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13:06 UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL

HIDROLOGIA
Capítulo 5 – PRECIPITAÇÃO
(4ª PARTE)

Prof. RUI DE OLIVEIRA, Eng. Civil, MEng, 1

PhD
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PRECIPITAÇÕES INTENSAS
Essa denominação costuma considerar o conjunto de chuvas
originadas de um mesmo tipo de perturbação meteorológica cuja
intensidade ultrapasse um certo valor.
A duração dessas precipitações varia de alguns minutos até algumas dezenas
de horas (30) e a área atingida pode variar de uns poucos (chuvas de
convecção) até milhares (chuvas frontais) de km2.
Alguns autores e organizações (US Weather Bureau) incluem nessa categoria somente
as chuvas cuja intensidade ultrapasse um certo valor definido por uma expressão que
liga a intensidade (mm/h) e a duração (min), mas, na prática, isso não é muito
significativo pois uma precipitação pode ser considerada intensa para uma bacia e não
ser para outra.
Para problemas de Engenharia como o dimensionamento de redes pluviais,
controle de erosão pluvial, etc., chuva intensa significa uma forte precipitação
contínua com duração de poucas horas,
horas no máximo duas horas (em geral).
Tem interesse especial o estudo das intensidades máximas em
intervalos curtos, de 5min a 1h, por exemplo.
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COMO OBTER OS DADOS
SOBRE PRECIPITAÇÕES
INTENSAS?
São obtidos de registros
pluviográficos. As séries de máximas
A partir dos pluviogramas intensidades podem ser
podem ser estabelecidas, constituídas pelos mais
para diversas durações, as altos valores observados
máximas intensidades em cada ano (séries
ocorridas durante uma anuais).
dada precipitação. Ou pelos n maiores valores
As durações usuais são 5 observados no período
(menor intervalo que pode ser lido no
total de observação (séries
10, 15, 30 e
registro pluviográfico),
parciais), sendo n o
45 min e 1, 2, 3, 6, 12 e 24
(para durações maiores podem ser usados número de anos do
os dados dos pluviômetros) h. período considerado. 3
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AS CHUVAS MAIS INTENSAS
JÁ REGISTRADAS NO
MUNDO

Duração Precipitaçã Intensidade


Local e data
(min) o (mm) (mm/min)
1 38 38,0 Barot, Guadeloupe, 26/11/1970
15 198 13,2 Plumb Point, Jamaica, 12/05/1916
30 280 9,3 Sikeshugou, Hebei, China, 03/07/1974
60 401 6,7 Shangeli, Mongólia, 07/07/1975
600 1400 2,3 Muduocaidang, Mongólia, 01/08/1977

1440 1825 1,3 Foc Foc, Ihas Reunião, 07 e 08/01/1966

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PRECIPITAÇÕES
INTENSAS
As chuvas intensas são causas de cheias e as cheias são causas de
grandes prejuízos quando os rios transbordam e inundam casas, ruas,
estradas, escolas, podendo destruir plantações, edifícios, pontes, etc., e
interrompendo o tráfego.

As cheias também podem trazer sérios prejuízos à saúde pública ao


disseminar doenças (leptospirose,
( entre outras) de veiculação hídrica.

Por estes motivos existe o interesse pelo conhecimento detalhado de


chuvas máximas no projeto de estruturas hidráulicas como bueiros,
pontes, canais e vertedores.

O problema da análise de frequência de chuvas máximas consiste


no cálculo da precipitação P que atinge uma área A com uma
duração D com uma dada probabilidade de ocorrência em
um ano qualquer.
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PRECIPITAÇÃO
MÁXIMA
A precipitação máxima é a ocorrência extrema de precipitação com
distribuição temporal e espacial crítica para uma área ou bacia hidrográfica.

A importância de seu estudo reside no fato desta levar ao


conhecimento da vazão de enchente de uma bacia. Além disso, pode-se
salientar a atuação em erosão do solo, inundações em áreas rurais e
urbanas, obras hidráulicas, entre outros.

As precipitações máximas são representadas pontualmente


(abrangência máxima aceitável de 20 a 25 km2) pelas curvas de
intensidade, duração e frequência (i-d-f) e através da Precipitação
Máxima Provável (PMP), método mais utilizado para grandes obras,
nas quais o risco de rompimento deve ser mínimo.

As distribuições temporal (hietograma) e espacial são importantes para a


caracterização da vazão na bacia. Antes de apresentar como se determinam
as curvas i-d-f, há a necessidade de conceituar o tempo de retorno ou
recorrência de uma determinada precipitação.
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TEMPO DE RETORNO OU
DE RECORRÊNCIA
Trata-se do tempo médio em que dado evento (neste caso, a precipitação),
probabilisticamente, ocorrerá novamente.

O roteiro para a estimativa do tempo de retorno (T r) de uma precipitação com


base numa série de dados, é o seguinte:

1. Tomar o valor máximo de chuva diária de cada ano de um período de N anos.


2. Ordenar a série de forma crescente ou decrescente.
3. A cada valor associar a probabilidade (Pr) de que este valor seja excedido em
um ano qualquer; esta é estimada por fórmula empírica com base na ordem (i) e no
total de dados da série (n).

Pr = i/(n+1) Método Califórnia Pr = i/n Método de Kimbal


4. Obter o tempo de retorno (Tr), dado pelo inverso da probabilidade (Pr).

Tr= 1/Pr 7

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DISTRIBUIÇÃO
DAS ALTURAS
PLUVIOMÉTRIC
AS COM O
TEMPO DE
RETORNO OU
DE
RECORRÊNCIA
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DISTRIBUIÇÃO DE
PRECIPITAÇÕES EXTREMAS

Em geral, as distribuições de valores extremos de


grandezas hidrológicas, tais como chuvas e
deflúvios, por exemplo, ajustam-se
satisfatoriamente à distribuição tipo I de Fisher-
Tippett , conhecida também como distribuição de
Gumbel.

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MÉTODO DE GUMBEL –
distribuição tipo I de Fisher - Tippet
Segundo Gumbel, a probabilidade p de um valor extremo (X) ser
atingido (não é de ser ultrapassado), isto é, de ocorrer um valor
menor ou igual a (X), é dada por:

Sendo Y a variável reduzida dada por

Onde Xf (moda dos valores extremos) é estimada por


e média e desvio padrão da variável X;

média e desvio padrão da variável reduzida Y, tabelados em função do


número de dados; 11

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11
n

20 0,52 1,06
DISTRIBUIÇÃO
30 0,54 1,11 DE GUMBEL
40 0,54 1,14

50 0,55 1,16

60 0,55 1,17

70 0,55 1,19

80 0,56 1,19

90 0,56 1,20 Valores esperados


100 0,56 1,21
da média e desvio
padrão da variável
150 0,56 1,23
reduzida em
200 0,57 1,24 função do número
 0,57 1,28 de dados (Linsley)

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DISTRIBUIÇÃO
DE GUMBEL
Média da variável reduzida

Desvio padrão da variável reduzida

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TEMPOS DE RETORNO PARA
PROJETOS DE ENGENHARIA

Microdrenagem urbana: 2 a 5 anos

Macrodrenagem urbana: 5 a 25 anos

Pontes e bueiros com pouco trânsito: 10 a 100 anos

Pontes e bueiros com muito trânsito: 100 a 1000 anos

Grandes obras hidráulicas: 10000 anos

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DESENVOLVIMENTO DE CURVAS
I-D-F
As três grandezas que caracterizam as precipitações máximas (intensidade, duração e
frequência) são fundamentais para projetos de obras hidráulicas, tais como vertedores
de barragens, sistemas de drenagem, galerias pluviais, dimensionamento de bueiros, entre
outros, tendo em vista a correlação existente entre chuva e vazão.
A relação entre intensidade, duração e frequência varia de local para local e só pode
ser determinada empiricamente através da análise estatística de uma longa série de
observações pluviográficas locais, não havendo possibilidade de estender os resultados
obtidos em uma região para regiões diversas. Os resultados dessas análises estatísticas
podem ser apresentados graficamente, através de uma família de curvas (uma para
cada período de retorno) que ligam as intensidades médias máximas às durações.
A intensidade pode ser substituída pela precipitação total, denominando-se as curvas
como p-d-f.
Correlacionando intensidade e duração verifica-se que quanto mais intensa for a
precipitação, menor será sua duração. A relação das maiores intensidades para cada
duração pode ser obtida de uma série de registros pluviográficos de chuvas intensas
do local em estudo,
estudo ou estimada com base nos dados dos postos vizinhos.

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DESENVOLVIMENTO DE CURVAS
I-D-F
Na análise estatística das séries de precipitações podem ser seguidos dois enfoques
alternativos: séries anuais ou séries parciais. A escolha depende do tamanho da série e
do objetivo do estudo.
Segundo WILKEN (1978), citado por TUCCI (1993) o método de séries parciais é
utilizado quando o número de dados é pequeno (< 12 anos) e os tempos de retorno que
serão utilizados inferiores a 5 anos.
Para séries anuais, devem ser selecionadas as maiores precipitações de uma duração
escolhida (por exemplo, 15 min) em cada ano da série de dados. A escolha destas
durações depende da discretização dos dados e da representatividade que se deseja
alcançar.
Com base nesta série de tamanho N (número de anos) é ajustada uma distribuição de
frequências que melhor represente a distribuição dos valores extremos observados
(Gumbel, Log-Normal, Log-Pearson III, são as mais comumente utilizadas).
O procedimento é repetido para diferentes durações de chuva e os resultados são
resumidos na forma de um gráfico, ou equação, relacionando as variáveis
Intensidade, Duração e Frequência (ou tempo de retorno).
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CURVAS
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I-D-F

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DESENVOLVIMENTO DE
CURVAS I-D-F
Com a finalidade de facilitar os cálculos, procura-se ajustar as curvas a
equações matemáticas genéricas, embora haja possibilidade de encontrar erros,
da seguinte forma (pode-se utilizar regressão múltipla):

b
a  Tr
i
(t  c) d

onde i = intensidade, geralmente expressa em mm/h;


Tr = tempo de retorno, em anos;
t = duração da chuva, em minutos;
a, b, c e d são parâmetros determinados para cada local.
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DESENVOLVIMENTO DE
CURVAS I-D-F
0 ,112
27,96T A equação à esquerda foi proposta pelo engenheiro
i Paulo Sampaio Wilken, para a cidade de São Paulo,

t  15 0 ,86T 0 , 0144 com base numa série de 25 anos (1935-1960), para
durações iguais ou inferiores a 60 min.

0 ,15
A equação ao lado foi proposta pelos engenheiros
42,23T
Antonio Garcia Occhipinti e Paulo Marques dos
Santos, para a cidade de São Paulo, com base i 0 ,822
numa série de 37 anos (1928-1967), para durações
superiores a 60 min.
t

Na literatura existem várias equações determinadas para diferentes cidades


do país.

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DESENVOLVIMENTO DE
CURVAS I-D-F
0 ,15
1239T A equação à esquerda foi proposta por Pedro Viriato
i Parigot de Souza, para a cidade de Curitiba, com
t  20 0 , 74 base numa série de 31 anos (1921-1951).

0 , 217
99,154T
i
A equação ao lado foi obtida por Ulysses M. A.
de Alcântara e Aguinaldo Rocha Lima, para a
cidade do Rio de Janeiro, com base numa série
de 33 anos (1922-1945; 1949-1955; 1958-1959). (t  26) 1,15

Seria possível determinar uma expressão para a cidade de Campina


Grande?

No livro Chuvas Intensas no Brasil, Otto Pfafstetter elaborou gráficos para


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13:06 diversas cidades do Brasil.


DESENVOLVIMENTO DE
13:06 CURVAS I-D-F
Curvas i-d-f foram estabelecidas por PFAFSTETTER (1957), segundo TUCCI (1993), para 98 postos
localizados em diferentes regiões do Brasil. Fazendo uso da plotagem das curvas p-d-f em escala
Valores de bilogarítmica, o autor ajustou para cada posto a seguinte equação empírica:
Duração

Postos 5 min
15 min 30 min 1h-6d a b c
P  R  [a  t  b  log(1  c  t )]
Aracaju - SE 0,00 0,04 0,08 0,20 0,6 24 20
Belem - PA -0,04 0,00 0,00 0,04 0,4 31 20
B. Horizonte - MG 0,12 0,12 0,12 0,04 0,6 26 20 onde P = precipitação máxima em mm, t = duração da
C. do Sul - RS 0,00 0,08 0,08 0,08 0,5 23 20 precipitação em horas, a, b e c constantes para cada posto e R =
Cuiabá - MT 0,08 0,08 0,08 0,04 0,1 30 20 fator de probabilidade, definido como:
Curitiba - PR 0,16 0,16 0,16 0,08 0,2 25 20
Florianópolis - SC -0,04 0,12 0,20 0,20 0,3 33 10
Fortaleza - CE 0,04 0,04 0,08 0,08 0,2 36 20

(   / Tr  )
Goiania - GO 0,08 0,08 0,08 0,12 0,2 30 20

R  Tr
Rio de Janeiro - RJ -0,04 0,12 0,12 0,20 0 35 10
João Pessoa - PB 0,00 0,00 0,04 0,08 0,6 33 10
Maceió - AL 0,00 0,04 0,08 0,2 0,5 29 10
Manaus - AM 0,04 0,00 0,00 0,04 0,1 33 20
Natal - RN -0,08 0,00 0,08 0,12 0,7 23 20
Niterói - RJ 0,08 0,12 0,12 0,12 0,2 27 20
Porto Alegre - RS 0,00 0,08 0,08 0,08 0,4 22 20
Porto Velho - RO 0,00 0,00 0,00 0,04 0,3 35 20 sendo Tr = tempo de retorno em anos, α e β valores que dependem
Rio Branco - AC -0,08 0,00 0,04 0,08 0,3 31 20 da duração da precipitação e γ adotada igual a 0,25 para todos os
Salvador - BA -0,04 0,08 0,08 0,12 0,6 33 10 postos. O fator [a  t  b  log(1  c  t )] fornece a precipitação em mm
São Luiz - MA -0,08 0,00 0,00 0,08 0,4 42 10 para um tempo de recorrência de 1 ano; o fator R permite
São Carlos - SP -0,04
Os valores de β (função 0,08 0,08
da duração) e 0,12
de a,0,4
b e29
c 20 calcular a estimativa para outros tempos de retorno.
Uruguaiana - RS -0,04 0,08 0,08 0,12 0,2 38 10
para alguns dos 98 postos analisados são mostrados 21
na Tabela acima.
DESENVOLVIMENTO DE
CURVAS I-D-F

Na Tabela são apresentados os valores de α para as durações entre 5 min


e 6 dias.

Duração  Duração  Duração 


5 min 0,108 15 min 0,122 30 min 0,138
1h 0,156 2h 0,166 4h 0,174
8h 0,176 14h 0,174 24h 0,170
48h 0,166 3d 0,160 4d 0,156
6d 0,152

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LOCAIS SEM DADOS
PLUVIOGRÁFICOS
Frequentemente é necessário determinar curvas i-d-f (p-d-f) para locais onde não existem
postos em sua proximidade. Para tanto, podem ser aplicadas metodologias como as descritas a
seguir.

Método de Bell – Permite estimar a relação entre precipitação, duração e frequência para um
local onde existam somente dados de pluviômetro. Com base em dados de vários continentes,
Bell ajustou a seguinte equação, válida para 5 ≤ t≤ 120 minutos e 2 ≤Tr≤ 100 anos:

PTt  (0,35  ln(Tr )  0,76)  (0,54  t 0, 25  0,5)  P260


Partindo da chuva de 2 anos e 60 minutos se pode chegar às outras. Na existência de um posto com
série curta, a análise por séries parciais permite a estimativa dessa precipitação. Para o cálculo de P 260
utiliza-se a seguinte equação, segundo BELL (1969), apud TUCCI (1993):

3
P 2
60
 6,69  10  M  n 0 , 33

Para 0 ≤M≤ 50,8mm e 1 ≤n≤ 80, sendo M a média das precipitações máximas anuais com duração
diária, em mm e n o número médio de dias de tormentas
Para 50,8 ≤M≤ 114,3mm e 1 ≤n≤ 80, a expressão é:

P260  8,27  10 3  M 0, 67  n 0,33


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