O Brasil enfrentou a Hungria nas quartas de final da Copa do Mundo de 1954 em Berna, em um jogo emocionante sob chuva intensa. Apesar de resistir e descontar para 2x1, o Brasil acabou derrotado por 4x2. Após o jogo, uma briga generalizada eclodiu entre os jogadores e dirigentes das duas seleções.
O Brasil enfrentou a Hungria nas quartas de final da Copa do Mundo de 1954 em Berna, em um jogo emocionante sob chuva intensa. Apesar de resistir e descontar para 2x1, o Brasil acabou derrotado por 4x2. Após o jogo, uma briga generalizada eclodiu entre os jogadores e dirigentes das duas seleções.
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O Brasil enfrentou a Hungria nas quartas de final da Copa do Mundo de 1954 em Berna, em um jogo emocionante sob chuva intensa. Apesar de resistir e descontar para 2x1, o Brasil acabou derrotado por 4x2. Após o jogo, uma briga generalizada eclodiu entre os jogadores e dirigentes das duas seleções.
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Não acho que a maior batalha que envolveu o Brasil em sua
retumbante história militar tenha sido a de Monte Castelo, na Segunda Guerra Mundial. Meu voto vai para a Batalha de Berna, título pelo qual foi imortalizado o épico jogo entre o Brasil e a Hungria pela copa do mundo de 1954, realizado naquela cidade suíça. Justifico a escolha.
O regulamento do certame de 1954 foi o mais doido da
história dos mundiais. Seja como for, e para poupar os leitores da maluquice dos cartolas, vamos ao que interessa: Brasil e Hungria se enfrentaram nas quartas de final. Nossa seleção, mal saída do trauma da derrota de 1950 - a maior tragédia da história brasileira desde 1500 - encarou o esquadrão húngaro dos cracaços Czibor, Cocsis, Toth e Hidegkuti (Puskas, contundido, não jogou). O retrospecto da Hungria naquela copa foi assustador - 9 X 0 na Coréia do Sul e 8 X 2 na Alemanha Ocidental. A mesma Hungria, pouco antes da copa, deu uma surra histórica, 6 X 3, no English Team em pleno estádio de Wembley, onde os súditos da rainha eram até então considerados imbatíveis.
Antes do início da partida o vestiário do Brasil foi invadido
por dirigentes dispostos a estimular o time a um milagre com exortações patrióticas. João Lira Filho fez um discurso exaltado, comparando os jogadores aos inconfidentes mineiros e desfilando com uma bandeira usada pela Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Obrigou os jogadores a beijar a bandeira e, aos prantos, declarou que naquele jogo contra os húngaros os canarinhos deveriam se empenhar para vingar os mortos de Pistóia - cemitério italiano onde foram enterrados os pracinhas que morreram na guerra. Não ocorreu a ninguém recordar ao dirigente que os brasileiros e os húngaros não se enfrentaram no charivari armado por Hitler e Mussolini.
Segundo o testemunho do insuspeito Nilton Santos, o time
entrou em campo com os nervos em frangalhos. Brandãozinho, um dos nossos meio-campistas, ainda estava assustado com a cena de João Lira Filho o segurando pelos ombros e dizendo aos berros : - Como é o seu nome? - Brandãozinho. - Não! Você hoje se chama Ignácio de Alvarenga Peixoto. Você é um inconfidente ! Você é um inconfidente !
O pobre Brandãozinho, semi-alfabetizado, não entendeu
bulhufas. Didi, comparado a Tiradentes, começou a achar que Lira Filho tinha enlouquecido. O técnico Zezé Moreira tentou expulsá-lo do vestiário, mas o patriótico dirigente estava com a corda toda. Nilton Santos, até ele, tentou estimular o goleiro Castilho com um argumento inusitado:
- Olha Boris (Nilton chamava Castilho de Boris Karloff por
sua semelhança com o ator de filmes de terror): confio em você. Os húngaros são comunistas. São ateus. E você é o São Castilho. E santo não perde para ateu.
Zezé Moreira armou uma estratégia para segurar o jogo
nos primeiros dez minutos, formando uma barreira inexpugnável na retaguarda canarinho. Resistindo os primeiros momentos, calculou Zezé, partiriamos para dentro dos adversários. Foi nesse clima que o escrete brasileiro entrou em campo, escalado com Castilho, Djalma Santos, Pinheiro e Nilton Santos; Brandãozinho e Bauer; Julinho, Didi, Índio, Humberto e Maurinho. A Hungria veio de Grosics, Buzansky, Lantos e Zakarias; Bozsik e Lorant; M. Toth, Cocsis, Hidegkuti, Czibor e L. Toth. No apito, o árbitro inglês Arthur Ellis.
O que se viu a partir da entrada dos times no gramado,
debaixo de uma chuva bíblica, foi um dos jogos mais emocionantes, violentos e desvairados da história do futebol.
O técnico Zezé Moreira insistiu na recomendação aos
jogadores: a chave para a vitória contra os húngaros era resistir os primeiros dez minutos e depois partir para o ataque. Não deu certo. Com oito minutos do primeiro tempo a Hungria já tinha feito dois gols em Castilho.
Com surpreendente poder de reação, o Brasil descontou
aos 17 minutos, em um pênalti bem cobrado por Djalma Santos. A partir daí o jogo foi pau a pau, com nosso ponteiro Julinho Botelho fazendo o diabo em campo. Não empatamos na primeira etapa por pouco.
O segundo tempo foi eletrizante. Os húngaros fizeram o
terceiro gol - Lantos de pênalti - mas o Brasil descontou logo com Julinho. Mandamos duas bolas na trave, pressionamos, perdemos Nilton Santos e Humberto expulsos, eles perderam Bozski e, em vantagem no número de jogadores, liquidaram o jogo com um gol de Cocsis aos 42 do tempo final: 4 X 2 para a Hungria.
Mal o juiz Mr. Ellis apitou o fim do jogo e a verdadeira
batalha começou. Puskas, que assistira ao prélio das arquibancadas, desceu ao gramado e provocou Pinheiro na entrada do vestiário. O zagueiro canarinho revidou e os 22 jogadores se envolveram na pancadaria.
Um policial imenso, com mais de 130 quilos, foi correndo
apartar a briga, tomou uma rasteira do radialista brasileiro Paulo Buarque e caiu estatelado no gramado, para delírio do público. A polícia revidou e jornalistas e dirigentes acabaram se envolvendo no furdunço. O técnico Zezé Moreira viu um gringo de terno correndo em direção ao vestiário e não teve dúvidas, enfiou o cacete no cabra com as chuteiras que Didi trocara durante o jogo e estavam em suas mãos. O agredido era o ministro do Esporte da Hungria, Gustavo Sebes.
No setor reservado às estações de rádio, para a surpresa
dos discretos suiços, o árbitro brasileiro Mário Vianna urrava nos microfones impropérios contra o juiz inglês: Ladrãããão. Safaaaado. Comunistaaaa. Covarrrrrde. Rateeeeiro. Escroooooque. Apoplético, e insistindo na tese de que foramos vítimas de uma conspiração dos comunas, Vianna tentou invadir o vestiário do árbitro para, segundo suas palavras, aplicar-lhe um corretivo e desafiar os espiões de Moscou.
O final dessa zorra foi o mais inesperado e surreal da
história das copas. No Brasil, a população acompanhou o match pelas rádios e, insuflada sobretudo pelas acusações de Mário Vianna, resolveu agir. No Rio de Janeiro, por exemplo, a massa partiu para a vingança imediata. Perdemos o jogo para a Hungria, a copa foi na Suiça mas, no calor das emoções, os indignados torcedores canarinhos erraram o alvo e quebraram a embaixada da Suécia.
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