Você está na página 1de 9

Gabriel Ferreira Dias

Fichamento sobre o texto de LOHMANN, Guilherme e Netto, Alexandre P., Teoria do


Turismo: conceitos, modelos e sistemas

“Epistemologia do turismo é um assunto que ganhou importância nos estudos turísticos


somente na década de 1990. Isso se deve ao fato de que, em sua maioria, os investigadores da
área estavam mais interessados em questões práticas da atividade, como gestão, planejamento
e política públicas, entre outros. A epistemologia nasceu da filosofia; entretanto, a maioria
dos filósofos não se interessam pelos estudos turísticos, pois, como afirmou Comic (1989),
eles estão preocupados com outros temas mais importantes que o turismo; daí origina-se
também a relativa escassez de publicações sobre esse assunto.” (p.19). O autor complementa
a introdução dizendo que a epistemologia é o estudo do conhecimento.

 Segundo o autor a epistemologia é importante para qualquer ciência pois auxilia numa
revisão do conhecimento de um assunto e acaba oferecendo critérios para a aceitação
do conhecimento. E nisso ele se baseia na ideia de Popper, o qual afirmava que o
cientista deveria expor seu pensamento e esperar pelas críticas para consertar
possíveis falhas, além de afirmar que todo conhecimento científico avança em
formato de degraus, gradativamente.

“Para a validação do conhecimento, o filósofo da ciência Karl Popper criou o critério da


falseabilidade. Para ele, um enunciado científico, para ser considerado verdadeiro deveria, ser
passível de comprovação pela experiência. Ainda segundo o referido autor, o critério da
demarcação da validade do conhecimento não seria a verificabilidade, mas sim falseabilidade
de um sistema. [...].” (p. 20)

 Porém, Thomas Kuhn não concordava com Popper e, apresentou sua teoria dos
paradigmas científicos em seu livro mais famoso: A estrutura das revoluções
científicas, de 1962. Ele compreendia esses paradigmas com as crenças e o
compartilhamento de paradigmas que constituiriam uma sociedade científica.

“Segundo essa teoria, as comunidades científicas, em algum momento, chegam a um ponto


na estrada do conhecimento em que não conseguem mais avançar, seja por estarem indo pelo
caminho errado, seja por estarem utilizando métodos inapropriados ou por não haver mais
condições de seguir a teoria e as leis por elas mesmo propostas. Neste momento, é necessário
romper com o paradigma vigente e tentar uma nova abordagem para o problema proposto.
[...]” (p. 21)

 John Tribe buscou explicar o desenvolvimento turístico em dois campos, o qual o


primeiro (CT1) tem ênfase no campo comercial do turismo e, o segundo campo
(CT2), visa os aspectos não-comerciais e precisa de que uma outra disciplina faça a
sua ligação com o turismo, diferentemente do primeiro campo.

Fonte: adaptada de Tribe (1997)

“Para este autor, o conhecimento em turismo não é produzido apenas na universidade; isso
significa que, nas agências de viagens, nas companhias aéreas, nos meios de hospedagem e
em todas as empresas de turismo de um modo geral, é produzido conhecimento em turismo.”
(p. 21)

 O autor baseia-se em Vasconcellos que, baseado do pensamento de Bertalanffy, que o


próprio reconhecia que as leis da física não se aplicavam nas ciências humanas nem
nas biológicas. E foi a partir das ideias de Bertalanffy que constituiu exemplos de
sistema, como o do turismo, por exemplo. O sistema de turismo tem suas vantagens e
desvantagens de ser estudados, como vantagem pode-se destacar a possibilidade do
estudo interdisciplinar do turismo e como desvantagem destaca-se que, a separação do
turismo de um sistema pode ocasionar uma visão mais desmembrada.

“Um sistema, para ser completo, deve possuir meio ambiente (local em que o sistema se
encontra); unidades (as partes do sistema); relações (entre as unidades do sistema); atributos
(qualidade das unidades e do próprio sistema); input (o que entra no sistema); feedback (o
controle do sistema para mantê-lo funcionando corretamente); modelo (um desenho do
sistema para facilitar sua compreensão).” (p. 27)

“Getz (1986) fez uma revisão teórica de artigos e livros publicados em língua inglesa e
encontrou cerca de 150 modelos de abordagens do turismo, todavia nem todos são baseados
na teoria geral de sistemas. Segundo esse autor, os modelos do turismo encontrados dividem-
se basicamente em três grupos: (1) modelos teóricos; (2) processos de planejamento e
gerenciamento; (3) modelos de previsão.” (p. 27)

 Segundo o autor, Raymundo Cuervo, foi o primeiro autor que propôs uma análise do
turismo usando a teoria de sistemas e que disse: “o turismo é um conjunto bem
definido de relações, serviços e instalações que se geram em virtude de certos
deslocamentos humanos.” (CUERVO, 1967, p. 29). Além disso, Cuervo acreditava
que o turismo é um grande conjunto que envolvem os meios de hospedagem, as
agências de viagens, os guiais turísticos, os meios de transporte e o comércio turístico,
indo desde artesões a locais de lazer; baseava-se também do pressuposto de que o
turismo é um conjunto em que a função é a comunicação.

“Para reafirmar a sua posição, este autor argumentou que o turismo é um sistema de
comunicação capaz de transmitir informação positiva e útil para a promoção da paz mundial,
mas que também pode ser negativo e afetar a harmonia das relações humanas. [...]” (p. 31)

 Seguindo para Leiper, esse propôs um modelo de sistema turístico composto por 5
elementos, onde 3 são elementos geográficos e os outros 2 são, respectivamente, uma
região de trânsito que liga a origem ao destino e a região de destino turístico. E cada
um desses elementos interagem com o sistema impactado pelo destino turístico,
demonstrando ser um importante princípio do estudo do turismo.
Fonte: adaptado de Leiper (1990)

“[...] De acordo com Leiper (1990), a interação destes cincos elementos é influenciada por
fatores ambientais externos e, por sua vez, o mesmo sistema impacta os vários ambientes, tais
como humano, sociocultural, econômico, tecnológico, físico, político, legal etc.,
influenciando como os viajantes passam através da região de trânsito.” (p. 33)

 Já Krippendorf estudou de uma forma sistêmica a sociedade e o lazer, concentrando-


se na questão de sair do seu meio habitual do cotidiano para algo totalmente diferente,
que seria o destino de sua viagem. Acabou se perguntando o significado e a
representatividade da prática da viagem, suas implicações, questões de exploração
econômica e a questão do status. Para ele as pessoas viajam visando status dentro da
sociedade e, aqueles que decidem não viajar também buscam status, mas só serve para
a parte elitizada da população que têm/teve condições de viajar pelo mundo e
conhecer diversos lugares. E na tentativa de amenizar os problemas nas viagens
Krippendorf criou 23 conselhos, destacados em: da filosofia das estratégias; do
conceito do desenvolvimento harmonioso do turismo; gueto ou não-gueto, eis a
questão; viajar conscientemente – conselhos e exercícios para um comportamento
diferente; a escola do turismo humano.
Fonte: Krippendorf (2000, p.26)

“Numa análise superficial, pode-se dizer que as pessoas viajam para descansar, visitar
amigos, conhecer novos lugares, recuperar forças ou, até mesmo, para fazer nada. Para
Krippendorf, as pessoas viajam ou deixam de viajar também por influência social, por
necessidade de status perante os seus pares: ‘O que impede um indivíduo de viajar, a procurar
lá fora o que não encontra dentro, não é tanto o resultado de um impulso social quanto a
influência do meio social, que fornece a cada um suas normas existenciais.’
(KRIPPENDORF, 2000, p. 38). Nesta perspectiva, viajar significa prestígio social, pois se
tornou quase obrigatório viajar nas férias [...].” (p. 37)

 Jafar Jafari criou um desenho que busca explicar o estudo do turismo em


universidades por meio da interdisciplinaridade, onde o centro do quadro seria o
estudo do turismo em si, ao redor do centro estariam as disciplinas, emanadas de
outros setores, que contribuem para a interpretação do turismo. Originalmente, em
1981, o quadro apresentava 16 disciplinas, mas foi elevada para 18 disciplinas ao
redor do estudo do turismo ao todo. Além disso, para Jafari o turismo, na década de
1950, passou por cinco etapas de estudo, as plataformas do pensamento em turismo,
são elas: de defesa, de advertência, da adaptação, a baseada no conhecimento e a
plataforma pública.
Modelo de conhecimento em

turismo de Jafari. Fonte: Jafari (2005)

Para Sérgio Molina, o sistema turístico é pouco desenvolvido, principalmente na América


Latina. Segundo o mesmo, o sistema do turismo é formado em um conjunto de 6 subsistemas,
que são: a superestrutura - organização do setor público e privado; a demanda; a
infraestrutura; os atrativos; o equipamento e as instalações - redes hoteleiras, agências de
viagens; e a comunidade receptora. E esses subsistemas possuem como objetivo ajudar na
evolução dos indivíduos, promover a economia e proporcionar descanso e lazer.

Si

stema turístico de Molina (1991)

“Segundo Martínez (2005a), o sistema de Molina utiliza um conceito econômico - o da


demanda – para representar o turista, e centra suas observações na função do gasto e da
necessidade do turista, sem comentários específicos sobre o contexto socioeconômico,
cultural, social e psicológico, que influi de maneira muito importante nas decisões que toma e
na definição de suas viagens.” (p. 48)

 Mário Carlos Beni propôs um sistema de turismo aberto com a finalidade de


influenciar e ser influenciado por outros sistemas que se relacionam com o do
turismo, composto por 3 conjuntos:

1- Conjunto das relações ambientais: formado pelos subsistemas culturais, sociais,


ambientais e econômicos que buscam sinalizar a importância e a influência que esses
aspectos têm no desenvolvimento do turismo;

2- Conjunto da organização estrutural: formada pelos subsistemas da superestrutura e


infraestrutura, sendo a superestrutura composta pelas secretarias municipais e estaduais do
turismo e o Ministério do Turismo, já a infraestrutura composta pelos serviços urbanos, como
o transporte, saneamento básico, o sistema de estradas e meios de transportes disponíveis e o
custo do investimento em infraestrutura;

3- Conjunto das ações operacionais: formado pela demanda, a oferta, o mercado, a produção,
distribuição e o consumo. Dentro dos subsistemas que formam esse conjunto estão presentes
os bens e serviços turísticos disponíveis ao turista, as empresas que produzem esses bens e
serviços.

SISTU

R de Beni (2001)

 Finalizando com Boullón, ele acreditava que não haviam regiões turísticas, uma vez
que os atrativos turísticos não se tocam, e propôs a teoria do espaço turístico,
determinado por meio da observação da distribuição entre atrativos turísticos e
infraestrutura. A partir disso foram identificados vários componentes turísticos, são
eles: zona, área, complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor, corredor de
translado e corredor de estada.
Zona turística: o maior componente. Cada zona deve contar com, no mínimo, 10 atrativos
turísticos, um tanto quanto perto um dos outros;

Área turística: é como um subsistema de um subsistema maior. Deve possuir uma boa
infraestrutura de transportes e comunicação, e possuir um centro turístico;

Centro turístico: dividido em quatro partes - distribuição, estada, escala e excursão. “É todo
conglomerado urbano que conta, em seu próprio território ou dentro de seu raio de influência,
com atrativos turísticos de tipo e hierarquia suficientes para motivar uma viagem turística.
(BOULLÓN, 2001, p. 69-70).” (p. 57-58);

Complexo turístico: maior que o centro e menor que a zona. Possui um ou mais atrativos, que
junto de outros complementos, tem potencial de fazer com que os turistas permaneçam por 3
ou mais dias;

Unidades turísticas: uma concentração menor que possibilita aproveitar um ou mais atrativos
turísticos de uma vez só, como por exemplo: parques aquáticos e hortos florestais;

Núcleo turístico: tem de 2 a 9 atrativos, porém é isolado, dificultando o acesso do público;

Corredores turísticos: promovem a ligação dos componentes do meio turístico. Podem ser de
translado, que é aquele onde passa o fluxo de turistas, devem possuir uma bela paisagem e
equipamentos que promovam a segurança dos turistas para que possam chegar até seu
destino; e de estada, que são áreas maiores e geralmente ficam à beira de lagoas e/ou rios.

Delimitação das zonas turísticas, Boullón (2001)

Você também pode gostar