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DUBLAGENS

Dublagem a fogo:
questão de tempo
Ainda muito usado na dublagem de espumas com tecidos, principalmente, o processo de
flame bonding (dublagem ou colagem a fogo ou chama) vem aos poucos sendo substituído
por processos de colagem a cola e reativos que permitem fabricar sistemas dublados de
qualidade sem os inconvenientes ambientais do processo tradicional

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á décadas uma opção de alta qualidade para a produção “O acoplamento por fogo prejudica o toque da colagem do
de laminados com espuma de poliuretano ligada (du- material final, além de ser um processo caro, por utilizar uma
blada) a tecidos e não tecidos dos mais variados tipos espuma mais espessa, parte da qual será derretida”, opinou
para diversos setores, a dublagem a fogo pode estar com os dias Celso Stechman, diretor da CSQ Equipamentos e Polímeros
contados. Processo rústico, que envolve submeter laminados de (Porto Alegre, RS). “Por política ambiental de nossa empre-
espuma de PU a temperaturas que causam o derretimento da sa, não usamos mais a dublagem a fogo há mais de quinze
camada superficial da espuma (conectando o laminado como anos, mesmo possuindo equipamento”, afirmaram Fernando
termofixo a substratos diversos), a dublagem a fogo, apesar e Taurino Nicory, diretores de produção da Magma Indústria
de suas diversas vantagens, tornou-se, no decorrer dos anos, e Comércio Têxtil (São Paulo, SP). O consenso está em que
apenas mais um dos processos de dublagem conhecidos para o sistema por fogo utiliza um processo ambientalmente pouco
abastecimento dos mercados automotivo, calçadista e move- correto, eliminando gases tóxicos e podendo ser prejudicial aos
leiro, principalmente. Veja a seguir como isso está ocorrendo. trabalhadores, assim como ao meio ambiente. “O flame bonding
Dublagens – O processo de dublagem (ou, para alguns, é um processo antigo e rústico que permite pouco controle do
colagem) exige a conexão de dois ou três substratos, normal- processo”, afirmou César Ferreira, do departamento técnico-
mente tecidos, por meio de cola, filme ou, em alguns casos, comercial da Robatech do Brasil (Curitiba, PR). Isso significa
fogo. Sendo muitos os substratos disponíveis ao transformador que, no limite, o único controle na dublagem a fogo está em
e infinitas as possibilidades de combinação no produto final, os criar uma chama que queime a quantidade certa do material, o
processos de dublagem são também variados e dependem em que também exige precauções relativas à segurança por criar
última instância das características desejadas para o produto riscos durante o processo de produção.
final. Compõem esses processos produtos os mais diversos, Dublagem a cola – Como opção à dublagem a fogo, o
indo desde adesivos de EVA, hot melt, poliuretano termofixo mercado de dublagem, que abastece, dentre outros, os setores
(PU) e termoplástico (TPU), dentre outros. Os produtos finais calçadista, moveleiro e automotivo, possui, já há alguns anos, a
são também variados, indo desde estofamento de veículos, mó- dublagem por meio de adesivos, também chamada de dublagem
veis, calçados até palmilhas e bojos de sutiã, para ficar em dois a cola. Alguns tipos de dublagem a cola: base solventes, base
produtos de consumo específico e elevado, e perfil específico. água e hotmelt. “Adesivos de base poliuretano suportam bem
Vantagens – Tecnicamente, o processo de dublagem por os solventes, quando utilizados, por exemplo, no mercado cal-
fogo faz uso de um queimador de gás que derrete a camada çadista”, explicou Antonio Carlos Bianchi, diretor da Pollibox
superficial da espuma, a qual por sua vez entra em contato com (Novo Hamburgo, RS). Tecnicamente, a aplicação de adesivos,
o substrato e, por meio de uma calandra fria, realiza a acopla- dentre eles base solvente, é simples, consistindo na aplicação
gem. O processo possui diversas vantagens. “A dublagem a de cola por meio de reservatórios conectados a calandras e pos-
fogo permite realizar acoplagens que não interferem no toque terior adesivação em rolos aplicadores. O que acontece é que,
final do produto, além de manter a respirabilidade do material apesar das vantagens em resultado final, o uso de soluções base
e promover ótima resistência à lavagem”, garantiu Ubiratan solvente torna-se cada vez menos recomendável por motivos de
Mari, diretor da Dublauto (Bariri, SP), empresa que trabalha manuseabilidade e ambientais. Isso aproxima os dubladores a
também com sistemas base água, pó e filme. A respirabilidade dois tipos principais de dublagem: base água e hotmelt.
e a resistência à lavagem são importantes para garantir a qua- Base água – Especialmente indicado para dublagem de ma-
lidade da aplicação final, no caso, os laminados para assentos, teriais porosos, tais como tecidos, couros, espumas laminadas
laterais de portas e superfícies em contato direto com o usuário. ou torneadas e vinil, o sistema de colagem base água envolve
“Por fogo ou cola, o poliuretano é um material flexível com o uso de resinas acrílicas que reduzem substancialmente, no
fácil aderência e manuseio, em velocidades altas de trabalho”, processo, a emissão de resíduos que agridem a natureza. Tecni-
afirmou Iracy Angulo, gerente de produção da Textil Matec camente, o processo envolve a aplicação de um filme de adesivo
(Franco da Rocha, SP). acrílico na superfície do substrato por meio de um cilindro de
Desvantagens – Mas a percepção das vantagens associa- transferência. Após o contato com o outro substrato, o material
das ao flame bonding não é consensual entre os profissionais. vai para um forno de secagem, ocorrendo dessa forma sua

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acoplagem. “Um destaque interessante desse processo é a manu- acabamento de calçados masculinos, femininos e esportivos.
tenção do toque macio no sistema dublado”, afirmou Jefferson “Para o mercado automotivo, sistemas reativos base PU hot-
Bessa, diretor da JB Tecidos (São Bernardo do Campo, SP). “Se melt monocomponente são uma opção viável no atendimento
bem que em pequena escala, o consumo de adesivos base água aos diversos requisitos da indústria em termos de garantia
para aplicação automotiva vem crescendo nos últimos anos”, de adesão, respirabilidade, capacidade de lavagem, maciez e
destacou Stechman. O problema, segundo ele, é a necessidade resistência à temperatura”, confirmou Ferreira, da Robatech,
de aquecimento dos substratos para curar o adesivo, o que torna para quem a única limitação por enquanto está no custo dos
o processo como um todo lento e dispendioso. “Para cura, é equipamentos e da cola PU a ser incorporada no custo do
necessário eliminar toda a água, na base de 50%, e isso torna material. “Apresentando toque melhor e podendo ser lavado
o processo demorado e mais caro. Mas ele ainda é viável, na sem problemas, o custo é ainda o maior motivo pelo qual os
medida em que o custo do adesivo é bastante baixo”. grandes fabricantes de dublados ainda não migraram para este
Hotmelt – Consistindo na aplicação de adesivo a partir do novo processo”. Ferreira menciona ainda, como vantagens
aquecimento e posterior liquefação de cilindros de adesivo dos hotmelts PU monocomponentes, a menor necessidade de
sólido, a dublagem por adesivação hotmelt termoplástica faz manutenções e limpezas, e o uso de um sistema fechado, sem
uso de várias matérias primas, sendo as mais comuns EVA e contato do adesivo com a umidade do ar. Para Stechman, um
PU (ou, em casos mais exigentes, TPU). “Apesar de em cres- pequeno problema desse tipo de processo é a necessidade de
cimento, a utilização de adesivos hotmelt, principalmente sob ainda utilizar sistemas de exaustão, pois há também emanações
a forma de termofilmes, normalmente utiliza resinas de base gasosas e voláteis sendo desprendidas. “Claro que é bem menos
EVA, o que traz limitações em termos de resistência a solventes que nos processos de dublagem a fogo”, afirmou.
e temperatura”, explicou Stechman, da CSQ. “Como alternativa Pó, web e multipontos – Mas o mercado ainda disponi-
a esses produtos, estão os adesivos base PU ou TPU, assim biliza outras opções para dublagem por adesivos, substituindo
como resinas de maior valor agregado, como copoliésteres a dublagem por fogo e solventes. Três delas: pó, web (ou rede)
e copoliamidas”. “As dublagens em geral são semelhantes, e multipontos. “Os adesivos em pó ou em forma de web são
diferenciando-se realmente em termos de aderência, uma produtos de alta resistência à temperatura e lavagem, bem como
exigindo mais newtons (N) que a outra”, afirmou Odete Spall a solventes”, destacou Stechman. Tecnicamente, o sistema
Ody, gerente comercial da Herval Química (Dois Irmãos, RS). por pó consiste na distribuição do pó no substrato por meio de
PU reativos – Tecidos e sintéticos dublados por hotmelt um cilindro aplicador. Esse pó em seguida é reativado por um
são utilizados, no setor calçadista, tanto em forros como no túnel de infravermelho. Na saída, o produto entra em contato

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com outro substrato através de uma calandra fria, onde ocorre precisam também investir em ma-

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a acoplagem. Já o sistema por multipontos consiste na poli- quinários. “Para o setor calçadista, as
merização de adesivo PU reativo ao entrar em contato com o máquinas para dublar são, na verdade,
ar. Já polimerizado, o adesivo passa a comportar-se como um equipamentos de fixação de peças
termofixo. “As vantagens desse tipo de adesivo é que, durante o de entretela em peças de calçados”,
processo, ele não emite nenhum resíduo, possuindo ótimo poder explicou Délcio Schmidt, diretor
de colagem, ótima resistência à água e a lavagem, isso por ser da ERPS (Novo Hamburgo, RS).
aplicado por multipontos”, ressaltou Mari, da Dublauto. “Esse “Como este sistema de dublar pro-
processo está substituindo a dublagem a fogo na Europa e Ásia.” porciona melhor estrutura ao sapato,
Custos – Qualquer que seja o cenário, acompanha a evolução encorpando o cabedal sem sacrificar
da dublagem uma busca por redução de custos. Nesse quesito em a maciez e o conforto, a tendência de Morbach M855
especial, a dublagem a fogo ainda resiste. Mas, pressionado por uso é crescente”. Isso significa mais
requisitos ambientais e de ambiente e segurança de trabalho, o uso empresas usando o sistema de dublagem no processo produtivo.
de fogo tende aos poucos a ceder espaço a novos processos. “As Segundo Schmidt, se na prática muitas vezes os materiais já são
montadoras buscam continuamente materiais com baixo custo e fornecidos dublados ao montador final, por economia boa parte
maior durabilidade, acompanhando a vida útil do veículo”, disse das empresas preferem dublar elas mesmas as peças cortadas.
Gabriela Rangel, responsável pelo desenvolvimento de materiais “Isso depende muito de cada peça.”
(R&D) da Michel Thierry (Quatro Barras, PR). “Nesse sentido, Lançamentos – Em lançamentos recentes, a Morbach
a tendência no setor automotivo é, sem dúvida, pelo uso de ade- (Novo Hamburgo, RS) lançou na Fimec 2009 a máquina de du-
sivos, especialmente em aplicações como painéis de porta”. As blar contínua M855, desenvolvida para dublagem de tecidos,
vantagens do uso de adesivo já foram comentadas: processo mais espumas de PU e PE, EVA, etc., por meio do aquecimento de
limpo e menos prejudicial à saúde dos operadores. “Qualquer que filmes termoplásticos por resistências elétricas. Configurável,
seja o caso, existe uma tendência em direção a um maior uso do a M855 é especialmente indicada para os mercados calçadista
poliuretano, pois ele dá maior volume ao material”, ressaltou e têxtil, sendo desenvolvida tanto para dublagem a fogo como
Iracy, da Textil Matec. para colagem de adesivos base água. A M855 possui alimen-
Equipamentos – Em busca por maior qualidade e rendi- tador automático e permite processamento ágil, controlado
mento da peça final, as empresas responsáveis por abastecerem e silencioso, reduzindo drasticamente a necessidade de mão
o mercado com tecidos conectados a espuma e outros substratos de obra no processo.

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