DILEMAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

NOS CONTEXTOS EMERGENTES

Prof. Dr. José Vieira de Sousa

Faculdade de Educação
Universidade de Brasília

26 de junho de 2024
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DISCUSSÃO SOBRE EDUCAÇÃO
SUPERIOR EM CONTEXTOS EMERGENTES – EBES
 EIXOS ESTRUTURANTES DO CAPÍTULO 1 – “HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO SUPERIOR” (SOUSA, José Vieira de – p. 25-207)
 CONFIGURAÇÃO DO EIXO 4 (p. 160-193)
EDUCAÇÃO SUPERIOR NOS CONTEXTOS EMERGENTES

4.1 Contextos emergentes e Educação Superior

4.2 Globalização e Educação Superior

4.2.1 Crises da universidade na sociedade globalizada

4.2.2 Perspectiva gerencialista e ambiências universitária

4.3 Disparidades entre os países no acesso à educação: taxas de matrícula e
faixa de renda

4.4 Temas emergentes na Educação Superior:

4.5 Economia do conhecimento e Educação Superior

4.6 Processo de Bolonha

4.7 European Higher Education Area

4.8 World-class universities (WCU)

 PRESSUPOSTOS DA DISCUSSÃO

a) A análise de condicionantes históricos, sociais, culturais e políticos

permite entender que as mudanças ocorridas no campo da educação
superior, nos contextos emergentes, fazem parte de uma totalidade;
b) O exame crítico dos fatos relativos à educação superior nos contextos
emergentes em seu tempo e não fora dele pode contribuir para sua
percepção inserido em uma totalidade concreta;
c) Enfrentando desafios nos contextos emergentes, a educação superior
continua a ocupar posição de inquestionável centralidade no
desenvolvimento cultural e econômico do mundo contemporânea;
d) Em nenhum outro momento de sua evolução, a educação superior se
viu tão envolta pelos princípios da economia como nos contextos
emergentes.

Espaços mundializados
Em sua construção, os contextos emergentes lidam com a “a dialética da continuidade e da
mudança” (FRANCO, ZITKOSKI; FRANCO, 2016, p. 17)
 EDUCAÇÃO SUPERIOR EM CONTEXTOS
EMERGENTES: QUE CONCEPÇÕES ESTÃO EM JOGO?

Bem público Serviço

Relevância social e
equidade

Democratização social Educação encarada como

(acesso)
Necessidade de determinados
padrões, critérios e indicadores
Regulação dos sistemas de educação
superior (ALTBACH, 2013)
mercadoria: OMC, OCDE,
AGTS , Agências de
avaliação e acreditação =
campo econômico
Educação como um serviço
transnacionalizado
 GLOBALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO SUPERIOR

Globalização: fluxo de tecnologias, economia, valores,

conhecimentos, ideias e pessoas, além das fronteiras.

Transnacionalização: oferta transfronteiriça de

ensino, presencial ou a distância, por
intermédio de organizações transnacionais
visando o lucro.

Internacionalização: conjunto amplo de políticas, estratégias, ações e

atores, levando à cooperação/competição, cumplicidade/conflito entre
universidades, considerando o campo de disputas no qual essas
instituições se situam (BOURDIEU, 1983, 2002).
SISTEMAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – MUNDIAIS, REGIONAIS E LOCAIS

Complexos
Heterogêneos
Segmentados
 EDUCAÇÃO SUPERIOR E GLOBALIZAÇÃO

Intercâmbios econômicos, sociais e educacionais

Novas relações e modelos entre países e instituições

Não há mais fronteiras para a educação

Educação presencial, educação a distância, educação on line e franquias

de cursos gerando uma gama diversificada de produtos e resultados.
 PONTOS CRUCIAIS NO EXAME DA CRISE DA
UNIVERSIDADE NA SOCIEDADE GLOBALIZADA
 Crise: fenômeno cíclico e oportunidade para a universidade reconsiderar
suas práticas e incorporar novas experiências que possam impulsionar a
transformação social pela transmissão e construção do conhecimento.

Natureza cíclica
das crises Ocasião para
repensar seus rumos
Compreensão de que
as saídas para qualquer Reflexão sobre o papel da
crise são, sempre, universidade mas, sobretudo,
coletivas. sobre a educação que
queremos construir com os
sujeitos dessa instituição.

Trilhar o caminho de construção do sentido/papel da universidade é

necessário para não se esgotar nas questões dos meios operacionais.
PERSPECTIVA GERENCIALISTA E AMBIÊNCIA UNIVERSITÁRIA:
CARACTERÍSTICAS DA NGP (NEW PUBLIC MANAGEMENT )

❑ Incorporação e implementação de princípios próprios da racionalidade

empresarial e da gestão privada na administração pública, que passa a
ser desenvolvida com base em resultados, a partir de novos processos
de gestão e de trabalho.

❑ Introdução de modelos gerenciais próprios da iniciativa privada no

setor público conformando a estrutura do Estado e a sua forma de
gestão.

❑ Qualidade na educação relacionada ao cumprimento de metas

associado à produtividade, ao desempenho, à eficiência, à eficácia, à
excelência, à descentralização e à accountability.

❑ “[...] não funciona contra o Estado, mas através dele” (DALE, 2010, p.
1.104), formatando a burocracia educacional do Estado, das
instituições de ensino e do processo de política pública.
 PERFOMATIVIDADE
PERFORMATIVIDADE COMO EXPRESSÃO DA
EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONTEXTOS EMERGENTES

A performatividade pode ser concebida como “uma

tecnologia, uma cultura e um método de regulamentação
que emprega julgamentos, comparações e
demonstrações como meios de controle, atrito e
mudança ” (BALL, 2005, p. 543).

Os processos avaliativos têm levado as instituições de

educação superior a assumirem uma postura de busca
de desempenho e atendimento formal de requisitos
regulatórios como forma de superação da avaliação.

A noção de qualidade da educação superior

passa a ser confundida com performatividade.
 DISPARIDADES ENTRE OS PAÍSES NO ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR

(WORLD BANK, 2020)

TAXAS DE ESCOLARIZAÇÃO BRUTA E LÍQUIDA (BRASIL 2012-2021)

PNAD/IBGE, elaborado por INEP (2022)

 ECONOMIA DO CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO SUPERIOR

“Uma nova epistemologia da Educação Superior surge no século 21. Esta epistemologia
sustenta as razões pelas quais as universidades devem trilhar caminhos globais e
internacionais, redesenhar seu perfil em direção aos mercados e desenvolver
modalidades de capitalismo acadêmico. (LEITE; GENRO, 2012, p. 764).”

Dimensão Incorporação da
EDUCAÇÃ
econômica lógica
O
sem
SUPERIOR de mercado
precedentes

Mobilização de Geração de patentes,

competências em
empresariais associadas alguns casos,
às acadêmicas superior às empresas

Estimula “uma batalha por mentes e mercados” (ROBERTSON, 2009, p. 412)

ECONOMIA DO CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO SUPERIOR

✔ O campo econômico, como qualquer outro recorte do espaço social, é

“um campo de lutas para conservar ou transformar esse campo de
forças” (BOURDIEU, 2004, p. 22-23).

✔ Na atualidade, a educação superior mundial lida com uma dimensão

econômica sem precedentes em qualquer outro momento de sua
evolução, validando a lógica de mercado associada a esse nível
educacional, na atualidade, o que se opõe à sua concepção com um
bem público.

✔ A economia do conhecimento passou a ganhar força no final da

década de 1990, podendo ser definida “como a mobilização das
competências empresariais, acadêmicas e tecnológicas com o objetivo
de melhorar o nível de vida das populações” (SQUIRRA, 2005, p. 262).
ECONOMIA DO CONHECIMENTO E EDUCÇÃO SUPERIOR

✔ A economia do conhecimento faz-se presente não somente na vida

cotidiana dos indivíduos, mas fundamentalmente no contexto das
universidades e de outras instituições que ofertam educação superior,
na sociedade contemporânea.

✔ É no contexto de uma sociedade globalizada que emerge a economia

global do conhecimento, fazendo com que as universidades assumam
a condição de atores chave do processo e travando “uma batalha por
mentes e mercados.” (ROBERTSON, 2009, p. 412).

✔ Na economia do conhecimento as políticas formuladas pela educação

superior nos diferentes países passam a ser dimensionadas por
interesses políticos e econômicos geoestratégicos mais amplos.
ECONOMIA DO CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO SUPERIOR

❑ “Em qualquer situação, é a supremacia do económico e a obsessão da

com­petitividade (agora baseada no conhecimento) que
indiscutivelmente sobres­saem. ” (AFONSO, 2015, p. 272)

❑ “[...] trata-se de um conhecimento útil que possa alimentar o chamado

capitalismo académico, e não um conhecimento como fim em si
mesmo ou que tenha objetivos emanci­patórios.” (AFONSO, 2015, p.
276)

“[...] o capital produtivo já não se contenta com a exploração da força de

trabalho na obtenção de mais valia [pois] o conhecimento tem papel
cada vez mais central e estratégico na chamada ‘“economia do
conhecimento”’. (OLIVEIRA, 2015, p. 347 – grifos no original).
PROCESSO DE BOLONHA E CONSTITUIÇÃO DA EUROPEAN
HIGHER EDUCATION AREA

49 (quarenta e nove) países signatários, em 2022. Disponível em <

http://www.ehea.info/pid34247/how-does-the-bologna-process-work.html
 WORLD-CLASS UNIVERSITIES COMO UMA DAS
EXPRESSÕES DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO

PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS
DAS WCU

(ALTBACH; SALMI, 2016)

 WORLD-CLASS UNIVERSITIES E ECONOMIA DO
CONHECIMENTO

Problematização do conceito de world-class universities –

universidades de classe mundial – no contexto mais amplo da
internacionalização, considerando que esse conceito tem se
constituído no contexto da globalização e da economia do
conhecimento.

Conceito em disputa no campo da educação superior

“[...] todos querem uma (universidade classe do mundo ou mundial),

ninguém sabe o que é, e tampouco alguém sabe como adquirir
uma”. (ALTBACH, 2004, p. 2).
WORLD-CLASS UNIVERSITIES E RANKINGS
INTERNACIONAIS

⮚ O processo de transformação de uma instituição em world-

class universitie não é rápido nem construído meramente a
partir da importação de pessoal, tecnologias, arquiteturas
acadêmicas ou processos de gestão de outros países.

“O ranking das universidades mundiais por diferentes organizações é

sempre o ponto de referência para as universidades nacionais verem
se elas se tornaram de classe mundial ou não.” (SONG, 2018, p. 735).

Na defesa da “ideologia da excelência, os rankings acentuam o

aprofundamento da diferenciação inter e intrainstitucional, além de
defender concepções de universidade e ciência cada vez mais
pragmáticas e utilitárias.” (THIENGO, 2018, p. 68)
RANKINGS ACADÊMICOS INTERNACIONAIS: PIONEIROS
Academic Ranking of World
Universities (ARWU,2003)
🡺 Institute of Higher Education da
Shanghai Jiao Tong University,
criado em 2003.
🡺 Classifica anualmente as
principais universidades do
mundo, tendo como critério
básico seus resultados de
pesquisa.
Times Higher Education World
University Rankings THE (Grã-
Bretanha)
🡺 Criado em 2004, no âmbito da
empresa TSL Education Ltd,
em parceria com a QS
Quacquarelli Symonds Ltd.
🡺 Analisa, dentro dos limites
possíveis, a qualidade da
formação ofertada aos
estudantes
 INDICADORES/CRITÉRIOS DA ARWU (2022)
Indicador de 1º Nível Indicador de 2º Nível Código Peso
Qualidade de Ensino Número equivalente de ex-alunos que Alumni 10%
receberam o Prêmio Nobel e Medalha Fields.
Qualidade Docente Número equivalente de membro do corpo Award 20%
docente que receberam o Prêmio Nobel e
Medalha Fields.
Número dos pesquisadores mais citados em HiCi 20%
todas as disciplinas.
Realização de Número equivalente de artigos publicados na N&S* 20%
Investigação Nature e Science.
Científica
Número equivalente de trabalhos incluídos no PUB 20%
Science Citation Index (SCIE) e no Science
Citation Index Social (SSCI).

Desempenho Docente Média de desempenho docente nos 5 PCP 10%

per capita indicadores anteriormente citados.
* Para as Universidades de Artes, sem levar em conta indicadores de N & S, o seu peso
é proporcionalmente decomposto em outros indicadores.

Fonte: Traduzida e adaptada ARWU (2016)

 AS 20 MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO
Shanghai Jiao Tong Academic Ranking of World Universities (ARWU)

Fonte: STJU (2021) Disponível em

https://www.mastersportal.com/rankings/2/academic-ranking-of-world-universities-shanghai-j
iao-tong-university.html
 AS 20 MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO
Times Higher Education – THE 2021

Fonte: THE (2021) Disponível em

https://www.timeshighereducation.com/world-university-r%C3%A1nkings/2022#!/page/0/length/25/sort_by/rank/sort_order/asc/cols
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 UM CASO EMBLEMÁTICO: CHINA

Contexto da relação educação superior e economia do conhecimento:

✔China: decisão de selecionar grupos de universidades e apoiá-las com

substantivos recursos, forma que se tornem world-class universities.

✔Decisão política tomada dentro de planejamentos estatais, ao longo de

determinado período de tempo, à luz de políticas formuladas e inseridas em
um projeto político de grande espectro.

✔Como acontece em outros países, o governo central chinês tem assumido

papel preponderante na iniciativa de criação da WCU, a ponto de outubro
de 2015, o Conselho de Estado ter instituído o “Plano geral para
impulsionar a iniciativa de universidade de primeira classe mundial e
construção de disciplinas de primeira classe” (SONG, 2018, p. 731).
 CONSIDERAÇÕES FINAIS

✔ As lutas que se instalam no campo global da educação superior, motivadas

pelo alinhamento às diretrizes à economia do conhecimento mostram que,
nos contextos emergentes, as universidades mundiais tendem a aderir,
para fins de sua avaliação, a uma espécie de visão científica global.

✔ Em uma sociedade marcada por processos de globalização e onde o

conhecimento se constitui numa mercadoria de grande valor, as
universidades são chamadas a desempenhar novos papéis diante das
demandas dessa sociedade, sobretudo, aquelas referentes às
necessidades do mercado de trabalho e de desenvolvimento da economia.

✔ Os ideólogos da política econômica do novo governo assumem,

explicitamente, que o objetivo é o fim da gratuidade constitucional, o
que exigirá lutas em defesa da gratuidade que necessariamente terão de
abranger outros setores da classe trabalhadora, notadamente dos
movimentos antissistêmicos (movimentos sociais, por exemplo).
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
✔ Revelam uma associação direta com os rankings acadêmicos globais que
influenciam as políticas nacionais definidas para a ES, nos diferentes países,
induzindo as IES a adotarem critérios de avaliação regulados por padrões globais.

✔ “O rótulo de UCM significa, encapsulando ou representando um valor, a qualidade

ou a validade de uma instituição dentro do campo de julgamento da educação
superior em âmbito global.” ((THIENGO, BIANCHETTI; DE MARI, 2018, p. 1.046).

✔ Revelam uma associação direta com os rankings acadêmicos globais que

influenciam as políticas nacionais definidas para a ES, nos diferentes
países, induzindo as IES a adotarem critérios de avaliação regulados por
padrões globais.

✔ “O rótulo de UCM significa, encapsulando ou representando um valor, a

qualidade ou a validade de uma instituição dentro do campo de
julgamento da educação superior em âmbito global.” ((THIENGO,
BIANCHETTI; DE MARI, 2018, p. 1.046).
 REFERENCIAL TEÓRICO BÁSICO
▪
▪
ALTBACH, P. G (2004, 2010);
MOHRMAN, MA, BAKER (2008)
▪ BARREYRO (2008);
▪ MOROSINI, M. C. (2014).
▪ BIANCHETTI (2018)
▪ NEWMAN, J.; CLARKE, J. (2012).
▪ BRADDOCK, R.; TAYLOR, P. (2007);
▪ OLIVEIRA, J. F. (2015).
▪ DE WIT, H. (2013);
▪ OLIVEIRA, J. F.; MORAES, K. N. (2016)
▪ DECLARAÇÃO DE BOLONHA (1999);
▪ PANG, N. S. (2006)
▪ DIAS SOBRINHO, J. (2010);
▪ RAMA, C. (2006.)
▪ DIDRIKSSON, A. (2008);
▪ ROBERTSON, S. L.(2009).
▪ GARCÍA GUADILLA, C. (2007);
▪ SONG (2018)
▪ HAZELKORN, E. (2011);
▪ SOUSA, J. V. (2006, 2013, 2017, 2021)
▪ HUDZG (2013)
▪ SQUIRRA, S. (2005).
▪ KNIGHT, J. (2012);
▪ SURSOCK, A.; SMIDT, H. (2010).
▪ LEMERT, C.; ELLIOT, A. (2010);
▪ TROW, M. (2011).
▪ MANICAS, P. (2004);
▪ WIELEWICKI (2016)
 GRATO
PELA
ATENÇÃO

Prof. Vieira
sovieira1@gmail.com