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TERAPIA FOCADA
NA COMPAIXÃO
Uma abordagem
biopsicossocial evolutiva
Paul Gilbert
resse apaixonado, às nossas competências e à til e oferece muitos outros benefícios à saúde
forma como criamos conexões sociais de cuidado (Costello, 2018). Há crescentes evidências
que hoje vemos o cérebro humano como um científicas da importância dessa abordagem
cérebro essencialmente social (Dunbar, 2014; social da saúde mental (Haslam et al., 2018,
Lockwood, et al., 2020; Porcelli et al., 2019; e veja a seguir). A TFC tem suas origens nas
Silston et al., 2018). Ocorreram adaptações publicações sobre abordagens do estado ce-
importantes nos sistemas nervoso autônomo rebral (Gilbert, 1984) e motivações sociais,
e imunológico, que regulam a saúde e a feli- como Human Nature and Suffering (Gilbert,
cidade, como resultado da evolução das rela- 1989). Ela está baseada no fato de que somos
ções de proximidade (Cozolino, 2014; Has- uma espécie social com motivações sociais
lam, Jetten, Cruwys, Dingle, & Haslam, 2018; complexas e, às vezes, diferentes e confli-
Porges, 2007, 2017; Siegel, 2020). Atualmen- tantes, tanto úteis quanto não úteis. Embora
te, há evidências de que, quando estamos in- a TFC tenha sido identificada como uma te-
seridos em relações próximas e acolhedoras, rapia cognitiva da terceira onda e como uni-
muitas funções fisiológicas, como os siste- camente focada na autocompaixão, isso está
mas imunológico, cardiovascular e nervoso incorreto. A essência da TFC é levar o indiví-
autônomo, juntamente aos principais neu- duo a criar conexões de cuidado e compaixão
rocircuitos, o comprimento dos telômeros e consigo mesmo e com os outros que recrutem
os nossos perfis epigenéticos, são afetadas os ingredientes fisiológicos do cuidado, para
positivamente (para uma revisão abrangen- apoiar uma mente saudável e útil. Um indiví-
te, ver Slavich, 2020). Por outro lado, vergo- duo autocompassivo que não tem interesse ou
nha, intimidação e opressão, juntamente a capacidade de ajudar os outros ou ser ajudado
solidão e desconexão social, e relações auto- pelos outros acabará com dificuldades e será
críticas hostis com nós mesmos, são prejudi- problemático para sua comunidade.
ciais para a saúde. Apesar das reivindicações
neoliberais, não somos unidades autônomas,
mas evoluímos para a vida social e prospera- Uma rápida olhada nos desafios
mos melhor em uma dieta de conexões sociais atuais da psicoterapia e por
de cuidado, envolvendo o dar e o receber entre que ela precisa ser socializada
o indivíduo e os outros. Na medicina física,
também há uma consciência crescente de O progresso da psicoterapia nos últimos 50
que dificuldades como alterações na pressão anos tem sido excitante, mas também uma
arterial e outras condições de saúde crônicas jornada um tanto caótica. Diferentes tera-
se tornam muito piores no contexto de solidão pias, enraizadas em diferentes concepções e
e/ou relações hostis entre o indivíduo e os ou- focando diferentes micro-habilidades e inter-
tros. A medicina comunitária está, portanto, venções, proliferaram em múltiplas direções
concentrando-se cada vez mais em descobrir ramificadas. Alguns compararam isso ao que
como construir comunidades sociais de cui- acontece nas religiões (Epstein, 2006). Muitos
dado integradas e está vendo quedas radicais reconhecem que há alguma coisa fundamen-
nas admissões de emergência e crescimento talmente preocupante no fato de termos mais
no bem-estar geral (Abe & Clarke, 2020). No de 400 escolas de psicoterapia diferentes, com
mundo todo, a saúde está sendo promovida frequência perseguindo temas ligeiramente
pela facilitação das relações comunitárias de (e, às vezes, não tão ligeiramente) diferentes,
cuidado. Por exemplo, a promoção de grupos sem muita unidade na compreensão da men-
de apoio a mulheres reduz significativamente te com a qual estamos trabalhando (Norcross
a depressão pós-natal e a mortalidade infan- & Lambert, 2019; Zarbo, Tasca, Cattafi, &
Compare, 2016). De fato, muitos observa- Isso novamente nos faz questionar se as
ram que uma “crise de fragmentação” emerge abordagens sociais contextuais poderiam adi-
quando não existe uma ciência consistente que cionar elementos cruciais aos pacotes de trata-
permita que diferentes grupos se dividam em mento individualizados (Haslam et al., 2018;
subgrupos para formar suas próprias tribos Smail, 2018). Basicamente, quanto mais tem-
com seus próprios modelos, qualificações e po você acompanhar as pessoas, pior algumas
identidades grupais (Gilbert, 1995, 2019; Gil- delas vão se sair, a menos que experimentem uma
bert & Kirby, 2019; Shamdasani & Lowenthal, mudança social benevolente (Brown, Adler, & Bi-
2020; Siegel, 2006). As “tribos” se transforma- fulco, 1988). Assim sendo, as terapias devem
ram em negócios com seus próprios treina- abordar questões comportamentais e psicos-
mentos, acreditações, conferências e publica- sociais. As terapias mais recentes estão um
ções científicas, oferecendo um sentimento de passo adiante — mas não se trata de um pas-
pertencimento e autoidentidade e competindo so gigante. Watkins e Newbold (2020) pedem
por financiamentos para pesquisa, frequente- uma maior ênfase na pesquisa de processo, sobre
mente umas contra as outras (a TFC também). a qual dizem o seguinte:
Norcross e Lambert (2019) chamam isso de
Para sermos claros, distinguimos entre
guerra por território. Isso não é culpa de nin-
os componentes ativos da terapia, ope-
guém, porém muitos agora concordam que racionalizados como os elementos ou in-
precisamos estudar os processos particulares gredientes ativos dentro de uma terapia
que dão origem a estados de sofrimento específicos que produzem benefício clínico, os quais
e adotar uma abordagem multifatorial para a poderiam ser baseados no terapeuta,
intervenção e a prevenção. A raiz do problema atividades com o cliente, técnicas espe-
é, como diz Wilson (1992), não conseguirmos cíficas, ou relacionados à estrutura e à
concordar quanto a uma ciência básica, e isso aplicação da terapia, versus os mecanis-
explica outro problema, que é a eficácia das mos ativos da terapia, operacionalizados
nossas psicoterapias. como processos subjacentes de mudança
terapêutica que causalmente fundamen-
Por mais inovadoras e válidas que muitas
tam o benefício terapêutico [...] (p. 2).
dessas abordagens possam ser, sejam elas es- É importante compreender os me-
pecíficas de uma tribo ou mais integrativas, canismos ou os componentes ativos
as evidências da sua eficácia não são tão sóli- dos tratamentos psicológicos, pois isso
das quanto esperávamos. Watkins e Newbold potencialmente possibilita o desenvol-
(2020) apontam que, embora certamente te- vimento de tratamentos mais diretos,
nha sido feito progresso nas psicoterapias, precisos, potentes, simples, breves e
efetivos. É necessário compreender os com-
Muitos pacientes não mantiveram a me- ponentes ativos de uma terapia psicológica a
lhora, e os tratamentos precisam escalar fim de analisar e refinar a terapia para fo-
para enfrentar a carga global da saúde car no que é mais atraente para os pacientes
mental [...]. Por exemplo, tratamentos (p. 2., grifo nosso).
psicológicos para depressão só atingem
taxas de remissão de 30 a 40% e têm efi- Norcross e Lambert (2019) também exa-
cácia sustentada limitada (pelo menos minam evidências consideráveis sobre os
50% de recaída e recorrência) [...]. Além
ingredientes ativos da psicoterapia. Eles são
disso, estima-se que os tratamentos atu-
ais, se aplicados de forma ideal, reduzi- variados, mas incluem relação terapêutica,
riam a carga da depressão em somente habilidades do terapeuta, fatores do cliente,
um terço [...]. Como tal, os tratamentos fatores externos, remissão espontânea, apoio
psicológicos para depressão precisam ser social e eventos fortuitos (p. 11). Modelos es-
significativamente melhorados (p. 2). pecíficos explicam apenas uma pequena por-
centagem da variância. Isso remete aos estu- A ausência de uma ciência biopsicosso-
dos comunitários que mostram que podemos cial integrativa (Gilbert, 1984, 1989, 1995)
ser levados à depressão por eventos adversos pode muito bem explicar alguns dos achados
na vida e sair dela por meio de novos começos decepcionantes observados por Watkins e Ne-
e eventos positivos (Brown, Adler, & Bifulco, wbold (2020) (Gilbert & Kirby, 2019). Colocar
1988). Seja qual for a terapia que os indivíduos pessoas em ensaios de pesquisa com base em
experienciam, o que cura é a maneira como um conjunto de sintomas rotulados como, di-
ela pode ajudá-los a fazer mudanças reais em gamos, depressão, quando há muito tempo é
suas vidas, por exemplo, se afastar de relações reconhecido que depressão é um transtorno
tóxicas pessoais e na comunidade, adquirir altamente heterogêneo (Akiskal & McKinney,
confiança para encontrar um emprego me- 1973; Fried & Nesse, 2015) e um estado final
lhor, estabelecer relações de acolhimento e se de uma gama de diferentes e complexos pro-
envolver em atividades significativas, como cessos, está repleto de problemas. Por exem-
em instituições de caridade, onde as pessoas plo, terapias cognitivo-comportamentais po-
sentem que estão contribuindo com algo. dem ajudar pessoas cuja depressão, de fato,
A TFC sempre foi uma terapia de proces- está sendo gerada ou mantida por processos
sos que busca entender o processo antes de cognitivos, mas, para algumas pessoas de-
prosseguir para ensaios clínicos controlados primidas, cognições negativas são sintomas,
randomizados dos resultados. Está muito cla- não causas. As intervenções cognitivas po-
ro agora que pacotes terapêuticos, abordando dem nos ajudar a manejar certos problemas,
domínios de funcionamento limitados, só vão mas as terapias precisam abordar as causas.
nos levar até esse ponto. O problema óbvio é Por exemplo, considere aqueles indivíduos
que o resultado depende de quais processos que têm problemas de saúde subjacentes,
estão sendo focados (Gilbert & Kirby, 2019). como testosterona baixa, problemas de tireoi-
Freud reconheceu que precisamos relacionar de, deficiências de vitaminas B12 e D e ane-
os processos psicológicos com os fisiológicos mias, para citar alguns óbvios (veja Cowles,
(Ellenberger, 1970). No entanto, seu projeto, Pariante, & Nemeroff, 2009 para uma dis-
que procurava fazer isso, tornou-se impossí- cussão detalhada). Mulheres na menopausa
vel, em parte porque não havia ciência sufi- ou perimenopausa podem ter momentos de-
ciente que o possibilitasse. Hoje existe (Co- ploráveis por causa disso. Os vírus, incluindo
zolino, 2017; Hood, 2011; Schore, 2019a,b; nossa mais recente e nociva covid-19, podem
Siegel, 2020). A dissociação entre mente e afetar o cérebro e o sistema imune e desenca-
corpo foi um desastre para a ciência da saú- dear depressão. Parasitas no cérebro, como
de mental. Escrevendo no British Journal of o que você pode pegar dos gatos, Toxoplasma
Psychiatry 35 anos atrás, Eisenberg (1986) se gondii, podem desempenhar um papel em al-
referiu a esse problema como ciência sem cére- guns estados mentais. O diagnóstico também
bro versus ciência sem mente. A TFC sugere enfa- se tornou mais complexo com a descoberta de
ticamente que os terapeutas se beneficiariam que muitas pessoas deprimidas estão sofren-
se tivessem uma compreensão mais abran- do de problemas inflamatórios, o que pode ser
gente da natureza do cérebro humano, para menos responsivo a qualquer intervenção de
evitar que se perdessem em conceitos como psicoterapia isolada (Bullmore, 2018). Pes-
ter um self real ou autêntico, em vez de enten- quisas também sugerem que as pessoas que-
derem que somos um conjunto de sistemas de rem trabalhar diretamente em seus estados
processamento distribuídos, frequentemen- psicológicos. Um grande estudo comunitário
te concorrentes; o self, por si só, é uma ilusão americano verificou que, entre aqueles que
(Hood, 2011). se “autodiagnosticaram” com depressão e an-
siedade, 53,6% dos indivíduos com depressão dade. Se vamos ajudar as pessoas a equilibrar
severa e 56,7% dos indivíduos com ansiedade seu sistema nervoso autônomo, desenvolver
relataram o uso de medicina complementar seu nervo vago (Porges, 2011) ou “desenvol-
e terapias alternativas para tentar tratar suas ver” vários circuitos neurais (Cozolino, 2017;
condições (Kessler et al., 2001). É importante Mascaro & Raison, 2017; Schore, 2019a,b;
observar que, para uma abordagem holística Siegel, 2020; Singer & Engert, 2019; Vrtička et
de longo prazo a problemas de saúde mental, al., 2017; veja também o Capítulo 10), isso vai
bem como a dificuldades de saúde que reque- demandar tempo e o desenvolvimento de prá-
rem intervenção médica, recursos como die- ticas específicas.
ta, exercício e suplementos podem ser úteis Contextos sociais importam. Temos ainda os
(Martinez-Cengottabengoa & Gonzalez-Pinto, conhecidos processos sociais como pobreza,
2017). A psicoterapia pode ajudar a lidar com isolamento e solidão, relações estressantes e
as causas-raiz, mas também pode ajudar a ge- intimidação, enfrentamento da morte e pais
renciar condições. demandantes ou exigentes, que contribuem
A biologia importa. Os sistemas fisiológicos, para problemas de saúde mental (Haslam
incluindo a epigenética, são modificados pe- et al., 2018). Quando a fonte da depressão é
las experiências de vida para o bem e para o social, ela requer intervenções psicossociais
mal (Slavich, 2020). Considere pessoas que (Able & Clarke, 2020). De fato, a natureza
foram abusadas e podem ainda estar em rela- contextual social da mente em si, e a forma
cionamentos abusivos. Os terapeutas que não como ela é corregulada por meio das relações
avaliam ou não sabem como trabalhar com sociais, é um foco importante para a ciên-
histórias de abuso podem ter dificuldades, cia atualmente (Haslam et al., 2018; Music,
particularmente com terapias de curta dura- 2017; Siegel, 2020; Slavich, 2020). Isso ocor-
ção. Hoje, inúmeras barreiras artificiais foram re porque sabemos que as taxas crescentes de
colocadas em torno do “número de sessões que depressão e narcisismo, particularmente en-
o cliente pode ter”, não com base na necessi- tre os jovens, se devem, em parte, a pressões
dade, mas nas finanças. Considerando que os dentro das sociedades neoliberais, que focam
clientes podem ter muita vergonha de admitir excessivamente em um senso do self como um
essas histórias, e que poderá demorar algum agente competitivo. Essas pressões aumen-
tempo antes que seja estabelecida uma relação tam as vulnerabilidades à vergonha e à auto-
terapêutica segura para que consigam revelá- crítica (Curran & Hill, 2019; Gilbert, 2018) e se
-las, podemos entender o problema (Keller, somam à epidemia crescente de problemas de
Zoellner, & Feeny, 2010). Nordomo, Monsen, solidão (Becker, Hartwich, & Haslam, 2021;
Hoglend e Solbakken (2020) destacaram o veja também o Capítulo 4).
fato de que, quanto mais complexa for a difi- Os terapeutas estão preocupados com o
culdade, mais longa precisará ser a terapia — foco excessivo nas mentes individuais como
em alguns casos, pelo menos 50 sessões. Além a fonte do problema, pois isso se alinha com
disso, as pesquisas estão revelando que temos o pensamento neoliberal, que enxerga os in-
que produzir mudanças psicofisiológicas em divíduos como unidades autônomas concor-
algumas pessoas, o que demanda tempo (Co- rentes (Becker et al., 2021). Além disso, essa
zolino, 2017; Schore, 2019,a,b). Um dos maio- perspectiva pode levar à individualização e à
res desafios é ajudar as pessoas a entenderem medicalização da miséria humana, enquan-
que psicoterapia não é apenas uma terapia pela to as empresas farmacêuticas buscam lucrar
fala, mas deve abordar questões de mudanças com a venda de curas para ela; afinal, há mui-
no sistema nervoso autônomo e no cérebro, ta coisa envolvida nas dificuldades de saúde
por meio de processos como a neuroplastici- mental (Horwitz & Wakefield, 2007). A histó-
ria contada é que, se estamos deprimidos ou Haslam et al., 2018). Essa mudança do indi-
ansiosos, ou não podemos ser uma “unidade vidual para o social seria cara e politicamente
produtiva”, é porque há alguma coisa errada contestada. Mas o fato é que muitos proble-
conosco. Precisamos de conserto. A insensibili- mas de saúde mental e certamente problemas
dade do neoliberalismo, com suas economias antissociais podem remeter a origens iniciais
de mercado do tipo “nadamos ou afundamos”, inseguras, assustadoras ou negligentes e às
foi claramente ignorada. A ideia de que deve- diferenças entre os ambientes modernos e
mos procurar não só melhores terapias pesso- os nossos ambientes de caçadores-coletores,
ais, mas também melhores formas de cuidar que eram baseados em compartilhar e cuidar
uns dos outros, tem sido um sinal de alerta em uns dos outros (Dunbar, 2014; Gilbert, 2021;
abordagens mais radicais na psicologia clíni- Ryan, 2019; veja também os Capítulos 3-5).
ca (Gilbert, 1995, 2018, 2020a,b; Haslam et Ainda, atualmente, há uma onda crescente
al., 2018; Music, 2017; Siegel, 2020; Smail, de problemas de saúde mental associados às
2018/1987). experiências sociais da covid-19, incluindo
As abordagens evolucionistas não negam solidão, desconexão social, estresse e con-
a realidade do sofrimento individual nem a flitos familiares, e um aumento nos temores
realidade de que cérebros e corpos podem sociais de transmissão da infecção (Serafini
gerar padrões que dão origem a sofrimento, et al., 2020). Apesar de existirem várias tri-
ou a de que a dopamina pode estar baixa e o bos na psicoterapia, as pesquisas ano após
cortisol alto quando estamos em um estado da ano estão progressivamente destacando que a
mente deprimido. No entanto, elas indicam natureza da mente humana é altamente social
que é o contexto em que as pessoas cresceram, com necessidades sociais particulares. Seremos
ou em que estão vivendo agora, que está moti- mais capazes de abordar questões de pobreza,
vando o comportamento antissocial e os pro- opressão, desconexão e abuso, que produzem
blemas de saúde mental (Gilbert, 1995, 2018; tantos problemas de saúde mental e compor-
Music, 2017; Wilson & Hayes, 2018). Nossos tamentos antissociais, quando focarmos na
cérebros podem estar funcionando de forma criação de conexões de cuidado. Quando bus-
perfeitamente “normal”, mas é a toxicidade do camos a compaixão, não é apenas para nós
nosso ambiente que é o problema. Essas são mesmos, mas também para estarmos abertos
mensagens difíceis porque elas implicam que à compaixão dos outros e para sermos indi-
estamos muito menos no controle de nossas víduos que contribuem para o benefício dos
mentes do que pensamos, que somos muito outros. Usamos máscaras não só para nos
mais dependentes do nosso contexto social protegermos, mas também para protegermos
do que parece confortável, e que teremos que os outros.
ser responsáveis uns pelos outros em vez de
simplesmente cuidar de nós mesmos (Has- A necessidade evoluída
lam et al., 2018; Smail, 2018; Siegel, 2020). de conectividade social
Prevenção e alívio em uma escala internacio-
nal não vão ser encontrados em um frasco de Embora possamos entender a importância
comprimidos ou na tentativa de aumentar o do contexto social na criação de problemas de
acesso a algumas horas de psicoterapia (em- saúde mental e comportamento antissocial,
bora isso possa ser útil para alguns), mas na precisamos de uma compreensão baseada na
mudança social radical focada na compaixão evolução sobre o papel do contexto social e da
para melhorias na igualdade social, na pre- conectividade na regulação de cérebros, cor-
venção de abuso e na inclusão das pessoas em pos e mentes (Gilbert & Bailey, 2000; Gilbert,
comunidades de cuidado (Eisler & Fry, 2019; 2020b; Nesse, 2009; Capítulo 10 deste volu-
me). Nós evoluímos os sistemas fisiológicos bondade, suavidade, razão e humanidade, to-
que monitoram e respondem de certas formas dos dentro de uma atmosfera familiar — com
aos ganhos sociais e às perdas sociais (Pank- excelentes resultados” (p. 104). A importância
sepp, 1998; Gilbert, 1989, 2000). O contexto de promover conexões de cuidado e compor-
do amor e cuidado versus negligência ou abu- tamento afiliativo também foi assumida pelo
so tem efeitos profundos nos muitos sistemas psiquiatra americano Harry Stack Sullivan
fisiológicos em maturação (Cozolino, 2014; (1892-1949; Sullivan, 2013), que defendia o
Music, 2017; Slavich, 2020; Porges, 2007; conceito de psiquiatria interpessoal, argumen-
Siegel, 2020). Nascemos com necessidades de tando contra o uso da expressão “entidades
relações sociais, e, se elas não são satisfeitas, de doença mental” para dificuldades de saúde
nosso desenvolvimento pode ser muito distor- mental comuns. Ele defendia que não se pode
cido. Assim, a razão de certos contextos serem entender as mentes humanas fora do contex-
tão importantes (e de precisarmos dar atenção to social em que elas estão inseridas. Também
a eles) é que a evolução estabeleceu esses po- enfatizou a importância de ter companheiros
tenciais. Isso não quer dizer que nossos genes e assinalou que são nossas interações e co-
ou contextos sejam o equivalente a destinos, nexões de companheirismo uns com os ou-
pois temos muitas habilidades cognitivas para tros, atualmente e durante o curso da nossa
tentar entender o que está acontecendo, mas história, que determinam nosso sentimento
significa que precisamos refletir atentamente de segurança, nossa autoidentidade e nossa
sobre a construção da mente e reconhecer que vulnerabilidade a estados de estresse e sofri-
uma fonte fundamental para o florescimento mento. Muitas das suas ideias precederam e
é a relação social afiliativa de cuidado (Cozoli- claramente influenciaram a teoria do apego
no, 2014; Gilbert, 1989; Music, 2017; Porges, (Pincus & Hopwood, 2012), e também foram
2007, 2011; Siegel, 2020). adotadas pelos terapeutas cognitivos (Safran,
Essa não é uma ideia nova, mas foi um 1990). Esses são legados muito importantes a
tema central para muitas tradições espirituais se ter em mente como fundamentos da TFC.
por milhares de anos na busca do bem comum
e do bem-estar comum (Lampert, 2005). Integração com transformação?
A criação de conexões de cuidado foi central
para a emergência inicial de formas “terapêu- Considerar que as mentes e os cérebros hu-
ticas” de ajudar pessoas com dificuldades de manos são moldados pelas relações sociais
saúde mental. Considere a inovadora “terapia tem implicações importantes para os alvos da
moral” de Tuke no Retiro de York, em 1796. Ela terapia (Cozolino, 2017; Gilbert, 1989, 2020a;
colocava a compaixão no seu centro. Concebi- Music, 2017). Quando tornarmos o cuidado um
do como uma comunidade terapêutica, o reti- foco, também seremos capazes de considerar a
ro tinha uma equipe e clientes que viviam em importância de cuidar de nossos corpos, rela-
proximidade, e específica e deliberadamente cionamentos sociais e ecologias, além de nos-
buscavam criar relações afiliativas de cuidado. sas mentes, como partes integrantes da psi-
A terapia envolvia o uso mínimo de restrição, coterapia. Por exemplo, integraremos melhor
as formas iniciais da terapia comportamental novas percepções referentes aos nossos corpos
(incluindo a programação de atividades) e um como ecossistemas, considerando que a nossa
ambiente humano e cuidador que era único na dieta, a ecologia dos intestinos e a exposição
época (Veale et al., 2015). O historiador mé- a micróbios e vírus podem desempenhar pa-
dico Porter (2002) destaca o quanto isso foi péis importantes nos estados mentais (Lima-
inovador, uma vez que o retiro “abandonou os -Ojeda, Rupprecht, & Baghai, 2017; Dunn,
meios ‘médicos’ em prol dos meios ‘morais’, 2011). Isso porque há evidências crescentes
que podemos ver como um milagre ou uma realidade das adversidades do mundo são dis-
maldição. Ele é responsável pela emergência sociar e tentar não focar demais nisso, apenas
das coisas vivas, das gramíneas aos dinossau- sendo gratos por nossas bolhas de conforto e
ros, dos vírus aos cérebros humanos, e algu- obsessão por riqueza. Mas, ao fazermos isso,
mas das suas criações foram verdadeiramente corremos o risco de nos tornarmos insensíveis
aterradoras e horrendas. Durante bilhões de e indiferentes ao sofrimento à nossa volta. Na
anos, as presas tiveram que evoluir formas de verdade, a busca pelo interesse próprio, para
se esconder e fugir, e os predadores, formas tornarmos nossas próprias vidas confortáveis,
de detectar, capturar e devorar. O fato de que motivação tão alardeada pela direita neoli-
a mudança ocorre por meio de processos que beral, depende de uma certa insensibilidade
promovem a sobrevivência (a curto prazo) e que não apenas permite, mas nos encoraja a
processos que acabam com ela mostra o lado nos apossarmos do que pudermos, indepen-
obscuro da vida. dentemente do impacto sobre os outros. Essa
A evolução do comportamento de cuidado também foi a base do colonialismo. E, só para
e cooperação ocorreu como parte da sobre- se somar a essa cacofonia de realidades de so-
vivência e do processo de replicação, e essas frimento, os humanos foram e são uma das
psicologias podem agora ser aproveitadas maiores fontes de sofrimento para outros hu-
para abordar o sofrimento. Até a chegada dos manos, para os animais e o ambiente. As mor-
humanos, com um novo tipo de consciência, tes pela covid-19 empalidecem em significân-
não havia nada mais na vida, apenas um in- cia se comparadas com as mortes e mutilações
terminável ciclo de vida e morte, devorar ou que os humanos têm causado a outros huma-
ser devorado, com os vírus e parasitas usando nos e animais nos últimos milhares de anos.
corpos hospedeiros para sua própria sobrevi- O famoso escritor existencialista Albert Ca-
vência e reprodução, mutilando, destruindo e mus, e muitos outros como ele, viam a vida
causando grande dor no processo — sendo a como “um absurdo”. O Buda não contextuali-
covid-19 apenas um exemplo das suas formas zou o sofrimento desse modo, porém há muito
malévolas. Todos nós desejamos uma saída no pensamento budista que combina bem com
rápida, porém muitos não conseguem. Luta- a abordagem evolucionista (Wright, 2017).
mos contra doenças dolorosas e debilitantes, Também tragicamente, desde o advento
AVCs, cânceres, demências, a perda da visão e da agricultura, construímos culturas e so-
da audição, a perda da mobilidade e de outras ciedades que revelaram o pior que existe em
funções. Enquanto alguns acreditam em um nós. Temos o potencial para os três grandes
criador amoroso, outros se perguntam como Cs: compaixão (compassion), insensibilidade
as realidades duras e selvagens e as misérias (callousness) e crueldade (cruelty). Podemos ser
da vida biológica poderiam ser uma criação compassivos e sensíveis ao sofrimento e querer
intencional. Eu pertenço a esse último grupo. fazer alguma coisa a respeito. Podemos ser
A compaixão nos possibilita a coragem insensíveis quando somos indiferentes ao so-
para sermos testemunhas das realidades do frimento e podemos até mesmo causá-lo na
sofrimento em que estamos inseridos, procu- busca do nosso próprio interesse. Podemos ser
rarmos suas causas e construirmos uma ciên- cruéis quando infligir sofrimento é o objetivo
cia sábia para lidar com e, quando possível, das nossas ações, e desfrutamos se isso satis-
prevenir o sofrimento. Isso não é fácil. Antes faz nosso desejo de poder, inveja ou vingança,
que conseguíssemos nos voltar para a ciência, ou se pode ser usado como forma de dissua-
criamos muitas formas de deuses como expli- são. Muitas sociedades mostram algum grau
cações e salvações, alguns deles muito ater- de insensibilidade quando permitem grandes
rorizantes. Outras maneiras de lidar com a injustiças sociais e se tornam relativamente
indiferentes aos danos que certas indústrias O Buda sugeriu que, em vez de tentar fugir
estão causando. Provavelmente uma das so- do sofrimento, procuremos entrar nele. Mind-
ciedades mais cruéis foi a romana. Esse foi fulness e treino da mente eram, em boa parte,
um Estado terrorista em que o sofrimento era sobre lidar com esta vida e este cérebro, e ele não
desfrutado nos “jogos”, e o abuso de escravos, se deixaria envolver por quaisquer questões
a tortura e a crucificação faziam parte da vida. metafísicas sobre o que acontece posterior-
Ainda hoje, o prazer do sofrimento causado, mente. Crucial para a condição humana é que,
em filmes viris de vingança, pelos homens ao longo dos tempos, a busca tem sido por
bons contra os homens maus satisfaz nossa encontrar maneiras de confrontar o intenso
necessidade de entretenimento. Talvez essas sofrimento desta vida criada pelo DNA. Em
sejam distrações das nossas preocupações última análise, somos parte de uma profissão
existenciais. Os escritores existencialistas que está envolvida com o sofrimento, somos
(Yalom, 1980) nos dizem que nossas quatro confrontados regularmente pelas tragédias das
principais preocupações existenciais são a mentes em tormento e sofrimento e precisamos
busca pelo sentido, entremeada pelo confron- de um modelo em nossas mentes para dar um
to com a morte e a solidão, e lidando com a li- sentido a tudo isso. Se nos dissociarmos da re-
berdade. A compaixão nos ajuda com todas as alidade de nossas tragédias e do lado obscuro
quatro. Embora elas sejam importantes, a TFC da inerente severidade das formas biológicas
adota a visão budista de que uma busca bási- de vida e das nossas mentes, então como po-
ca dos humanos é compreender a natureza da deremos nos sentar com as questões dos nos-
mente e do sofrimento e descobrir o que fazer sos clientes? A TFC ressalta o fato de que to-
para promover insight, prosperidade e com- dos nós estamos na mesma jornada altamente
portamento pró-social. vulnerável de curta duração, somos apanha-
O pensamento budista tradicional sugere dos pelas mesmas tragédias e podemos ofe-
que nossas ilusões criadas por nosso senti- recer ajuda uns aos outros da melhor forma
mento de um self autônomo fazem parte das possível. Os psicoterapeutas precisam ponde-
fontes de sofrimento, devido à forma como rar essas questões existenciais para que consi-
elas nos fazem agarrá-las e lutar para mantê- gam entrar no mundo do sofrimento mental.
-las (Hood, 2011; Wright, 2017). De forma um Ao trabalhar com mentes mais complexas
pouco diferente, Mark Leary (2004) também em tormento, é preciso ter alguma habilidade
defende que algumas das coisas que desenvol- para estar aberto, mas não ser arrebatado pe-
vemos, como um senso de identidade, podem los horrores da vida, para poder manter uma
ser maldições, e não dons (Gilbert, 1998a,b). conectividade empática com o sofrimento.
De fato, parte da meditação antiga e do trei- Alegrias. No entanto, é óbvio que a vida tam-
no de compaixão era fazer você se desligar da bém tem muitas fontes de beleza, deslum-
roda da vida para que não tivesse que voltar a bramento, prazeres e alegrias, mesmo que
“este lugar de sofrimento”. O budismo não vê temporários. Temos a “alegria dos sentidos”,
as pessoas se enfileirando para renascer como as maravilhas da visão, da audição, do tato
se estivessem vindo de férias. Como diz Mc- e do paladar, as maravilhas do movimento,
Mahon (2007), em suas fascinantes e impor- pelo menos quando somos jovens e estamos
tantes explorações multiculturais históricas em forma. Há as maravilhas da imensidão
sobre a procura da felicidade, a confrontação das montanhas e dos oceanos, as texturas das
com o sofrimento e os nossos esforços para florestas, noites quentes, pores do sol, vinho
buscar a felicidade na expectativa de uma me- tinto e sanduíches. E, é claro, há os sentimen-
lhor existência pós-morte são muito antigos e, tos extraordinariamente poderosos e mara-
por vezes, desesperados. vilhosos de afeto, conexão e pertencimento,
1989, 1992, 1995, 2009a). Em 2000, em nosso polivagal e o ioga — estamos todos avançan-
livro editado sobre abordagens evolucionistas do na direção de uma ciência daquilo que aju-
da psicoterapia (Gilbert & Baley, 2000), ex- da as pessoas. De fato, mesmo na década de
plorei como integrar à TCC conceitos evolu- 1980, os terapeutas cognitivos reconheciam
cionários sobre conflitos motivacionais e tex- que pode haver uma defasagem entre cabeça
turas focadas na compaixão (Gilbert, 2000). e coração, no sentido de que as pessoas po-
É extremamente importante distinguir mo- dem experenciar mudança cognitiva, mas não
delos científicos básicos dos estados mentais mudança emocional (Stott, 2007). Sabemos
de intervenções terapêuticas (veja o Capítulo há algum tempo que os sistemas de motiva-
7). Diferentes modelos podem usar interven- ção, emoção, cognição e comportamento não
ções muito semelhantes em certos contextos, estão tão intimamente ligados e sincronizados
mas por razões diferentes. Assim sendo, meu como se supunha. Além disso, agora é geral-
livro de autoajuda sobre depressão é apoiado mente aceito que os processos inconscientes,
por intervenções cognitivo-comportamen- incluindo de necessidades não satisfeitas, são
tais, mas contextualizado nos modelos evo- extremamente importantes para entender as
lucionista e da compaixão (Gilbert, 2009b). manifestações de qualquer estado mental es-
Igualmente, pude explorar como abordagens pecífico (Bargh, 2017).
focadas na compaixão podem embasar e dar Os clientes que me guiaram. Depois de con-
textura à TCC (Gilbert, 2010). Beck sempre foi cluir um doutorado (1975-1980) sobre de-
claro ao dizer que, tendo apenas três concei- pressão, meu interesse clínico especial pas-
tos, como pensamentos automáticos, crenças saram a ser as depressões crônicas e severas,
disfuncionais e esquema, nunca a intenção foi particularmente as associadas a origens com-
ser uma teoria do cérebro ou da mente, mas plexas. Eu estava trabalhando com uma mu-
um conjunto de heurísticas úteis para guiar a lher, a quem vou chamar ficticiamente de Ker-
intervenção terapêutica e possibilitar que as ry, também alterando alguns detalhes. Kerry
pessoas entendam e ajudem a si mesmas (ver foi adotada quando bebê e teve uma vida mui-
Rosner, 2020 para uma discussão fascinante to difícil na sua família adotiva. A adaptação
da história). Também é importante mencionar psicológica à adoção apresenta suas próprias
que Beck sempre foi interessado em modelos dificuldades (Schachter & Schachter, 2011).
evolucionistas e que tivemos muitas discus- Ela sofreu de depressão severa e crônica de
sões empolgantes. Além disso, a TFC evoluiu uma forma bipolar por muitos anos e passou
sobretudo sob a proteção da comunidade da por inúmeras tentativas de suicídio e interna-
TCC, que foi uma família extraordinaria- ções hospitalares. Kerry tinha uma sensação
mente apoiadora, promovendo conferências interna muito forte de não ser desejada e de
e workshops, possibilitando seu crescimento e que não deveria ter nascido. No entanto, ela
desenvolvimento. Muitos terapeutas hoje re- era uma pessoa cuidadora e tinha um bom
conhecem que não precisamos nos apegar a relacionamento com seu marido e seus filhos,
esses rótulos tribais para que tenhamos um que estavam se saindo muito bem no traba-
senso de pertencimento, mas precisamos ter lho e na escola. Ela também foi capaz de gerar
um melhor conhecimento da nossa “ciência da crenças genuínas de que seu marido e seus fi-
mente” e ser habilidosos em nossas interven- lhos se importavam com ela. Ela tinha amigos
ções. Assim sendo, muitas terapias e terapeu- e conseguia se manter nos empregos. Em um
tas que se rotulam como “TCC” também estão nível, ela acreditava nisso, mas sem nenhum
integrando a teoria do apego, o psicodrama, impacto na sua depressão. Certo dia, tive a
o trabalho com cadeiras, a terapia focada na ideia de lhe pedir para expressar seus pensa-
emoção, a terapia focada no corpo, a teoria mentos de enfrentamento como ela realmente os
ouvia na sua cabeça. Um tanto embaraçada ini- previsto era que a ativação de um sistema
cialmente, ela então concordou, e este foi meu motivacional de cuidado poderia ativar signi-
primeiro choque — o tom emocional era alta- ficativamente o sistema de ameaças, se hou-
mente agressivo e insolente, algo como: “Ah, vesse ameaças codificadas dentro dele. Para
qual é! Você está fazendo terapia cognitiva, explicar isso, imagine que você gosta de férias
então olhe as malditas evidências. Você sabe e espera ansiosamente por elas; os anúncios
que seu marido e seus filhos amam você e que sobre férias desencadeiam alegria. Mas então,
quando não está deprimida você também os nas suas férias, você está se sentindo muito
ama. Você tem amigos que se preocupam com mal e acaba no hospital. O que acontece no seu
você”, e assim por diante. Para um jovem tera- corpo na próxima vez que você vê anúncios
peuta, aquilo foi um choque, e comecei a fazer de férias? O que acontece com sua motivação
a mesma pergunta a outros clientes. Percebi para sair de férias? Ou, então, imagine que,
exatamente a mesma coisa em alguns deles, cada vez que você tentou ser assertivo quando
que a hostilidade nos esforços de enfrenta- criança, você apanhou, foi constrangido e re-
mento era poderosa, mas ocorria nos domínios jeitado. O que acontecerá no seu corpo quan-
motivacional e emocional, e não nos cognitivos. do você tentar ser assertivo posteriormente na
As razões por trás disso são complexas, mas sua vida? Independentemente de chamarmos
ninguém havia me dito para descobrir o tom isso de esquema ou (minha preferência) res-
emocional dos pensamentos de enfrentamento postas classicamente condicionadas, o fato é
das pessoas, então eu vinha me concentrando que esse sistema motivacional (sair de férias)
na obtenção de evidências e fazendo experi- agora será tóxico se ele for “texturizado” com
mentos comportamentais, e assim por diante. trauma. Portanto, se as pessoas tiverem trau-
A solução óbvia era tentar mudar o tom mas nos sistemas de apego e cuidado, quando
emocional de Kerry, para que ela pudesse de- você começar a trilhar o caminho da compai-
senvolver um tom emocional mais compassi- xão, vai começar a abrir sistemas de cuidado,
vo, cordial, bondoso, compreensivo e amisto- e isso é o que vai atingi-las. E não é apenas
so. Isso deu origem ao meu segundo choque, já o trauma, são também as necessidades frustra-
que ela não só não conseguia fazer isso, mas das nesse sistema. Por exemplo, se o trauma foi
também não o faria (não queria fazê-lo). Ela relacionado a determinado destino de férias,
achava que a compaixão era fraca e inútil e então poderíamos potencialmente evitar ir a
não conseguia de forma alguma entender esse lugar ou sair de férias, mas, se o trauma
como é que isso poderia ser útil. Eu não havia foi associado ao próprio sistema de cuidado,
previsto a resistência em criar motivação para como poderemos evitar experiências de cui-
compaixão e sentir compaixão. Hoje temos dado ou evitar um anseio inato de ser cuida-
uma melhor compreensão e reconhecemos do, protegido, amado e desejado, com o qual
o quanto é essencial esclarecer as definições todos os humanos nascem (Gilbert, no prelo;
logo no começo da terapia (veja o Capítulo 6). veja também o Capítulo 9)? Logo nos primei-
Meu terceiro choque aconteceu quando co- ros meses da TFC, tornou-se evidente que a
meçamos a percorrer esse caminho. Olhando compaixão não seria uma simples questão de
em retrospectiva agora, tenho que admitir fazer alguns exercícios aqui e ali. Para os ti-
que fui um pouco ingênuo, especialmente pos de cliente que eu estava atendendo, seria
porque eu já havia trabalhado muito no con- necessário um grande trabalho de reparo no sis-
dicionamento clássico. Sou um entusiasta do tema de cuidado a fim de desintoxicá-lo antes
condicionamento clássico, precisamente por- que as pessoas pudessem usá-lo. Essa é uma
que ele conecta corpo e mente e não requer mensagem que pode ser difícil de transmitir
pensamento consciente. O que eu não havia às pessoas que estão começando na TFC, e
ainda hoje vemos o surgimento de trabalhos enforcamentos por roubo de pães, estamos
acadêmicos que apresentam apenas alguns apenas começando a nos dar conta do quão
exercícios de compaixão e questionam por anormais e destrutivos as sociedades agríco-
que eles não funcionam tão bem. Essa é tam- las modernas nos tornaram (Gilbert, 2018).
bém a razão pela qual eu aviso que, se você Apesar das muitas tradições espirituais que
quiser seguir nosso caminho na TFC, não enfatizam a importância da compaixão como
bastará simplesmente adotar práticas budis- uma forma de lidar com o lado sombrio da
tas, por mais úteis e relevantes que elas sejam mente, ela é frequentemente mal retratada
(Gilbert & Choden, 2013). Como discutido em nas mídias sociais. A ideia de que a compai-
outros capítulos, parte dessa desintoxicação xão é, de alguma forma, fraca ou simples-
dos sistemas de cuidado, para os casos mais mente significa ser amável, agradável, cari-
crônicos e complexos, pode envolver o pro- nhoso ou gentil não compreende adequadamente
cesso de luto intenso (envolvendo raiva, an- a coragem, a sabedoria, a dedicação e o altruísmo
siedade e tristeza) e a reexperiência do anseio da compaixão (Gilbert, Basran, MacArthur, &
de ser amado, desejado e protegido (Gilbert, Kirby, 2019; Ricard, 2015). Além disso, infe-
no prelo; veja também o Capítulo 9). Senti- lizmente, o uso da palavra “amor” em deter-
mentos profundos de solidão e desconexão minadas práticas introduziu problemas reais
também podem estar associados a uma raiva de definição e tradução dessa palavra. Assim
assustadora. como algumas línguas não têm nenhuma de-
finição clara de compaixão e, às vezes, podem
Compaixão pelo lado sombrio confundi-la com piedade, diferentes culturas
definem o amor de maneiras muito diferen-
Há outro aspecto na abordagem da compai- tes. Se você procurar a palavra em qualquer
xão que algumas vezes é esquecido. Algu- dicionário de inglês, encontrará que ela en-
mas vezes, ao tentarmos aliviar o sofrimento volve gostar e querer estar perto e, às vezes, afe-
mental, temos que nos embrenhar nos cantos to. A compaixão não precisa envolver isso. As
mais obscuros da mente. Atualmente, mui- pessoas que arriscam suas vidas para salvar
tos comentaristas, filósofos e outros estão pacientes da covid-19 poderiam até mesmo
reconhecendo que a humanidade precisa ur- não gostar deles se os conhecessem, mas,
gentemente começar a entender a si mesma, ainda assim, arriscam suas vidas por eles.
entender a natureza da sua mente, como ela A crescente obsessão da classe média oci-
foi criada, como foi programada, para o que dental pelo autoamor é ainda pior. Parte do
foi projetada. Isso vai nos capacitar para cul- problema está em conceitos como amor-
tivarmos o melhor, e não o pior de nós, deli- -bondade, porque, na realidade, deveria ser
berada e intencionalmente (Sapolsky, 2017). amabilidade benevolente, que não requer que
Tragicamente, nossa história de guerras, es- gostemos daqueles que queremos que não
tupros, escravidão, motivações e formas de sofram. Na tradição budista Mahayana, a
execução, e muito mais, mostra que vivemos compaixão é claramente compreendida como
por um longo tempo em Estados basicamente amor altruísta, sendo que a palavra “altruísta”
terroristas, em que as elites usaram opressão é essencial para destacar que o foco é abor-
contra a maioria, e ainda fazem isso (Gilbert, dar o sofrimento e as causas do sofrimento
2021). Seja nas religiões que nos ameaçavam em todos os seres sencientes (Ricard, 2015).
com o inferno, nas sociedades que nos cruci- Há muito sobre mim que aceito e compreen-
ficavam por crimes menores, ou até mesmo do, mas não preciso amar este cérebro cria-
neste país (Reino Unido), em que, há apenas do biologicamente. De fato, a compaixão é o
algumas centenas de anos, eram realizados mais difícil, moral, corajoso e sábio de todos
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