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Caipora e outros conflitos ontolgicos1
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Gostaria, antes de mais nada, de agradecer o honroso convite para essa visita Universidade
Federal de So Carlos. Esperava um debate em torno da antropologia poltica e da antropologia
econmica ou, para abranger as duas matrias com um s golpe, sobre a economia poltica vista do
ngulo da antropologia. Mas aqui h uma escolha a fazer. De um lado, h a economia poltica que
trata da distribuio e da circulao, ponto de vista adotado por Marcel Mauss (1974[1923]) com sua
teoria da ddiva, e prolongado por uma vasta literatura que interroga o sentido da ddiva e sobre a
qual Jorge Villela (2001) e Marcos Lanna (2000) deram contribuies significativas, embora
divergentes, e cujos desdobramentos so exemplificados pela fenomenologia do valor de Nancy
Munn (1986), para quem valor a extenso espao-temporal do poder de algum sobre outrem. De
outro lado, h o ponto de vista que enfatiza no a circulao, mas sim a produo, a saber, a produo
de coisas e de pessoas por meio de coisas e de pessoas, perspectiva para a qual Gregory chamou a
ateno, influenciado pela leitura de Marx a partir de Sraa (Sraa, 1960; Gregory, 1982). E cabe aqui
lembrar a importncia do fato de que, sob esse ngulo, coisas e pessoas passam a ser vistas como
pressupostos da economia antes mesmo de serem produzidas por ela. Essa perspectiva est
presente, por exemplo, na reinterpretao da ddiva melansia feita por Annette Weiner (1992), que
se pergunta quem produz coisas, antes mesmo que essas coisas entrem em circulao como ddivas.2
Decidi trazer reflexes ainda informes sobre uma economia poltica da natureza e de entes
no-naturais. Essas consideraes do continuidade a uma crtica em andamento ao relativismo
Esse a verso revisada de palestra de ttulo homnimo, no Departamento de Antropologia da Universidade Federal de
So Carlos, em 7 de novembro de 2007, a convite de Marcos Lanna e de Jorge Luiz Mattar Villela, com acrscimos feitos
para a apresentao no mesmo ano no Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paran, a convite de
Edilene Coacci de Lima. Esta publicao com reviso e acrscimo de notas deve-se ao convite de Geraldo Andrello.
Agradeo a Messias Basques pela reviso do texto e pela elaborao da bibliografia.
2 Ver