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Dica Clínica

Plano de Camper
Simone Gallão*, Cristina Feijó Ortolani**, Kurt Faltin Jr.***

Resumo
A Ortodontia e a Ortopedia facial, desde tempos mais antigos, estudam o correto crescimento e desenvolvi-
mento do crânio e da face, buscando, desta forma, o estabelecimento da estética e da estabilidade morfo-fun-
cional em suas terapias, apoiando-se em referências crânio-faciais, como o plano de Camper, para referenciar
o posicionamento dentário. Cada vez mais, as estruturas, demarcadas através de pontos, linhas e planos, são
pesquisadas para a descoberta de proporcionalidades e inter-relacionamentos, contribuindo com mais um
dado importante no estabelecimento do diagnóstico individual. O perfil humano possui fatores individuais
que caracterizam a pessoa, frente a isto, existe a necessidade de posicionarmos os dentes dentro deste perfil,
respeitando estas características. Em situações harmônicas, o plano de Camper, correspondente, em tecido mole,
ao plano que vai do trágus à asa do nariz, de acordo com a maioria dos autores, posiciona-se paralelamente à
referência dentária denominada plano oclusal. Utilizou-se, clinicamente, o dispositivo transferidor do plano
oclusal de Calteux e Bakker com enfoque paralelo à linha ouvido-nariz, observando-se minuciosamente os
lados direito e esquerdo, para transferir o plano de Camper para a superfície oclusal superior e, em seguida,
incorporou-se estas características para os modelos ortodônticos através da confecção de um rolete de cera,
guiando seus recortes e auxiliando, desta forma, no diagnóstico, no plano de tratamento, no acompanha-
mento das terapias aplicadas e possibilitando a padronização da confecção dos modelos ortodônticos, sejam
eles de estudo ou de trabalho, objetivando a normalidade morfofuncional e estética dentro de um contexto
oclusal dinâmico.
Palavras-chave: Plano de Camper. Plano oclusal. Modelos ortodônticos.

INTRODUÇÃO orientação seletiva que permite construir estruturas


A Ortodontia e a Ortopedia facial, desde tem- de máxima resistência, com evidente critério de
pos mais antigos, estudam o correto crescimento e economia de massa dos materiais empregados; o
desenvolvimento do crânio e da face, preocupando- aparelho mastigatório constitui uma expressão de-
se, também, em posicionar os dentes e suas bases finida deste critério”6.
ósseas em uma posição equilibrada do ponto de Cada vez mais, as estruturas, demarcadas através
vista morfofuncional, gerando, ao mesmo tempo, de pontos, linhas e planos, são pesquisadas para o
a harmonia facial. estabelecimento de proporcionalidades e inter-re-
O perfil humano possui características individuais lacionamentos.
que caracterizam a pessoa, frente a isto, existe a Sendo assim, para a representação dentária utili-
necessidade de posicionarmos os dentes dentro deste za-se como referência o plano oclusal, que será po-
perfil, respeitando suas características. sicionado espacialmente com um plano horizontal
“A análise do regime de construção do esquele- da face, chamado plano de Camper (trágus – asa do
to humano obriga a reconhecer na natureza, uma nariz), contribuindo com mais um dado importante

* Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela UNIP - S.P. Mestre em Clínica Infantil Ortodontia e Ortopedia Facial pela UNIP - S. P.
** Especialista em Ortodontia pela Universidade Paulista. Mestre e doutora em diagnóstico bucal pela FOUSP. Professora Titular da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da
Universidade Paulista ( Campus São Paulo e Campinas). Professora Titular da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Fonoaudiologia da Universidade Paulista. Professora do Mestrado
em Ortodontia da Universidade Paulista. Coordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia da Universidade Paulista- Campinas.
*** Doutor (Medicina Dentística) em Ortopedia pela Universidade de Born - Alemanha. Professor Titular da disciplina de Ortodontia da UNIP. Coordenador do Curso de Especialização em
Ortodontia da UNIP.

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no estabelecimento do diagnóstico individual. Camper e na literatura americana como plano de


Basicamente muitos protesistas e ortodontistas Broomell. A partir dele, outros protesistas deram
dão evidência para o posicionamento do plano muita importância ao plano de Camper na deter-
oclusal baseando-se no plano de Camper, mas alguns minação do plano oclusal que passou a ser aceito
ortodontistas ainda utilizam o plano de Frankfurt. por uma grande parte.
A seguir, temos a opinião científica de diversos Gysi10 identificou um plano protético que vai da
autores que estudaram o assunto para embasarmos porção inferior do trágus auricular à porção inferior
nossa prática ortodôntica de maneira científica. da asa do nariz.
Ruppe (1920 apud Oliveira, 1971)14 consi-
OBJETIVOS derava o plano oclusal paralelo à linha asa do nariz
Através da transferência dos pontos craniométri- – centro do meato auditivo externo.
cos para o perfil mole do paciente, relacionamos o Clapp e Tench8 afirmaram ser o plano oclusal
plano de Camper com o plano oclusal, permitindo paralelo à linha que vai da borda mais baixa do
uma referência individual de importante valor lóbulo da orelha à comissura labial.
diagnóstico e terapêutico, alcançando resultados Kurth12 afirmou que o plano oclusal é localiza-
fundamentais para o estudo do crescimento e do experimentalmente de acordo com a linha de
desenvolvimento do crânio e da face. Os planos Camper.
horizontais utilizados estão descritos abaixo: Wylie e Brodie (1941 apud Oliveira, 1971)14
• Plano de Camper – linha que vai da espinha demonstraram que o plano oclusal caminha parale-
nasal anterior à porção superior do pório. O Plano lamente à base anterior do crânio e se a linha do ná-
de Camper é representado nos tecidos moles pelo sio através do centro da sela túrcica fosse prolongada
plano que vai da asa do nariz ao trágus (direito e para interceptar o plano oclusal, o ângulo formado
esquerdo). por essa intersecção seria no mesmo indivíduo o
• Plano oclusal funcional – linha que vai desde a mesmo na vida adulta como foi na infância. A li-
incisal dos incisivos até mésio-palatina do primeiro nha naso-meatal é determinada pela espinha nasal
molar superior. anterior, um ponto facial que caminha para frente
Como o objetivo deste trabalho é o estabele- e para baixo desde a base anterior do crânio e pelo
cimento dos passos clínicos e laboratoriais para se pório que é um ponto craniométrico. Uma análise
relacionar o plano oclusal em relação ao plano de das telerradiografias revela que o pório caminha
Camper, serão utilizados apenas estes dois planos. para baixo e para trás respeitando a base do crânio.
Como um ponto craniométrico, entretanto, ele
REVISÃO DE LITERATURA chega à sua posição adulta muito mais cedo que
Petrus Camper (1722–1789 apud Pedroso os pontos faciais. A partir disto, pode-se ver que
1990)17 estudou o perfil do homem e estabeleceu enquanto o plano oclusal se desenvolve em cresci-
sobre a norma lateral de crânios o plano de Camper mento tanto em seu limite posterior como o faz em
ou plano naso-auricular. Este plano na cabeça óssea, seu limite anterior, o plano naso-meatal comporta-se
passa pelo extremo da espinha nasal anterior e pela diferentemente. Devido ao término de crescimento
porção superior do pório. Este ponto craniométrico no seu limite posterior e ao contínuo movimento
localiza-se na borda superior do orifício do conduto para frente e para baixo do limite anterior, este
auditivo externo, situado sobre a vertical mediana a plano tende a convergir mais e mais com o plano
esse orifício. No vivo, o pório pode ser substituído oclusal até que o crescimento facial cesse. O autor
pelo trágus que se situa um pouco adiante. encontrou uma convergência de aproximadamente
Broomell5 relatou que “a linha dos dentes na- 5º e concluiu que é um valor pequeno e difícil de se
turais é paralela à linha que vai do centro da fossa estimar com precisão e que qualquer modificação
mandibular à espinha nasal anterior ou à base do na prática tradicional não valeria a pena, devendo-
nariz” semelhante, portanto ao plano de Camper. se, portanto relacionar o plano oclusal paralelo ao
Este plano na Europa é conhecido como plano de plano de Camper.

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Plano de Camper

Izard11 citou o plano de Camper como sendo um Schwarz (1958 apud Barbosa, 1996)4 em seus
plano de referência muito usado em Antropometria, estudos cefalométricos usou como referência para
passando pela espinha nasal anterior e pelo centro traçar o plano oclusal, a borda do incisivo central
do meato auditivo externo. Nos tecidos moles loca- inferior e as cúspides dos 2os molares em oclusão.
liza-se na porção ântero-inferior da asa do nariz às Unindo-se estes 2 pontos, tem-se a linha cefalomé-
regiões medianas dos trágus auriculares. trica que representa o plano oclusal.
De acordo com Wylie (1944 apud Oliveira, Olsson e Posselt15 tomaram 27 estudantes do
1971)14 o plano oclusal tende mais freqüentemente, gênero masculino, com idades variando entre 20 e
na infância, a ser paralelo à linha naso-meatal do que 22 anos e foram tiradas radiografias cefalométricas.
no adulto. Na sua pesquisa, ele utilizou 55 telerra- As linhas traçadas nos cefalogramas foram: sela-
diografias laterais (de 22 pais e 33 crianças). Pais e násio, orbital-pório, oclusal-maxilar e de Camper.
crianças foram tratados como dois grupos separados A diferença de 7º encontrada entre os planos de
e o valor angular médio foi determinado para cada Camper e oclusal parece ser explicada com a mu-
grupo. Ele relatou que a variabilidade no ângulo dança do ponto de referência posterior preconizada
entre o plano naso-meatal e o plano oclusal não é por Gysi. Como há grande resiliência do tecido
nem excessivamente variável e nem acentuadamente na região do meato auditivo externo, os autores
estável. As diferenças devidas à idade podem ser preferem determinar radiograficamente o ponto
explicadas baseadas no crescimento crânio-facial. craniométrico: pório.
Dressen (1949 apud Oliveira, 1971)14 deter- Balters2,3 afirmou que a orientação do plano
minou o plano oclusal como sendo paralelo à linha oclusal, em relação ao crânio, é a de paralelismo
asa-trágus. Utilizou a porção mediana do trágus para do mesmo com o plano de Camper. Se ocorrerem
referência, à semelhança do plano de Camper. anomalias de coordenação e correlação das arcadas
Häupl et al.; Tanzer, Landa e Lammil (apud dentárias, pode-se utilizar o plano de Camper
Rintala, Wolf)20 consideram os planos oclusal como referência. Esta relação do plano de Camper
e Camper paralelos. também diz respeito à postura de cabeça e posição
Camani Altube6 relatou que o plano oclusal ereta do ser humano. Balters3 salientou que os
forma com o plano de Camper um ângulo que em modelos confeccionados devem ter uma orientação
geral não passa de 3º de abertura. que admita uma comparação posterior, portanto
Augsburger1 considerou o plano oclusal paralelo devem ser alinhados segundo a linha ouvido-nariz
à linha que vai da asa do nariz ao centro do meato que é paralela à base ou superfície de mastigação e
auditivo externo. ao mesmo tempo fator determinante no desenvol-
Aldrovandi (1956 apud Oliveira, 1971)14 vimento. Segundo Balters3, para a transferência do
afirmou: “se estabelecermos o plano de orienta- plano de Camper para o ser humano, emprega-se
ção paralelamente ao plano de Camper, teremos através de uma mordida de cera na arcada um dis-
edificado um plano protético cômodo, o qual nos positivo transferidor do plano oclusal de Calteux e
norteará na reconstrução das superfícies articulares Bakker com enfoque paralelo à linha ouvido-nariz.
das dentaduras artificiais”. Complementou ainda, Este dispositivo de Calteux e Bakker transfere o
afirmando: “o plano de Camper, contudo, permite plano de Camper para a superfície oclusal supe-
obter bons resultados práticos e é aceito por quase rior. De acordo com Balters3, o desenvolvimento e
todos os protesistas, embora com restrições”. configuração da dentição estão orientados sobre a
Saizar (1958 apud Oliveira, 1971)14 admitiu base da mastigação e faz-se necessário o equilíbrio
que plano oclusal é paralelo ao plano de Camper. na horizontal, o que não quer dizer que seja plana.
No vivo, é difícil de se localizar o plano de Camper, Com tal razão o recorte de modelo deve fazer-se a
portanto podemos nos aproximar dele: - o plano base da mastigação, a fim de que no final seja pos-
passa pela borda inferior da asa do nariz e pelo centro sível observar e controlar as alterações da dita base
do conduto auditivo externo em ambas as faces, ao de mastigação. Esta forma de orientação e recorte
qual pode chamar-se “plano protético”. assegura uma proporção comparativa, mas não

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significa um eixo absoluto, já que, o crescimento os ângulos formados pelas linhas de Camper (nos
sobre a base da mastigação permite modificações tecidos moles, nas radiografias cefalométricas e no
que não asseguram uma comparação medidora. articulador) para ambos os lados da face, quando
Para a atuação dentro de uma série de modelos, a relacionados com o plano oclusal, levaram estatisti-
orientação dos mesmos seguindo pontos de vista camente à aceitação da hipótese de igualdade.
idênticos é indispensável. Meroni et al.13 também destacaram a impor-
Martorelli (1967 apud Oliveira, 1971)14 tância do plano oclusal funcional paralelo ao plano
utilizou a régua de Fox para tornar o plano de de Camper.
orientação paralelo ao plano de Camper. Poggio19 salientou que a orientação do plano de
Celestin7 salientou que o plano oclusal deve ser Camper é característica individual de cada pessoa.
paralelo ao plano trágus / nariz (plano de Cam- Ortolani-Faltin16 afirmou que os modelos or-
per). todônticos devem ser confeccionados segundo a
Hartono (1967 apud Barbosa, 1996)4 fez orientação do plano de Camper, para observar os
um estudo não radiográfico da inclinação dos desvios do plano oclusal do paciente.
planos oclusais de 53 estudantes de Odontologia. Planas18 relatou que no exame visual de bons
A relação das inclinações dos planos oclusais foi modelos gnatostáticos é possível evidenciar todas
comparada com seis tipos faciais. O estudo de- as lesões sintomáticas de desenvolvimento e função
monstrou que apesar dos diferentes tipos faciais, através das assimetrias, tanto transversais como ânte-
a linha que conectava o bordo inferior da asa do ro-posteriores e verticais, ao se verificar a existência
nariz à margem inferior do trágus era aproxima- de paralelismo ou falta dele em relação ao plano
damente paralela ao plano oclusal. Esta afirmação de Camper. O autor cita que em seus tratamentos
justifica o uso deste paralelismo para a confecção ortodônticos e na confecção de próteses totais ele
de próteses totais. busca o paralelismo do plano oclusal com o plano
Rintala e Wolf20 relataram que o ângulo de de Camper.
desvio entre o plano oclusal e o plano de Camper Ferrario et al.9 afirmaram que o plano de Cam-
aumenta com a idade dos 3 a 4 graus aos 8 ou 9 anos per é quase paralelo ao plano oclusal. Os planos de
de idade para 9 a 10 graus aos 15 anos de idade e, Camper e Frankfurt são constantes e independem
após isto, nenhuma alteração pode ser evidenciada. da idade, diferentemente do plano oclusal que sofre
É importante também ressaltar que ao assumir um influência da dentição. Os autores confirmaram
paralelismo entre o plano de Camper radiográfico através dos resultados de suas pesquisas que os pla-
e o clínico, um erro de aproximadamente 10 graus nos de Frankfurt e Camper são bem correlacionados
é obtido na direção do plano oclusal. entre si, porém sugerem substituir a referência do
Santos (1970 apud Oliveira, 1971)14 afirmou plano de Frankfurt (em tecido mole) pelo plano de
que os planos de Camper e oclusal tendem a ser Camper, pois sua localização na superfície lateral
paralelos, porém há dimorfismo sexual no posicio- da face é mais fácil.
namento do plano de Camper.
Tamaki21 afirmou que, na boca, o plano de Técnica de Obtenção da Mordida em Cera
orientação das dentaduras de prova deve ficar ao com a Transferência do Plano de Camper e
nível do plano de Camper. Recorte de Modelos
Oliveira14 salientou que a linha que une a borda Materiais utilizados
inferior da asa do nariz ao centro do trágus auricular • Dispositivo transferidor do plano oclusal de
bem como a linha que une a espinha nasal anterior Calteux e Bakker;
ao pório não constituem geometricamente o plano • Cera nº 7;
de Camper. O plano de Camper será o resultado • Lamparina, álcool e isqueiro;
geométrico da união de pelo menos três pontos • Recortador de gesso;
craniométricos: asa do nariz – trágus auriculares ou • Moldelos em gesso das arcadas superior e in-
espinha nasal anterior – pórios. Nas diferenças entre ferior para recorte;

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Plano de Camper

Obtenção da mordida em cera com a transferência transferidor dos dois lados do paciente (Fig. 4);
do plano de Camper • Remover o conjunto (mordida em cera e trans-
• Utilizar uma lâmina de cera nº 7 previamente feridor do plano de Camper) da boca do paciente
aquecida que deve ser dobrada como sanfona (Fig. e avaliar se a cera registrou a impressão dentária de
1); um lado e se formou um plano estável do outro
• Dar o formato de curva acompanhando a lado (Fig. 5).
superfície oclusal superior (Fig. 2);
• Primeiramente, adaptar o rolete de cera na Recorte de modelos:
arcada superior; • Apoiar o modelo superior sobre a mordida
• Levar o dispositivo (transferidor do plano de de cera com a transferência do plano de Camper e
Camper) fazendo-o coincidir com a porção ântero- utilizar um paralelômetro para marcar uma linha
inferior da asa do nariz e trágus auriculares direito que guiará o recorte da base superior do modelo
e esquerdo (Fig. 3); superior correspondente à transferência da linha
• Observar minuciosamente a orientação do ouvido-nariz (Fig. 6);

FIGURA 1 FIGURA 2

FIGURA 3 FIGURA 4

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FIGURA 5 FIGURA 6

FIGURA 7 FIGURA 8

• Projetar dois pontos na rafe mediana. A linha • O ângulo posterior deve formar uma bissetriz
formada por estes pontos deverá formar um ângulo direcionada para a região do canino do lado oposto
de 90º com a base posterior do modelo superior. A (Fig. 10);
base posterior, por sua vez, também forma 90º com • A parte anterior do modelo superior se fará
a base superior do modelo superior (Fig. 7); formando uma ponta sobre o centro do mesmo, e
• Recortar, em seguida, a base posterior do do modelo inferior será arredondada (Fig. 11);
modelo inferior, de acordo com a base posterior do • A configuração definitiva dos modelos superior
modelo superior, com a cera de máxima intercus- e inferior devem ser proporcionais (Fig. 7, 12);
pidação interposta (Fig. 8); • Não só a parte externa do modelo deve ser
• Com a mordida de cera de máxima intercus- recortada de forma adequada, mas todo o gesso em
pidação ainda interposta nos modelos superior e excesso no interior do modelo inferior deve ser re-
inferior, apoiar a base superior do modelo superior movido, para se fazer sempre possível uma evolução
na bancada para delinear a base inferior do mode- do trabalho sobre o modelo (Fig. 13);
lo inferior também paralela ao plano de Camper
transferido para a base superior do modelo superior APLICAÇÃO CLÍNICA
e assim realizar seu recorte ou, simplesmente recor- O paralelismo entre o Plano de Camper e o plano
tar a base inferior do modelo inferior a 90º da sua oclusal deve ser considerado e é de fundamental
base posterior que será obtido o mesmo resultado importância transferir estes dados para a prática or-
(Fig. 9); todôntica e ortopédica facial. Com a técnica clínica
• Recortar a base lateral dos modelos, paralela- e laboratorial apresentada torna-se fácil e precisa a
mente às cúspides (pode ser e geralmente é diferente confecção de modelos ortodônticos que posicionem
do modelo superior para o inferior) (Fig. 7); os dentes e suas bases ósseas às estruturas crânio-fa-

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FIGURA 9 FIGURA 10

FIGURA 11 FIGURA 12

FIGURA 13

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ciais oferecendo um grande valor para o diagnóstico establishment. The human profile has individual
e planejamento da terapêutica ortodôntica – ortopé- factors that characterizes the person, seeing that,
dica facial a ser utilizada, assim como para a confec- there is a necessity of positioning the teeth in this
ção e ajuste de aparelhos e também possibilitando a profile, respecting this characteristics. In harmonic
padronização fiel dos modelos ortodônticos para a situations, the Camper’s plane, corresponds, in soft
avaliação dos resultados obtidos com o tratamento tissue, to the plane that goes from trágus to the
em busca da normalidade morfofuncional e estética wing of the nose, according to the majority of the
dentro de um contexto oclusal dinâmico. authors, is positioned parallel to the dental reference
that is named occlusal plane. The Calteux and
Bakker protractor of the occlusal plane device was
used parallel to the ear-nose line, looking carefully
Camper´s Plane to the right and to the left sides, to transfer the
Camper’s plane to the superior occlusal surface and,
Abstract after that, incorporated this characteristics to the
Orthodontics and Facial Orthopedics, since older orthodontic casts by doing a wax roller, guiding its
times, studies the correct growing and development cuts and helping, this way, in the diagnosis, in the
of the skull and the face, searching, this way, the treatment plan, following the applied therapies and
establishment of esthetics and morpho-functional making possible to standardize the way to build the
stability in theirs therapies, based in skull-facial orthodontic casts, for study or work, objectiving the
references, like Camper’s plane, to reference dental morpho-functional and esthetics normality inside
position. More and more, structures, marked by of the occlusal dynamics.
points, lines and planes, are searched to discover
proportionalities and interrelationships, adding one Key words: Camper’s plane. Occlusal plane.
more important item in the individual diagnosis Orthodontic casts.

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Endereço para correspondência:


Simone Gallão
Rua 7 de Setembro, 668 - apto. 141
Ribeirão Preto - SP - CEP: 14010-180
E-mail: sgallao@hotmail.com

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