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INFLUÊNCIA DO TIPO DE GÁS DE PROTEÇÃO NA JUNTA DE

SOLDAGEM

Moacir Eckhardt, Genaro M. M. Gilapa, Tiago A. Führ, José C. da S. Cavalheiro


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ
Departamento de Engenharia Mecânica, Campus universitário – Panambi - RS
moaeckhardt@yahoo.com.br, tiagofuhr@yahoo.com.br, cavalheiro2402@gmail.com

Resumo. O processo de soldagem Mig-Mag critério para a escolha de um procedimento


(GMAW) apresenta muitas vantagens para de soldagem deve incluir a necessidade de
as indústrias e é um dos processos mais estabelecer o balanço ótimo entre o custo de
utilizados, devido a seu baixo custo e operação, a qualidade da solda e a segurança.
apresentar grande flexibilidade e O processo de soldagem Mig-Mag (GMAW)
versatilidade, podendo ser usado em todas é muito empregado na indústria, fabricação e
as posições de soldagem e em diversos tipos montagem de equipamentos, na área de
de materiais. Neste trabalho foi utilizado o manutenção e reparos e pode ser utilizado na
processo de soldagem Mig-Mag para a soldagem de praticamente todos os tipos de
realização de ensaios com o objetivo de materiais.
avaliar a influência da variação da Esse processo de soldagem apresenta
composição de gases de proteção sobre a inúmeras variáveis que determinam a
estrutura física dos cordões de solda em aço qualidade final do cordão de solda e foi
de baixo carbono. Foram realizados ensaios selecionado porque utiliza gás de proteção
macrográficos em soldas efetuadas com com a finalidade de proteger a poça de fusão
estes gases e a avaliação das do ar atmosférico. Neste caso a avaliação das
descontinuidades foi realizada de acordo juntas de solda será realizada em função dos
com a Norma ISO 5817. Os resultados tipos de gases de proteção utilizados nos
mostraram que a variação da composição ensaios de soldagem.
química do gás afetou diretamente na
penetração e largura do cordão de solda, 2. MATERIAIS E MÉTODOS
além de influenciar diretamente na
quantidade de respingos gerados no Neste trabalho, o material utilizado para
trabalho de soldagem. a confecção dos corpos de prova foi o aço de
baixo carbono USI LNE 38 NBR 6656, com
Palavras-chave: Soldagem, Respingos, propriedades químicas conforme “Tabela 1”.
Descontinuidades.
Tabela 1. Análise química do material

1. INTRODUÇÃO Porcentagem C Si Mn P
(%) 0,094 0,018 0,67 0,018
A soldagem é um dos métodos mais
utilizados para a união de metais. Isso fica 2.1 Corpos de prova
comprovado pela utilização do processo nos
mais diversos segmentos da indústria, Para realizar os ensaios de solda, foram
permitindo a montagem de conjuntos com confeccionados dezoito corpos de prova
rapidez, segurança e economia de material. O
cortados nas seguintes dimensões: B2 e B3 empregaram-se o gás de proteção
comprimento de 150 mm, largura de 125 mm C10 com composição química de 10% de
e espessura de 12,7 mm. As dimensões CO2 e 90% de Ar. Nos corpos de prova C1,
descritas estão de acordo com a Norma DIN C2 e C3 foi utilizado o gás de proteção F36
EN 287 [1] que adere a este tamanho padrão com composição química de 95% de Ar e
para ensaios de solda em corpos de prova apenas 5% de O2.
para juntas do tipo ângulo.
A “Tabela 2” mostra os parâmetros 2.2 Preparação das amostras
adequados estabelecidos para a soldagem
com três composições químicas diferentes de O corte dos conjuntos soldados foi
gases de proteção C25, C10, e F36, efetuado com o auxílio de um cortador
denominados comercialmente de stargold metalográfico e em seguida as amostras
tub, stargold C10 e stargold soft foram submetidas ao lixamento com o uso de
respectivamente. uma lixadeira pneumática para alinhar as suas
faces. Na etapa seguinte houve o lixamento
Tabela 2. Detalhes da Soldagem em uma politriz com o uso de lixas de
granulometria 180, 320 e 400 mesh,
Parâmetros de Gás Gás Gás respectivamente. Esse processo é realizado
Solda C-25 C-10 F-36 até que as marcas geradas pelo processo
Corrente (A) 288 298 305 anterior sejam eliminadas da superfície da
seção a ser avaliada. Com o processo de
Tensão (V) 28,3 28,8 27,2 lixamento concluído as seções das juntas de
Vazão de Gás solda foram submetidas a um ataque químico
12 12 12
(l/min) de ácido nital com concentração de 2% cujo
objetivo é proporcionar a revelação completa
Com o processo de soldagem definido e da área da seção do cordão. A avaliação dos
procedimentado, a união dos corpos foi corpos de prova foi realizada com o auxílio
efetuada e obtiveram-se nove conjuntos de um microscópio e uma escala graduada.
soldados, denominados como A1, A2, A3, Com a utilização destes equipamentos é
B1, B2, B3, C1, C2 e C3, mostrados na “Fig. possível avaliar aspectos geométricos e
1”. dimensionais do cordão de solda e
descontinuidades como porosidade, trincas,
falta de fusão, mordeduras, poros alongados
e quantidade de respingos de acordo com a
Norma ISO 5817 versão 2006 [2]. Nas
amostras foram efetuadas a medição da
penetração efetiva (PE), comprimento da
penetração (LC), profundidade da solda (P) e
afastamento entre chapas (GAP), sendo
todos os corpos de prova avaliados de
acordo com a “Fig. 2”.

Figura 1. Amostras soldadas

Os conjuntos A1, A2 e A3 foram


soldados utilizando-se o gás de proteção C25
com composição química de 25% de CO2 e
75% de Ar. Para os conjuntos de solda B1, Figura 2. Avaliação do cordão
3. RESULTADOS experimentação prática que quanto maior a
concentração de dióxido de carbono (CO2)
Na “Tabela 3” podem ser visualizados os maior será a quantidade de respingos gerados
resultados obtidos na medição dos corpos de no trabalho de soldagem e pior será o
prova soldados com o gás de proteção C25. acabamento superficial do cordão de solda.
Na soldagem com C25 o cordão
Tabela 3. Amostras com gás C25 apresenta um acabamento superficial
escamado, enquanto que, os experimentos
Amostra PE P LC GAP soldados com F36 apresentam o melhor
(mm) (mm) (mm) (mm) acabamento superficial, com uma solda plana
A1 2,0 7,3 9,5 0,5 e lisa.
A2 2,0 7,3 10 0
A3 2,1 8,3 10,1 0,8

Nas “Tabelas 4 e 5” são apresentados os


resultados das medições realizadas nas
amostras soldadas empregando-se os gases
de proteção C10 e F36, respectivamente.
Figura 3. Cordão soldado com gás C25
Tabela 4. Amostras com gás C10

Amostra PE P LC GAP
(mm) (mm) (mm) (mm)
B1 1,6 6,8 9,4 1,0
B2 1,8 7,1 9,5 0,3
B3 1,8 6,4 9,5 0
Figura 4. Cordão soldado com gás C10
Tabela 5. Amostras com gás F36

Amostra PE P LC GAP
(mm) (mm) (mm) (mm)
C1 1,5 8,5 10,1 0,4
C2 1,4 7,0 8,5 0,5
C3 1,2 8,0 9,8 0

De acordo com os critérios de avaliação Figura 5. Cordão Soldado com gás F36
estabelecidos fica evidente uma notável
diferença entre os valores obtidos nos Na avaliação das macrografias das
ensaios para as três composições de gases. amostras, as descontinuidades superficiais na
Amostras soldadas com o gás de proteção área da seção de solda foram comparadas
C25 obtiveram valores de penetração para verificar se o tipo de composição
maiores que das peças soldadas com C10 e química do gás de proteção gera a aparição
F36, respectivamente. Evidentemente, fica de defeitos internos na solda. Com o auxílio
provado que quanto maior for à de um microscópio não foi possível perceber
concentração de dióxido de carbono (CO2) diferenças entre os tipos de amostras,
na composição do gás de proteção maior conforme “Fig. 6, 7 e 8”.
será o valor da penetração. Mas, por outro
lado, “Fig. 3, 4 e 5”, evidenciou-se na
aprovadas de acordo com a norma adotada
para avaliação.

4. CONCLUSÃO

De acordo com os valores obtidos nos


experimentos práticos, evidenciou-se que o
tipo de gás afeta diretamente no formato e
Figura 6. Macrografia do cordão com dimensão do cordão de solda, mas não tem
utilização do gás C25 influência em descontinuidades como
porosidade e trincas, que ocasionalmente
podem aparecer no trabalho de soldagem.
Mordeduras e afastamento entre chapas são
variáveis que dependem diretamente da
habilidade do soldador, porém foram
apresentados, pois houve a necessidade de
garantir o correto posicionamento das juntas
para se obter resultados práticos confiáveis.
Figura 7. Macrografia do cordão com A soldagem com C25 apresenta
utilização do gás C10 melhores resultados em processos que se
necessita uma maior penetração em chapas
de maiores espessuras, mas gera um custo
maior de produção devido à necessidade da
remoção da grande quantidade de respingos
gerados na operação de soldagem (limpeza).

Agradecimentos

Á empresa Bruning Tecnometal Ltda


Figura 8. Macrografia do cordão com pela cedência do material, oportunidade da
utilização do gás F36. realização dos ensaios de soldagem e apoio
na análise dos corpos de prova.
De acordo com a norma ISO 5817 [2], a
penetração efetiva mínima para aprovação da REFERÊNCIAS
solda é 0,6mm, não são permitidas trincas,
não são permitidos respingos em áreas de [1] Norma DIN EN 287; Qualification testo f
montagem, mordeduras com altura máxima welders – Fusion welding – Part 1: Steels,
de 0,5 mm, poros com dimensão máxima de versão 2006, 39 p.
1 mm de diâmetro e afastamento entre
chapas (GAP) de no máximo 2 mm. [2] Norma ISO 5817; Welding – Fusion-
Conforme ensaios realizados nas amostras, Welded joints in steel, nickel, titanium and
não foram encontradas trincas e nem their alloys (bean welding excluded) –
porosidades nas seções cortadas da solda. O Quality levels for imperfections, versão 2006,
afastamento entre chapas máximo 26p.
encontrado foi de 1 mm na amostra B1 e não
houve indícios de mordeduras. Em relação a
valores de penetração e a presença de
descontinuidades todas as soldas estão

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