Você está na página 1de 19

O LIVRO DIDÁTICO IDE,AL-

lõrn Kilsen

1. Déficit na análise dos livros didáticosl


Toclos os especiâlistas estão de acordo em que o livro didático
é a ferramenta mais importante no cnsjno de história'
Por isso' este
se interes-
recebe umâ ampÌa atenção inclusive por pârte daclueles que
significado para a a;lr'
sam pelo .nsino cle história na escola e pelo seu
('ultura conceda sua aprovaçào
tura política.Pata que o Ministério da
processos c1e
a lirrros clidáticos, têm*se colocado em curso diferentes
vivamente quais qualidades
inspeção e Nrtoriz^ção em que se discutem
interessados nos livfos
esses devem ter. Também os historiaclores estão
clicláticos. Eles têm vários motivos' Antigamente' o iivro
didático de

, lber - L)idartìta
RÜSI]N, J<itn. Iìl ìibto cle tcxttl icleal. Publicacìo na Rerj.çta
(ierttìas Geografìa e HiçÍrtria' NlonograÍìa: Nucvas ftontcras cle la historie'
rle las '\'ocìales.
dc F'dilson ('har-es e
n. 12, Àno I\i p. 79-93, a"ltr. 1'991 ' Traclução Para o P()ttu€pês
(1onçalves pachec. clos Sant.s. Rer.isào cla trarìucão: Nfatia Auxiliaclora
Ritâ de (.ássia
Schmidt. Artigo publicaclo nO número 14 da rer.ista lttternatìonah .lcha/bucltt'orschung

(1992). À tr^auça,, clo original ingtês fbi rcahztda por Lourdcs lìigotra' As reflcxircs
Èeit^s'"q,ri ,..,.,1,"ro- c1c uma colabt,raçào clc r.ários anos levacla a cabo pcla
(pmissão clo Livro Diciático dO l-zrncì de Norclthein-\I'estfalen. Nela se trabalhou
para anáÌises livro clidático em quc se Ìrnsciam mìnhas
um coniunto cle critódos c1t>
Comrssão aplica sistcmatìcamentc:
tcflexire.s. D. Schollc clescrcveu cstes critérios clue a
em H' SÜSSNIUTH (I-cl'): ('urhichtsunteritht
"shulbuchanall,se und Schulbuclikritik",
ìmuereinlain])eutscllan/tl.'Ln.fr]er'\'achenachNeuonenlìernng.TetlII,Baden'Bac1crr.1991,p'
mas ptoponho outra
275 283. t\prescnto essencìalmcntc os mesmos pontos
de
"'ista'
c.nseguit uma afgumentaçã. 6iclática
classificacàã sistemática c.m a c1ual se p.cleria
unívoca cla anáÌlse clos livtos dicláticris'
| "ljlro rle texto", "nantta/es c-rco/ares", "nanaahs", "/ìbros esco/ares"' "hbro rlc
en.reiìan\a" ir>rtmtrurcluziclos por lìt,ro r/ìr/álìto,:,isantlo
unil ,l'mizar a tfatìuçàrr c facilitat
a comprccnsào tlo tcxtrl.

109
Jrirn Rüscn

hist<iria erâ utÌì cltts canuis rnais irnportânteìs píÌra Ìer-ar os resr-rÌtaclgs
cìa inr.estigaçào histririca zìra'íÌ cLrltr-rra hisrririca rìe sua sociccìaclc. ()s
profissionlis clcr-cnt scrÌ-ìPrc tonrul clritlatlo, prcster efcrrÇào c ilsrstir
cm que, na meclicÌa cÌo possír-cl, o cstacÌo cle invcstigaçrìo cÌc sr_ra nratériur
chcguc scm grancìc cÌemora acls ìivros cliclátictrs. ()utro rnetilr.Ìc scu
intercssc rcsicìe cm scu mocìr cÌe cntenclcr , aÌcance prático d, sabcr
procluziclo peÌa sr,ra invcstigacão. Na mcclicla cln Lluc sìo r,:t.,r.rscicnte s cic
cluc o sabcr histtirico tcm, c até qlre pont() Lrma fr-rnçìo rlc orientaç:ì.
cuÌturai na vida dc sua sociecÌaclc e cluc () cun-iprimcr-rto clessa fr-rnçào c
em si rncsmo um cxercício clo tralralfi. hist<irico cicntífico pr,fissi,r-
nal (faciÌitac'lo por meio cla her-rrística c1a invcstigaçào), csta nào pocìe
clcixá-los inclilercnrcs sobrc clual apÌicacào sc faz cìrs crnhccimcnto,.
históricos nos livros clicláticos cle histciria. Finalmentc, c()m() c()nrenl
porâncos intcrcssaclos na política c, frcclucntemcntc, coln() pcssoâs
comprometiclas com eÌa, intcrcssam-sc peÌo livro dicllitico porcluc cst:ìo
sempre cnr.'olviclas nelc, também, mensagcns poìíticas, pois o cnsino c1c
história c uma clas instâncias rlais importantcs prrx:r tormrt,ì, p,líti-
ca. Naturalmcntc, os qr,rc cstão mais intercssaclos nos lir,ros clicìáticc.,s c
os que mais intensalnentc sc c)cupam clcles sà, tis
;rr<ipri,s profèssores
c profcssoras, c p()st() cluc zr cÌcs tcnha corrcsponcìicÌo a.té o momcnto
uma participaçào rnínima, scria muito útil s'a colabrlracão em um clc-
bate cspecializad. c aberr. s.brc .s li''rrs ciicÌátic,s cle história.
Tcncìr (ìm c()r1tâ cstc granclc intcrcssc, é s,rprcencrcntc cluc s<i
existarn alguns csboços clc um paclrào prclÍìssional bastantc cliscuticlo
sobre tamanho, frrrmls, c,ntcútl.s c funcrics clo li'r, clc históriar. Ír
sintornátic' quc Íìo âr'bito alcmã, - à cxccçà. cìc algr-rns cxcmplrs
cìign's clc atcncã.i - nrì' haja ncnhuma granclc ,bra cm c,luc sc clc-

I ScirolÌc cornpilorr a litcrlttult espcci:rlizail:r nrais


inrportarrrc. (ìornparar
a brbliograÍìt sobrc o lelra c1Ìì "lntcrnationalc SchuìÌruchiòrschu1g. Zcltschrifì (lôs
(ìcorg cckcrt Lrstitr.rts". Prr.r nnr.r f,,rììp,rÍ.ìcì() rÌÌrris lÌ1ììpla, r-eja
h. ÌÌìa)lll_l(_l l.
l)as Sclruibuch. In: I)r\NI)[rl-, ll. J.; s(-lt\IÌiDIilì, {ì. (ErÌs.). ]Irtnrlbtrtlt ,\[t1ìtn ìyt
(,r:.rclLitlt'ttutcnicl.tl l)iisscÌdorf, 1985, p. 91 11,1; lìlrR(ìlJr\Ì
lN, \,1 R.; SCHI_ÌrSSl_IrlÌ.
I I. (lrcls.) l)trnftirtu.r o/' I1ì.çhtrt'. lnternltionrÌ -fcstìrooli Iìcsc:rrch on Britain, (ìe rnr:rnl
:rncl tlic I lnitcrl Statcs. ( )rÍìrrd. I 98i.
r Èì()RIìllìS, lJ.
t't>n. I)roblt'atorttttlìtrter (,t.;t/tir:/L/.çunh,nìt\/. .\'rlttrlbuthkrìtik: trnl
.\'rLullutltru'ì.rìon, rlat s'.çtt,//t ttt Brì.rpic/ rÌtr rúlì.rtlrn llrpo1,Jlr. Stutteart, I 9,g0.

110
.Jôrn Rüsen e o Ììnsino clc llisttina

senvoÌr-em sistcmaticamentc ()s cdtérios Plrfa análisc cìo livro didá


^
ticg, se dcmgnstrent suas utilicÌaclcs práticas, sciam traziclos exemPlos
práticos de anuii . .1os tncsntt)s ()u Sc tir-crn concÌusc-rcs clos rcsultacios
clas análiscs para a prática cÌe sua eÌaboraçãg. Naturalmcnte, em tocla a
Rcpública Fjeclcral Àlemã são feitas investigaçires sobre os livros didá-
ticos. Nestc câmp(), o lnstituto para a Ìnvcstigaçào Intcrnacional sobre
os l-ivrgs Dicláticos (ìeorg Ilckcrt conseguiu uma grancle reputaçàrr
tânto em seu prirprio país como fcrra dcÌe, umâ vez que, mediante uma
análisc comparacla dos livros clicláticos, contribuiu granclemente pâra
eÌiminar prejuízos históriccis e polítìcos entrc ()s clistintos pziíscs e na-
çr-rcs. Contudo, o ttcunclo trabaÌho c1c investigliç]'
cluc aqui cxpr'mos
ìirnita-se e uma cfítica cientíÊca da rcprcscntzrçãcl e intcrpretação histri
ricas c1-rc se cncontrâm nos livros clidáticos.
No campo dos textos dedicaclos â temas hist<iricos os livros
clicÌáticos constitlÌcm umâ categofia bem deÌimitada, cuias caractcrísti
cas sào clcÍinicias pelo seu uso nas aulas cle hist<iria na escrlÌa, ciue pef-
mâneceu em grzrncle parte excluída cla maioria das análises. () aspectc-r
clicluitico cspecífìco da análise do li.,-rc clidático ain<Ìa rcqucr, pois, um
cstuckr aprofunclaclo c concreto cm clois nívcis: o tcirrico, em cÌue sc
clarào uma explicação e Llmâ argurnentação cios pontos e dos critérios
cle análise aclecluados à cspccitìcidac'le cl<l livro de história e, naturaÌ-
mcnte, 6 cmpírico, cm cìuc se trâtará dos c<inheciment()s, orclcnadgs
sistematicamcnte, clue der-erão ser aprrifunclados c da configuração que
thes será clada.
)Ias zr ini.-estigação aincÌa possui outrtl ciéficit muito mais gtavc,
que rcsicle em outr() âmbitci: quasc não cxiste investigação empírice
s<tbtc o us() e o papcl clue os lir.rcts clicláticos dcsempenham vercìadei-
f2ìmcntc n() pf()cesso cle aprenclizagem em srlr tle aula. listc c]éftcrt
é ainda rnais sério se considetarmos que scm cla não é possíl.ei uma
anrilise complctâ cìos livros dicláticos.
Âté agora não sc invcstigclu, cÌe maneira mais sistcmática e
contínurì, ,,s c,,nhccimunt()s Liut, ()s Pl'()lcssÍ,rcs t proltcssoras vcm
acumulanclci em suas aulas sobrc as possibiliclades c limitações cla apli-
cação clos livros clidírticos, peio mcn()s no qlle se rctcre à análisc clas
clisciplinas envoÌvidas nos li'u.tos clicliticos cie história: a historiograÍìa c
a cliclática cla histtiria.

111
Jórn Rüsen

As reflexões seguintcs estão marcadas por esta lacuna. Frente


à satisfação empírica, r.crdacleiramente inclispensável, do conceito cìe
como deve ser um bom Ìir.ro clidáuco de histriria, cstas reÍlexires se
manterão em um plano puramcnte heurístico, isto é, terão uma atitude
de suposição interrogatìva. Ao mesmo tempo, irão propor abertamen_
te a reivindicação de umâ ergumentaçào estabelecicla sistematicamente
que emane da verdadeira ÍinaÌidade de um livro de história: tornar pos-
sível, impuÌsionar e favorecer a aprendìzagem da história.

2. Os três objetivos da aprendizagern da história

() livro de história é o guia mais importante da aula de his_


tória. Por este m'tivo, deve-se partir da perguntâ do que se pretende
conseguir atrâvés da aula cle história. Neste sentido, é impossível uma
análise do livro cÌiclático sem alguns critérios normativos da aprendiza-
gem da história. como se deve desenvoÌver estes critérìos sem cair em
perigosas divergências políticas ou em polômicas? para resp'ncìer com
êxito a esta pergunta, demonstrou-se que a avaliaçãct da consciência
histórica dos alunos resulta em uma peça cha'e. A consciência históri-
ca é ao mesmo tempo o campo <ìe ação e o objetivo da apren<Jizagem
histórica. Pocle-se descrever suas operações mentais mais importantes
e, também, pode-se levar em c'nsideração suas funções na vida prâúca
antcs de todas as divergências políticas que sc podem argumentâÍ so-
bre o alcance e a clireção de sua realtzaçà<>. Neste sentido, também se
pode discorrer co''Ì âr[r]mentos válidos e um amplo consenso sobre o
que dc'eriam saber .s alun's para se consiclerar que foi alcança<ia uma
aprendizagem histórica satisfatória.
Em resumo, a cclnsciência histtirica pode ser descrita como â
ativiclade mental da memória histórica, que rem suâ represcntaçào em
uma intcrpretação da expcriência do passacìo encaminhada cre maneira
a compreender as atuais concÌiçires de vida e a desenvolver perspectivas
<le futuro na vida ptâtica crnformc a expcrìência. o modo mental cles-
te potencial de recordação é o relato da história (relatar não no senticÌo
de entender umâ merâ clescrição, mas no sentido cie uma forma cle sa-
ber e cle entencÌimento antropologicamente unir,'ersais e funclamentais).
Esta forma narrati'a que oferece uma interpretaçã. cla história do pas-

112
Jiirn Rtisen c o fr,nsino clc Flistórie

sadri representacÌo cumpre uma função dc orientacã() ptrra a vicla atual.


[.,sta função se reaüza como um âto de c<lmunicação entrc prtldutorcs
c feceptofes clc l,rs.orias. P<tr isto, o 2spccto comunicatir'6 cla memótie
hist<idca é tão in-rportânte, p()rque é atrar'és da narrativar (e cia percep-
identidacle em
ção) clas Ìrist(lrias que os sujeitos articulam sua própria
uma clìmensão temporaÌ em relação com oLÌtfas (e ao articuÌá-las se

frrrmam) e, ao mesmo tempo, adquirem identificadores cle direção (por


exemplo, persPectivas cle futuro) sobre critérios de fixação de opiniãrl
parâ seu prtiprio usos.
A aprenclìzagem cla história é um pr()cesso de clesenvoÌvimen-
to conscìência histórica no quaì se cleve adquirir competências da
clzr
memória hìstriricaó. As cctmçretências que permitem efetr-rar uma ideia
cle organização crr)nolirgica que, com umâ coerência interna entfe pâs-
sacìo, presente e futurct, permitìrá organizar a própna expedência r1e

vicla, são âs mesmâs comPetências de ciue se necessitam para porler


receber e tarnbém para poder procluzir histiirias. Entre elas, a capaci-
clade c1e rcfletir sobre os ccinhccimentos histtiricr.,s quc pr()porcionam
à prripria existência clarezt de cluaclros cronolírgicosi e, também, a ca-
paciclacle de construir a prtipria identiclacle com os polltos cle I'ista que
pr<>piciam uma prcllonuaçào tcmporal c1ue, supcrando tls limites <Ìo
tempo cle vicla pr<iprio, r'oÌte ao passado c alcance o futurcl'
Às capaciclacìes para c,'nscguir este tipo de orientação da ex-
periência cle vida atra\,és da memrjria histórica podem ser sintetizadas
pelo ct,nceito cÌe competência narrativa. (,onsistent nâ facuiclade cle
..pr"r..rr^. <t passaclo .le mancira tão clnra e descritiva clue a atualicla-
.i. .c ..r...,..te em algo comprcensír-el e a prripria expcriência cle vicla
aclcluire perspecti\ras dc tìturo sciliclas. lìsta competência fundamental

1 i\ paÌavra n(trr(tL.ión f<ri tracluzida como "narrativa" para ptesetvar a itÌeia


clcl autor.
. (_rmpar.t c()1n R()'fT(;-DRS, Ii. (ìcschrchtscrzàl.rlung als liommunìkativc.-
Ttxt. ln: eflÀNDï S.i II. SÜSSNIUT'Ìl (trcls.). Hì.çtotische.ç I;.ritih/cn. ]irtntten atd

I:ttnktìonet. (ìiittingcn, 1982, P 29 49.


(,
Para antpliar csrc ten'Ìu, \'cja RLISEN, -[. Ansitzc zu eincr 'Ì'heorie dcs
lristorischcn l-crtrens (;errltlJ)/!di(/ükÍìk, 1tì' p' 249 265' l9iì5, 12, p 15-17' 198r'
' À exprcssiìr t radìop,niLnt,hìa.r ronoltigìLa.t foi tratluzicla por "quatìros
cronokrgicos", rcspcit:rnclr sc ls itìcias tltt ltttlot'

113
Ji>n-r Riiscn

da crnsciência histririca, (llrc c 1Ì (luc sc pretcnclc cluc scja aÌcançacla


mecliante a aprcnclizagcm histririca, p.cie ser clj'icìicla em trôs com-
pctôncias c1r-rc fazcrr rcfèri'r-rcia, rcspcctir-amcntcì, â() ,Ìspcct() enrpírico,
teóric, c prátic, cla c..sciência histririca: cm Lrma c'mpctência per,
cepti'a
'u embasada na cxpcriência, cm Lrmiì cc)mpctôncia interpre-
tatir-a c, finalmcnte, eln ufiìa competôncìa rlc oricntacà<t. z1 conpelincìa
perceptìt.w rn enba:ada aa exlteiência consiste cm saber percebcr o passaclcl
como tzrl, isto c, em seu distanciamento c cÌifcrenciaçào do prescnte
(altcriclac'lc histririca), ern .,'ê-Ìo a partir cio h'rizonte de experiôncias clcr
presente c()m() u11"ì conjunto clc rr-rínas c tracìiçào. ;\ cortpetincid ìnlufre-
lalìt'd c<tnsistc em sabcr ìntcrprctlr () (Ìuc telÌ()s pcrcebicÌo com() pâs-
sado em rclacão e conexào cle signiÍìcado c clc senticl() c()m a reaÌiciacle
(a "Histriria" ó a cncarnacào suprcma clcsta ccincxãr). Iiinalmcntc, a
conpetâncìa de oien/açrìo consiste em aclmitir e integrer a "Hist<'rria" comcr
construçã() c1e scnticlo com o conter-rclo clc experiôncias ckr passaclo, no
merc() dc orientação cr-rÌtural da prripria expcriôncia clc r-icla.
Naturaìmcnte, na :rtiviclacìe mcntai da c.nsciência hist<irica a
clifercnciaçãr) clìtrc perccpçào, interpretação c oricntaçàos é fictícia, as
três operacircs sc ílprescntâm em uma corrclacão estrcita, inclusir.e sc
sobrepirem continuamentc; mas graçâs a cÌas pocìcmos cìimensionar clc
tal moclo o procedimenro dc aprcncìizagcm qr,re ó ;rossír'cl iclentificar
os resultaclos mais importentcs quc clcvc prricìuzir um lir.ro cìiclático no
pr()ccss() cle aprencÌiza{Ìeüì na sala cle auÌa.
Ìr particularmcnte imp.rta.te a cliÍèrenciacà' entre pcrcepçàcr
e interpretaçà'. ()u seja, csta pcrmite clue aig. c()m() () saber histcj-
ric, apareça com' pr'cÌut, cÌas opcracires cle ccinstrução c1e scnticlo
cla consciência histririca e, a() mcsÍÌlc) tcmp(), proporciona uma fàÌsa
qualidacìe cliclhtica, a cle scr uma cspécic cÌe pccluena unicÌaclc clcntrri
clci pr,ccsso cle aprenclizagcm. (ìrnsìclcracla crm' síntese cÌa perccp
cãr, experiência c intcrprctaçà., a aquisìção cìe c'nheciment's acìqr,rirc,
c()1Ì1o processo clc aprcnclizzrgcnr, uma dinân-rica c uma complcxiclaclc
cspcciais, c s()lnenrc à Ìuz clcsta clinâmica e clesta compÌcxiclacìc pocle
rà' ser idcntiÍìcadas e a'alisadas as cluaÌicìacles neccssárias clue cìevc

' l',tn nluitos scnriclos, corrcspontìc ìr rìi tclt,rrcilçìo cltrc .lcislranl estlÌreÌccc
t lltrt .ttt:ili<r.,,pìni:r,' r r.1l'r1,11 1',.

114
Jotn Rúsen e o I''t.tsitro cìc I listtirirr

tcr um livro ciiclátic() Par?Ì


cumptir sua tìnçào clc guia clcr
qlÌc p()ss21

processc) cie aprcnclizagem histórica etn sala cie


aula (para cÌizer meis
()u me-
cxatiÌmcntc: :'rÌ (ltÌe possa clescmpenhar sua tlrcfa com tnais
[):
nos êxito).
do
Na cttntinr-raçiro, gostaria c1c expor uma lista das clualidades
três climensòes
lir.ro cle história, orclenada sistematicamentc segunclo as
(,om isto,
mais importantes da aprcnclizagcrn cla consciência histririca'
gc>staria dc propor as hnaliclacles clicláticas do livro cìe história, assirn
.,ro^ estratégia cspecíhca Pâfâ a anáìise l'risttlrica e didática
clcl
.,r-.,
üvro cliciático.

3. Aspectos da utilidade para o ensino prático

cla clifcrencilrcào proposta entrcÌ as três dimensõcs


<la
À p"rt"
ao caráter drr
apren.liragem, exìstem todos <ls aspectos que interessam
qucr clizcr' indepenclente-
livro clicì/.rtico como guia para a aula cm si,
cla
mente cìos cluc r.ã0 ser clc.stinaclos especiÍìcamente à aprcnclizagem
um
histiiria. Neste campo cle açãO, as caractcrísticas que clistinguem
bom livto ciiclático são csscncialmentc cìuâtr():
- um ftrrmattl clartl c estruturado;
- umâ cstrutura dícl/rtica clnra;
- um2Ì relação proclutiva c()m o aluno;
- ume reÌação com a ptática cla auÌa'
fjnrruato claro

c1o conteúcl<r
À tbrma extcri<lr já é clccisiva p^r^ ^ recepçã()
âpresentâclo ncl Ììvro (rcxtt'5 clc eutt'rcs' t-ontes clc
tcxtt'l e imagcns' ma-
pìs, .li^gramas etc.)' Scrào conYcnicntcs um mi>c]elo clarrl e simplcs'
lju'
urnl tÌisrribuiçà,, t.unre cstrUturiìçio clrrrs.lt totlrrS tts rnrterinis.
cia pzrra a clrientação na f<rrma cìc títuÌos e
incìicaçires c' também' um
q,-r. incÌua um íncìicc, um glossári. com explicaçires
rì's tel'm()s
",_rÀo
e nome.s mais importântes e uma bibhograhe com
lilros rfrt 'priedos
plm rmplilr ( )\ l('mts.

l15
Jom Rüscn

I'istrutura didátìta

() formato c1o livro c a cstmtLÌracão clc seus matcriais devem


estar configurados cle tal maneira que inciusive os alunos possam ser
c^pazes de reconhecer suas intenções clidáticas, o plano de estrutura-
çào clue forma sua base. os pontos mlis impottantes de seu conteúdo
e os conceìtr)s metoclológicos cle cnsino.

Re/ação cov/ a dlan(ì

Ern toda íì suâ esttutura, o livro cÌiclático tem que levar em con-
ta as concliçòes dc aprcndizauem clris alunos e aÌunas. Tem que estar
de acorclo com suâ capacidacìc cìc compreensão, e isto vale, acima cle
tucÌo, no que se tefere ao nír'el de Ìinguagem utilizaclo. Na Alemanha,
as pretensõcs exagcradas quant() ao nír.el de linguagem apücado nos
lir.ros clc hist<iria sc con\.erteram em um grâve problema. As elevadas
pretensrìes cientíÍìcas na cliclática cla hist<iria e seu enf<r<1ue bastante
cxclusivo da vertente cognitiva da consciência histórica e da aprendiza-
gem concìuziram a uma sobrccarga cognitiva nos textos cle ensino que
clificulta em grande forma sua recepçâo. Além clisso, a competência
entre os diferentes meios de cclmunicaçào red,uz. a capacidade e a von-
tade cle ler dos alunos e aÌunas. A rcÌação com os alunos, contudo, não
se rcduz a icl'ar em c()ntâ as possibilidades de compreensão. Toclavia, a
mâtériâ apresentada tem que guardar uma relação com âs experiências
e expectativas clos alunos e alunas, sobretudo com seu apego geral, es-
pecífico de cacìa geração, de suas próprias oportunida<Ìes na vicla, bem
como com as experiências cotidianas, como é a situação da infância e
juventude, clo coÌégio e tambérn clo conllit<-r de gerações. Contudo, as
experiências histriricas, interpretações e orientações do horizonte de
experiências e expectativas do aluno naturahnente têm que ser relativi-
zadas. L,xistem necessidacles dc orientação no coniunto da sociedade
que entram neste horizonte somente cle forma fracionacla ou parcial,
mas cuja consideração, apesar de tudo, é necessária para a aquisição da
competência de uma consciência histtirica aclequada à situação obietiva
das circunstâncias cla vida. Por outro Ìac1o, os alunr>s têm uma sensibi-
lìclade extrema frente aos pÍoblemas d<> presente, que os aduitos, de-

116
Jiirn Rüsen e o I',nsino clc llistóra

(ltlcrcm sc pernririr
mesiado enr',rlviclos nos mL'sm()s, nà'r pt'tìctn nt'm
âs intetpretaçòes
ter. De toclas as manciras, sc exìste uma relaçãO entrc
pre-
históricas aprcs|r.it.rcl..s no livfir c os problemes cle rlrientaçào
c1o
c1c ensinri
sente, esta contribuirá consicier,.rvcÌlncntc Parâ o prltcncial
adequaclos
do li.,r.r. A questão sobre sc ceft()s conteúclos histtlriccls
são
contrì-
ou não por" .,- livro clidático dcpende ckr gtau em quc estes
buamparaacompfecnsãocltlprescntccâsopclrtunidadesr.itaisdas
criânças e iovens'
Ao se dlrigir a<ls alunos, não sc cleverie csqrìccet quc a cxpe-
que se
riência histórica tem um potencial prtiprio dc eucantamellt()
() cspanto ea
po<le aproveitar como oportr-rnidade dc aprenclizagem'
que se
ilif...r.^ç" <1, passaclo podem ser apresentad.s cie urna maneira
e
acrecÌita sef ìnteressante e crÌfi()sa. Precisamentc as crianças iovens
histtirico - são fáceis de
- sobretudo nos primcift)s enos clc ensino nâ histciria'
fascinar meciiante as cxperiências do difetente
Um mcio provado para estabeleccr uma boa relaçã<l com o
aluno é clirigir-se a elc explicitâmente' Deste modcl' pode-se iustificar
a seleçãcr clo tema, pocle-se cxPlicar a Perspectiva cscolhicla
pan a ïn-
tratâ conteúdo' então os
t..preìuçã., e, se se faz O mesmt) quando sc ct
clo aÌunc.r
alunos o Ìevam a sério quanckt devem fa.zê-l<> e a re f-erôncia
que' em lugar de
perde a odiosa conotaçãà de uma merâ tática clidática
i".,r.rh..", nos alunos uma necessiclade de ctrientação histórica real-
mente própria e inclusivc "muito individual", somente os
obriga a acu-
mnlar conhecimentos pOliticamentc e cientillcamentc autorizaclos.

Re/ação com a íl/,t/a

Umlir,.ro<ticláticos()mcnteéútilsefealtnenteseptlcletrabaÌhar
com eÌe em saÌa cle aula. P<>r isso, suâ carâctefística colÌìo
lil'ro de traba-
clo grupo
lho é irrenunciável. um livro cliclático - indepcnclentementc
cla l-ristória
ao quaÌ se diriia - que contenha somente uma exposição
as competências ante-
será completamente inadequadci PaÍa cstimulzìf
ri(xmente mencionaclas. Instigará como pr()ccsso de aprenclizagem
a

mefâ fecepção de conhecimentos c sc clescuicla inadmissir'.elnrente


cl<l

lado ativo e produtivo da consciôncia hist<irica. À capaciclacle


cle iulgar
altamente aceito) d<l
. nrgrr-"rl,n. ó um obietivo irtenunciável (além cìc

117
Jrirn Riisen

ensino cìe história c csta nà() poclc scr alcançacÌa mcciiante ume rìcra
exposição clue nào ccclc cspaco nos aiunos c alunas pare cìescnvolr-c-
rcm sua capaciclaclc cìe argumentar, criticar c julgar.
f:,xistcm clifcrcntes possibiliclaclcs clc clescnhar um livro de his-
triria crmo um li'r() de trabalhr. Sr-ra relacào com 2ì sala cic aula p.cle
ser conseguicla baseanclo-se sLlâ estrlÌtura nas uniclacles cle ensino. A
aprescntação dc cÌocumcntos c o estímr-rlo à intcrpretacìO pctcÌem pre-
valcccr sobre o elemcnto clos tcxtc.rs cÌc autorcs, cìe moclo quc os alu-
nos e alunas (com a ajucla cìo professor) der.em claborar sua prripri:r
exposicão com () material cìisprnír'cl. Tambóm é possír,.eÌ clcscrer.cr cr
tlitìrtnte níì ('xPosiçit, dc trl l,,rnrr (luc xpr(.s(ntc umr interprt.tlcìtr
hist'ricamcnte inteiigír.'eÌ qlÌc se subrneta à consiclcraçã' d.s aÌunrs
e âÌunâs. (.rtm trrtlrt isso, o lilro ler.ará cn1 c()ntíì iÌs cxlcctíìtt\.íìs pr()-
funclamente arraigadas clos aÌunos (c clc seus pais, ;rara não tàÌar clos
professores), e, claclo quc usríì cxfcctâti\-e tlmbém é uma Oportuniclade
clc aprencÌizagem, ó pcrfcitamentc aceitár.ci. T<lclavia, a exposiçào tcn-r
cìue ser acompanhacla cÌe matcriais qric não scjam nteras ilustracòes e
confirmações da exposicào. (-omo regra geral, o lir.ro cliciático cler.e
ofctecer a possibilicÌacle clc vcrificar as intcrprctâc(-)cs cÌaclas c cìe elabcr
rar interpretaçòes prriprias, ou melhor, meclianfe a prripria intcrpreta-
ção, estabcÌccer c()ntext()s histtiricos com bâse na clocumentação dada
(junto à exposição clc ar,rtorcs concrctos ou c()mplemcntares a cle).
LIm meio cluc se clemonstrou rnuito cficaz par,.r encorajar a
aprenclizagem âutônomâ são os trabalhos clll cluc se pecle aos aÌunos
a c()ntinuâção cìas exposiçrìcs c cìocumcntaçrìcs, o cluc pcrm.itc cluc e
rclaçào com â aula seja paÌpár.cÌ clc irrrma inrecìiata. Para isso tambóm
clc'cm cr-rmprir uma séric dc c.ndicões rclacirnaclas c()m a utìlidaclc
p^t^a prática na sala de aurÌa cÌcls matcriais r,rsados: têm cluc scr clatos
c precisos, coercntes, tcm que lpr,x-eitnr todo o materiaÌ, clcr.em tcr
uma função clidática e metocloÌ<igice rcconhccír-el, levar em conta íÌs
cÌifercntcs exigôncias c objetivos cìe aprencìizagcm n()s rlifercntcs ni
veis, praticar âs capaciclacles met()clológicas c praemáticas, assim como
estimuler o entcnclimento clas tcÌaçires e categ(xi,Ìs cle orclcm hist<irica.
Dcvem, acìcrnais, cr.itar lcrguntes sugcstiles e clc cÌccisrìo, porcluc clas
limitariam um clcmento clccisirc cla aprencÌizrgcm: r íìut()n()lnir, rì câ-
paciclacìe r1e pensar por si rnesmo e de argr,rnìentar.

118
fiirn Rüscr-r c o Iìnsitro clc Ilistorta

4. Utilidad e p^ra a percepção histórica


tle-
r-rtilir,.rt.c,lc um ìivro diclátict) Pâra â pcrcepçlìo l'ristoriclr
'\
penclc cssenciaÌnrcnte t'lc três caractcrísticas:
(|s mâterixis;
cla maneira em cluc se 2presentâm
pìuriclin-rensionaliclacle em que se íÌprcsentam os
cclntcú
- cìa
dos hist<iricos;
- cla pluriperspectir'ìdaclc de aprcscntação histdrrica'

Apre se nl tt çà rt do-ç ru a teiaì s /L ì'çtó rico s

Sesec<lnsiclcfâf2Ì2Ìprcnclizagct-r.rhisttiricaS()mcntcC()m()um
nà() se âproveita um impor
pr()cess() cle aquisiçãti cle conheciment()s'
t^r-rt. p.,,t.r-,.iai cle aprcnclizrrgem: â Percepçà()
.u cxpcriôncia cla histti
ria. llita tenì Lìlr priler prirpri' cÌc fascinaçã', s<tbrctr-rcl. a' nír'cl tla
as crianças e iovcns, e
contcmplaçãO sensível. Particr-rlarmente cntfc
lc'acla
hist,i.iaìcÀ c1r,re se clirigir ?ì()s scllficlos - LÌmâ nccessicìaclc P()LÌc()
os lir-t<ls cliclátic'rs
cm c()ntiì na aula traclicional clc histtiria' Tan-rbén'i
cìe clue a estética')
partem com clcmasiacla ftequôncia cìo preconccito
alhcio à cxposição cle raciocínios históric<ls e não um
fator cle
é
^ig., , m.cl. c()lÌìo âPrescntam () passacÌo, me
t..rci|cíni. mcsn-ì(). Nlccliar-rte
cÌcYem incitat as PefceP-
cliante cliferentcs mareriais, Os livros cliclátictis
hist<iricas. 'fêm quc abrir os olhtls clas ctianças e
çites c cxpefiônciiìs
à. .1if....,ç". histriricas c às cìiferentes qualiclaclcs cla r-icla huma-
ir.,.,..
nâatfâvéStlostcmPOS.Pclrtanttl,nãoclevemit|fcscntrfunicemcntcas
as pcrcepçircs jn assimilaclas
experiências histtiricas iá interprctaclas e
cle fÌrrrna coqnitivrl.

lnagen.ç

Àsimagcnstèmaquiumafunçã<lnruitclinrpclrtantc'Durantc
prlróul na
muito tcmpo fbran'r usaclas s()mcntc para fins c1c ilustracão,
alcançaram uma importância
procìr-rçio mais recentc cle lir.ros cliclátic<ls
(-onscqucntemente,
cfesccntc e umâ autonomia em rclação ao text().

,N. rcrr. cn csprlhel rt palatl:r grlLÍìcll ó "cstriticrr" cm r-ez tÌc "estóticlr"'


rtsacÌa ncst:t rratluçào'

119
-f
iirn Rüsen

nã, der-em ter a mcrâ funçìr .Ìc il.straçà,, rnas c'nstituir a frrnte c,le
uma experiência histórica genuína: cle'cm aclmitir e estimular inrcr_
pretâçòcs, pclssibilitar c()rÌìpíìrrç'-)cs, mas s.bretuci, fazer compreen
dcr a.s alunos e ah-rnas zr singularidacÌe dâ estranheza e o cliferente
dcr
passado em comparâçào com a experiência cÌo presente,
e apresentar o
clesafio de uma cornpreensãa interpretatir-a. Naturarmente,
que se lhes
imponha como .brigaçào clue fascinem esrcticamenre ,s alunrs
nã.
cÌeve implicar que as imagens nào guarrìcm ncnhuma relaçào
reconhe_
cír'ei cr>m os textos e c()1TÌ os box ou caixas cle tcxt. que as
ac()mpa-
nham. NIas, sua fascinação cleve incitar que r âmbit' c1e experiências
se
estencìa â outros materiais c a interprctar a pcscluisa .*
ao,l" câs() pof
meio dos clementos cìa apresentação.

Mapas e e.rboços

()s mapas e esboços sào muito parecidos


às imagcns, mas ao
lnesmo tempo mais abstrat's c limitacì.s. IÌusttam a <ìimensão
espa_
ciaÌ clos pÍocessos histciricos, e ist. crìa clifícii problema
cle ccirno a
apresentação estática de um mapa pode faz,er' chegar a.s scnticìos dos
alun.s a extensão e a muclança no temp(). Ilasicamente, ist'é possír.cÌ
mediante símbobs do m'r-imento c s'rnbreacÌrs em .,rr, p,r.â-
..-
clemasiada frequência o processo histórico nâ aprescntaçã.
mecÌiantc
mapas se convertc cnl um t aÌor estático.
ìlste clomínio cio temp' também para as estatísticas e os
'.ale
gráficos. Sc cstes ilustram fenômcnos sincrônic<.rs, cÌer.em contcÍ, na
meclida do p<;ssível, inclicações ciiacrônicas, a saber, clc'em
se refcrir
a.passaclo e ao futur. para que .s alunos e alunas tenham em
mente
o contexto cr.n.lógic' n' cluar se r.carizam os fatrs histriricos apre-
sentaclos.

'fextos

No que se retcre aos tcxros. em primeiro lugar é importante


clue fique muito claro scti valar cle experiência, ist. é, .1ue
se cÌehmitem
cÌaramente c1a parte da aprescntâçã.. sc h.uvcr tcxtos hist'ri.gráficcls,
cstes têm que ser claramente clifercncìac{os cla prripria clocumentação.
De'ido à circunstância de quc ()s tcxt()s clevcm rransmitir expcriências

120
Jcìrn Rüsen e o Flnsino clc Histririr

e apresentaï o passacÌo efiÌ sua singulari<Ìade e suâ diferença temporal


com o presente (e quc, no mais, cclm eÌes se devem ptattcat ()s pr()ces-
scls metocìolrigìcUs cl., f-orma de pensar historicamente), cle nenhuma
maneira devem servir excÌusivâmente para ilustrar a apresentâção. No
que diz respeito a suâ extensão, tampouco devem ser tão curtos de
modo a não transmitir uma ideia real das circunstâncias da vida passa-
da. Finalmente, têm que cobrir os âmbit<,rs de experiência mais impor-
tantes. Pata eles é válido o mcsmo que para as .imagens: devem possuir
aspecto atrativo e estimulante, devem induzir a Perguntas e devem ser
interpretár.,eis em relação act problema. Sua função como elemento cìe
referência pârâ as interpretações históricas deve-se fazer clata median-
te trabalhos que não somente descubram seu conteúdg de informaçà.l,
mas também o valor que âs diferentes informações tenham no contex-
to histórico global.

P luralìdade da experìência hi.çrórica

Um livro didáttco cìeve apresentar as dimensões mais impor-


tantes da experiência histórica. flstas climensões se rcferem à estrutura
sincrônica e diacrônica do espaço da experiência histórica: partindo do
ponto de vista sincrônico, trâta-se dos âmbitos de experiência: Ecgno-
mia, Socieciade, PoÍtica e Cultura. O cotidiano e as experiências dos
afetados por cada âcontecimento concreto não representarn um âmbi-
to próprio da experiência histórica, mas peïtenccm a um entcndiment<l
mais amplo da cultura. Não é assim no caso da problemática cnvol-
vida. Atrar.'essa as diferenças mencignadas e cleveria se definir como
um campo cle ação próprio da cxperiência histórica. Na apresentaçàtr
destas dimensões cie experiência, suas diferençâs e suâ reciprocidade,
suas correÌações internas e seu Potencial de transmissão têm que apâ-
fecef nâ m^téfi^ histórica apresentada. Partindo do ponto de vista dia-
crônico, tratâ-se do nível temporal de mudanças em longo pr^zo no
nír,el clas estruturas de ação, pof um laclo, e mudanças de curto prazo
no nír,el dos ac<>ntecimentos, por outro. (ìompreende-se que ambos os
níveis cstão inter-relacionacii>s e que estas relações internas têm que se
fazer palpáveis.

12t
Jiirn Rüsen

P la rip e r.rp e ctì ú d a de (ao n i re / do s qfe tada.r )

A princípio, a experiência histórica clcvc apresentâr-sc a pârriÍ


de r.'árias perspectivâs. Por meio dos materiais adequados (porém, tam-
bém com a exposição), tem que se demonstrar aos alunos e aÌunas clue
o mesmo fato pode ser percebido pclos afetacÌos dc forma cliferentc
e inclusive con''râ-i^. Portanto, para âpresentar a experiência histórica
partindo de várias perspectivas, os conÍìitos serão particularmente ade-
quados. (ìraças a este tipo de exposição, a cxpctiência histririca perde
a tàisa aparência de obietir-idade; o passado ganha em vitaÌidaclc c esri
mula, incÌusive ântes cla percepção empírica, uma ativicÌacìe interprcra-
tiva da consciência histórica clos alunos e alunas. Não thes rest2ì olÌtrâ
alternativa senão opinar de forma argumentetivr.

5. Utilidade para a interpretaçã,o histórica

Somente por meio cÌo trabaiho interpretativo cla consciência


histórica os tcnômenos perccbiclos do passaclo se c()nvcrtcm em his-
tória cheia de scnticÌo e de significado. Ilsta intcrpretação afcra central-
mente o caráter histririco dos fatos clo passado a interpretar: os fatos
clo passado pcrcebidos cm cacla caso clevcrn ser interpretados comcr
histriria no contexto temporal junto a outr()s 1ãtos. () livro diclático
del-e proporcionar a possibilidade clc rcalizar estas interpretac<'rcs clcr
uma mancira concretâ:
- as interpretações cÌer.em sc corresponclcr com as normas cla
cii ncir hist,irice;
- nelas der.em se excrccr as capaciclacics metodokigicas;
- têm que iÌustrar o carátcr cle processo c cle perspectiviclade da
história e, Íìnalmentc,
* na exposição histórica clo próprio livro clcr.em ficar claras as
condições linguísticas decisivas para sua frrrça c1c convicção.

llormm cìentí/ìcas

()
fato clc cluc um livrci clicÌático clcl,c sc corre sponclcl' coln âs
n()rmes cicr.rtífìcas cla ciência histcirica não clcvc' sis-niÍìcll c1r-rc tenha

122
.f
rirn Rüsen e o Ilnsino cle FIistórta

quc rcÍìctir o clue â (-iência consicìera como () estâclo clos conheci-


nrr
nìcnt()s n() m()ÍÌìcnt() c()ncfet() cm cluc sc escfeve' l)ispensandtl'
111O1TìC11t(), 2Ì clLÌ(:!.r() ;Oltrc sc cstc estllclo
1ìxrl .ìc ct,nhucitncnt( ts c\istc
ou não, <i livro cliclático s()n'Ìclltc pricÌc abranger a investigação hist<iticr
(-ontudo,
como meio pârx c()nscglÌir scus lrns cÌicláticrls c específictls.
o liYro clidático cstá suborclinac'lo ao cstecl() da pesquisa como umâ
.,instâncja clc r.eto": não cÌer.c c()ntcf falhas, e istti signi{rca tembém
o
que não cleve eprcsentat intcrpretaçòes histtiricas quc c()ntradigâm
c.stacio clc conhecimcnt()s cientíhcos' Também em sLÌâ
mancira cÌc citar'
cm slÌíÌs ncttas, inclicaçires c'lc fcrntcs e cle Litcratura cleve cotrcspontler
tambérn
basicamcntc ,Ìos c()stlll]]cs cla ciência cspecializacia, e isto afeta
a 2Ìprcsentação clas fìrntcs, a iclentihcaçà<l clas abrcviaçiles' omiss')cs e

muclanças.

C rtft u i r/, r t l, .r nt t / a tl o /u 2ì,'a.r

corrclação real cÌO Ìivro cliclátict) c()m â ciência especializacÌa


,\
âPfesen-
se situa cm um nível muito clifcrente ao clo cstado de pesquisa
da cx-
taclo: O Ìivro cliclático dcr.e sugerif ulTÌ tfâtelncnt() intefPrctativo
metoclológicos mris
pcriência histórica clLìc cofresponcÌa aos ptincípios
importantcs clo pensamento históticcl produzicios pela histíiria corncr
mais signi-
ciôncia especiaìincla.'Itm cluc ePfesent,Ìf os proceclìmcntos
moclo que possa se excrccr
fìcativos cìo pensamento histtirico, e c1e tal
na prática: o clescnr'olvinlcnto clc probìemas, o estâbclecimcnto e
a

Ycrihcacào cic hipritescs, a invcstigacào c a análise clo material


histriri-
globeis.
c(), a âpLicâção crítica c'le catcgorias e pacìrõcs cie interpretação
lirnitar, cn-
I)er.e oferccer explicâça)es intcligívcis c verihchvcis, sem sc
trctento, a meras afirmações cle fatos, bem como evitar por princípiri
argun-icntações m()n()ceusais c insistir no fato cle quc a intcrpretaçìt.r
,\s-
l.,iitorica está abcrta p,r princípi. às arp*mentacclcs muldcausais.
sim, c]er.c aPre Sentaf <l ctrnhccit.ncnttl lrist<jrico cìc fclrma ârglumentxti-
r.a, c er.itlr clualcFrcr aparôncie cìc umtt cc(tc7.l clrlgmática c
clcÍìnitir-1.
Finllmcntt., r,s tÌutìr 's l)r(('i\:llìì s( l'(':llì:lr(S (l( iìfìrcn(ì(r flmbcm tluris
são as possiltilirlaclcs c Ìitnitlc;ircs tl() conhccitnento históricri:
clcvcm

sct conr,icllcÌr>s l t-cÍlctir solrt't lrrolrlctlllts r-r'rctrlcloltigicos e te<iricos'


embclreclcurn:rtìrt'rn:rrirrr1.l,st trrtìlr,1 tÌìL()st]lltnclamcntclsdicláticos'

I1.1
Jorn Rüsen

Caráter de proces.ro da hi.çtóia e p/uiperspectiuìdade ao


nive/ do ab.çeruador

Ilm sua oferta de interpretações pâra os alunos e alunas, o livro


didático tem que caracterizar a história como processo, er.itando ima-
gens estáticâs da histriria. lsto não é váÌido somentc para cada urudade
clo livro, nas quais frequentemenre se clescuida clo aspecto cla tÍânsi-
toriedade obedecendo ao manclamento de brevidadc, mas sobretudo
para o contexto global dos diferentes capítulos, e inclusive das difercn-
tcs partes cie uma obra de cnsino. Esta relação tem que se âpresentar
e mencionar como probÌema cle interpretação, e não deve resuÌtar so-
mente da estrutura e da mera sequência de temas. Se não se queÍ cìue
nâ apresentâção dos tcmas e épocas sc conceba (sem querer) a falsa
ideia "da" história como fato íìxo, então se deve mencionar como tais
as peÍspcctivas globais da interpretação histórica. Os alunos e alunas
devem ser capâzes de aprcnder que estâs relações sequeÍ se poclcm
estabeÌecer sem sua referência a seu pÍesentc, Llue as interprctações
históricas têm caráter perspectivo e que existem diferentes pcÍspectivas
relacionáveis de forma argumentativa que pociem e clevem ser compa-
radas cle frrrma crítica.
Também aqui se pode falar de uma pluriperspectividade, po-
rém, com uma diferença entrc a mesma nâ âpresentâção de experiên-
cias históricas, sendo que aqui se trata cle pluriperspectiviclade ao nível
das interpretaçr)es hist<iricas. Também neste nír.el o livro didático deve
proceder de fcrrma pÌuriperspectivacla, se pretende evitar atitudcs dog-
máticas na interpretação histórica.

Força de conuìc(ão da exJ>osìçãrt

Os textos de autorcs devem cmpregar-se de tal forma que com


eles se possam perceber e praticxÍ ()s xspectos antes mencionados da
interpretação hist<irica. Têm que ser inteÌigír'eis e suÍìcientemente su-
gestìr.os parâ trânsmitir a percepÇão e a experiência histórica e, âo mes-
mo tcmpo, clcvem evitar uma sobrecarga emocionai delida a tópicos e
a imagens de linguagem sugestiva. Sua argumentação deve ser c()crente
e c.levem Íìcar clarts, sobretucio, as diferenças e relaçôes entre juízo dos
fatos, hipritcsc c jr-rízo rìc vaÌores.

124
Jôtn Rüsen e o Ilnsino cle Históna

6. Utilidade patz- a orientação histórica

A pergt.rr a "Por que é necessátio aprenclcr a historia?" se tna-


nifesta como um desafio constânte na aula de história. A resposta a
csln pergunta nào devcrin scr rcscrladl a situlçires rxrâS C cxcepcionais
da aula, mas deveria f^zer p^fte da rotina da aptendiz.asem hìstórica.
Isto não signiÍìca que se cleva refletir continuamente sobre pcfguntas
cle relcvância pfttic , mas somente quc na rcahzaçàCt de interpretações
históricas deve-se mencionar sua função na orientação da vida pre-
sente, nâ explicação histódca do presente e nâs pefspectivas do futuro
relacionadas. Um bom Ìir.'ro didático também estimuÌa:
- estabelecenclo uma relação entre sua própria perspectiva gÌo-
bal e o ponto clc vista presente clos alunos c alunas e mencio-
nando os problemas relacionaclos com o própricl conceito cla
história e a integração c()m o ptóprio prcsentc;
- introduzindtl os aluncls no pfoccsso cle formaçãcl de uma
opinião histórica, e
- trabalhando com referências âo presente'

Perspeüiuas glahais

Aos livros didáticos cluâse sempre c()rresp()nde a função clc


orientação prâtica da exposição histórica de fc'rma ncgativa. isto e. em
que se pretende evitar os enfoques eurocêntricos ou, inclusive, os que
pâftem cle uma perspectiva nacional. IJsta exigência afeta a identidade
hist<irica {os alunos e alunas. Contudo, não somente se deyeria adotâr
a estratégiâ de er.itar o que foi mencionacio anteriormente, isto é, er.itar
ou dificultar o estabelecimento de perspectivas etnocêntficas, mâs se
deveria adotar sistematicamentc com() teme â estrutufa e dimensão da
identidacle histórica, a saber, â construçãol(' deÌe mesmo e do outro na
percepção hist<irica e sua interpretação. Der.'e ser possível refletir sobre
o papeÌ desempenhaclo pcla interpretação histórica na compreensão
que o aluno tem de si mesmo e do prcsentc. () lil.ro didático texto

"construção", em atcnçào
"' ()pt6tr-sc P()r tr1Ì(ltìzir :t pltlltvr:t tott.ç/t/trìrjtt por
às idcias (Ìo aut()r.

t25
Jorn Rüsen

nàr srmente cle'cria ()ricr1tzìr sllr pcrspccti'a cm clircçà, a()s tcffìas


histriricrs, n"ras dcr-eria relaci"li la sistcrnaficzÌmcntu c()'l a c()nstru-
çào cla iclcnticìadc cl,s alunrs, uti'ancÌ., cìcsta tìrr'ra, p'tc'ciaÌ cìc
aprcnclizagem. '

Forrtaçãa de unluiTa hìstóico

Nluitos li'r.s cÌicláticos cr.itam os juízcls hìstóric.s explícit.s


c se estbrçam em manrcr a aparêncìa de uma imparciaÌiclacle estrita.
(-rm iss., privam os alunos cÌe uma b.a rprrtunicìacle
clc aprcncliza-
gcm. Drdaticamcntc faÌanclo, scria mais raz,oívcl prrbÌematrzar juízos
históricos com suas rcfèrôncias cle valor e usar cle mocÌo argumcntatilcr
as cxpcriências e intcrprcteçòcs, períì LlLÌc es alunas c .s alunrs p()ssâm
aprcncier a emiti-Ìos alcga'clo suas rzrzircs. () imp.rtantc é clue
cstcs
juíz.s clc vaÌor'iìo epareçam ìndcpcnclcntcs cl<ls fat.s histriricì)s
e cÌuc
os pfocessos de sua intcrprctaçã<) mctoclol(iÉìica não Êgurcm
c()m() unl
assunto mcramcnte subjcúvr, cÌos alunrs e aiunas, fiìas ao c.ntrlirit.r:
que a() emiti-l's sc recorre sistematicamellte e() conceit. cluc tinharn
de si mesmos os afctacl<ts pclos acclntcciment()s .ìo p,assa,,lo.

Rgfà rí n ci a.r a o p re.r e a le

Às pcrspectives ()Íientacloras e os juízos histriricos nã, sã, p,s-


sí'u'eis scrn
ferências r() f)rcscntc ne cxpt.rsicã. c na i'tcrpretaçã. cÌ<r
re
passaclo' LÌm livr. cliclátic, cluc rcspcite :r iclcia cle cluc a apìen.ìizagcrn
histr'rrica de'e tcr c.mo rcsultado a c'mpctência clc .,.i.r-,t"çã,,
t.ìb^-
lharh semprc crm rcfcrôncias a. prcsentc. r\ssim cr.ita' risc, cle i-rm
falso .bjetir-ism. histór'ic.; crntuci., p.cre inc,rrer n() sclÌ contrá't.r,
cm um presentism. hìst'rico, sc nà' vtiliza a rcfèrôncia ao prescnte
c.m'instrul''ento para ilustrar a singularicìacie clo passacÌ., cluer clizcr,
utllizar a iÌustraçzìo do prescnte através c1' cspelh. cl, passaclo para
rncdir a difèrcnça tcmp.raÌ entre o passackr c () presente. srmente
istcr
fará p.ssír-el quc a <irienraçã', que c'ncluz uì cxpcriência histrirìca
e sr-ra
interprctaçào para () prcsente, seja hist<irica. r\s rcfcrências a, prcsente
nãr> fazem cìcsap:rrcccr as cliiercnças entrc () passacl.
p."a.,r-r,", -"a
",, ()
as s.nclam rÌc tal fìrr.na qlÌe na clistância tcmp,ral cntrc
passackr e <r

126
Jórn Rüsen e ri I'.nsino clc Ilistóna

pfescnte se vislumbrc umâ pâf tc cla perspectiva futura P^t^ o pfescnte .


(,,,rrr ,r.1,, isso, um lir-ro diclático deveria levar cm c()ntíì cìuc ls crian-
ç:rs e jr)\'cns:ì{ - 1.r'is sc clirigc P()\sucln
um frttur'I cttie c'rnli{LrricàL)
também clepcntlc cÌzr cor-rsciência histódca clue lhes foi clada'

127

Você também pode gostar