Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capítulo 25
Trauma renal – classificação
Aday Coutinho
Aday Silva Coutinho
89
Tabela 1: Escala de gravidade da associação americana para a cirurgia do trauma (lesões de rim)
Leitura recomendada
1. Bendhack DA, Damião R. Guia prático de urologia. Rio de Janeiro: 2. MacDougal, WS. Traumatic injuries of the genitourinary
SBU – Sociedade Brasileira de Urologia; São Paulo: BG Cultural, 1999. system. Baltimore: Williams & Wilkins, 1981.
90
Capítulo 26
Trauma renal – conduta
Marcelo Vieira
O rim é o terceiro órgão parenquimatoso intra- das porções do rim lesado, a classificação da lesão e
abdominal mais freqüentemente lesado no trauma o diagnóstico do envolvimento de outros órgãos
abdominal fechado. A grande maioria das lesões intraperitoneais (Bretan Jr e colegas., 1986; Mee e
renais (90%) é causada pelo trauma fechado e aproxi- colegas., 1989; Nash e Carrol, 1996).
madamente 10% por ferimentos penetrantes
(Coimbra et al., 1998; Nash e Carrol, 1996).
Aproximadamente, em 10% dos traumatismos
abdominais, o rim será lesado. A manifestação clínica
desse envolvimento é a hematúria. A presença de
hematúria macroscópica, ou hematúria microscópica
associada à pressão arterial sistólica menor ou igual a
90 mm de Hg, na admissão, torna obrigatória a
investigação diagnóstica da lesão renal no trauma
abdominal fechado. Nos ferimentos penetrantes,
quando da ausência de irritação peritoneal associada
à estabilidade hemodinâmica e hematúria, está indi-
cada a investigação da presença de lesão renal, situa- Extravasamento
ção de exceção encontrada particularmente nos feri- de controle
mentos da parede abdominal posterior (Nash e
Carrol, 1996).
O diagnóstico das lesões é realizado com base
nos exames radiológicos. O exame de triagem destes
pacientes é a urografia excretora (UGE), que ideal-
mente deve ser realizada na sala de emergência du-
rante a fase de reposição volêmica, situação inco-
mum em nosso meio, devido à ausência de raios X
na sala de urgência. Na presença de qualquer alteração
no resultado da UGE, deve-se indicar uma tomo-
grafia axial computadorizada (TAC) do abdome,
para completo diagnóstico e estadiamento do acome-
timento renal. A TAC permite a avaliação correta Urografia excretora no trauma
91
O rim permite duas formas de tratamento. Em a avaliação incompleta e a trombose de artéria renal
decorrência do estado hemodinâmico do trauma- são indicações relativas (McAninch e colegas., 1991).
tizado, do correto diagnóstico e da classificação das O tratamento não-operatório consiste basicamente
lesões, o cirurgião pode optar por tratamento opera- em repouso, manutenção da volemia, correção do
tório ou não-operatório. A maioria das lesões renais hematócrito e monitorização clínica e radiológica
é tratada de forma não-operatória e aproximada- (Valor e colegas., 1991).
mente 10% das vítimas de trauma fechado com O tratamento cirúrgico é realizado através de
envolvimento renal têm indicação de cirurgia. Situa- laparotomia mediana xifopúbica, dissecção e isola-
ção inversa acontece nos ferimentos penetrantes em mento do pedículo renal com controle da artéria e
que a maioria dos pacientes é operada, principalmente veia renal previamente à abertura e exploração do
pela presença de lesões associadas na cavidade hematoma do retroperitôneo. O controle dos vasos
Lesão renal grau III Lesão renal grau III – ferimento por arma branca lombar a direita
92
Segmento desvitalizado
93
lesões Grau IV, são a coleção de urina e o abscesso porém resultados desfavoráveis são citados por
no retroperitôneo (Gomez e McAninch, 1996). Cass autores como Wessells e colegas. em 1997, quando a
e Luxenberg indicam tratamento operatório para as cirurgia foi necessária em mais de 70%.
lesões com ruptura do parênquima renal com taxa A hipertensão arterial pode ser explicada pela estenose
de nefrectomia igual a 100%. Kristjánsson e Pedersen, cicatricial de lesões arteriais ou pela compressão do
em 1993, descreveram a conversão do tratamento parênquima renal por hematomas e coleções, resultando
clínico em cirúrgico em 38% dessas lesões com índice em ativação do sistema renina-angiotensina. Sua inci-
de nefrectomia de 8%. Mathews e cols., em 1997, dência é muito variável bem como a fase de mani-
mostraram 100% dos pacientes tratados com festação, sendo que, na maioria dos casos, tem resolução
colocação de duplo J e nenhuma nefrectomia. espontânea ou por meio da drenagem de coleções ou
O sangramento tardio do parênquima acontece mais hematomas (Gomez e McAninch, 1996).
freqüentemente entre a segunda e a terceira semanas
seguidas ao trauma, incide em menos de 1% e é mais
freqüente no tratamento não-operatório de lesões Leitura recomendada
penetrantes, quando sua incidência chega a 10%
1. Cooper CS. Antenatal hydronephrosis: evaluation and outcome.
(Wessells e colegas., 1997). O sangramento pode ser Curr Urol Rep, 01-Apr-2002; 3 (2): 131-8.
tratado com embolização seletiva, que tem índices de 2. Elder JS. Antenatal hydronephrosis. Fetal and neonatal management.
resolução de 82% (Heyns e Van Vollenhoven, 1992), Pediatr Clin North Am, 01-Oct-1997; 44 (5): 1299-321.
94
Capítulo 27
Trauma renal na criança
95
abdominais: dor abdominal, pressão arterial sistólica A ultra-sonografia pode ser utilizada para avaliação
baixa, fratura do fêmur, aspartato aminotransferase > rápida inicial, evidenciando presença renal bilateral e
200 U/L, alanina aminotransferase > 125 U/L, hematomas retroperitoneais.
glóbulos vermelhos > 5 p/c no exame de urina e Nos casos em que não foi possível avaliação por
hematócrito inicial menor que 30%. imagem, devido à urgência da laparotomia explo-
A tomografia computadorizada tem sido o meio radora, e na presença de hematoma retroperito-
mais confiável para determinar o grau de lesão renal. neal, poderá ser feita urografia transoperatória com
O ultra-som de vias urinárias e o exame de urina são administração de contraste iodado apropriado EV
bons para seleção de casos suspeitos de trauma renal (2 mg/kg), efetuando-se radiografia renal após dez
e para seguimento do paciente. minutos ou radioscopia.
A tomografia computadorizada deve ser efetuada
em todos os casos de hematúria e as imagens renais
devem ser feitas dez minutos após a injeção de Tratamento
contraste, para não haver resultados falso-negativos
de lesão renal. Este método é limitado para O tratamento conservador tem se mostrado a
diagnóstico de lesão da veia renal. A presença de primeira escolha em crianças com trauma renal e
hematoma medial deve alertar o médico para esta hemodinamicamente estáveis. Pacientes com lesão
suspeita. Nos casos de lesão por desaceleração, em grau IV podem ser tratados com observação clínica
que a camada íntima da artéria renal pode ser em 60% das vezes e, quando há extravasamento de
parcialmente acometida, a trombose da mesma pode urina persistente, a drenagem percutânea ou por
se instalar tardiamente e levar à perda deste rim. cateter ureteral resolve 25% destes casos.
Tabela 1 - Classificação das Lesões Traumáticas Renais - Associação Americana para Cirurgia do Trauma
(American Association for the Surgery of Trauma - Organ Injury Scale - OIS for the kidney)
96
A transfusão de sangue só deve ser indicada em Acidentes ao andar de bicicleta são a causa espor-
pacientes que estejam hemodinamicamente instáveis. tiva mais freqüentemente associada à lesão renal, não
A observação clínica apropriada dos pacientes reduz raro grave.
o risco de transfusões de sangue desnecessárias e
diminui o período de estadia hospitalar.
Quando a cirurgia se fizer indicada, as formas Leitura recomendada
de correção dependerão da localização das lesões
1. Baeza-Herrera C, Dominguez-Perez ST, Gonzalez-Zarate
encontradas. Poderá estar indicado desde EF et al: Renal trauma in childhood. Second level hospital
pielografia, nefrectomia parcial, até nefrectomia total experience. Gac Med Mex. 2002;138(4):313-8.
ou autotransplante renal. 2. Gerstenbluth RE, Spir nak JP, Elder JS. Spor ts
participation and high-grade renal injuries in children. J
Urol. 2002; 168 (6): 2575-8.
3. Holmes JF, Sokolove PE, Brant WE, Palchak MJ, Vance
Seguimento tardio CW, Owings JT, Kuppermann N. Identification of
children with intra abdominal injuries after blunt trauma.
Os pacientes devem ser acompanhados em longo Ann Emerg Med. 2002; 39 (5): 537-40.
prazo, no período de um ano, para verificação da 4. MacAller IM, Kaplan GW, LoSasso BE, Congenital
urinary tract anomalies in pediatric renal trauma patients.
pressão arterial. Uma rara complicação tardia descrita J Urol. 2002; 168 (4Pt2): 1808-10.
é o pseudoaneurisma (19 casos na literatura). 5. Margenthaler JA, Weber TR, Keller MS. Blunt renal
Tradicionalmente, o médico vem aconselhando trauma in children: experience with conservative
seus pacientes com rim ou testículo únicos a não management at a pediatric trauma center. J trauma. 2002;
52 (5): 928-32.
praticarem esportes de contato corpo a corpo. Até
o presente momento estudos mostraram que esta
recomendação parece não ser necessária.
97
Capítulo 28
Trauma uretral iatrogênico
Nelson Gattás
Paulo Bruna
As lesões ureterais iatrogênicas podem ocorrer em estreitamentos naturais do ureter, como cruzamento
cirurgias convencionais, laparoscópicas ou em urete- dos vasos ilíacos e junção ureterovesical, são os locais
roscopia. mais freqüentemente envolvidos por lesões.
Nas cirurgias convencionais, os procedimentos O uso de ureteroscópios menores e flexíveis associado
pélvicos e retroperitoniais são os principais respon- a uma maior experiência com o método vem
sáveis por lesões ureterais. A histerectomia representa diminuindo a incidência de complicações. A manutenção
54% dos casos das lesões ureterais, enquanto a cirurgia de fio guia durante todo o procedimento facilita a mani-
colorretal está presente em 14%; outros procedi- pulação do aparelho, permite a passagem de cateter,
mentos pélvicos, incluindo os urológicos, em 8%, e quando há necessidade, diminuindo as complicações.
cirurgia vascular em 6%. O reconhecimento precoce da lesão ureteral é
A incidência global de lesão ureteral em cirurgia ponto chave para uma evolução livre de compli-
ginecológica oscila entre 0,5% a 1,5%. A presença de cações. Quando a lesão passa desapercebida no intra-
processos inflamatórios, cirurgias prévias, ou tumor operatório, deve-se atentar aos sinais de febre, peri-
envolvendo o retroperitônio são fatores que aumen- tonite, leucocitose, hematúria e massa palpável. O
tam o risco de uma lesão ureteral. diagnóstico pode ser realizado por urografia excre-
As cirurgias vasculares, como enxertos aorto- tora, que demonstra retardo na eliminação do con-
ilíacos, podem cursar com 12% a 20% de hidro- traste, exclusão renal ou dilatação ureteral nos casos
nefrose no pós-operatório, geralmente com evolução obstrutivos, e extravasamento nos casos de perfu-
benigna, sem necessidade de intervenção. ração. A tomografia helicoidal e pielografia ascen-
Em laparoscopia, os procedimentos na região dente são outras opções diagnósticas.
pélvica apresentam os maiores índices de lesão ureteral. As lesões ureterais devem ser tratadas de acordo
Nas cirurgias para lise de endometriose e histerectomia, com a localização, extensão e o mecanismo da lesão.
o índice de lesão ureteral varia de 1% a 3,5%. A maior O tratamento definitivo visa preservar a função renal
experiência do cirurgião é fator importante para uma no lado acometido e restaurar a continuidade anatô-
menor incidência de complicações. O reconhecimento mica do trato urinário.
intra-operatório de uma lesão ureteral em laparoscopia Nos procedimentos ureteroscópicos, as lesões do
ocorre menos freqüentemente do que em cirurgia ureter geralmente são tratadas endourologicamente,
aberta, devendo-se estar atento para um diagnóstico sem necessidade de cirurgia aberta. A indicação para a
pós-operatório precoce. colocação de cateter ureteral após ureteroscopia baseia-
Em ureteroscopia, as lesões mais freqüentes são: se nos critérios operatórios, como: presença de cálculo
perfuração, ruptura e avulsão ureteral. Os pontos de impactado aderido à mucosa, realização de dilatação
99
intramural, perfuração ureteral ou manipulação Nas lesões proximais, o ureter deve ser reimplantado
prolongada; e critérios pós-operatórios, tais como: na pélvis renal. As lesões da porção média do ureter
facilitar eliminação de fragmentos residuais, garantir a são tratadas por uretero-ureteroanastomose e nos
drenagem ureteral e prevenir cólicas ureterais. casos em que não for possível – anastomose com
Os casos em que não houve grande manipulação ureter ipsilateral, pode-se optar por transuretero-
do ureter, sem dilatação intramural e sem compli- ureteroanastomose, através de sutura término-lateral
cações relativas ao procedimento, não requerem com ureter contralateral. Devemos lembrar que este
cateter pós-operatório. ureter se torna inacessível para estudo ou manipulação
O tempo de permanência dos cateteres ureterais através da bexiga, e existe a possibilidade de
depende do motivo de sua colocação. Quando a transformar uma lesão unilateral em bilateral. Este
indicação for prevenção de cólicas secundária ao edema procedimento deve ser evitado nos portadores de
pós-operatório, a remoção pode ocorrer num período litíase renal ou com antecedente de tumor urotelial. As
lesões ureterais distais são tratadas através de reimplante
de três a cinco dias. Em pacientes com cálculos
ureteral simples ou, em alguns casos, com a fixação
residuais, a retirada do cateter deve aguardar a saída
da bexiga ao músculo psoas associado ou não ao
desses fragmentos. Exames subsidiários como
retalho tubularizado da bexiga, para alcançar o ureter
radiografias simples do abdome, ultra-sonografia e
(técnica de Boari). Nos casos de lesões ureterais mais
CT helicoidal podem orientar a evolução do quadro.
extensas, existe também a possibilidade de interpor
Os cateteres colocados para tratamento de perfuração segmento de alça intestinal ou autotransplante renal.
ureteral devem ser mantidos por duas a quatro semanas
de acordo com a gravidade da lesão. Os casos de
avulsão ureteral devem ser tratados por cirurgia aberta. Leitura recomendada
Nas ligaduras do ureter, com manutenção da
viabilidade do mesmo, após remoção de fio ou clipe 1. Chang R, Marshall FF. Management of ureteroscopic injuries. J.
Urol., 137: 1132, 1987.
laparoscópico, deve-se colocar cateter de duplo J. 2. Daly JW, Higgins KA. Injury to the ureter during gynecological
Nos casos de secção do ureter ou ressecção de surgical procedures. Surg Gynecol Obstet 1988; 167: 19-22.
segmento ureteral por perda da viabilidade, deve-se 3. BrubakerLT, Wilbanks GD. Urinary tract injuries in pelvic surgery.
Surg Clin North Am 1991; 71: 963-76
também realizar cirurgia aberta. Os princípios
4. Meirow D, Moriel EZ, Zilberman M, Farkas A. Evaluation and
técnicos cirúrgicos mais importantes são a espatulação Treatment of iatrogenic injuries during obstetric and
do ureter, utilização de fios absorvíveis 5-0 ou 6-0, gynecological operations for non-malignant conditions. J Am
transformação de laceração longitudinal em sutura Coll Surg 1994; 178: 144-8.
5. Witters S, Cornelissen M, and Vereecden R.Iatrogenic ureteral
transversa, ausência de tensão na sutura e colocação injury: aggressive or conservative treatment. Am. J. Obstet.
de cateter duplo J. Gynecol., 1986, 155: 582-4.
100
Capítulo 29
Lesão vesicuretral no
traumatismo pélvico
Aday Coutinho
Antônio Henrique Duarte
101
Complicações Etiologia
102
formando hematoma. A tentativa cirúrgica para demorado devido à perfusão renal insuficiente
correção poderá agravar a hemorragia. A fratura bila- (choque hipovolêmico), ou que a bexiga pode ter
teral dos ramos pubianos, decorrente de uma força explodido. O hematoma perineal e/ou escrotal
atuando sobre o púbis, produz um segmento fratu- ocorre em pacientes com história de queda à cavaleiro,
rado, deslocado-o para baixo e para trás, fazendo nestes casos, supõe-se lesão uretral, com comprome-
com que o diafragma urogenital atue como uma gui- timento das estruturas perineais.
lhotina, secionando a uretra posterior. Na diástase
da sínfese pubiana, isto é, o deslocamento de um Conduta inicial
dos seus ramos para um lado, a uretra membranosa Na suspeita de lesão uretral, a melhor conduta é
é “puxada” em direção oposta até a ruptura. Outro uretrocistografia, pois o cateterismo uretral, além da
mecanismo de trauma, em fratura da bacia, é a ação possibilidade de levar infecção ao local da lesão, pode
direta de fragmentos ósseos sobre a uretra. Os agravar a extensão do trauma. A urina clara, obtida
acidentes com armas de fogo podem provocar lesão por cateterismo, não afasta diagnóstico de lesão
de uretra em 6,5% dos casos. uretral, pois o cateter pode ultrapassar a área lesada.
Urina com sangue, obtida pelo cateterismo, pode
Clínica ser decorrente de lesão vesical. Mesmo que a urina
Uretrorragia ocorre em 80% dos pacientes com com sangue seja da lesão uretral, não é suficiente para
traumatismo de uretra. A severidade do sangramento avaliarmos a sua localização e a extensão. No paciente
pelo meato não tem nenhuma relação com o grau politraumatizado, os órgãos vitais têm prioridade no
da lesão, podendo indicar uma lesão parcial ou tratamento, para mantê-lo vivo e, nestas circunstâncias,
ruptura total completa. Uma lesão parcial ou total a conduta inicial deverá ser a cistostomia.
da uretra acima do diafragma urogenital pode evoluir
sem uretrorragia, devido a espasmo do esfíncter
estriado, abaixo da ruptura. A dor no baixo ventre
Leitura recomendada
e/ou no períneo ocorre em 72% dos casos. A 1. Bonelli JC. “Traumatismos vesicais”. In: A folha médica, n.
impossibilidade de urinar, em 25% dos pacientes, 59, 1969, pp. 1.
pode indicar: uma ruptura total e completa da uretra 2. Bright T, Petters P. Injuries to bladder and uretra Urology.
Campbell. v I, 3. WB Sanders. Company Philadelphia,
posterior ou espasmo do esfíncter estriado, ou ainda 1978, pp. 906.
que o paciente estava com a bexiga vazia no momento 3. Mc Aninch. Injuries of the Genitourinary tract. General Urology.
do trauma, ou que o enchimento vesical pode ser 10 ed, Donald Smith, California, Lange, 1981, pp. 224.
103
Capítulo 30
Trauma de genitália externa
105
O objetivo básico da reparação genital segue o pondo a ruptura quando submetida a forças que
conceito de preservação das funções do pênis e testí- estiram lateralmente o pênis (fratura de pênis).
culo, que são a de procriação e ereção, evitando com O quadro clínico característico começa com o
isto as seqüelas físicas e psicológicas. Os princípios gerais relato da posição da relação sexual, a sensação de
do tratamento consistem em analgesia, sedação, um estalo “clic”, seguido de dor, detumescência
antibioticoterapia, limpeza e desbridamento da lesão. imediata e desvio do pênis causado por um grande
A integridade da túnica albugínea deve ser restituída hematoma restrito ao pênis.
para manter as funções peniana e testicular. O diagnóstico é clínico, porém, em alguns casos
de história duvidosa e pequenos hematomas,
podemos utilizar a cavernosografia e a ressonância
Lesões Específicas para diferenciar de uma lesão vascular superficial, que
pode ser tratada de forma não-operatória. A veia
Pênis dorsal é a mais freqüentemente lesada.
A lesão uretral é relatada em 23% dos casos,
Contusão somando-se ao quadro clínico a presença de
A contusão peniana depende do tipo de agente uretrorragia ou hematúria. A uretrografia retrograda
causador, da intensidade de energia cinética do tem uma aplicação seletiva, principalmente nos casos
trauma e do estado de tumescência peniana. com indicação de sondagem e que há dúvida
Em estado flácido, a contusão pode produzir diagnóstica.
lesões superficiais com formação de hematomas, O tratamento cirúrgico deve ser indicado, pois
estes devem ser tratados com analgesia e gelo local. abrevia a convalescença e evita as seqüelas como
Porém outras mais graves podem levar à avulsão de angulação do pênis, persistência de dor durante as
parte ou toda a pele do pênis, requerendo para a sua ereções e disfunção erétil.
reconstrução fundamentos de cirurgia plástica como A abordagem cirúrgica deve ser imediata e a via
enxertos e retalhos, muitas vezes realizados de acesso pode ser feita por uma incisão circunferente
tardiamente, mas que necessitam de cuidados prévios no sulco coronal com desluvamento do pênis, ou
para manter uma boa área receptora. longitudinal na rafe mediana o mais próximo do
O principal mecanismo de trauma contuso com hematoma. O hematoma deve ser evacuado, a uretra
o pênis em ereção é durante o intercurso sexual, adjacente isolada e os dois corpos cavernosos
podendo apresentar-se também após masturbações, expostos para identificação das lesões, que serão
práticas bizarras ou devido a credos religiosos. reparadas com sutura contínua com fios absorvíveis.
A túnica albugínea que recobre os corpos cavernosos No pós-operatório, as ereções devem ser inibidas
tem uma espessura de 2 mm, com o enchimento com colocação de bolsas de gelo ou a administração
destes corpos, ela adelgaça-se para 0,25 mm, predis- de dietilbestrol 3 mg/dia.
Foto 1: Fratura de pênis: aspecto do hematoma restrito ao pênis Foto 2: Ruptura da veia dorsal superficial: aspecto de um he-
e o desvio lateral. matoma menor.
106
Penetrante Testículos
As lesões causadas por agentes perfuro-cortantes O trauma testicular fechado pode ter como
apresentam-se com grandes hematomas e sangra- conseqüência o hematoma das fáscias pré-testiculares
mento ativo pelos orifícios. A trajetória do objeto
(contusão), a torção, o deslocamento, a ruptura testicular
ou projétil pode determinar quais são as estruturas
e pode ainda estar associado a lesões do epidídimo,
lesadas e a associação com outros órgãos. O trata-
escroto e uretra. O diagnóstico e conduta terapêutica
mento é cirúrgico, quase na totalidade dos casos, e
devem se basear principalmente na história e achados
consiste na limpeza, desbridamento das áreas e sutura
da túnica albugínea. do exame físico, já que os métodos diagnósticos
A amputação do pênis é a lesão genital cortante complementares (cintilografia e ultra-sonografia) têm
mais grave pela sua complexa resolução e seqüelas. acurácia muito variável. O trauma de alta energia cinética
Felizmente não é uma das lesões mais freqüentes do associado a hematoma, dor e impossibilidade de
trauma genital. O coto peniano deve ser mantido distinguir o testículo do epidídimo à palpação é dado
em solução salina com heparina e antibióticos até o suficiente para indicar o tratamento cirúrgico. A cintilo-
início de sua reconstrução, que deverá ser o mais grafia e a ultra-sonografia podem ser utilizadas na
precoce possível, requerendo micro-anastomoses do suspeita de torção e quando o exame físico for
nervo e vasos dorsais e anastomose da uretra. inconclusivo para auxiliar na decisão terapêutica.
Foto 3: Fratura de pênis: aspecto intra-operatório da lesão transversa Foto 5: Trauma fechado de testículo: aspecto intra-operatório da
posterior do corpo cavernoso. lesão da albugínea e exposição do parênquima testicular.
Foto 4: Fratura de pênis: aspecto final da sutura da túnica albugínea Foto 6: Ferimento por arma de fogo transfixante de coxa esquerda
do corpo cavernoso, por abordagem longitudinal na rafe mediana. e pênis.
107
O tratamento cirúrgico se dá pela exploração escro- (curativo estéril) até a granulação e posterior enxerto
tal, drenagem do hematoma e hematocele, lavagem de pele parcial.
copiosa, desbridamento do tecido e túbulos seminí-
feros necróticos, síntese da albugínea com sutura absor- Ducto deferente e epidídimo
vível, drenopenrose de 24 a 36 horas e antibiotico- O tratamento das lesões de ducto deferente e
terapia de largo espectro por sete dias. Nos casos de epidídimo é semelhante ao da infertilidade masculina
amputação testicular, o reimplante deve ser considerado obstrutiva. Em virtude da indeterminação da viabi-
até oito horas após o trauma. Nos casos de avulsão, lidade dos tecidos, da contaminação e de outras
deve-se questionar o reimplante devido à extensa lesão prioridades no tratamento inicial, o ducto deferente
vascular (endotelial) geralmente associada. pode ser ligado, o epidídimo fechado e a anastomose
O tratamento conservador é feito com analgé- realizada em segundo tempo.
sicos, antiinflamatórios, compressa com gelo e sus-
pensório escrotal.
O trauma penetrante de escroto é de tratamento Leitura recomendada
cirúrgico, com raras exceções como no ferimento
superficial (arma branca) ou tangencial (arma de fogo). 1. Aguiar W, Cury J. Trauma Genital. In: Cury J, Simonetti R, Srougi
M. Urgência em Urologia, 1a. ed. Sarvier, 1999 p.104-10.
Escroto 2. Mulhall JP, Gabram SG, Jacobs LM. Emergency
management of blunt testicular trauma. Acad Emerg
O escroto tem grande elasticidade, sendo que, na Med 1995; 2 (7): 639-43.
3. Jordan GH. Scrotal Trauma and Reconstruction. In: Graham
maioria das vezes, as lesões podem ser corrigidas Jr., SD. Glenn’s Urologic Surgery, 5th ed. Philadelphia:
com sutura primária. Nos casos em que não há pele Wolters Kluwer Company, 1998 pp. 539-50.
para cobrir os testículos, deve-se lavar exaustivamente 4. Peterson NE. Genitourinary Trauma. In: Mattox KL,
a lesão, e as gônadas podem ser posicionadas no Feliciano DV, Moore E. 4th ed. New York, McGraw-Hill:
2000 pp. 839-77.
subcutâneo da raiz das coxas, nas regiões inguinais, 5. Sagalowsky AI, Peters PC. Genitourinary trauma. In: Walsh,
ou podem ser mantidas expostas com cuidados locais PC. Campbell’s Urology, 7th ed. Philadelphia: WB Saunders
Company; 1998 pp. 3085-120.
108