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FTUNGER,5.A Alem da msi epensando Sot. Peper: Lonely Hearts Club Band fer Musi Belo Horizonte, n.50, 2014, pAS-£2 Alem da musica: repensando Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band Sarah A. Etlinger (University of Winsconsin, Milwaukee, EVA) tlinger@uwm.edu Tradugio de Fausto Borém (UFMG, Belo Horizonte, MG) foorem @ufing.br Resumo: A discussdo critica sobre o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Bond tem sido consistentemente consolidada em relagdo & importancia do élbum, especialmente em relagao as inovagbes musicals e maneiras com que mudou a cultura do rock. Quando se menciona a capa do élbum, esta € analisada em termos de sua relagao simbélica com 0 conteiido das inovagdes musicals do disco. Entretanto, teéricas como Kenneth Womack ¢ Todd F Davis examinaram a relacao dos Beatles com a teoria critica, enquanto que lan Inglis explora o trabalho cultural contide nas capas dos élbuns dos Beatles. Ao invés de tratar da relagao misica e imagem, este artigo busca expandir a discussdo além de seu valor para ‘2 miisica popular, focando em trés contextos visusis: pop art, Fotamontagem € a historia do design em capas de élbuns. Defendo, ne presente artigo, que Sgt. Pepper marca uma mudanga na mancira come a imagem da banda desempenha ums critica auto-reflexiva, tanto por meio do conteido visual da imagem quanto nos processos pelos quais foi criads, © que faz a capa do élbum transcender um simples bem de consumo ou uma embalagem exética. A confluéncia entre pop art e fotomontagem ¢ permeia essa discussao, uma vez que ambos mavimentos esto engajados com a questo da representagao € 0 statusquo por meio da apropriagae de imagens da comunicagdo de massa, Palavras chave: Sot. Pepper'sLonely Hearts Club Bond; pop art em capas de discos: fotomontagem ¢ representagao visual Beyond the musi : rethinking Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band Abstract: The critical discussion of Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Bond has consistently been framed in terms of its importance as a record album. That is, remarks about its musical innovations and the ways it changed the culture of rock music dominate the conversation. When the album cover is mentioned, it is analyzed in terms of the symbiotic relationship it has with the musical innovation of the album itself, However, the discussion is changing; theorists Kenneth Womack and Todd F. Davis have examined the Beatles’ relationship to critical theory, and music critic lan Inglis explores ‘the cultural work of the Beatles’ album covers. Yet much of this criticism still focuses primarily on the relationship between music and image. In this paper | expand the discussion beyond its value to popular music and consider the album cover in three visual contexts: Pop Art, photomontage, and the history of album cover design. | argue that Sgt Pepper marks a shift in how the image of the band performs a self-reflexive critique, both through the visual content of the image as well as the processes by which it was created. This destabilizes the slbum cover as @ mere commodity or extraneous packaging. The confluence of Pop Art and photomontage enhances the critique, for these movements fundamentally engage with problematizing representation and the status quo through the appropriation of mass — ‘mediated images. Keywords: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band; pop art in album covers; photomontage and visual representation. Agratecimento: A revista er Mus agradece 3s Editions Seteun, por permitiratradugo dees artigo originalmente publcado em inglés fa revista Valine! Lo Revue de sieves populaires v8, 2.1, 2011 p-253-276, Acesso gratuito em hetyiolume evaes org) 35 PER MUSI - Revita Academica de Musica ~ 130,200 p= ez. 2014 Recebid em: 10/11/2012 - Aprovado em: oaloe!2015, ro ETUNGER S.A. Alem da masia:epeasando Sgt eppe’s Lonely Hears Club Band. fer Mus Belo Horonte, 30,2014, 43-52. 1~A produgio da capa de Syt. Pepper's Uma busca répida na intemet sobre o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) revela dezenas de milhares de pontos de busca, Tedos levam a dus categoras: primeiro, tum projeto musical com inovagies jamais slcangadas que provacou enoemes mudangas na indistria da mitsica; segundo, um simbolo dos Beatles e da cultura dos anos de década de 1960, Detods mancirs, a prevaléncia deste tipo de imagem forma um arcabougo que permite compreender no apenas 2 relevancia dos Beatles, mas do proprio Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band. De todos os projets dos Beatles este foi o que mereceu mais tempo de difuséo na miia en imprenss do que qualquer outro. € amplamente considerado um élbum *pianciro" em muitos aspectos: 4 primeira capa dupla de LP, © primeiro lbum 8 incluir letras de cangies na capa, o primeiro” élbum conceit", 0 primeito dlbum a deslarar abertamente um envolviment com 0 psicodelismo liberal de décade de 1960 (HARRY, 11992, p.970), Quaisquer que sejam as razées, uma coisa & certa: Sgt Peppers tornou padrao dourada dos misicos, clevando o nivel de referéncia para as inavagées musicais a distints arte das capas de discos Qualquer leitura sobre Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band parece gravitar em torno de sus ambiguidade [Nota do tradutor:leia, s p.187-200 do presente volume de Per ‘Musi, uma resenha sobre trecho que trata desse slbum no livro The Lives of John Lennon de Albert: Goldman] Ou seja, 0 sentido de confuséo que permeia os anos de 41960 #1970 aparentemente escoou para as anélises de seus artefatos culturais. Digo isto porque os criticos, 90 abordarem Sgt. Pepper, apontam para o modo em que o flbum encarapita sobre duas posigies sociais de uma s6 vvez: como pega da cultura pop, mas também como um texto intelectualmente provocativo eobviamente politico. Quando 0s estudiosos o examinam, tendem a privlegiar as inovacées musicais em detrimento dos elementos visuais. Em Covering music: a brief history and analysis of album cover design, Martim SORGER ¢ Steve JONES (1999, .68) lamentam a escassez de estudos sobre as capas de Albuns, observando que elas “nunca séo compreendidas em termos puramente funcionais, ow como uma forma de design grafico” Comentando que “a misica, cada vvez mais, dependeu do estilo visual para se apresentar € se vender’, esses autores examinam amplamente as condigées de produgdo das capas de élbuns desde sua emergéncia na década de 1930 como capas protetoras para os discos, chamadas de "sicks' até a proliferagao de grafismo © complexas elementos de design na década de 11960. Eles identificam o surgimento do LP (disco long pploying) em 1948 como o momento em que as capas de Albuns de tornaram um elemento importante na indistria fonografica. Um outro fator importante no surgimento das capas de disco foi a conexio entre os primérdios do rock € 0 cinema. Muitos icones da misica popular, como Elvis Presley, também eram astros do cinema as capas de éltuns eram utilizadas como ferramentas promacionais para os filmes ~ essencialmente fotos das estrelas ~ para melhorar o seu design. SORGER ¢ JONES (1999, p.68) identificam a fotografia como um elemento chave no design das capas dos discos: ‘a natureza representacional deste meio se encsixa como uma luva nos seus propésites, como tan INGLIS (2001, 83) observa em Nothing you can see can't be shown: the altum covers of the Beatles: servem de protegao para 2 gravacdo, de acompanhamento para a misica, de propaganda para 0 grupo musical, sio um objeto de compra ¢ um investimento. A fotografia se tomou ume ferramenta na comercalizagéo da bands musical, aferecendo-a como um bem de consumo duradouro Assim, as capas de discos representam a banda e a misica que estao ali dentro. Abanda toca a misice, mas como no podemos comprar banda, compramos sua representagao na forma de ums fotografia na capa do disco. Entretanto, SORGER ¢ JONES (1999, p.77] observam que a grande dependéncia da fotografia comezou a decsir a0 final da década de 1960. Ao mesmo tempo em que a cultura psicadélica levou 8 arte psicodelica, “a fotografia seguiu 2 ilustragao € a colagem, explorando novas utilizagées ¢ combinagées. Imagens enigmaticas passaram a substituir ‘a natureza informative e documentéria presente na tipica capa de élbum fotogréfica” Esses autores perceberam essa_mudanga como fundamental, pois ela iniciou 9 tendéncia atual que se tornou marcante com Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, néo apenas porque incorporou diversos elementos visuais no seu design, mas também porque nao mais se strelou 8 “natureza informative © documentéria” da fotografia (veja a foto, croqui e names, dos personagens dessa capa nos Ex3, 4 ¢ 5, 8s p.195-187 desse niimero de Per Mus). Ao contrério, como afirmam esses autores, Sgt Pepper foi calcado na subverséo © mudanga de figuras familiares, Podemos ver como Syt. Pepper muda @ mancira de vermos 2 fotografia olhando para o grupo de pessoas no plano de fundo.’ Antes deste dlbum revolucionério, 2s fotos dos membros das bandas, incluidos ai os Beatles, invariavelmente ocupavam 0 centro. As imagens dos membros da banda ajudavam a solidficar a conexao entre a misica ¢ a banda; elas davam “ume cera" para 1 experiéncia de ouvir. Serviam também para estampar uma "marca" da misica, Os consumidores de discos aprenderam a associar os quatro Beatles ~ ¢ seus cortes de cabelo de franjinhas desgrenhadas ou de botinhas ternos sem colarinhos ~ coma miisice que produziam. De certa forma, a dependéncis das capas dos discos da fotografia confundia a relagao entre misica ea imagem fem um ponto sem retorno: era virtualmente impossivel do associd-la imediatamente @ risada charmosa de Paul McCartney com sus performance brincalhona ‘agucarada em All my loving. Entretanto, Sgt. Pepper quebra esta nogdo a0 nao mostrar, em nenhum lugar de capa, uma fotografia dos Beatles. Embora cles aparegam em duas representagies diferentes na capa, eles so representados come bonecos de cera ~ representagdes tridimensionais que imediatamente contrastam com a: fotografias bidimensionais logo atras deles enquanto que os Beatles “reais” ficam em pé na centro FTUNGER,5.A Alem da msi epensando Sot. Peper: Lonely Hearts Club Band fer Musi Belo Horizonte, n.50, 2014, pAS-£2 ds pequena multiddo. Além disso, os Beatles “reais" cestéo disfargados como membros da bands ficticia do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club, vestindo macacées de cetim neon. Ambas as representagdes dos Beatles contrastam distintamente com as silhuetas recortadas ‘em papelao de aspecto quase fantasmagérice de seus “herdis", parecendo sugerir as limitagées da fotografia ‘em termas de sua habilidade tecnolégica de representar 2 realidade, As fotografias recortadas dos heréis do passado ¢ do presente nao oferecem @ mesmo tipo de identificago imediata e facil que o reconhecimento das Beatles permite. Ao contririo, os Beatles esto quase perdidos em um mar de gente, deixando 0 expectador se perguntando de quem seria aquele album. A grande complexidade da imagem, por si s6, requer um tipo de relagdo diferente entre observador © imagem, entre ‘lbum € banda, entre representagao ¢ identidade. lan Inglis chama nossa atengéo para 2 complexidade intelectual por meio dos excessos visuais do album. Julgar ‘Sgt Pepper como um "momento decisivo na histéria da civilizagao ocidental” (INGLIS, 2001, p.87) enfatiza sua importéncia como uma “correspondéncia visual-musical formidvel” Além de cutras inovagies, ele descreve a capa como a primeira a “especificamente se oferecer como um objeto para investigacéo explicit; identificar as Figuras J apresentadas no retabulo se torna umjogo popular e um ‘exercicio intelectual” INGLIS (2001, p92). Para cl, um dos aiores significados de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band esta na maneira como convida o abservadorfouvinte 2 entrar no éloum. Identificar as figuras requer um olher ativo eescrutinio que, por sua vez, requer que o observador assuma uma posigéo pessoal diante da imagem, ao invés de ignoré-la passivamente como um acessério & musica que contem. De certa mancira, 9 andlise de Inglis nos faz acreditar que, depois de Sgt. Pepper, as capas de élbuns poderiam se tornar muito mais que um acompanhamento para 9 misica; se tornaram eriticas socias, politicas © culturais que passaram a requerer um envolvimento por parte do piblico 0 estudo de Inglis introduz trés manciras de leiture da capa do dlbum que convidam 2 reflexées posteriares sobre as inovagies visuais de Sgt Pepper: como texto Visual, como links entre @ imagem visual € @ misica € como’ marcadores influentes na comunidade musica Ums vez que jé existem diversos trabslhos realizedas sobre a: duas iltimas eategoris, as deixo de lado para consderar apenas o éloum como texto visual. Com esse foco, Sgt Pepper confere novas identidades @ banda como participante dos movimentos subcultursis cada vez mais presentes na década de 1960. Dadas as duas representagies dos Beatles na caps, pademas entender que Sgt Pepper marca a “ruptura definitive com 2 indistria da misica pop" pelos Beatles (INGLIS, 2001, 87). Sob este prisma, a capa do éloum, enquanto texto Visual, apresenta um tipo de autocritica, tanto como tum bem de consumo quanto uma representagéo de identidade da banda A compreenséo dos Beatles sobre sua prépria identidade cultural, como pop stars ¢ artistas de reizes nas classes trabslhadoras, ajuda a compreender o valor de Sgt: Pepper como texto visual. Tomando emprestada leitura que Kenneth Womack ¢ Todd F Davis fazem em Mythology, remythology and demythology: The Beatleson film, a capa do éloum mostra 0s egos mitologicos anteriores dos Beatles em pé a dircita de seus correspondentes contemporéneos remitologizados, € estes rodeados de figuras também remitologizadas, dos ansis de histéria, da religido, de Hollywood, da’ misica, dos esportes © da. literatura (WOMACK, DAVIS, 2006, p.104). Os autores também observam que €ssas representacées “remitologizadas prefiguram asnovas identidades mitologizadas que o grupo [mais tarde] traria para realidade" (WOMACK, DAVIS, 2006, 104). Quando Womack e Davis se referem & “mitologia", se referem manipulagéo autinoma € consciente de identidades culturais particulares -sejam cles super icones da indistria pop ou pioneiros da contracuitura psicodelica ~ com objetivo de expor sua Sbvia cumplicidade erejeigdo ‘2 €5595 identidades. Resumindo, Womack e Davis sugerem que 05 Beatles passaram por trés estdgios nos quais sua identidade estava em rsco, e que eles reestruturaram estas identidades ativamente de acordo com os projetos em cada época. Invoco esses autores porque acredito que é deles 0 trabalho que mais efetivamente aborda o tipo de critica que almejo, embora com a ressalva de que aposta todas as suas fichas na interagao entre a misice ¢# capa do élbum. 2 - Fotomontagem ¢ a critica auto reflexiva da representagao Nesta segdo, tratarei especificamente da imagem em relagdo a condigdes de sua produgéo. Basicamente, 0 processo e origem da imagem aponta para as manciras com as quais comunicam sua mensagem. Porque a capa representa a performance em dois niveis ~ conccitual visual ~ 9 capa do élbum encena uma critica da representagio. Conceitualmente, o concerto encenado na capa do élbum coloca os Beatles como performers € como membros de uma plateia. A capa foi concebida como substituta para um concerto, que seria dado por uma banda ficticia, 2 Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Sendo um evento encenado, os Beatles estavam literalmente vendendo uma representagao de sua performance imaginéria. Visualmente, entretanto, ‘2 imagem mostra a performance de uma fotografia ¢ uma representagao visual por meio de uma colagem de pessoas agrupadas em torno dos Beatles. Intitulada Gentequeeu gosto, aimagem do grupo de pessoas éfeita de Fotografias em tamanho real, coladas em papelio € recortadas, depois arranjadas e fotografadas contra um fundo azul. Ao usar uma fotografia da fotografia (que na época jé era um processo de produgao em série), a capa do élbum é uma representagio da representagéo. Como um todo, entretanto, marca uma guinada na mancira coma a representagéo desempenha um importante papel para compreender 9 importdncia das capas de ‘album em geral oo lS ETUNGER S.A. Alem da masia:epeasando Sgt eppe’s Lonely Hears Club Band. fer Mus Belo Horonte, 30,2014, 43-52. ‘Sgt. Pepper nos fala de como a imagem da banda se tornau mais performética na capa do élbum, refletinds um engajamento autoreflexivo com 9 representagéo visual em um tipo de autocritica jocosa, A critica abrangente da representagdo também desestabilizou 1 nagao de capa de élbum como simples mercadaria ~ cembora o proprio Sgt. Pepper tenha se engajado também ‘a0 incluir os recortes de personalidades e comercializar 0 album como um pacete. A influéncia da pop art © da fotomontagem, enquanto elementos essenciais de design da imagem, também funcionam como desestabilizadores da conexéo da capa do dlbum com o bem de consumo, uma vez que ambos, pop art e da fotomantagem, jé eram movimentas artisticos de vanguarda alinhado: com @ esquerda cultural. E como esses movimentos artisticos de vanguarda estavam incorporados como elementos intrinseeas da capa do élbum, a imagem tem ainda outra camada de complexidade da critica da representagio ¢ do bem de consump. Em geral, 2 combinagao da propria visio artistica das Beatles com a progressiva popularidade permitiu as capas de élbuns se tornarem lugares para @ critics cultural. Por meio da exploragao desses contextos, assim como 2 relagdo de Sgt. Pepper com a historia do design de capas de élbuns, pretendo mostrar que as capas de lbuns devem ser consideradas separadamente de seu vvalor musical, como lugares de critica cultural, politica social, ou seja, devem ser lidas separadamente de sua excessive associagio com a miisica popular. Paul McCartney nos dé @ melhor descrigio do tema do Album: “Porque no pensar o album inteiro como se @ Pepper Band realmente existisse, como se 0 Sgt Pepper estivesse, de fato, gravando um disco?” (HARRY, 1982, 970), Harris defende que McCartney € quem concebeu a idecia de ter “um monte de celebridades, mortas ou vivas, dispostes na capa do. éloum" (HARRY, 1992, .970), Embora Brian Epstein, empresério dos Beatles, © « produtor George Martin estivessem céticos no inicio, 0s Beatles insistiram ¢ o resultado foi, na fala cloquente de HARRY (1982, p.971), "a capa mais famosa de qualquer tipo de misica e uma das mais imitadas imagens de todo © mundo" Para esta caps histdrica, os Beatles reuniram os fotdgrafos Robert Fraser (que jé havia se tornado famoso com outras capas dos Beatles) e Michael Cooper, ¢ 0 artista pop Peter Blake. Blake havia feito uma pera para 0s Beatles no inicio das anos de 1960 (LEVY, 1963, p.185) € era conhecido por suas colagens interessantes sobre ‘cones populares como Marilyn Monroe ¢ Elvis Presley. 0 time formado por Blake e Cooper pediu aos Beatles que listassem seus 12 herdis mais populares da histiria. A lista engordou, chegando quase 70, 60 dos quais foram incluidos ne cape. ‘A fotomontagem das celebridades talvez seja 0 elemento mais famoso de capa, embora apresente diversas outras caracteristicas interessantes. Um bumbo decorado ¢ com nome "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” ocupa 0 centro da imagem. O grupo de pessoas esta flanqueado por imagens de cera, estatuas de jardim, um arranjo floral no qual se Ié "Beatles" * outra na forma de um Violio, uma bonecs, uma boneca de pana de Shieley Temple e vasos de pepperonia (HARRY, 1992, p 977-878) Com tude isso, 2 capa apresente um mural complexo, misturando fotografia, objetos, figuras € mesmo, tecido (os uniformes psicodélicos que os Beatles estdo usando como se fossem membros de Sgt. Pepper Bond). Essa complexidade visual sugere que a imagem da capa nao fazia parte de um pacote descartavel, mas um artefato visual preparado para um piblico cada vez mais seletivo « critica. Em resumo, esta cape representa © primeira tentative dos Beatles de se engajarem com seus fis de tum modo complexo. Como observaram muito criticas ¢ estudiosos do Beatles, cles estavam cansados de viajar em turné por volta do final de 1965. Ainda assim, se comprometeram com diversas tunés e concertos em 1968, com resultados cada mais catastrficos. Depois do seu iltimo show no Shea ‘Stadium [em Nova lorque] em agosto de 1966, no qual os Beatles quase foram eletrocutados em uma tempestade de verdo e se sentiram acossados por fas agitados € aos grits, eles decidiram abandonar aquele estilo de vide Se voltaram para a rotina dos estidios e, assim, nasceu Sgt. Pepper. HARRY (1992, p.969) observa que 0 élbum Se tornou 0 que é porque os Beatles passaram a ter mais ‘tempo para desenvalver e amadurecer o artesanato desua misica, uma vez que néo se sentiam mais pressionados 2 produzir hits para shows ou serem interrompidos por outros compromissos. Mas as longas horas no estidio nao signficavam que os Beatles se esqueceram de seus fas. Muitas acreditam que, nessa époce, foi um periodo em que mais tinham seu piblico em mente. Podemos ver evidéncia disto no conceito do élbum. 0 proprio Fato dos Beatles estarem encenndo um concerto ficticio com uma banda ficticia reflete sua consciéncia sobre 2 importéncia cada vez maior da performance © miisica a0 vivo. Mais do que isso, podemos argumentar que o design da capa —no qual as pessoas esto encarando 2 piblico ~ se apresenta como algo pra ser notado: uma performance, uma interagao com a audiénci. William M. NORTHCUTT (2008, p.130-131) mostra a relagao entre a multiddo" que ilustra a capa € os observadores em The Spectacle of alienation: death, loss and the crowd in Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, observando que parte da importéncia cultural do élbum é que ele “ajudou a perpetuar a idcia de que o verio de 1967 foi tum momento tinico de unidade social", mas que, na verdade, os Beatles tinham uma relagéo cada vez mais antagénica com a multido de seus fas: "em Sgt Pepper, Lennon, McCartney, Harrison e Starr se retraem de seu piblico que jé os constrangia com a Beatlemania ¢ os ataques aos Beatles" Ele argumenta que esta complexa relagio inaugurou uma “crise de identidade, 2 qual os Beatles tentaram resolver com Sgt. Pepper ~ por meio de novas ‘leituras' de suas influéncias musicais, novos idesis filoséficos descobertos recentemente, a emergente cultura das drogas € o mundo que eles queriam mudar” FTUNGER,5.A Alem da msi epensando Sot. Peper: Lonely Hearts Club Band fer Musi Belo Horizonte, n.50, 2014, pAS-£2 Essencialmente, Northeutt nos assegura que o élbum “trata tanto de separagao e alienagao quanto de unidade’ Northcutt também fala do papel das massas como uma ‘componente central da mensagem geral de Sgt. Pepper. Ele classifica os virios significades das massas: a massa dos compradares de discos, a massa dos beatlemaniacos = que "compra discos, mas torna o contato real ea misica real impossiveis" ~ 2 massa dos "conhecedores das elites, apreciadores de arte ¢ fas de rock n’ roll que estavam ligados no “sentir @ vibragées’ ¢ “ignorantes, moral € politicamente hipécritas, apoiadores, repetidores de costumes © leis restrtivas” — essencialmente, © establishment proverbial © seus agentes. Essa classificago demonstra a complexidade do pablico para © qual as Beatles estavam se apresentando ¢ articula as rmuitas camadas de identidade com as quais 05 Beatles ‘tinham de lidar quando expunham sus critica. Em outras palavras, o: Beatles estavam conscientes do pliblico para © qual se apresentavam, E incorporaram esta consciéncia nna capa do disco. Talvez a melhor evidéncia disso € @ variedade de pessoas representadas como seus herdis. Discutire significado desse tableau em conjunto com @ fotamontagem, que foi a meio escolhide para construi-lo Nao chega a surpreender que as mudangas ¢ inovagdes fem arte resuitam de mudangas no clima politico. Nos seus primérdios, 0 Cubismo reflete uma mudanga na percepgo muito em fungéo dos avancos no cinema, indistria © transportes - distorcendo a realidade ¢, como resultado, a5 suas perspectivas. Quando a Primeira Guerra Mundial terminou, entretanto, mesmo esse tipo de representagéo produzida com pintura © materiais do cotidiano, se mostrou inadequada porque representava 2 destruigéo da realidade e a emergéncia de ideologias sociais penetrantes. A fotomontagem néo € uma ‘excegao a esta regra, No seu trabalho seminal sobre foto montagem, Dawn ADES (1976, p.12) raga o nascimento deste movimento impressionantemente complexo ‘enquanto um subconjunto do movimento Dada em Berlin ‘©1a Unio Sovietica. Ades credita seu desenvolvimento as mudancas de perspectivana relagdo entre arte erealidade, © que ela descreve como “um reconhecimento de uma atitude, com 2 qual todos [os dadaistas} compartilhavam fem relagio as suas obras € sua relagéo com hierarquias artisticas existentes’. Essa atitude resulta de uma consciéncia na qual as pinturas podiam ser “compostas inteiramente de recortes de fotografias. [de forma que] 2 imagem comunicaria de uma forma nova" (ADES, 1976, p20]. Ele observa que a prética da fotomontegem hhavia se associado anteriormente com os carties postais (os qusis combinavam diferentes imagens fotogréficas, texto e imagens desenhadas) e com o desenvolvimento da fotografia durante a Primeira Guerra Mundial; “vistas aéreas, microscépios € radiografias". Mas Ades enfatiza que a fotomontagem geralmente se origina de “LJ uma necessdade amente de se afatar das limitapies 4 aletragdo sem retomar aos modes lnstathoe © fguatioe ‘aniguado:. A fetgefia,cbviament, tem um lugar expec © pvegiado na logo coma realade: alia que €sceptivel 2 manipulagio para eomancaredeconanicaraquela alidade Por ‘eta atin, fina Resin ecm erm ondeoinpeto parce afartat fe movimento: redominantementeestetco de cutho social fi muito marante,que 2 fotomontagem :ugiu (ADES, 1976, p.6) Essencialmente oturbilhio politico terraplanou o terreno para a rupture e manipulacéo da realidade fotogréfica ADES observa que a fotomontagem estava se tornando cada vez mais popular “em todas as facgies politicas da Europa € Rissia nas décadas antes da Segunda Guerra Mundial", embora seja comumente associada com a politica de esquerda por ser “idealmente apropriada 4 expresséo da dialética marxista” (ADES, 1976, p41) Ela credita 9 natureza “real” da fotografia como a forga motora por trés de sua utilizagéo politica em Berlim € na Russia durante os anos que se seguiram Primeira Guerra Mundial. Como havia uma aparente necessidade de rejeitar os modos figurativos, 9 fotografia se tornou um veiculo politico. Essas colagens politicas eram extraordinariamente acessiveis, promovendo uma correlagio dolorosamente clara entre imagem ¢ objeto, ou imagem € mensagem. Citando Gustav Klutsis, Ades estabelece uma conexéo entre @ fotomontagem € “o desenvolvimento da indiistria cultural e das midias de cultura de massa" (ADES, 1976, p.63), 0 que sugere sua concordéncia com as tendéncias poiticas esquerdistas, ¢ explica sua associagéo coma cultura de massa, consciéncia de classes © insatisfagio com as agendas politicas opressoras. Qualquer que seja 0 caso, as mudangas de percepgéo provocadas por mudancas de realidade desempenharam um importante papel na formagao de um movimento que continuaria & metemorfosear os mundos politico ¢ artistic durante décadas. Uma quintesséncia ds fotomontagem & a justaposigdo de imagens para “revelar a ideologia pelo que ele é, revelando ‘2 estrutura de classe das relagdes socsis ou escancarando ‘8 ameaga do fascismo" (ADES, 1976, 48). Diferentemente fa colagem, que agrupa artefatos, fotografia © outras imagens ou objetos para enviquecer a textura de um trabalho artistico, fotomontagem combina virias fotagrafias eas distorce, ou monta um quadro se baseando estritamente em imagens “encontradas". Uma definig simples de fotomontagem € “fotografia manipulada", mas no dé conta da variedade de usos ou praticas dessa técnica. Cortar € colar séo duas de suas técnicas bésicas Assim, muitas vezes as obras parecem amontoadas, distorcidas © cabticas. ADES (1976, p.17) argumenta que obras de fotomontagem “transformam as relagies entre abjetos familiares, transgridem a escala, sugerem estranhos efeitos espaciais." John Berger (citado por ADES, 1876, 48) também caracteriza esta sensagéo com clareza no seu ensaio The Political uses of photomon tage, observando que “a vantagem peculiar da fotomontagem se deve 90, fato de que tudo que fai recortado mantem sua aparéncia fotografica familiar Primeiro, olhamos pare as coisas © somente depois elas so percebidas como simbolos” (ADES, 1876, p.48). Essa assergio dizrespeito ao constante didlogo entre as coisas esua representagéo, entre objeto e simbolo presente na fotomantagem, ao ro ETUNGER S.A. Alem da masia:epeasando Sgt eppe’s Lonely Hears Club Band. fer Mus Belo Horonte, 30,2014, 43-52. Particularmente, a afirmagio de Berger se aplica éfetura de Sgt. Pepper, uma vez que os recortes em tamanho real so simples fotografias que representam ou, em alguns casos, apenas lembram seus correspondentes na "vida real. Aiguns parecem mesmo no identificéveis ~ cscolhas esotéricasfeitas pelos membros da banda ~ ou cstéo obscurecidas por outros recartes. De uma mancira geral, entretanto, 9 incluséo de diversas imagens sugere wo apenas uma critica da habilidade da fotografia de “narrar" ou representer a realidade (como mencionei, cs Beatles nao estavam encenando um evento “real"), mas também uma critica de seu valor na sociedade Como veremos, uma anise mais detalhads do pape! da fotomontagem na capa do album mostra como ela atrai 4 atengéo para as diversas camadas de representacéo com a fungéo de complicar 2 identidade dos Bestles enquanto icones populares. De fato, pademos perceber 8 utiizago da fotomantagem como critica ds propria identidade, como se 05 Beatles estivessem tentando se remodela,juntamente com @ capa do dlbum, como para uma mudanga sociale politics, sssim coma uma mancira de acessar ess@ mudange. A fatomontagem nos permite criticar os discursos de identidade, representagao, performance ¢ realidade, Sua utilizagéo maciga nesse 250, nos permite considerar que @ capa realize os mesos 0 tipas de critica Nao ha divide que a capa de Sgt Pepper faz sua critica da representagdo em diversos niveis, embora 0 mais importante para nés seja a justaposigao do grupo de pessoas com 9s duas representagies do Beatles. As primeiras imagens dos Beatles séo modelos de cera do museu de Madame Tussaud, que se posicionam adjacentes 0s Beatles “reais”, embora esses Beatles estejam vestindo uniformes militares de sede, psicodélicos. Iediatamente, « observador vé o contraste entre os Beatles de terno € com corte de cabelo de franjinha (“moptop") - fantasmas de uma época dos Beatles que passou - ¢ sua repetigdo rio presente. NORTHCUTT (2006, p.132} sugere que este contraste marca a passagem de performers para artistas, de bonecos de cera para pessoas devverdade.Entretanto, do ponto de vista denossa discussdo, gostaria de acrescentar cutra ideia: «de representagao. Se considerarmos as duas versies dos Beatles em relagdo ao grupo de pessoas na fotomontagem, surge aqui uma critica com outra ruanga que permite, de fato, quase requer, consideracées politicas. Especificamente, a utilizagao da fotomontagem ros permite ver a banda como parte de uma consciéncia politica que comega a se formar (NORTHCUTT, 2006, p.129) e que comega a derrubar as barreras entre a arte de alto nivel e @ arte popular (NORTHCUTT, 2008, p138) ‘A capa justapde figuras politicas (como TE. Lawrence, Karl Marx, Gandhi, Einstein, ¢ Carl Jung) com artistas ¢ animadores culturais como Tany Curtis, Mae West, Lenny Bruce, Bab Dylan, Marilyn Monroe ¢ Sonny Liston. A capa também inclui escritores como WC. Fields, Oscar Wilde e Aubrey Beardsley. Esta variedade funciona de duas manciras pra comunicar a critica politica da representagio. Primeico,a combinagao de figuras politicas ‘mais populares com hersis da politica ede cultura derruba ~ ou, na melhor as hipéteses, desestailize ~ 0 status das figuras de “elte’ Tembém destrdi o senso de historia “real”. Karl Marc no € um contemporéneo de Tony Curtis ‘ou mesmo Oscar Wilde mas, ainda assim, aparece na copa ‘com ¢ mesma tipo de valor cultural a ele designado. Em Reading an Archive [Lendo um arquivol, Allan SEKULA (1987, 116) presenta uma mancira satisfatiria de como isto ocorre: “No arquivo, @ possibilidade de se ter tum significado ¢ Tiberads' de suas contingénecias reais de uso. Mas esta lberagdo também se perde, se torna uma abstragio da complexidade e riqueza de sua utilizagéo, hhé uma perda de conteido. Assim, a especificidade das utilizagées € significados ‘originais' pode ser eviteda , mesmo, ser escondida, quando fotografias sclecionadas de um arquivo € reproduzidas em um liveo Em outras palavess, © arquivo necessariamente “apaga os valores socais, politicos ou culturais das imagens criginais, pois a justapasigao impde o que ele chama de “equivaléncia visual abstrata" (SEKULA, 1987, p.117). No caso de Sot Pepper Peter Blake e Robert Fraser assumiram 4 responsabilidade de criar as fotografias ¢ 0 museu de cera de Madame Tussaud se encarregou de prover as figuras de cera das Beatles ~ a: quais nao apenas a cape, mas as recepgées € interpretagies da cape, apagam. Podemos ver evidéncias da “equivaléncia visual abstrata* de Sekula, quando examinamos o status das figuras nna capa do album. Basicamente, o status das figuras ampliado pelas suas colocagies priximas 90s icones culturais ou literérios. Ao incluir figuras de varias épocas, lugares © posigdes, @ capa implica que este tipo de colegdo néo pode representar a realidade. Ao notarmos quem constitui 0 grupo, imediatamente reconhecemos 2 impossibilidade de este evento ter acontecido. Além disso, afotomontagem desestabiliza a “hierarquia” entre 1s pessoas mostradas porque elas existem essencialmente 40 nivel de um jogo. Nenhuma figura usurpa o lugar da cutra; embora algumas estejam escondidas, Blake observa que isso ocorreu para enfatizar 0 efeito de realidade a0 invés de se tomar uma afirmagéo sobre quem & mais importante ou influente. Assim, o status de contribuigdo se toma praticamente irelevante na determinaséo de valor ou importancia. Sekula observa que as fotos adquirem um novo significado quando so coletadas montadas, uma vez que “layout, legendas, texto, local ¢ modo de apresentagéo" afeta como o observadar as ve ‘Apés absorvemos este novo contexto, nos recuperamos do “choque da montagem" (SEKULA, 1987, p.117) porque perdemos 0 significado ou contexto original. SEKULA (1987, p.127) argumenta que precisamos ler 0s arquivos “de baixo pare cima" porque “nem o canteido nem 2 forma, nem as muitas recepgies ¢ interpretacées do arquivo 95 conquistas humanas podem ser tomadas como inocentes" Embora nao estejamos discutindo aqui © arquivo genuino, ainda podemos ler os elementos da fotomontagem de Sgt Pepper como um tipo de arquivo popular, uma vez que propée um tipo de engajamento FTUNGER,5.A Alem da msi epensando Sot. Peper: Lonely Hearts Club Band fer Musi Belo Horizonte, n.50, 2014, pAS-£2 similar com @ mancira como as imagens podem ser privadas do seu significado “inerente’ Outra forma como 2 fotomontagem faz sua critica de representagao € através da relagaa e posigao dos Beatles ‘em meio &s figuras. A prépria incluso dos Beatles entre coutras pessoas, coloca todos no mesmo nivel cultura. ‘Ap mesmo tempo em gue 0 momento histérico se torna inrelevante, também se torna o “trabalho" ou ocupagéo. Em outras palavras, 0: Beatles se tornam profissionais da cultura e figuras politicas da mesma forma que Bob Dylan ou Karl Marx jé haviam se tornado. Mais interessante do que isso, entretanto, € 0 fato de que os Beatles nio sdo fotografias recortadas, mas pessoas "resis": mesmo as estétuas de cera foram colocadas em frente as colagens de fotografias. A pura complexidade da imagem € a5 representagies dos Beatles dentro do grupo (podemos dizer que trés: come figuras em cera, come membros da Banda do Sgt. Pepper e como artistas lvisiveis representados pelas flores que escrevem seu nome) exercem uma critica de sua prépria imagem. Entretento, também faz @ critica & mancira como os Beatles se tornaram icones ¢ celebridades prontas para serem comercializadas. Ou seja, como 0 album nao & simplesmente uma fotografie dos membros de uma bands, ele sugere duss coisas. Primeiro, este tipo da capa era inadequada pars comunicar uma mensagem politica. Segundo, era uma épace de erticas a0 conceit de mercadoria, De certa mancira, 05 Beatles exploraram 2 ideia de mercadoria ~ um conceito que discutrei mais detalhadamente quando examiner @ relagao centre 8 capa € @ arte pop - que se constituem em um ‘embrulho cuidadoso € cheio de artimanhas. Entretanto, 2 utilizegao de fotomontagem se alinha com a critica do consumo par meio de sua slisnga com a esquerda cultural ~ uma associagao que jé estava estabelecida Assim, @ utilizagéo da fotomantagem permite uma critics da representagao (como Ades e Berger discutem), ‘assim como a critica da politica de identidades eo papel da mercadoria na sua moldagem. 3 - Pop Arte a critica do bem de consumo Como 2 fotomontagem, a pop art foi, em grande parte, uma resposta as condigdespaliticase sociais da Inglaterra do pos-Guerra, compartilhando com 2 fetomontagem as mesmas tendéncias esquerdistes. Como uma *rebelio contra a arte estabelecida” (LIVINGSTONE, 1981, p.148), 4 pop art teve temas duradouros como sex, tesnologi centretenimento ¢ cultura de massa. Iniciade por um grupo de artistas no Landon College of Art na déceda de 1960 chamado de Independent Graup, 2 pop art se ‘tomau uma resposta as formas de arte burguesas que necessariamente emfatizavam 2 *hierarquia de valores formulados pelas classes superiores (LIVINGSTONE, 1981, p.146). Os membros mais antigos do Independent Group ~ incluindo ai Richard Hamilton ¢ Peter Blake ~ cram ideologicamente compromissados com a missé0 da pop ‘rt ¢ firmes nas suas declaragées, em ume “linguagem direta ¢ franca nascida do impulso democrético que sacudia @ sociedade em que viviam (UVINGSTONE, 1981, 148). Nesse aspesto,« pop arttambém compartilha com 4 fetomontagem o compromisso de fazer ume arte que respondesse @ necessidade de uma reforms social, assim como expicitar observagies agudas sabre a politica social Mas a arte pop é diferente da fotomontagem por diversas razies, sendo a maior delas ofato de abertamente celebrar ‘ cultura popular. Essa celebragdo nao deve ser confundida como “as decotificagies semiolégicas dos subtextos sociais, politicos ou econémicas do imaginério popular” (UVINGSTONE, 1951, p.147) ~ que a fotomontagem feria = mas, 20 contriro, enfatiza a produgdo tecnolégica de abjetos do dia dia. A arte pop se inci, de fato, com uma exposigdo de Richard Hamilton, chamada “Just what is it that makes today's homes so diferent, so appealing?’ [*O que tornam as casas de hoje ta diferentes, tao atraentes?1, exposigdo que introduziu as fontes materais da arte pop fotografia, televiséo, propaganda, quadrinhos, cinema, revistas de fisioculturismo, produtos de consumo © nomes de marcas (LIVINGSTONE, 1981, p.148). Com o objetivo de prover uma “visio caleidoscépica da cultura", esta exposigao (e a arte pop em geral) permitiu um olhar sobre 0s produtos as experincias do dia 9 dia, apresentando-os como espagos de citca, ironia ¢, mesmo, parédia. Dentro da arte pop reside, assim, uma critica inerente. Seu objetivo era, tanto para artistas quanto para o piblico, nfo apenas ver os objetos do dia dia como "arte", mas também exercer uma critica de antigas tradigées da arte estabelecida LIVINGSTONE (19, p-160) observa que, em uma entrevista, Andy Warhol declarou que queria ser uma maquina endo um artista, porque es méquinas eram capazes de reproduzir uma miriade de imagens que ram exatamente iguais, 0 que era um elemento central na mensagem de Warhol. Ele queria expor as formas em que arte poderia ser produzida, reproduzide, manipulada, retiradas da seara burguess para se encaixar no estilo de vida urbane Peter Blake, artista com a fascinago de Warhol em mente, tinha uma relagéo nica com @ arte pop. Em uma entrevista com Mervyn LEVY (1963, p.188), Blake ‘admite que, para ele, arte pop “geralmente tem raizes na nostalgia: a nostalgia de coisas antigas e populares Embora eu fique tentando criar uma nova arte pop, uma que reflita o meu tempo, me pego olhando para as fontes dessa linguagem" O comentério de Blake representa um ponto chave para boa parte da comunidade da arte pop, embora essa posigdo tenha sido revista por membros mais populares, & medida que o movimento progrediu A nostalgia de Blake o inspirou a incluir cartbes-postais, fotografias,itens comprados em lojas ou encontrados em suas composigies —itens que nao revelam de modo algum ‘2 presenga de seu trabalho manual como artista. LEVY (1963, p.185) resume a visio artistica de Blake: " .. para Blake, arte pop, como a misica pop, éfundamentalmente ume iluséo. Ambas manifestagdes se preocupam com os estados de ilusao gerados pelo que € popular, sons € imagens, respectivamente’. A énfase na ilusdo revelaria. © processo por meio do qual a arte € criada, sendo ETUNGER S.A. Alem da masia:epeasando Sgt eppe’s Lonely Hears Club Band. fer Mus Belo Horonte, 30,2014, 43-52. que © desejo pelo que € popular resulta da linguagem democratica e de cultura de massa que misicos e artistas compartilhavam. Mas 2 autoavaliagao de Blake sobre seus projetos também abre uma nove janela para o ideario dos artistas pop: 2 arte poderia ser apreciada por qualquer um, especialmente os jovens porque, na sus visio, eram, segundo ele, mais receptivas as inovagées apresentadas pela misica pop e mais conscientes das condigées sociais fem torne do surgimento da arte pop. A associagdo de Blake como os Beatles se originou no inicio de suas carreiras, muita antes de eles se tornarem superstars Como Blake havia estabelecido @ conexdo entre arte pop € misica pop, icones da misica eram frequentes no seu trabalho. LEVY (1963, p.188) diz que Blake considerava os Beatles como icones do pop: “Os Beatles simbolizam vaste cultura popular » partir da qual a arte pop deriva suas fontes de inspira No seu primeiro projeto para os Beatles, mantids 90 nivel de uma conversa apenas, Blake queria enfatiza conexao entre eles ¢ seu ambiente urbano Liverpool = bem como comunicar a ideia do “significado visual que, de certs forme, equivale & atmosfers dos Beatles" (LEVY, 1963, p.187). Podemos antever como a visio de Blake se amalgama com o impulso do Sgt. Pepper, pois a capa do élbum, como Sorger ¢ Jones nos lembra = essencialmente "vende" ¢ reflete 9 atmosfere, as rnuangas e qualidade da misica que contem, Embora 2 pega de 1963 de Blake sobre os Beatles néo fosse uma capa de éloum, a utilizagao de artistas de misica pop € sua arte antecipam a confluéncia de icones populares com figuras histéricas, politicas € sociais na capa do ‘Sgt Pepper. Como Blake estava téo comprometido com @ “admass" nostélgica - um termo que Levy emprega para descrever a visio dos artistes pop, se referindo & propaganda da cultura de massa - faz sentido ver que cle escolheu para os Beatles 0 que é, talvez, 0 seu mais famoso trabalho A idcia de nostalgia € um componente natural da identidade de performance dos Beatles. Sua duple aparigao na capa pode sugerir uma reconfiguragéo complexa de sua imagem profissionsl, assim como ume nostalgia complexa de seus primeitos dias como artistas, ingénuas © despreocupades. Podemos ver isso representado pelos bonecos de cera dos Beatles Justapostos aos seus equivalentes em came © 0:50, contemporéness ¢ psicadélicos. A justaposiggo dos membros "reais" da banda (embora fantasiados) com os modelos de cera em tamanho real chama atengéo néo apenas para a revisdo de suas identidades, mas também para as maneiras como a imagem dos Beatles se tornou um bem de consumo. Tomo as palavras de Womack and Davis, de que 05 Beatles "remitologizaram" a sua imagem no Sgt. Pepper, brincando com sua identidade enguanto mercadoria; com 0 foco na maneira como @ rmiisica € 0 élbum interage. Assim, volto a0 que acredito ser 0 mais importante aspecto da capa do disco em relagdo @ arte pop: critica do bem de consumo. Como William NORTHCUTT (2008, p.132) observa, os Beatles em Sgt Pepper. sentiram as contradigées inerentes & sus parte no espetéculo: protestavam contra aspectos do capitalismo 20 mesmo tempo fem que promoviam um produto de imagem € misica para ser vendida e aceite’. Isso descreve com preciso ‘8 mancira como 0 album zomba ¢ subscreve, embora divertidamente, a0 fetiche do consumo. € importente observar que @ utilizagéo de arte pop enfatiza essa associagdo, uma vez que o manifesto da arte pop parece fazer o mesmo tipo de critics ideolégica. 0 pacote do disco & 2 associagao mais clara com a arte pop € com © engajamento ¢ critica dos Bestles, 20 considerar @ gravagae como bem de consumo. NORTHCUTT (2006, p.135-136) observa que “o invélucro do Sgt. Pepper, sua capa dupla, seus encartes com obraduras € letras impresses foram os primeiras na indistria do disco, ¢ representaram o primeiro esforgo orquestrado para vender 0 produto para as massas" Entretanto, ele arguments que "as letras das miisicas impressas na caps indica uma autoconfianga dos Beatles fenquanto artistas ¢ indica um desejo de pregar para as ‘masses: elagiar ou condener 0 seu papel no espetdculo" Podemos partir dessas observagdes sobre o invslucro do ‘lbum para ilustrar 2 complexa relagio da capa com bem de consume. Cada ume de suas inovagies foi um tributo & fascinagao da arte pop com a vide cotidiana € com a cultura do consume embora, como um todo, esas inovagéesfizessem muito mais do que apenas "vender" a ‘bands. Ao contrévi, a inovagao sem precedentes da capa, sua ‘novidade" ¢, por que nao dizer, choque de valores, ‘também requeria que o consumidor fosse um participante tivo na sus mensagem Assim como o painel de figuras se tomou um exercicio intelectual, convidando o expectadorfouvinte a ‘entrar’ nna imagem, as dobraduras dos encartes © capa dupla do disco prontamente chama para um tipo de a semelhante. As dobraduras dos encartes, além disso, so auténomas € existem independentemente do disco, pois podem ser utilizadas para outros propésitos além do escutar € do olhar. Ao incluir “brinquedos" como parte do pacote, os Beatles néo apenas fazem uma critica do consumo, mas também forgam o élbum a ocupar o mesmo “espago" ou posigao da arte pop. Em outras palavras, @ associagio com a arte pop jé havia sido reconheci ser comprado, o Sgt Pepper poderia ser considerado uma pega de arte. Além disso, 9 arte pop também convidava seu piblico/consumidores a criticaro cotidiano da mesma forma que o oferecia para venda Nao ha divide que Sy Papper €oferecido como produto de consume, pois em iiltima andlise, € um disco de imiisica. Poderiamos dizer que @ capa & de fato, um acessério @ musica, e que compartilha uma relagao simbiética com as inavagdes das cangées dos Beatles «suas inclinagées politicas. Mesmo se este for 0 350, devemos reconhecer que incluir dobraduras ¢ artficios FTUNGER,5.A Alem da msi epensando Sot. Peper: Lonely Hearts Club Band fer Musi Belo Horizonte, n.50, 2014, pAS-£2 bvios - um novo tipo de dobradura, as letras na capa, as cores berrantes € 05 “novos" Beatles ~ requer um tipo de consciéncia que ndo pode ser desprezado. O proprio invéluero do disco enguanto invélucro ¢ 0 novo tipo de gravaséo de dudio contrituem para a critica do consumo, uma vez que perguntam implicitamente ao consumidor 0 que estdo comprando. Os consumidores esto comprando © ‘lbum pela miisica? Pelos seus artificios? Pelo seu choque de valores? Pela sua associagéo com os Beatles? Pela sua diferenga dos antigos Beatles? A questéo se toma inrelevante; o que interessa € que, por meio do ‘excesso visual € compromisso geral em subverter 0 status quo, a capa do élbum demands uma cooperagéo ¢ uma participacao do consumidor de uma maneira que as capas de élbuns anteriores néo Faziam. Assim como 0 exercicio intelectual de identificagdo das figuras ne colagem come pano de fundo se torou um jogo intelectual ¢, assim, um convite para o expectadorfouvinte entrar na ‘experiéncia visual da capa do élbum, o empacotamento 0 re-emolduramento de identidades da mesma forma ‘empurra o expectadorfouvinte para o seu préprio tipo de autocritica. A associagéo com 2 art pop sé fez aumentar esse autorreflexdo, pois era dbvio que, na époce, artistas pop como Peter Blake estavam levantando questies dessa nnatureza no seu trabalho 4-~ Alta cultura e baixa cultura Defendi neste artigo que Sot Pepper marca um momento definitive das capas de albuns c, mesmo, ds histéra, pois exerceu, em diversas camadas, uma citica de representapao. Agors, quero problemetizar esta leitura ainda mais sugerindo que, se formos reconhecer 0 potencial critica da capa deste élbum, devemos consideré~ lo separadamente do contexto da cultura popular quero dizer com isto que a caps do élbum nao funciona 1a seare popular, muito menos que néo & primariamente tum objeto coneebide para 0 consume em massa. Ao contririo, sugiro que Sgt Pepper, ¢ 23 capas de discos fem geral, deveriam ser lidas como textos com ligagaes proeminentes ¢ irevogéveis a criticas de status quo de mancira semelhante ao que # teora citica coloca Em The Rest of you, if you just rattle your jewelry: the Bestlesand questions of massand high culture, Paul GLEED (2006, p.161) observa que "a misica dos Beatles foi, em resume, arte de alto nivel para o pilblico de masse" Se cesta afirmapao pertence especificemente @ musica que fizeram, podemos vé-le também como pertencente as capa: de album também. Ele sugere que esta observagao “parece representaro jeito predominante de compreender 4 posigdo dos Beatles entre ‘o pessoal dos ingressos baratos’ ¢ ‘0 resto’ " (GLEED, 2008, p.161). Além disso, 05 Beatles podem ser “vstos como instrumentos pars dessfiar « dissolver categoras tradicionas e restritvas como ‘arte de alto nivel e ‘cultura de massa’ * (LEED, 2008, p.162), porque trabalharam stivamente para realizar sus misica = © sua mensagem = acessivel a todos os piblics. As opinies sobre seus papéisnesse process, mais evidentes na capa do Sot Pepper, deixam claro sus etice gral sobre categoria: adjetivadas como alta e baixa Embora a distingao de Gleed sobre arte de alto nivel earte popular paresa suficiente, Leslie Fiedler também oferece evidéncias para considerarmos artefatos populares com capas de élbum com espagos de critics. No seu ensaio seminal Cross the border, close the gap, ela comenta que transformar Arte de Alto Nivel em vaudeville € burleca, no mesmo instante em que a Arte de Massa eta irreverentemente adentrando museuse bibiotecas €um ato que tem implicagées poltica ee:ttica: como um ato que interrompe uma eategoria [um corte, sisim come um histo entre geragbes.. que. intromiss do final do Rep na sears, da Arte de Alto Nivel propci, por so, pots para os eis exétem uma nova € emacionante pesibildade de fazer julzos sobre o “bom e 0 ruim’ da arte, sem ter de fazer dlctingbes entre “ato” e "axa" dentro de seu preconceto de clases dsimulado" (FIEDLER, 1897, p.287), Fiedlerobserva come textos ou artefatos populares parecem resstir és clossficagies «implirias, pos frequentemente sao perecbidas por pblicos que este fora de seu contexto orignal. Este € cxatamente o cenério da pop art © que faz com que muitos artistas pop lamentem que sua critica scja abrandada por sus inclusdo em muscu: ¢ cooptados pelos padrics de gost ds burguesia que ezencialmente transformaram em mercedoisUVINGSTONE, 1951, 160. Fiedler também chama a stengio pare a inadcquagéo de categoria: binérie como “bom” « “ruim ou “alto” € "baixe”,sugerindo que, 20 contrrio, cles fagam suas avaliagdesextticas sem consieraresss categorias como informativas ou relevantes, GLEED (2006, p.163), diz que 2 avaliagdo de Fiedler da situagio pés-moderna tem uma grande divida com os Beatles: “o ponto, é claro, no € que as mudangas no pensamento cultural, @ dissolugo entre as fronteiras entre a ‘alts’ cultura e de ‘massa’ foram intciramente dirigidas pelos Beatles, mas que ninguém mais pode dizer que fez mais para criar aquele ambiente’ Observando que “os Beatles trabalharam de baixo para cima... a partir de uma posigéo popular’, GLEED (2006, p.164), ‘ponta 0 momento de Sgt. Pepper como aquele no qual a distingdes entre que as culturas “de massa" e cultura “de alto nivel" convergiram, uma vez que a critica estava tio entranhada na misica que era impossivel ignoré-la, (0 mesmo também se aplica & critica ~ vinda de baixo, com de fato foi - entrincheirada em cada faccta da arte de fazer capas de discos: fotomontagem, pop art ¢ comprometimento com 0 produto comercial. Como tem sido por 40 anos desde o langamento do élbum, devemos estar atentos as nossas priprias crengas em relagao 90, legado dos Beatles. é neste momento que reavaliagées de valor e categarias se mostram mais relevantes aC oe" ETUNGER S.A. Alem da masia:epeasando Sgt eppe’s Lonely Hears Club Band. fer Mus Belo Horonte, 30,2014, 43-52. Referencias ADES,D. Photomontage London: Thames and Hudson, 1876, THE BEATLES. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Primeira edigio em 1967. Parlophone, 1987 (Disco de éudio). BLAKE, P. Liner Notes. In: Sgt. Pepper'sLonely HeartsClub Band. Com The Beatles. 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Come os Beatle: desmararamoenconte, mutas flor: ndo sit eo que zobou fei aranjado jor una acsetente da florea na formade em velo (GOLDMAN, 1988, 5.26). 5 Asesclhar dos peronagensyorcada um dos Beatles fl muito diferente: George Harréoninluu gursiniawos desc; ade Joh Lenton, 4 mat excntrica, acai Jct [no aprovado devo ao fanozoincfesteaeterorem que Lenton ze que oz Eeatle: eram ma populares do (ue o pracpal core do cretianiomo) e Miter, Faul McCartney se concent em instruments musica Ring prefer no somearniaguém (GoLptuan 38s, 9259, Sarah Etlinger ¢ Professora de Composigio, Literatura © Comunicagao na Rocky Valley College [illinois EUA). Possui PhD ‘em Retirica e Composigio (2012), com foco em estudos de novas midias, pela University of Wisconsin-Milwwaukee (EUA), Mestrado em inglés pela Syracuse University (EU), onde fo bolsista, e Bacharelado em Inglés pelo Skidmore College (EUA) Publicou, anteriormente, duas resenhas sobre os Beatles, um de seus temas favoritos, juntamente com novas midias € cultura popular Atualmente, desenvolve pesquisa relacionando o iTunese a aprendizagem de retrica por estudantes. Fausto Borém é Professor Titular da UFMG, onde criou o Mestrado ¢ 2 Revista Per Musi Pesquisador do CNPq desde 1994, publicou dois livtos, tres capitulo de livro, dezenas de artigos sobre préticas de performance € suas interfaces (composigéo, analise, musicologia,etnomusicologia da misica popular e educagio musical} em periédicos nacionaiseintemacionsis, dezenas de edigies de partituras e recitais nos principais eventos nacionais ¢ intemnacionais de contrabaixo. Recebeu diversos prémios ro Brasil eno exterior como soliste,tedrco, compositor e professor. Editou os nimeros 22, 23, 28, 29 30 da Revista er Mus, Conjunto com mais de 1.000 paginas de trabalhos académicos dedicados & pesquisa sobre misica popula.

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