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POLÍTICAS CURRICULARES

DE EDUCAÇÃO BÁSICA:
experiências e desafios
Ana Cláudia da Silva Rodrigues
DFE/CE/UFPB

ANA CLÁUDIA DA SILVA RODRIGUES


DFE/CE/UFPB
POLÍTICAS
CURRICULARES-
EDUCAÇÃO
DE ONDE BÁSICA
FA L O ?

SOBRE O
Q U E FA L O ?
QUESTÃO NORTEADORA
• Que atuação, nos
contextos vividos
cotiadianamente, é
possível a partir do
estabelecimento da
BNCC?
O que mobiliza minhas inquietações?
1. MOVIMENTO: compreender os Marcos
Teóricos
• Neoliberalismo – como um conjunto complexo, muitas vezes
incoerentes, instável e até mesmo contraditório de práticas que
são organizadas em torno de certa imaginação do “mercado”
como base para Universalização das relações socais baseadas
no mercado, com penetração em quase todos os aspectos de
nossas vidas, do discurso e/ou da prática de mercantilização,
de acumulação de capital e de geração de lucros.(Shamir, 2008)
• Políticas educacionais globais
• Governança em rede= heterarquias
Conceitos de base
• Desnacionalização – a política educacional está sendo
“feita” em novas localidades, em diferentes
parâmetros, por novos atores e organizações.
• Redes de políticas – são um tipo de “social” novo,
envolvendo tipos específicos de relações sociais, de
fluxos e de movimentos. Eles constituem
comunidades de políticas, geralmente baseadas em
concepções partilhadas de problemas sociais e suas
soluções. Novas vozes dentro do discurso da política.
(Ball, 2014)
Conceitos de base
• Governamentalidade – Foucault – o governo das
populações por meio da produção de seres
empreendedores “dispostos”, “auto-
governamentáveis”. Neoliberalismo é sobre
dinheiro e mentes.

• Ciclo de Políticas
• Contextos: Influencia; produção do texto político;
prática; resultados/efeitos; estratégias
CICLO DE POLÍTICAS

2. Contexto
1. Contexto
5. Contexto
da da
de
produção
Influências
3. Contexto de textos
4. Contexto dosEstratégias
prática
Resultados
Cenários das Políticas Educacionais no Brasil

• Globalização
• Neoliberalismo
• Redes
• Mobilidades de Políticas
Políticas
Curriculares
-
Contextos em
Disputas
Novas Vozes

ESTADO FAMILIA ORGANIZAÇÕES SOCIAIS


POLÍTICAS
CURRICULARES NO SÉCULO XXI –
UMA ARENA DE DISPUTAS
“[...] política educacional está sendo feita em novas
localidades, em diferentes parâmetros, por novos atores e
associações” (BALL, 2014, p. 27)
Ball e Junemann (2012, p. 55) definem redes como
“comunidades políticas” descentradas, articuladas em
busca de soluções para os problemas sociais comuns.
As redes são caracterizadas por uma multiplicidade de
demandas e agentes políticos que assumem a forma de
equivalência.
SOBRE QUAIS PERSPECTIVAS CURRICULARES ESTAMOS
FALANDO...
CURRÍCULO EMPRESARIAL
CURRÍCULO COMO METODOLOGIA,
AVALIAÇÃO

CURRÍCULO COMO
SABER/PODER/POLÍTICO

CURRÍCULO COMO TERRITÓRIO EM


DISPUTA

CURRÍCULO COMO DOCUMENTO


DE IDENTIDADE

CURRÍCULO COMO ESTUDO


INTERDISCIPLINAR DA EXPERIENCIA
EDUCATIVA
Discursos Produzidos
• Agenda estruturada para a educação
(DALE, 2010);
• Igualdade para todos
• Qualidade necessária
• Flexibilização curricular
• Performance (Redes de ensino,
Instituições, professor e estudantes)
• Avaliações em larga escala
• QUALIDADE PARA TODOS...
• Primeiro registro:
• Relatório do governo norte americano “Uma nação em
risco” do ano de 1983, onde a “pauta” da qualidade
emergiu e vai desdobra-se em um interesse político a
partir da década de 1990.
• “O relatório abordou problemas que eram inerentes às
escolas, como currículos, requisitos de graduação,
preparação do professor e qualidade das apostilas”
(RAVICTH, 2011, p.42)
• Tal relatório desencadeou propostas de caráter
gerencialista e apelos a diminuição do papel provedor e
organizador do Estado.
• Estas “soluções” se enredam à forte emergência da
ideologia e de práticas neoliberais ocorridas nas últimas
décadas do século 20, ancorado no tripé
desregulamentação, privatização e abertura de mercados.
• Com isso órgãos econômicos internacionais condicionaram financiamentos À
necessidade de aplicar uma série de reformas nas estruturas estatais, inclusive
nos sistemas educacionais, em sintonia com os ditames neoliberais em voga
(SHIROMA, 2009).
• ESTADO PROVEDOR ESTADO AVALIADOR
• Primeira mudança:
• “(...) do Estado como provedor para o Estado como regulador, estabelecendo as
condições sob as quais vários mercados internos são autorizados a operar, e o
Estado como auditor avaliando seus resultados” (Scott, 1995, p. 80)
• Segunda mudança:
• ligada ao capital, que considera os serviços sociais uma área em expansão na
qual lucros consideráveis podem ser obtidos.
• Terceira mudança:
• às instituições do setor público, rumo a
um quadro de novas possibilidades
éticas, de novos papéis e relações de
trabalho – uma nova economia moral. A
instauração de uma nova cultura de
performatividade competitiva que
envolve uma combinação de
descentralização, alvos e incentivos para
produzir novos perfis institucionais. Esse
processo de transformação se inspira
tanto em teorias econômicas recentes
como em diversas práticas industriais
“que vinculam a organização e o
desempenho das escolas a seus
ambientes institucionais”
• Em quarto lugar, a mudança, que diz respeito aos cidadãos, de
uma posição de dependência com relação ao Estado do Bem-
Estar para um papel de consumidor ativo.
PERSPECTIVAS DE QUALIDADE:
1. Excelência ou excepcionalidade;
2. Oferta de vagas ou acesso universal à educação;
3. Fluxo adequado de alunos;
4. Presença e diversidade de insumos;
5. Investimento desejável por aluno;
6. Adequação dos processos e do ambiente;
7. Relevância social da educação;
8. Performance em avaliações padronizadas.
( ESQUINSANI & DAMETTO, 2018 )
• A performatividade é uma tecnologia, uma cultura e um
método de regulamentação que emprega julgamentos,
comparações e demonstrações como meios de controle,
atrito e mudança. Os desempenhos de sujeitos individuais ou
de organizações servem de parâmetros de produtividade ou
de resultado, ou servem ainda como demonstrações de
“qualidade” ou “momentos” de promoção ou inspeção. Eles
significam ou representam merecimento, qualidade ou valor
de um indivíduo ou organização dentro de uma área de
julgamento, tornando os “silêncios audíveis”.
Processo de Objetivação:
Performatividade: Ela funciona de diversas maneiras para “atar as
coisas” e reelaborá-las. Ela facilita o papel de monitoramento do Estado,
“que governa a distância” – “governando sem governo”. Ela permite que o
Estado se insira profundamente nas culturas, práticas e subjetividades das
instituições do setor público e de seus trabalhadores, sem parecer fazê-lo.
Ela (performatividade) muda o que ele “indica”, muda significados,
produz novos perfis e garante o “alinhamento”. Ela objetifica e
mercantiliza o trabalho do setor público, e o trabalho com conhecimento
(knowledge-work) das instituições educativas transforma-se em
“resultados”, “níveis de desempenho”, “formas de qualidade”.
Performatividade é o que Lyotard (1984, p.24) chama de “os terrores (soft
e hard) de desempenho e eficiência” – o que significa: “seja operacional
(ou seja, comensurável) ou desapareça”.
2. MOVIMENTO: AS PESQUISAS
MAPAS DAS PRINCIPAIS REDES
QUE INFLUENCIAM A APROVAÇÃO
DA BNCC
Figura 01: Mapa dos principais influenciadores, mantedores da BNCC

Fonte: SENA, A. K. C.; RODRIGUES, A. C. S. Relatório PIBIC/2020


Figura 02: Mapa dos colaboradores dos Itinerários Formativos do Ensino
Médio

Fonte:https://sites.google.com/see.pb.gov.br/probnccpb/novo-ensino-m%C3%A9dio?authuser=0
3. MOVIMENTO: EFEITOS
Estender a roupa no varal é um trabalho
minucioso que obriga a ter bem presente a
roupa e o varal para a operação ter sucesso.
Mas quem se habituou a estender a roupa
no varal sabe que, ao mesmo tempo que se
olha com atenção para o que está na frente
dos olhos, é preciso estar atento à época do
ano, a metereologia, a  incidência do sol, a
força e a direção do vento, a poluição
atmosférica e até a segurança do estendal
se há a possibilidade de ladrões roubarem a
roupa. (SANTOS, 2020)
• Destaco que não pretendemos analisar nas pesquisas,
individualmente, cada relação constituída na rede,
nem apontar as complexas e multifacetadas atividades
de cada membro da rede, mas indicar fluxos e as
influencias que atuam de forma direta ou indireta na
Política Curricular estabelecida através da BNCC;
• Existe uma rede constituída de múltiplos atores,
nacionais e internacionais que influenciaram na
construção da Política Curricular no Brasil;
• Essa rede se constituí em uma teia política e de relações do Estado
com diferentes organismos sociais e o setor privado;
• O empresas e seus parceiros, vem na educação a oportunidade de
investir, de fazer negócios globais e de economização da educação
para garantir a criação de um novo perfil de aluno (futuro
profissional), pronto para atender as demandas do mercado de
trabalho, por meio de uma cultura mundial de escolarização;
• O modelo desenvolvido pela BNCC tem características Neoliberais
e Neoconservadoras (padronização de escolas e na
homogeneização dos discentes), utilizando o discurso de uma
educação de boa qualidade, capaz de formar sujeitos sociais com
oportunidades iguais;
• A proposta de formação reduz os estudantes a uma mera apropriação de
competências e habilidades, subordinados ao capital econômico;
• Políticas são atuadas no contexto da prática; contexto dos resultados/efeitos;
estratégia;
• Essas políticas vem aumentando o controle do trabalho docente, engessando a
autonomia dos currículos e, como consequência, empobrecendo, reduzindo e
asfixiando as conversas complicadas que são os currículos no cotidiano das
escolas. As reformas e políticas vinculadas e inspiradas na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) não contribuem para a promoção de qualidade na educação
brasileira, reforçando, nos currículos que se tecem nos cotidianos, a exclusão, as
hierarquias e as distâncias da desigualdade social (SUSSEKIND, 2019);
• Currículos são artes de resistência. As escolas são
espaçostempos de conhecimento, de presença e não
só de ausências. (SUSSEKIND, 2020);
•  A reforma (BNCC) é arrogante, indolente e malévola,
produz injustiças, invisibilidades e inexistências
(SUSSEKIND, 2020);
• Currículos fazem redes solidárias cotidianas
(FERRAÇO, 2020);
• As políticaspráticas subvertemconstroem
cotidianamente o currículo da educação
básica(RODRIGUES, 2020)
• Que conhecimentos são produzidos
ATUAÇÕES diariamente nesses espaços entre
professores, estudantes e comunidade
escolar e acabam apagados, emudecidos,
por não possuírem um lugar onde possam
deixar as marcas de sua criação
(CERTEAU, 2012)?

• O desafio está em identificar as linhas


abissais, desnudar e desconstruir os
mecanismos da necropolítica e permitir
espaçostempos para ouvir, sentir, registrar
as vozes e reconhecer as revoluções
subalternas em nossos cotidianos
escolares como um compromisso político
(SUSSSEKIND, REIS, PEREIRA, 2020).
Referências
• BALL, Stephen J. Educação Global S. A: novas redes políticas e o imaginário
neoliberal. Tradução de Janete Bridon. Ponta Grossa: UEPG, 2014.
• HONORATO, Rafael Ferreira de Souza; ALBINO, Angela Cristina Alves; RODRIGUES,
Ana Cláudia da Silva. Educação Integral no sistema socioeducativo: o currículo
como redes de significações discursivas. Revista Teias v. 20 • n. 59 • out/dez 2019
• RODRIGUES, Ana Cláudia da Silva; HONORATO, Rafael Ferreira de Souza.
Redes de política de educação integral da Paraíba: fluxos e influências
neoconservadoras e neoliberais. Revista Roteiro,  v. 45, p. 1-32, 10 jun. 2020.
• SUSSEKIND, Maria Luiza; PAVAN, Ruth. Outras metodologias e outras
epistemologias: pesquisas com currículos a caminho de Bacurau. Revista Teias v.
20 • n. 59 • out/dez 2019

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