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TEMA
Infografias de imprensa,
digitais e televisivas
Comunicar
seduzindo o olhar
Género jornalístico complementar ou autónomo,
o infografismo tem vindo a conquistar espaço e
estatuto. As infografias explicam o que um texto
não descreve, o que uma foto não mostra. E
fazem-no sem se sobrepor a nenhum dos dois,
podendo até incorporá-los no cumprimento da
sua missão primordial: informar de forma
rápida, eficaz e esteticamente apelativa.
Um dos aspectos a esclarecer quando falamos de apresentado de outra forma”. “Podemos usar um mapa,
infografismo (ou infografia) foi sublinhado à JJ por mas a intenção continua a ser dar resposta às perguntas
Jaime Figueiredo, do Expresso, em resposta a uma das pri- essenciais, sendo que o ideal é termos uma infografia que
meiras perguntas: Os infografistas fazem um trabalho jor- responde a umas questões, enquanto o texto responde a
nalístico? “Claro que fazem. Podem gastar duas semanas a outras. Há casos em que o texto é um apoio à infografia,
pesquisar antes de iniciarem um trabalho de grandes mas não faz sentido que tente explicá-la – ela deve falar
dimensões e, por vezes, vão em reportagem com o jorna- por si, ainda que de forma mais visual”, esclareceu.
lista e o fotógrafo”. Com um departamento composto por três pessoas da
“A diferença é que nós fazemos fotos específicas, que área do design e duas da fotografia, o Expresso cria cerca
não são artísticas e se destinam fundamentalmente a auxi- de 500 infografias por ano: 75% de pequena dimensão
liar o nosso trabalho. Para criar uma infografia sobre 16 (gráficos a uma ou duas colunas, de barras ou tipo queijo),
barcos típicos portugueses, fui ao Museu da Marinha e 17% de dimensão média e 8% de página inteira ou duas
fotografei todos da mesma perspectiva”, contou o director páginas (um plano), o que dá sensivelmente uma grande
do departamento de infografismo do Expresso, assinalan- infografia por edição.
do que “a infografia pretende mostrar o que não pode ser “A opção de termos uma infografia a ocupar um plano
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por semana começou no Verão de 2006, após a remodela- conflito, nomeadamente mapas e diagramas com a locali-
ção do jornal”contou Jaime Figueiredo, recordando um zação dos bombardeamentos e descrições dos tanques e
episódio com o espanhol Javier Errea, “que impulsionou a dos aviões.
remodelação do Expresso”.
“Tive a infografia ‘Nem um só minuto de paz’ na gave-
ta durante quase dois anos. Quando o Javier a viu, disse INFOGRAFIA IMPRESSA
que tínhamos de a publicar. Trabalhei na sua actualização NÃO FICA ATRÁS DE ESPANHA OU EUA
e acabou por sair a 07 de Outubro de 2006”, vindo a con-
quistar uma medalha de ouro nos Prémios Malofiej, os O departamento de infografismo do Expresso
galardões internacionais atribuídos pela secção espanhola dedica-se em exclusivo ao suporte impresso, mas
da Society for News Design e que devem o seu nome ao Jaime Figueiredo considera que a ausência de infografias
infografista Alejandro Malofiej, falecido em 1987. digitais constitui uma “grande carência” do semanário.
Os galardões começaram a ser atribuídos em 1993, dois “Aliás, no meio digital temos, na generalidade, um atraso
anos após o final da primeira Guerra do Golfo, facto a que de 10 anos face aos nossos vizinhos espanhóis; nós esta-
não será alheio o boom de infografias registado durante o mos a começar e eles já estão na maturidade”, afirmou à JJ.
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Na infografia impressa, a situação é diferente. já que uma infografia nem sequer tem de funcionar como
“Portugal não está atrás do El Mundo, do El País, do The suporte, pois há casos em que pode perfeitamente viver
Guardian ou do The New York Times”, assegurou, acres- sozinha”.
centando que a infografia já não é apenas “uma secção O problema da falta de reconhecimento terá a sua
que presta serviços ao resto do jornal”. génese na fase formativa. Designer gráfica, Susana Lopes
“Não estamos a um canto. Levou alguns anos, mas hoje lamenta que a infografia seja esquecida não apenas nos
participamos nas reuniões de editores e damos sugestões cursos de Jornalismo e Comunicação mas nos de cariz
e ideias”, congratulou-se. artístico: “No meu curso, a infografia não teve direito a
Uma sensação partilhada por Susana Lopes, coordena- uma cadeira, foi leccionada na disciplina de Design Visual
dora de infografia do grupo Económica (que possui o e creio que continua a ser assim”.
Diário Económico e o Semanário Económico), onde traba- Também a nível laboral, o infografista ainda não é visto
lha desde 2001. como exercendo uma profissão independente. “Acredito
“Estamos inseridos na redacção e há um diálogo per- que subsista a ideia de que, para conceber uma infografia,
manente com os jornalistas”, afirmou a responsável do basta haver na redacção um jornalista com mais jeito para
departamento, composto por três pessoas da área do o desenho”, declarou Susana Lopes.
design. Apresentando a infografia como “um exemplo de jor-
Para Susana Lopes, “a infografia pode vir a ter um esta- nalismo visual”, a coordenadora esclareceu que, “depen-
tuto próprio a 100%, mas – talvez por se tratar de algo dendo do estilo do jornal, ela pode ser mais ou menos
recente em Portugal – ainda é vista muitas vezes como artística”.
‘um boneco para encher o espaço’, o que não faz sentido, “Existem infografias expositivas, que são muito próxi-
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mas da ilustração, e explicativas, que mostram como se podendo ser apreciadas nos espaços online do diário
chega a determinado objectivo. No caso do jornalismo Público, da RTP, do semanário Sol, da Rádio Renascença
económico, há essencialmente a necessidade de expor ou da revista Deco Proteste, que aposta num diálogo entre
dados, sendo a realização das infografias sobretudo digi- os dois suportes, papel e digital.
tal. Só muito esporadicamente há um trabalho manual Com uma revista mensal e duas bimestrais – a Proteste,
envolvido”, acrescentou. a Teste Saúde e a Dinheiro & Direitos, respectivamente – a
Também Jaime Figueiredo considera que a concepção Deco Proteste começou a incluir infografias nas suas
das infografias deve actualmente muito às ferramentas publicações em 1995, passando a investir nesta área “de
informáticas. “Estudei na Escola de Artes Decorativas forma mais sistemática e articulada com outros canais a
António Arroio, mas não tenho jeito para o desenho de partir do redesign da revista Dinheiro & Direitos, em
mão livre. De qualquer modo, desde que se tenha conhe- 2005”, contou o designer Nuno Semedo à JJ.
cimentos de perspectiva e de luz/sombra, o rato faz o As infografias animadas – que tiveram início em 2001,
resto” – afirmou. com um trabalho sobre a doença de Parkinson – consti-
tuem, na sua maioria, “um desenvolvimento das que são
publicadas nas revistas”, com a diferença que, “no supor-
DOIS SUPORTES EM DIÁLOGO te impresso, uma história é contada de uma única vez,
enquanto no online o leitor pode optar por informação
O estádio pode ser embrionário se comparado ao parcial; por exemplo, numa infografia sobre os acidentes
que se faz no exterior, mas as infografias animadas domésticos, é possível escolher à vez as divisões da casa”,
têm vindo a conquistar terreno nos sites portugueses, explicou.
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Infografia sobre as viagens intercontinentais de avião, Infografia sobre os gasodutos da Europa, publicada no
publicada no Semanário Económico e vencedora de Diário Económico e vencedora de uma medalha de
uma medalha de prata nos Malofiej 2008 bronze nos Malofiej 2007
Da esq. para a dir.: Manuel Tavares, Susana Cruz e Nuno Semedo da Proteste
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“No suporte impresso, uma história é “Para começar, o infografista deve sair à rua em busca
da informação, fazer a pesquisa, tirar as fotos, em suma,
contada de uma única vez, enquanto
mergulhar no assunto. Depois – e dado a infografia ser
no online o leitor pode optar por um exemplo de jornalismo visual – ela deve cumprir
informação parcial.” Nuno Semedo, requisitos como isenção, rigor, identificação das fontes e
designer da Deco Proteste inclusão da data de publicação, que é obrigatória no onli-
ne, onde não existe a data do jornal impresso para servir
de referência. Claro que, se uma infografia é actualizada,
sentido se ajudar à compreensão daquilo que elas preten- a data da alteração passa a constar da ficha de dados que
dem transmitir”. acompanha a imagem”, esclareceu.
A possibilidade de actualização constante é outra mais- Descrevendo o infografismo como uma forma de comu-
-valia assinalada pelo webdesigner, que se estreou com nicar “que ainda pode ser muito rentabilizada” e como
um trabalho sobre o acidente de Entre-os-Rios e actual- uma área de “aprendizagem contínua”, Mário Cameira,
mente assina duas infografias por mês no site do Público, que já frequentou workshops de formação em Espanha, afir-
“por onde passam estagiários que nem sabem que existe mou ainda ter no El Mundo a sua grande referência.
infografismo”. “O El Mundo tinha, há uns meses, cinco pessoas encar-
“Defendo que uma infografia digital pode e deve ser regues das infografias digitais e 15 a criar infografias para
actualizada, sendo até mais compensador fazer um traba- o papel, o que ajuda a torná-lo – a par do El País – um
lho cujo tema permita actualizações ao longo do tempo”, marco mundial nesta área. E embora quem esteja agora a
declarou, sustentando que a controvérsia sobre alterações dar cartas seja o The New York Times, a verdade é que os
ao material noticioso publicado na Net se resolve seguin- americanos vão buscar os melhores a Espanha, país com
do critérios jornalísticos. uma forte tradição no desenho”, concluiu. JJ
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«A infografia
enriquece
grandemente
um jornal»
A presença de infografias na imprensa
nacional tem vindo a aumentar ao longo
dos últimos anos, mas sem equivalente na
imprensa regional, onde redacções mais peque-
nas e orçamentos mais reduzidos não facilitam o
investimento além do binómio texto/foto. Mas há
excepções a confirmar a regra.
Enquanto dirigiu o Diário do Alentejo,
António José Brito apenas recorreu à infografia
“uma ou duas vezes” mas quando fundou o
semanário Correio Alentejo, em Março de 2006,
fez questão de apresentar a infografia como “uma
mais-valia ao nível da imprensa regional”.
“A infografia enriquece grandemente um jornal e
constitui um valor acrescentado para os leitores”,
afirmou António Brito à JJ, recordando que, “no
primeiro ano de existência, o Correio Alentejo pu-
blicou uma todas as semanas”.
“E se tivéssemos condições para incluir se-
manalmente mais do que uma, tê-lo-íamos feito”,
assegurou, indicando como vantagens das info-
grafias, “o facto de tornarem a informação mais
directa, pondo o leitor ao corrente dos elementos
essenciais da notícia, além de concederem beleza
ao jornal”.
Um aspecto não negligenciado pela publi-
cação regional – que abrange o distrito de Beja e
o Litoral Alentejano (Sines, Grândola e Santiago
do Cacém) – “onde houve sempre o cuidado de
colocar as infografias nos planos de cor, já que
perdiam virtudes e impacto se fossem impressas
a preto e branco”.
Apesar do interesse manifesto, há alguns Infografia da Ovibeja 2006 no
meses que a inserção de infografias no jornal se Correio Alentejo (autoria: I+G)
tornou mais esporádica, “porque não se trata de
um serviço barato”.
O semanário, que solicitava as infografias à
I+G, “foi atingido pela crise generalizada que
afecta a imprensa e obrigado a emagrecer os cus-
tos”, revelou António Brito à JJ, assegurando que,
se a situação melhorar no futuro, “haverá uma
aposta mais regular neste recurso, cuja importân-
cia é tremenda”. JJ
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Empresas de infografismo
Anyforms e I+G
Descrever factos com brevidade e rigor
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E quando se justifica uma infografia? “Ainda nos de infografias de 24 monumentos nacionais desenvolvida
pedem uma quando não há mais nada para ilustrar o texto para o Expresso, e outra em 2007, por um conjunto de
ou quando a foto não é suficientemente explicativa, mas infografias de 12 estádios publicadas no DN.
Corrie Parsonson, antigo director do gabinete de infogra-
fia da Reuters, dizia que se podia produzir uma infografia
sempre que a explicação de um acontecimento exigisse INFOGRAFIA NÃO SUBSTITUI TEXTO OU FOTOS
mais do que um parágrafo”, recordou.
“É uma definição um pouco excessiva, mas considero Sérgio Braga já tinha passado pelo JN, pelo Público
que uma infografia é bem-vinda sempre que algo é muito e por O Jogo, onde foi editor e assinou o projecto
difícil de explicar por outro meio”, esclareceu, indicando gráfico do jornal, quando fundou a I+G, que tem neste
que o trabalho da Anyforms neste sector recorre à fotogra- momento quatro trabalhadores fixos – dois jornalistas e
fia, à ilustração manual e à ilustração 3D. dois designers – e a colaboração de uma rede de freelancers.
Além de distinções indirectas devido a trabalhos reali- Um dos designers é o próprio director, Sérgio Braga, que
zados para enciclopédias do diário espanhol El Mundo, a revelou à JJ a carteira de clientes da empresa. “Fazemos
Anyforms tem no currículo duas medalhas de bronze nos infografias para os espanhóis El Mundo e Marca, para o
Prémios Malofiej. Uma foi ganha em 2006 por uma série DN, Visão, Público, para o gratuito Sexta e para o semaná-
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rio Correio Alentejo, que deve ser dos poucos jornais regio- texto ou uma foto não conseguem transmitir, mas não se
nais, ou mesmo o único, a apostar no infografismo”. substitui a nenhum dos dois; nalguns casos, até os incor-
O maior leque de trabalhos é na área do desporto, “mas pora” – destacou.
as infografias para as enciclopédias do El Mundo abrangem No que respeita a preços, Sérgio Braga indicou à JJ que
várias áreas, da sociedade à política, passando pela ciência”. uma infografia “pode custar entre 30 e 700 euros, varian-
O director da I+G acredita que “os jornais de referên- do com o tempo investido na sua execução, o tamanho, o
cia vêem hoje a infografia com maior seriedade”, enquan- grau de pormenor exigido, a complexidade, o órgão a que
to no passado “se pedia uma infografia só quando era pre- se destina e o mercado (nacional ou estrangeiro)”.
ciso tapar um buraco na página”. A propósito de mercados, afirmou que “Espanha leva
“Os jornais descobriram que a infografia é muito atrac- uma década de avanço face a Portugal, pois os diários El
tiva para o leitor, na medida em que torna mais fácil a País e El Mundo estão ao nível dos Estados Unidos, prin-
exposição de determinadas informações”, assinalou, escla- cipalmente na infografia digital”, onde começou a verifi-
recendo que “uma boa infografia deve evitar a ambiguida- car-se um maior investimento “após os atentados de 11 de
de, encaminhando os vários leitores para uma leitura Setembro de 2001”. Por cá, “os jornais ainda não investem
única dos acontecimentos”. na Internet, onde é preciso haver uma regularidade de
“A infografia pode também mostrar aquilo que um publicação para cativar o público”. JJ
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A animação dos mapas da meteorologia, os roda- de um projecto bastante complexo pela necessidade de ter
pés nos telejornais ou as estatísticas presentes na dados actualizados inúmeras vezes”, sublinhou Tomás
transmissão de um jogo de futebol também são um exem- Meneses à JJ.
plo de infografismo… mas televisivo.
“Quanto maior a frequência com que é necessário apre-
sentar informação mais se justifica recorrer a infografias”, AL-JAZEERA ENTRE CLIENTES DO MÉDIO ORIENTE
sustenta Tomás Meneses, director de marketing e comuni-
cação da wTVision, empresa fundada em 2001 com o Entre os clientes da wTVision – que tem crescido
objectivo de se dedicar ao infografismo para televisão e “cerca de 20% ao ano, sendo já um dos maiores
actualmente composta por programadores, gestores e especialistas na sua área no mercado europeu”, segundo o
designers gráficos especializados no ramo audiovisual. responsável – contam-se as portuguesas RTP, SIC, TVI e
A experiência da empresa mostra que as infografias são Sport TV. “No segmento Corporate TV, desenvolvemos os
fundamentais em áreas como o desporto, onde a recolha canais internos de televisão para o Hospital de Aveiro e
estatística, sua integração e transmissão é normalmente Hospital da Trofa”, acrescentou Tomás Meneses.
feita em tempo real, nos noticiários, onde são comuns os “Apesar de a sede ser em Lisboa, possuímos delegações
tickers (informações inseridas nos rodapés em movimento no Porto, Madrid, Barcelona e Bruxelas e, ainda que o
na parte inferior do ecrã), ou noutros programas de infor- mercado prioritário seja Espanha, temos uma forte pre-
mação que requerem oráculos de identificação ou bola- sença no Médio Oriente”, contou o responsável, mencio-
chas informativas (ex: trânsito). nando o trabalho desenvolvido para “La Sexta, a TV
Existem também acontecimentos que já não dispensam Astúrias, a TV Murcia, a TV Galicia ou empresas do grupo
este recurso, caso das noites eleitorais, em que um canal Media Pro, em Espanha, e para a Belgacom, que detém os
“tem de recorrer ao infografismo para apresentar os resul- direitos de transmissão da Liga Belga de Futebol”.
tados à medida que são apurados vencedores, tratando-se “No Médio Oriente, destacamos a Liga de Futebol do
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internacional
Dubai e a nossa relação com a Al-Jazeera Sport, Dubai longe, adicionando à informação básica “um ticker em
Sports Channel, Emirates Media Incorporated e a Al Kass rodapé, a apresentação lateral da meteorologia ou outro
& Al Dawri Sports Channel”, acrescentou Tomás Meneses, tipo de dados relacionados ou não com a transmissão”.
referindo ainda clientes em países como a Ucrânia ou Entendendo que o domínio da arte é “um requisito crí-
Cabo Verde, “ou a TV Globo, no Brasil”. tico” para o sucesso do infografismo televisivo, o respon-
Para as várias cadeias televisivas e produtoras, a sável sublinhou, todavia, que os conhecimentos técnicos
empresa portuguesa assegura, anualmente, mais de 1.500 (dominar as plataformas gráficas e saber como reagem em
transmissões desportivas em directo, abrangendo para diferentes circunstâncias) e na área da televisão (suas
cima de 40 modalidades. especificidades e limitações) são “das competências mais
importantes para o desenvolvimento de uma boa infogra-
fia”.
ESPECIFICIDADES DAS INFOGRAFIAS PARA TV Realçando a importância crescente do aspecto visual,
Tomás Meneses afirmou à JJ que, quando a TV Galicia
Se no papel e na Net uma infografia pode ser com- atingiu um pico de audiência de 40% durante a transmis-
plementada pelo texto e fotografia, a situação são dos resultados das Eleições Autonómicas de Espanha
muda no registo audiovisual. Segundo Tomás Meneses, em 2007, “o factor de diferenciação face aos restantes
“em televisão, o apresentador ou locutor complementa a canais foi a quantidade e qualidade do infografismo apre-
informação infográfica com o que diz”. sentado, em parceria com a wTVision”.
O director de marketing e comunicação da wTVision Apesar da vasta carteira de clientes já angariados, a
considera que o infografismo pode “dar o lead” no caso de empresa continua atenta às possibilidades de expansão,
umas eleições ou durante o intervalo de um jogo de fute- tendo as produtoras de televisão entre os seus alvos. “É
bol em que é apresentada a estatística relativa à primeira um segmento em que acreditamos poder crescer, nomea-
parte do encontro, mas acredita que ele pode ir mais damente em Portugal”, concluiu. JJ
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«Em Portugal
ainda a procissão
vai no adro»
Susana Almeida Ribeiro, jornalista do Publico.pt, escolheu
a infografia como tema de tese no mestrado de Comunicação
e Jornalismo da Universidade de Coimbra, vindo
posteriormente a publicar a dissertação em livro.
“Infografia de Imprensa – História e Análise Ibérica
Comparada”, editado pela MinervaCoimbra em Março,
é o primeiro ensaio de um autor português sobre o assunto
e chegou às livrarias 16 anos depois de “Jornalismo
Iconográfico”, do investigador argentino Gonzalo Peltzer,
ter sido lançado em Portugal pela Planeta Editora.
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boas noções jornalísticas, ainda que as suas capacida- uma espécie de fita métrica que o mede aos palmos.
des artísticas não sejam as melhores. Para que não se JJ – Já é possível fazer um retrato de família dos infografis-
caia em posições exclusivistas, defendo a existência de tas portugueses?
uma dupla dinâmica nas redacções: um jornalista e um SAR – Pelo que me foi possível apurar – num ras-
designer que trabalhem em estreita parceria. treio aos profissionais afectos aos principais grupos
JJ – Que área do jornalismo recorre mais à infografia? económicos portugueses – em Abril de 2007 trabalha-
SAR – A infografia não é um exclusivo de nenhuma vam no universo da infografia 65 profissionais. A gran-
secção em particular, mas pode dizer-se que é muito de maioria em redacções de jornais e revistas, 10 em
comum nos temas científicos, que requerem, normal- pools e os restantes 10 numa agência especializada
mente, explicações adicionais. Uma fecundação in vitro, (Anyforms ou I+G). A maioria não possui carteira de
um fenómeno atmosférico, um procedimento cirúrgi- jornalista, o que poderá potenciar situações em que o
co, um maremoto ou um sismo pedem normalmente profissional acumula trabalhos para as editorias jorna-
informações que são mais fáceis de entender se forem lísticas e para a publicidade, o que, a meu ver, não é eti-
transmitidas visualmente. No desporto, o uso dos grá- camente saudável. Notei também que a comunidade
ficos explicativos também é comum, sobretudo quando de infografistas está muito dispersa e tem pouco auto-
se representam as equipas em campo, quando se quer conhecimento do seu estatuto. Há muita vontade, mas
comparar dois atletas ou é preciso apresentar as tabelas falta uma maior organização entre os profissionais do
classificativas de um campeonato. sector. Admito, porém, desconhecer se nos últimos
JJ – Nos jornais portugueses, a infografia dispõe de um esta- meses foi feito algum esforço nesse sentido.
tuto próprio ou é vista como “um boneco para ilustrar a notí- JJ – E ao nível da infografia digital, podemos comparar
cia”? E em Espanha? Portugal e Espanha?
SAR – A infografia está a ganhar cada vez mais SAR – Não é possível comparar o incomparável.
terreno nas revistas e jornais. Lembro-me de um caso Adoptando a metáfora religiosa, em Portugal “ainda a
recente em que a revista Visão fazia uma espécie de procissão vai no adro”. Acompanhei a produção de
prognóstico de como será a vida em 2023 num artigo infografias nas redacções online dos espanhóis El
todo ilustrado com infografias, por acaso muito boas, Mundo e El País e dos portugueses Diário de Notícias e
feitas pela Anyforms. Inclusivamente, a capa da edição Público e não há comparação possível. Em Espanha, as
era uma das infografias que constava do especial infor- redacções do elmundo.es e do elpais.com elaboram
mativo. Em resumo, acho que em Portugal só se pode várias infografias por semana. No caso português, o
caminhar para uma situação em que a infografia terá publico.pt admitia a elaboração de uma infografia ani-
estatuto próprio. Os editores de imagem, e os próprios mada por mês e no Diário de Notícias a situação nem
directores dos jornais, estão cientes de que as infogra- se coloca, pois o DN não tem uma redacção online autó-
fias não são já meros “bonecos” para ocupar páginas. noma.
Até porque as infografias têm altas taxas de leitura JJ – A infografia é uma disciplina rara nos programas de
entre o público. Jornalismo e Comunicação, surgindo apenas em três cursos
Em Espanha, as infografias já têm estatuto próprio superiores, todos em Coimbra. Que leitura faz desta ausên-
há muitos anos, fenómeno ao qual não é alheia a cir- cia? Reflecte falta de reconhecimento ou uma lógica “tarim-
cunstância de os nossos “vizinhos de Península” aco- beira” (a ideia de que a infografia se aprende fazendo, sem
lherem os Prémios Malofiej. que os seus autores necessitem de formação específica)?
JJ – Surpreendeu-a descobrir que a Gazeta de Lisboa SAR – É difícil assimilar esta falta de representação
Ocidental tinha publicado, a 21 de Janeiro de 1723, a segun- de cadeiras de infografia nos cursos de Jornalismo e
da mais antiga infografia de imprensa? Comunicação Social. Talvez reflicta algum desconheci-
SAR – Sim, muito. Na história internacional da mento por parte dos responsáveis que fazem os planos
infografia que foi compilada até agora, a primeira data curriculares. O resto da culpa poderá ser atribuída a
em que se detectou uma infografia – um mapa da Baía essa “formatação” automática por imersão que se espe-
de Cádiz – foi em 1702, no Daily Courant. Por isso não ra que os designers recebam quando vão trabalhar para
estava à espera que em Portugal se encontrasse uma uma redacção. Presume-se que, integrado numa equi-
infografia escassos 21 anos depois. E, mais do que ser pa de jornalistas, um designer gráfico começa a assimi-
a segunda mais antiga, a infografia que encontrei é, lar por osmose os critérios jornalísticos. Mas nem sem-
até prova em contrário, a primeira que não represen- pre é assim. É preciso um esforço por parte do designer
ta um mapa. O gráfico mostra uma baleia que tinha para entender alguns valores-notícia e, às vezes, seria
ficado encalhada em Cacilhas e que foi representada fundamental passar por workshops intensivos de jorna-
por meio de um desenho do animal acompanhado de lismo escrito. JJ
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