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SEÇÃO I

TERAPIA FOCADA
NA COMPAIXÃO
Uma abordagem
biopsicossocial evolutiva

Paul Gilbert

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Definindo o cenário
A psicoterapia em uma encruzilhada
e um caminho compassivo a seguir
Paul Gilbert

A emergência de uma ciência forasteiros. A humanidade é parte da


natureza, uma espécie que evoluiu entre
biopsicossocial da psicoterapia outras espécies. Quanto mais intima-
embasada pela evolução mente nos identificarmos com o resto da
vida, mais rapidamente seremos capazes
Os nove primeiros capítulos deste livro ofe- de descobrir as fontes da sensibilidade
recem uma descrição e um mapa da ciência humana e adquirir o conhecimento sobre
básica da terapia focada na compaixão (TFC). o qual poderá ser construída uma ética
A preocupação em integrar o conhecimento duradoura, um senso de direção escolhi-
de diferentes disciplinas, da antropologia à da (Wilson, 1992, p. 332).
genética, da filosofia à neurociência, é central Criando conexões de cuidado. Ken Bailey e
para a TFC, pois o conhecimento da mente eu usamos essa citação mais de 20 anos atrás
humana, e de como ajudá-la, não reside em para contextualizar nossa abordagem evolu-
uma única disciplina ou escola de terapia (Gil- cionista da psicoterapia. Ela permanece sendo
bert, 1989, 1995, 2019; Siegel, 2019). Wilson uma questão central para a psicoterapia (Gil-
(1999) cunhou o termo consiliência para desig- bert & Bailey, 2000). Hoje estamos nos con-
nar uma ciência integrativa entre as discipli- centrando nas fontes da nossa sensibilidade que
nas. Na raiz dessa integração, está o reconhe- nos tornam humanos. Estamos reconhecendo
cimento de que somos uma espécie evoluída, que nossas mentes não são unidades autô-
como todas as outras espécies. Assim, pode- nomas, individualizadas, mas são evoluídas
mos iniciar nossa jornada com outra citação para ser sistemas de processamento comple-
de Wilson (1992), que estabelece o enquadra- xos de interconectividade com outras mentes
mento para a TFC: (Cozolino, 2014; Dunbar, 2014; Siegel, 2016,
Nossos problemas se originam do fato 2020). Como é observado no Capítulo 2, evi-
de que não sabemos o que somos e não dentemente nossa inteligência humana e
podemos concordar quanto ao que que-
nossas habilidades cognitivas são caracterís-
remos ser. A causa primária dessa falha
intelectual é a ignorância das nossas ori- ticas humanas especiais, porém, mais do que
gens. Não chegamos a este planeta como qualquer outra coisa, é devido ao nosso inte-

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resse apaixonado, às nossas competências e à til e oferece muitos outros benefícios à saúde
forma como criamos conexões sociais de cuidado (Costello, 2018). Há crescentes evidências
que hoje vemos o cérebro humano como um científicas da importância dessa abordagem
cérebro essencialmente social (Dunbar, 2014; social da saúde mental (Haslam et al., 2018,
Lockwood, et al., 2020; Porcelli et al., 2019; e veja a seguir). A TFC tem suas origens nas
Silston et al., 2018). Ocorreram adaptações publicações sobre abordagens do estado ce-
importantes nos sistemas nervoso autônomo rebral (Gilbert, 1984) e motivações sociais,
e imunológico, que regulam a saúde e a feli- como Human Nature and Suffering (Gilbert,
cidade, como resultado da evolução das rela- 1989). Ela está baseada no fato de que somos
ções de proximidade (Cozolino, 2014; Has- uma espécie social com motivações sociais
lam, Jetten, Cruwys, Dingle, & Haslam, 2018; complexas e, às vezes, diferentes e confli-
Porges, 2007, 2017; Siegel, 2020). Atualmen- tantes, tanto úteis quanto não úteis. Embora
te, há evidências de que, quando estamos in- a TFC tenha sido identificada como uma te-
seridos em relações próximas e acolhedoras, rapia cognitiva da terceira onda e como uni-
muitas funções fisiológicas, como os siste- camente focada na autocompaixão, isso está
mas imunológico, cardiovascular e nervoso incorreto. A essência da TFC é levar o indiví-
autônomo, juntamente aos principais neu- duo a criar conexões de cuidado e compaixão
rocircuitos, o comprimento dos telômeros e consigo mesmo e com os outros que recrutem
os nossos perfis epigenéticos, são afetadas os ingredientes fisiológicos do cuidado, para
positivamente (para uma revisão abrangen- apoiar uma mente saudável e útil. Um indiví-
te, ver Slavich, 2020). Por outro lado, vergo- duo autocompassivo que não tem interesse ou
nha, intimidação e opressão, juntamente a capacidade de ajudar os outros ou ser ajudado
solidão e desconexão social, e relações auto- pelos outros acabará com dificuldades e será
críticas hostis com nós mesmos, são prejudi- problemático para sua comunidade.
ciais para a saúde. Apesar das reivindicações
neoliberais, não somos unidades autônomas,
mas evoluímos para a vida social e prospera- Uma rápida olhada nos desafios
mos melhor em uma dieta de conexões sociais atuais da psicoterapia e por
de cuidado, envolvendo o dar e o receber entre que ela precisa ser socializada
o indivíduo e os outros. Na medicina física,
também há uma consciência crescente de O progresso da psicoterapia nos últimos 50
que dificuldades como alterações na pressão anos tem sido excitante, mas também uma
arterial e outras condições de saúde crônicas jornada um tanto caótica. Diferentes tera-
se tornam muito piores no contexto de solidão pias, enraizadas em diferentes concepções e
e/ou relações hostis entre o indivíduo e os ou- focando diferentes micro-habilidades e inter-
tros. A medicina comunitária está, portanto, venções, proliferaram em múltiplas direções
concentrando-se cada vez mais em descobrir ramificadas. Alguns compararam isso ao que
como construir comunidades sociais de cui- acontece nas religiões (Epstein, 2006). Muitos
dado integradas e está vendo quedas radicais reconhecem que há alguma coisa fundamen-
nas admissões de emergência e crescimento talmente preocupante no fato de termos mais
no bem-estar geral (Abe & Clarke, 2020). No de 400 escolas de psicoterapia diferentes, com
mundo todo, a saúde está sendo promovida frequência perseguindo temas ligeiramente
pela facilitação das relações comunitárias de (e, às vezes, não tão ligeiramente) diferentes,
cuidado. Por exemplo, a promoção de grupos sem muita unidade na compreensão da men-
de apoio a mulheres reduz significativamente te com a qual estamos trabalhando (Norcross
a depressão pós-natal e a mortalidade infan- & Lambert, 2019; Zarbo, Tasca, Cattafi, &

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Compare, 2016). De fato, muitos observa- Isso novamente nos faz questionar se as
ram que uma “crise de fragmentação” emerge abordagens sociais contextuais poderiam adi-
quando não existe uma ciência consistente que cionar elementos cruciais aos pacotes de trata-
permita que diferentes grupos se dividam em mento individualizados (Haslam et al., 2018;
subgrupos para formar suas próprias tribos Smail, 2018). Basicamente, quanto mais tem-
com seus próprios modelos, qualificações e po você acompanhar as pessoas, pior algumas
identidades grupais (Gilbert, 1995, 2019; Gil- delas vão se sair, a menos que experimentem uma
bert & Kirby, 2019; Shamdasani & Lowenthal, mudança social benevolente (Brown, Adler, & Bi-
2020; Siegel, 2006). As “tribos” se transforma- fulco, 1988). Assim sendo, as terapias devem
ram em negócios com seus próprios treina- abordar questões comportamentais e psicos-
mentos, acreditações, conferências e publica- sociais. As terapias mais recentes estão um
ções científicas, oferecendo um sentimento de passo adiante — mas não se trata de um pas-
pertencimento e autoidentidade e competindo so gigante. Watkins e Newbold (2020) pedem
por financiamentos para pesquisa, frequente- uma maior ênfase na pesquisa de processo, sobre
mente umas contra as outras (a TFC também). a qual dizem o seguinte:
Norcross e Lambert (2019) chamam isso de
Para sermos claros, distinguimos entre
guerra por território. Isso não é culpa de nin-
os componentes ativos da terapia, ope-
guém, porém muitos agora concordam que racionalizados como os elementos ou in-
precisamos estudar os processos particulares gredientes ativos dentro de uma terapia
que dão origem a estados de sofrimento específicos que produzem benefício clínico, os quais
e adotar uma abordagem multifatorial para a poderiam ser baseados no terapeuta,
intervenção e a prevenção. A raiz do problema atividades com o cliente, técnicas espe-
é, como diz Wilson (1992), não conseguirmos cíficas, ou relacionados à estrutura e à
concordar quanto a uma ciência básica, e isso aplicação da terapia, versus os mecanis-
explica outro problema, que é a eficácia das mos ativos da terapia, operacionalizados
nossas psicoterapias. como processos subjacentes de mudança
terapêutica que causalmente fundamen-
Por mais inovadoras e válidas que muitas
tam o benefício terapêutico [...] (p. 2).
dessas abordagens possam ser, sejam elas es- É importante compreender os me-
pecíficas de uma tribo ou mais integrativas, canismos ou os componentes ativos
as evidências da sua eficácia não são tão sóli- dos tratamentos psicológicos, pois isso
das quanto esperávamos. Watkins e Newbold potencialmente possibilita o desenvol-
(2020) apontam que, embora certamente te- vimento de tratamentos mais diretos,
nha sido feito progresso nas psicoterapias, precisos, potentes, simples, breves e
efetivos. É necessário compreender os com-
Muitos pacientes não mantiveram a me- ponentes ativos de uma terapia psicológica a
lhora, e os tratamentos precisam escalar fim de analisar e refinar a terapia para fo-
para enfrentar a carga global da saúde car no que é mais atraente para os pacientes
mental [...]. Por exemplo, tratamentos (p. 2., grifo nosso).
psicológicos para depressão só atingem
taxas de remissão de 30 a 40% e têm efi- Norcross e Lambert (2019) também exa-
cácia sustentada limitada (pelo menos minam evidências consideráveis sobre os
50% de recaída e recorrência) [...]. Além
ingredientes ativos da psicoterapia. Eles são
disso, estima-se que os tratamentos atu-
ais, se aplicados de forma ideal, reduzi- variados, mas incluem relação terapêutica,
riam a carga da depressão em somente habilidades do terapeuta, fatores do cliente,
um terço [...]. Como tal, os tratamentos fatores externos, remissão espontânea, apoio
psicológicos para depressão precisam ser social e eventos fortuitos (p. 11). Modelos es-
significativamente melhorados (p. 2). pecíficos explicam apenas uma pequena por-

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centagem da variância. Isso remete aos estu- A ausência de uma ciência biopsicosso-
dos comunitários que mostram que podemos cial integrativa (Gilbert, 1984, 1989, 1995)
ser levados à depressão por eventos adversos pode muito bem explicar alguns dos achados
na vida e sair dela por meio de novos começos decepcionantes observados por Watkins e Ne-
e eventos positivos (Brown, Adler, & Bifulco, wbold (2020) (Gilbert & Kirby, 2019). Colocar
1988). Seja qual for a terapia que os indivíduos pessoas em ensaios de pesquisa com base em
experienciam, o que cura é a maneira como um conjunto de sintomas rotulados como, di-
ela pode ajudá-los a fazer mudanças reais em gamos, depressão, quando há muito tempo é
suas vidas, por exemplo, se afastar de relações reconhecido que depressão é um transtorno
tóxicas pessoais e na comunidade, adquirir altamente heterogêneo (Akiskal & McKinney,
confiança para encontrar um emprego me- 1973; Fried & Nesse, 2015) e um estado final
lhor, estabelecer relações de acolhimento e se de uma gama de diferentes e complexos pro-
envolver em atividades significativas, como cessos, está repleto de problemas. Por exem-
em instituições de caridade, onde as pessoas plo, terapias cognitivo-comportamentais po-
sentem que estão contribuindo com algo. dem ajudar pessoas cuja depressão, de fato,
A TFC sempre foi uma terapia de proces- está sendo gerada ou mantida por processos
sos que busca entender o processo antes de cognitivos, mas, para algumas pessoas de-
prosseguir para ensaios clínicos controlados primidas, cognições negativas são sintomas,
randomizados dos resultados. Está muito cla- não causas. As intervenções cognitivas po-
ro agora que pacotes terapêuticos, abordando dem nos ajudar a manejar certos problemas,
domínios de funcionamento limitados, só vão mas as terapias precisam abordar as causas.
nos levar até esse ponto. O problema óbvio é Por exemplo, considere aqueles indivíduos
que o resultado depende de quais processos que têm problemas de saúde subjacentes,
estão sendo focados (Gilbert & Kirby, 2019). como testosterona baixa, problemas de tireoi-
Freud reconheceu que precisamos relacionar de, deficiências de vitaminas B12 e D e ane-
os processos psicológicos com os fisiológicos mias, para citar alguns óbvios (veja Cowles,
(Ellenberger, 1970). No entanto, seu projeto, Pariante, & Nemeroff, 2009 para uma dis-
que procurava fazer isso, tornou-se impossí- cussão detalhada). Mulheres na menopausa
vel, em parte porque não havia ciência sufi- ou perimenopausa podem ter momentos de-
ciente que o possibilitasse. Hoje existe (Co- ploráveis por causa disso. Os vírus, incluindo
zolino, 2017; Hood, 2011; Schore, 2019a,b; nossa mais recente e nociva covid-19, podem
Siegel, 2020). A dissociação entre mente e afetar o cérebro e o sistema imune e desenca-
corpo foi um desastre para a ciência da saú- dear depressão. Parasitas no cérebro, como
de mental. Escrevendo no British Journal of o que você pode pegar dos gatos, Toxoplasma
Psychiatry 35 anos atrás, Eisenberg (1986) se gondii, podem desempenhar um papel em al-
referiu a esse problema como ciência sem cére- guns estados mentais. O diagnóstico também
bro versus ciência sem mente. A TFC sugere enfa- se tornou mais complexo com a descoberta de
ticamente que os terapeutas se beneficiariam que muitas pessoas deprimidas estão sofren-
se tivessem uma compreensão mais abran- do de problemas inflamatórios, o que pode ser
gente da natureza do cérebro humano, para menos responsivo a qualquer intervenção de
evitar que se perdessem em conceitos como psicoterapia isolada (Bullmore, 2018). Pes-
ter um self real ou autêntico, em vez de enten- quisas também sugerem que as pessoas que-
derem que somos um conjunto de sistemas de rem trabalhar diretamente em seus estados
processamento distribuídos, frequentemen- psicológicos. Um grande estudo comunitário
te concorrentes; o self, por si só, é uma ilusão americano verificou que, entre aqueles que
(Hood, 2011). se “autodiagnosticaram” com depressão e an-

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siedade, 53,6% dos indivíduos com depressão dade. Se vamos ajudar as pessoas a equilibrar
severa e 56,7% dos indivíduos com ansiedade seu sistema nervoso autônomo, desenvolver
relataram o uso de medicina complementar seu nervo vago (Porges, 2011) ou “desenvol-
e terapias alternativas para tentar tratar suas ver” vários circuitos neurais (Cozolino, 2017;
condições (Kessler et al., 2001). É importante Mascaro & Raison, 2017; Schore, 2019a,b;
observar que, para uma abordagem holística Siegel, 2020; Singer & Engert, 2019; Vrtička et
de longo prazo a problemas de saúde mental, al., 2017; veja também o Capítulo 10), isso vai
bem como a dificuldades de saúde que reque- demandar tempo e o desenvolvimento de prá-
rem intervenção médica, recursos como die- ticas específicas.
ta, exercício e suplementos podem ser úteis Contextos sociais importam. Temos ainda os
(Martinez-Cengottabengoa & Gonzalez-Pinto, conhecidos processos sociais como pobreza,
2017). A psicoterapia pode ajudar a lidar com isolamento e solidão, relações estressantes e
as causas-raiz, mas também pode ajudar a ge- intimidação, enfrentamento da morte e pais
renciar condições. demandantes ou exigentes, que contribuem
A biologia importa. Os sistemas fisiológicos, para problemas de saúde mental (Haslam
incluindo a epigenética, são modificados pe- et al., 2018). Quando a fonte da depressão é
las experiências de vida para o bem e para o social, ela requer intervenções psicossociais
mal (Slavich, 2020). Considere pessoas que (Able & Clarke, 2020). De fato, a natureza
foram abusadas e podem ainda estar em rela- contextual social da mente em si, e a forma
cionamentos abusivos. Os terapeutas que não como ela é corregulada por meio das relações
avaliam ou não sabem como trabalhar com sociais, é um foco importante para a ciên-
histórias de abuso podem ter dificuldades, cia atualmente (Haslam et al., 2018; Music,
particularmente com terapias de curta dura- 2017; Siegel, 2020; Slavich, 2020). Isso ocor-
ção. Hoje, inúmeras barreiras artificiais foram re porque sabemos que as taxas crescentes de
colocadas em torno do “número de sessões que depressão e narcisismo, particularmente en-
o cliente pode ter”, não com base na necessi- tre os jovens, se devem, em parte, a pressões
dade, mas nas finanças. Considerando que os dentro das sociedades neoliberais, que focam
clientes podem ter muita vergonha de admitir excessivamente em um senso do self como um
essas histórias, e que poderá demorar algum agente competitivo. Essas pressões aumen-
tempo antes que seja estabelecida uma relação tam as vulnerabilidades à vergonha e à auto-
terapêutica segura para que consigam revelá- crítica (Curran & Hill, 2019; Gilbert, 2018) e se
-las, podemos entender o problema (Keller, somam à epidemia crescente de problemas de
Zoellner, & Feeny, 2010). Nordomo, Monsen, solidão (Becker, Hartwich, & Haslam, 2021;
Hoglend e Solbakken (2020) destacaram o veja também o Capítulo 4).
fato de que, quanto mais complexa for a difi- Os terapeutas estão preocupados com o
culdade, mais longa precisará ser a terapia — foco excessivo nas mentes individuais como
em alguns casos, pelo menos 50 sessões. Além a fonte do problema, pois isso se alinha com
disso, as pesquisas estão revelando que temos o pensamento neoliberal, que enxerga os in-
que produzir mudanças psicofisiológicas em divíduos como unidades autônomas concor-
algumas pessoas, o que demanda tempo (Co- rentes (Becker et al., 2021). Além disso, essa
zolino, 2017; Schore, 2019,a,b). Um dos maio- perspectiva pode levar à individualização e à
res desafios é ajudar as pessoas a entenderem medicalização da miséria humana, enquan-
que psicoterapia não é apenas uma terapia pela to as empresas farmacêuticas buscam lucrar
fala, mas deve abordar questões de mudanças com a venda de curas para ela; afinal, há mui-
no sistema nervoso autônomo e no cérebro, ta coisa envolvida nas dificuldades de saúde
por meio de processos como a neuroplastici- mental (Horwitz & Wakefield, 2007). A histó-

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ria contada é que, se estamos deprimidos ou Haslam et al., 2018). Essa mudança do indi-
ansiosos, ou não podemos ser uma “unidade vidual para o social seria cara e politicamente
produtiva”, é porque há alguma coisa errada contestada. Mas o fato é que muitos proble-
conosco. Precisamos de conserto. A insensibili- mas de saúde mental e certamente problemas
dade do neoliberalismo, com suas economias antissociais podem remeter a origens iniciais
de mercado do tipo “nadamos ou afundamos”, inseguras, assustadoras ou negligentes e às
foi claramente ignorada. A ideia de que deve- diferenças entre os ambientes modernos e
mos procurar não só melhores terapias pesso- os nossos ambientes de caçadores-coletores,
ais, mas também melhores formas de cuidar que eram baseados em compartilhar e cuidar
uns dos outros, tem sido um sinal de alerta em uns dos outros (Dunbar, 2014; Gilbert, 2021;
abordagens mais radicais na psicologia clíni- Ryan, 2019; veja também os Capítulos 3-5).
ca (Gilbert, 1995, 2018, 2020a,b; Haslam et Ainda, atualmente, há uma onda crescente
al., 2018; Music, 2017; Siegel, 2020; Smail, de problemas de saúde mental associados às
2018/1987). experiências sociais da covid-19, incluindo
As abordagens evolucionistas não negam solidão, desconexão social, estresse e con-
a realidade do sofrimento individual nem a flitos familiares, e um aumento nos temores
realidade de que cérebros e corpos podem sociais de transmissão da infecção (Serafini
gerar padrões que dão origem a sofrimento, et al., 2020). Apesar de existirem várias tri-
ou a de que a dopamina pode estar baixa e o bos na psicoterapia, as pesquisas ano após
cortisol alto quando estamos em um estado da ano estão progressivamente destacando que a
mente deprimido. No entanto, elas indicam natureza da mente humana é altamente social
que é o contexto em que as pessoas cresceram, com necessidades sociais particulares. Seremos
ou em que estão vivendo agora, que está moti- mais capazes de abordar questões de pobreza,
vando o comportamento antissocial e os pro- opressão, desconexão e abuso, que produzem
blemas de saúde mental (Gilbert, 1995, 2018; tantos problemas de saúde mental e compor-
Music, 2017; Wilson & Hayes, 2018). Nossos tamentos antissociais, quando focarmos na
cérebros podem estar funcionando de forma criação de conexões de cuidado. Quando bus-
perfeitamente “normal”, mas é a toxicidade do camos a compaixão, não é apenas para nós
nosso ambiente que é o problema. Essas são mesmos, mas também para estarmos abertos
mensagens difíceis porque elas implicam que à compaixão dos outros e para sermos indi-
estamos muito menos no controle de nossas víduos que contribuem para o benefício dos
mentes do que pensamos, que somos muito outros. Usamos máscaras não só para nos
mais dependentes do nosso contexto social protegermos, mas também para protegermos
do que parece confortável, e que teremos que os outros.
ser responsáveis uns pelos outros em vez de
simplesmente cuidar de nós mesmos (Has- A necessidade evoluída
lam et al., 2018; Smail, 2018; Siegel, 2020). de conectividade social
Prevenção e alívio em uma escala internacio-
nal não vão ser encontrados em um frasco de Embora possamos entender a importância
comprimidos ou na tentativa de aumentar o do contexto social na criação de problemas de
acesso a algumas horas de psicoterapia (em- saúde mental e comportamento antissocial,
bora isso possa ser útil para alguns), mas na precisamos de uma compreensão baseada na
mudança social radical focada na compaixão evolução sobre o papel do contexto social e da
para melhorias na igualdade social, na pre- conectividade na regulação de cérebros, cor-
venção de abuso e na inclusão das pessoas em pos e mentes (Gilbert & Bailey, 2000; Gilbert,
comunidades de cuidado (Eisler & Fry, 2019; 2020b; Nesse, 2009; Capítulo 10 deste volu-

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me). Nós evoluímos os sistemas fisiológicos bondade, suavidade, razão e humanidade, to-
que monitoram e respondem de certas formas dos dentro de uma atmosfera familiar — com
aos ganhos sociais e às perdas sociais (Pank- excelentes resultados” (p. 104). A importância
sepp, 1998; Gilbert, 1989, 2000). O contexto de promover conexões de cuidado e compor-
do amor e cuidado versus negligência ou abu- tamento afiliativo também foi assumida pelo
so tem efeitos profundos nos muitos sistemas psiquiatra americano Harry Stack Sullivan
fisiológicos em maturação (Cozolino, 2014; (1892-1949; Sullivan, 2013), que defendia o
Music, 2017; Slavich, 2020; Porges, 2007; conceito de psiquiatria interpessoal, argumen-
Siegel, 2020). Nascemos com necessidades de tando contra o uso da expressão “entidades
relações sociais, e, se elas não são satisfeitas, de doença mental” para dificuldades de saúde
nosso desenvolvimento pode ser muito distor- mental comuns. Ele defendia que não se pode
cido. Assim, a razão de certos contextos serem entender as mentes humanas fora do contex-
tão importantes (e de precisarmos dar atenção to social em que elas estão inseridas. Também
a eles) é que a evolução estabeleceu esses po- enfatizou a importância de ter companheiros
tenciais. Isso não quer dizer que nossos genes e assinalou que são nossas interações e co-
ou contextos sejam o equivalente a destinos, nexões de companheirismo uns com os ou-
pois temos muitas habilidades cognitivas para tros, atualmente e durante o curso da nossa
tentar entender o que está acontecendo, mas história, que determinam nosso sentimento
significa que precisamos refletir atentamente de segurança, nossa autoidentidade e nossa
sobre a construção da mente e reconhecer que vulnerabilidade a estados de estresse e sofri-
uma fonte fundamental para o florescimento mento. Muitas das suas ideias precederam e
é a relação social afiliativa de cuidado (Cozoli- claramente influenciaram a teoria do apego
no, 2014; Gilbert, 1989; Music, 2017; Porges, (Pincus & Hopwood, 2012), e também foram
2007, 2011; Siegel, 2020). adotadas pelos terapeutas cognitivos (Safran,
Essa não é uma ideia nova, mas foi um 1990). Esses são legados muito importantes a
tema central para muitas tradições espirituais se ter em mente como fundamentos da TFC.
por milhares de anos na busca do bem comum
e do bem-estar comum (Lampert, 2005). Integração com transformação?
A criação de conexões de cuidado foi central
para a emergência inicial de formas “terapêu- Considerar que as mentes e os cérebros hu-
ticas” de ajudar pessoas com dificuldades de manos são moldados pelas relações sociais
saúde mental. Considere a inovadora “terapia tem implicações importantes para os alvos da
moral” de Tuke no Retiro de York, em 1796. Ela terapia (Cozolino, 2017; Gilbert, 1989, 2020a;
colocava a compaixão no seu centro. Concebi- Music, 2017). Quando tornarmos o cuidado um
do como uma comunidade terapêutica, o reti- foco, também seremos capazes de considerar a
ro tinha uma equipe e clientes que viviam em importância de cuidar de nossos corpos, rela-
proximidade, e específica e deliberadamente cionamentos sociais e ecologias, além de nos-
buscavam criar relações afiliativas de cuidado. sas mentes, como partes integrantes da psi-
A terapia envolvia o uso mínimo de restrição, coterapia. Por exemplo, integraremos melhor
as formas iniciais da terapia comportamental novas percepções referentes aos nossos corpos
(incluindo a programação de atividades) e um como ecossistemas, considerando que a nossa
ambiente humano e cuidador que era único na dieta, a ecologia dos intestinos e a exposição
época (Veale et al., 2015). O historiador mé- a micróbios e vírus podem desempenhar pa-
dico Porter (2002) destaca o quanto isso foi péis importantes nos estados mentais (Lima-
inovador, uma vez que o retiro “abandonou os -Ojeda, Rupprecht, & Baghai, 2017; Dunn,
meios ‘médicos’ em prol dos meios ‘morais’, 2011). Isso porque há evidências crescentes

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de que as dietas e os estilos de vida modernos cológicos e fisiológicos específicos, particu-


estão aumentando os processos inflamatórios larmente aqueles associados a mindfulness
que estão significativamente ligados à depres- e compaixão (Cozolino, 2017; Favre et al.,
são (Bullmore, 2018). Aspectos das dietas mo- 2021; Kim et al., 2020; Seppälä et al., 2017;
dernas são muito nocivos para o cérebro, não Singer & Engert, 2019) e à relação terapêutica
só para o corpo. Embora os psicoterapeutas (veja o Capítulo 13; Schore, 2019a,b). Tera-
possam não ser aqueles que oferecem orien- pias integrativas estabelecidas dessa forma,
tações específicas para reduzir inflamações, que podem ser encontradas em abordagens
eles podem certamente chamar a atenção dos como a abordagem neurobiológica interpes-
clientes para essas questões como parte de soal de Siegel (2006, 2019, 2020), requerem
uma abordagem biopsicossocial e holística, e maior consciência dos aspectos neurológicos
apoiar a mudança comportamental quanto à da terapia (Cozolino, 2017; Schore, 2019a,b)
dieta e à realização de exercícios. Também há e das formas de afetar o sistema nervoso au-
um interesse crescente na ideia de que ajudar tônomo (Porges, 2007, 2011, 2017). Sabemos
as pessoas a interagirem com a natureza pode agora que viver sob estresse constante tem
ter efeitos consideravelmente profundos no um impacto prejudicial nos sistemas nervoso
sentimento de conexão. central e autônomo e, em particular, em pro-
Cinquenta anos atrás, não possuíamos as cessos como a ligação cortisol-oxitocina e a
tecnologias para ajudar as pessoas a terem variabilidade na frequência cardíaca, que po-
consciência dos seus processos fisiológicos dem se tornar alvos da investigação terapêuti-
e de como mudá-los. Hoje temos, particu- ca (Thayer, Ahs, Fredrikson, Sollers, & Wager,
larmente em relação ao funcionamento do 2012). É particularmente importante com-
sistema nervoso autônomo (Cozolino, 2017; preender que, quando não somos capazes de
Porges, 2011; veja também o Capítulo 10). fugir (escapar ou controlar) de situações ame-
Existem, por exemplo, formas pelas quais as açadoras, os sistemas de ameaça são superes-
pessoas podem agora monitorar seus pro- timulados, com efeitos profundos no cérebro
cessos fisiológicos, como a variabilidade e no corpo (por exemplo, aumento do cortisol
da frequência cardíaca, e usar visualização, e manutenção de seu nível elevado) (Gilbert,
exercícios respiratórios e biofeedback para 2020c). A crescente riqueza da nossa ciência
treinar a variabilidade da frequência cardí- da mente significa que os dias das terapias de
aca, o que tem efeitos multiplicadores para processo único estão contados.
o comportamento pró-social e o bem-estar Assim, talvez tenhamos fechado um círcu-
mental (Bornemann, Kok, Böckler, & Singer, lo completo, revisitando a ideia do projeto de
2016). Também sabemos agora que existem Freud. Foram necessários mais de cem anos
treinos específicos em mindfulness, empatia e para entendermos os processos evolutivos da
compaixão que influenciam áreas cerebrais maneira como entendemos agora (Cozolino,
específicas (Favre, Kanske, Engen, & Singer, 2017; Gilbert 1998b; Hood, 2011; Nesse, 2019;
2021; Singer & Engert, 2019). É importan- Schore, 2019a,b) e, em particular, para en-
te mencionar que muitos dos sistemas fisio- tendermos que a evolução de certos sistemas
lógicos que agora estão sendo identificados motivacionais (p. ex., cuidar e compartilhar
como alvos para a psicoterapia são aqueles versus competir, Gilbert, 2021) tem importan-
que estão ligados a motivações de cuidado e tes propriedades fisiológicas e psicológicas or-
a sentimentos de conectividade social. Assim ganizadoras. Na época de Freud, havia muito
sendo, estamos vendo movimentos voltados pouco entendimento sobre o extraordinário
ao desenvolvimento de treinamentos únicos poder das motivações de apego e cuidado; hoje
para impactar uma gama de processos psi- esse conhecimento existe.

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Terapia focada na compaixão 11

Sofrimento e compaixão acabasse com sua carreira. Em segundo lugar,


o contexto das causas de dor e sofrimento tam-
Antes de prosseguirmos para alguns elemen- bém é importante. Nosso sofrimento pode ser
tos mais técnicos da TFC nos próximos capítu- diferente se quebrarmos uma perna salvando
los, podemos explorar alguns temas essenciais alguém ou por uma briga, ou por simplesmen-
mais existenciais que formam a textura da te- te estarmos bêbados e cairmos. Os domínios
rapia. Embora haja algumas controvérsias em cognitivo e contextual criam a textura da nos-
torno da natureza exata e da definição de com- sa experiência de sofrimento.
paixão, ela é tipicamente vista como uma mo- O budismo também distingue a dor do so-
tivação de cuidado e pode ser definida como frimento com o conceito de Dukkha. A dor se
uma sensibilidade ao sofrimento próprio e dos origina da realidade do domínio biológico da
outros, com um compromisso de tentar aliviá-lo e existência, dos corpos que são construídos
preveni-lo (Gilbert, 2017). Convém mencionar para sentir dor física, envelhecer, deteriorar-
que, nas tradições budistas, essa motivação é -se e morrer, e da impermanência de todas as
expandida de tal forma que se torna o desejo coisas, mas há também o sofrimento como dor
profundo de que todos os seres sencientes sejam li- mental, porque temos uma consciência que ex-
vres de sofrimento e das causas de sofrimento (Gil- periencia essas realidades — não somos robôs
bert & Choden, 2013; Ricard, 2015; Tsering, sem consciência (Tsering, 2005, 2008). Essa
2008). No entanto, se dissermos que “com- distinção é fundamental e crítica na TFC. Uma
paixão é lidar com o sofrimento”, estamos de distinção diferente, mas relacionada, entre
acordo quanto ao que entendemos por sofri- dor e sofrimento é representada no sutra das
mento? E isso significa que devemos procurar duas flechas; a primeira flecha causa dor, mas
aliviar e prevenir todos os tipos de sofrimento a segunda flecha é como reagimos a ela e o
ou apenas certos tipos? Essa é uma questão de- significado que lhe atribuímos (Gilbert & Cho-
licada. Explorando uma gama de dicionários den, 2013). Isso é importante porque, quando
ocidentais como Oxford, Cambridge e Collins, usamos uma afirmação como “Que eu seja li-
vemos que eles definem sofrimento como um vre de sofrimento”, isso não significa “Que eu
estado de “dor mental e física”. Sensky (2010) seja livre de dor”, em parte porque Buda con-
destaca o fato de que podemos experienciar siderava a dor e a perda inevitáveis, então esse
dor em uma parte específica do corpo, mas seria um desejo impossível. Assim, quando os
sofrimento tem a ver com a pessoa como um seguidores das tradições budistas focam nessa
todo, um estado da mente. Ele observa que di- afirmação, ela na verdade significa “Que eu me
zemos “Tenho dor na minha perna quebrada”, torne suficientemente iluminado para ter per-
mas não dizemos “Minha perna quebrada está cepção da impermanência de todas as coisas,
sofrendo”; em vez disso, dizemos “Estou so- ser livre de ilusões do ego, ter percepção da
frendo”. Novamente, então, como observado verdadeira natureza da mente e mudar a dor se
no Capítulo 2, sofrimento e compaixão estão eu puder e aceitá-la se eu não puder” (Tsering,
ligados devido à percepção consciente. Seu “cor- 2005). Essas ideias encontram novas perspec-
po” pode estar enviando mensagens de dor tivas e expressões nas tradições cognitivas que
para seu cérebro em uma mesa cirúrgica, mas, distinguem a avaliação primária (o significado
se você recebeu anestesia, você está sofrendo? de um evento), a secundária (o que podemos
Ainda, o contexto da dor interfere em como so- fazer a respeito), a sua interação (Lazarus
fremos. Por exemplo, se você trabalha sentado & Smith, 1988), conceitos que são centrais
junto a uma mesa e um computador, quebrar na TFC. Entretanto, conforme explorado no
uma perna será muito diferente de como se- próximo capítulo, na TFC, os significados que
ria se você fosse um jogador de futebol e isso atribuímos aos eventos estão ligados à nossa

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12 Gilbert & Simos

orientação motivacional e ao estado atual do terapias tenham muito a oferecer, a TFC é


cérebro que guia a cognição. contextualizada na realidade da fragilidade e
A compaixão requer esforços para abordar das tragédias da vida (Gilbert, 2009). A frase
e prevenir a dor sabiamente e diretamente, e não de marketing “Pense bons pensamentos para
apenas nossas reações (sofrimento), e isso envol- se sentir bem” é uma triste simplificação do
ve ciência. Os anestésicos são uma dádiva. Um mais importante desenvolvimento da terapia
antibiótico pode salvar uma vida! Em seu livro cognitiva na história da psicoterapia. A forma
comovente sobre sofrimento, David Roland como pensamos, raciocinamos, ruminamos
(2020) nos leva ao centro do seu próprio so- e planejamos pode, na verdade, nos ajudar a
frimento depois do seu acidente vascular cere- lidar melhor com tragédias terríveis na vida,
bral (AVC) e entrevista outros que tiveram tra- como a morte de pessoas amadas devido à
gédias na vida. Ele chega à mesma conclusão covid-19, mas não nos ajuda a nos sentirmos
implicada no conceito de Dukkha. A natureza bem. Sentir-se bem também requer todo um
do sofrimento que experimentamos quando a conjunto de condições sociais. Tais visões
tragédia ocorre depende de nossa capacidade tendem a apoiar a visão neoliberal reluzente
de lamentar e sentir raiva pelas perdas, depois da vida, que nega a fragilidade e as tragédias
seguir em direção à tolerância e à aceitação da nossa existência, bem como nossa inter-
perspicaz, com a terceira fase consistindo em dependência e nossa necessidade uns dos ou-
ser capaz de recolher as peças fragmentadas tros.
das nossas vidas e remoldá-las em novas for- A coragem que trazemos para o sofrimen-
mas de viver. O óleo que pode suavizar as bor- to é crucial. Coragem não é uma forma de
das afiadas e nos reagrupar é a compaixão. ausência de medo. É a habilidade de se man-
Central para a compaixão é o reconheci- ter firme na intenção de cuidado diante do
mento de que luto e tristeza fazem parte do medo. Assim sendo, uma abordagem corajosa
processo de viver e transformar o sofrimento e sábia do sofrimento também pode inspirar
(veja o Capítulo 9; Roland, 2020; Spelman, mudança, crescimento e desenvolvimento
1998). Os autores do importante livro de Har- (Roland, 2020). E o sofrimento nem sempre
ris (2011) destacam múltiplos domínios do está relacionado ao indivíduo. Por exemplo,
sofrimento por perdas. Perda da saúde e de Summerfield (2004) salienta que refugiados
funções corporais, perda de relações e vín- devastados pela guerra sofrem pela perda de
culos, perda de emprego e dinheiro, perda de suas comunidades e seus países, focando me-
significado, perda da esperança, perda da fé nos em si mesmos e mais no coletivo. Isso é
(religiosa) e, para todos nós, eventualmente, importante também para uma compreensão
perda da nossa vida. Além disso, conforme mais profunda do conceito budista de sofri-
observado a seguir, os indivíduos que chegam mento, porque, quando temos o desejo “Que
à terapia, especialmente aqueles provenientes eu seja livre do sofrimento”, não estamos dese-
de contextos inseguros, podem começar a ex- jando aprender a nos dissociar do sofrimento
perimentar a dor da perda mais profunda das de todos os outros. De certa forma, tornar-se
necessidades arquetípicas de serem amados e mais compassivo, na verdade, aumenta nossa
protegidos, as quais nunca foram atendidas experiência do sofrimento daqueles à nossa vol-
(veja o Capítulo 9). Esse é o sofrimento do ta, porque nos tornamos mais empaticamente
anseio não satisfeito por amor, proteção, pro- sintonizados (Gilbert & Choden, 2013).
ximidade e conexão. Podemos experienciar Existem complexidades relacionadas à
um anseio profundo e luto pelo que nunca ti- questão do alívio da dor e do sofrimento, pois
vemos, e não só pelo que tivemos e perdemos nossas lutas contra eles podem ter resultados
(Gilbert, no prelo). Embora as mais recentes imprevisíveis, como a construção de força e

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Terapia focada na compaixão 13

sabedoria. Alguns argumentaram que a me- Compaixão é o reconhecimento de que


dicalização excessiva de muitas formas de de- nem toda dor pode ser “consertada” ou
pressão e reação traumática, considerando-as “resolvida”, mas todo sofrimento pode se
“disfunções”, em vez de reações “funcionais”, tornar mais abordável em um cenário de
compaixão.
naturais e evoluídas que exigem apoio cuida-
Compaixão é uma resposta multitex-
doso e orientação, enfraquece seriamente a va- turizada à dor, à tristeza e à angústia. Ela
lidação dos esforços das pessoas para usar ex- inclui bondade, empatia, generosidade
periências para o crescimento (Summerfield, e aceitação. Os fios da coragem, da to-
2004). Horwitz e Wakefield (2007) escreve- lerância e da igualdade são igualmente
ram apaixonadamente sobre isso em seu livro tecidos na malha da compaixão. Acima
denominado The Loss of Sadness: How Psychia- de tudo, compaixão é a capacidade de se abrir
try Transformed Normal Sorrow into Depressive para a realidade do sofrimento e aspirar a sua
Disorder. No modelo médico, dor e sofrimento cura (p. 143, grifo nosso).
podem ser vistos como coisas das quais deve- Eles acrescentam:
mos “nos livrar”, em vez de uma oportunida- Compaixão é uma orientação da mente
de para “crescer e mudar”. Embora cirurgias e que reconhece a dor e a universalidade
medicamentos possam salvar e mudar vidas, da dor na experiência humana e a ca-
eles não fornecem insights, coragem ou sabe- pacidade de prestar atenção a essa dor
doria, não guiam as pessoas durante o luto ou com bondade, empatia, igualdade e pa-
o processo de crescimento, não desestigma- ciência. Enquanto a autocompaixão se
tizam ou inspiram. Isso tem a ver com uma orienta para nossa própria experiência,
a compaixão estende essa orientação
compreensão biopsicossocial da complexidade
para a experiência dos outros (p. 145).
do sofrimento, como para pessoas com câncer
terminal. Elas são extraordinariamente gratas Às vezes, então, o sofrimento não é algo
pelas medicações para alívio da dor e pelas ci- de que se livrar ou (passivamente) aceitar,
rurgias. Assistir a meu pai morrer de câncer de mas algo no que se engajar ativamente, e, no
pulmão me fez refletir sobre a agonia que as processo, ele pode revelar novos significados,
pessoas devem ter passado antes da invenção reorganizar nosso padrão arquetípico interno
desses tratamentos. No entanto, pessoas que e transformar nossas mentes (Roland, 2020).
estão morrendo podem encontrar novo signi- Podemos descobrir novas forças, aprender que
ficado na vida, especialmente em um contexto podemos nos envolver mais no sofrimento,
de apoio social e cuidados (Spiegel, 2016), e os e não menos, e isso inclui nossa prontidão
psicodélicos podem proporcionar experiên- para sofrer em benefício de outros.
cias diferentes de interconectividade e significa- Sofrimento e nossas preocupações existen-
do (Carhart-Harris, Errtzoe, Hajen, Kaelen, & ciais. Entender que sofremos é diferente das
Watts, 2018; veja também o Capítulo 11). De questões existenciais de por que sofremos.
fato, em muitas culturas e sociedades antigas, Temos explicações definitivas muito diferen-
a cura da mente dependia de ajudar a pessoa tes para o sofrimento (p. ex., religiosas versus
a experienciar sentimentos de conectividade científicas). Isso nos leva a todo um questio-
social e segurança (Gilbert & Gilbert, 2011). namento existencial de por que o universo
Assim sendo, a compaixão nem sempre con- existe e por que ele tem as leis que tem e por
segue atenuar ou prevenir o sofrimento, mas que existe o ácido desoxirribonucleico (DNA).
nos ajuda a navegar nele. Feldman e Kuyken O DNA é uma molécula complexa que contém
(2011) destacam as texturas multifacetadas as informações necessárias para construir e
da compaixão em relação ao sofrimento. Eles manter os organismos. Ele se replica e, ao fazer
sugerem que: isso, cria todas as formas de vida (terrenas), o

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14 Gilbert & Simos

que podemos ver como um milagre ou uma realidade das adversidades do mundo são dis-
maldição. Ele é responsável pela emergência sociar e tentar não focar demais nisso, apenas
das coisas vivas, das gramíneas aos dinossau- sendo gratos por nossas bolhas de conforto e
ros, dos vírus aos cérebros humanos, e algu- obsessão por riqueza. Mas, ao fazermos isso,
mas das suas criações foram verdadeiramente corremos o risco de nos tornarmos insensíveis
aterradoras e horrendas. Durante bilhões de e indiferentes ao sofrimento à nossa volta. Na
anos, as presas tiveram que evoluir formas de verdade, a busca pelo interesse próprio, para
se esconder e fugir, e os predadores, formas tornarmos nossas próprias vidas confortáveis,
de detectar, capturar e devorar. O fato de que motivação tão alardeada pela direita neoli-
a mudança ocorre por meio de processos que beral, depende de uma certa insensibilidade
promovem a sobrevivência (a curto prazo) e que não apenas permite, mas nos encoraja a
processos que acabam com ela mostra o lado nos apossarmos do que pudermos, indepen-
obscuro da vida. dentemente do impacto sobre os outros. Essa
A evolução do comportamento de cuidado também foi a base do colonialismo. E, só para
e cooperação ocorreu como parte da sobre- se somar a essa cacofonia de realidades de so-
vivência e do processo de replicação, e essas frimento, os humanos foram e são uma das
psicologias podem agora ser aproveitadas maiores fontes de sofrimento para outros hu-
para abordar o sofrimento. Até a chegada dos manos, para os animais e o ambiente. As mor-
humanos, com um novo tipo de consciência, tes pela covid-19 empalidecem em significân-
não havia nada mais na vida, apenas um in- cia se comparadas com as mortes e mutilações
terminável ciclo de vida e morte, devorar ou que os humanos têm causado a outros huma-
ser devorado, com os vírus e parasitas usando nos e animais nos últimos milhares de anos.
corpos hospedeiros para sua própria sobrevi- O famoso escritor existencialista Albert Ca-
vência e reprodução, mutilando, destruindo e mus, e muitos outros como ele, viam a vida
causando grande dor no processo — sendo a como “um absurdo”. O Buda não contextuali-
covid-19 apenas um exemplo das suas formas zou o sofrimento desse modo, porém há muito
malévolas. Todos nós desejamos uma saída no pensamento budista que combina bem com
rápida, porém muitos não conseguem. Luta- a abordagem evolucionista (Wright, 2017).
mos contra doenças dolorosas e debilitantes, Também tragicamente, desde o advento
AVCs, cânceres, demências, a perda da visão e da agricultura, construímos culturas e so-
da audição, a perda da mobilidade e de outras ciedades que revelaram o pior que existe em
funções. Enquanto alguns acreditam em um nós. Temos o potencial para os três grandes
criador amoroso, outros se perguntam como Cs: compaixão (compassion), insensibilidade
as realidades duras e selvagens e as misérias (callousness) e crueldade (cruelty). Podemos ser
da vida biológica poderiam ser uma criação compassivos e sensíveis ao sofrimento e querer
intencional. Eu pertenço a esse último grupo. fazer alguma coisa a respeito. Podemos ser
A compaixão nos possibilita a coragem insensíveis quando somos indiferentes ao so-
para sermos testemunhas das realidades do frimento e podemos até mesmo causá-lo na
sofrimento em que estamos inseridos, procu- busca do nosso próprio interesse. Podemos ser
rarmos suas causas e construirmos uma ciên- cruéis quando infligir sofrimento é o objetivo
cia sábia para lidar com e, quando possível, das nossas ações, e desfrutamos se isso satis-
prevenir o sofrimento. Isso não é fácil. Antes faz nosso desejo de poder, inveja ou vingança,
que conseguíssemos nos voltar para a ciência, ou se pode ser usado como forma de dissua-
criamos muitas formas de deuses como expli- são. Muitas sociedades mostram algum grau
cações e salvações, alguns deles muito ater- de insensibilidade quando permitem grandes
rorizantes. Outras maneiras de lidar com a injustiças sociais e se tornam relativamente

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Terapia focada na compaixão 15

indiferentes aos danos que certas indústrias O Buda sugeriu que, em vez de tentar fugir
estão causando. Provavelmente uma das so- do sofrimento, procuremos entrar nele. Mind-
ciedades mais cruéis foi a romana. Esse foi fulness e treino da mente eram, em boa parte,
um Estado terrorista em que o sofrimento era sobre lidar com esta vida e este cérebro, e ele não
desfrutado nos “jogos”, e o abuso de escravos, se deixaria envolver por quaisquer questões
a tortura e a crucificação faziam parte da vida. metafísicas sobre o que acontece posterior-
Ainda hoje, o prazer do sofrimento causado, mente. Crucial para a condição humana é que,
em filmes viris de vingança, pelos homens ao longo dos tempos, a busca tem sido por
bons contra os homens maus satisfaz nossa encontrar maneiras de confrontar o intenso
necessidade de entretenimento. Talvez essas sofrimento desta vida criada pelo DNA. Em
sejam distrações das nossas preocupações última análise, somos parte de uma profissão
existenciais. Os escritores existencialistas que está envolvida com o sofrimento, somos
(Yalom, 1980) nos dizem que nossas quatro confrontados regularmente pelas tragédias das
principais preocupações existenciais são a mentes em tormento e sofrimento e precisamos
busca pelo sentido, entremeada pelo confron- de um modelo em nossas mentes para dar um
to com a morte e a solidão, e lidando com a li- sentido a tudo isso. Se nos dissociarmos da re-
berdade. A compaixão nos ajuda com todas as alidade de nossas tragédias e do lado obscuro
quatro. Embora elas sejam importantes, a TFC da inerente severidade das formas biológicas
adota a visão budista de que uma busca bási- de vida e das nossas mentes, então como po-
ca dos humanos é compreender a natureza da deremos nos sentar com as questões dos nos-
mente e do sofrimento e descobrir o que fazer sos clientes? A TFC ressalta o fato de que to-
para promover insight, prosperidade e com- dos nós estamos na mesma jornada altamente
portamento pró-social. vulnerável de curta duração, somos apanha-
O pensamento budista tradicional sugere dos pelas mesmas tragédias e podemos ofe-
que nossas ilusões criadas por nosso senti- recer ajuda uns aos outros da melhor forma
mento de um self autônomo fazem parte das possível. Os psicoterapeutas precisam ponde-
fontes de sofrimento, devido à forma como rar essas questões existenciais para que consi-
elas nos fazem agarrá-las e lutar para mantê- gam entrar no mundo do sofrimento mental.
-las (Hood, 2011; Wright, 2017). De forma um Ao trabalhar com mentes mais complexas
pouco diferente, Mark Leary (2004) também em tormento, é preciso ter alguma habilidade
defende que algumas das coisas que desenvol- para estar aberto, mas não ser arrebatado pe-
vemos, como um senso de identidade, podem los horrores da vida, para poder manter uma
ser maldições, e não dons (Gilbert, 1998a,b). conectividade empática com o sofrimento.
De fato, parte da meditação antiga e do trei- Alegrias. No entanto, é óbvio que a vida tam-
no de compaixão era fazer você se desligar da bém tem muitas fontes de beleza, deslum-
roda da vida para que não tivesse que voltar a bramento, prazeres e alegrias, mesmo que
“este lugar de sofrimento”. O budismo não vê temporários. Temos a “alegria dos sentidos”,
as pessoas se enfileirando para renascer como as maravilhas da visão, da audição, do tato
se estivessem vindo de férias. Como diz Mc- e do paladar, as maravilhas do movimento,
Mahon (2007), em suas fascinantes e impor- pelo menos quando somos jovens e estamos
tantes explorações multiculturais históricas em forma. Há as maravilhas da imensidão
sobre a procura da felicidade, a confrontação das montanhas e dos oceanos, as texturas das
com o sofrimento e os nossos esforços para florestas, noites quentes, pores do sol, vinho
buscar a felicidade na expectativa de uma me- tinto e sanduíches. E, é claro, há os sentimen-
lhor existência pós-morte são muito antigos e, tos extraordinariamente poderosos e mara-
por vezes, desesperados. vilhosos de afeto, conexão e pertencimento,

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16 Gilbert & Simos

amor e proximidade física. Os psicodélicos na TFC, a construção de conexões de cuidado


podem nos impelir ainda mais para o inte- dentro do indivíduo (um self compassivo) e
rior do mundo da conectividade, mas, se isso entre o indivíduo e os outros faz uma ponte
fala de algo transcendental ou é apenas mais entre dificuldades de saúde mental e bem-
uma manifestação da neuroquímica, ainda é -estar.
objeto de acalorados debates (veja o Capítulo Uma das terapias cognitivo-comporta-
11). Independentemente de vermos a consci- mentais mais recentes que fez essa ponte
ência como uma propriedade do universo (o com a psicologia positiva é a terapia de acei-
que sou inclinado a ver; Harris, 2019) ou não, tação e compromisso (ACT) (Luoma, Hayes,
podemos começar a valorizar o fato de termos & Walser, 2018). Hayes (2019) oferece uma
mentes que podem criar padrões ondulató- introdução à ACT que é prática e muito fácil
rios em campos de relações com outras men- de entender. Como nas tradições budistas, a
tes conscientes (Siegel, 2016). Isso porque a aceitação deve ser acompanhada de discerni-
compaixão e as relações de cuidado são tão mento, pois não significa resignação ressenti-
centrais para nossas habilidades de nos enga- da ou rendição, e também não significa passi-
jarmos nas lutas e nos sofrimentos da vida que vidade. Se chove no dia do nosso casamento,
elas podem ser a base para a psicoterapia. obviamente ficaremos frustrados, mas, quan-
Sofrimento, necessidades e bem-estar. Evi- to mais rápido aceitarmos isso e focarmos no
dentemente, a compaixão também deve pre- que será útil (pegar os guarda-chuvas), em
venir o sofrimento, e isso nos leva ao processo vez de vociferar contra a situação, melhor
de prevenção. É por isso que a incluímos na vamos nos sentir. Aceitação não significa que
definição (Gilbert & Choden, 2013). Preven- vamos prosseguir de qualquer forma e acabar
ção não só envolve comportamentos que evi- chegando à igreja ensopados! Nós mudamos
tam danos, mas também comportamentos nosso comportamento. Assim sendo, acei-
que promovem a prosperidade. Por exemplo, tação também tem a ver com discernir o que é
se os bebês não são alimentados, eles mor- útil do que não é útil. Essa é a base da sabe-
rem; se não são mantidos aquecidos, eles doria que também é central para a compaixão
morrem. Igualmente, se ninguém brinca com (veja o Capítulo 2). Alguns anos atrás, Tirch,
eles, e se eles não recebem comunicações afe- Schoendorff e Silberstein (2014) apresenta-
tivas, sua capacidade de tirar prazer da vida ram os conceitos da TFC à comunidade da
pode ser prejudicada (Music, 2017). Dito de ACT. Hill e Sorensen (2021) desenvolveram
forma simples, os bebês têm necessidades, uma abordagem integrativa da ACT de au-
e, se as necessidades não são satisfeitas, eles toajuda e baseada na compaixão. Embora as
sofrem. Os humanos têm necessidades físi- duas escolas difiram em seu modelo básico e
cas, mas também psicológicas e sociais (veja sua filosofia (por exemplo, a ACT desenvol-
o Capítulo 3 para ler sobre as necessidades de veu um enquadramento relacional, enquanto
cuidado e conectividade). Essas necessidades a TFC está enraizada no estado cerebral e na
foram particularmente destacadas no que fi- teoria da evolução e dos processos biopsicos-
cou conhecido como a psicologia positiva sociais), também há sobreposições e apren-
(Bohlmeijer & Westerhof, 2020). Esses auto- dizagem entre as duas. Muitos dos principais
res ainda destacam que a abordagem das ne- objetivos na terapia que a ACT destaca são
cessidades básicas humanas — por exemplo, muito importantes para a TFC e, de fato, para
a necessidade de significado, esperança e um outras terapias também. Os temas principais
senso de contribuição, e, é claro, a necessida- são: aprender a ter consciência plena e cons-
de de relações sociais de cuidado — também ciência da mente; desenvolver competências
é um objetivo essencial na terapia. Portanto, de aceitação e tolerância, em vez de tentar se

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Terapia focada na compaixão 17

livrar ou se afastar; enfatizar que o cérebro mos as motivações compassiva e de cuidado


humano cria todos os tipos de histórias sobre como centrais para nossa identidade e nossa
si mesmo de formas que outros animais não busca pelos objetivos de vida. Isso tem efeitos
são capazes, mas podemos nos “fundir com de longo alcance na organização psicofisioló-
elas” e assumi-las como algo sólido sobre o gica da mente, na promoção do bem-estar, no
self (Hayes, 2019), quando, de fato, elas são comportamento pró-social e na criação de co-
algoritmos texturizando a consciência (Gil- munidades de cuidado.
bert, 1998b; Hood, 2011). Isso lembra a no-
ção de Leary (2004) da maldição do self, já que
tomamos essas histórias para descrever quem
Minha jornada terapêutica
somos, quando, de fato, elas são construções. até a terapia focada na
Esse é um tema essencial na TFC, mas o vin- compaixão: os três choques
culamos a como o cérebro evoluído cria uma
noção de self para perseguir tarefas na vida. Um dos caminhos até a valorização do estímu-
Daí a importância de recuar e observá-las lo ao cuidado e à compaixão partiu certamente
como histórias criadas pelas experiências da das realidades do sofrimento, conforme men-
vida. Isso é denominado desfusão. A ACT foca cionado anteriormente, e dos meus interesses
na desfusão das narrativas verbais, enquanto, budistas. Outro derivou da experiência clínica.
na TFC, isso se dá a partir de algoritmos po- Entre as modalidades dominantes em que fui
derosos. Importante também é poder enten- treinado no final da década de 1970 e no início
der e viver de acordo com os próprios valores. dos anos 1980, estava a terapia cognitiva de
A psicologia positiva indica como viver uma Beck, em rápido desenvolvimento (Beck et al.,
vida significativa focada em valores, que nos 1979), as terapias comportamentais mais an-
possibilite ser flexíveis na forma como res- tigas (p. ex., Rachman, 1990) e a terapia cen-
pondemos aos seus desafios. A flexibilidade trada na pessoa, de Rogers (Murphy & Joseph,
da função é importante para todos os “siste- 2016). Elas ofereciam muitas habilidades ma-
mas”, incluindo nossa mente e nosso corpo. ravilhosas. Central para todas as três, e funda-
Essencialmente, a maioria das terapias mental para a TFC, é a importância da desco-
visa a desenvolver uma mente que não este- berta guiada e de ajudar a pessoa a descobrir
ja em guerra consigo mesma, mas seja uma suas próprias sabedorias intuitivas, forças e
mente perspicaz, receptiva e tolerante. Embo- soluções, e para a TCC, praticar as habilidades.
ra a compaixão possa ser vista como um valor, Posteriormente, tive oportunidades de trei-
na TFC, ela é uma motivação evolutiva. Mo- no em outras modalidades, incluindo terapia
tivações são diferentes de valores, no sentido psicodinâmica de grupo, e passei quatro anos
de que as motivações, na TFC, têm histórias trabalhando em um hospital-dia que segue a
evolucionárias (são arquetípicas) e estão as- linha junguiana com supervisão regular. Mui-
sociadas a algoritmos e infraestruturas fisio- tas das intervenções da TCC são centrais para
lógicas importantes (veja o Capítulo 2). Na a TFC, embora, como você verá (Capítulo 2),
TFC, estamos muito interessados em ajudar as em termos do seu modelo básico dos proces-
pessoas a desenvolverem consciência mental sos psicológicos, a TFC nunca se considerou
e percepções da natureza evolutiva, complexa uma abordagem de terceira onda da TCC,
e complicada da mente humana (Hood, 2011) porque ela é um modelo evolucionista, biopsi-
e a entenderem como desenvolver as arquite- cossocial e consiliente, que integra as ciências
turas fisiológicas que elas precisam para uma básicas com outras terapias baseadas em evo-
vida compassiva. Na TFC, em sintonia com lução, como as arquetípicas, de apego e aque-
os princípios do budismo Mahayana, coloca- las baseadas na posição social (Gilbert, 1984,

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18 Gilbert & Simos

1989, 1992, 1995, 2009a). Em 2000, em nosso polivagal e o ioga — estamos todos avançan-
livro editado sobre abordagens evolucionistas do na direção de uma ciência daquilo que aju-
da psicoterapia (Gilbert & Baley, 2000), ex- da as pessoas. De fato, mesmo na década de
plorei como integrar à TCC conceitos evolu- 1980, os terapeutas cognitivos reconheciam
cionários sobre conflitos motivacionais e tex- que pode haver uma defasagem entre cabeça
turas focadas na compaixão (Gilbert, 2000). e coração, no sentido de que as pessoas po-
É extremamente importante distinguir mo- dem experenciar mudança cognitiva, mas não
delos científicos básicos dos estados mentais mudança emocional (Stott, 2007). Sabemos
de intervenções terapêuticas (veja o Capítulo há algum tempo que os sistemas de motiva-
7). Diferentes modelos podem usar interven- ção, emoção, cognição e comportamento não
ções muito semelhantes em certos contextos, estão tão intimamente ligados e sincronizados
mas por razões diferentes. Assim sendo, meu como se supunha. Além disso, agora é geral-
livro de autoajuda sobre depressão é apoiado mente aceito que os processos inconscientes,
por intervenções cognitivo-comportamen- incluindo de necessidades não satisfeitas, são
tais, mas contextualizado nos modelos evo- extremamente importantes para entender as
lucionista e da compaixão (Gilbert, 2009b). manifestações de qualquer estado mental es-
Igualmente, pude explorar como abordagens pecífico (Bargh, 2017).
focadas na compaixão podem embasar e dar Os clientes que me guiaram. Depois de con-
textura à TCC (Gilbert, 2010). Beck sempre foi cluir um doutorado (1975-1980) sobre de-
claro ao dizer que, tendo apenas três concei- pressão, meu interesse clínico especial pas-
tos, como pensamentos automáticos, crenças saram a ser as depressões crônicas e severas,
disfuncionais e esquema, nunca a intenção foi particularmente as associadas a origens com-
ser uma teoria do cérebro ou da mente, mas plexas. Eu estava trabalhando com uma mu-
um conjunto de heurísticas úteis para guiar a lher, a quem vou chamar ficticiamente de Ker-
intervenção terapêutica e possibilitar que as ry, também alterando alguns detalhes. Kerry
pessoas entendam e ajudem a si mesmas (ver foi adotada quando bebê e teve uma vida mui-
Rosner, 2020 para uma discussão fascinante to difícil na sua família adotiva. A adaptação
da história). Também é importante mencionar psicológica à adoção apresenta suas próprias
que Beck sempre foi interessado em modelos dificuldades (Schachter & Schachter, 2011).
evolucionistas e que tivemos muitas discus- Ela sofreu de depressão severa e crônica de
sões empolgantes. Além disso, a TFC evoluiu uma forma bipolar por muitos anos e passou
sobretudo sob a proteção da comunidade da por inúmeras tentativas de suicídio e interna-
TCC, que foi uma família extraordinaria- ções hospitalares. Kerry tinha uma sensação
mente apoiadora, promovendo conferências interna muito forte de não ser desejada e de
e workshops, possibilitando seu crescimento e que não deveria ter nascido. No entanto, ela
desenvolvimento. Muitos terapeutas hoje re- era uma pessoa cuidadora e tinha um bom
conhecem que não precisamos nos apegar a relacionamento com seu marido e seus filhos,
esses rótulos tribais para que tenhamos um que estavam se saindo muito bem no traba-
senso de pertencimento, mas precisamos ter lho e na escola. Ela também foi capaz de gerar
um melhor conhecimento da nossa “ciência da crenças genuínas de que seu marido e seus fi-
mente” e ser habilidosos em nossas interven- lhos se importavam com ela. Ela tinha amigos
ções. Assim sendo, muitas terapias e terapeu- e conseguia se manter nos empregos. Em um
tas que se rotulam como “TCC” também estão nível, ela acreditava nisso, mas sem nenhum
integrando a teoria do apego, o psicodrama, impacto na sua depressão. Certo dia, tive a
o trabalho com cadeiras, a terapia focada na ideia de lhe pedir para expressar seus pensa-
emoção, a terapia focada no corpo, a teoria mentos de enfrentamento como ela realmente os

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Terapia focada na compaixão 19

ouvia na sua cabeça. Um tanto embaraçada ini- previsto era que a ativação de um sistema
cialmente, ela então concordou, e este foi meu motivacional de cuidado poderia ativar signi-
primeiro choque — o tom emocional era alta- ficativamente o sistema de ameaças, se hou-
mente agressivo e insolente, algo como: “Ah, vesse ameaças codificadas dentro dele. Para
qual é! Você está fazendo terapia cognitiva, explicar isso, imagine que você gosta de férias
então olhe as malditas evidências. Você sabe e espera ansiosamente por elas; os anúncios
que seu marido e seus filhos amam você e que sobre férias desencadeiam alegria. Mas então,
quando não está deprimida você também os nas suas férias, você está se sentindo muito
ama. Você tem amigos que se preocupam com mal e acaba no hospital. O que acontece no seu
você”, e assim por diante. Para um jovem tera- corpo na próxima vez que você vê anúncios
peuta, aquilo foi um choque, e comecei a fazer de férias? O que acontece com sua motivação
a mesma pergunta a outros clientes. Percebi para sair de férias? Ou, então, imagine que,
exatamente a mesma coisa em alguns deles, cada vez que você tentou ser assertivo quando
que a hostilidade nos esforços de enfrenta- criança, você apanhou, foi constrangido e re-
mento era poderosa, mas ocorria nos domínios jeitado. O que acontecerá no seu corpo quan-
motivacional e emocional, e não nos cognitivos. do você tentar ser assertivo posteriormente na
As razões por trás disso são complexas, mas sua vida? Independentemente de chamarmos
ninguém havia me dito para descobrir o tom isso de esquema ou (minha preferência) res-
emocional dos pensamentos de enfrentamento postas classicamente condicionadas, o fato é
das pessoas, então eu vinha me concentrando que esse sistema motivacional (sair de férias)
na obtenção de evidências e fazendo experi- agora será tóxico se ele for “texturizado” com
mentos comportamentais, e assim por diante. trauma. Portanto, se as pessoas tiverem trau-
A solução óbvia era tentar mudar o tom mas nos sistemas de apego e cuidado, quando
emocional de Kerry, para que ela pudesse de- você começar a trilhar o caminho da compai-
senvolver um tom emocional mais compassi- xão, vai começar a abrir sistemas de cuidado,
vo, cordial, bondoso, compreensivo e amisto- e isso é o que vai atingi-las. E não é apenas
so. Isso deu origem ao meu segundo choque, já o trauma, são também as necessidades frustra-
que ela não só não conseguia fazer isso, mas das nesse sistema. Por exemplo, se o trauma foi
também não o faria (não queria fazê-lo). Ela relacionado a determinado destino de férias,
achava que a compaixão era fraca e inútil e então poderíamos potencialmente evitar ir a
não conseguia de forma alguma entender esse lugar ou sair de férias, mas, se o trauma
como é que isso poderia ser útil. Eu não havia foi associado ao próprio sistema de cuidado,
previsto a resistência em criar motivação para como poderemos evitar experiências de cui-
compaixão e sentir compaixão. Hoje temos dado ou evitar um anseio inato de ser cuida-
uma melhor compreensão e reconhecemos do, protegido, amado e desejado, com o qual
o quanto é essencial esclarecer as definições todos os humanos nascem (Gilbert, no prelo;
logo no começo da terapia (veja o Capítulo 6). veja também o Capítulo 9)? Logo nos primei-
Meu terceiro choque aconteceu quando co- ros meses da TFC, tornou-se evidente que a
meçamos a percorrer esse caminho. Olhando compaixão não seria uma simples questão de
em retrospectiva agora, tenho que admitir fazer alguns exercícios aqui e ali. Para os ti-
que fui um pouco ingênuo, especialmente pos de cliente que eu estava atendendo, seria
porque eu já havia trabalhado muito no con- necessário um grande trabalho de reparo no sis-
dicionamento clássico. Sou um entusiasta do tema de cuidado a fim de desintoxicá-lo antes
condicionamento clássico, precisamente por- que as pessoas pudessem usá-lo. Essa é uma
que ele conecta corpo e mente e não requer mensagem que pode ser difícil de transmitir
pensamento consciente. O que eu não havia às pessoas que estão começando na TFC, e

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20 Gilbert & Simos

ainda hoje vemos o surgimento de trabalhos enforcamentos por roubo de pães, estamos
acadêmicos que apresentam apenas alguns apenas começando a nos dar conta do quão
exercícios de compaixão e questionam por anormais e destrutivos as sociedades agríco-
que eles não funcionam tão bem. Essa é tam- las modernas nos tornaram (Gilbert, 2018).
bém a razão pela qual eu aviso que, se você Apesar das muitas tradições espirituais que
quiser seguir nosso caminho na TFC, não enfatizam a importância da compaixão como
bastará simplesmente adotar práticas budis- uma forma de lidar com o lado sombrio da
tas, por mais úteis e relevantes que elas sejam mente, ela é frequentemente mal retratada
(Gilbert & Choden, 2013). Como discutido em nas mídias sociais. A ideia de que a compai-
outros capítulos, parte dessa desintoxicação xão é, de alguma forma, fraca ou simples-
dos sistemas de cuidado, para os casos mais mente significa ser amável, agradável, cari-
crônicos e complexos, pode envolver o pro- nhoso ou gentil não compreende adequadamente
cesso de luto intenso (envolvendo raiva, an- a coragem, a sabedoria, a dedicação e o altruísmo
siedade e tristeza) e a reexperiência do anseio da compaixão (Gilbert, Basran, MacArthur, &
de ser amado, desejado e protegido (Gilbert, Kirby, 2019; Ricard, 2015). Além disso, infe-
no prelo; veja também o Capítulo 9). Senti- lizmente, o uso da palavra “amor” em deter-
mentos profundos de solidão e desconexão minadas práticas introduziu problemas reais
também podem estar associados a uma raiva de definição e tradução dessa palavra. Assim
assustadora. como algumas línguas não têm nenhuma de-
finição clara de compaixão e, às vezes, podem
Compaixão pelo lado sombrio confundi-la com piedade, diferentes culturas
definem o amor de maneiras muito diferen-
Há outro aspecto na abordagem da compai- tes. Se você procurar a palavra em qualquer
xão que algumas vezes é esquecido. Algu- dicionário de inglês, encontrará que ela en-
mas vezes, ao tentarmos aliviar o sofrimento volve gostar e querer estar perto e, às vezes, afe-
mental, temos que nos embrenhar nos cantos to. A compaixão não precisa envolver isso. As
mais obscuros da mente. Atualmente, mui- pessoas que arriscam suas vidas para salvar
tos comentaristas, filósofos e outros estão pacientes da covid-19 poderiam até mesmo
reconhecendo que a humanidade precisa ur- não gostar deles se os conhecessem, mas,
gentemente começar a entender a si mesma, ainda assim, arriscam suas vidas por eles.
entender a natureza da sua mente, como ela A crescente obsessão da classe média oci-
foi criada, como foi programada, para o que dental pelo autoamor é ainda pior. Parte do
foi projetada. Isso vai nos capacitar para cul- problema está em conceitos como amor-
tivarmos o melhor, e não o pior de nós, deli- -bondade, porque, na realidade, deveria ser
berada e intencionalmente (Sapolsky, 2017). amabilidade benevolente, que não requer que
Tragicamente, nossa história de guerras, es- gostemos daqueles que queremos que não
tupros, escravidão, motivações e formas de sofram. Na tradição budista Mahayana, a
execução, e muito mais, mostra que vivemos compaixão é claramente compreendida como
por um longo tempo em Estados basicamente amor altruísta, sendo que a palavra “altruísta”
terroristas, em que as elites usaram opressão é essencial para destacar que o foco é abor-
contra a maioria, e ainda fazem isso (Gilbert, dar o sofrimento e as causas do sofrimento
2021). Seja nas religiões que nos ameaçavam em todos os seres sencientes (Ricard, 2015).
com o inferno, nas sociedades que nos cruci- Há muito sobre mim que aceito e compreen-
ficavam por crimes menores, ou até mesmo do, mas não preciso amar este cérebro cria-
neste país (Reino Unido), em que, há apenas do biologicamente. De fato, a compaixão é o
algumas centenas de anos, eram realizados mais difícil, moral, corajoso e sábio de todos

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Terapia focada na compaixão 21

os motivos humanos, precisamente porque Referências


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gostamos ou não amamos, e até mesmo coisas Able, J., & Clarke, L. (2020). The compassion project: A
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que podemos temer. Imagine o que acontece-
beat loneliness. Aster.
ria se vivêssemos em um mundo onde todos
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desejo genuíno de que elas não sofram, fazer o Beck, A.T., Rush, A.J., Shaw, B.F., & Emery, G. (1979).
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certamente não causá-lo insensivelmente. Becker, J. C., Hartwich, L., & Haslam, S. A. (2021).
Neoliberalism can reduce well-being by promoting
a sense of social disconnection, competition, and
Este livro loneliness. The British Journal of Social Psychology.
(advance on line).
Juntamente aos editores, refletimos se os ca- Bohlmeijer, E.T., & Westerhof, G.J. (2020). A new
pítulos sobre a ciência básica deveriam ser model for sustainable health integrating well-being
um livro separado ou ser mantidos aqui para into psychological treatment. In J. Kirby & P. Gil-
bert (Eds.). Making an impact on mental health: The
apoiar os capítulos sobre aplicabilidade clí- applications of psychological research (pp. 153–188).
nica. Como os editores, nós queríamos que Routledge.
as coisas estivessem em um único lugar para Bornemann, B., Kok, B.E., Böckler, A., & Singer, T.
as pessoas. Este capítulo contextualiza os ca- (2016). Helping from the heart: Voluntary upregu-
pítulos seguintes em termos dos desafios que lation of heart rate variability predicts altruistic be-
a nossa profissão enfrenta, o movimento em haviour. Biological Psychiatry, 119, 54–63.
direção a uma abordagem biopsicossocial Brown, G.W., Adler, W.Z., & Bifulco, A. (1988). Life
events, difficulties and recovery from chronic de-
muito maior, focada em processos, para a qual pression. British Journal of Psychiatry, 152, 487–498.
muitas terapias agora estão se voltando, e a
Bullmore, E. (2018) The inflamed mind: A radical new
importância de compreender nossas necessi- approach to depression. Short Books.
dades básicas evolutivas de conectividade so- Carhart-Harris, R.L., Erritzoe, D., Haijen, E., Kaelen,
cial, participação e cuidado. A TFC está preo- M., & Watts, R. (2018). Psychedelics and connected-
cupada com a dinâmica do sofrimento, o que ness. Psychopharmacology, 235(2), 547–550.
o facilita, o que nos ajuda a passar por ele e o Costello, A. (2018). The social edge: The power of sympa-
que nos coloca em becos sem saída nos quais thy groups for our health wealth and sustainable future.
Thornwick.
ficamos presos. Este livro é um grande pra-
zer para mim, por causa de todas as pessoas Cowles, M.K., Pariante, C.M., & Nemeroff, C.B.
(2009). Depression in the medically ill. In C.M.
maravilhosas envolvidas que têm trabalhado Pariante, R.M. Nesse, D. Nutt, & L. Wolpert (Eds.).
para desenvolver a TFC e trazer a compaixão Understanding depression: A translational approach
para a cura das mentes, entendendo a impor- (pp. 7–16). Oxford University Press.
tância central do foco motivacional. No final Cozolino, L. (2014). The neuroscience of human relation-
deste livro, você poderá concordar conosco ships: Attachment and the developing social brain (2nd
ed.) (Norton Series on Interpersonal Neurobiology).
ou discordar da ideia de que estamos em uma
W.W. Norton.
encruzilhada em diversas áreas da nossa vida,
Cozolino, L. (2017). The neuroscience of psychotherapy:
não só em nossa psicoterapia, mas em nossa Healing the Social Brain (2nd ed.) (Norton Series on
política, nossa economia e nossas culturas. Interpersonal Neurobiology). W.W. Norton.
A compaixão é o único processo de cura que Curran, T., & Hill, A.P. (2019). Perfectionism is in-
pode nos mostrar um caminho a seguir. creasing over time: A meta-analysis of birth cohort

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22 Gilbert & Simos

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