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L I T E R AT U R A

INFANTOJUVENIL

P R O FA . E S P. L O Â N G E L A M A R T I N S D E S O U S A
“O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS...”
“O PEQUENO PRÍNCIPE”
– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?
– Procuro os homens – disse o principezinho. – Que quer dizer “cativar”?
– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É bem incômodo!
Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu
procuras galinhas?
– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
– É uma coisa muito esquecida – disse a raposa. – Significa “criar
laços”…
– Criar laços?
– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade
de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos
de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós
teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu
serei para ti a única no mundo…
– Começo a compreender – disse o principezinho. – Existe uma flor… eu
creio que ela me cativou…
“O PEQUENO PRÍNCIPE”
Mas a raposa voltou à sua ideia.
– Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os
homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se me cativares, minha vida será como que
cheia de sol...
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua – disse o principezinho; – eu não te queria fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse…
– Quis – disse a raposa.
– Mas tu vais chorar! – disse o principezinho.
– Vou – disse a raposa.
– Então, não sais lucrando nada!
– Eu lucro – disse a raposa -, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
– Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei
presente de um segredo.
“O PEQUENO PRÍNCIPE”
E voltou, então, à raposa:
– Adeus – disse ele…
– Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem
com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
– O essencial é invisível para os olhos – repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.
– Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
– Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… – repetiu o principezinho, a fim
de se lembrar.
– Os homens esqueceram essa verdade – disse a raposa. – Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és
responsável pela rosa…
– Eu sou responsável pela minha rosa… – repetiu o principezinho, a fim de se
lembrar.
Antoine de Saint Exupery
O GÊNERO MARAVILHOSO

• Os contos maravilhosos são caracterizados pela presença de personagens, lugares e tempos não
determinados historicamente, e por uma forma que, embora possa ser recontada por diversos
autores, permanece quase que intacta através dos tempos. No entanto, como veremos adiante, a
noção do maravilhoso não se restringe aos chamados contos de fadas: no trato com o
sobrenatural, o conto maravilhoso transpõe as fronteiras dos contos de fadas, apresentando
elementos diversificados, e destinam-se a todo o público, não somente ao infantil, como
tradicionalmente se pensa (TODOROV, 2008).
O GÊNERO MARAVILHOSO

• Em suas pesquisas, Propp (2001) reconhece esse gênero como expressão da própria vida: sua
estrutura não seria mais do que o reflexo da condição humana sempre em transformação,
enfrentando obstáculos em busca de uma autorrealização nos diversos âmbitos da vida.
O GÊNERO MARAVILHOSO

• Coelho (2012, p. 119-120, grifos da autora), relaciona as constantes dos contos maravilhosos às
constantes da condição humana, perceptíveis em todos os contextos socioculturais:
1. situação de crise ou mudança: é natural que na vida real todo ser humano viva contínuas
situações de mudança ou de crise, pois do nascimento à morte, passamos por muitas
transformações, desafios e provas;
2. desígnio: todo ser humano tem (ou deve ter) suas aspirações, seu ideal, seu “desígnio” a ser
atingido na vida, em busca de sua autorrealização;
3. viagem: basicamente, a luta pela autorrealização trava-se fora de casa, no corpo-a-corpo do
eu com o mundo exterior, com outros;
O GÊNERO MARAVILHOSO

4. obstáculos: são as inevitáveis dificuldades que se interpõem entre o eu e seu caminho para a
autorrealização;
5. mediação: são os auxílios que, via de regra, o eu recebe para poder avançar em seus
caminhos;
6. conquista: este deveria ser o desenlace feliz para a autorrealização desejada pelo eu, como
acontece sempre nos contos de fadas e deveria acontecer também na vida real.
O GÊNERO MARAVILHOSO

• É importante salientar que os contos maravilhosos, especialmente na contemporaneidade, nem


sempre iniciam com o “era uma vez…” e finalizam com o “felizes para sempre”.
• Na verdade, como aponta Todorov (2008, p. 30), o conto de fadas não é mais que uma das
variedades do maravilhoso e os acontecimentos sobrenaturais não provocam nele surpresa
alguma: nem o sonho que dura cem anos, nem o lobo que fala, nem os dons mágicos das fadas
(para não citar mais que alguns elementos dos contos de Perrault). O que distingue o conto de
fadas é uma certa escritura, não o status do sobrenatural.
O GÊNERO MARAVILHOSO
• Segundo Todorov, é a aceitação natural do sobrenatural que caracteriza o conto maravilhoso.
• Roas (2014, p. 31), ao definir o sobrenatural como tudo aquilo que “transgride as leis que
organizam o mundo real, aquilo que não é explicável, que não existe, de acordo com essas
mesmas leis”, enfatiza que o maravilhoso reside exatamente na não ruptura dos esquemas da
realidade, isto é, a aparição de entidades como fadas, duendes e bruxas, a ambientação da
história em espaços diferentes do universo do leitor não causam estranheza alguma, porque
tudo é possível.
• Nenhum personagem questiona os acontecimentos que irrompem em sua existência: um
feitiço, uma metamorfose, um milagre, nada desestabiliza ou suscita dúvidas nas personagens,
já que naquela realidade em que vivem, todas essas situações são aceitáveis. O leitor do
maravilhoso, ao admitir a verossimilhança dessas narrativas, adentra, por assim dizer, nesse
universo encantado e também não questiona os acontecimentos que ali ocorrem.
O GÊNERO MARAVILHOSO

• Dessa forma, o conceito de maravilhoso, assim, transcende a noção de conto de fadas, com
seus elementos tradicionais. Não exige final feliz, mas demanda a presença do sobrenatural
encarado como natural dentro de seu universo narrativo, aliado a uma linguagem metafórica
responsável por trazer à tona experiências humanas simbolizadas em mitos e arquétipos.
ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DO LEITOR
• Pré-leitor: abrange duas fases. A primeira infância, que vai dos 15/17 meses aos 3 anos de
idade, e a segunda infância, que começa a partir dos 2/3 anos de idade.

• A primeira infância é a fase em que a criança inicia o reconhecimento do mundo ao seu redor e
isso se dá através do contato afetivo e do tato. Também, é nessa fase que acontece a aquisição
da linguagem e a criança passa a nomear tudo à sua volta. Os adultos devem aproveitar esse
momento de percepção do bebê com o meio para estimular o processo de leitura com
brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros.

• Já a segunda infância é o momento em que se inicia a fase egocêntrica. A criança já está mais
adaptada ao meio físico e tem sua capacidade de comunicação verbal aumentada. "Brincar"
com o livro faz parte de um processo significativo. Livros que propõe humor, expectativa ou
mistério são indicados para o pré-leitor.
ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DO LEITOR
• Leitor iniciante: é comum a partir dos 6/7 anos de idade, sendo a fase em que a criança
começa a se apropriar da decodificação dos símbolos gráficos. Como está no início desse
processo, o adulto precisa assumir um papel de "agente estimulador".

• Recomenda-se livros com linguagem simples e que tenham começo, meio e fim. As imagens
devem predominar sobre o texto e as personagens podem ser humanas, bichos, robôs ou
objetos, especificando sempre os traços de comportamento, como bom e mau, forte e fraco,
feio e bonito. Por exemplo, histórias em que o bem vence o mal são muito fáceis de atrair o
leitor desta fase.
ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DO LEITOR
• Leitor em processo: é comum a partir dos 8/9 anos de idade, momento em que a criança já
domina o mecanismo de leitura. Seu pensamento está mais desenvolvido, o que lhe permite
realizar algumas operações mentais. Inclusive, o interesse pela natureza e pelos desafios é
despertado.

• Leituras com conteúdos de humor e situações inesperadas ou satíricas exercem atração nesta
fase e, também, o realismo e o imaginário. São adequados livros com imagens e textos escritos
em frases simples, de comunicação direta e objetiva. O tema deve ter um conflito para que o
texto seja mais emocionante até que haja a solução do problema.
ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DO LEITOR
• Leitor fluente: costuma se apresentar a partir dos 10/11 anos de idade. Essa criança está em fase
de consolidação dos mecanismos da leitura e sua capacidade de concentração avança fazendo
com que esse leitor compreenda o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir
dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de
abstração.

• Como esse leitor está na pré-adolescência, existe um sentimento de poder interior com o qual ele
acredita conseguir resolver todos os seus problemas sozinhos.

• As histórias de cunho político e ético ou com heróis e heroínas que lutam por um ideal atraem o
leitor fluente. Nesse estágio, é necessário oferecer a ele histórias com linguagem mais elaborada.
Aqui, as imagens já não são obrigatórias, mas ainda exercem elemento forte de atração. Mitos,
lendas, romances, policiais e aventuras são mais requisitados e os gêneros narrativos que mais o
envolvem são os contos, as crônicas e as novelas.
ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DO LEITOR

• Leitor crítico: se encontra a partir dos 12/13 anos de idade e a característica


preponderante é o total domínio da leitura e da linguagem escrita. A intertextualização
é uma realidade possibilitada pela capacidade de reflexão aumentada. A consciência
crítica em relação ao mundo, bem como sentimentos como saber, fazer e poder são
elementos desta etapa. O convívio do leitor crítico com o texto literário, segundo
Coelho (2002, p.40) “deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve
provocá-lo para penetrar no mecanismo da leitura”.
PROPOSTA DE ATIVIDADE
• Após as discussões realizadas durante nossa aula, selecione uma obra de Literatura
Infantojuvenil para que você redija em qual estágio psicológico do leitor ela pode ser
contemplada e quais metodologias utilizaria em sala de aula.

• Quantidade de linhas: fica a critério de vocês.


• Formas de entrega: digitalizado ou manuscrito.
• Atribuição: 2,0 pontos.
• Entrega: até 29\03, (próxima quarta-feira).
REFERÊNCIAS

• Disponível em: https://eventos.ifrn.edu.br/slap/o-que-sao-contos-maravilhosos/index.html


acesso em 18/02/24.
• Disponível em: https://cursos.escolaeducacao.com.br/artigo/a-literatura-e-os-est-gios-psicol-gic
os-da-crian-a
acesso em 18/02/24.

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