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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir.

“Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,


Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de
2006

OS BASTIDORES DA SOCIEDADE CIVIL


PROTAGONISMOS, REDES E AFINIDADES NO SEIO DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS

Adrián Gurza Lavalle


Graziela Castello e
Renata Mirandola Bichir*

Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP


São Paulo, novembro de 2006

* Adrián Gurza Lavalle é doutor em Ciência Política pela FFLCH – USP, pesquisador
do Cebrap e professor do Departamento de Política da PUC-SP — layda@usp.br.
Graziela Castello é mestranda em Ciência Política no IFCH-UNICAMP, e assistente
de pesquisa do Cebrap — grazielacastello@hotmail.com. Renata Mirandola Bichir é
mestre em Ciência Política pela FFLCH–USP, e pesquisadora do Cebrap —
renatambichir@yahoo.com.br
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

ÍNDICE

1. Introdução 3
2. À Captura dos Atores Elusivos 9
3. A Literatura e as Caracterizações 12
4. A Análise Relacional como Estratégia Metodológica 21
5. Padrões de Relacionamento das Organizações Civis 27
Uma só rede complexa e esgarçada 28
Organizações Civis Centrais e Periféricas 30
Dinâmicas Internas dos Tipos de Organizações Civis 33
Da periferia ao Centro e do Centro ao Centro 35
6. Protagonismos das Organizações Civis 38
As Organizações Populares 38
As Articuladoras 41
As Ongs 47
Os Fóruns 51
As Entidades Assistencias 53
As Associações de Bairro 56
As Associações Comunitárias 59
7. Para uma Agenda de Pesquisa 61
Bibliografia 68
Anexo 1 73

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

1. Introdução

A extraordinária atenção suscitada pela sociedade civil no mundo acadêmico e nos


circuitos nacionais e internacionais de formuladores de políticas públicas contribuiu,
paradoxalmente, a eclipsar as organizações civis reais, sua diversidade, lógicas de atuação e
dinâmicas de interação com outros atores. Nas últimas duas décadas, inúmeros esforços se
empenharam em desbravar o terreno analítico para conferir precisão conceitual à categoria
“sociedade civil”, investindo-a, a um tempo só, de estatuto político normativo capaz de
centrá-la como peça chave de novo projeto para “democratizar a democracia”.1 Por motivos
outros, nem sempre compatíveis com o propósito de reformar substantivamente a
democracia, múltiplos atores multilaterais, governamentais e societários também
granjearam, nesses anos, novo estatuto para a chamada sociedade civil, agora portadora
inconteste de virtualidades positivas para o gerenciamento local e focalizado de políticas
públicas, e para impulsionar a boa governança (UNDP 2002; World Bank 2001, 1997).
Independentemente do mérito de tais esforços, sem dúvida foram bem-sucedidos se
julgados pelos seus efeitos de proliferação: a literatura acadêmica centrada na sociedade
civil é hoje quase incomensurável; as transferências financeiras de organismos
multilaterais, governos e agências financiadoras do hemisfério norte para organizações não-
governamentais do hemisfério sul aumentaram em proporções galopantes;2 isso sem
esquecer, é claro, as inovações institucionais participativas que, no Brasil e pelo mundo
afora, têm estimulado a intervenção de organizações civis no desenho e implementação de
políticas públicas.3

1
Cohen e Arato (1992) realizaram o esforço mais sistemático e abrangente de reconstrução teórica da
categoria “sociedade civil” de modo a lhe restituir o potencial heurístico e prático de transformação social.
Por sua vez, diferentes autores orientados para o aprimoramento qualitativo da democracia (“democratização
da democracia”) compartilham a centralidade da categoria sociedade civil nos seus trabalhos (Santos
Boaventura 2002, 1998; Avritzer 2003; Fung e Writ 2003; Heller, no prelo). A reconstrução da categoria
acabou por lhe conferir feições distintivas e irreconciliáveis com as famílias de argumentos da sociedade civil
que a partir do jusnaturalismo tem-na incorporado na reflexão da relação entre Estado e sociedade (Gurza
Lavalle 1999).
2
Entre 1970 e 1990, as contribuições privadas e governamentais transferidas mediante as ONGs do
hemisfério norte a suas homólogas do hemisfério sul aumentaram significativamente, passando de 1000 a
7.200 milhões de dólares. De fato, no início da década de 90, 13% das contribuições oficiais do hemisfério
norte para o hemisfério sul eram alocadas por intermediação das ONGs (PNUD, 1993: 100 e 106).
3
Nos orçamentos participativos das cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo e Santo
André, por exemplo, mais da metade dos delegados eleitos durante a primeira rodada de assembléias
territoriais e temáticas são lideranças de organizações civis e não cidadãos “avulsos”. Nos conselhos gestores
de políticas públicas ocorre fenômeno semelhante (Houtzager et al 2004), suscitando questões acerca da

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Porém, malgrado e em boa medida graças a semelhante sucesso, sabe-se


surpreendentemente pouco acerca do modus operandi das organizações civis reais.
Caracterizações altamente estilizadas de uma esfera de ação societária circunscrita por
princípios unificadores comuns e por nítida diferenciação em relação ao Estado e ao
mercado alimentaram consensos largamente difundidos sobre as potencialidades da
sociedade civil  por sinal, consensos pouco sensíveis às diferenças internas, conflitos,
afinidades, hierarquias e modalidades de articulação próprias ao universo das organizações
civis reais. Filões completos de questões sociologicamente ricas e passíveis de
problematização permaneceram, assim, nos “bastidores” da sociedade civil; área sob o
domínio biográfico dos atores, rara vez freqüentada pelo olhar externo. Aqui, a idéia de
“sociedade civil” permanece reservada apenas para remeter a essa perspectiva geral
existente na literatura, com ecos claros nas comunidades internacionais de formuladores de
políticas, mas nunca aos atores empíricos estudados. Para eles utiliza-se o termo
“organizações civis”, mais neutro e, de certo, menos estilizado e normativamente
sobrecarregado.4

Adentrando nos “bastidores”, este paper visa trazer à tona e apurar problemas pouco
trabalhados, bem como avançar na elaboração de respostas alicerçadas na produção de
conhecimento empírico.5 Com maior precisão, a partir de estratégia analítica de análise de
redes aplicada aos resultados de survey realizado na cidade de São Paulo em 2002, nas
páginas que se seguem será abordada uma questão que, a despeito da sua relevância, tem
recebido tratamento precário na literatura: como funcionam as organizações civis? Isto é,
quais as diferentes lógicas de atuação e dinâmicas internas de interação que organizam o
universo desses atores societários? O equacionamento de tal interrogação de modo a torná-

emergência de novas formas de representação explicitamente política no seio das organizações civis (Gurza
Lavalle et al 2006a, 2006b).
4
Dois componentes normativos definem as fronteiras da sociedade civil na literatura, a saber, autolimitação e
autonomia dos atores societários (ver Cohen e Arato 1995; Olvera 2003a). Para evitar mal-entendidos,
cumpre esclarecer que não se sustenta nestas páginas qualquer crítica geral ao papel da teoria na construção
de conhecimento, apenas atenta-se para os custos cognitivos de certas formulações teóricas da chamada
sociedade civil de caráter normativo e altamente estilizado.
5
Os resultados apresentados nestas páginas formam parte de projeto de pesquisa mais amplo, cuja formulação
por extenso, bem como diferentes publicações dele derivadas encontram-se gratuitamente disponíveis na
página eletrônica do próprio projeto (Houtzager et al 2002): “Rights, Representation and the Poor:
Comparing Large Developing Country Democracies – Brazil, Indian and Mexico”-
http://www.ids.ac.uk/gdr/cfs/research/Collective%20Actors.html

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la passível de tratamento empírico sistemático exige iniludivelmente um esforço de


concreção, que pressupõe e torna-se viável graças a um recorte (abstração) sobre o mundo a
ser observado. O funcionamento do universo das organizações civis será aqui reconstruído
a partir de três recortes analíticos: i) o papel desempenhado por diferentes tipos de
entidades em relação ao universo das organizações civis, ii) as formas de relacionamento
que cada tipo de organização civil estabelece entre si, quer dizer, com outras entidades do
mesmo tipo  ONGs com ONGs, associações de bairro com associações de bairro, etc ,
iii) e os vínculos preferenciais e inclusive alianças que estruturam o universo dos atores
estudados. Cada recorte é nutrido por uma mudança de ângulo ou perspectiva sobre a
mesma unidade de análise: as relações. No primeiro caso, a distinção entre os papeis
desenvolvidos pelos diferentes tipos de organizações civis exige centrar o foco na relação
entre cada tipo e o universo das organizações como um todo; no segundo, é preciso fixar o
olhar e examinar cuidadosamente apenas as conexões internas próprias a cada tipo de
organização civil, como se se tratasse de esquadrinhar subcampos caracterizados por
lógicas relacionais distintas; no terceiro, a atenção não se detém no universo das
organizações civis como um todo, nem nas dinâmicas das organizações pertencentes ao
mesmo tipo, mas opera novo recorte sobre as inter-relações mais freqüentes entre tipos de
entidades distintos, mostrando claramente afinidades e distâncias que organizam as
constelações de atores do universo das organizações civis na cidade de São Paulo.

“Análise relacional” e de “redes” assumem nestas páginas conotações precisas, e


convém distingui-las de outras acepções ora epistêmicas ora simplesmente metafóricas. O
exame dos fenômenos sociais em termos relacionais é hoje não apenas uma opção isenta de
controvérsia, mas um cânone epistemológico das ciências sociais (Bourdieu et al 1987;
Bourdieu 1990). Embora o conceito epistêmico “relação” coincida, de fato, com os vínculos
como objeto de estudo para iluminar o comportamento e resultados da ação de
determinados atores, nele inexiste qualquer orientação metodológica acerca de como
equacionar a abordagem relacional desses vínculos. Nesse sentido, a análise de redes
constitui uma estratégia analítica bastante consolidada, com repertório metodológico
versátil e de recursos em crescente expansão, que permite o tratamento empírico das formas
(estrutura) e lógicas (fluxos) de vinculação que animam a atuação de conjuntos de atores 
atores cujo número pode variar de grupos pequenos a constelações complexas. De outro

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lado, a análise de redes definida como metodologia, com suas potencialidades heurísticas e
restrições internas, difere do uso mais comum  por vezes quase corriqueiro  da noção
de “redes” na semântica contemporânea das ciências sociais. De modo flexível, com limites
laxos, e, a rigor, com estatuto de metáfora, as “redes” se tornaram elemento freqüente na
análise social. Entre a metodologia de redes e os usos metafóricos da noção “redes” há
diferenças de gênero e não apenas de grau, da mesma forma em que a metáfora da
mecânica aplicada de modo brilhante no Leviatã não constitui uma aplicação da física
mecânica. Sem dúvida, as metáforas também desempenham funções cognitivas, embora
apenas como sugestão intuitiva do espírito das idéias quanto àquilo que elas visam iluminar
no mundo. Aqui, a análise de redes se atém ao bônus e ônus da sua definição como
metodologia com um repertório próprio de recursos técnicos6.

Os ganhos cognitivos possibilitados pela estratégia de análise de redes falam por si


próprios. Existe uma conectividade difusa notável entre as organizações civis paulistanas.
De um lado, e como era de se esperar devido às dimensões da rede e ao agir esparso do tipo
de atores em análise, essas organizações encontram-se articuladas por uma rede de
relacionamentos bastante esgarçada; do outro, todavia, elas compõem uma rede só, o que
destaca a potencialidade de uma conectividade difusa entre um número considerável de
entidades. Os três recortes analíticos adotados revelaram padrões de relacionamento com
conseqüências pertinentes para entender o funcionamento das organizações civis. Primeiro,
trata-se de um universo de atores altamente hierarquizado, em que Organizações Populares,
ONGs e articuladoras ocupam posições centrais privilegiadas por maiores capacidades de
ação e escolha, enquanto associações de bairro, comunitárias, e entidades assistenciais,
claramente periféricas, se mostram dependentes das primeiras e com opções de atuação
limitadas. Segundo, os tipos de organizações civis melhor articuladas entre si, quer dizer,
que utilizam a construção de vínculos com seus pares como estratégia de atuação (ONGs
com ONGs, por exemplo), correspondem, precisamente, àquelas que também ocupam
posições privilegiadas na rede como um todo. Por outras palavras, associações de bairro,
comunitárias e entidades beneficentes entabulam poucas interações com entidades do
mesmo tipo, o que aponta para a conexão entre a centralidade e capacidade de ação de cada

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Foi utilizado o software Ucinet (Borgatti et al 2002)

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tipo de organização civil e sua estratégia de atuação em relação aos seus pares. Terceiro
achado: verificou-se a existência de vínculos preferenciais entre certos tipos de
organização. Tais vínculos seguem sempre a mesma direção: das entidades periféricas para
aquelas com maiores alcances e capacidade de atuação ou, como era de se esperar, das
organizações com posições privilegiadas para outras organizações igualmente privilegiadas.
Em suma, uma só rede de conectividade difusa, hierárquica, mas com capacidade de
agregação e coordenação de caráter horizontal entre entidades bem posicionadas, e de
índole vertical em relação a organizações como as associações de bairro, comunitárias e
entidades assistenciais.

Porém, entidades podem ocupar posições privilegiadas ou ter capacidades de


atuação limitadas por diversos motivos e desempenhando papéis muito diferentes. É neste
terreno que os resultados são mais valiosos, pois permitem caracterização relacional do
funcionamento de cada tipo de organização civil estudada. Análises detalhadas desse
funcionamento exigem espaço maior que o utilizado nestas páginas  já bastante
numerosas  e, sem dúvida, seriam passíveis de elaboração em melhores condições dentro
de artigos específicos. Aqui serão salientados apenas os principais achados contra-intuitivos
e as feições mais relevantes do funcionamento de cada tipo de organização civil, de modo a
atentar para lacunas no estado do conhecimento sobre os atores estudados  lacunas
iluminadas ou “descobertas” a partir de uma perspectiva relacional. Dentre tais achados
contra-intuitivos, cumpre por ora ressaltar apenas duas questões: i) no percurso dos últimos
anos houve mudanças consideráveis no plano da ação coletiva popular, e hoje as
associações de bairro mantêm clara preferência pela construção de vínculos com
articuladoras e não com organizações populares  embora as últimas orientem seu
trabalho, na amostra examinada, para questões de infraestrutura urbana e de moradia. Em
fórmula sintética e algo altissonante, trata-se de um descolamento da lógica do protesto e da
mobilização de massas para a lógica do projeto. Conforme será argumentado, isso é indício
tanto das transformações amplas na lógica da intervenção do Estado ocorridas nas duas
últimas décadas quanto de uma capacidade extraordinária de determinados tipos de
organizações civis de moldar a lógica da ação coletiva popular. ii) As articuladoras
desempenham um papel mais relevante na representação de interesses e na coordenação da

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atuação das organizações civis na cidade de São Paulo do que as organizações populares e
do que as ONGs; o que também aponta para mudanças importantes apenas parcialmente
registradas na literatura  a começar pelo fato de as articuladoras não terem sido objeto de
estudo específico. A centralidade das articuladoras atesta a capacidade de construção
institucional das organizações civis, em particular das ONGs, e os alcances desses
“andaimes” institucionais para escalar demandas e problemas, bem como para representar
interesses e perfilar agendas compartilhadas por constelações amplas de atores socais.

Duas feições inovadoras definem este trabalho em relação ao conhecimento


acumulado graças à produção acadêmica das últimas décadas. Tal como observado por
Bebbington (2002), em exame dos vieses metodológicos que solapam a construção de
conhecimento sobre as ONGs na América Latina, as análises empíricas nesta área não
apenas costumam privilegiar o próprio ator como unidade de análise, mas não raro elevam-
no ao estatuto de principal produtor de conhecimento sobre si próprio e sobre o campo em
que se encontra inserido. Nestas páginas, a abordagem é sempre relacional, quer dizer, não
indaga atributos do ator em si, senão das suas interações com outros atores, e não procura
explicar as funções do ator enquanto tal, mas as funções desempenhadas por ele em relação
a outros atores e à utilização que estes fazem do primeiro. Os três elementos de análise a
serem explorados qualificam padrões de relações. Ademais, é vantagem inerente à análise
de redes permitir interpretações estruturais das capacidades e ações dos atores, ou seja, não
baseadas na autocompreensão e racionalização (subjetiva) de si próprios, mas na sua
posição (objetiva) dentro de redes de relações que condensam e condicionam a lógica e
alcances da sua atuação.

Os resultados apresentados, na íntegra, são produto de survey levado a cabo no


município de São Paulo, ao longo de seis messes de trabalho de campo no ano de 2002. Ao
todo, 2O2 organizações civis foram entrevistadas.7 Os critérios de escolha, expostos em
seção específica deste paper, favoreceram organizações civis ativas, particularmente
aquelas engajadas nos segmentos mal-aquinhoados da população, o que torna os resultados
aqui expostos particularmente oportunos para se pensar nas capacidades de agregação,
reivindicação e representação que o universo das organizações civis oferece para as

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camadas de baixos recursos. Utilizou-se a técnica de bola-de-neve (snowball) para a


construção da amostra e levantaram-se informações acerca das conexões ascendentes,
descendentes e horizontais das entidades entrevistadas.8 Os diversos tipos de atores e o
conhecimento estabelecido na literatura sobre eles serão abordados nas próximas seções, e,
depois, serão explicitadas a estratégia de análise estrutural aqui ensejada e a metodologia
correspondente. A síntese geral dos resultados em termos de posições centrais e marginais
ocupadas pelas organizações civis, seguida do exame do modus operandi de cada um dos
tipos analisados, ocupará as penúltimas seções. A guisa de conclusão, sumarizam-se os
principais achados e atenta-se para suas implicações quanto ao estado do conhecimento dos
atores em questão.

2. À Captura de Atores Elusivos


O estudo das organizações civis impõe o desafio de desenvolver caracterizações
capazes de organizar de modo coerente a complexidade e diversidade inerente a esses
atores. Os rótulos normalmente utilizados para distinguir atores societários são objeto de
disputa simbólica para atribuir sentido a seu agir, e, portanto, a assunção de uma
determinada denominação por parte das entidades entrevistada obedece a uma série de
cálculos de auto-apresentação pública, destinados a posicioná-las em campos específicos do
mundo das organizações civis perante interlocutores determinados. No intuito de contornar
essa dificuldade, as organizações civis não foram classificadas com base em suas
autodefinições, senão conforme critérios objetivos de duas ordens: a relação com seus
beneficiários e o perfil das atividades normalmente realizadas. No primeiro caso, (i) o
conjunto dos beneficiários encarna uma unidade real ou abstrata (por exemplo, os
moradores do bairro ou os cidadãos, respectivamente), (ii) cujos componentes são
indivíduos, organizações e atores coletivos, ou segmentos da população (iii) concebidos

7
No trabalho de campo foram entrevistadas 229 organizações civis, mas devido a critérios metodológicos
apenas foram contempladas 202 na análise de redes.
8
Também foram indagados as atividades, objetivos, origens e perfil institucional das organizações civis.
Neste paper, além das características contempladas para a delimitação dos diferentes tipos de organizações
civis (ver Quadro 1), apenas os vínculos receberão tratamento sistemático; entretanto, achados relevantes
sobre atributos das organizações civis paulistanas têm sido aventados alhures (Houtzager et al 2004; Gurza
Lavalle et al 2004b, 2006a, 2006b). As informações metodológicas, bem como o questionário (Houtzager et al
2003), encontram-se disponíveis para consulta na página do projeto (ver nota de roda-pé 5).

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como membros ou sócios, como público alvo, ou como a comunidade. No segundo caso, a
cada tipo de associação corresponde (i) uma estratégia de atuação distintiva e (ii)
combinações excludentes de atividades orientadas para a reivindicação e mobilização, para
o fornecimento de serviços, para a organização popular, ou para a intermediação entre o
governo e os beneficiários.

Mediante a aplicação desses critérios tornou-se possível delinear uma tipologia de


atores da sociedade civil, cujas feições tornam-se intuitivamente claras pelas denominações
aqui utilizadas: ONGs, organizações populares, associações de bairro, associações
comunitárias, entidades assistenciais, articuladoras e fóruns. Por exemplo, as ONGs
costumam trabalhar para beneficiários definidos em termos de uma unidade abstrata (i),
composta por determinados recortes ou segmentos da população (ii) concebidos não como
membros ou sócios, mas como público alvo (iii)  v. gr. crianças vítimas de violência
familiar ; sua estratégia de atuação distintiva normalmente é a tematização pública de
problemas (i) trabalhados dentro de uma semântica política de direitos cidadãos e/o
humanos  direitos da criança e do adolescente ; nesse sentido, é raro definirem o perfil
das suas atividades a partir da mobilização dos eventuais beneficiários ou da organização
popular, antes, centram-nas em combinações diferentes de prestação de serviços e de
intermediação simbólica ou material entre o poder público e a sociedade (ii). O problema
contornado mediante a adoção de parâmetros formais, é claro, não diz respeito à criação de
novas denominações ou classificações imaginativas, mas à definição e introdução de
critérios objetivos (de objetivação, se sequer) capazes de equacionar as dificuldades
inerentes à autoclassificação.

A relação entre a tipologia e as caracterizações disponíveis na literatura será


abordada na próxima seção. O Quadro 1 sistematiza a tipologia, oferece exemplos das
organizações civis classificadas em cada tipo, e expõe outras informações úteis. A
composição da amostra obedece aos critérios adotados para delimitar e recortar, conforme
os propósitos da pesquisa, o universo de organizações civis entrevistáveis gerado pela
técnica de bola de neve (snowball) (ver seção 4 acerca da estratégia analítica). As ONGs
registram, sem rivalidade, o maior peso na amostra (30%). Entidades assistenciais,
articuladoras e associações de bairro apresentam números semelhantes, ligeiramente

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superiores a 15% da amostra. Por sua vez, fóruns, associações comunitárias e organizações
populares constituem os tipos com menor freqüência (entre 5% e 8%).

Quadro 1. Tipologia dos Atores da Sociedade Civil


Categoria Freq % Beneficiários Atividades Exemplos
(i) Unidade Abstrata Instituto Polis; Ação
(ii) Segmentos da (i) Tematizar publicamente problemas Educativa; Grupo
ONGs 60 30 Corsa
população (ii) Reivindicação; intermediação
(iii) Público Alvo
(i) Unidade Abstrata MST; Movimento de
(ii) Segmentos da (i) Articular atores e iniciativas sociais Moradia do Centro;
Organizações Unificação de Lutas
11 5 população (ii) Reivindicação/ mobilização;
Populares (iii) Membros ou intermediação de Cortiços
Comunidade
(i) Projeção de demandas locais e ajuda Soc. de Amigos de
(i) Unidade Real Vila Sabrina; Soc.
mútua
Associações de (ii) Indivíduos Amigos de Vila
34 17 (ii) Organização popular;
Bairro (iii) Membros ou Alpinas; União dos
reivindicação/ mobilização; Moradores do
Comunidade
fornecimento de serviços Parque Bristol
Clubes de Mães
Coração do Amor;
(i) Unidade Real
Associações (i) Ajuda mútua Espaço Cultural São
17 8 (ii) Indivíduos
Comunitárias (ii) Fornecimento de serviços Mateus; Ass. de
(iii) Membros Deficientes Físicos
de Sapopemba
(i) Unidade Real ou (i) Prestar assistência definida por Lar Altair Martins;
Entidades Abstrata Centro Social Leão
34 17 vulnerabilidades
Assistenciais (ii) Indivíduos XIII; Serviço Social
(iii) Público Alvo (ii) Fornecimento de serviços Perseverança
Ass. Brasileira de
(i) Unidade Real (i) Articular atores e iniciativas sociais ONGs (Abong);
Fundação Abrinq;
(ii) Organizações e (ii) Reivindicação/ mobilização;
Articuladoras 33 16 Rede Brasileira das
Atores Coletivos organização popular; Entidades Assisten-
(iii) Membros intermediação ciais Filantrópicas
(Rebraf)
(i) Unidade Real ou Fórum Municipal de
Abstrata i) Tematizar publicamente problemas; Saúde, Fórum DCA;
(ii) Organizações e articular atores e iniciativas sociais. Fórum Lixo e
Fóruns 13 6 Cidadania da Cd. De
Atores Coletivos ii) Reivindicação/ mobilização;
(iii) Membros ou intermediação SP
Comunidade

Visto que toda tipologia leva à reagrupação de resultados em subconjuntos, caberia


perguntar se eventuais agrupações seguindo outros critérios autorizariam leituras como
aquela que será apresentada nestas páginas. A redução de casos (organizações civis) a
clusters (tipologia) costuma obedecer a dois critérios básicos: ou há boas razões analíticas
para optar por uma forma específica de agrupação ou análises empíricas mediante técnicas
de cluster mostram padrões empíricos consistentes  independentemente deles
corresponderem ou não a expectativas analíticas claramente formuladas. Neste caso, a
agrupação responde a ambos critérios. De um lado, a tipologia de organizações civis

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constitui uma síntese do conhecimento acumulado sobre esse universo de atores e agiliza a
interlocução com atores e autores interessados nas questões aqui analisadas; do outro, testes
empíricos não revelaram outras formas de agrupação consistentes.

3. A Literatura e as Caracterizações
As lacunas no conhecimento das dinâmicas internas do universo das organizações
civis não passaram desapercebidas sequer entre aqueles que mais decisivamente
contribuíram para alimentar a variante enfática da sociedade civil  para dizê-lo com
fórmula cunhada por Sergio Costa9 ; antes, seus autores mais lúcidos reagiram, não sem
certo estranhamento, contra os excessos simplificadores e maniqueístas dos usos da
categoria sociedade civil, bem como assinalaram as ambigüidades analíticas que a sua
própria redefinição conceitual tinha deixado em pé.10 Andrew Arato (1994: 21), por
exemplo, em texto apenas dois anos posterior a sua influente obra publicada com Jean
Cohen11, atentou para os efeitos de escurecimento da categoria “sociedade civil” sobre a
variedade de grupos e movimentos por ela englobados. Mais: re-confirmou de modo
incisivo aquilo que sua alentada atualização teórica da categoria “sociedade civil” tinha
processado e construído de modo profuso, a saber, “... a unidade da sociedade civil só é
óbvia quando considerada de uma perspectiva normativa” (Arato 1994: 21; ver Cohen e
Arato 1992: 395-475).12
Destarte, não é de causar espanto que, no Brasil, uma das poucas distinções
afincadas por essa literatura para diferenciar atores societários tenha objetivado não a

9
Trata-se de autores do debate teórico internacional que, nos anos 1990, apostaram no fortalecimento da
sociedade civil como “nódulo normativo de um projeto radical democrático”, como “um desiderato político-
emancipatório” (Costa 1997: 9). Os autores são bem conhecidos pela sua obra e influência: Andrew Arato,
Jean Cohen, Charles Taylor, John Keane, Michel Walzer.
10
Michael Walzer, por exemplo, no seu conhecido ensaio “The Civil society argument”, julgou pertinente
esclarecer aos seus colegas de argumento: “Eu gostaria de introduzir uma advertência contra as tendências
antipolíticas que comumente acompanham a celebração da sociedade civil. As redes de associações não
podem dispensar, mas incorporam as agências de poder do Estado” (1998: 304). Arato (1994: 25) realizou
advertência semelhante a respeito da “... desastrosa tendência de desvalorizar o parlamento e a competição
partidária”.
11
Trata-se, é claro, de Social theory and civil society, publicada em 1992.
12
De fato, o debate pela re-especificação da “correta” compreensão da categoria sociedade civil, próprio dos
anos 1990, foi estabelecido em termos da superioridade do novo conceito pela sua capacidade da colher e
iluminar o componente normativo da sociedade civil (ver Avritzer 1994: 271-308). Para um balanço crítico
sobre o ciclo em que foram entronizadas e, depois, abandonadas compreensões enfaticamente normativas da
sociedade civil ver Gurza Lavalle (2003).

12
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

introdução de quaisquer princípios de distinção no interior da sociedade civil, mas, antes,


cindi-la de modo definitivo dos grupos de interesse; isto é, atores da sociedade civil  por
definição preocupados, nessa perspectiva, com assuntos relevantes para o conjunto da
sociedade  seriam em essência diferentes de atores orientados à defesa dos seus próprios
interesses.13 Afinal, o novo projeto emancipatório encarnado na reconstrução teórica da
categoria “sociedade civil” autodefine-se em termos inassimiláveis ao velho pluralismo
liberal da teoria democrática. Em reação à lógica unificadora e virtuosa imputada à
“sociedade civil”, concebida em oposição a um mundo de instituições políticas (Estado)
igualmente unificado ou, de modo mais preciso, monolítico, a literatura tem investido no
Brasil (Dagnino et al 2006)  e pelo mundo afora (Olvera 2003b; Asunção 2006)  na
operação de conferir dignidade analítica própria à noção de heterogeneidade da sociedade
civil.
Sem dúvida, o conhecimento da atuação real das organizações civis encontra-se, no
Brasil e no mundo, além das distinções propostas por perspectivas altamente estilizadas ou
pela proposição abstrata da heterogeneidade como dimensão analítica relevante. Primeiro,
porque as assimilações locais do debate teórico internacional acabaram por ceder passo à
multiplicação de anomalias e insuficiências em diversos contextos nacionais. Por exemplo,
na Índia ou em outros países do sul da Ásia, marcados por conjuntos de atores societários
os mais diversos, mas não pós-materiais, nem propriamente seculares ou sequer pós-
convencionais (Tandon e Mohanty 2003; Oommen 2004)  para lembrar algumas das
feições utilizadas em caracterizações de inspiração habermasiana da sociedade civil.
Também em parte dos países latino-americanos, com longas tradições de ação coletiva
informal ou com presença de forte conservadorismo moral, dificilmente enquadráveis no
perfil institucionalizado e moderno não raro imputado à sociedade civil (Houtzager et al
2005; Olvera 2003a; Avritzer 2004); ou ainda no Brasil, cuja intensa inovação em
experiências participativas para o desenho e supervisão de políticas públicas exigiu uma
reformulação dos termos do debate para se pensar na relação entre o Estado e a chamada
sociedade civil (Dagnino 2003; Texeira 2003; Perissinoto 2004). Segundo, porque outras

13
Para uma defesa da diferenciação entre grupos de interesse e sociedade civil ver os trabalhos de Costa
(1997: 127; 1994: 42-48); para uma análise dedicada a fundamentar a relação entre sociedade civil e interesse
geral no plano da teoria ver Cohen e Arato (1992: 395-475).

13
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

agendas de pesquisa, por certo menos influentes, debruçaram-se sobre o estudo das
organizações civis em registro teoricamente menos sobre-determinado. Embora a
nominação do campo da ação societária seja sabidamente um terreno de disputa simbólica,
pelo que optar entre termos como “terceiro setor” ou inclusive “sociedade civil” não é mero
recurso lingüístico, é fato que, no Brasil, algumas das reconstruções mais ricas e nuançadas
da difícil sedimentação de identidades no interior do universo das organizações civis foram
elaboradas sob a agenda de pesquisa do terceiro setor (v. gr. Landim 1998; Fernandes
2002).14 Por fim, porque parte nada desprezível do conhecimento sobre as transformações
internas das organizações civis foi produzida pelos próprios atores sociais, céticos e
receosos perante um mundo acadêmico que, nos anos 1980, cultivou exíguo interesse pelos
fenômenos de invenção e renovação organizacional emergentes no plano da ação coletiva
institucionalizada  notadamente as ONGs (Landim 2002).

O trabalho desenvolvido nas últimas décadas por essas e outras perspectivas para
apreender a profusão de “projetos parcelares” e “micro discursos” (Carvalho, 1998: 85), o
pragmatismo e práticas diversas da miríade de entidades que compõem o universo das
organizações civis, constitui o conhecimento disponível para caracterizar os diferentes tipos
de organizações aqui estudadas. Esse conhecimento é marcadamente desigual não apenas
em virtude da maior ou menor distância entre cada tipo de organização da tipologia aqui
proposta e as denominações usuais entre os atores e na literatura, mas, sobretudo, devido a
que a própria literatura tem prestado atenção muito díspar a esses atores em função da sua
relevância dentro de determinadas compreensões da transformação social. Na segunda
metade dos anos 1970 e ao longo da seguinte década, os movimentos sociais ocuparam
posição proeminente em agendas acadêmicas e políticas, cedendo sua centralidade à
categoria sociedade civil nos anos 1990  com destaque para as ONGs. No outro extremo,

14
Via de regra, aqueles que “optam” pelo termo “terceiro setor” levantam ressalvas perante o caráter mais
restrito da “denominação” “sociedade civil”, procurando englobar esta dentro do primeiro (v.gr. Coelho 2000:
57-79). Por sua vez, aqueles optam pela semântica da sociedade civil acusam que, nas suas conotações, o
terceiro setor “Encobre ou recobre o próprio significado da ação política da sociedade civil contemporânea”
(Carvalho, 1998: 83). Para uma análise a este respeito ver o trabalho de Paoli (2003). De fato, a semântica da
sociedade civil é própria de atores e autores passíveis de serem alinhados dentro das coordenadas vagas de um
campo popular e de esquerda, enquanto o registro do terceiro setor costuma ser comum em organizações civis
filantrópicas, no circuito da ação social empresarial e em comunidades de formuladores de políticas públicas.
Não parece fortuito que, em clara interface entre ação societária e mercado, uma das qualidades mais
valorizadas do terceiro setor seja o uso social sem fins de lucro de propriedade privada (Bresser e Grau 1998).

14
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

e plausivelmente em virtude de certo preconceito, as associações assistenciais nunca foram


objeto de estudo ou reflexão intensa no âmbito acadêmico. Nesse sentido, a caracterização
dos tipos de organizações civis, nos parágrafos que se seguem, espelha com maior ou
menor fidelidade o estado da literatura; contudo, nestas páginas os diferentes tipos de
organizações civis são concebidos sem qualquer hierarquia a priori e sua diferenciação em
termos de protagonismo ou centralidade no universo das organizações civis será, a rigor,
um resultado empírico da análise.

A distância entre a tipologia e os consensos existentes na literatura é menor no caso


dos atores que maior atenção têm recebido, tal e como ocorre com as ONG’s. Embora a
denominação “organização não-governamental”, oriunda dos organismos de cooperação
internacional, tenha sido utilizada de modo corrente como termo genérico para as
organizações civis na literatura internacional, no Brasil corresponde strictu sensu às
entidades conhecidas na literatura anglo-saxônica como entidades de Advocacy 
dedicadas a vocalizar ou reivindicar publicamente as demandas e necessidades de terceiros,
quer dizer, de determinados segmentos da população ou de determinadas causas. Se na sua
origem foram concebidas como entidades de assessoria aos movimentos sociais, avessas a
qualquer protagonismo próprio, há consenso amplo na literatura nacional quanto ao fato de
as ONGs terem se tornado os atores de maior destaque no cenário da ação coletiva nos anos
1990.15 Também há consenso no que diz respeito a certas feições recorrentes na sua
caracterização, a saber, discurso elaborado dentro de uma semântica de direitos e de
ampliação substantiva da democracia, orientação temática, ação voltada à publicitação de
problemas, e coordenação com outros atores mediante trabalho em rede; por outras
palavras, as ONGs apresentam “... forte vocação para uma atuação no campo da política, o
investimento na mobilização da opinião pública, no lobby, na defesa no espaço público de
interesses difusos... esse tipo de atuação pressupõe o desenvolvimento da habilidade, por
parte das ONGs, em estabelecer interações, parcerias, formas de comunicação e cooperação
... [de modo a desempenhar] seu tradicional papel de multi-mediadoras sociais” (Landim

15
V.gr: “... as ONGs passaram a ter muito mais importância nos anos 90 do que os próprios movimentos
sociais” (Gohn 2003: 22; ver também Paz 2005: 8-11).

15
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

1996: xiv).16 A definição de para quem trabalham as ONGs é menos pacífica na literatura,
pois mesmo se aceita essa função de mediação capaz de transitar “entre os locais
românticos das comunidades tradicionais e os esclarecidos territórios da cidadania”
(Fernandes 2002: 76), ou sua conhecida origem como entidades de apoio aos movimentos
populares,17 parece inescapável reconhecer que “tal função de mediação é unilateral”
(Fernandes 2002: 78). A compreensão dos beneficiários do trabalho dessas organizações
em termos de público alvo, a despeito de parcialmente controversa, aponta precisamente
para essa unilateralidade.18
A segunda categoria da tipologia, organizações populares, corresponde em parte
àqueles atores que, a partir dos anos 1970 e, sobretudo, nos 1980, passaram a ser
denominados e pensados nos registros teóricos desenvolvidos em torno do conceito
“movimentos sociais”  especialmente quando utilizado para apreender a lógica de
atuação de atores específicos voltados para a mobilização coletiva a propósito de demandas
populares. À margem das orientações teóricas mais influentes na literatura sobre
movimentos sociais19, o conceito apresenta problemas de ambigüidade na sua definição:
tem sido utilizado igualmente na definição de atores empíricos específicos, normalmente
portadores de capacidade de contestação perante o Estado — Movimento dos Sem Terra

16
Na caracterização de Maria do Carmo Carvalho (1998: 87-88), as ONGs se regem pelo princípio da
solidariedade, por ações de multiple advocacy, de empowerment, e determinam fortemente a agenda pública.
A importância das redes ou a caracterização do estilo de trabalho das ONGs com base na noção de redes é
constante na literatura (Fernandes 1994: 128-131; Scherer-Warren 1996).
17
Há quem ainda descreva a relação entre as ONGs e seus beneficiários em termos que parecem mais
apropriados para as décadas de 1970 e 1980: “... na maior parte [trabalhando] junto a grupos populares
discriminados ou marginalizados...” (Gohn, Ilse In: Coelho 2000: xv). Também: até há alguns anos e pelas
prioridades das agências financiadoras “... a razão de ser de muitas ONGs estava associada a sua aliança com
organizações populares”. (Casanovas e García 1999: 63-67) Ver o trabalho de Landim (2002) para uma
reconstrução notável da gênese das ONGs como entidades de assessoria e apóio nos anos setentas, e sua
diversificação temática e adensamento organizativo na forma de sub-redes, o que teria levado essas entidades
 em processo tortuoso  a assumir para si a identidade de ONGs e a se desvencilhar progressivamente do
seu arraigo e in-diferenciação dos atores populares. A mesma autora afirma, no entanto, que o contato com
grupos populares continua a ser relevante para as ONGs (Landim 1998).
18
É possível, ainda, encontrar especificações dos beneficiários do trabalho das ONGs em registro semelhante
ao da assistência, próprio de entidades beneficentes (ver Coelho 2000: 60).
19
Houve três grandes vertentes na literatura internacional sobre os movimentos sociais: abordagens
estruturalistas que privilegiaram o movimento urbano popular (Castells 1988; Borja 1981; Singer et al 1980);
abordagens pós-estruturalistas centradas nos processos de construção das identidades dos chamados novos
movimentos sociais (Evers et al 1984; Melucci 1989; Touraine 1983; Sader 1988); e as abordagens
estratégicas do debate anglo-saxônico, que atentaram para as capacidades e dilemas da mobilização de
recursos (Klandermans e Tarrow 1988). Para um balaço acessível das três perspectivas ver Gohn (1997). As
duas primeiras abordagens tornaram-se dominantes no Brasil, por vezes em combinações inovadoras de
extraordinária riqueza sociológica (ver Sader 1988).

16
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

(MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) —, e na unificação analítica de


conjuntos esparsos de iniciativas individuais e coletivas sintonizadas ao longo do tempo por
afinidades de sentido em torno de temas específicos — movimento feminista, movimento
negro, movimento de moradia, movimento de saúde. O universo de atores aqui definidos
como organizações populares corresponde à primeira acepção. Salvo raras exceções (v. gr.
Feltran 2005; Mendonça 2002; Marteleto et al 2002), os movimentos sociais registraram
misterioso sumiço na literatura a partir do início dos anos 1990, em boa medida graças ao
encerramento do ciclo da transição e à conseqüente estabilização e institucionalização da
política e do protesto social, mas também devido a mudanças nas categorias analíticas
utilizadas  agora convertidas ao registro heurístico da sociedade civil e/ou das ONGs
(Gurza Lavalle et al 2004a; Sobottka 2002). A onda de balanços desiludidos do final dos
anos 1980, apontando para a desmobilização e cooptação dos atores, bem como para a
ingenuidade e otimismo dos autores, parece ter prenunciado um certo abandono do
conceito.20 De fato, em que pesem os diagnósticos sobre os efeitos cognitivamente
deletérios da relação “ciclotímica” entre o pensamento acadêmico e a ação coletiva (Götz
1995), não é raro se deparar ainda hoje com diagnósticos que reafirmam o esmaecimento
dos movimentos e a despolitização generalizada da ação coletiva  agora concentrada em
demandas de mera sobrevivência material ou correções de caráter pontual , imputando
semelhante panorama aos efeitos corrosivos do ajuste estrutural (v. gr. Casanovas e García
1999: 63-67; Rucht 2002).21 Seja como for, aos movimentos sociais foi e é conferida uma
capacidade de ação coletiva centrada na construção de novas identidades, normalmente não
absorvíveis dentro do universo das instituições tradicionais de representação interesses;
também um protagonismo altamente espontâneo, devido à exigência de uma mobilização
não burocratizada ou corporativizada.
Bastante conhecidas e até há pouco tempo incontroversas, as entidades assistenciais
exercem fundamentalmente trabalhos de prestação de serviços e assistência direta ao
público para o qual trabalham. Suas feições distintivas são pacíficas na literatura, onde
costumam aparecer sob combinações com ênfases diferenciadas de quatro elementos

20
Ver, por exemplo, os balanços desenvolvidos por Ruth Corrêa Leite Cardoso (1994: 81-90), Flávio S.
Cunha, (1993: 134-135) e Edison Nunes (1987: 92-94).
21
Segundo Gohn (2003: 13-32), por exemplo, nos anos 1990 não há processos de mobilização de massa, mas
de mobilização pontual dentro da lógica da participação cidadã, e não do ativismo popular coletivo.

17
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

recorrentes: ethos cristão, prestação de serviços de índole assistencial, atendimento dos


segmentos mais vulneráveis da população e financiamento provindo do setor privado 
não raro mediante a figura da fundação empresarial (Carvalho, 1998: 87; Landim 2002).
Herdeiras da tradição filantrópica secular para lidar com a questão social, as entidades de
assistência estiveram na origem das primeiras fórmulas de previdência pública adotadas no
Brasil e na América Latina (Fleury 1994), e também definiram parte importante do
repertório de opções associativas disponíveis no século XIX e primeiro terço do XX,
ordenado pela força de gravitação da igreja católica (Avritzer 1997). O perfil mais
tradicional das entidades filantrópicas, embora caracterizado em parte nada desprezível da
literatura sob a suspeição de um halo pré-moderno e conservador, é consensual; contudo, a
história recente do Brasil teria animado deslocamentos polêmicos no sentido de uma
espécie de “onguização” das entidades assistenciais, levando-as a abandonar
progressivamente sua tônica caritativa e apolítica para assumir uma maior politização e
publicitação de seus trabalhos e demandas, bem como à adoção de discursos cifrados no
registro dos direitos e da cidadania (Landim 2002: 32-36; Landim 1998; Coelho 2000: 64;
Paz 205: 18-19).
As associações de bairro exercem atividades relacionadas a demandas urbanas
específicas conforme um princípio de identidade territorial e, nesse sentido, trabalham em e
para uma comunidade. Na literatura dos anos 1980 foram pensadas no registro dos
movimentos sociais, especificamente como movimentos de bairro (Singer 1980: 83-107)
alinhados dentro do campo dos movimentos populares (Fernandes 2002: 45-46); isto é,
distintos, pela sua origem sócio-econômica, das associações de amigos de bairro ou das
associações de moradores de classes médias, que também passaram por processos de
ampliação e politização das suas atividades no contexto das lutas pela transição (Boschi
1987; Singer et al 1980: 85-93). Autoconstrução, conquista de creches e postos de saúde,
ocupação e legalização de terrenos, ampliação e aprimoramento do transporte público, bem
como um leque de reivindicações de infra-estrutura urbana básica, definiam e continuam a
definir, embora de modo menos dramático, a pauta de reivindicações das associações de
bairro; pauta impulsionada mediante a mobilização e pressão da população sobre as
instâncias governamentais de tomada de decisões. Estatuídas analiticamente como
movimentos pelo foco dominante dos anos 1980, as associações de bairro perderam

18
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

centralidade no debate acadêmico no decênio seguinte, pois suas reivindicações


eminentemente materiais ou distributivas, sua baixa visibilidade e suas capacidades
mínimas para disputar a agenda pública tornaram-nas pouco palatáveis às exigências
normativas da perspectiva da nova sociedade civil que definiu o teor do debate nos anos
1990 (Gurza Lavalle 2003).
Por motivos semelhantes, as associações comunitárias tampouco foram objeto de
análise da perspectiva da nova sociedade civil. Mais: pelo seu caráter extremamente diverso
e localizado, sequer constaram entre os atores privilegiados pelos estudos de caso da
literatura sobre movimentos sociais. Há é claro, uma exceção notável na literatura, a saber,
as comunidades eclesiais de bases (CEBs); no entanto, o retraimento da intervenção social
da Igreja a partir do final dos anos 1980 trouxe consigo uma perda acentuada do
protagonismo das CEBs (Diomo 1995). Ainda hoje, parte das associações comunitárias 
notadamente, Centros da Juventude (CJs), grupos de terceira idade ou grupos culturais 
mantém uma conexão direta ou indireta com o trabalho paroquial e pastoral da Igreja
Católica (Doimo 2004).22 Em termos muito gerais, as associações comunitárias respondem
ao velho conceito de sociedades mutualistas ou de ajuda mútua (Fernandes 1994). Nesse
sentido, seus membros são simultaneamente os beneficiários e os agentes ou atores do
trabalho desenvolvido pela entidade; eles constituem uma comunidade ou encontram-se
inseridos numa comunidade maior, cuja lógica pode ser ou não de índole territorial.
Embora de modo pouco freqüente, é possível encontrar caracterizações mais específicas na
literatura para além do mutualismo: micro-territorialidade ou micro-localização associadas
a espaços comunicativos primários, pouca visibilidade, e trabalho voluntário (Carvalho,
1998: 86-87).
Embora as entidades denominadas como articuladoras na tipologia ocupem novo
espaço no cenário da ação coletiva institucionalizada, não têm recebido atenção na
literatura ou, com maior precisão, é regra serem rotuladas como ONGs  e em menor
medida como Organizações Populares  e são tratadas assim de modo indiferenciado sob

22
A expansão das denominações evangélicas não-tradicionais deve ter produzido mudanças no terreno das
organizações comunitárias existentes, bem como nos seus repertórios de problemas e formas de ação. Embora
existam estudos acerca do papel das igrejas evangélicas na política (Coradini 2001) e na formação de valores
políticos nos seus fieis (Fernandes et al 1998; Montero et al 1997), seu efeitos na vida associativa comunitária
não parecem ter merecido igual atenção por parte dos sociólogos e antropólogos da religião.

19
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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essas rúbricas23. O empenho das ONGs na criação de redes e de espaços de coordenação é


amplamente reconhecido (v. gr. Casanovas e García 1999: 69-74; Scherer-Warrem 1996),
todavia, articuladoras diferem significativamente das ONGs em aspectos relevantes para
análises preocupadas com a compreensão das dinâmicas e padrões de interação que
ordenam o universo das organizações civis. Isto, em virtude de serem fundadas por outras
entidades com o intuito de coordenar e articular suas ações, de construir agendas comuns e
de escalar sua capacidade de agregação de interesses com fins de representação perante o
poder público e outros atores sociais. Por outras palavras, as articuladoras podem ser
classificadas como organizações civis de terceira ordem, quer dizer, distintas tanto daquelas
instituídas sob o signo da identidade entre beneficiários e fundadores, administradores ou
trabalhadores das associações  organizações civis de primeira ordem como as
associações de bairro ou as de caráter comunitário , quanto daquelas outras estabelecidas
para beneficiar terceiros definidos como pessoas ou segmentos da população  nesse
sentido, de segunda ordem, como as entidades assistenciais e as ONGs. Assim, as
articuladoras como a Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais
(ABONG), cujos trabalhos estão orientados para outras entidades, são produto notável de
uma estratégia bem sucedida de construção institucional que reflete o adensamento e
diferenciação do universo das organizações civis.
Os fóruns24 se inserem na mesma lógica de coordenação da ação e agregação de
interesses das articuladoras, trabalhando diretamente com organizações da sociedade civil
grupadas por afinidades temáticas; no entanto, diferenciam-se delas por se desempenharem
mais propriamente como espaços de encontro e coordenação periódica. Duas considerações
permitem classificar os fóruns como organizações civis: primeiro, em que pese seu caráter
periódico, possuem um grau de institucionalização suficiente para impedir que seu
funcionamento se torne esporádico; segundo, constituem uma peça importante da

23
Da mesma forma em que boa parte das articuladoras são pensadas como Ongs, algumas poderiam ser
assimiladas às organizações populares; porém, a atuação dessas entidades na coordenação e representação de
interesses de outras organizações civis, e não voltada para mobilização direta de segmentos da população,
valida essa distinção. De modo emblemático, todas as articuladoras de movimentos sociais contempladas na
amostra analisada aqui nasceram após o contexto de transição: Central de Moviementos Populares (fundada
em 1993), Fórun dos Mutirões de São Paulo (1992), União dos Movimentos de Moradia (1987) e Associação
dos Movimentos de Moradia da Região Sul (1994).
24
O plural da palavra latina forum é fora, de uso raro na literatura. Preserva-se aqui a opção de uso corrente:
fóruns.

20
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construção institucional das próprias organizações civis  peça especialmente adequada


para o desenvolvimento e sustentação do trabalho em redes temáticas. Embora o orçamento
participativo e os conselhos gestores de políticas públicas constituam, de longe, os arranjos
institucionais participativos privilegiados na literatura, os fóruns desempenham papel
relevante na definição e coordenação de prioridades para os conselhos. Contudo, salvo raras
exceções (v. gr. Reis e Freire 2002) eles tampouco têm sido objeto de estudo com
dignidade própria.

4. A Análise Relacional como Estratégia Analítica


A análise de redes sociais assume como premissa a importância dos laços sociais
como elementos que estruturam a vida social, imputando a eles diversas conseqüências em
termos de possibilidades e restrições para a ação de indivíduos e atores coletivos. A
unidade de análise utilizada são as relações estabelecidas entre pessoas e entre entidades, e
não os indivíduos ou organizações em si e sequer seus atributos  apesar destes também
serem examinados. Assim, a metodologia de redes permite operacionalizar uma idéia
presente nos autores clássicos das ciências sociais: as relações sociais constituem o
elemento por excelência de estruturação da vida social. Como estratégia analítica, situa-se
em plano cognitivo intermediário, trazendo consigo mudanças de perspectiva tanto na
compreensão do plano macro quanto do micro (Emirbayer 1997). No plano macro (v.gr.
sociedade/sociedade civil), evitam-se interpretações centradas em “esferas” ou “sistemas”
autônomos, internamente organizados e auto-sustentáveis; no entanto, atenta-se para as
múltiplas redes de interação social que compõem esse plano, sobrepondo-se de modo
complexo. No plano micro (v.gr. indivíduos/organizações civis), os atores não são tomados
como entidades pré-constituídas e bem definidas; ao contrário, destaca-se que a formação
dos próprios atores e suas capacidades ocorre por meio de interações complexas. É
importante destacar que, a rigor, a análise de redes sociais não constitui uma teoria e
tampouco um conjunto de técnicas estatísticas complexas, mas uma estratégia analítica
passível de utilização à luz de diferentes perspectivas conceituais e teóricas.

Abordar os papéis desempenhados pelos diferentes tipos de organizações civis, suas


dinâmicas internas e vínculos preferenciais por meio de análise de redes sociais é

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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analiticamente interessante e inovador, pois esta metodologia ― de incipiente difusão no


Brasil25 ― permite examinar os modos de funcionamento de tais entidades sem necessidade
de assumir uma série de pressupostos relativos aos papéis por elas desempenhados, e sem
delimitação prévia das estruturas e hierarquias que ordenam suas inter-relações. Por outras
palavras, a análise de redes permite construir distinções analíticas de caráter empírico,
identificando lógicas comuns que, em vez de serem conceitualmente imputadas na forma de
um sentido de unidade derivado do plano teórico, exprimem padrões de interação recíproca
animados pelos papéis que neles desempenham diferentes tipos de organizações civis. Na
medida em que a lógica comum a um conjunto de organizações civis se encontra inserida
nos padrões de interação, ela tampouco é derivada da autopercepção do ator, antes, as suas
percepções e comportamento é que são explicados à luz da sua posição estrutural numa
rede de relações.

A partir da análise das relações estabelecidas entre os diferentes tipos de


organizações civis, bem como da observação de regularidades nessas relações de interação,
detectam-se padrões estruturais de interação presentes na configuração do universo desses
atores, em uma espécie de “estruturalismo a posteriori”26 ― a posteriori uma vez que a
estrutura de relações é obtida mediante trabalho empírico.27 Relações dos mais variados
tipos, estabelecidas ao longo do tempo, de forma muitas vezes fortuita, não intencional,
contribuem para a construção de redes densas, que são constantemente alteradas pelos
atores e também restringem suas possibilidades de atuação. É a regularidade desses padrões
de relação e interação que forma a estrutura de uma rede dada. Assim, uma das principais
vantagens da análise de redes aqui empregada é a possibilidade de detectar as posições e
papéis desempenhados pelos diferentes tipos de organizações civis em sentido estrutural ―
não metafórico.

Em termos gerais, um ator central no interior de uma dada rede é aquele que, a
partir de um número considerável de relações, consegue exercer grande influência sobre os
demais atores e gerar neles certa dependência, controlando diversas possibilidades de

25
Os trabalhos de Marques (2000; 2003) são pioneiros na área e constituem a referência mais relevante de
aplicação bem-sucedida da análise de redes no campo das políticas públicas.
26
Tilly, “Prisioners of the State”. In: Historical Sociology, nº133, 1992. Citado em Marques (2000).
27
Ao contrário das análises estruturalistas “clássicas” que tinham as estruturas como pressupostos analíticos
(Marques, 2005).

22
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

fluxos e desfrutando uma capacidade maior de fazer escolhas dentro de seu universo de
relações (Hanneman 2001). Enquanto as escolhas aparecem associadas à capacidade de
ação ou agência, os fluxos remetem a bens materiais e imateriais, cuja natureza varia
enormemente dependendo dos atores contemplados pela análise; por exemplo, dinheiro,
mercadorias ou coisas no primeiro caso, e informações, influência ou afeto, no segundo.
Ademais, atores centrais ocupam localizações estratégicas no interior da rede, sendo
importante considerar não apenas os vínculos diretos com outros atores, mas também
aqueles de caráter indireto (Wasserman e Faust 1994). A centralidade no interior de uma
rede surge como conseqüência dos padrões de relações estabelecidos entre os atores e,
portanto, não é um atributo ou “posse” dos atores em si.28 Em suma, a noção de
centralidade está associada às noções de escolha entre diversas alternativas possíveis e de
autonomia ― pouca ou nenhuma dependência ― em relação aos vínculos estabelecidos
com atores específicos.

Transportando essas definições para o universo das organizações civis, é possível


dizer que um ator central: conta com uma densa malha de relacionamentos dentro desse
universo; dispõe de forte capacidade de coordenação da ação de outras organizações civis,
bem como de articulação e agregação de interesses; funciona como referência simbólica
dentro de determinadas constelações de atores; e, não raro, gera dependência nas
organizações civis menos centrais ou mais periféricas, em virtude de as relações
estabelecidas com elas serem assimétricas em termos de repertório de relações e, por
conseguinte, de recursos de poder. Trata-se de assimetria estrutural em termos relacionais,
quer dizer, da desigualdade de recursos inerente às posições ocupadas na rede por
organizações civis centrais e periféricas, o que representa uma importante contribuição da
análise de redes no sentido de permitir a operacionalização de conceitos presentes na
tradição sociológica em planos analíticos mais abstratos  influência, dependência, poder,
etc. (Emirbayer, 1997). Por sua vez, os atores periféricos no universo as organizações civis
ocupam nichos específicos; tendem a desenvolver uma atuação bastante localizada e são
fortemente dependentes das relações que estabelecem com os demais atores 
especialmente os mais centrais  objetivando alcançar outros espaços na rede para ter

28
Conforme destaca Scott (1992), a centralidade de um ator não pode ser determinada isoladamente, sem a

23
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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acesso a informações, fontes de financiamento, incidência na tomada de decisões públicas,


etc. Em suma, também neste caso os modos de inserção das organizações civis em um
universo maior de relações moldam suas possibilidades de ação, pois os padrões de
vinculação estabelecidos por cada tipo de organização civil com os demais e entre si
estruturam complexas redes que, simultaneamente, abrem possibilidades de interação e
constrangem alternativas.

Embora as posições centrais estejam associadas a determinadas vantagens


estruturais, uma organização civil pode ser central por diversos motivos; por exemplo,
mantém um número considerável de relações com outras entidades porque ela procura tais
entidades ou mantém um número considerável de relações com outras entidades, mas ela é
procurada. Os motivos que dizem respeito à posição relativa de um ator na rede não
existem nem são passíveis de interpretação de forma isolada: primeiro, porque sua
combinação gera novos efeitos de centralidade  o saldo para uma organização civil entre
procurar e ser procurada, para mencionar apenas uma combinação possível ; segundo,
porque a centralidade de um ator é um compósito particular dessas combinações possíveis.
A análise de redes permite identificar distintas formas de centralidade, iluminando as
funções específicas que cada tipo de organização civil desempenha na rede. Por isso, as
medidas testadas procuraram cercar diversas formas de centralidade dos atores, sendo
sempre analisadas em conjunto  nunca de maneira isolada , de modo a elaborar uma
caracterização complexa da inserção dos diferentes tipos de organizações civis na rede.

Há diversas ferramentas analíticas disponíveis no âmbito da metodologia de análise


de redes. A maior parte dos resultados aqui expostos exprimem medidas de centralidade29,
utilizadas para destacar a posição relativa de cada um dos atores considerados,
identificando, neste caso, posições claramente centrais e periféricas dentro do universo das
organizações civis. Grosso modo, na análise foram empregadas sete medidas. Procurou-se
identificar tanto as organizações da sociedade civil que funcionam como referências ou
detêm “prestígio” no conjunto das organizações, sendo muito citadas (número de vínculos
recebidos - indegree), quanto aquelas caracterizadas por citar muitos parceiros (número de

consideração da centralidade de todos os outros atores aos quais está conectado.


29
Para uma discussão conceitual a respeito das medidas de centralidade e coesão utilizadas usualmente nas
análises de redes sociais, ver Hanneman (2001).

24
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

vínculos enviados - outdegree).30 Também foi analisada a relação entre tipos de


organizações civis e suas capacidades de intermediação (betweeness) e articulação de
diferentes sub-redes; capacidades que permitem, do ponto de vista do intermediário,
impedir ou facilitar o contato entre diversas entidades, bem como controlar os fluxos entre
elas. Outra forma de caracterização da centralidade consistiu na observação das
organizações civis relativamente mais próximas das outras  proximidade (closenness)
passível de ser traduzida em capacidade de ação e de coordenação.31 Examinou-se
igualmente a assimetria das relações existentes entre as organizações civis, aferindo a
dependência produzida por certas entidades sobre outras, ou o poder de determinada
entidade (power). Procurou-se diferenciar, ainda, as organizações que lançam mais vínculos
daquelas que são preponderantemente receptoras de vínculos, apresentando diferentes tipos
de influência (influence). Procurou-se destacar, também, as organizações com maior acesso
à informação (information) no interior da rede, isto é, ao controle de certos fluxos
preferenciais entre o conjunto de relações disponíveis.

De uso mais modesto nesta análise, algumas medidas de coesão foram empregadas
com o intuito de determinar o modo de estruturação dos atores e suas relações no interior de
uma rede, abordando aspectos como o tamanho da rede, a densidade da rede, as distâncias
existentes entre cada um dos atores (geodesic distance) e o número de atores que podem ser
alcançados no interior da rede (reachability).32 Conforme será demonstrado, as redes de
cada tipo de organização civil possuem características bastante específicas em termos de
coesão e estruturação geral, cuja consideração permite compreender melhor a centralidade
dessas organizações e as funções por elas desempenhadas. Além disso, também foram

30
Ambas as medidas registram a direcionalidade ou direção nos vínculos, isto é, permitem diferenciar
analiticamente relações em que ser citado ou citar outrem não possuem o mesmo valor ou importância.
Devido a diversos interesses analíticos, resolveu-se diferenciar a origem e o destino dos vínculos. Apenas no
caso de algumas medidas, por motivos técnicos, as relações presentes na rede foram consideradas de modo
simétrico. Esses casos serão ressaltados ao longo do texto. Como nem todas as organizações citadas foram
entrevistadas, algumas não tiveram a oportunidade de citar outras entidades, gerando alguns vieses em certas
medidas de centralidade que procuramos minimizar.
31
Para um exame da proximidade como “vantagem estrutural” ver o trabalho de Hanneman (2001:65).
32
O tamanho da rede corresponde ao número total de atores e pode limitar significativamente a capacidade de
construção e manutenção de vínculos, isto é, as interações possíveis. A densidade corresponde à proporção de
vínculos realmente existentes dentre o total de vínculos possíveis, sendo que ela tende a ser menor quanto
maior o tamanho da rede. Além disso, de acordo com Hanneman (2001), redes com baixa densidade tendem a
ter pouco poder – este tende a estar bem diluído entre os diversos atores. Isso é comprovado na descrição dos

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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utilizadas representações gráficas das redes  sociogramas33  tanto para introduzir


subsídios de caráter mais qualitativo à análise quanto para tornar mais fácil a compreensão
dos resultados mediante representações visuais peculiarmente elucidativas.

Considerando a complexidade estatística de algumas das medidas utilizadas, optou-


se por apresentar resultados simplificados, reportando apenas a hierarquia (ranking)
observada entre as organizações civis quanto a sua centralidade. As denominações técnicas
das medidas também foram simplificadas. É importante ressaltar que os padrões estruturais
de inserção dos diferentes tipos de organizações civis na rede foram construídos após a
análise integrada de todas as medidas geradas, e não com base em medidas isoladas  as
quais carecem de sentido se consideradas de modo independente. Cumpre advertir que os
valores apresentados são relativos, ou seja, seu parâmetro é comparativo e reside nos
diferentes valores internos das redes analisadas, não correspondendo a quaisquer valores
absolutos ou externos.

Todas as informações relacionais necessárias para análise de redes aqui apresentada


foram obtidas por meio de entrevistas realizadas com 202 organizações civis, em pesquisa
realizada no município de São Paulo em 2002.34 Ao todo, as entrevistas com essas 202
entidades geraram um total de 741 atores diferentes citados e 1.293 relações diretas
levantadas. Na medida em que cada entidade entrevistada pôde citar até 5 relações em
ordem de importância ou as mais próximas para diferentes tipos de entidades, as redes
examinadas nestas páginas representam a malha mais densa de relações existentes entre as
organizações civis paulistanas pesquisadas ― não a totalidade de vínculos existentes. Cada

resultados. As distâncias são importantes para caracterizar a rede como um todo. A menor distância possível
entre dois atores é denominada distância geodésica.
33
Nos sociogramas cada ponto representa uma organização civil e os traços representam as relações
existentes entre essas organizações. Conforme será visto, os sociogramas são particularmente intuitivos e não
requerem maiores explicações para sua compreensão visual: as setas indicam as direções dessas relações
(atores que citam ou “lançam” relações e atores que são citados ou recebem relações); entretanto, cumpre
esclarecer que o comprimento das linhas e a representação visual da posição do ator no desenho são
“arbitrários”, isto é, não representam qualquer “distância” entre esses atores, mas apenas a presença ou
ausência de relações.
34
Além de abordar vários aspectos dessas associações – como fundação, missão, nível de formalização, temas
de trabalho, membros e/ou beneficiários – essas entrevistas recolheram os vínculos mais fortes dessas
associações com outras organizações civis e também com instituições governamentais; informações estas que
serviram de base para a montagem das redes aqui analisadas. Foram trabalhadas apenas as informações
referentes à existência de vínculos entre organizações civis, sendo desconsiderados na análise os vínculos com

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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relação direta incrementa exponencialmente o número de relações indiretas e, por isso, há


um total de 549.081 relações possíveis. O universo das entidades pesquisadas não foi
definido a priori, mas empiricamente como base nas cadeias de referências fornecidas a
partir de 16 pontos de entrada pelos atores entrevistados; referências colhidas em campo
por meio da técnica bola de neve (snowbal)  bastante utilizada em análises de redes
sociais (Scott, 1992). Esta técnica também é amplamente recomendável para rastrear
“populações ocultas” e/ou características raras na população como um todo (Atkinson e
Flint s.d.; Goodman 1961; Sudman e Kalton 1986) e mostrou-se de extrema eficácia em
relação às alternativas mais comuns para o estudo de organizações civis, a saber, os estudos
de caso e a utilização de listas disponíveis de associações.35

5. Padrões de relacionamento das organizações civis


Esta seção apresenta de modo sintético os principais resultados encontrados na
análise dos padrões de relações entre as diversas organizações civis. As relações foram
examinadas a partir de três ângulos ou recortes analíticos: i) identificação do papel
desempenhado pelos tipos de entidades na rede como um todo ou no conjunto das
organizações civis; ii) análise das formas de relacionamento que as organizações civis de
cada tipo estabelecem entre si; iii) detecção de vínculos preferenciais entre os diferentes
tipos de organizações civis. Cada recorte apresenta contribuições específicas para o
entendimento das dinâmicas de funcionamento das organizações civis. O primeiro mostrou
a estruturação altamente hierárquica desse universo de atores, ou seja, a existência de
entidades mais centrais, com muitas possibilidades de ação e escolha, e outras com
posições mais periféricas, dependentes das primeiras e com opções de atuação limitadas.
Embora na classificação das organizações civis por sua condição de centralidade tenham
sido utilizados outros elementos, os subsídios fundamentais provêm deste recorte analítico.

atores pertencentes à esfera estatal, como agências do governo, ou mesmo as relações com os atores políticos
clássicos, como partidos e sindicatos.
35
Listas apresentam sérias limitações, uma vez que, por definição, são construídas com base em critérios de
exclusão/inclusão, introduzindo vieses incontornáveis à análise. Ademais, implicam aceitar definições e
recortes a priori dos limites do universo das organizações civis  assunção de um conceito implícito de
“sociedade civil”. Os estudos de caso fornecem reconstruções nuançadas de processos, mas dificuldades de
generalização a eles inerentes constituem, como contrapartida, um dos seus pontos vulneráveis.

27
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O segundo, por sua vez, revelou a existência de padrões específicos de estruturação de


relações para cada tipo de organização civil, sendo que as entidades com as redes mais
coesas e organizadas entre si são, precisamente, aquelas que também ocupam posições
centrais no conjunto das organizações civis. Há, assim, uma conexão clara entre a
centralidade de um tipo de organização civil e suas estratégias de atuação em relação às
entidades do seu mesmo tipo. Por fim, o terceiro ângulo evidenciou a existência de vínculos
preferenciais e inclusive de alianças entre certos tipos de organização; preferências que,
antes de serem fortuitas ou casuais, indicam a sedimentação de padrões históricos de
relacionamento, cuja construção traz consigo a vantagem de permitir que sejam atingidos
diversos atores e “locais” da rede com propósitos diversos como a coordenação de ações
conjuntas ou o acesso a fontes de financiamento.

A seguir examinam-se esses resultados, começando, antes, pelas características


gerais da rede de organizações civis aqui analisada  tamanho, densidade e coesão. Depois
se apresentam os resultados referentes aos atores mais centrais e aqueles mais periféricos,
seguidos da análise das relações internas de cada um dos tipos de organização civil aqui
contemplados; também expõem-se os vínculos preferenciais entre as organizações civis.
Como será visto, a análise integrada dos três recortes analíticos permite uma visão mais
complexa dos modos de atuação das organizações civis.

É importante reiterar que tais resultados dizem respeito a uma descrição geral das
posições estruturais das organizações civis na rede; entretanto, atores são igualmente
centrais ou periféricos por motivos diferentes e, não raro, desempenham funções muito
dissímeis, incorporando modalidades bastante específicas de centralidade e padrões
diferenciados de construção de relações. A descrição geral que agora se segue cederá passo,
na seguinte seção, a indagações acerca do significado das posições estruturais de cada tipo
de organização civil.

Uma só rede complexa e esgarçada


Do ponto de vista da teoria de redes, é premissa que em redes muito grandes seja
comum uma baixa densidade de relações, pois nem todas as interações possíveis estarão
presentes; isto é, quanto maior a rede, maior a dificuldade de cada ator atualizar ou

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aproveitar o total dos vínculos potencialmente disponíveis. Do ponto de vista da literatura


da sociedade civil, é de se esperar uma baixa densidade de vínculos entre as organizações
civis, embora por outros motivos relacionados à lógica da ação social: a sociedade civil,
enquanto categoria da teoria social e política redefinida nos anos 1990, engloba o agir
esparso, descentralizado e plural de uma miríade de entidades de natureza em maior ou
menor medida variada.

Os resultados da pesquisa confirmam tais previsões. Analisando as relações das


organizações civis aqui abordadas, verificamos que se trata de uma rede bastante complexa
e esgarçada, ainda que totalmente integrada.36 Nesse plano, muitas das relações possíveis
não estão efetivamente presentes entre as organizações civis, e boa parte de tais
organizações não pode ser alcançada por seus pares, gerando vários nichos específicos
dentro da rede. Ainda assim, convém frisar, não há componentes separados, isto é, trata-se
de uma rede só que integra todas as organizações civis, embora a possibilidade de aceder às
relações nela presentes seja desigual. A existência de um único componente ou de uma rede
só não deriva do método de bola-de-neve utilizado, pois, conforme já explicitado, “abriram-
se” 16 pontos de entrada.37 Cumpre esclarecer que as restrições ao alcance das organizações
civis são significativas, especialmente porque foi considerada a direção das relações, ou
seja, julgou-se pertinente diferenciar aquelas entidades que enviam vínculos daquelas que
recebem, evitando-se assumir como pressuposto que as relações são recíprocas.38

Os resultados não apenas mostram uma baixa centralização geral da rede  quer
dizer, baixa integração da rede em torno de alguns poucos atores centrais , mas permitem
mensurar o quão esgarçada ela é, oferecendo um indicador claro da dispersão da lógica da

36
A visualização desse conjunto é extremamente difícil: constituído por 741 atores e 1.293 relações diretas,
torna-se inútil apresentar aqui o sociograma dessa rede, tal e como realizado para o caso dos recortes
específicos por tipo de organização civil.
37
Para uma exposição detalhada dos critérios de controle do fluxo de entrevistas desencadeado pela bola de
neve, bem como dos testes efetuados para validar a confiabilidade da mostra de organizações civis assim
levantada, ver o trabalho de Houtzager et al (2003).
38
Assumir que as relações em uma rede não são recíprocas, ou seja, que a direcionalidade é relevante, é
opção pertinente para redes hierárquicas, tal e como é o caso da rede de organizações civis paulistanas aqui
analisada.

29
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ação coletiva presente no universo das organizações civis.39 Nesse universo composto por
mais de 700 organizações civis, de um total hipotético de mais de 500 mil vínculos
possíveis, apenas 1.293 estão realmente presentes, o que significa uma densidade que
sequer atinge o 1% das relações possíveis — apenas 0,24%40. Além da baixa densidade
total, o esgarçamento da rede de organizações civis paulistanas foi confirmado mediante
outras medidas de centralização da rede; medidas que apontam para a existência de diversas
centralidades difusas e reforçam os diagnósticos da pluralidade do universo das
organizações civis.41 Como será visto na próxima seção, mesmo aquelas entidades que
ocupam o “topo”, possuindo as posições mais centrais, desfrutam de diferentes tipos de
centralidade e desempenham papéis específicos distintos no interior da rede. Em suma,
trata-se de uma rede complexa e esgarçada, marcada pela hierarquia entre as organizações
civis e pela presença de múltiplas centralidades. Em contrapartida, e malgrado sua baixa
densidade, a existência de uma só rede com tais dimensões destaca a conectividade difusa
das organizações civis em São Paulo.

Organizações civis centrais e periféricas


Ao analisar os modos de inserção de cada um dos tipos de organizações civis na
rede descrita acima, em que pese baixa centralidade geral da mesma, o principal resultado a
ser destacado refere-se à marcada estratificação das diversas organizações civis. Há
entidades que ocupam posições altamente centrais, enquanto outras se situam em posições
periféricas, acusando dependência em relação às primeiras.

39
As medidas de centralidade, se aplicadas não para comparar atores específicos, mas para analisar as
relações de todos eles em conjunto, também podem ser utilizadas para caracterizar a centralização de uma
rede como um todo (Scott 1992).
40
O total hipotético das relações possíveis corresponde à multiplicação do número total de atores pelo número
total de atores menos um, pois não são consideradas as relações de um ator consigo mesmo 
matematicamente: n X (n-1). Este cálculo indica o número máximo de relações que podem estar presentes em
uma rede e serve de base para o cálculo da densidade da rede. Já as relações realmente presentes
correspondem à soma de todas as relações que conformam a rede. De acordo com Hanneman (2001, p.41),
esta medida de densidade calcula o quão próxima (em percentagem) está uma rede em relação a uma rede
saturada, na qual todas as relações possíveis estão realmente presentes (situação hipotética, de difícil
observação na realidade).
41
Todas as medidas de centralização da rede calculadas com base em diferentes parâmetros (degree,
betweennes, distância geodésica, etc) tiveram como resultado uma centralização total inferior a 5%.

30
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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Os dados apresentados na Tabela I permitem caracterizar de maneira geral a posição


de cada tipo de organização civil na rede como um todo. Os dados são um ranking simples
das posições relativas de cada tipo de entidade em cada uma das medidas: o cinza mais
escuro destaca as entidades com posições mais centrais e o cinza mais claro indica as
entidades mais periféricas e dependentes das primeiras; os números exprimem a posição
relativa de cada organização civil naquela medida.42 As medidas apresentadas destacam o
número de vínculos diretos de cada uma das associações, o grau de intermediação exercido
por cada tipo de entidade, a proximidade em relação às outras organizações, as
possibilidades de fluxos de informação, o estabelecimento de relações de dependência
(poder) e a ponderação entre o envio e o recebimento de relações (influência). Além dessas
medidas, que captam modos de centralidade das organizações civis, a Tabela I apresenta
algumas medidas de coesão, como as distâncias percorridas pelos diferentes tipos de
entidade (distância geodésica ou caminho mais curto, e número de geodésicas), e o número
de atores que podem ser alcançados. É importante lembrar novamente que os padrões de
relacionamento das organizações civis são obtidos por combinação, isto é, a partir da
análise conjunta de suas posições relativas nas diferentes medidas consideradas.

42
Todas as mediadas a serem apresentadas foram estimadas mediante a aplicação de diferentes ponderadores
(normalização) para controlar os efeitos decorrentes do peso dos distintos tipos de organização civil na
amostra. Aqui se apresenta apenas o ranking elaborado a partir das medidas normalizadas.

31
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Tabela I: Centralidade e coesão da rede segundo tipos de organizações civis43


Centralidade Coesão

No. de caminhos
Proximidade dos

Proximidade dos

Caminhos mais
a
Intermediação

b
Tipologia de

b
a
a
que referem

alcançáveis
mais curtos
Informação
b

a
a

a
recebidos

Influência
Entidades

enviados

referidos
Vínculos

Vínculos

a
a

Atores
curtos
Poder
Organizações Populares 3 1 1 3 1 1 2 1 5 2 3
Articuladoras 2 2 2 5 2 3 3 3 3 4 5
ONGs 1 3 3 2 4 2 7 7 6 3 1
Fóruns 5 4 6 6 3 5 5 2 2 6 6
Entidades Assistenciais 7 5 5 4 6 4 1 4 4 5 4
Associações de Bairro 4 6 4 1 5 6 6 5 7 1 2
Associações Comunitárias 6 7 7 7 7 7 4 6 1 7 7
a
Médias calculadas apenas para as entidades entrevistadas (n=202)
b
Médias calculadas para toda amostra (n=829)

No “ápice” do universo das organizações civis se encontram as organizações


populares, as articuladoras e as ONGs, ocupando as posições mais centrais, e beneficiadas
por balanço favorável entre as relações enviadas e recebidas (influência). Em decorrência
de seus padrões de relações, essas entidades apresentam os melhores resultados em
praticamente todas as medidas de centralidade e coesão, ou seja, possuem grande número
de vínculos diretos, grande poder de intermediação, além de acesso privilegiado a fluxos de
informação. Os resultados apontam de modo consistente para o papel protagônico desses
três tipos de entidades dentro do universo das organizações civis paulistanas —
protagonismo que pode ser desempenhado ora na agregação de interesses, ora na
coordenação da ação coletiva, ou na definição de referenciais simbólicos. Seja como for, as
organizações no ápice possuem diversas alternativas de conexão na rede, o que facilita
acessos e interlocuções, além de dotá-las de capacidade de controle sobre fluxos oriundos
das entidades mais periféricas.

Aquém dos tipos de entidades situados no “topo” ou de maior centralidade na rede


de organizações civis, existem organizações civis situadas em plano intermediário como os
fóruns e as entidades assistenciais (Tabela I). Malgrado não fazerem parte das organizações

43
Neste caso, para o cálculo das medidas foi considerada a direção das relações. A tabela apresenta os
resultados na forma de um ranking constituído a partir dos resultados das médias por tipo de organização
civil.

32
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com posições mais centrais, os fóruns diferenciam-se das entidades da periferia da rede
especialmente devido a sua proximidade com muitos atores, a possuírem número
significativo de vínculos, além de contarem com fluxos de relações que permitem acesso a
informações e a vários outros atores de modo indireto. Com resultados levemente
inferiores, as entidades assistenciais são relativamente procuradas e efetuam certa
intermediação.

Por fim, na “periferia” da rede estão localizadas as associações bairro e as


associações comunitárias. As organizações civis periféricas não possuem uma malha densa
de relacionamentos, não são atores-chave para os demais atores, têm possibilidades
comparativamente limitadas de acesso e de controle dos fluxos da rede, e são fortemente
dependentes das entidades com posições mais centrais para alcançar atores ou locais da
rede  quer dizer, apenas atingem nichos bastante específicos de maneira direta. Os
resultados baixos em termos de centralidade são em parte explicáveis por suas relações
horizontais e próximas, em boa medida marcadas por lógicas locais, conforme será visto
mais adiante. As associações comunitárias ocupam as piores posições em quase todas as
medidas, mostrando fortemente dependência de vínculos estabelecidos com entidades mais
centrais. Porém, o caso das associações de bairro é em princípio mais próximo do perfil das
entidades de condição intermediária, pois se trata de atores medianamente ativos na
construção de relações, e próximos das entidades com as quais estabelecem vínculos, além
de algumas dessas associações se destacam por atuações específicas de mediação entre seus
pares, conectando-os com as entidades mais centrais. Optou-se por classificar as
associações de bairro junto com as comunitárias porque, conforme será visto, a despeito do
seu ativismo, funções de mediação e proximidade médias, elas carecem de importância para
os ouros atores de universo das organizações civis.

Dinâmica interna dos tipos de organizações civis


O segundo recorte analítico foca as relações internas entre as organizações civis de
cada tipo. De maneira geral, os resultados produzidos deste ângulo podem ser sumarizados
nos seguintes termos: os tipos de organizações caracterizados por possuírem as redes
internamente mais coesas e organizadas correspondem exatamente àqueles que ocupam

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posições mais centrais na rede como um todo; inversamente, os tipos com redes menos
densas e mais fragmentadas coincidem com aquelas que tendem a ocupar posições
periféricas na rede. Esse resultado parece apontar para uma estreita relação entre os modos
de organização interna dos diferentes tipos de entidades  padrões de relação, grau de
coesão e hierarquização interna  e os papéis por eles desempenhados no universo das
organizações civis.

A Tabela II, abaixo, reforça essas informações, apresentando os dados referentes ao


modo como os diversos atores estabelecem relações de centralidade, intermediação,
dependência, etc., em suas redes internas; quer dizer, desta feita as medidas foram
calculadas para sub-redes definidas por tipo de organização civil, retirando-se as conexões
com os outros tipos de entidade. Os números representam o ranking das organizações civis
em cada uma das medidas já apresentadas e as tonalidades cinza novamente destacam as
melhores e piores posições em cada medida.

Tabela II: Centralidade e coesão das redes internas de cada tipo de


organização civil 44
Tipologia de a a
Centralidade Coesão
Entidades
Intermediação

No. Caminhos
Proximidade

alcançáveis
mais curtos

mais curtos
Informação
Número de

Caminhos
Influência

Nº Atores
vínculos

Poder

Organizações Populares (n = 20) 1 1 1 3 7 5 4 2 2


Articuladoras (n = 104) 2 3 4 2 6 4 5 3 3
ONGs (n = 187) 3 2 5 1 3 2 7 1 1
Fóruns (n = 165) 7 6 6 7 5 6 3 7 5
Entidades Assistenciais (n = 76) 6 7 3 5 2 1 2 5 7
Associações de Bairro (n = 203) 5 4 7 4 4 3 6 4 4
Associações Comunitárias (n = 74) 4 5 2 6 1 7 1 6 6
a
Para o cálculo das médias foram consideradas todas as entidades presentes na amostra. Contudo, o
tamanho das redes varia de acordo com o tipo de organização civil analisado.

44
. Neste caso, para o cálculo das medidas não foi considerada a direção das relações. Por se tratar de relações
entre entidades de mesmo tipo, as relações foram consideradas recíprocas. A tabela apresenta os resultados na
forma de um ranking constituído a partir dos resultados das médias das redes de cada tipo de organização
civil.

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

Conforme assinalado, os tipos de entidades que ocupam posições centrais na rede


também apresentam maior organicidade e complexidade nas suas relações internas ou com
entidades do mesmo tipo, tanto em termos de densidade (elevado número de vínculos)
quanto em termos de fluxos de informação, caminhos disponíveis e rapidez no contato com
os demais atores. A rede interna das organizações populares é a mais densa em termos de
número de vínculos, aquela em que há mais intermediação interna  algumas organizações
populares atuam como pontos de passagem necessários para todas as outras , e em que os
atores estão relativamente mais próximos entre si. Com redes consideravelmente maiores,
articuladoras e ONGs também apresentam feições semelhantes em suas redes internas,
ainda que em patamares ligeiramente inferiores. Cabe destacar que a ausência de
dependência constitui traço complementar da maior organicidade e horizontalidade dos
vínculos internos das organizações populares e das articuladoras; porém, diferentemente
desses tipos de organização civil, verifica-se significativa assimetria de poder ou
dependência no caso das ONGs. O assunto dera retomado na seguinte seção.

No extremo oposto encontram-se os fóruns e as entidades assistenciais, com os


piores resultados, seguidas das associações comunitárias e de bairro. Essas entidades com
redes internas pouco coesas, mal organizadas e de baixa eficiência para alcançar os atores
do seu mesmo tipo, simultaneamente tendem a ocupar as posições mais periféricas na rede
como um todo. A menor capacidade de organização e mobilização interna, própria desse
tipo dessas organizações civis, plausivelmente acarreta restrições sobre suas possibilidades
de atuação no universo das organizações civis.

Da periferia ao centro e do centro ao centro


O terceiro recorte ilumina os vínculos preferenciais das organizações civis ao
atentar para as relações estabelecidas não entre as entidades na rede como um todo, nem
nas redes internas, mas entre tipos diferentes de organizações. A análise procede por meio
do recorte das redes que unem tipos de organizações civis em pares, ou duas a duas 
ONGs com articuladoras, ONGs com associações de bairro, ONGs com fóruns e assim
sucessivamente , de modo a verificar tanto os vínculos mais “valiosos” ou procurados
por diversos atores quanto as relações mais “eficientes” em termos de ampliação da

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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capacidade de atuação dos tipos de organizações nelas envolvidos. A grandes traços,


observou-se que as organizações civis mais centrais são procuradas como vínculos
preferenciais, especialmente por parte de entidades de base ou periféricas, as quais
privilegiam claramente atores centrais na construção e manutenção de relações. Por sua
vez, as próprias organizações centrais tendem a estabelecer e manter relações privilegiadas
entre si. Por ora serão examinados apenas os vínculos preferenciais, entendendo-se que
alianças pressupõem a reciprocidade de tais vínculos, bem como uma correspondência na
relevância dos mesmos.

A Tabela III sumariza a lógica dos vínculos preferenciais.45 Nela se apresenta, em


primeiro lugar, o número de vínculos novos que surgiram nas redes para cada combinação
em pares por tipos de organizações civis  sem considerar os vínculos que existiam
previamente nas redes internas ; em segundo lugar, o incremento na capacidade de
intermediação oriunda das relações entre os tipos de entidades, ou seja, os ganhos de
intermediação  também excluindo as possibilidades de intermediação próprias à rede
interna de cada tipo de organização civil. Por fim, a terceira medida afere a integração ou
grau de aproveitamento das relações hipoteticamente disponíveis graças ao cruzamento
entre as redes de dois tipos de organização civil; isto é, mostra o quanto das relações que
potencialmente poderiam existir em cada cruzamento estão efetivamente presentes. Cada
tipo de entidade (linhas) deve ser considerado como ponto focal, lendo-se, por exemplo, as
relações que as organizações populares estabelecem com os demais tipos de associação
para ver os ganhos e aproveitamento de cada cruzamento.

45
Para tanto, foram considerados apenas os ganhos obtidos em cada um dos cruzamentos entre dois tipos de
organizações civis, cancelando os resultados oriundos das redes internas. Por outras palavras, consideram-se
apenas os saldos da interseção entre duas redes.

36
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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Tabela III: Redes de Vínculos Preferenciais46


Tipologia Organizações com as quais se estabelecem as relações
Ganhos da
de Organizações Entidades Ass. de Ass.
Intersecção Articuladoras ONGs Fóruns
entidades Populares Assistenciais Bairro Comunitárias
Vínculos novos 3 2 1 5 6 4
Organizações Ganhos de
2 4 3 1 6 5
Populares Intermediação
Integração 2 1 3 4 6 5
Vínculos novos 5 1 2 4 3 6
Ganhos de
Articuladoras
Intermediação 2 1 5 3 4 6
Integração 2 1 4 3 5 6
Vínculos novos 3 1 2 4 5 6
Ganhos de
ONGs
Intermediação 3 1 5 2 4 6
Integração 2 1 3 4 6 5
Vínculos novos 4 3 2 1 5 6
Ganhos de
Fóruns
Intermediação 1 2 4 3 5 6
Integração 3 2 1 4 5 6
Vínculos novos 6 2 4 1 3 5
Entidades Ganhos de
Assistenciais Intermediação 1 3 2 4 5 6
Integração 2 3 1 5 4 6
Vínculos novos 6 1 4 3 2 5
Associações Ganhos de
de Bairro Intermediação 6 1 2 4 3 5
Integração 6 1 3 4 2 5
Vínculos novos 5 6 3 1 4 2
Associações Ganhos de
Comunitárias Intermediação 1 2 5 3 6 4
Integração 1 3 2 5 4 6

O caráter dominante da procura por organizações mais centrais por parte de


entidades periféricas torna-se patente se observado, por exemplo, que as associações de
bairro mantêm relações privilegiadas com as articuladoras e que as associações
comunitárias sustentam preferencialmente relações com organizações populares. É
interessante notar ainda que os fóruns  entidades com posições intermediárias nas redes
gerais  também são bastante procurados pelas demais entidades. Por outro lado, e de
modo contra-intuitivo, o padrão recém-descrito é complementado pelo fato de as

46
Em todos os casos considerou-se a direção das relações. Os resultados, dispostos em ranking relativo ao
ganho de relações para cada tipo de organização civil, são proporcionais ao número de organizações civis de
cada um dos tipos analisados aqui.

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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associações de bairro e as comunitárias não estabelecerem relações densas entre si. Mais:
não há uma densidade significativa de relações entre as entidades periféricas.

Como seria de se esperar, as entidades centrais não apenas cultivam vínculos


preferenciais com atores igualmente centrais, mas desenvolvem entre si uma integração
mais ampla  maior número de vínculos possíveis que estão efetivamente presentes.
Assim, organizações populares encontram-se mais integradas ou aproveitam mais a
potencialidade das relações que estabelecem com articuladoras e ONGs; articuladoras
guardam maior integração com ONGs e organizações populares; e, por sua vez, ONGs com
organizações populares e articuladoras. Contudo, quando analisadas as informações
relativas aos novos vínculos criados nas redes entre tipos de organizações civis, bem como
aos ganhos de intermediação, surgem com destaque as relações entre entidades centrais e
entidades de centralidade média e periférica  tal e como é o caso da relevância dos fóruns
e das entidades assistenciais para as organizações populares, articuladoras e ONGs. De fato,
a análise dos fóruns, organizações civis de centralidade intermediária, revela que o maior
aproveitamento das relações potenciais ocorre com as organizações mais centrais na rede
como um todo.

6. Protagonismos das organizações civis

A condição central ou periférica das organizações civis, a alta ou baixa densidade


dos seus vínculos internos, bem como os padrões de vínculos preferenciais, encobrem
significados diferentes, dependendo do tipo de organização civil considerada. Por outras
palavras, é possível ocupar posições similares na rede e apresentar feições relacionais
semelhantes por motivos diferentes. O exame integrado dos resultados dos três recortes
analíticos para cada tipo de organização civil permitirá iluminar esses motivos e mostrará
os distintos protagonismos e papéis que caracterizam as entidades estudadas.

As Organizações Populares

Organizações populares são atores engajados na disputa de questões estruturais,


lançando mão, para tanto, de expedientes de mobilização e protesto que pressionam as

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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instâncias de tomada de decisão e suscitam atenção pública. O protagonismo político


identificado com as camadas pior aquinhoadas da população vem acompanhado de uma
posição preponderante no universo das organizações civis. De fato, e a despeito do seu
relativo “sumiço” na literatura, esses atores populares são os de maior centralidade dentre
todos os tipos aqui analisados, especialmente devido a serem muito procurados e em menor
medida a eles desenvolverem estratégias ativas de construção de relações (Tabela I).47 Sua
posição privilegiada e, em alguma medida  conforme será visto , a existência de
vínculos com o tipo de entidade mais periférica fazem com que as organizações em questão
se destaquem por sustentar relações particularmente assimétricas no universo das
organizações civis.

Comparativamente, a articulação das organizações populares entre si parece mais


relevante para sua estratégia de atuação  centrada no protesto  do que a conexão com
outros tipos de entidades.48 A rede interna dessas organizações é a mais coesa entre todas as
analisadas e apresenta notável densidade de relações, atores com forte poder de
intermediação e grande proximidade entre seus integrantes, cujas posições na rede são as
mais equilibradas (Tabela II).49 Ademais, organizações populares alcançam-se umas as
outras de modo bastante eficiente com um número bastante baixo, em termos comparativos,
de atores isolados, quer dizer, de organizações populares que não mantêm vínculos com
seus pares, embora sim com entidades de outro tipo.50 Tais características podem ser mais
bem compreendidas a partir do Sociograma 1. O papel ativo desses atores na sua
articulação interna dá lugar a uma rede cujo formato se aproxima de uma “estrela”, quer
dizer, conforme a teoria, de uma rede hipotética em que todas as relações possíveis estariam
efetivamente presentes graças à intermediação de um ator central.51 Contudo, essa rede é
claramente uma rede bi-nuclear, uma vez que praticamente todos os vínculos existentes são

47
Ver as diferenças entre “vínculos enviados” e “vínculos recebidos”, bem como entre “proximidade advinda
das próprias citações” e “proximidade advinda das citações e outros” (Tabela 1).
48
Conforme será visto no caso das entidades assistenciais e dos fóruns, é possível manter redes mais densas
com outros tipos de atores que não os pares.
49
Embora normalizados, neste caso os resultados exprimem em certo grau o baixo número de atores na rede
das organizações populares.
50
O número de isolados será reportado na parte inferior direita de cada sociograma.
51
Sociogramas com formato de estrela (Star graph) são redes que possibilitam os vínculos de todos os atores
presentes na rede, configurando visualmente um centro para o qual chegam ou do qual saem todas as relações
 por isso o formato de estrela (Wasserman e Faust 1994: 169-172).

39
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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constituídos em relação a dois atores centrais, o Movimento dos Sem Terra e o Movimento
dos Sem teto do Centro (mstc). O MST é a “ponte” que vincula movimentos nacionais
como o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (mnlm), e movimentos de índole rural
como o Movimento dos Pequenos Agricultores (movpeqagri) e dos Atingidos por
Barragens (moab), com movimentos urbanos locais, quer dizer, da cidade de São Paulo,
nucleados em torno do segundo ator  Movimento de Moradia do Centro (mmc) ou
Defesa do Favelado (mdf), por exemplo. A referência central, neste caso, está no ator de
maior capacidade de mobilização e visibilidade pública, o MST, e não em atores que
atendem demandas localizadas ou apresentam afinidades temáticas, como acontece com
praticamente todos os tipos de organizações civis.

A lógica seletiva de se relacionar com atores mais centrais ou com maior capacidade
de ação vale também, embora algo atenuada, para os vínculos privilegiados pelas
organizações populares com outras organizações civis (Tabela III). A proximidade com as
ONGs está inscrita na origem das próprias ONGs como assessoras de movimentos sociais,
mas proximidade das organizações populares com as articuladoras é fato mais recente que
não tem sido apontado na literatura. Por sua vez, em consonância com os padrões gerais
descritos na seção anterior, a maioria das organizações civis recorre às entidades em
questão como vínculos privilegiados. Há, todavia, resultados inesperados: organizações
populares conferem importância mínima às relações com associações de bairro e, por sinal,
trata-se de uma “indiferença” completamente recíproca. Por outras palavras, a construção
de relações com entidades que apresentam demandas urbanas locais e de baixa visibilidade
parece ser infrutífera para o ator examinado. Paradoxalmente, dentre os três tipos de
entidades mais centrais, as organizações civis apresentam relativamente mais vínculos com
as associações comunitárias, o que contribui para a compreensão do caráter assimétrico de
suas relações quando olhadas do primeiro recorte analítico  relações com o conjunto dos
atores da amostra.

A trajetória histórica das organizações populares, com suas agendas de combate à


exclusão social baseada em fatores socioeconômicos, levaria a supor a presença de maior
(ou pelo menos de alguma) proximidade com entidades de base popular como as
associações de bairro; ainda mais se considerado que boa parte das organizações populares

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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lida com a questão da moradia  metade no caso do Sociograma 1.52 Embora a análise
relacional evidencie que as organizações populares continuam a ocupar posição protagônica
no seio das organizações civis  em que pese o foco dominante da literatura em outro tipo
de atores , a perda de relevância dessas organizações para as associações de bairro e vice-
versa sugere deslocamentos inéditos no plano da ação coletiva durante os anos pós-
transição; deslocamentos que ganharão contornos mais precisos mediante a interpretação
dos outros tipos de organizações civis.

Sociograma 1: Rede Interna – Organizações Populares53

As Articuladoras

Articuladoras são atores de terceiro nível, quer dizer, exprimem o resultado dos
esforços de outras organizações civis — em boa mediada das ONGs, mas não só — no
sentido de ampliar e fortalecer o trabalho por elas desenvolvido mediante a

52
Contudo, as organizações populares são, dentre os tipos mais centrais, aquelas que mantêm relações mais
próximas com associações comunitárias.

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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institucionalização de atores com capacidade de coordenar e impulsionar as agendas dos


seus membros, bem como de representá-los perante o poder público e perante outros atores
políticos, econômicos e inclusive civis. Embora não surpreenda a alta centralidade das
articuladoras (Tabela 1), dada sua qualidade de entidades cujos públicos são outras
entidades, os resultados atestam o sucesso das iniciativas de criação desse novo tipo de
atores nos últimos anos. Os efeitos de seu caráter de organizações de sócios ou membros
institucionais também transparecem na análise relacional: elas são relativamente distantes
do universo mais amplo de entidades com as quais mantêm relações e acusam capacidade
limitada de alcançar outros atores  plausivelmente além dos seus próprios membros.54
Como as organizações populares, e por motivos semelhantes  alta centralidade
acompanhada de vínculos com algum tipo de entidade periférica , as articuladoras
sustentam relações marcadas pela assimetria.

As relações internas das articuladoras iluminam com maior precisão sua forma de
operação. De um lado, sustentam entre si relações das mais equilibradas configurando uma
rede notavelmente densa, com um 54% de atores isolados; de outro, seus padrões internos
de relacionamento obedecem a divisões claras, diminuindo a proximidade dos seus vínculos
(Tabela II).55 O Sociograma 2 permite visualizar tais padrões. Nele se verifica que as
articuladoras ordenam suas estratégias de relacionamento por afinidades temáticas,
funcionais e programáticas, não raro parcialmente sobrepostas. O nicho das entidades que
tratam da questão de gênero é caso de afinidade eminentemente temática, e aquele das
articuladoras de associações de bairro supõe clara afinidade funcional; entretanto, as sub-
redes de movimentos populares, financiadoras do terceiro setor e articuladoras religiosas
combinam com peso relevante mais de uma afinidade. Nos últimos três casos, as
articuladoras de cada nicho trabalham em prol de atores com um perfil específico, e, a um
tempo só, disputam e representam concepções diferentes do sentido da ação coletiva na
nossa sociedade. De fato, dadas suas funções, importância e o custo de criar e manter

53
Os nomes referentes às siglas contidas neste sociograma econtram-se no Anexo 1; no mesmo anexo
também constam os nomes das entidades presentes nos demais sociogramas desta seção.
54
Conforme explicitado na quarta seção, as entidades entrevistadas foram solicitadas a enunciar, para
diversos tipos de atores, seus vínculos mais relevantes (até 5). Isso implica, no caso das articuladoras,
mencionar associações além do conjunto ou perfil daquelas que a fundaram ou constituem seus membros.
55
Ver as medidas “proximidade” e “caminhos mais curtos”, contrastantes em relação ao padrão das
articuladoras (Tabela II).

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entidades com semelhante perfil, a composição do universo das articuladoras acaba por
projetar, como em jogo de sombras, as constelações de atores com maior peso na disputa
pelo sentido da ação coletiva perante o Estado e perante os próprios atores sociais. Por fim,
a despeito da densidade de relações internas, as relativas distância e dificuldade de alcançar
atores decorrem do fato de os nichos dependerem de entidades ponte  Gatekeepers 
para se vincularem a seus pares orientados por outras afinidades; notadamente, União
Brasileira de Mulheres (ubm) para as articuladoras do movimento de gênero, Confederação
Nacional de Associações de Moradores (conam) para as aquelas das associações de bairro,
Central dos Movimentos Populares (cmp) para as dos movimentos, e Rede Brasileira das
Entidades Assistenciais Filantrópicas (rebraf) para as religiosas.

O exame das relações que as articuladoras estabelecem com outras associações traz
à tona algumas feições que complementam a compreensão do papel deste novo ator.
Embora cada tipo de organização civil sustente vínculos preferenciais com outros tipos, as
relações entre articuladoras e ONGs constituem o único caso nítido de aliança encontrado
na amostra, quer dizer, o único caso em que, nas relações entre dois tipos de atores,
coincidem reciprocidade plena e importância máxima (Tabela III). Por outras palavras, para
todas as medidas de inter-relação entre pares de entidades, as ONGs são os vínculos mais
relevantes para as articuladoras e vice-versa. A aliança exprime a origem das próprias
articuladoras e, simultaneamente, mostra seus vínculos mais recorrentes, reforçando seu
perfil temático. Em segundo plano, as entidades em questão estabelecem vínculos com
organizações populares e, depois, com organizações civis de condição intermediária 
fóruns e entidades assistenciais. Cumpre notar que a existência de articuladoras de
associações de bairro franqueia o acesso das próprias associações de bairro, classificadas
como periféricas, aos atores mais centrais da rede. Por outro lado, e como seria de se
esperar, os vínculos preferenciais com articuladoras são cultivados por todos os tipos de
organizações civis, com especial destaque para as associações de bairro, que obtém os
maiores benefícios da sua inter-relação com articuladoras para todas as medidas aqui
trabalhadas.

As articuladoras nascem com a função de coordenar a ação de diversos conjuntos de


atores, bem como de representar seus interesses. Se considerada tanto sua centralidade no

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
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conjunto das organizações civis quanto sua relevância para cada tipo de entidade, e, em
especial, para atores periféricos como as organizações de bairro, não parece descabido
apontar que os esforços de organizações civis orientados para a construção de novos atores
com maior capacidade de intermediação e agregação foram não apenas bem-sucedidos para
organizações altamente centrais, mas também para entidades territoriais de base, de
condição periférica, que, graças à intermediação das articuladoras, ampliam sua capacidade
de ação para além do plano local. A ausência de relações entre organizações populares e
associações de bairro e os achados apresentados acima apontam não apenas para a
existência de mudanças de envergadura na ação coletiva, até agora desapercebidas na
literatura  as articuladoras costumam ser classificadas como ONGs e não têm sido objeto
de estudo , mas também para a plasticidade da própria ação coletiva e para a capacidade
de inovação institucional das organizações civis no sentido de incrementarem sua escala de
atuação.

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Sociograma 2: Rede Interna das Articuladoras


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As Ongs

As Ongs completam o grupo dos atores civis de alta centralidade e atuam mediante
a tematização pública de problemas, não raro abordados a partir de uma semântica política
de direitos cidadãos; isto é, são eminentemente entidades de advocacy  o que não exclui,
mas subordina a prestação direta de serviços. A análise relacional revela que as atividades
de advocacy das ONGs guardam conexão com uma forma de centralidade passível de ser
contraposta àquela própria das organizações populares e das articuladoras: a centralidade
das últimas encerra um componente passivo, quer dizer, são mais procuradas do que
procuram e encontram-se próximas das entidades que vêm ao seu encontro; já a
centralidade das ONGs segue um perfil ativo, pois se trata do tipo de organização civil que
mais constrói vínculos  mais procura do que é procurado , além de não ser próximo
das organizações que o citam como parceiras, mas sim daquelas com as quais entabula
ativamente relações (Tabela 1). A idéia de as ONGs trabalharem em rede encontra-se
amplamente presente na literatura, todavia, quando assumidos os pressupostos da análise de
redes, tal afirmação torna-se um truísmo, visto que o ponto de partida é o caráter relacional
do mundo. Os resultados permitem qualificar melhor o perfil das ONGs como construtoras
de vínculos ou atores centrais ativos  por sinal, os mais eficientes quanto à capacidade de
alcançar outras entidades ou locais da rede. Outra feição distintiva das ONGs, cujo
significado tornar-se-á claro graças aos outros recortes analíticos, é o caráter marcadamente
simétrico das relações por elas construídas, pois se trata das entidades que criam menor
dependência nos seus relacionamentos.

A rede interna de ONGs é notavelmente coesa, a despeito de ser muito numerosa


(Tabela II). Seu perfil como construtoras ativas de relações e como entidades de advocacy
adquire concreção, no plano das suas relações internas ou interpares, como uma
especialização temática acentuada que, no entanto, vem acompanhada mais uma vez da
maior eficiência para alcançar diferentes atores, mas agora acrescida da maior
disponibilidade de caminhos rápidos para alcançá-los.56 Apesar da coesão interna, trata-se

56
Posição no ranking das medias “número de caminhos mais curtos” e “número de atores alcançáveis”
(Tabela II)
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de uma rede relativamente descentralizada e com o menor número de atores isolados de


todas as redes internas sob exame  apenas 36%. O Sociograma 3 permite verificar,
precisamente, que a especificidade das relações entre ONGs está na constituição de
vínculos múltiplos, sempre orientados por uma lógica temática, ou seja, dirigidos para
organizações civis que trabalham em prol do mesmo tema: os nichos compostos por
entidades dedicadas, por exemplo, aos temas da Educação, de Gênero e Raça, da habitação,
de crianças deficientes ou da violência.57 A despeito de se articularem em sub-redes
temáticas, a construção de vínculos múltiplos inibe, salvo raras exceções, a presença de
atores ponte indispensáveis  como ocorre no caso das articuladoras.58 Por outro lado,
também se observam sub-redes que não apresentam interação com os demais nichos:
entidades que lidam com a questão da violência ou de crianças deficientes. Assim, a lógica
temática a um só tempo constrange e viabiliza a interação de determinados nichos com a
rede mais ampla de ONGs. A esse respeito resulta emblemático o caso das entidades
dedicadas à questão da homossexualidade, cujos atores apenas conseguem estabelecer
relações com outros nichos da rede através das relações com organizações de gênero.

À coesão, densidade e perfil temático da rede é preciso acrescer mais duas feições.
Em parte devido ao grande número de entidades na rede interna das ONGs, a proximidade
entre seus integrantes é baixa e, ao contrário do que ocorre nas relações dessas entidades
com as outras organizações civis, os vínculos internos são assimétricos, ou seja, as relações
entre ONGs são consideravelmente hierárquicas. A combinação entre a simetria das
relações das ONGs com a rede como um todo e a dependência gerada pelos vínculos com
seus pares contrasta com padrão inverso dos outros dos tipos de organizações civis centrais
 organizações populares e articuladoras, cujo caso combina horizontalidade nas relações
internas com aguda assimetria nos vínculos por elas estabelecidos com o conjunto das
organizações civis. Semelhante contraste não parece decorrer apenas do maior tamanho e
densidade da rede internas das organizações civis, mas do perfil ativo e passivo que
diferencia as centralidades desses três tipos de atores.

57
Apenas foram destacados os maiores nichos temáticos para permitir a visibilidade da informação
apresentada.

48
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro
de 2006.

Quando observados os vínculos privilegiados pelas ONGs com outros tipos de


organizações civis (Tabela III), emerge primeiro sua aliança com as articuladoras  já
abordada , bem como, segundo, os vínculos estabelecidos com organizações populares e,
em patamar inferior, com fóruns e entidades assistenciais. Como era de se esperar a partir
dos padrões mais gerais, relações com associações que obedecem à lógica de demandas
populares específicas, como as associações de bairro e comunitárias, mostram-se pouco
importantes. Por sua vez, as ONGs são vínculos visados e cultivados por todos os tipos de
entidades.

Em suma, as ONGs notabilizam-se não apenas por serem os principais construtores


de relações do universo de organizações civis estudado, mas por terem contribuído
decisivamente à criação de um novo tipo de entidades com notável capacidade de ação,
coordenação e agregação. A aliança entre ONGs e articuladoras sinaliza emblematicamente
a trajetória das primeiras e a consolidação do seu protagonismo no contexto pós-transição:
originadas como entidades de assessoria aos movimentos populares (organizações
populares), acabaram por se desvencilhar da sua missão inicial assumindo funções próprias
na disputa da agenda pública e da formulação, fiscalização e, por vezes, implantação de
políticas públicas. Hoje, são as articuladoras e não as organizações populares que definem o
repertório estratégico de relações das ONGs. As funções assumidas e politicamente
construídas ao longo dessa trajetória correm paralelas a sua acentuada especialização
temática e a sua diferenciação e hierarquização internas.

58
Para citar apenas dois exemplos, atores quase indispensáveis para conectar diferentes nichos são: Coletivo
Feminista (coletivfem) e Ação Cidadão (acaocidada).

49
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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

Sociograma 3: Rede Interna ONGs

Gênero e Homossexuais

Gênero e
Raça

Violência

Habitação
Crianças Deficientes
Igreja Católica
Educação
Nº Isolados: 59 (33%)
Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

Os Fóruns

A especificidade dos fóruns torna-se clara se lembrada sua finalidade no universo


das organizações civis. São, fundamentalmente, instâncias de encontro, definição e
orientação programática de entidades que partilham vocações temáticas e preocupações
afins. Os resultados relacionais são plenamente condizentes com esse perfil. Os fóruns não
se distinguem apenas pela sua baixa centralidade geral, antes, quando observados
atentamente dentro do conjunto total de atores analisados (Tabela I), verifica-se um
contraste interessante. Se, de um lado, não orientam sua atuação para a construção de
vínculos, nem apresentam capacidade de intermediação  além de serem os atores que
menos alcançam outras organizações civis , de outro, recebem vínculos e destacam-se
pela sua acessibilidade ou proximidade em relação àqueles atores que os procuram.59 Daí
sua condição de centralidade intermediária.

Justamente por serem instâncias temáticas de encontro que abrigam outros tipos de
organizações civis (acessibilidade), os fóruns não apresentam inclinação a estabelecer
vínculos entre si, a não ser no caso raro de sobreposições nos temas trabalhados. Nesse
sentido, o padrão de conexões internas do tipo de ator em questão é o mais desconexo e
menos centralizado de todas as redes entre pares aqui apresentadas (Tabela II). O
Sociograma 4 ilustra nitidamente a magnitude da desconexão: 83% dessas entidades são
isoladas em relação aos seus pares, ou seja, não possuem qualquer relação com outros
fóruns. Trata-se, de longe, do tipo de organização civil que menos mantém vínculos entre
si. O Sociograma também permite apreciar o caso raro de sobreposições temáticas parciais
que animam a construção de pequenas sub-redes: o Fórum “ONGs Aids”, por exemplo,
mantém relação com o Fórum de Patologias; o Fórum do Idoso, por sua vez, sustenta
vínculos com os de Assistência Social e de Saúde. Cumpre salientar, ainda, que o Fórum de
Saúde apresenta a maior capacidade de articulação e intermediação da rede interna.

De modo consoante com seu papel de instâncias de adensamento dos discursos,


programas de ação e interações de outras organizações civis, os fóruns constituem vínculo

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

cultivado pela maior parte das organizações estudadas, embora nunca em posição
privilegiada; isto é, nunca antecedendo os três tipos de entidades centrais acima
examinados (Tabela III). Embora a afirmação recíproca também seja verdadeira  fóruns
privilegiam vínculos com organizações civis centrais , um olhar mais cuidadoso revela
que, de fato, os fóruns privilegiam fundamentalmente relações com entidades centrais de
perfil temático, ou seja, com articuladoras e ONGs. Por sua vez, organizações populares e
entidades assistenciais encontram-se em patamar inferior com importância semelhante para
os fóruns, e associações de bairro e comunitárias são irrelevantes nos termos relativos do
ranking utilizado.

Fóruns abrigam inquietações e problemas das organizações civis, e brindam um


espaço para elaboração de consensos ao seu respeito; entretanto, não constituem o canal
para transmissão ou difusão de tais consensos, pois, uma vez adensados, eles são
divulgados e, na medida do possível, implementados e/ou disputados na prática pelas
organizações civis que participam do respectivo fórum. Suas funções afastam-nos de
estratégias ativas na construção de relações, mas na medida em que são freqüentados em
igual medida por organizações civis centrais e periféricas, representam uma instância de
aproximação entre entidades desiguais em termos da sua capacidade de ação. Embora os
fóruns pudessem ser pensados como ocupantes de uma posição similar à das articuladoras,
uma vez que os dois tipos de atores trabalham para organizações civis, trata-se claramente
de entidades com feições e funções distintas.

59
Proximidade em relação aos atores que citam os fóruns, grande número de caminhos mais curtos e balanço
favorável entre vínculos enviados e recebidos (influência).

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

Sociograma 4: Rede Interna dos Fóruns

As Entidades Assistenciais

A prestação de serviços de assistência a segmentos da população ou públicos alvo


definidos conforme critérios de vulnerabilidade é feição distintiva deste tipo de entidade,
cuja centralidade intermediária obedece a uma forma de intermediação restrita derivada das
suas funções. Elas apresentam o pior resultado de todos os tipos de entidades no
estabelecimento de vínculos, e posições médias quanto à proximidade com outros atores e à
sua capacidade de alcance e intermediação; entretanto, e malgrado sua inexpressividade na
construção de relações, os vínculos por elas estabelecidos tendem a se tornar indispensáveis
para boa parte das entidades com as quais se relacionam (Tabela I). Por outras palavras, as

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entidades assistenciais sustentam o repertório de relações mais assimétricas da amostra,


conectando associações mal-providas de relações com entidades densamente articuladas.60
A combinação contrastante entre posições secundárias  por vezes periféricas  e
uma disposição de poder notável, associada a um alto grau de dependência das
organizações civis vinculadas a entidades assistenciais, pode ser interpretada à luz do papel
dessas entidades como mediadoras entre captação e canalização de recursos, conectando
organizações financiadoras, sustentadoras ou doadoras, bem aparelhadas relacionalmente,
com atores periféricos próximos dos públicos visados como alvo da assistência. De fato, as
relações por elas estabelecidas tendem a ser pontuais e verticais, com ramificações
limitadas. Nesse sentido, as conexões com seus pares não apenas são pouco importantes
para as entidades assistenciais  60% delas são isoladas ou não mantêm qualquer vínculo
entre si , mas preservam o caráter marcadamente assimétrico que caracteriza suas
relações com os outros tipos de organização civil (Tabela II). O Sociograma 5 mostra o
padrão das conexões entre entidades assistenciais. Além da fragmentação em 8
componentes ou sub-redes, a estrutura de parte desses componentes revela-se assimétrica e
baseada no fluxo de recursos orçamentários: a Associação Evangélica Beneficente (aeb), a
Associação Brasileira de Resgate e Ação Social (abras), o Instituto Teu Sonho Meu Sonho
(inteusonho) e a Ação Comunitária Brasil (acaocomun), atores centrais das respectivas sub-
redes, são coincidentemente entidades assistenciais que assumem entre suas funções
principais a transferência de recursos para outras entidades assistenciais. A lógica interna
das sub-redes é diversa, obedecendo ora às semelhanças quanto aos públicos ou
beneficiários (v. gr. crianças), ora a alinhamentos sob fortes afinidades ideológico-
institucionais, como acontece com os nichos de caráter religioso, ou ainda à proximidade
territorial  como ocorre com as entidades localizadas na Zona Sul de São Paulo, no bairro
do Grajaú. Seja dito de passagem, parece plausível esperar que esses achados seriam
reforçados se o Sociograma contemplasse outras financiadoras de índole não diretamente
assistencial.

60
Conforme o resultado da medida “poder” na Tabela I.

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Entidades assistenciais não constituem um vinculo privilegiado para nenhum tipo de


organização, mas, de modo paralelo aos fóruns, são procuradas por todas as organizações
civis, em particular pelas associações de bairro (Tabela III). De modo recíproco, essas
associações guardam alguma importância para as entidades assistenciais, confirmando o
perfil desenhado acima, a saber, seu caráter de mediadoras restritas entre organizações de
apoio material e/ou financeiro, graças as quais viabilizam o atendimento dos seus públicos-
alvo, e atores voltados ao trabalho direto com esses beneficiários  associações de bairro,
por exemplo. O restante dos vínculos preferenciais das entidades em questão respeita o
padrão mais geral, ou seja, privilegiam as organizações civis centrais.
A despeito dos diagnósticos acerca de um processo em curso de “onguização” das
entidades assistenciais, os resultados examinados parecem apontar que a eventual mudança
deve estar a acontecer no plano discursivo e da negociação de identidades. Porém, os
padrões relacionais semelham uma espécie de impressão digital que identifica e distingue
claramente ONGs de entidades assistenciais.

Figura 5. Rede Interna Entidades Assistenciais

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As Associações de Bairro

A forma como as associações de bairro constroem suas relações exprime alguns


aspectos de seu funcionamento. Trata-se de um tipo de organização civil facilmente
identificável, uma vez que trabalha com e em prol de uma comunidade territorial, e suas
atividades objetivam, fundamentalmente, resolver problemas urbanos no plano local.
Assim, essas associações ocupam posições periféricas por dois motivos: sua centralidade
média no conjunto da rede, com resultados equivalentes aos dos fóruns e entidades
assistenciais, e sua importância mínima como vinculo preferencial para outros atores.
Embora não se destaquem como receptoras de vínculos, nem apresentam forte capacidade
de intermediação, as associações de bairro são particularmente próximas dos atores com os
quais constroem relações, contam com notável capacidade de alcançar outros atores e,
diferentemente das entidades assistenciais, não geram dependência (Tabela I). De fato,
depois das ONGs são os atores com relações mais equilibradas ou menos assimétricas com
outros tipos de organizações civis.

Em se tratando de associações que não constroem muitos vínculos, chama a atenção


sua capacidade de alcançar outras organizações. Isso deriva em boa medida do seu caráter
territorial, cujas implicações tornam-se mais claras mediante a análise das suas conexões
internas. A julgar pelas medidas (Tabela II), e a despeito da porcentagem de atores isolados
(64%) e da sua fragmentação em 6 sub-redes, a estratégia de construir relações com seus
pares é sensivelmente mais importante para as associações de bairro do que para os fóruns e
entidades assistenciais. Contudo, tais associações são mais distantes de seus pares. A
especificidade, neste caso, reside no fato de as associações de bairro se conectarem uma a
uma, formando uma rede horizontal que “passo a passo” acaba por alcançar diferentes
subconjuntos de atores. O Sociograma 6 mostra apenas a estrutura da rede interna das
associações de bairro e permite perceber facilmente linearidade ou modo horizontal de
extensão da rede. As associações destacadas com os quadrados, por exemplo, conseguem
alcançar o extremo oposto da rede percorrendo um longo caminho.61

61
Não é fortuito o fato de possuírem a maior distância geodésica (ver Tabela I).

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Como seria de se esperar, a lógica interna das sub-redes esta pautada pela
proximidade territorial. O Sociograma 7 mostra, por exemplo, que entidades da Zona Leste
de São Paulo alcançam nicho de entidades sediadas na Zona Sul através das relações que
estabelecem com entidades da Zona Norte. Cabe notar ainda que todas as entidades de
Heliópolis formam um componente à parte, sem relações com as demais entidades da zona
Sul. Mesmo essa sub-rede de Heliópolis apresenta um formato geral de “linha”, sem atores
fortemente centrais. Ao contrário de redes internas como as das organizações populares ou
ONGs, não há neste caso atores “estrelas” exercendo por si só intermediação em grau
elevado; cada associação localizada ao longo da “linha” é importante  e boa parte delas
indispensável  para a conexão com outros segmentos da rede.

Figura 6: Estrutura da Rede Interna das Associações de Bairro

Nº Isolados: 125 (64%)

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Associações de bairro guardam alguma importância como vínculo preferencial para


articuladoras, entidades assistenciais e, em maior medida, para as associações comunitárias;
por sua vez, as associações em questão privilegiam claramente as articuladoras, seguidas
em patamar inferior pelas entidades assistenciais e, depois, por ONGs e fóruns (Tabela III).
A relação privilegiada com as articuladoras  acompanhada de certa reciprocidade  é
contra-intuitiva na medida em que pareceria razoável esperar que tais vínculos preferenciais
acontecessem com as organizações populares, a maioria das quais trabalha de longa data
com temas urbanos lançando mão de expedientes de mobilização e pressão. Mais: as
organizações populares representam o repertório de vínculos menos importante para as
associações de bairro e vice-versa. De fato, não há outro caso de relação entre dois tipos de
organizações civis em que os piores vínculos possíveis sejam reciprocamente idênticos.62

Dois aspectos surpreendem nos resultados das associações de bairro. Primeiro,


embora fosse esperável que seus vínculos obedecessem a uma lógica territorial,
impressiona, todavia, que a horizontalidade induzida por tal lógica permita a construção de
relações distantes capazes de alcançar os mais diversos tipos de atores. Segundo, o fato de
atores tradicionais próprios de camadas mal-aquinhoadas da população, como as
associações de bairro, manterem relações privilegiadas não com as organizações populares,
mas com um tipo de organização civil de recente aparição (as articuladoras), criada
fundamentalmente por ONGs, aponta tanto para transformações relevantes ocorridas nos
últimos anos no plano da ação coletiva quanto para a plasticidade da própria ação coletiva.
A questão será retomada no comentário final.

62
Para as três formas de aferir os ganhos da interseção, organizações populares e associações de bairro
aparecem em 6º lugar.

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Figura 7: Rede Interna Associações de Bairro

As Associações Comunitárias
As associações comunitárias são, junto com as ONGs, amostra emblemática da
diversidade e heterogeneidade do universo das organizações civis. De dimensões modestas,
inseridas em nichos muito localizados e normalmente orientadas para a auto-ajuda, tendem
a desenvolver atividades restritas e, não raro, exclusivas ao grupo de indivíduos
participantes da entidade. Semelhante perfil torna-se mais nítido mediante a análise
relacional: o traço distintivo das entidades em questão é a ausência de relações (Tabela 1).
Dado que as atividades são construídas por e para os integrantes de cada associação, não é
de estranhar que apresentem os piores resultados excetuando sua capacidade de alcançar
rapidamente outras entidades e a disposição de relações moderadamente assimétricas.
Ambas as exceções acusam os efeitos do número particularmente limitados de vínculos à
disposição das associações comunitárias e da existência e relações diretas, embora
limitadas, com entidades mais centrais.

De modo semelhante às entidades assistenciais, as relações internas entre


associações comunitárias são próximas, notavelmente assimétricas e, em maior ou menor

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medida irrelevantes, para seus protagonistas  63% dessas associações são isoladas, ou
seja, não possuem vínculos com seus pares.63 O Sociograma 8 mostra que a proximidade
deriva da fragmentação ou da existência de sub-redes pequenas  basicamente díades e
tríades , animadas por lógicas internas exclusivas, quer dizer, lógicas que não parecem
estimular a criação de pontes com associações pares guiadas por outras preocupações. Por
exemplo, os Grupos de mães e as organizações civis de hip-hop apresentam relações entre
si e nenhum contato com outra associação comunitária. Inclusive o nicho com o maior
número de entidades  organizações representantes da polícia militar  obedece a uma
lógica interna exclusiva. Nesse caso, todas as relações encontram-se direcionadas para um
único ator. Assim, os raros vínculos estabelecidos pelas entidades em questão costumam ser
pontuais e não-diversificados, tornando assimétrica a posição dos atores na sua própria
rede.
Em plena consonância com a caracterização acima esboçada, as associações
comunitárias ocupam, de longe, as posições mais periféricas em relação aos outros tipos de
organizações civis. Por outras palavras, e a despeito da indiferença recíproca entre
organizações populares e associações de bairro, essas entidades são as menos importantes
para os outros atores do universo de organizações civis estudado (Tabela III),
plausivelmente porque seu perfil as torna estrategicamente desinteressantes para as lógicas
de atuação do outros atores. Por sua vez, embora as associações comunitárias privilegiem
os vínculos com organizações populares, não apresentam uma hierarquia clara de
relacionamento no que diz respeito às outras entidades  centrais ou não.
Associações comunitárias são construídas por e para seus membros, e isso guarda
estreita conexão com o caráter exclusivo do seu padrão de relações ou da ausência delas
como sua feição mais distintiva. De um lado, parecem alimentar propósitos muito restritos
de expansão do seu trabalho; de outro, suas funções de auto-ajuda situam-nas em plano
verdadeiramente secundário para as demais organizações. È claro que mantêm relações,
mas são pontuais e animadas por afinidades exclusivas. A esse respeito cumpre lembrar
como contraponto que, apesar da sua condição periférica, as associações de bairro se
destacam por constituir uma rede extensa.

63
Próximas conforme as medidas “proximidade” e “caminhos mais curtos”, e assimétricas conforme a
medida poder (Tabela II).

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Figura 8. Rede Interna Associações Comunitárias

7. Para uma agenda de pesquisa


Os achados apresentados nas páginas deste artigo iluminam de ângulos diversos a
atuação das organizações civis e apontam para lacunas no estado do conhecimento desses
atores; lacunas que para serem sanadas exigem a construção coletiva de uma vasta agenda
de pesquisa, na qual abordagens relacionais e, mais especificamente, a análise de redes,
constituem estratégias conceituais e metodológicas de enorme valia. Nos parágrafos que se
seguem sintetizam-se os principais achados de modo a extrair suas conseqüências para o
estado do conhecimento sobre a chamada sociedade civil.
As organizações civis de São Paulo compreendidas na amostra se articulam em uma
só rede que, embora esgarçada, é notável pelas suas dimensões e indica a potencialidade de
uma conectividade difusa no universo desses atores coletivos. Exames semelhantes para a
Cidade do México, por exemplo, revelam não apenas baixa densidade, mas fragmentação,
ou seja, a configuração de um universo de organizações civis segmentado e ordenado em
várias redes menores sem contato entre si. Isto vai ao encontro do consenso existente a
respeito do agir esparso e parcelar que distingue a chamada sociedade civil, além de

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reforçar as raras caracterizações comparativas internacionais disponíveis a respeito da


considerável organicidade e articulação das organizações civis no Brasil, quando
comparadas com as constelações de atores realmente existentes em outros contextos
nacionais ou metropolitanos (Carvalho 2006; Gurza Lavalle et al 2005c).
Compreensões tocquevilianas, pluralistas ou empiricamente sensíveis das
associações poderiam antecipar intuitivamente algumas das feições expostas nestas páginas,
mas a compreensão dominante da sociedade civil lançou mão de formulações a tal ponto
estilizadas  não raro idealizadas  que um dos deslocamentos mais perceptíveis da
literatura recente é dotar de status analítico a idéia de heterogeneidade da sociedade civil
(Olvera 2003b; Asunção 2006, Dagnino et al 2006). Contudo, de perspectivas
normativamente menos sobrecarregadas, a heterogeneidade coloca-se como ponto de
partida e cabe à análise desvendar os modos em que tal heterogeneidade se organiza. Se o
universo das organizações civis não se ordena nem comporta como prescrito pela teoria 
guiado por uma lógica unificadora e por compromissos normativos passíveis de
universalização , há sem dúvida terreno fértil para a elaboração de distinções analíticas
positivas e empiricamente alicerçadas, capazes de contribuir para a compreensão das
lógicas que animam o modus operandi das organizações civis.
A abordagem relacional mostra que  pelo menos em São Paulo  o universo das
organizações civis é hierárquico e desigual quanto às capacidades de ação e de
interlocução, e opera conforme clivagens de especialização ou diferenciação funcional e de
outras afinidades que emperram ou franqueiam o contato entre entidades. Organizações
populares, articuladoras e ONGs são os grandes protagonistas da rede, quer dizer, os atores
de referência para entidades menos centrais como as assistenciais e os fóruns e para aquelas
periféricas como as associações de bairro e as comunitárias. Por sua vez, as organizações
civis mais centrais são simultaneamente aquelas com investimentos maiores na construção
de relações internas ou com seus próprios pares, e aquelas mais procuradas pelas entidades
periféricas e intermediárias, bem como pelas próprias entidades centrais.
Hierarquização e desigualdades estruturais na capacidade de ação e comunicação,
mas sobretudo o caráter cumulativo das vantagens estruturais, sugerem críticas e levantam
uma série de problemas para teoria da sociedade civil, bem como a sua junção com o

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debate em curso no campo da teoria democrática  não abordado nestas páginas.64 O quão
corrosivos possam eventualmente ser achados como estes depende, em boa medida, do grau
de exigências normativas introduzidas pela teoria, bem como do papel que tais exigências
desempenham no diagnóstico do mundo. Seja como for, os resultados são persuasivos
sobre dois aspectos passíveis de interpretação a partir de diferentes registros teóricos:
primeiro, os alcances da atuação das organizações civis mal podem ser compreendidos se
desconsiderados os processos de diferenciação funcional impulsionados intencionalmente
por esses atores para incrementar suas chances de incidência nas instâncias pertinentes de
tomada de decisões ou na conformação da agenda pública; segundo, a ação coletiva no
contexto da pós-transição acusa mudanças, mas sem abordagens sistemáticas e
comparativas do universo das organizações civis, o tratamento do assunto carece de
parâmetros e corre os riscos de firmar formulações “impressionistas”. Com maior precisão,
nestas páginas há evidências tanto de transformações de envergadura sem tratamento
adequado na literatura quanto, em sentido inverso, de mudanças menores tidas como
consensuais e incorretamente sobre-enfatizadas.
No que diz respeito a processos intencionais de diferenciação funcional, há
desenvolvimentos notáveis nas entidades analisadas. A existência de organizações civis
dedicadas a propósitos distintos e empenhadas na realização de atividades diferentes remete
ao plano do pluralismo societário ou da heterogeneidade da ação coletiva, mas a presença
de funções complementares implica algo mais: processos complexos de divisão do trabalho,
cuja cristalização atesta o grau de complexidade e a capacidade de atuação de atores
coletivos situados dentro do universo das organizações civis. As abordagens centradas no
ator (ou não relacionais), seja dito de passagem, tendem a escapar tal “divisão do trabalho”
e os alicerces relacionais e estruturais que subjazem às possibilidades de atuação da
chamada sociedade civil em diferentes contextos.
Assim, a presença de protagonistas centrais na rede não significa ausência de
protagonismo nos tipos de organizações civis intermediárias e periféricas, antes, o modus
operandi difere nitidamente para cada tipo, não raro obedecendo a uma espécie de divisão
do trabalho dentro do universo dos atores estudados. De fato, apenas os atores periféricos,
associações de bairro e comunitárias, desempenham funções auto-referenciais, em que

64
Notadamente no que diz respeito à junção com as teorias deliberativa e participativa da democracia.

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beneficiário e membros coincidem. Assim, do ponto de vista dos vínculos preferenciais,


ambos os tipos de organizações civis tendem a ser irrelevantes para os demais atores. No
caso das associações comunitárias, à auto-referencialidade é preciso acrescer uma lógica de
trabalho exclusiva, que se esgota dentro da própria organização sem impeli-la a construir ou
diversificar relações com outros tipos de organizações, ou sequer com as próprias entidades
pares. O perfil das associações de bairro, em principio auto-referenciado, requer a projeção
de demandas às instituições políticas e a órgãos da administração pública. Se internamente
os vínculos entre associações de bairro seguem a lógica territorial da contigüidade,
assumindo um escopo limitado, a procura de canais para incidir no poder público parece
animar a construção de vínculos com entidades centrais  majoritariamente articuladoras
, conferindo a algumas dessas associações capacidade de intermediação e alcances
extraordinários em se tratando de atores periféricos.
Organizações civis centrais e de condição intermediária trabalham, via de regra,
para terceiros ou em benefício de membros não circunscritos a âmbitos locais. Os
resultados evidenciam que as entidades assistenciais sustentam vínculos peculiarmente
assimétricos, intermediando fluxos de benefícios entre financiadoras ou mantenedoras e
organizações receptoras situadas em posições periféricas. Nesse sentido, elas apresentam
um padrão de vinculações fragmentadas e verticais, de relevância pontual na rede como um
todo. De modo sintomático, seu melhor canal de conexão com o resto das entidades  os
fóruns  apresenta critérios de seletividade irrestritos. Os próprios fóruns, malgrado
situados em posições igualmente intermediárias, emergem com funções mais amplas, como
espaços de encontro e adensamento das relações para a coordenação de prioridades por
áreas temáticas e de políticas, apresentando, de modo consoante, um perfil passivo ou de
recepção de vínculos. Dentre as entidades centrais, duas partilham esse perfil passivo: as
organizações populares e as articuladoras são, no conjunto da rede, entidades mais
procuradas do que empenhadas em procurar outros atores. As primeiras, voltadas para a
mobilização e o protesto como estratégias de atuação, cultivam com intensidade os vínculos
internos, e constituem o principal canal das associações comunitárias para atingir posições
centrais, mas sua importância para as associações de bairro é surpreendentemente
desprezível. Por sua vez, as articuladoras representam de longe o canal mais privilegiado
pelas associações de bairro, e emergem, hoje, como entidades mais centrais que a maior

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parte de suas criadoras  as ONGs , com as quais preservam a única aliança estratégica
presente no universo de organizações analisadas. Tal aliança é recíproca e evidencia não
apenas o caráter ativo ou de construtoras de relações das ONGs, mas também notável
habilidade e vigor para imprimir sua lógica no universo das organizações civis, em
momento marcado pela redefinição da intervenção social do Estado, agora marcada sob o
signo da focalização, descentralização, participação e pluralização de provedores.
No que diz respeito aos achado que iluminam mudanças, é pertinente explicitar o
pano de fundo consensual na literatura. A narrativa mais aceita acerca das transformações
no terreno dos principais atores coletivos ao longo das últimas décadas pode ser resumida
na seguinte formulação: as classes sociais e sua lógica inscrita na estrutura econômica das
sociedades capitalistas teriam cedido passo, nas décadas de 1970 e 1980, ao surgimento dos
movimentos sociais  atores novos e agentes da construção/invenção de suas identidades
não subordinados ao roteiro prescrito pela teoria conforme clivagens classistas. Uma
década depois, encerrado o ciclo da transição, os novos atores teriam saído de cena,
eclipsados pela multiplicação de uma miríade de entidades unificadas sob a categoria
sociedade civil, emblematicamente representada no estilo de trabalho e estratégia de
atuação das ONGs. O halo de legitimidade e prestigio imbuído nessa rubrica estaria a
promover  como em cada um dos momentos anteriores sob as outras categorias, é bom
que se diga  a indiferenciação do universo das organizações civis sob um efeito de
“onguização” de entidades com princípios de atuação distintos e, por vezes,
irreconciliáveis.
À margem dos efeitos de “novidade” e “sumiço” produzidos pela substituição de
categorias analíticas “velhas” por outras “novas”  discutidos alhures (Gurza Lavalle et al
2004) , os resultados aqui examinados sugerem, dentro dos limites inerentes a evidências
circunscritas a São Paulo, a introdução de correções e especificações a tal narrativa.
Primeiro, os movimentos sociais continuam usufruindo posição proeminente  com a
maior centralidade da amostra , pelo que diagnósticos denunciando seu ocaso parecem
ter sido precipitados, quiçá em parte devido à perda relativa da visibilidade desse tipo de
ator após os anos conturbados da democratização, quiçá em parte devido ao desencanto,
frustração, “ressaca” e outras conseqüências de efeito invertido características de
diagnósticos do mundo marcados por uma “inflação” de expectativas. Segundo, os

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

movimentos dividem sua posição outrora hegemônica no campo das organizações civis
com entidades mais novas, mas não apenas nem fundamentalmente com ONGs, como
apontado na literatura, mas com articuladoras  de criação mais recente e cujo padrão de
relacionamentos é similar ao das organizações populares ou movimentos. A centralidade
adquirida vertiginosamente por essas entidades de terceiro nível, criadas para representar
interesses de organizações de segundo nível e para coordenar e impulsionar a construção de
agendas comuns, atesta tanto a maleabilidade da ação coletiva institucionalizada quanto a
imbricação da força das ONGs para moldá-la a sua imagem e semelhança com os efeitos de
anos de reforma do Estado na implementação e gestão de políticas públicas sob o signo das
parceiras público-privado. Por outras palavras, as articuladoras seguem a lógica temática
das ONGs e orientam parte considerável do seu trabalho para a incidência em políticas
públicas, mas simultaneamente tornaram-se referência e canal privilegiado das associações
de bairro, que, assim, abandonaram sua velha aliança com movimentos sociais,
plausivelmente substituindo estratégias de atuação centradas na mobilização e no protesto
para desenvolver habilidades na administração de benefícios públicos baseados em
convênios. Terceiro, as denúncias preocupadas com a “onguização” das organizações civis
 notadamente as entidades assistenciais , presuntivamente responsável por eclipsar
distinções relevantes às clivagens e disputas entre concepções diferentes do sentido da ação
coletiva institucionalizada, conformam diagnóstico pelo menos impreciso: se a constituição
de 1988 e as políticas públicas das duas últimas décadas vêm estimulando deslocamentos
semânticos na fala dos atores, agora porta-vozes de discursos cifrados no registro da
cidadania e dos direitos, a análise de redes desvela elementos mais permanentes das
práticas dos atores, uma espécie de “DNA relacional” que identifica nitidamente tipos de
organizações civis e atesta, no caso das entidades assistenciais, a continuidade do seu perfil
tradicional.
A análise de redes aplicada a organizações civis é ainda incipiente no Brasil,
todavia, não é necessária muita imaginação para antever os horizontes de problemas ou
problemáticas passíveis de serem elaboradas e sistematicamente verificadas a partir de uma
agenda de pesquisa relacional. Cumpre apontar brevemente apenas dois horizontes. No
plano mais óbvio dos limites e potencialidades do universo de atores analisados,
abordagens relacionais favoreceriam a compreensão de suas condições coletivas de atuação

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

sem pressupor dinâmicas unitárias, bem como permitiriam realizar estudos comparativos
sistemáticos para examinar os efeitos de diversos fatores na construção histórica desses
limites e potencialidades. No terreno das políticas públicas e das inovações institucionais de
co-gestão, a análise de redes constitui uma estratégia promissora para avançar na
compreensão dos efeitos da administração societária de recursos públicos, pois estes são
canalizados e aplicados via redes, favorecendo determinados atores e seus públicos e não
outros. Desbravar esses ou outros horizontes de problemas possíveis é uma tarefa coletiva
de médio prazo, eventualmente cristalizável na elaboração e depuração de agendas de
pesquisa. Estas páginas, ao oferecer um panorama do modus operandi das organizações
civis, constituem apenas um passo inscrito no primeiro plano. Seria desejável que este
passo fosse rapidamente corrigido, re-especificado e eventualmente refutado pela
acumulação de evidências oriundas de outros contextos urbanos e de novos estudos guiados
por hipóteses capazes de aprofundar o nosso conhecimento sobre as diversas lógicas que
animam o universo das organizações civis. .

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

ANEXO 1 – Siglas e Nomes das entidades presentes nos Sociogramas

ORGANIZAÇÕES POPULARES

mdf Movimento de Defesa dos Favelados


mmc Movimento de Moradia do Centro
mnlm Movimento Nacional de Luta pela Moradia
moab Movimento dos Atingidos por Barragens
movpeqagri Movimento dos Pequenos Agricultores
mst Movimento dos Sem Terra
mstc Movimento dos Sem Teto do Centro
mtst Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
muf Movimento de Unificação das Favelas
ulc Unificação de Lutas de Cortiços

ARTICULADORAS

abong Associação Brasileira de Ongs


abrinq Fundação Abrinq
ammrs Associação dos Movimentos de Moradia da Região Sudeste
artmubr Articulação de Mulheres Brasileiras
artmusp Articulação de Mulheres de São Paulo
caricanduva Câmara do Vale do Aricanduva
ccngo CCNGO
ceaal Conselho de Educação de Adultos da América Latina
ceres CERES
cladem CLADEM
cmp Central de Movimento Populares
cofrebasgo Comissão do FREBASGO
comsolidar Comunidade Solidária
conam Confederação Nacional de Associações de Moradores
Conselho Coordenador das Sociedades Amigos de Bairro, Cidades e Vilas do
consabesp
Estado de São Paulo
cooperapic Cooperapic
correviva Corrente Viva
efc European Foundation Center
espforasse Espaço Formação e Assessoria
ethos Ethos
facesp Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

facm Federação de Ass. Cristãs de Moços


fecoc FECOC
fedinterdh Federação Internacional de Direitos Humanos
fmsp Fórum dos Mutirões de São Paulo
forempresa Fórum Empresa
gife GIFE
inantenas Instituto Antenas
infonte Instituto Fonte
isynergos Instituto Synergos
lope Lope - Rede Latino-Americana
maeb MAEB
movespnac Movimento Espírita Nacional (órgão)
movnacdhum Movimento Nacional de Direitos Humanos
polonorte Pólo Norte
poloregion Pólo Regional
rdnacparte Rede Nacional de Parteiras
rebraf REBRAF
redegri Rede GRI (Global Reporting Iniciative)
redelatsau Rede Latino Americana de Saúde
refemsaude Rede Feminista de Saúde
ubm União Brasileira de Mulheres
umm União dos Movimentos de Moradia
unamovpop União Nacional de Movimentos Populares
use União das Sociedades Espíritas
wings Wings

ONGS

abong Associação Brasileira de Ongs


abrinq Fundação Abrinq
ammrs Associação dos Movimentos de Moradia da Região Sudeste
artmubr Articulação de Mulheres Brasileiras
artmusp Articulação de Mulheres de São Paulo
caricanduva Câmara do Vale do Aricanduva
ccngo CCNGO
ceaal Conselho de Educação de Adultos da América Latina
ceres CERES
cladem CLADEM
cmp Central de Movimento Populares
cofrebasgo Comissão do FREBASGO

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

comsolidar Comunidade Solidária


conam Confederação Nacional de Associações de Moradores
Conselho Coordenador das Sociedades Amigos de Bairro, Cidades e Vilas do
consabesp
Estado de São Paulo
cooperapic Cooperapic
correviva Corrente Viva
efc European Foudation Center
espforasse Espaço Formação e Assessoria
ethos Ethos
facesp Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo
facm Federação de Ass. Cristãs de Moços
fecoc FECOC
fedinterdh Federação Internacional de Direitos Humanos
fmsp Fórum dos Mutirões de São Paulo
forempresa Fórum Empresa
gife GIFE
inantenas Instituto Antenas
infonte Instituto Fonte
isynergos Instituto Synergos
lope Lope - Rede Latino-Americana
maeb MAEB
movespnac Movimento Espírita Nacional (órgão)
movnacdhum Movimento Nacional de Direitos Humanos
polonorte Pólo Norte
poloregion Pólo Regional
rdnacparte Rede Nacional de Parteiras
rebraf REBRAF
redegri Rede GRI (Global Reporting Iniciative)
redelatsau Rede Latino Americana de Saúde
refemsaude Rede Feminista de Saúde
ubm União Brasileira de Mulheres
umm União dos Movimentos de Moradia
unamovpop União Nacional de Movimentos Populares
use União das Sociedades Espíritas
wings Wings

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Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

FÓRUNS

confest Conferências Estaduais


confnaci Conferências Nacionais
confreg Conferências Regionais
congsaude Congresso da Saúde
fassocial Fórum de Assistência Social
focenvivo Fórum Centro Vivo
fodefic Fórum de Deficientes
foeconsoli Fórum da Economia Solidária
foidoso Fórum do Idoso
fonalutas Fórum Nacional de Lutas
fonarefurb Fórum Nacional de Reforma Urbana
fopaupapop Fórum Paulista de Participação Popular
foreduc Fórum de Educação
formoradia Fórum de Moradia
forongaids Fórum Ongs Aids
forpatolog Fórum de Patologia
forumdca Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente
fosaude Fórum de Saúde
fsm Fórum Social Mundial
marmunmu Marcha Mundial de Mulheres

ENTIDADES ASSSISTENCIAIS

aacd AACD
abiah ABIAH
abras ABRAS
acaocomun Ação Comunitária
aeb AEB - Associação Evangelista Beneficiente
aebedra Aebedra
aguainumbi Associação Guainumbi
arco ARCO
asbenprovi Associação Beneficiente Provisão
casadomaca Casa Dom Macária
casataig Casa Taiguara
cencovsdor Centro de Convivência Santa Dorotéia
cesep CESEP
comkolparc Comunidade Kolping Arco-Íris
cphnsajped Centro de Promoção Humana Nossa Senhora Aparecida do Jd. Pedreira

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

cpsaocthi Centro de Promoção Social São Caetano Thiene


cpsborore Centro de Promoção Social Bororê
cpsclbiasi Centro de Promoção Social Cônego Luis Biasi
crechesper Creche Esperança
csleaoxiii Centro Social Leão XIII
fucriscria Fundo Cristão para Criança
funsauxi Fundação Nossa Senhora Auxiliadora
inteusonho Instituto Teu Sonho Meu Sonho
koinomia Koinomia
largiras Lar Girassol
larjemajo Lar Jesus Maria José
obkolping Obra Kolping do Brasil
pcreconcil Programa Comunitário Reconciliação

ASSOCIAÇÕES DE BAIRRO

abastatere Associação do Bairro Amigos de Santa Terezinha


abcocaia Associação do Bairro Cocaia
abelc ABELC
abjeliana Associação do Bairro Jardim Eliana
abjsaobern Associação do Bairro Jardim São Bernardo
abmontever Associação do Bairro Monte Verde
acachoeir Associação Cachoeirinha
achabelavi Associação Chácara Bela Vista
acingapsjo Associação Cingapura Parque São João
acomnovama Associação Comunitária Nova Marilda
acomucelii Associação de Construção por Mutirão Jd. Celeste II
amai AMAI - Associação dos Moradores de Vila Arco Íris
ambrcavlmi Associação de Moradores do Bairro Rita Cavernaqui e Vl. Missionária
amem AMEM - Associação dos Moradores de Ermilíno Matarazzo
amjideal Associação de Moradores do Jardim Ideal
amomvirgem Associação de Moradores de Mata Virgem
ampnovomun Associação de Moradores de Parque Novo Mundo
amtiete Associação de Moradores Tietê
amvmissio Associação de Moradores da Vila Missionária
amvnasce Associação de Moradores de Vila Nascente
amvpedrei Associação dos Moradores da Vila Pedreira
apedrasped Associação Pedra sobre Pedra
arcavc Associação Recreativa Comunitária Amigos de Vila Carmem
asmjlucel Associação dos Moradores do Jardim Lucélia

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

asscmheli Associação Central dos Moradores de Heliópolis


asunisapo Associação Unidas Beneficiente de Sapopemba e Vilas Adjacentes
avalheliop Associação pela Valorização de Heliópolis
avalmulher Associação de Valores da Mulher
avidanova Associação Vida Nova
avnosjoao Associação Vila Nova São João
avnotiete Associação Vila Nova Tiête
avnovacuru Associação Vila Nova Curuça
cdm CDM - Vila Darli
cecomvilacr Centro Comunitário da Vila Cristália
cencidnova Centro Social Cidade Nova
cslartreze Centro Social Largo Treze
mpmzn Movimento Popular de Moradia Zona Norte
pcleitonzl Pequeno Cleiton da Zona Leste
sabajideal Sociedade Amigos do Bairro Jardim Ideal
sabsaomate Sociedades Amigos do Bairro de São Mateus
sabvindust Sociedade Amigos de Bairro Vila Industrial
sacresjau Sociedade Amigos Conj. Residencial Jaú
saem SAEM - Sociedade Amigos de Ermilíno Matarazzo
sajacana Sociedade Amigos de Jaçana
sajacol Sociedade Amigos do Jardim Colorado
sajagrim Sociedade Amigos do Jardim Grimaldi
sajapao Sociedade Amigos do Jardim Japão
sajasapo Sociedade Amigos do Jardim Sapopemba
sajauverde Sociedade Amigos do Jd. Aury Verde e Adjacências
sajbrasil Sociedade Amigos do Jardim Brasil
sajindep Sociedade Amigos do Jardim Independência
sajtulipas Sociedade Amigos Jardim das Tulipas
samorheli Sociedade Amigos Moradores de Heliópolis
samvarpqfo Sociedade Amigos da Vila Arapuá e Parque Fongar
sapeduchav Sociedade Amigos do Parque Edu Chaves
sapsamsfra Sociedade Amigos do Parque Santa Amélia e Balneário São Francisco
sarsi SARSI - Sociedade Amigos de Bairro da Região de Santa Inês
sasapopem Sociedade Amigos de Sapopemba
sava SAVA - Sociedade Amigos de Vila Alpina
savalp SAVALP - Sociedade Amigos de Vila Alpina
savclamor Sociedade Amigos de Vila Cristália, Vila Lalá e Jd. Morgado
savdarli Sociedade Amigos de Vila Darli
savema Sociedade Amigos de Vila Ema

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Adrián Gurza Lavalle, Graziela Castello e Renata Mirandola Bichir. “Os Bastidores da Sociedade Civil - Protagonismos,
Redes e Afinidades no Seio das Organizações Civis”. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, SP, novembro de 2006

soravi SORAVI - Sociedade Amigos de Vila Medeiros


sovisabri Sociedade Vila Sabrina
umocjulia União dos Moradores da Cidade Júlia
umpbrijssa União dos Moradores do Parque Bristol e Jardim São Savério
umvasa UMVASA - União de Moradores de Antonio dos Santos e Adjacentes
unas UNAS
unimorsete União dos Moradores da Comunidade de Sete de Setembro

ASSOCIAÇÕES COMUNITÁRIAS

acabsolpm Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar


adefesapm Associação de Defesa do Policial Militar
adiabetico Associação dos Diabéticos
afemvalpina Associação Feminina de Vila Alpina
alineposse Aliança Negra Posse
aoficipm Associação de Oficiais da Polícia Militar
apmdefesp Ass.da Polícia Militar dos Deficientes do Estado de SãoPaulo
apolmievan Associação de Policiais Militares Evangélicos
asatlbarc Associação Atlética Barcelona
asmaestalu Associação de Mães de Santa Luzia
astrabitaq Associação dos Trabalhadores de Itaquera
asubsarpm Associação de Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar
casp CASP - Centro de Ação Social de Vila Alpina
clubemaeca Clube de Mães Coração do Amor
clumaeunvi Clube das Mães Unidas para a Vitória
dozeescsam 12 Escolas de Samba do Grupo Especial
enclapolmi Entidades de classe da Polícia Militar
fcd FCD - Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes
gpferdias Grupo de Senhoras Unidas Fernão Dias
grcs Grupo Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Acadêmicos do Tucuruvi
mocut MOCUT - Movimento Cultural da Cidade Tiradentes
outposses Outras Posses (organizações de Hip Hop)
proquilurb Projeto Quilombos Urbanos
uniporvis União dos Portadores de Deficiência Visual do Estado de São Paulo

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