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Aula 03.08.10
TOLERÂNCIA ZERO
Estatística criminológica – ignora-se a razão pela qual a vida foi retirada, porque
todas as hipóteses são hipóteses de crimes dolosos que tiram a vida de alguém. O dado
de homicídio será incluído num dado estatístico geral: nº de homicídio em 100 mil hab./
ano.
Mortes provocadas pela polícia da cidade de São Paulo: 17,4% dos homicídios
no Brasil são praticados pela própria polícia. Relação com civis feridos – em alguns
lugares há um índice de um para um, mas há outros lugares em que é muito alto – que
mostra que não há confronto com a polícia, a polícia atira para matar, em execução.
EUA – 701 presos/100 mil hab. É um país que encarcera um para cada 100
negros e põe em provation 10% da população negra e 25% da população latina – como
se fosse livramento condicional e sursis. Imagina se isso ocorresse no Brasil, em que há
muito mais negros.
Colômbia – 126 presos/100 mil hab. Mas tem a maior taxa de homicídios por
ano.
Encarcerar pessoas é uma opção. Pode haver país violento como a Colômbia
com pequeno índice de encarceramento, e pode haver países semelhantes com índices
de encarceramento diferente.
São Paulo não é o Estado mais violento do país. Rio, Espírito Santo e Recife são
mais violentos e estados fronteiriços influenciados por tráfico de drogas. Então, porque
São Paulo tem tantos presos, se comparado com o resto do Brasil? São Paulo é a
magistratura mais dura e rigorosa do país.
Acre – 431, 21 presos/100 mil hab. No AC há 2.888 presos, porque os juízes do
AC são formados em SP, mas lá há melhor estrutura do que em SP e pune mais.
VARIÁVEIS ESTRUTURAIS.
Na Índia há muita gente, muita pobreza, mas o curioso é que tem um índice de
presos baixíssimo: a sociedade é por castas, não é uma real sociedade de consumo, não
há ascensão social em face de dinheiro. Os burgueses na França fizeram uma pequena
revolução, das mais sangrentas, para chegar ao poder – tinham dinheiro, mas queriam o
poder, criaram uma ideologia que autorizava a classe rica a ter mais do que dinheiro, ter
também poder. Isso explica que na Índia não vai existir crime patrimonial – o roubo é
para ter o objeto, o “carrão”, como eles não são sociedade de consumo, não querem ter
o objeto. A pobreza na Índia é homogênea, não há ascensão social, não há problema de
criminalidade patrimonial, que é a maior parte da criminalidade. Tráfico – crime
patrimonial na concepção criminológica, 90 % da criminalidade brasileira seria
patrimonial. Isso não vai ser enfrentado com política repressiva, portanto, pois a
sociedade incentiva ao consumo, com grandes desigualdades sociais.
a) Densidade populacional
b) Composição Demográfica por idade: a criminalidade brasileira cai por conta
do envelhecimento da população, a longo prazo, o decréscimo da criminalidade é
visível. De 15 a 24 anos a criminalidade sobe, depois, ela vai diminuindo.
c) Riqueza dos países
d) Bem Estar Social
VARIÁVEIS POLÍTICAS
- Hipótese negativa:
a) aumento da criminalidade – não determina ou se relaciona diretamente com o
índice de encarceramento.
- Hipóteses positivas:
a) Crise do Estado de Bem-Estar Social: o acréscimo não é automático, primeiro
muda a postura diante da vida, desacreditando no Estado, na comunidade, em si mesmo,
sentindo-se perdido no mundo e por fim, ao se ver sem alternativa, a pessoa comete o
delito. É um processo gradativo de degradação, de solapamento da condição humana.
b) ampliação do sentimento de privação relativa por parte dos grupos
marginalizados. A criação de uma perspectiva vai inibir a vontade de cometer um crime
– a pergunta é “por que a gente não comete crime?”
c) política da criminalização das drogas. É necessário adotar políticas de redução
de danos, descriminalizar drogas leves. Londres – descriminalizou a maconha em uma
região de Londres e a polícia adorou, porque poderia concentrar seus esforços em
crimes maiores. De fato já se descriminaliza a conduta.
d) Fluxos Migratórios
e) Adoção de legislação mais repressiva (movimento de lei e ordem, tolerância
zero e direito penal do inimigo) – produzem maior punição.
f) maior severidade dos operadores do direito no processo de criminalização
secundária (agencias de controle mais duras no combate ao crime, cultura de juízes e
promotores). Há um conflito entre políticas diferentes de segurança pública.
g) adoção de penas mais longas. Casos de reincidência só aumentam.
h) sentimento de insegurança social fomentado pela mídia. Os noticiários estão
cada vez mais violentos. A população vai achar que é preciso punir mais.
i) natureza do processo encarcerador: exclusão x inclusão.
j) indústria do controle do crime (sociedade disciplinar x sociedade de controle).
Vendem-se mais itens de segurança. Problemas de presídios privados: empresas que
denunciam o contrato se desrespeitado, assim como as empresas escolhem quem serão
seus encarcerados.
10.08.10
Conceito
Características
Problema do casal Glueck – não trabalhou com estatística. O que está fora da
curva estatística, se elimina isso. É necessário interdisciplinaridade – é necessário
eliminar o que está fora da curva.
Em 1910, Tom Brown fica dois anos preso, a pedido, nos EUA – dentro da
prisão, as relações humanas lá existentes são diferentes e não eram conhecidas porque
analisadas com olhar externo.
Direito
Política criminal
Ponte entre o direito e a criminologia. Ela se incumbe de transformar a
experiência criminológica em opções e estratégias concretas a serem assumidas pelo
legislador e pelos poderes públicos.
Objeto da criminologia
Delito – não é a ação típica, ilícita e culpável. 4 critérios. Critérios para tornar
um fato humano corriqueiro em delituoso? É necessário que o fato ocorra sempre.
Delinquente
Vítima
Von Hentig – 1948. Primeiro livro The criminal and his victim;
- vítima primaria.
Para evitar que alguém se torne vítima do Estado é que se estuda a vitimização.
A mulher que foi estuprada já sofreu o dano. Um sistema de apoio à vítima pode dar
uma assistência psicológica. Afinal, ela vai ter que reproduzir várias vezes o mesmo
fato.
Depoimento sem dano: é para a criança – tentar de forma lúdica extrair os fatos.
Um psicólogo, preparado para isso, a criança fica numa sala contígua em que será
ouvida, colocam-se brinquedos e a psicóloga tem um fone e ouve as perguntas do juiz,
com uma técnica especial e as perguntas serão transmitidas indiretamente para a
criança, bem como as reperguntas de advogados. Este depoimento diminui o dano. Isto
preserva a vítima.
Crime
17.08.10
HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA
Nulla pena nullo crime sine legem. Mas quem criou este brocardo do princípio
da legalidade? Feuerbach.
1. Momento Pré-Científico
Antecedentes próximos:
- A. Pare (1.575) – Livro sobre feridas e mortes violentas.
-
O olhar do criminólogo é originalmente pessoal e o do jurista olha o crime. O
crime para os clássicos é um ente jurídico.
A história do direito penal está centrada no crime, já a da criminologia está
centrada na pessoa. As evoluções centram-se na pessoa do criminoso e na da vítima. Há
esse binômio – porque alguém comete crime e porque algumas pessoas são mais vítimas
do que outras.
PENITENCIARISTAS
FRENOLOGISTAS
Lombroso morreu – seria feita a autopsia. Pesava o mesmo tanto que o de uma
mulher.
ANTROPOLOGIA
Estudos feitos com os bonobos, que mais se parecem com os homens – possuem
características, como agredir e estuprar a fêmea. O homem não é o único animal que
ataca a própria espécie – os bonobos também fazem isso.
ESCOLA CARTOGRÁFICA
Cada sociedade possuiria uma taxa anual de criminalidade, que seria inexorável.
Haveria uma taxa de fatos não conhecidos. A partir da década de 60 do século XX surge
a ideia da cifra negra – e os precursores foram desta escola.
A cifra negra é muito alta em alguns crimes – por isso é necessário pelo menos
dois tipos de metodologias – pesquisas sincrônicas, com exame do mesmo fato
delituoso em diferentes locais, no mínimo cinco capitais no Brasil; sincronismo
internacional: mínimo 5 países, mas agora adotam-se 10 países; este estudo deve ser
repetido a cada cinco anos – estudo diacrônico, para saber se houve variações do
número de comunicações.
Etapa semi-científica
Começa a fazer autopsias nos presos – descobriu num preso chamado Vilela
uma terceira fossa occipital – encontrou uma anormalidade específica. além da
anormalidade de aparência e cerebral, que vão transformar a pessoa. O sujeito da
autopsia era parecido, mas era diferente – seu problema era a anomalia degenerativa do
tipo moreliano. Apela para o darwinismo – é involuido – o sujeito nasceu criminoso por
sua anomalia, conclusão a que chega.
Não tem como saber quem é criminoso e não sabe como prevenir esta
criminologia.
“O Salário do Medo”.
Bases da teoria: atavismo, degeneração pela doença, criminoso nato, com certas
características, fronte fugidia, assimetria do rosto, cara larga e chata, grande
desenvolvimento das maçãs do rosto, lábios finos, canhotos, cabelos abundantes, barba
rala, ladrões com olhar errante, móvel, obliquo; assassinos com olhar duro, vítreo,
injetado de sangue.
ESCOLA DE MARBURGO
A ideia lombrosiana ainda está dentro de nós, na maneira em que olhamos para o
outro, de uma maneira diferente. Desprezamos quem é diferente.
24.08.10
A prova será no dia 14/09. Uma dissertação sobre um dos temas dado em sala.
Polêmica entre as escolas – temos ou não livre arbítrio? Com esta discussão não
se chegou a lugar algum – o resultado foi duas guerras e um certo ostracismo.
A cidade como concebemos atualmente tem origem medieval e não tem relação
com a cidade antiga. Esta tinha a finalidade de proteção – sentimento de acolhimento é
fundamental para o ser humano – sentir-se protegido. A cidade medieval acaba por criar
um envoltório – o burguês, que queria um mundo universal para o burguês, fugia do
conhecimento do feudo e ia para a universalidade da cidade – a proteção estava na sua
muralha, que tem idéia de acolhimento que o pai dá para o filho ao abraçá-lo.
Muralha da China – não há cidade para olhar para trás – a muralha protege um
continente, vê-se o longe, no topo da montanha há a segurança de que jamais alguém
poderia invadir.
Quem não pertence à comunidade, fica na rua a perigo. Fora da comunidade não
há solução. Por isso é necessário pensarmos nas cidades que se constroem.
Brasília – não possui calçada nem esquina; não há engraxate na rua. Brasília não
tem comunidade – há um isolamento.
Com o tempo só os pobres passaram a ter comunidade, os ricos não. Estes não se
mostram para a comunidade, se escondem atrás de grandes muros e seguranças. Na
favela não, a proximidade é muito grande, são pequenas casas de madeira. O
comunitarismo passou a ser algo para os fracos – para os pobres – “comunidade” da
Rocinha.
Mas por que são pagos os impostos se o Estado não fornece a segurança,
transporte público, boa educação, saúde, judiciário célere, se não há resultados? Isso
sem falar de cultura, esporte, etc. Há um constrangimento do rico, que vai ter que pagar
por tudo isso – seu carro é blindado, o vidro não abre direito, não há muito contato com
o mundo externo. Estamos nesta sociedade pós-moderna – assim, pensa-se em
revalorizar o conceito de comunidade – não olhar com ódio o outro, mas identificá-lo.
Há cidades que salvo NY, com menos problemas urbanos, todas as outras
possuem muitos problemas.
Há uma relação das cidades/PIB trazida pelo professor. Mas isso é para outra
aula.
Chicago era uma pequena cidade em 1840, com mais ou menos 4 mil habitantes
– preenchia minimamente as regras do que era uma cidade. É uma cidade no norte dos
EUA, ao sul do lago Michigan, um lugar muito frio, muito difícil de se viver. É um
lugar inóspito. Era um centro ferroviário, ou seja, local de distribuição de ferrovias, um
entroncamento, que ligava o centro-norte ao sul, sudoeste e centro-oeste.
Uma pessoa que acaba de chegar a uma cidade não tem muito para onde ir, não
sabe para onde ir – a cidade cresce do centro para a periferia. Quem chega não consegue
ficar no centro, vai ficar na periferia, mas o centro cresce tanto, que a periferia passa a
ser próxima, cada vez mais longínqua, pois é necessário expandir a área.
Na zona três começa a chegar uma zona de trabalhadores pobres; na zona 4 uma
classe média; na zona cinco os possuidores, pequenas chácaras e bairros chiques, onde
os ricos se escondem da cidade.
No entanto, era um lugar inóspito, de clima frio, com inverno rigoroso, longe de
tudo e em 1890, numa cidade média, mas com muito dinheiro.
AL Capone – a bebida precisava ser ocultada, na zona dois, num armazém, pois
lá se poderia esconder um bar. Juntou mulher e jogo. Houve concentração de cassinos e
prostituição onde há uma proteção natural – zonas um e dois. Por isso o crime está
centrado nas zonas um e dois. No lugar onde há mais conflito, identifica-se o conflito
com a área urbanística. A distribuição da população em distintas áreas – distribuição
ecológica.
31.08.10
ESCOLA DE CHICAGO
Hoje há uma semelhança entre o que se viu nos estudos da escola de Chicago.
Essa escola tem a pecha de conservadora, o que não significa que se deva deixar de lado
o conhecimento que ela trouxe.
No século XX, início, não se discutia uma visão crítica de criminologia – partia-
se da premissa que a sociedade era um consenso, e não se precisaria modificá-la para
combater a criminalidade.
Shaw e McKay – estudam 60 mil casos individuais – vão aos distritos de policia
e perguntam onde a criminalidade acontece – o delegado de polícia fala que na zona um
a criminalidade não é significativa, salvo pelo controle das gangues de Alcapone; a
criminalidade se dá a partir da zona dois, havendo uma distribuição ecológica,
progressiva – há 24,5 crimes por cem habitantes. Na zona 5 há 3,5 crimes por 100
habitantes.
Havia uma comunidade negra, que saiu do sul dos EUA, no meio de vários
brancos de diversas origens – todos racistas. O negro vai ser hostilizado. Os que mais
cometem crimes são os mais jovens. O que une os negros – a igreja batista: chamaram
os pastores para ajudar a comunidade negra, tirando os meninos da rua, começaram
organizando um coral, por exemplo, com voz muito mais bonita. Elvis tinha a voz de
negro na pele de uma pessoa sexuada branca; toda a musica branca dos EUA, nasce dos
negros. Começaram a organizar uma comunidade – pegava-se um menino negro e ele
começava a cantar, o culto batista negro é diferente do culto batista branco. A igreja
batista no Harley tem uma ambulância na porta, as pessoas começam a entrar em transe,
o ecletismo se deu dentro da igreja negra, vieram com a cultura negra, o negro vai lá e
incorpora o espírito, são culturalmente diferentes dos brancos.
Mas tal política não daria certo com os imigrantes europeus. A área cinco era de
pequenas chácaras, com algumas pessoas ricas. Levavam as crianças para acampar. A
matriarca polonesa não deixava a filha acampar, por exemplo. Usa-se farda, uniforme,
para criar identidade. Entre os adultos há diferenciação entre as pessoas para criar uma
hierarquia. Os acampamentos eram feitos com hierarquia militar, o que era feito com o
escotismo. O escotismo é conservador.
É necessário criar um lócus – o CEU, local que pode levar a criança no cinema.
Nas cidades americanas, todo o aparelhamento de clube está nas escolas. O lado
perverso da arquitetura de Chicago são construções em que não se permite a ocupação
dos prédios por pobres – os jardins eram internos.
Não há segurança pública que não seja pensada a partir da escola de Chicago,
não se usa policiamento, trabalharam com experiência empírica antes da policia, cria-se
uma área de intersecção – são pesquisas de campo que precedem a intervenção; há a
idéia de pesquisas feitas com estudos de casos concretos – the Jack roller – é a historia
de um criminoso em espiral, o que é representativo do período – o menino perde a mãe,
o pai alcoólatra casa com outra mulher que usa o filho mais novo do pai para ter um
extra de rendimentos pedindo para o menino ir até a feira, ao mercado e furtar algumas
coisas. Foi crescendo e continuava furtando. Começou a ser pego e internado em
instituições, passou pelas cortes juvenis. Chicago foi a primeira cidade do mundo a ter
juízo juvenis. Desde 1898 já havia sistema tutelar, separando adultos de crianças.
Torna-se um grande bandido, passa pelo reformatório e depois vai para a penitenciaria.
É um sujeito que rouba seu próprio companheiro de crime.
Quando a USP foi criada para combater o governo Vargas – libertando pelo
saber – juntou tudo o que havia num instituto – FFLCH, na Rua Maria Antonia. Em 68
houve batalhas, com uma praça por perto, uma escola de sociologia política. Foram
trazidos os franceses, de tradição de sociologia reflexiva e não empírica. Vargas
descobre este sistema de resistência, cria uma escola a dois quarteirões, a de sociologia
e política, um americano, que utilizava os métodos da escola de Chicago, foi um recurso
do governo federal. Havia polêmicas e discussões, discutindo a sociologia por duas
visões sociológicas – uma escola e dois quarteirões de outra. O professor faz livre-
docência na USP, com uma fusão entre a sociologia americana e a francesa. Ninguém
sabe que a universidade de Chicago teve aqui na USP seus seguidores. Há estudos
comparativos do Canindé-caxingui com o bairro de Pacaembu e Higienópolis.