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Estudo das Definições de

Turismo
DETUR – UFRN
Teoria Geral do Turismo 2
Prof. Mozart Fazito
O que é estudo conceitual?
• Definição dos termos que utilizamos para
expressar uma determinada ideia – a definição
de seus limites conceituais;
• Inclui a descrição do contexto histórico e
cultural em que o termo está inserido:
conceitos mais genéricos buscam a
independência do contexto, mas em ciências
sociais, o contexto é fundamental;
• Por tanto, não devemos utilizar as definições
de dicionário de sinônimos.
Por que o estudo conceitual do turismo é
importante?
• Para que a comunicação da produção de
conhecimento em turismo seja inteligível;
• Para que a comunicação das ações de
desenvolvimento turístico seja clara;
• Para que possibilitar avaliações e análises
críticas que façam sentido;
• “Nos ajuda não apenas a distinguir o nosso
objeto de estudo, mas também a analisá-lo e
dominá-lo” (Hall, 2008 p. 05).
Exemplos de Conceitos de Turismo (Moesch,
2000)
• 1911 – “o conceito que
Natureza
compreende todos os
processos, especialmente os
econômicos, que se manifestam
Deslocamento
na chegada, na permanência e
temporário
na saída do turista de um
determinado município, país ou Agente
estado” (Hermann von
Limites/fronteiras
Schullern zu Schattenhofen);
Exemplos de Conceitos de Turismo
• Escola berlinesa (1929): Natureza e o agente
– “Movimento de pessoas que
abandonam temporariamente o lugar Deslocamento
temporário
de residência permanente por qualquer
motivo relacionado com o espírito, o Motivo/atrativo
corpo ou a profissão” (Schwink)
– “Conjunto de viagens cujo o objeto é o
prazer ou por motivos comerciais ou
profissionais ou outros análogos e O motivo pode
durante o qual a ausência da ser profissional
residência habitual é temporária…”
(Borman)
Exemplos de Conceitos de Turismo
Natureza: foco nas
relações com os
– “O conjunto de relações locais, exclui viagens
pacíficas e esporádicas por motivos de
entre viajantes que guerra
visitam um local por
motivos não Foco no lazer: exclui
profissionais e os a possibilidade de
naturais deste lugar” turismo de negócios
(Benscheidt).

Importância do Contexto
Foco econômico/indústria/estatística
• “Turismo pode ser definido com a ciência, a
arte e a atividade de atrair e transportar
visitantes, alojá-los e cortesmente satisfazer
suas necessidades e desejos” (McIntosh, 1977);
• “as atividades que as pessoas realizam durante
viagens e estadas em lugares diferentes do seu
entorno habitual, por um período inferior a um
ano, com finalidade de lazer, negócios ou
outras” (OMT)
Definição hegemônica!
Foco na Geografia (Hall, 2008)
• Turismo envolve tempo (o tempo em que o
turista está distante de sua residência
permanente) e espaço (movimentar-se para
distante de sua residência);
• Turismo estuda todos os fenômenos
relacionados à mobilidade voluntária
temporária.
Conceitos Holísticos
• Um amálgama de fenômenos e relações (...) que
surgem por causa do movimento de pessoas e sua
permanência em vários destinos… (Burkart e Medlik,
1974);
• O estudo do homem longe de seu local de
residência, da indústria que satisfaz suas
necessidades e dos impactos que ambos, ele e a
indústria, geram sobre os ambientes físico,
econômico e sociocultural de uma área receptora
(Jafar Jafari).
Aspectos comuns às definições
1. Natureza conceitual;
2. Deslocamento no espaço (fronteiras);
3. Temporalidade;
4. O agente (turista)
5. A motivação
6. Contexto: o conceito deve ser construído com base nas
variáveis acima e de acordo com o objetivo de sua
construção

A noção de turismo é aberta a múltiplas conceitualizações que


dependem das pressuposições ontológicas, epistemológicas e
paradigmáticas de quem a constrói (Hall et al. 2004)
A Disciplina do Turismo: ‘Tourology’
• Leiper (1981) defende a ideia disciplinar de
turismo: a ‘tourology’ – Turologia? Teorologia?
• Echtner e Jamal (1997) – turismo está se
desenvolvendo para se tornar uma disciplina cujas
fronteiras conceituais atravessam o domínio de
outras disciplinas;
• Mas a tourology não se materializou (Tribe, 1997);
• Leiper (2000) retruca defendendo que, apesar do
termo não ter vingado, as bases que fundam seu
estudo ainda estão fortes na literatura.
A Indisciplina do turismo
• Para Tribe (1997), o estudo de turismo deveria
abandonar a busca por disciplinaridade, e
reconhecer e celebrar sua diversidade e
complexidade;
• Moesch (2000) defende a necessidade de se
suplantar o domínio da prática econômica na
construção do saber turístico, para que ele
possa, de fato, celebrar a diversidade e
abraçar a complexidade;
Abraçando a Complexidade
• As formas dominantes de produção do
conhecimento (de tradição positivista)
acreditam ser possível representar e mensurar
integralmente processos observáveis, como o
turismo;
• Desta forma, houve um esforço neste sentido,
e a forma mais utilizada de modelamento e
mensuração de processos sociais tem sido via
dar valor econômico a aspectos
socioambientais.
Positivismo
• Tradição iluminista, vinda da busca pelas explicações
dos fenômenos naturais através da ciência, como
contraponto às explicações metafísicas ou teológicas;
• O que pode ser considerado ‘conhecimento
confiável’ é aquilo que pode ser percebido através do
uso dos sentidos (Habermas, 1984);
• As regras explicam os fenômenos através de
‘relações causais’;
• Exemplo: a lei da gravidade, que tinha explicações de
natureza religiosa até Isaac Newton explicá-la com a
matemática.
Complexidade nos Estudos Sociais
• Apesar de ter sido criado para explicar as ciências da natureza,
o positivismo vê o social – do qual o turismo faz parte – como
organizado por leis universais (Phillimore e Goodson, 2004);
• Assim, os positivistas acreditam ser possível prever e controlar
o comportamento social;
• Porém é necessário compreender que o comportamento social
está imerso em uma complexidade de diferentes valores,
crenças, atitudes;
• Os economistas se esforçam para montar complexos modelos
de desenvolvimento que sempre falham, posto que, para
funcionar, precisam contar com certa previsibilidade do
comportamento humano.
“Todo o resto constante”
• As ciências naturais podem simular em
laboratório condições de temperatura e pressão
constantes para que seus modelos funcionem;
• As ciências sociais, apesar da tentativa (coeteris
paribus) não podem fazer isso, posto que estuda
fenômenos enquanto eles acontecem e, por fim,
nada nas realidades sociais é constante;
• Portanto, os estudos sociais – e aí inclui-se o
turismo – devem abraçar essa complexidade;
A Parte Imensurável
• Há, no desenvolvimento de uma sociedade, uma
parte mensurável (demografia, renda, índices de
acesso a saúde, educação, fluxo turístico, efetivo
policial, etc.) e uma parte imensurável e
também subjetiva, que se refere ao
comportamento das pessoas, e que gera as
causas dos problemas e as possibilidades de
solução (problemas de cunho pessoal que
geram violência, por exemplo, ou características
pessoais que podem gerar soluções).
Complementaridade
• Formas de analisar as partes mensuráveis e
imensuráveis das realidades sociais são
complementares no desvendamento do processo
social;
• Entretanto, é necessário que aceitemos a
imprevisibilidade e espontaneidade como algo
inerente ao desenvolvimento das sociedades, e
como algo positivo, já que promove as diferenças
e valoriza a identidade: fatores primordiais na
composição da atratividade de um lugar.
A Sistematização
• No Brasil, os estudos de planejamento turístico
têm focado em uma abordagem sistêmica
(fundada na teoria de sistemas desenvolvida,
principalmente, por Bertallanfy) para
representar a complexidade do turismo,
gerando um modelo de planejamento e gestão
do turismo;
• Sistemas é o tema da aula da semana que vem.
Bibliografia
ATELJEVIC, I.; PRITCHARD, A.; MORGAN, N. (EDS.). The Critical Turn in Tourism Studies: Innovative Research
Methodologies. Amsterdam: Elsevier Science, 2007.
BIANCHI, R. The “Critical Turn” in Tourism Studies: a radical critique. Tourism Geographies, v. 11, n. 4, p. 484–
504, 2009.
ECHTNER, C.; JAMAL, T. The Disciplinary Dilemma of Tourism Studies. Annals of Tourism Research, v. 24, n. 4,
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FRANKLIN, A.; CRANG, M. The Trouble with Tourism and Travel Theory. Tourist Studies, v. 1, n. 1, p. 5–22, 2001.
HABERMAS, J. The theory of communicative action. London: Heinemann, 1984.
HALL, C. Tourism Planning: Policies, Processes and Relationships. [s.l.] Pearson Education, 2008.
HALL, C.; LEW, A.; WILLIAMS, A. Tourism Conceptualizations, Institutions, and Issues. In: LEW, A.; HALL, C.;
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LEIPER, N. Towards a Cohesive Curriculum in Tourism: the case for a distinct discipline. Annals of Tourism
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___. An Emerging Discipline. Annals of Tourism Research, v. 27, n. 3, p. 805–809, 2000.
MOESCH, M. A Produção do Saber Turístico. São Paulo: Contexto, 2000.
PHILLIMORE, J.; GOODSON, L. Qualitative research in tourism : ontologies, epistemologies and
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PLATENKAMP, V.; BOTTERILL, D. Critical Realism, Rationality and Tourism Knowledge. Annals of Tourism
Research, v. 41, p. 110–129, 2012.
TRIBE, J. The Indiscipline of Tourism. Annals of Tourism Research, v. 24, n. 3, p. 638–657, 1997.
Estudo Dirigido
• A partir da aula de hoje e do texto “A Produção do Saber Turístico”,
responda:
• Você concorda que o turismo é uma ‘indústria limpa’ ou ‘indústria
sem chaminés’? Por que?
• Qual a natureza dos problemas que fundam o estudo
epistemológico do turismo?
• Quais seriam os elementos fundamentais de um conceito de
turismo? Construa um conceito criativo.
• Por que as necessidades empresariais dominam o ensino do
turismo, e qual o efeito disso?
• Qual o desafio posto aos acadêmicos na construção do
conhecimento em turismo?

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