (tricky brain), como nosso senso de self
é parcialmente uma construção social e o porquê muito do que acontece na nossa mente
não é nossa culpa. Ao reduzir a vergonha e a culpa, as pessoas podem desenvolver um
novo foco com diferentes sistemas motivacionais (desejo de cuidar e ajudar) para
construir e tomar a responsabilidade para a mudança. Podemos começar a escolher e
cultivar diferentes “versões” de nós mesmos. Essa fase também explica a natureza dos
três tipos de regulação do afeto e experiência emocional.
2. Um processo de formulação no qual os indivíduos ganham insight sobre como
suas experiências de início de vida criaram suas estratégias de segurança baseadas na
ameaça, estratégias de drive (ambições, autoidentidades desejadas) e de amparo/consolo
afiliativo. Por sua vez, essas estratégias são externamente direcionadas (e.g., maneiras de
interagir com a mente dos outros) e internamente direcionadas (como conhecemos,
compreendemos e regulamos nossas motivações, emoções, fantasias e senso de self). A
formulação também iluminará as memórias nucleares das quais um senso de self e
experiências emocionais se aglutinam. Elas podem se tornar, então, um foco de trabalho
em trauma e reestruturação de memórias.

3. Cultivo e construção de capacidades compassivas, trabalhando com emoções


afiliativas e aprendendo a praticar a ativação parassimpática por exemplo, através de
imagens mentais e exercícios de respiração.

4. Construção da capacidade compassiva sobre o senso de identidade (self


compassivo) com práticas comportamentais. Como tomar uma perspectiva compassiva e
explorar o que é útil; o que será o foco da prática, o que a pessoa cultivará internamente
durante a jornada da terapia? Clientes começam a compreender que a compaixão não é
uma fraqueza, mas uma forma de construir coragem.

5. Na medida em que esses processos se desenvolvem, podemos então usar o


self/mente compassivo a se engajar e trabalhar com problemas específicos – como
ansiedade, ruminação depressiva, autocriticismo, vergonha, memória traumática. É claro,
isso nos leva ao território de muitas outras terapias. Aqui, os experimentos
comportamentais com oportunidades para novas experiências emocionais são muito
importantes, pois as pessoas estão aprendendo o valor da compaixão (por si mesmos e
pelos outros) através da ação. Abaixo há um exemplo.

Um exemplo de TFC: trabalhando compassivamente com a vergonha, autocriticismo e


os bloqueios ao processamento auto-afiliativo

Dois dos problemas de saúde mental mais disseminados são o autocriticismo, o


autodesagrado ou até mesmo ódio e vergonha (Gilbert & Irons, 2005; Kannan & Levitt,
2013; Zuroff, Santor, & Mongrain, 2005). Os níveis clínicos de vergonha e autocriticismo
representam sérias perturbações da capacidade de estimular os sistemas afiliativos
internos, que são tão importantes para a regulação emocional e bem-estar. O
autocriticismo opera através do sistema de ameaça, enquanto a compaixão trabalha mais
com os sistemas cerebrais de afiliação (Longe et al., 2010; Weng et al., 2013).
Comumente, o trabalho com cadeiras que dá voz ao crítico (Whelton & Greenberg, 2005),
revela que ele está em fusão com emoções de ameaça; raiva e desprezo são comuns.
Assim, é pouco surpreendente que o autocriticismo também possa estimular muitas
defesas de comportamentos submissos ou até mesmo o sentimento de derrota. Então, por
exemplo, depois de criticar a si mesmo, ao se mover para a cadeira na qual experienciará
aquele criticismo, alguns indivíduos frequentemente evidenciam uma postura corporal
triste, cabisbaixos com um senso de desesperança e depressão, além de comumente
concordando com os ataques do crítico interno (Whelton & Greenberg, 2005).

Enquanto existem muitas maneiras de entender as origens, funções e formas do


autocriticismo (Gilbert et al., 2004; Zuroff et al., 2005), a questão terapêutica é como
alternar dessa forma baseada em ameaça de tratar a si mesmo para uma mais afiliativa
(Gilbert & Irons, 2005; Neff, 2011). A abordagem da TFC reconhece que as emoções no
crítico (e.g., desapontamento, frustração, raiva ou desprezo) são todas defensivas,
baseadas no sistema de ameaça. Então, isso levanta a questão sobre qual é a ameaça ou
quais medos estão gerando essas emoções defensivas autodirecionadas; o que está por
trás do crítico? Até mesmo o ódio (seja a si mesmo ou aos outros) é uma resposta a uma
forma de ameaça. Então, é útil direcionar nossa atenção (através da análise funcional)
para uma exploração da natureza da ameaça. A ameaça típica que está por trás do
autocriticismo é a ameaça da vergonha – ser visto como ou experienciar a si mesmo como
incompetente, inútil, feio, indesejado, desprezado – a ameaça do criticismo social ou até
mesmo o ataque, desconexão, marginalização, desamor e rejeição – e, às vezes, sentir-se
fraco e indefeso (Gilbert, 2007; Gilbert & Irons, 2005). Como discutido anteriormente,
somo seres tão sociais que essas são sérias ameaças a humanos (Wesselmann et al., 2013).

Então, os gatilhos do autocriticismo são frequentemente as ameaças. Por exemplo,


Sally “se odiava por estar acima do peso” e frequentemente repreendia a si mesma, até
mesmo se cortando. Ela se imaginava como “feia” para os outros, rejeitável (alta ameaça),
ligada a memórias de bullying, ansiando por conexão/aceitação e sentindo-se em solidão.
Então, sua raiva e ódio direcionadas ao self (self-anger, self-hatred) são direcionados ao
que ela vê (agora) como causas de sua vulnerabilidade àquelas ameaças (seu peso e falta
de controle sobre sua alimentação – mas, é claro, sua alimentação era parcialmente um
esforço de bloquear sentimentos dolorosos).

Permitir ao cliente tomar uma autopercepção compassiva de seu crítico interno


facilita o processo de “mentalizar o crítico” e assim reconhecer quais ameaças estão
gerando a raiva e ódio contra o self. A compaixão então é direcionada àqueles medos e
emoções que estão por trás do crítico. Eles podem estar enraizados em memórias
dolorosas de vulnerabilidade, solidão e rejeição. Isso pode direcionar a atenção para o
fato de que, mais do que trabalhar com o crítico diretamente, é necessário acessar as
memórias emocionais a que o crítico parece estar relacionado. Se estiver acontecendo a
reestruturação de memórias emocionais (Arntz, 2011; Ecker, Ticic & Hulley, 2012), o
foco pode ser uma reestruturação compassiva (Hackmann, 2005). O terapeuta pode
facilitar a entrada do “self ou imagem compassiva” na memória infantil e criar uma
interação de cuidado compassivo na reestruturação (Lee, 2005). Então, em essência, é
ativado o sistema de emoção afiliativa para trabalhar com a memória de ameaça
internalizada. Está acontecendo a recodificação da memória emocional com um novo
processamento de afeto do sistema afiliativo, que evoluiu para regular a ameaça. Um
paciente sugeriu: “Eu percebi que poderia me tornar a minha própria fonte de amor e
cuidado que não tive quando era criança”.

Esse tipo de engajamento comumente oferece a abertura para o trabalho com o


luto pelos traumas emocionais (Gilbert & Irons, 2005). Basicamente, a jornada
compassiva trata-se de entrar mais em contato com a realidade do sofrimento, ser mais
tolerante e empaticamente engajado com o que o foi experienciado. Pelo fato de que muito
disso pode ter relação com o sentimento de não ser amado, indesejado, rejeitado
(envergonhado) e frequentemente estar solitário, o processo de luto é importante e inicia
uma tentativa de processar a perda ou aquilo que desejava ou necessitava. Nós tomamos
a definição básica de compaixão (ver acima) e aplicamos do sujeito para ele mesmo,
incluindo o self crítico. Assim, basicamente, o processo é de identificar emoções de
ameaça que abastecem o criticismo, reconhecer a vulnerabilidade (medos) a qual o crítico
está respondendo e endereça-la; por exemplo, os medos de ser ridículo, da rejeição e suas
memórias associadas de solidão e abandono, talvez.

Raiva e assertividade
Um medo comum nesses contextos é o medo de sentir raiva dos outros, até mesmo
daqueles que causaram algum dano. Nietzsche aparentemente comentou que “ninguém
se culpa sem um desejo secreto por vingança”, um tema que Freud utilizou em sua visão
da depressão como uma raiva voltada para si (Ellenberger, 1970). Ambos sugeriram que,
por vezes, é mais fácil ser autocrítico do que crítico/hostil com os outros. De fato,
podemos ver esse aspecto na religião também, onde as pessoas culpam a si mesmas em
vez de deus por seus infortúnios (Gilbert & Irons, 2005). O papel da raiva e do medo da
raiva nos problemas de saúde mental têm sido tema de intenso trabalho dentro do modelo
psicodinâmico por muitos anos (para um panorama útil, veja Busch, 2009). Então, é
importante auxiliar os clientes a investigar se o crítico interno é uma representação de um
outro hostil, como um pai/mãe, professor ou algum outro bully, onde respostas assertivas
seriam apropriadas. O terapeuta, então, investiga o medo de expressar assertividade/raiva,
que pode ser o medo de retaliação/rejeição, medo de ser desleal (culpa) com alguém de
quem se depende ou se deseja amor, identificação do tipo “se eu sou agressivo como eles,
então eu sou como eles” ou dissonância cognitiva, como “eu apenas não sou uma pessoa
raivosa”.

Nesse contexto, é geralmente melhor externalizar o crítico como, por exemplo, o


bully e então se dedicar com o trabalho com cadeiras, que poderá envolver a expressão
da raiva. Isso serve principalmente para trabalhar o medo de sentir raiva – e, nesse sentido,
segue um paradigma típico da exposição comportamental. Da mesma forma como é útil
aprender a ser capaz de tolerar a ansiedade sem fugir ou agir de maneira consumida por
ela, é importante ser capaz de tolerar a raiva sem agirmos destrutivamente ou evitá-la. O
cérebro possui poderosos mecanismos inatos para a defesa e serão estimulados pelos
estímulos relevantes quer queiramos ou não. Então, o sentimento de raiva/ira em resposta
a ser machucado é uma defesa muito básica que as pessoas devem ser capazes de tolerar
e trabalhar com ela adaptativamente. Obviamente, é importante que os clientes não
fiquem emperrados “sentindo apenas raiva intensa” ou “raiva impotente” (sentir raiva,
mas também desesperança) e possam eventualmente seguir em direção, talvez, ao perdão
(sendo claro sobre o que perdão é e o que não é). De fato, alguns indivíduos que são muito
“felizes” sendo raivosos podem, na verdade, estar evitando outras emoções, como a
tristeza ou solidão. Então, qualquer emoção pode ser utilizada como uma estratégia de
segurança para bloquear outra. A compaixão não é a evitação da raiva ou ficar preso em
uma posição submissa. A compaixão envolve desenvolver a coragem de estar aberto para
a nossa raiva e ira, não algum tipo de “tranquilizar para debaixo do tapete” (“soothing it
away”). Com efeito, para reforçar, consolar/amparar/tranquilizar (soothing) é útil para
servir como uma base segura, mas também na preparação para corajosamente engajar-se
com o que precisamos.

Conclusão

A terapia focada na compaixão é enraizada em abordagens evolucionistas sobre o


surgimento da mente humana e o papel que a afiliação tem na regulação do processamento
da ameaça e produção de cuidado/afeto, cooperação, compartilhamento e sentimento de
valorização. A evolução de diferentes tipos de afiliação abriu caminhos para a evolução
do cérebro social, com habilidades para a empatia, intersubjetividade e um interesse no
que acontece na mente das outras pessoas. Indivíduos que não possuem a chance de
desenvolver sistemas afiliativos ou para quem as figuras de cuidado (e.g., pais) foram
muito assustadoras, abusivas ou negligentes, podem ter sua capacidade de experienciar e
expressar motivações e emoções afiliativas comprometida. Com efeito, elas podem ter
medo de dar e receber e das emoções e motivações afiliativas autofocadas.

A TFC é chamada de terapia focada na compaixão, não terapia da compaixão,


porque ela se foca no desenvolvimento de competências e sistemas cerebrais que
desempenham papéis importantes na regulação da ameaça, bem-estar e comportamento
pró-social (aperfeiçoar o comportamento pró-social às vezes é algo esquecido como um
potencial objetivo da terapia). Contudo, a TFC usa muitas intervenções básicas e baseadas
em evidências, especialmente a tomada de perspectiva e reavaliação, intervenções
comportamentais de exposição, reestruturação de memórias, trabalhos com imagens
mentais e trauma, práticas comportamentais e o desenvolvimento de novos hábitos
(Gilbert, 2010; veja Goss and Allan, esta edição). Enquanto muitas terapias se focam
diretamente na redução de sistemas negativos baseados na ameaça, a TFC argumenta pela
necessidade de também desenvolver capacidades de experienciar e tolerar motivações e
emoções afiliativas. Isso acontece porque elas evoluíram para ser, e estão configuradas
para ser, poderosos reguladores do sistema de ameaça – e criarão um senso diferente de
self e maneiras de relacionar consigo mesmo e com os outros. Na TFC, a geração de
sentimentos afiliativos para com o self e com os outros, além do conhecimento de que os
outros se sentem assim a seu respeito, nos ajuda a funcionarmos ao nosso melhor.
Agradecimentos

Muito obrigado a Tim Anstiss, Deborah Lee, Chris Irons e Wendy Wood pelos
comentários nas versões anteriores deste artigo.

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Recebido em 30 de outrubro de 2013; versão revisada recebida em 2 de dezembro de


2013.

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